Aplicativo age contra disparo em massa de conteúdo anti-PT; Bolsonaro é notificado
WhatsApp bloqueia contas; TSE e PGR apuram atuação eleitoral de empresas
Medidas são respostas à reportagem da Folha que mostrou que empresários bancam envios em massa de mensagens contra o PT
Patrícia Campos Mello , Reynaldo Turollo Jr. e Letícia Casado | Folha de S. Paulo
SÃO PAULO E BRASÍLIA - Três frentes foram abertas nesta sexta-feira (19) para esclarecer o financiamento por empresas do envio em massa de mensagens de WhatsApp contrárias ao PT, revelado pela Folha.
O WhatsApp bloqueou contas ligadas a agências de mídia suspeitas da prática, que beneficia o candidato Jair Bolsonaro (PSL); o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) abriu investigação sobre o caso; e a procuradora-geral da República, Raquel Dodge, pediu à Polícia Federal um inquérito sobre a disseminação de fake news.
As três medidas são reações à reportagem publicada pela Folha na quinta (18) que mostra o financiamento, por empresas como a varejista Havan, de uma campanha antipetista com pacotes de disparo de mensagens em massa.
A prática é ilegal, pois configura doação de empresas à campanha de Bolsonaro —o que a lei eleitoral proíbe e pode configurar abuso de poder econômico. Além disso, os contratos, que chegam a R$ 12 milhões, não foram declarados. Procurada pela reportagem, a Havan negou ter conhecimento da prática.
O WhatsApp enviou notificação extrajudicial às agências Quickmobile, Yacows, Croc Services e SMS Market determinando que parem de enviar mensagens em massa e usar números obtidos a partir de bases de dados de terceiros.
A plataforma também suspendeu contas associadas às agências, algumas das quais usam bases de usuários de terceiros segmentadas por região e perfil, o que também é proibido. As mensagens podem ser enviadas apenas à base de usuários dos candidatos, com dados cedidos voluntariamente.
A agência AM4, contratada pela campanha de Bolsonaro, e outras estão sob investigação e serão notificadas se comprovadas irregularidades.
"Estamos tomando medidas legais para impedir que empresas façam envio maciço de mensagens no WhatsApp e já banimos as contas associadas a estas empresas”, informou em nota o WhatsApp.
A plataforma, que pertence ao Facebook, afirma usar tecnologia de ponta para detectar contas com comportamento anormal para que elas não possam ser usadas para espalhar mensagens de spam.
Nesta sexta, o senador eleito Flávio Bolsonaro (PSL-RJ), filho do presidenciável, afirmou que teve sua conta no WhatsApp suspensa e publicou a foto de uma suposta mensagem do aplicativo que alegava que o número foi banido e o orientava a contatar o suporte técnico.
Em entrevista coletiva, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, afirmou que as acusações feitas pelo PT contra a campanha de Bolsonaro são ataque à democracia.
"Nosso temor é nenhum em relação a essas acusações. Elas são simplesmente risíveis”, disse. Bebianno chamou a reportagem de absurda e disse que o jornal produziu notícia falsa.