Entrevista com Beto Richa
Governador do Paraná diz que petista tem rejeição ‘considerável’, enquanto colega paulista oferece ‘segurança’
Luiz Maklouf Carvalho, Enviado especial, O Estado de S. Paulo
CURITIBA - "Só Alckmin pode vencer Lula, se este for candidato em 2018", disse ao Estado o governador do Paraná, Beto Richa (PSDB). No último ano de seus dois mandatos - o que o impede de candidatar-se à outra reeleição - o governador afirmou que está "fortemente inclinado" a cumpri-lo até o fim, o que significa não ter de se desincompatibilizar para concorrer a um novo mandato legislativo.
Nesse caso, se engajaria mais fortemente na candidatura tucana à Presidência da República. Richa nem considerou, na entrevista, que ainda haverá prévias para definir o candidato. Para ele, é o governador tucano de São Paulo, Geraldo Alckmin. "Aqui no Paraná o PT nunca venceu eleição presidencial", lembrou. "O Alckmin tem tudo o que os brasileiros querem depois de tanta turbulência: segurança, experiência e seriedade."
Avô de três netos aos 52 anos, e piloto automobilístico há 34 - sua sala exibe os troféus que ganhou na recente 500 milhas de Londrina, pilotando uma Maserati alugada - Richa falou sobre a situação do senador Aécio Neves (PSDB-MG). "Nunca pedi e jamais pediria empréstimo pessoal a empresários", disse. "Mas eu não posso querer que todas as pessoas pensem como eu. Ele tem as suas explicações, a sua argumentação, e vai se defender na Justiça. Ninguém pode ser condenado antecipadamente."
Ex-deputado estadual por duas vezes, ex-prefeito de Curitiba reeleito, o governador teve seu pior momento em abril de 2015. A tropa de choque da Polícia Militar reprimiu com violência desmedida professores e alunos que se manifestavam contra um projeto de lei que mudava o custeio do Regime Próprio da Previdência Social dos servidores estaduais. Richa foi aos piores índices de popularidade - agora com alguma melhora.
"Se eu não tivesse enfrentado a manifestação, e aprovado a lei, não teria feito o ajuste fiscal", disse. O Paraná, segundo os números oficiais, está entre os Estados com melhor situação fiscal do País. A redução da despesa corrente caiu em R$ em 2,2 bilhões. A arrecadação cresceu R$ 900 milhões. Os investimentos subiram de R$ 2,8 bilhões em 2015 para R$ 7,8 bilhões em 2017 e estão previstos R$ 8,4 bilhões para este ano. O salário do funcionalismo está em dia. "Ninguém tem a receita do sucesso, mas as medidas de austeridade servem para todo mundo", disse o governador. "Ou a pessoa pensa na política ou pensa em fazer o que é necessário ser feito."
• O sr. já resolveu se vai disputar o Senado ou se fica até o fim do governo?
Eu ainda não sei. Porque o melhor momento do meu governo é agora. A casa está em ordem, fizemos todo o ajuste fiscal, o equilíbrio das contas públicas, tem muito investimento acontecendo. Mas a minha tendência é continuar até o final do governo. Tenho pensado seriamente nessa hipótese.
• Nesse caso, o sr. se engajaria na campanha do Alckmin, se a candidatura se confirmar...
De qualquer forma eu sou soldado. Já disse isso a ele, já disse isso no partido. Qualquer missão que me derem eu cumpro com muita honra. Até porque acredito no PSDB, partido que o meu pai (José Richa) fundou, ao lado de figuras ilustres, como Mário Covas, Fernando Henrique, Pimenta da Veiga, José Serra, Tasso Jereissati...
• O sr. se dá bem com o governador Alckmin?
Muito bem, admiro demais. É um grande político, um gestor responsável, decente, sério. Eu gosto muito do jeito dele. Eu coordenei, no Paraná, todas as campanhas do PSDB - menos a do Fernando Henrique. Serra duas vezes, Aécio, Geraldo Alckmin. Todos eles ganharam as eleições aqui no Paraná, onde o PT nunca venceu.
• O sr. acredita que o Alckmin tenha chances reais de ganhar a eleição contra o Lula - se assim acontecer?
O Lula é uma incógnita. Ninguém sabe ao certo se ele vai ser candidato.
• O Fernando Henrique disse outro dia que preferia derrotá-lo no voto. O que o sr. acha?
Primeiro, a lei tem que ser respeitada. Se por acaso contrariar a Lei da Ficha Limpa, no julgamento colegiado de segundo grau, me parece que (o Lula) não poderia ter a candidatura registrada. Ele merece um julgamento isento, com todo o direito de defesa. A Justiça está aí, para punir os culpados, mas também absolver os inocentes.