sexta-feira, 12 de julho de 2019

Opinião do dia: *Luiz Werneck Vianna

O ator em política pode muito, mas, aprendemos com Maquiavel, que ele não pode conformar o mundo dos fatos à sua vontade. Somos filhos do longo processo de modernização burguesa autoritária brasileira. Nada que ocorre hoje é estranho à nossa experiência, e nem sempre estivemos do lado dos perdedores, pois contamos com nossos momentos de vitória, embora, como se constata agora, não tenhamos sabido extrair proveito delas. Esta é uma hora de consultá-la. Em boa parte ela está narrada no baú de ossos da reflexão acumulada na rica produção da nossa sociologia, que, reaberto, deve nos indicar os bons remédios para os males atuais que nos afligem.

*Luiz Werneck Vianna, sociólogo, PUC-Rio. ‘O Desencontro trágico entre a fortuna e o ator na experiência brasileira’. Texto apresentado ao 19º Congresso da SBS, Blog Democracia Política e novo Reformismo, 10/7/2019.

Merval Pereira: O diabo nos destaques

- O Globo

Temas como pensão de um salário mínimo para viúvas, ou a transição reduzida para mulheres, podem desfazer maioria

O diabo está nos detalhes, ou melhor, nos destaques, e são eles que estão sendo negociados cuidadosamente pelas lideranças partidárias e trazem pânico à equipe econômica, cujos membros chegaram às lágrimas com a aprovação em primeiro turno da reforma da Previdência.

Menos o ministro Paulo Guedes, talvez por prever que os destaques, ou detalhes, podem reduzir a economia do governo. O presidente da Câmara, deputado Rodrigo Maia, encerrou abruptamente a sessão de quarta-feira para não vencer perdendo.

É que a grande maioria favorável à reforma foi se dispersando depois da votação do texto-base, e havia risco de os destaques levarem por água abaixo o esforço despendido para aprová-lo.

A maioria relaxou, e um destaque da oposição quase foi aprovado naquela noite em que se comemorava a vitória. Convocada para a manhã de ontem, a reunião plenária só teve início no fim da tarde, depois que vários destaques foram negociados nos bastidores.

Temas delicados, como a garantia da pensão mínima de um salário mínimo para viúvas, ou a transição reduzida para as mulheres, são capazes de desfazer a maioria, e por isso a cautela de só colocar em votação quando houvesse um consenso da maioria.

Alguns anéis foram perdidos para manterem-se os dedos, a estrutura central da reforma. Depois da manutenção de uma maioria confortável, embora menor do que a da noite anterior, Rodrigo Maia colocou em votação os destaques no ritmo que permita a aprovação no segundo turno ainda esta semana, talvez sábado, ou mesmo domingo. De qualquer maneira, antes do início do recesso parlamentar, no dia 18.

Rogério Furquim Werneck: As próximas reformas


- O Globo

Guedes pretende avançar em duas novas frentes: reforma tributária e a instauração de novo pacto federativo

Paulo Guedes sabe perfeitamente que uma reforma previdenciária com potência fiscal de R$ 1 trilhão, em dez anos, está longe de ser suficiente para repor as contas públicas em trajetória sustentável. E que, comemorada a aprovação da reforma no Congresso, o país terá de continuar a encarar a pesada agenda de reconstrução fiscal que tem pela frente.

O ministro tem se empenhado em já deixar claro quais deverão ser as próximas etapas do programa de reformas que vem contemplando. Está disponível na internet uma exposição bem elucidativa sobre isso, proferida por Guedes, na semana passada, em evento organizado pela XP Investimentos, em São Paulo.

No vídeo, o ministro discorre, ao longo de mais de uma hora, sobre o diagnóstico que vem inspirando a sua atuação, o que pôde fazer ao longo do primeiro semestre e as mudanças que ainda pretende implementar. Trata-se de um depoimento valioso para quem quer que esteja empenhado em vislumbrar as possibilidades e limitações da política econômica em curso.

Guedes pretende avançar em duas novas frentes. Além de levar adiante um projeto de reforma tributária, contempla a instauração de novo pacto federativo, fundado em descentralização fiscal em favor de estados e municípios e ampla e radical flexibilização dos orçamentos das três esferas de governo, estimulada por farta distribuição de recursos do pré-sal aos governos subnacionais.

Não são reformas fáceis. Muito pelo contrário. Seria pouco sábio condicionar a recuperação da economia à consecução das duas reformas. Ainda mais agora, quando o ministro já não tem como se iludir sobre a real disposição do Planalto de mobilizar uma maioria governista que possa facilitar o avanço de reformas tão complexas no Congresso.

Míriam Leitão: Presidente do BC avalia que país cresce em 2020

- O Globo

Presidente do BC admite que aprovação da reforma aproxima o corte de juros e acha que a economia cresce no ano que vem

O presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, define a aprovação do texto base da reforma da previdência como “uma vitória dos brasileiros”, admite que isso aproxima mais o tempo da queda dos juros e acredita que no segundo semestre o país inverte acurva para voltar acrescer. Ele está debruçado em questões microeconômica sequer a redução do custo do dinheiro também para os tomadores finais, principalmente os do crédito emergencial. “Por um estudo que fizemos, 50% das pessoas que usam o cheque especial ganham até dois salários mínimos, 67% têm educação básica, e o comprometimento da renda é muito alto para um taxa de juros de 325%”.

Roberto Campos Neto fica com um olho nas questões macro e outro nas mudanças micro que o Banco Central quer estimular para o mercado de crédito funcionar melhor. Ele é contra vender reservas para fazer investimento. Conta que apresentou para o ministro da Economia, Paulo Guedes, o plano de reduzir o recolhimento obrigatório dos bancos para liberar mais recursos para a economia. Guedes chegou afalar em R$ 100 bilhões.

No macro, ele disse que a reforma aprovada esta semana em primeiro turno na Câmara foi um grande passo:

—Foi uma vitória dos brasileiros, do Congresso, de todos os deputados que votaram. Não é todo dia que agente vê multidões nas ruas pedindo reforma da Previdência. É muito importante para a economia, é um problema fiscal nunca resolvido. É um primeiro passo, mas há outros como os juros da dívida, a reformado Estado para melhorara percepção do Brasil pelo investidor estrangeiro, que vai estimular o investimento local e privado. Estamos no caminho certo.

Eu o entrevistei ontem na Globonews. Ele vinha dizendo em seus comunicados que aqueda da Selic depende do clima externo, do hiato do produto e das reformas. O clima externo melhorou, o país não está crescendo, e as reformas avançam. As condições estão dadas para os juros caírem? Ele responde admitindo que recebeu uma boa herança da administração anterior. Depois, afirma que o cenário externo está mais “benigno” e houve uma “interrupção” do crescimento:

Bernardo Mello Franco: Sorria, você está na Arábia Saudita

- O Globo

Jair Bolsonaro quer presentear o filho Eduardo com a embaixada do Brasil em Washington. Até aqui, só a monarquia saudita tratava o cargo como capitania hereditária

Alguns pais celebram os 15 anos da filha com uma viagem ao exterior. Outros festejam os 18 anos do filho com a chave de um automóvel. O presidente Jair
Bolsonaro resolveu ser mais generoso. Quer presentear Eduardo, o herdeiro que fez aniversário na quarta-feira, com a embaixada do Brasil em Washington.

A lei estabelece que os chefes de missão diplomática devem ser escolhidos entre os ministros de primeira classe, que chegaram ao topo da carreira no Itamaraty.

“Excepcionalmente”, diz o texto, podem ser indicados outros brasileiros com mais de 35 anos, “de reconhecido mérito e com relevantes serviços prestados ao país”.

Eduardo Bolsonaro acaba de atingir a idade mínima. Seu mérito mais reconhecido é ser filho de Jair.

Fernando Gabeira*: Perigos de uma campanha precoce

- O Estado de S.Paulo

Ela leva para as profundezas o nível do debate. Sabemos como é a política no Brasil...

A reforma da Previdência e o acordo comercial com a União Europeia são dois temas que podem animar a economia. Mas não se pode superestimá-los. Um trabalho de reconstrução demanda um trabalho diuturno.

O clima de campanha política não é o melhor para desenvolver essas tarefas. Bolsonaro falou duas vezes em concorrer de novo em 2022. Espera entregar um País melhor em 2026, mas parece ignorar que passará pelo grande julgamento no final do primeiro mandato.

O vazamento entrou na campanha. Moro decidiu por uma saída política, contando com a ambiguidade: os diálogos podem ou não ser verdadeiros. Bolsonaro abraçou a Lava Jato com o mesmo entusiasmo com que levantou a taça da Copa América.

Duas estratégias podem ser desenhadas. A de Bolsonaro, manter o apoio, independentemente do que digam a Justiça e a opinião pública no fim do processo. Sabe que uma independe da outra e que a fidelidade popular à Lava Jato se tem mantido a ponto de ainda ser a melhor escolha eleitoral. Já a estratégia da esquerda, que recusou uma autocrítica, conta com o desgaste da Lava Jato para consagrar a sua tese de que a operação foi uma grande manobra para derrotá-la.

Mas o Brasil não se resume a esses dois grandes blocos. No caso específico da Lava Jato, nem todos os que a apoiam compartilham as teses ultrapassadas de Bolsonaro. Assim como nem todos os que questionam Moro necessariamente acreditam na inocência da esquerda.

Eliane Cantanhêde: Um novo Ulysses

- O Estado de S.Paulo

Ulysses Guimarães foi o maior líder parlamentar; Rodrigo Maia vai no mesmo caminho

O presidente da Câmara, Rodrigo Maia, sai da votação da reforma da Previdência com três troféus: é o principal responsável pela vitória, o maior defensor das instituições e o dono da pauta econômica no Congresso que vai retomar o crescimento do País.

Outro tríplice coroado foi o grande político Ulysses Guimarães, que em 1988 foi, simultaneamente, presidente da Câmara, presidente da Constituinte e presidente do então PMDB – na época o partido da liberdade e da redemocratização. Morreu em 1992, num desastre de helicóptero em Angra dos Reis, e seu corpo jamais foi encontrado. Mas entrou para a história como exemplo de político decente, habilidoso, corajoso e patriótico. Um líder.

Ulysses era um intelectual humanista, autor de discursos memoráveis e com personalidade reservada. Maia é um economista pragmático, que não arroga a condição de intelectual, não se fez conhecido por discursos sofisticados e tem um temperamento bonachão, simples, informal.

Os dois, porém, têm em comum o talento para a política, a dedicação profunda ao Parlamento, a imensa capacidade de liderança e de fazer as coisas acontecerem. E mais: a defesa incondicional do Congresso, além de confrontar, cada um a seu modo e a seu tempo, os governos de plantão. Ulysses não dava sossego ao governo José Sarney. Maia é o maior defensor do Congresso diante dos ataques do governo Jair Bolsonaro. Aliás, do próprio Bolsonaro.

Até aqui – porque o céu é o limite para Rodrigo Maia – há um outro ponto em comum: apesar de todos os seus méritos e de seu invejável currículo, Ulysses jamais foi um político majoritário. Nunca disputou uma prefeitura, um governo, nem mesmo o Senado, e amargou um constrangedor sétimo lugar ao disputar a eleição presidencial de 1989, que foi no ano seguinte à Constituinte, com a vitória do jovem Fernando Collor de Mello, vendido ao eleitorado como “o caçador de marajás”.

Simon Schwartzman*: A OCDE e as universidades brasileiras

- O Estado de S.Paulo

Está mais do que na hora de começarmos a buscar novos caminhos

O objetivo do ingresso do Brasil na Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) é fazer o País se comprometer com a adoção das melhores práticas internacionais de políticas públicas, que possam melhorar as condições vida da população, não só na economia, mas também no meio ambiente e nas questões sociais. Na educação, o Brasil já participa do Programa Internacional de Avaliação de Estudantes (Pisa) e em 2018 uma equipe da OCDE avaliou o sistema brasileiro de avaliação da educação superior, o Sinaes, recomendando alterações profundas, que ainda precisam ser implementadas.

Este é o momento também de avançar na modernização da educação superior brasileira, cuja última reforma data de 1968, quando havia não mais do que 100 mil estudantes nesse nível em todo o País.

Naquele ano o Brasil resolveu adotar o modelo universitário norte-americano, com seus cursos de pós-graduação, departamentos, institutos de pesquisa e professores de tempo integral, que foi sobreposto às antigas faculdades profissionais organizadas no velho modelo francês ou italiano. A origem da reforma de 1968 é geralmente atribuída ao famoso acordo MEC-Usaid, mas é curioso que os americanos só tenham recomendado que copiássemos a ponta da pirâmide da educação superior de seu país, as famosas universidades de pesquisa, e tivessem se esquecido da enorme base dos community colleges e universidades estaduais, originárias em sua maioria dos land-grant colleges, que desde o século 19 fizeram da educação superior americana uma das mais diversificadas, amplas e acessíveis do mundo. Outra hipótese, mais plausível, é que tenham sido os brasileiros a só se interessarem pela parte mais elitista do sistema.

Hoje já temos uma educação superior de massas, com 8 milhões de estudantes extremamente diversificados em instituições também muito distintas, mas continuamos aferrados a um modelo tradicional de universidade de elite. Ainda achamos que o ensino é sempre “indissociável” da pesquisa, que todos os professores devem ter doutorado, que a educação superior deve ser gratuita e que não é possível obter um título universitário em menos de quatro ou cinco anos. A realidade, no entanto, é bem diversa: a maioria dos professores não pesquisa, três quartos dos alunos pagam suas matrículas no setor privado, quase metade dos alunos abandona os estudos antes de terminar e as faculdades não podem contratar como professores profissionais experientes que não tenham títulos acadêmicos.

Luiz Carlos Azedo: Um pouco de Gramsci

Nas entrelinhas / Correio Braziliense

“Congresso, que havia perdido o papel de mediador dos conflitos da sociedade, resgata esse protagonismo e se assenhora cada vez mais da grande política, como é o caso agora da reforma da Previdência”

Parafraseando o dramaturgo Oduvaldo Vianna Filho, o Vianinha, autor de A Grande Família e Rasga Coração, a propósito do pessedismo (a manha política das velhas raposas liberais do antigo PSD), um pouco de Gramsci também não faz mal a ninguém. Mesmo que desperte a ira da patrulha ideológica contrária ao chamado “marxismo cultural”. Na verdade, o republicanismo laico e o primado da política em relação à fé são fundamentos de Nicolau Maquiável, que escreveu O Príncipe em 1513. A obra seminal da política moderna, publicada postumamente em 1532, promoveu a ultrapassagem do Estado teológico medieval. Antecede Karl Marx e seus discípulos.

Entretanto, o filósofo marxista italiano pode nos ajudar a entender o que está acontecendo a partir do colapso do presidencialismo de coalizão. A expressão foi usada a primeira vez há mais de 30 anos, no título de um artigo acadêmico do cientista político Sérgio Abranches, para explicar o funcionamento do presidencialismo brasileiro num ambiente de fragmentação partidária. Para governar, o presidente da República precisa costurar uma ampla maioria, frequentemente contraditória em relação ao programa do partido no poder, com grande potencial de conflitos ideológicos e políticos. O maior dilema institucional seria o aprisionamento do presidente da República pelas forças hegemônicas do Congresso, no vácuo de uma Constituição de viés antiparlamentarista.

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, para justificar suas alianças, recomendava aos amigos lerem Um estadista no Império, de Joaquim Nabuco, um tratado sobre a política de conciliação do Marquês de Paraná, que garantiu estabilidade política a D. Pedro II durante seu reinado. Em 1853, para formar o gabinete do Conselho de Ministros, o mineiro Honório Hermeto Carneiro Leão buscou conciliar as ações políticas dos dois partidos do Império, o Conservador e o Liberal, em torno de interesses comuns. Com isso, conseguiu conter as insatisfações liberais e isolar os republicanos. O ponto de encontro era a aproximação dos liberais que também defendiam os interesses latifundiários escravistas como os conservadores, todos embalados pelo avanço das lavouras de café. O maior crítico desse modelo foi Capistrano de Abreu, para quem política de conciliação era um “termo honesto e decente para qualificar a prostituição política de uma época.”

*José de Souza Martins: Levezas do trabalho infantil

- Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Ninguém perde a infância sem sofrer as consequências. Trabalhar no tempo de brincar mutila o entendimento da criança, rouba-lhe a imaginação e o tempo do afeto

No dia 4 de julho, no Facebook, o presidente da República defendeu a salubridade do trabalho infantil. Disse que começou a trabalhar com 9, 10 anos de idade: colhia milho na fazenda em que o pai trabalhava. E concluiu: "Não fui prejudicado em nada".

Foi, mas disso não tem consciência. Na alienação, própria do trabalho moderno, o acobertamento de suas reais condições é uma necessidade da produção, que cria a subjetividade cúmplice de quem trabalha.

Tenho, diante do nariz, enquanto ouço a manifestação presidencial, minha Carteira de Trabalho do Menor, de capa vermelha, emitida pelo Ministério do Trabalho, expedida em 12 de dezembro de 1952, logo depois de ter completado 14 anos de idade.

Com a carteira e o trabalho, o país me confiscou a adolescência, na jornada de 8 horas de trabalho, 6 dias por semana. Na verdade, eu já trabalhava desde os 11 anos de idade, trabalho ilegal. Tive carteira de trabalho só quando minha idade o permitiu. Aí era legal, ainda que não fosse moral.

Na carteira está anotado o número da placa de metal que eu levava no peito, que me identificava na portaria da fábrica: 978TC. Na página 8, consta que fora contratado como praticante por Cr$ 3,30 a hora. Na página 21, consta que paguei Cr$ 26,40 de imposto sindical, um dia de trabalho, relativo a 1953, para o sindicato que eu não sabia o que era nem onde era.

*Fernando Abrucio: Integração com o mundo vai além da economia

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

O que bolsonarismo ainda não descobriu são os benefícios do diálogo e do intercâmbio de ideias, inclusive com aqueles que têm visões de mundo diferentes

É uma ótima notícia para o Brasil a possibilidade de acordo entre a União Europeia e o Mercosul. O país poderá ter uma série de ganhos econômicos caso consiga preparar bem sua economia - e aqui há muito trabalho. Mas esse casamento traz outro benefício: ele nos levará, de forma espontânea ou forçada, a dialogar mais com o mundo desenvolvido e com suas boas práticas de políticas públicas. A experiência internacional não trará respostas mágicas, mas é um antídoto contra velhos e novos provincianismos.

Antes de mais nada é preciso realçar que o acordo ainda não foi completamente fechado. Para isso, ele passará por várias etapas na União Europeia, inclusive a votação em cada Parlamento nacional. Ao longo desse périplo, muitas exigências serão feitas em relação às políticas públicas dos países do Mercosul. Temas como meio ambiente, direitos humanos, observância de regras trabalhistas, entre os principais, serão colocados em questão se o Brasil não cumprir uma agenda básica. E não adianta fazer discursos nacionalistas para a plateia: o governo terá que se adaptar às exigências europeias se quiser efetivamente um acordo comercial.

A alternativa ao dialogo é o confronto e a autoafirmação nacionalista. Por essa via não haverá nenhum acordo entre Mercosul e União Europeia. O plano da equipe econômica de abrir mais a economia fracassará se não tivermos contrapartidas dos outros, algo que virá sobretudo de pactos bilaterais ou multilaterais. Além disso, só teremos maiores benefícios desses acordos se o país fizer sua lição de casa, o que envolve modernizar a estrutura econômica, em campos como legislação de negócios, investimentos em infraestrutura, melhoria da educação etc. E para fazer tais aperfeiçoamentos, será de grande valia observar mais o que foi feito noutras nações, procurando boas práticas em políticas públicas e modelos de desenvolvimento.

Assim, aquilo que muitos no governo veem como limitação à soberania, particularmente o grupo que diz odiar o tal globalismo (incluindo o próprio presidente), pode se transformar num caminho de diálogo sobre as políticas públicas. Os benefícios de acordos comerciais podem ir além da economia.

Claudia Safatle: Governo deve propor criação do IR negativo

- Valor Econômico

Um programa de renda mínima na reforma tributária

O governo pretende fazer uma proposta de reforma tributária que concilie as diversas sugestões em curso, tanto os projetos de reformas que tramitam na Câmara e no Senado quanto os sugeridos pelos secretários de Fazenda dos Estados e pelos empresários.

Além da fusão de vários tributos federais em um só, o governo avalia a criação do Imposto de Renda negativo e a redução da alíquota do IR das empresas, na linha do que fez o governo de Donald Trump, que cortou de 35% para 20% o IR que incide sobre as pessoas jurídicas. Com a abertura da economia, o sistema tributário brasileiro precisa se aproximar do que é praticado pelos principais parceiros do país, para que não haja perda de competitividade das empresas locais decorrente da incidência de tributos.

O IR negativo pressupõe a definição de uma determinada linha de renda, acima da qual paga-se um percentual de imposto e abaixo dela recebe-se uma fração do tributo. Funciona, assim, como um programa de renda mínima.

O IR negativo foi citado pela primeira vez por Juliet Rhys-Williams, política britânica, nos anos 1940 e a ideia acabou sendo abraçada pelo pai do liberalismo, o economista americano Milton Friedman.

No Brasil, foi instituída a renda básica de cidadania pela Lei 10.835, de janeiro de 2004, como resultado da proposta de renda mínima do então senador Eduardo Suplicy (PT-SP), mas a lei nunca foi implementada.

Em outra versão, a proposta de reforma da Previdência elaborada pelos economistas Paulo Tafner e Arminio Fraga previa a criação de um benefício universal do idoso, um programa de renda básica para todos os que fizessem 65 anos, independentemente de contribuição. O valor seria fixado em 70% do salário mínimo, corrigido anualmente pela inflação. Criava, também, o piso previdenciário de idêntico valor a partir do qual todos poderiam contribuir. Cada ano de contribuição seria acrescido ao benefício universal em uma quantia correspondente atuarialmente àquela contribuição. Pessoas com deficiência também receberiam essa renda mínima independentemente da idade. O benefício universal substituiria o BPC (Benefício de Prestação Continuada).

*Dani Rodrik: O que impulsiona o populismo?

- Valor Econômico

Em última instância, a análise precisa das causas que estão por trás da ascensão do populismo autoritário pode ser menos importante do que as lições de política pública a serem extraídas dela. Há pouca discussão nessa esfera

Será a cultura ou a economia? Essa pergunta molda boa parte da discussão sobre o populismo contemporâneo. Será que a vitória de Donald Trump nas eleições presidenciais americanas, o Brexit e a ascensão dos partidos políticos nativistas de direita na Europa continental são consequência do aprofundamento da fissura de valores entre conservadores sociais e os liberais sociais, com a canalização, pelos primeiros, de seu apoio a políticos xenófobos, etnonacionalistas, autoritários? Ou será que esses desdobramentos são reflexo da angústia e da insegurança econômica de muitos eleitores, alimentadas pelas crises financeiras, a austeridade e a globalização?

Muita coisa depende da resposta. Se o populismo autoritário tiver suas raízes na economia, a solução adequada é um populismo de outro gênero - voltado para a injustiça econômica e para a inclusão, mas pluralista em sua política e não necessariamente prejudicial à democracia. Se suas causas estiverem na cultura e nos valores, no entanto, o número de alternativas será menor. A democracia liberal pode estar condenada por sua própria dinâmica e contradições internas.

Algumas versões do argumento cultural podem ser descartadas de saída. Por exemplo, muitos comentaristas dos Estados Unidos se concentraram nos apelos de Trump ao racismo. Mas o racismo, de uma forma ou de outra, é característica antiga da sociedade americana e não pode nos revelar, por si só, por que seu manejo por Trump teve tamanho sucesso. Uma constante não consegue explicar uma variação.

Outras explicações são mais sofisticadas. A versão mais perfeita e ambiciosa do argumento da reação adversa cultural foi apresentada por Pippa Norris, minha colega na Escola de Governo John F. Kennedy de Harvard, e por Ronald Inglehart, da Universidade de Michigan. Em livro recente, eles argumentam que o populismo autoritário é consequência de uma guinada geracional de valores de longo prazo.

Bruno Boghossian: Patetice diplomática

-Folha de S. Paulo

Bolsonaro quer trocar embaixador por marqueteiro da direita radical

Eduardo Bolsonaro quer levar seu boné de Donald Trump para a embaixada brasileira em Washington. O presidente tentou vender a ideia de indicar o filho ao posto como uma jogada para estreitar os laços com os americanos. A escolha, no entanto, seria só mais uma patetice diplomática do governo.

O pai orgulhoso tentou exaltar o currículo do candidato: “Ele é amigo dos filhos do Trump, fala inglês, fala espanhol, tem vivência muito grande de mundo”. Inglês e espanhol são requisitos óbvios. A tal vivência de mundo não vale nada para a função. Sobrou a camaradagem com a primeira-família americana.

A embaixada em Washington é o posto mais importante da diplomacia brasileira no exterior. Bolsonaro vai ter dificuldades para convencer alguém de que escolheu o nome mais preparado para a vaga. No lugar de conhecimentos profundos sobre política internacional, comércio e economia, prevaleceram a ideologia, o alinhamento automático e a vontade de bajular os americanos.

Reinaldo Azevedo: O centrão contra o Napoleão de hospício

- Folha de S. Paulo

O resultado da votação da reforma escondia trabalho, que arrebanhou até oposicionistas

Entre os que posaram para foto com o avanço da reforma da Previdência, contam-se os efetivamente vitoriosos, como Rodrigo Maia(DEM-RJ), e os derrotados, como Jair Messias Bolsonaro.

Do outro lado da linha, ficaram as esquerdas, a negar o déficit da Previdência. Nem derrotadas conseguem estar. Trata-se de uma espécie de terraplanismo contábil, embora do mundo da Lua.

Preferiram se ausentar do lugar em que está se decidindo a história. Sofreram, note-se, uma derrota em plenário proporcionalmente superior àquela que experimentaram nas urnas em 2018. Impressiona pela alienação. Estão confundindo resistência com irrelevância. Não por falta de estímulo ao pensamento.

No dia 22 de fevereiro, nesta coluna, convidei as esquerdas a sair do “modo negação” e a entrar de forma propositiva na reforma. Afirmei, e isto nos remete ao primeiro parágrafo para avançar: “Sustento que Bolsonaro promove a reforma da Previdência apesar do seu reacionarismo, não em razão dele”.

Ora, resultado e placar consolidaram uma barreira de contenção a tentações messiânicas, o que vira um trocadilho pobre, mas o que se há de fazer? Na quarta-feira, enquanto o presidente da Câmara buscava votos, o da República prometia alguém “terrivelmente cristão” para o STF.

Maia percebeu o seu momento. Discursou após o resultado da primeira votação: “Não haverá investimento privado, mesmo com reforma tributária, mesmo com reforma previdenciária, se nós não tivermos uma democracia forte”.

Foi ainda mais explícito no recado ao atual inquilino do Palácio do Planalto: “Investidor de longo prazo não investe em país que ataca as instituições. Acho que este conflito nós temos hoje, e temos de superar”. Na mosca!

Vinicius Torres Freire: Bolsonaro ainda ataca seu governo

- Folha de S. Paulo

Lobby sindical do presidente sabota mudança previdenciária; teme-se por outras reformas

A cada vez que parece haver progresso de um plano racional qualquer de governo, Jair Bolsonaro nos relembra de que não habitamos mais o universo da razão, nem mesmo o da “realpolitik”. Goste-se ou não do plano, uma ideia que faça sentido será vítima da artilharia desvairada do presidente.

Os tiros são dados durante as folgas da atividade principal de Bolsonaro. Na sua faina diária, o presidente ocupa-se mesmo é de ninharias, como mudar o formulário de requisição de passaportes, ou de enormidades e outros ataques contra a República, como a tentativa reiterada de nomear filhos para altos cargos ou de fazer da religião um assunto de Estado.

Bolsonaro plantou bombas de efeito retardado na reforma da Previdência. Como o sindicalista paroquial que sempre foi, atacou o projeto do próprio governo a fim de beneficiar ainda mais a categoria de policiais e assemelhados, como se sabe. A bomba explodiu e abriu buracos por onde entram as tropas de outros lobbies.

A discussão de destaques e emendas da reforma começou apenas na noite desta quinta-feira, quando eram escritas estas linhas, e iria até a madrugada. Mas afora mágicas e milagres, a reforma sairá ainda menor.

Para começar, deste modo Bolsonaro dinamita os planos de seu próprio ministro da Economia, Paulo Guedes, que ainda têm ou tinha ambições grandiosas de continuar a reforma previdenciária, insistindo no problemático ou talvez desastroso projeto de capitalização (criar um regime de poupança previdenciária com contas individuais).

Ricardo Noblat: República de banana

- Blog do Noblat / Veja

Garoto do boné de Trump vai virar embaixador

Se a diplomacia brasileira, sob a sina do capitão Bolsonaro, vota na ONU junto com ditaduras de países islâmicos em questões de direitos sexuais e das mulheres, e nega seu voto para que sejam investigadas milhares de execuções extrajudiciais do governo das Filipinas em guerra contra as drogas, por que não ser representada em Washington, a capital do país mais importante do mundo, pelo filho de um presidente no exercício do cargo? Hein?

Nos últimos 11 anos, a Arábia Saudita não teve sete filhos da família real como embaixadores nos Estados Unidos? A Arábia Saudita e quem mais? Não. Só a Arábia Saudita, onde também existe uma ditadura. Não temos por aqui o que o ex-presidente Fernando Henrique chama de “nova família imperial brasileira”? Nem presidentes de repúblicas bananeiras ousaram nomear filhos embaixadores. 

Estamos a um passo de passar por tal vergonha.

O capitão diz que seu filho Eduardo tem todas as credenciais para ocupar o posto vago há quase três meses. Segundo ele, Eduardo fala inglês e espanhol (certamente melhor do que o português), “conhece bem o mundo” e é amigo do presidente Donald Trump e dos seus familiares. Quem estaria mais apto do que ele a defender os interesses do Brasil por lá? De resto, acaba de completar 35 anos. Ninguém pode ser embaixador com menos de 35 anos.

O posto de embaixador do Brasil nos Estados Unidos sempre foi ocupado por diplomatas com larga experiência, sólido conhecimento do seu ofício e prestígio internacional. Eduardo não tem esse perfil. É um escrivão de polícia. Dê-se de barato que foi um bom escrivão – entre suas atribuições, cumprir formalidades processuais, lavrar termos e dirigir veículos da polícia. Mas o país não precisa de um escrivão em Washington. Ainda mais agora.

De resto, Eduardo já desfilou e posou para fotos com o boné da campanha de Trump à reeleição. Pediu votos para Trump em comícios do Partido Republicano no interior do país. Como o Partido Democrata reagirá à sua indicação? E se Trump perder? Eduardo corre o risco de se tornar conhecido no mundo da diplomacia como “o embaixador do boné”. Diplomata não só é inteligente e sofisticado, é também perverso quando quer.

O capitão movido a conflitos parece disposto a arcar com o desgaste político interno e externo de ter premiado o Zero Três com a o cargo mais ambicionado pela diplomacia brasileira. Para os padrões de moralidade do clã Bolsonaro, nada há demais nisso. Pai e filhos vivem há mais de 30 anos sob a rubrica do Estado. Eduardo é deputado federal pela segunda vez. Carlos é vereador há 18 anos. Flávio foi quatro vezes deputado estadual e é senador.

A mãe dos garotos ganhou do ex-marido dois mandatos de vereadora depois que se separou dele. Bolsonaro tomou o que dera forçando Carlos a disputar contra a própria mãe, e a derrotá-la. Está por se fazer um levantamento sobre o número de familiares e de dependentes do clã que ocuparam ou ainda ocupam cargos remunerados pelo poder público. Isso nada tem a ver com fisiologismo. É patrimonialismo na veia.

Dora Kramer: De volta ao ringue

- Revista Veja

Em 2020 o embate vai se repetir nas capitais, em prévia para 2022

O aviso aos navegantes do barco de Jair Bolsonaro já foi dado: reúnam suas tropas, recarreguem as baterias e disputem as eleições municipais de 2020 com a gana de um exército disposto a ocupar o máximo de territórios no cenário nacional. A ideia é repetir, ao menos nas capitais e nas grandes cidades, o embate de 2018 entre os chamados conservadores e os ditos progressistas, a fim de manter acesa a chama que, na cabeça de Bolsonaro, pode levá-lo à reeleição em 2022.

Políticos mais afoitos costumam encarar os resultados de eleições de prefeitos e vereadores como uma prévia do pleito para presidente e governadores, embora os mais experientes avisem sempre que são momentos e circunstâncias totalmente diferentes. Em dois anos tudo pode acontecer, ainda mais neste Brasil em que são temerárias as previsões com mais de quinze minutos de antecedência.

Presidentes não costumam se envolver com muito afinco. Em uma ou outra eleição talvez, quando não há risco de as derrotas serem espetadas na conta do Planalto. Bolsonaro sinaliza que com ele não será assim, porque já se movimenta, como fez ao explicitar seu apoio a uma candidatura da deputada Joice Hasselmann em São Paulo. Fora da cena principal tem feito mais.

Já compartilhou com mais de um interlocutor a intenção de formar uma legião de candidatos país afora, independentemente da filiação partidária. O critério é o mesmo aplicado a tudo o mais que diz respeito ao presidente: afinidade de ideias, propósitos e procedimentos. Além de, obviamente, compromisso com a reeleição para a Presidência. As inscrições estão abertas.

“Em dois anos tudo pode acontecer, ainda mais neste Brasil em que as previsões são temerárias”

A falta de postulantes não será obstáculo. Os empecilhos ao sucesso da empreitada estão em outros campos. O da legislação é um deles. Conforme exigência legal aprovada em 2017, a partir do pleito do ano que vem vale a proibição de coligações para eleições proporcionais. Isso significa que os partidos não poderão se juntar para eleger vereadores, o que limita a amplitude da articulação das chapas majoritárias. O.k., atinge a todos, mas prejudica mais quem tem planos de expansão.

Vitória do bom senso: Editorial / O Estado de S. Paulo

Até pouco tempo atrás, a reforma da Previdência era considerada um tema politicamente tóxico, que poucos candidatos a cargo eletivo tinham coragem de defender - malgrado sua evidente necessidade. Agora, no entanto, o que não falta são políticos a reivindicar a paternidade da vitória acachapante no primeiro turno da votação da reforma da Previdência na Câmara. A notável mudança de atitude provavelmente deriva da construção de um consenso, no País, sobre a urgência do saneamento do sistema de aposentadorias, e esse processo não aconteceu de uma hora para outra nem dependeu de uma só pessoa.

É preciso lembrar, por exemplo, que o mais recente esforço em favor da reforma começou no governo de Michel Temer, que assumiu o ônus de enfrentar esse tema espinhoso mesmo sob pena de ampliar ainda mais sua já enorme impopularidade. Depois, o presidente Jair Bolsonaro teve de superar suas próprias convicções antirreformistas e, mesmo de modo hesitante, encaminhou uma proposta ainda mais ousada que a do ex-presidente Temer, incentivado pelo ministro da Economia, Paulo Guedes. Assim, ainda que o próprio governo não tenha se empenhado como deveria e poderia em favor da reforma, o tema praticamente monopolizou o debate nacional, do qual participaram formadores de opinião e funcionários do governo bastante qualificados e que conseguiram, à custa de muita perseverança, derrubar uma a uma as mistificações em torno da Previdência e alertar o País para os riscos de não reformar o sistema de forma abrangente.

Reforma para todos: Editorial / Folha de S. Paulo

Senado fará bem em adequar estados e municípios a novas regras previdenciárias

Com a reforma da Previdência perto da aprovação definitiva pela Câmara dos Deputados, são animadoras as notícias de que no Senado já se discutem propostas para adequar servidores estaduais e municipais às novas regras.

Os governos regionais acabaram excluídos do texto votado na quarta (10) em razão de uma combinação de mesquinharias políticas. Governadores de oposição, em especial do Nordeste, relutaram em apoiar publicamente a reforma, enquanto parlamentares favoráveis a ela se recusaram a ajudar administrações de adversários.

Há meios de reparar o dano, embora o entendimento partidário possa se mostrar difícil. Estuda-se a apresentação de uma proposta de emenda constitucional específica para os demais entes federativos, de modo a não atrasar a tramitação do projeto original.

Fato é que em boa parte dos estados as despesas previdenciárias já ameaçam diretamente a prestação de serviços básicos à população.

O poder de convencimento da crise da Previdência: Editorial / O Globo

Votação do projeto revelou o enfrentamento do controle ideológico exercido por partidos

No rescaldo da votação em primeiro turno do projeto de reforma da Previdência, um ponto alto é o surpreendente apoio de 379 deputados, 71 a mais do que o mínimo necessário de 308 votos. As expectativas mais otimistas apostavam em 360.

Terminou indo bem mais além. Não se discute que uma das causas foi o competente trabalho político do presidente da Casa, Rodrigo Maia (DEMRJ), que soube ocupar os espaços deixados pela falta de coordenação por parte do Planalto, quase sempre enredado em questões menores, picuinhas ideológicas. Ou “besteiras”, nas palavras do general Santos Cruz, em entrevista à revista “Época”, depois de ser demitido da Secretaria de Governo, devido a tensões geradas no Palácio pela excessiva interferência familiar junto ao presidente Bolsonaro.

Tamanha margem de apoio na votação deve ter outras explicações. Não se pode menosprezar a influência das bases, a considerar que recente pesquisa Datafolha sinaliza que a aceitação popular
da reforma ultrapassa numericamente a rejeição.

Efeitos no Brasil da tendência de queda dos juros externos: Editorial / Valor Econômico

A firme perspectiva de redução das taxas de juros nos Estados Unidos, reforçada pela ata de junho da reunião do banco central americano (o Federal Reserve, conhecido internacionalmente como Fed), abre novas perspectivas para a política monetária no Brasil, para o cenário de investimentos financeiros e um incentivo para a retomada do crescimento econômico. É um fator de peso para determinar o panorama dos próximos meses, ainda mais combinado com os avanços da reforma da Previdência no Congresso.

No Brasil, é grande a expectativa entre especialistas e empresários de que o Banco Central decida reduzir a taxa básica, a Selic, neste ano. Na sua última reunião, no dia 19 de junho, o Comitê de Política Monetária (Copom) manteve a Selic em 6,5% ao ano pela décima reunião seguida. A decisão veio em linha com a expectativa dos economistas de mercado. Mas não se espera que esse 'congelamento' dos juros em 6,5% se mantenha até o fim do ano.

Pouco antes do encontro do Copom, levantamento feito pelo Valor indicou que uma rodada de redução da taxa Selic em 2019 entrou de vez no roteiro dos especialistas do mercado financeiro. A pesquisa com economistas mostrava que o percentual dos que esperavam corte da taxa básica de juros no segundo semestre praticamente dobrou em relação ao levantamento anterior.

Vinicius de Moraes: Poética

De manhã escureço
De dia tardo
De tarde anoiteço
De noite ardo.

A oeste a morte
Contra quem vivo
Do sul cativo
O este é meu norte.

Outros que contem
Passo por passo:
Eu morro ontem

Nasço amanhã
Ando onde há espaço:
– Meu tempo é quando.

Mônica Salmaso: Quem te viu, quem te vê (Chico Buarque)