terça-feira, 6 de junho de 2023

Merval Pereira - Questões brasileiras

O Globo

Não podemos mais tolerar no Brasil que as condições iniciais de vida sejam tão desiguais — em relação à educação, à saúde, a todas as oportunidades que se oferecem

A desigualdade da sociedade brasileira foi um dos assuntos debatidos em recente mesa-redonda promovida pela Revista Brasileira na Academia Brasileira de Letras (ABL), tendo o filósofo, economista e acadêmico Eduardo Giannetti da Fonseca desenvolvido o tema dentro do tripé que identifica como objetivos que deveriam ser prioritários para o país, “equidade, o meio ambiente e a forma de vida, ou seja, a felicidade”.

A ABL foi criada na redação da Revista Brasileira, que já existia havia 42 anos, e é seu órgão oficial desde 1941. Mais antiga, portanto, que a própria ABL, e a segunda mais antiga do país, só superada pela revista do Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro (IHGB), a Revista Brasileira teve como um de seus colaboradores o próprio Machado de Assis, que nela publicou romances importantes na forma de folhetim, como Memórias póstumas de Brás Cubas (1881).

Míriam Leitão - Agenda ambiental retornada em parte

O Globo

Presidente Lula foi eloquente em sua defesa do meio ambiente e isto é um recado importante para os ataques do Congresso

O governo quis marcar o Dia do Meio Ambiente com uma retomada de território. Pelo menos em parte. O que o Congresso fez não foi desfeito, mas o presidente vetou trechos da lei que coloca em risco a Mata Atlântica, relançou o PPCDAm, o mais bem sucedido plano contra o desmatamento, criou unidades de conservação, lançou um auxílio por serviços ambientais. Mas o mais importante foi a fala do presidente Lula, principalmente nos espaços de improviso. Ele foi eloquente ao afirmar que sua agenda é combater o desmatamento, o garimpo, proteger os indígenas, preparar o Brasil para a COP 30 e reafirmar as metas que assumiu internacionalmente.

O Palácio do Planalto estava apinhado de gente, de lideranças de movimentos ambientalistas, de líderes indígenas como o cacique Raoni, de jovens de movimentos de periferia, de representantes de quilombolas. Era também um ano da morte de Bruno Pereira e Dom Phillips. Beatriz Matos, viúva de Bruno e Alessandra Sampaio, viúva de Dom, estavam lá. Logo que se formou a mesa de abertura, as ministras Marina Silva e Sonia Guajajara desceram do palco para abraçar as duas na primeira fila.

Luiz Carlos Azedo - O que os ambientalistas devem aprender com os ruralistas

Correio Braziliense

O lobby dos ruralistas, o atraso do agronegócio, em relação às pautas ambientais é muito mais eficiente. Mesmo havendo um novo governo que promove radical mudança na política ambiental

No livro Lógica da Ação Coletiva (Edusp), o economista Mancur Olson explica o comportamento de indivíduos racionais que se associam para a obtenção de algum benefício coletivo na democracia. Sua pretensão foi apresentar uma alternativa à teoria sociológica tradicional dos grupos sociais, que já não dava resposta à deterioração política das relações entre os governos e os cidadãos na sociedade norte-americana. Estamos falando na década de 1960. Sua conclusão principal foi de que “quando maior for o grupo, menos intensa será a defesa de seus interesses comuns”, o que parece ser um contrassenso.

Macul considerou os benefícios coletivos como uma espécie de “benefício invisível”, que se transforma em benefício individual e, depois de obtido, não pode ser negado a ninguém, mesmo que não tenha participado da luta para conquistá-lo. Ou seja, um bem público. Do ponto de vista da racionalidade coletiva, todos ganhariam caso houvesse uma cooperação integral. Porém, a racionalidade individual proporciona a recompensa mais vantajosa para quem se omite, independentemente de os outros membros do grupo cooperarem ou deixarem de cooperar, porque receberá os mesmos benefícios.

Carlos Andreazza - O combustível está acabando

O Globo

A notícia é que Lula teria resolvido se mexer. Informa-se que irá a campo trabalhar pela articulação política de seu governo. Estamos em junho. Estava parado? Ou se mexia mal?

Mexendo-se sempre está o Parlamento, energia que faz o volume do tanque baixar. Arthur Lira explica:

— Hoje o governo tem contado com a boa vontade desses partidos que estão votando republicanamente. Esse combustível está acabando.

Comunica-se que a rapaziada tem votado no amor, voto de confiança, mas que a gasolina não está barata; e que não serão esses republicanos a reabastecer. E então Lula entrará em cena, decorridos cinco meses de boa vontade. Estava parado? Ou se mexia mal?

Delegar também é movimento; não sendo possível crer que Alexandre Padilha e Rui Costa tenham agido até aqui sem o aval do presidente. Lula vai a campo e os coloca na panela. Não é possível saber a altura do fogo; nem quão incompetentes seriam. Sabe-se que o Congresso Lira quer as cadeiras dos ministros.

Dora Kramer - Bancada da toga

Folha de S. Paulo

Fazer do STF a banca de advogados do Planalto é arranjo malvisto

Carece de melhor esclarecimento a declaração do presidente da República, dada há dias, de que não pretende repetir erros do passado na indicação de ministros ao Supremo Tribunal Federal. Qual seria exatamente a ideia?...

Lula não explicou onde acha que errou, mas a escolha do advogado pessoal para integrar a corte fornece pista robusta, quase uma prova de que considera a independência dos magistrados uma falha no exercício da guarda constitucional.

Joel Pinheiro da Fonseca – O significado de junho de 2013

Folha de S. Paulo

Brasileiro comum perdeu o medo de protestar, e logo estará de volta

Em junho de 2013 as pessoas que não eram de esquerda perderam o medo de ir às ruas protestar. Eu fui uma delas, participando do pequeno grupo de libertários que queria uma sociedade sem Estado (ou com radicalmente menos). Mas havia de tudo ali. Da esquerda mais radical à direita que, depois de décadas, perdia o medo de se assumir. "Desculpe pelo transtorno, estamos mudando o Brasil", dizia um cartaz cuja foto viralizou. Mudando em que direção? Ninguém sabia, mas todo mundo queria participar.

A única clareza era o que não queríamos: a política de sempre, as velhas estruturas, o governo que aí estava, as mesmas opiniões batidas da imprensa. O "sistema". Era um movimento de negação, como tantos outros ao redor do mundo: Occupy e Tea Party nos EUA, Primavera Árabe etc. E o que mudou para que protestos eclodissem pelo mundo inteiro? A tecnologia da comunicação. Redes sociais e apps de mensagens deram voz a discursos antes limados do debate público, que apenas aguardavam a chance de jorrar para fora.

Alvaro Costa e Silva - A república cristã vem aí

Folha de S. Paulo

No Brasil do futuro, a moeda vai se chamar bênção

Em "A Língua Submersa", romance recém-lançado de Manoel Herzog, estamos em meados do século 21. O Brasil não mais existe, faz parte da enorme região denominada Boliviana-Zumbi, uma república fundamentalista cristã. Quem manda no governo é a Igreja Bola de Fogo. A sociedade está dividida entre mandatários, oportunistas, empreendedores e marginalizados. A moeda se chama bênção. Ao artista resta a opção de emigrar para a China, caso não se dedique ao gospel, à literatura edificante, aos quadros decorativos e às encenações bíblicas.

Eliane Cantanhêde – Repaginando

O Estado de S. Paulo

Ok, o governo está sem rumo, mas Lira cobrar ‘articulação’ cheira a mensalão e a petrolão

A distância, durante duas semanas de férias, a sensação foi de que o presidente Lula continua fazendo e falando bobagens, sem enxergar a realidade: o governo está sem rumo, refém do Congresso e anunciando medidas que parecem fantásticas, mas não se sustentam 24 horas e deixam ministros e assessores quebrando a cabeça para consertar o estrago.

A tábua de salvação pode ser a economia (atenção: pode...), com a inflação apontando para baixo e o crescimento para cima. Mas o governo precisa ajudar, não atrapalhando nem ignorando crises, criando confusões desnecessárias, falando besteiras, lançando o que o próprio presidente chama de “ideias mirabolantes”.

Os “carros populares” são uma dessas “genialidades”. Os carros não eram tão populares, o plano era só uma ideia e, enfim, está sendo “repaginado” para ônibus e caminhões, segundo o apagador de incêndios Fernando Haddad. O governo não agradou ao consumidor, que parou de comprar, nem à indústria, que parou de vender. Nem à sociedade. Lula, ex-líder sindical no ABC paulista que prestigia carros e o setor automobilístico, está na contramão do mundo desenvolvido, que mira o futuro e soluções coletivas (metrôs, trens...), mais justas e saudáveis.

Andrea Jubé - Lula venceu, mas Congresso é Bolsonaro

Valor Econômico

Presidente tenta construir base sólida e leal num quadro muito mais adverso do que o normal

Nas palavras de um ministro, chegou a hora do time do presidente Luiz Inácio Lula da Silva “baixar o meião” e deixar as pernas à mostra porque vai ter caneladas para todos os lados no jogo político. Lula e o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (Progressistas-AL) conversaram a sós nessa segunda-feira no Palácio da Alvorada, mas o encontro está longe de colocar fim ao entrevero entre Legislativo e Executivo.

A conversa entre Lula e Lira não foi um “chá de comadres”. Não houve testemunhas, mas de acordo com relatos que ambos fizeram a poucos interlocutores, o diálogo foi sério, objetivo, com algo de “mais do mesmo”. O parlamentar reiterou as cobranças por mais agilidade do Palácio do Planalto na liberação de emendas e nomeações de indicados dos deputados para cargos federais, e teria sugerido a reorganização do espaço dos partidos dispostos a votar com o governo na Esplanada.

Entrevista | Pérsio Arida: Começo do governo Lula é ‘preocupante’

Por Alex Ribeiro / Valor Econômico

Economista aponta ‘retrocessos’ na agenda ambiental e política externa e critica ataques ao BC e revisão das regras do saneamento

Um dos país do Plano Real, o economista Pérsio Arida considera “preocupante” a evolução do governo Lula nos cinco primeiros meses. “Esse começo de governo é uma sequência de iniciativas e ideias que vão na contramão do que o Brasil precisa.”

A lista de restrições que Arida faz ao direcionamento econômico do novo governo é grande, da revisão do marco do saneamento aos ataques do presidente da República ao Banco Central, da volta dos subsídios ao Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) ao posicionamento na política externa.

Ele está preocupado também com o que deixou de ser feito - como adotar uma agenda na área de energias limpas para o país liderar no tema das mudanças climáticas e uma reforma do Estado para cortar desperdícios e torna-lo menos ineficiente.

Arida foi um primeiros economistas influentes a declarar apoio a Lula no segundo turno das eleições, o que ajudou o então candidato a se aproximar do eleitorado de centro. Também fez parte da equipe de transição, embora não tenha se integrado ao novo governo. “Não muda em nada a minha avaliação sobre o apoio que dei ao presidente Lula, porque foi um apoio pensando na democracia, nos direitos humanos, na agenda ambiental, muito mais do que na economia”, afirma ele, em entrevista ao Valor.

Ele diz que, neste momento, não seria uma boa ideia mudar aspectos do regime de metas de inflação, para não perder a credibilidade da política monetária. “No Brasil de hoje, é melhor não fazer nada, não mexer na meta nem no ano calendário.” Para ele, a alta indexação da economia deveria levar o país a adotar uma meta menor que 3%, não maior.

Apesar de todas as críticas, Arida ainda tem alguma esperança na mudança de rumos do governo. “Só se passaram cinco meses. Inícios de governo são sempre confusos, eu vivi isso de perto no governo Fernando Henrique”, afirma. “A ver como vai se desenvolver para frente.”

A seguir, os principais trechos da entrevista.

Luiz Gonzaga Belluzzo* - O Instituto McKinsey avisa

Valor Econômico

Avaliações de ativos como ações e imóveis cresceram mais rápido do que a produção econômica real

Em relatório recente, o Instituto McKinsey cuida de examinar tendências da economia global. O título atribuído à investigação é sugestivo: “O futuro da riqueza e do crescimento está na balança”. Na contramão do antigo programa da TV Globo, “Balança Mas Não Cai”, o relatório sugere que as economias estão à mercê dos riscos do Balança e Cai.

Já na abertura, o documento registra as tendências infligidas às economias contemporâneas:

“Entre 2000 e 2021, a inflação dos preços dos ativos criou cerca de US$ 160 trilhões em “riqueza de papel”. Avaliações de ativos como ações e imóveis cresceram mais rápido do que a produção econômica real. E cada US$ 1 em investimento líquido gerava US$ 1,90 em nova dívida líquida. No agregado, o balanço global cresceu 1,3 vezes mais rápido que o PIB.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Piso da enfermagem deveria ser alerta para Parlamento

O Globo

Levantamento verificou que tramitam no Congresso 148 projetos com a mesma natureza absurda

Não parece ter limite a desconexão da realidade que toma conta dos grupos organizados com capacidade de pressão política. Tramitam no Congresso, de acordo com levantamento do site Poder360, nada menos que 148 propostas para criar pisos salariais para 59 categorias profissionais, 133 na Câmara e 15 no Senado. A exemplo do piso nacional instituído para a enfermagem, proliferam propostas que tentam garantir remuneração mínima para toda sorte de ocupação.

Estão na lista psicólogos, médicos, dentistas, veterinários, biólogos, histotecnologistas, técnicos agrícolas e industriais, agentes comunitários, assistentes sociais, professores, educadores físicos, instrutores de artes marciais, operadores de telemarketing, costureiras, nutricionistas, fisioterapeutas, garçons, farmacêuticos, vigilantes, mecânicos e, naturalmente, os onipresentes bombeiros e policiais. Felizmente, até agora a única tentativa que deu certo foi a dos enfermeiros. Ela revela tudo o que há de absurdo nessas iniciativas.

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Memória

 

Música | Milton Nascimento - Maria, Maria