*Antonio
Gramsci(1891-1937), Cadernos do Cárcere, V. 5, p. 68-9, Civilização Brasileira,
2002
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
segunda-feira, 24 de julho de 2023
Opinião do dia – Antonio Gramsci* ("Jacobino")
Marcus André Melo* - Patologias institucionais
Folha de S. Paulo
Temos patologias majoritárias e
consocialistas no sistema político
Que tipo de arranjo institucional garante
melhor governança política? Por muito tempo o debate girou em torno de duas
opções polares: parlamentarismo e presidencialismo. Sua formulação clássica
está em Bagehot, The English Constitution, publicada em 1867.
Bagehot está mais perto de nós do que o (a) leitor (a) desconfia. Era jurista e
jornalista, fundador do The Economist. Joaquim
Nabuco a descobriu nas novidades da livraria Lailhacar em Recife, já
em 1869.
O fascínio que exerceu sobre Nabuco é tamanho que ele intitulou o segundo capítulo do seu Minha Formação, "Bagehot". Foi a semente de suas ideias e toda uma geração, o que inclui Rui Barbosa. Para Bagehot o parlamentarismo era um modelo superior por duas razões: a eficiência e a clareza de responsabilidade que permitia. A eficiência resultava do "segredo eficiente": a fusão de Poderes Executivo-Legislativo no governo de gabinete, garantindo eficiência e governabilidade.
Carlos Pereira* - Governo e Judiciário: amor ou ódio?
O Estado de S. Paulo
O extremismo iliberal de Bolsonaro selou aliança tácita entre governo Lula 3 e STF
Episódios de retrocesso democrático
envolvem ataques de outros poderes ao Judiciário. Capturar o Judiciário é
essencial tanto para se livrar de um potencial ponto de veto, como para
controlar a interpretação que se faz da Constituição e, assim, gerar
legitimidade para potenciais ações iliberais.
Depois de analisar mais de 3 mil tentativas
de substituição involuntária de juízes de Supremas Cortes em 18 países da
América Latina entre 1900 e 2021, Pérez-Liñán e Castagnola (2023) concluíram
que o Judiciário é mais vulnerável quando elites políticas já obtiveram sucesso
de expurgar juízes anteriormente, criando assim um padrão sequencial de
instabilidade e enfraquecimento do Judiciário.
Existe grande variação na frequência de substituições de juízes. Em alguns países, são raros os casos de expurgos: apenas uma vez no Chile (1927), duas vezes no Brasil (1931 e 1969) e três vezes na Costa Rica (1920, 1922 e 1948). Por outro lado, substituições foram recorrentes em El Salvador (28 vezes), Guatemala e Honduras (24 vezes) e na Bolívia (23 vezes).
Camila Rocha* - 85% apoiam taxação dos mais ricos
Folha de S. Paulo
Respaldo a medida discutida pelo governo
tem crescido de forma consistente
No dia 17 de julho, em
uma entrevista concedida à jornalista Mônica Bergamo, o ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, foi enfático sobre a necessidade de taxar os brasileiros mais
ricos. O tema deve ser discutido em maior profundidade durante a segunda etapa
da Reforma
Tributária, e, segundo o próprio ministro, será alvo de resistências
importantes. No entanto, o petista conta com a opinião pública a seu favor.
De acordo com uma pesquisa realizada em 2022 pela Oxfam Brasil, intitulada "Nós e as Desigualdades", o apoio ao aumento da tributação sobre os muito ricos estaria consolidada no Brasil. Os dados coletados no ano passado mostram que 85% dos brasileiros apoiam o aumento de impostos de pessoas muito ricas como forma de garantir educação, saúde e moradia para a população mais pobre.
Fernando Gabeira - Aos nigerianos que chegam
O Globo
Vocês chegaram ao país do carnaval. Quem
sabe um dia uma escola de samba não conta sua saga no Atlântico?
Quatro nigerianos foram resgatados no
Brasil depois de uma viagem de 13 dias no leme de um navio com bandeira da
Libéria. Uma extraordinária aventura, com riscos de afogamento e morte por frio
no Atlântico.
Um dos nigerianos sorriu quando soube que
estavam no Brasil. Rindo de quê? Perguntaria alguém mais severo com o país. Mas
acho que se o tema for razões para sorrir, de uma certa forma, se deram bem.
Vale sorrir ao chegar ao Brasil com um inverno tão ameno em muitos pontos do país. Junho foi de manhãs lindas, julho não ficou atrás. Claro que tudo isso revela algo mais dramático no conjunto do planeta: os americanos registraram o dia mais quente de todos os tempos; os cientistas constataram que as placas de gelo nunca estiveram tão finas nos mares da Antártica.
Demétrio Magnoli - ‘Sabedoria diplomática’
O Globo
Kissinger voltou à China, outra vez de
surpresa, aos 100 anos, 52 anos depois da primeira visita
Ele voltou à China, outra vez de
surpresa, aos 100 anos, 52 anos depois de sua primeira visita. Naquele julho de
1971, desembarcou em Pequim como assessor de Segurança Nacional e principal
formulador da política externa de Richard Nixon. Agora, como enfatizou o
governo de Joe Biden,
na condição de cidadão privado, “por sua própria vontade”. Xi Jinping, contudo,
recebeu o “amigo da China” e Wang Yi, uma espécie de ministro do Exterior,
disse que “a política chinesa dos EUA precisa da sabedoria diplomática de
Kissinger”.
A “sabedoria”, cimentada por mais de cem
visitas à China, expressa-se como crítica implacável da política chinesa
redefinida por Donald Trump e,
nas suas linhas gerais, adotada por Biden. “Nem os EUA, nem a China, podem se
dar ao luxo de tratar o outro como adversário”, explicou Kissinger, segundo o
comunicado chinês.
Guerra Fria 2.0 — eis como a imprensa ocidental habituou-se a caracterizar as relações sino-americanas. O paralelo com a Guerra Fria original parece captar os impulsos da política chinesa de Washington.
Bruno Carazza* - Militares marcham lentamente aos quartéis
Valor Econômico
Ainda falta muito para Lula cumprir a
promessa de desmilitarizar o governo
Quando a campanha do ano passado começou a esquentar, Lula disse num comício na Uerj: “Exército não serve para política; ele deve servir para proteger a fronteira e o país de ameaças externas”. Uma semana depois, ele subiu o tom: “Nós vamos ter que começar o governo sabendo que vamos ter que tirar quase 8 mil militares que estão em cargos de pessoas que não prestaram concursos”. Em meados de 2020, segundo os cientistas políticos Octávio Amorim Netto e Igor Acácio, 11 dos 26 ministros de Bolsonaro eram militares ou tinham vergado farda no passado. Para os pesquisadores, a cúpula das Forças Armadas decidiu embarcar no governo do ex-capitão de péssima reputação no meio militar pela oportunidade de voltar a ter protagonismo nos destinos do país, mas também vislumbrando melhorias orçamentárias e remuneratórias.
Sergio Lamucci - O superávit comercial e o trunfo das contas externas
Valor Econômico
O fortalecimento das contas externas ajuda
a manter o câmbio mais valorizado e faz os investidores estrangeiros verem o
Brasil de modo mais positivo
O saldo da balança comercial brasileira tem
crescido com força, contribuindo para reduzir o déficit em conta corrente, que
mostra o resultado das transações de bens, serviços e rendas com o exterior. No
primeiro semestre, as exportações superaram as importações em US$ 45 bilhões,
um superávit 31,5% maior que o da primeira metade de 2022. Com isso, está em
curso um fortalecimento adicional das contas externas do país, num momento em
que o cenário global é complexo, com juros elevados nos países desenvolvidos e
atividade econômica global sem dinamismo.
O superávit tem melhorado significativamente desde 2020, como nota a A.C. Pastore & Associados, a consultoria do ex-presidente do Banco Central (BC) Affonso Celso Pastore. Em 2019, o saldo ficou em US$ 35 bilhões; nos 12 meses até junho deste ano, atingiu US$ 72 bilhões. As exportações de algumas commodities têm garantido os superávits robustos - “quase 40% do valor total embarcado desde 2020 se concentra em três produtos: soja, petróleo e minério de ferro”, aponta a A.C. Pastore.
Depois da festa na Espanha, a ressaca das negociações
Esquerda e direita celebram os resultados, mas socialistas largam na frente na disputa pelo apoio de nacionalistas e nanicos
Por Alessandro Soler / O Globo
A festa de ontem à noite em frente às sedes
dos dois principais partidos que disputam o governo espanhol não durou muito.
Hoje era dia de madrugar e dar início a negociações que serão duríssimas para
ambos os blocos — mas que, no cenário atual, têm mais chances de ser
bem-sucedidas para os socialistas.
É verdade que a coalizão de esquerda que
governa atualmente teve a soma das suas cadeiras no Congresso reduzida de 158
para 153, bem longe, portanto, das 176 necessárias para continuar no poder. Mas
os 169 assentos que conquistaram, juntos, o direitista Partido Popular e a
extrema direita do Vox são praticamente tudo o que o bloco conservador tem
garantido. Enquanto isso, a colcha de retalhos de partidos nacionalistas de
Catalunha, País Basco e Galícia tende a apoiar o bloco de esquerda. O problema
é o preço que cobrarão para isso.
— Uma demanda de sempre dos independentistas catalães, por exemplo, é a de que o governo permita a realização de um plebiscito de autodeterminação. Essa exigência poderá ser posta sobre a mesa, como chegou a estar em 2019. Mas (o plebiscito) hoje está fora de questão para o PSOE — disse o analista político Paco Camas.
O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões
Decreto de armas é positivo, mas exigirá fiscalização
Valor Econômico
Segundo o Anuário Brasileiro de Segurança
Pública de 2023, as armas de fogo seguem sendo o principal instrumento
utilizado para matar no Brasil
Conforme prometido pelo presidente Luiz
Inácio Lula da Silva durante a campanha eleitoral, o governo federal anunciou
na sexta-feira a edição de um novo decreto para restringir o acesso a armas e
munições no Brasil. A boa notícia, depois do que se convencionou chamar de
“liberou geral” promovido pela administração Jair Bolsonaro, era esperada até
por quem queria evitá-la. Trata-se, contudo, de uma questão matemática: quanto
mais armas e munições em circulação, maior também é a probabilidade de eventos
violentos com armas de fogo ocorrerem país afora.
Há alguns números que precisam ser levados em consideração nesta discussão, os quais foram divulgados também na semana passada pelo Fórum Brasileiro de Segurança Pública.