O Globo
Política quase nunca é feita de boas
intenções. Ela é praticada em bases bem mais pragmáticas que isso. A falta de
apoio do Congresso à obsessão de Jair Bolsonaro pelo voto impresso, portanto,
não se deve a nenhuma consciência por parte dos parlamentares de que é preciso
zelar pela democracia, mas ao fato de eles considerarem essa cruzada uma
bobagem e saberem que a urna eletrônica é segura — afinal, foram eleitos por
ela.
Assim sendo, melhor gastar tempo, energia e
conchavos com as próprias prioridades, em vez de se engajar na de Bolsonaro.
Eis que no minuto 1 da volta do recesso se materializa na Câmara, pronto para ser enfiado goela abaixo da sociedade, um calhamaço de mais de 900 artigos revogando toda a legislação eleitoral e, sob o pretexto de unificar tudo num Código Eleitoral, aproveitando para passar um tratoraço na fiscalização do uso de dinheiro público para campanhas e para o custeio dos partidos e para censurar as pesquisas, entre outras atrocidades.