sábado, 24 de novembro de 2018

Opinião do dia: Hannah Arendt

"O objetivo da educação totalitária nunca foi incutir convicções, mas destruir a capacidade de formar alguma.

O conservadorismo, no sentido da conservação, faz parte da essência da atividade educacional, cuja tarefa é sempre abrigar e proteger alguma coisa.

A educação é o ponto em que decidimos se amamos o mundo o bastante para assumirmos a responsabilidade por ele.

A função da escola é ensinar às crianças como o mundo é, e não instruí-las na arte de viver.

A escola não é de modo algum o mundo, nem deve ser tomada como tal; é antes a instituição que se interpõe entre o mundo e o domínio privado do lar.

A essência dos Direitos Humanos é o direito a ter direitos."

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Hannah Arendt (1906-1975) foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e perseguição de pessoas de origem judaica ocorrida na Alemanha a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fizeram-na decidir emigrar.

*Marco Aurélio Nogueira: Riscos e incógnitas na política externa

- O Estado de S.Paulo

Faltam prudência e sentido estratégico, sobra desejo de ‘mudar tudo o que está aí’

Nada pode ser pior para um país que almeja o status de potência média emergente e pretende jogar o jogo da diplomacia internacional do que a adoção de uma política externa enviesada pela ideologia.

A ideologia é inerente à política, doméstica ou internacional, pelo simples fato de que impregna as escolhas e as condutas humanas. Ela é muito mais sinônimo de orientação ideal do que de “distorção do real”, mas suas lentes, quando mal calibradas, podem de fato cegar e promover atos descompensados, que desorganizam e prejudicam.

Países escolhem parceiros e posicionamentos internacionais em função dos interesses nacionais, de valores, tradições e estilos de atuação, da correlação de forças, de metas estratégicas e possibilidades efetivas. Muitas vezes, porém, os condutores da política externa se deixam guiar por esquemas de solidariedade e alinhamento mais afinados com orientações e escolhas ideológicas. Entram e saem de blocos e arranjos motivados por tais esquemas, e não pelos interesses de seu Estado e de sua população.

Podem fazer isso de modo escancarado, imprudente, ou de modo cauteloso, realista, para que as preferências político-ideológicas se componham com os interesses nacionais e não joguem o país numa zona aberta de turbulência.

O presidente eleito, Jair Bolsonaro, fez sua campanha denunciando o “ideologismo” da política externa petista, que teria, em sua visão, submetido os interesses do Brasil a inflexões ideológicas distorcidas – como, de resto, aconteceria em todas as demais áreas do Estado. Para ele, a esquerda petista seria uma fábrica de doutrinação indiferente às necessidades do País.

João Domingos: Falta articulação

- O Estado de S.Paulo

Comissão de Orçamento tomou decisões sem a presença de representante do novo governo

Jair Bolsonaro soube passar para o eleitor a mensagem de que era o candidato anti-PT, anti-Lula, antitudo o que está aí. Em resumo, o candidato antissistema. Vencida a eleição, veio a fase da montagem do governo. Até agora, pelo que se viu, Bolsonaro mantém uma coerência muito forte com o que disse na campanha e com suas escolhas: liberal na economia, conservador nos costumes e ideológico nas relações exteriores e na educação. Nessa parte, nenhuma surpresa, portanto.

Surpresa é a forma pouco política como Bolsonaro tem lidado com o Congresso. Se ele não fosse deputado há quase 28 anos, se não conhecesse as estruturas da Câmara e do Senado, poderia se dizer que o presidente eleito não sabe como é que o Parlamento funciona. Mas ele sabe como é que são as coisas por lá. Sabe, por exemplo, que se não tiver uma articulação política competente, presente, vigilante e influente, vai enfrentar problemas.

Bolsonaro pode dizer que ainda não assumiu o governo, que o próximo Congresso só tomará posse no ano que vem. Então, paciência, deixa a roda girar. Mas não é assim que as coisas funcionam. O que o Congresso decidir agora terá reflexos em todo seu governo. Como já ocorreu com a aprovação do reajuste para o Poder Judiciário, que representará gastos suplementares de pelo menos R$ 4,1 bilhões no ano que vem, além da aprovação de incentivos para montadoras, o que não estava na contabilidade do novo governo.

Para evitar que decisões desse tipo voltem a ser tomadas, Bolsonaro tem de se convencer de que, apesar de não ter assumido a Presidência, precisa pôr uma equipe de articuladores no Senado e outra na Câmara. Fisicamente. Como disse o governador do Espírito Santo, Paulo Hartung, que elogiou a escolha da equipe econômica do futuro governo, não adianta só ter boas intenções. É preciso que essas boas intenções tenham a companhia de uma boa articulação política.

Adriana Fernandes: Maia no caminho de Guedes

- O Estado de S.Paulo

Maia acumulou nas mãos um conjunto de projetos econômicos de peso

Sem conseguir o apoio que esperava do presidente eleito, Jair Bolsonaro, para a sua reeleição ao cargo em 2019, o presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), deu nos últimos dias sinais de que pode colocar muitas “pedras” no caminho das votações dos projetos mais importantes para o futuro ministro da Economia, Paulo Guedes, diminuir alguns dos problemas que o aguardam assim que assumir o cargo no dia 1.º de janeiro.

Já não há mais nenhum comprometimento com a agenda de votações.

Maia segue o caminho do presidente do Senado, Eunício Oliveira (MDB-CE), que manobrou para uma votação relâmpago do reajuste dos salários dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), com custo fiscal elevado para todo o setor público, e atrapalhou a apreciação do projeto de lei que permitirá a assinatura do contrato aditivo da cessão onerosa entre a Petrobrás e a União. Em público, cumprimentos e gentilezas. As articulações de bastidores, porém, mostram o oposto. De ambas as partes.

Com a bandeira de “menos Brasília e mais Brasil”, com descentralização de recursos da União para Estados e municípios, Paulo Guedes acabou caindo na armadilha montada por Eunício de vincular a votação do projeto de lei da cessão onerosa à partilha da arrecadação do dinheiro do leilão com Estados e municípios. E mais: atrelou o acordo a outro projeto que está na pauta de votação da Câmara, sob o domínio de Maia, que altera a divisão de recursos do Fundo Social do Pré-sal.

O baile duplo complicou a votação do projeto, que é “porta da esperança” para o futuro ministro conseguir cumprir a promessa de campanha de zerar do déficit primário das contas do governo federal até dezembro de 2019.

Demétrio Magnoli: Os dois Bolsonaros

- Folha de S. Paulo

Ao planejar a ofensiva, Bolsonaro desenha também o caminho da retirada

Sabe-se que, historicamente, Bolsonaro não é um, mas dois. A narrativa convencional registra uma ruptura radical. O capitão turbulento que evoluiu como parlamentar de convicções nacional-estatistas converteu-se, no umbral de sua campanha presidencial, ao manual econômico do ultraliberalismo.

Sob essa luz, um Bolsonaro sucedeu ao outro, abandonando o personagem original numa reentrância do passado. Contudo, a montagem do governo conta-nos uma história diferente, sugerindo a hipótese de que os dois Bolsonaros convivem num mesmo indivíduo dilacerado entre personas contraditórias.

Paulo Guedes, o ultraliberal de caricatura, concentra poderes inauditos, enfeixando as pastas da Fazenda, do Planejamento e da Indústria e Comércio. O czar da Economia nomeou os integrantes de uma equipe econômica composta por liberais competentes, de credenciais impecáveis. Já o núcleo militar do governo é composto por generais da reserva oriundos da tradição geiseliana.

Os tempos são outros, a obsessão estatista passou, dissolveu-se a geopolítica da Escola Superior de Guerra. Mas, entre os deuses do mercado e os do planejamento, as “forças da ordem” sempre penderão para o segundo. O Bolsonaro original vive nesse núcleo militar, selecionado por ele mesmo, não por um terceiro.

Os dois Bolsonaros são extremistas ideológicos, mas de sinais opostos. Um Bolsonaro tem consciência da presença do outro. De certo modo, o primeiro vigia o segundo, traçando-lhe limites. O presidente eleito refutou a proposta de Guedes de saltar para um regime previdenciário de capitalização individual recordando-lhe que os cidadãos confiam na promessa constitucional de que suas futuras aposentadorias têm a garantia do Tesouro.

Hélio Schwartsman: A grande incógnita

- Folha de S. Paulo

Qual será a estratégia de Bolsonaro para ligar com o Legislativo?

“Eu odeio o Bolsonaro, porque ele me obrigou a votar no PT.” A piada, que circulou no segundo turno da eleição presidencial, ressurgiu em minha mente nos últimos dias. Achei que teria de elogiar o presidente eleito pela indicação de Mozart Ramos para comandar o Ministério da Educação, mas fui salvo pela bancada evangélica.

Os pastores não gostaram da ideia de ver alguém com perfil técnico chefiando o MEC e pressionaram Bolsonaro, que, ao que tudo indica, cedeu, substituindo Ramos por Ricardo Vélez Rodríguez. Pelo que li na imprensa, Vélez, que defende entusiasmadamente o Escola sem Partido e vários outros itens da pauta conservadora, vai compor, ao lado do futuro chanceler, Ernesto Araújo, a ala mais ideológica do governo.

Até entendo que Bolsonaro precise distribuir brinquedos para seus apoiadores mais fiéis, mas tinha de sacrificar logo a Educação?

A forma como o presidente eleito foi e voltou na indicação de ministros faz pensar sobre a governabilidade, em especial as relações com o Congresso. Por enquanto, o futuro mandatário não procurou compor com partidos políticos. Tem preferido fazer acenos para bancadas temáticas, como a ruralista, a evangélica e a da segurança. Até acredito que ele possa, num primeiro momento, enquanto ainda goza do frescor das urnas, prescindir dos partidos. Mas essa é uma condição que tem prazo para acabar. Pode durar seis, oito meses, mas, depois, o vigor eleitoral irá refluir e os apoios não virão mais tão facilmente. Aí vai ficar difícil governar sem as legendas.

Julianna Sofia: Novo endereço

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro muda o jogo; lobistas e políticos buscam guichê para negociar

Até a atmosfera siderada que absorve a Esplanada dos Ministérios e arredores perder intensidade, parlamentares escolados nas práticas comezinhas da velha política e núcleos lobistas não sabem a quais guichês recorrer para encaminhar suas causas. Questão de tempo.

Com os esteroides que agigantaram o Ministério da Economia de Paulo Guedes, uma secretaria voltada à produtividade/competitividade deverá concentrar várias atribuições da atual pasta da Indústria e Comércio. Uma penca de departamentos que hoje se replicam na Fazenda e no Mdic será reorganizada sob um comando, tornando-se o novo endereço para queixumes e pleitos do setor produtivo.

Nesta semana, representantes de oito entidades do comércio e do setor de serviços já bateram à porta da futura lojinha, e a paúra das confederações de perder interlocução com o governo parece contornada.

Sérgio Abranches*: Uma coalizão para chamar de sua

- O Globo

Para conseguir governar, Bolsonaro terá que negociar com partidos, não apenas com bancadas temáticas

Para ter apoio duradouro e governar, Bolsonaro precisará formar maioria multipartidária. O presidente eleito, Jair Bolsonaro, prometeu não compor o Ministério por acerto com lideranças dos partidos. Terá um Ministério híbrido, com técnicos, militares e indicados por bancadas temáticas. É o primeiro governo assumidamente de direita. Tem uma ideologia bem definida, com uma proposta econômica liberal ortodoxa e uma pauta de valores conservadora e religiosa. A indicação de ministros setoriais pelas bancadas temáticas, como Agricultura e Saúde, ou o poder de veto da evangélica na Educação revelam a disposição de governar com as agendas dessas frentes parlamentares.

Significa que Bolsonaro não terá uma coalizão? Não. Apenas que a coalizão não será formada com base na troca de apoio por ministérios. É uma novidade a ser testada. Só a prática dirá se terá sucesso. A literatura acadêmica diz que, sem a representação da coalizão no gabinete, há risco para a governabilidade. O partido de Bolsonaro tem 10% dos votos na Câmara e 5% no Senado. Para governar, precisará formar maioria multipartidária. Quer usar meios novos para organizá-la. Mas, terá que negociar com partidos no Congresso. As bancadas temáticas não dão liga para coalizões duráveis. Apenas alianças tópicas. Unem-se no específico e se dividem no todo. Pode-se chamar como quiser, base de apoio, maioria, aliança. Será uma coalizão. Um termo neutro a significar apenas um acordo multipartidário para apoiar o governo. A diferença é que há meios espúrios e meios limpos para negociar coalizões. A maioria das democracias multipartidárias do mundo tem governos de coalizão negociados por meios lícitos.

Merval Pereira: Sem estelionato eleitoral

- O Globo

Escolha do ministro da Educação não surpreende ninguém, Bolsonaro foi eleito porque pensa assim

Uma escolha técnica seria mais adequada, devido aos problemas que temos na educação, maiores do que a questão ideológica, que sem dúvida interfere na qualidade, mas apenas lateralmente. Não pode ser surpresa para ninguém que Bolsonaro escolha um ministro que tenha uma ideologia de direita tão marcada quanto a de Ricardo Velez.

É o que o Bolsonaro pensa e o que defendeu na campanha presidencial. Assim como a indicação do chanceler do Itamaraty, que ele escolheu dentro da carreira, mas não entre embaixadores seniores, como era a expectativa. Escolheu um jovem embaixador, recentemente promovido, que pensa como ele. As duas nomeações foram indicadas pelo filósofo Olavo de Carvalho, que é o pensador desse grupo.

Não surpreende ninguém, Bolsonaro foi eleito porque pensa assim, porque disse as coisas que disse durante a campanha. Pode-se discordar dessa linha, muita gente votou no Bolsonaro por causa disso, muita gente votou no Bolsonaro apesar disso, achando que a volta do PT seria pior. Muita gente votou no Haddad para evitar o Bolsonaro e o que ele pensa, mesmo sem ser petista.

Míriam Leitão: O batismo do Novo em Minas

- O Globo

Romeu Zema, do Novo, enfrentará um rombo ainda maior: Minas tem atraso de salários e de repasse para municípios, a Cemig antecipou impostos

O Partido Novo fará um batismo de fogo como administrador público. O governador eleito de Minas, Romeu Zema, vai assumir com um déficit maior do que o até agora divulgado. Além da dívida com o governo federal, dos atrasos de salários, o estado deve R$ 10 bilhões de repasses aos municípios, já sacou depósitos judiciais, a Cemig antecipou pagamento de imposto. “Estamos levantando todos os artifícios para que no dia primeiro de janeiro tenhamos condição de apresentar para o mineiro a real situação do estado”, diz Zema.

O governo Fernando Pimentel não quis negociar a entrada no Regime de Recuperação Fiscal e conseguiu liminar no Supremo para não pagar as parcelas da dívida. Assim, ele tem o bônus de suspensão do pagamento das parcelas mensais ao Tesouro, mas não teve que se submeter ao ajuste fiscal que faz parte do programa. Isso fez com que a situação se agravasse, principalmente por esses artifícios contábeis. Mesmo assim, o empresário Romeu Zema se diz animado.

— Estou animado. Eu digo que só para a morte não tem jeito. Minas tem um potencial muito grande, da mesma forma que o Brasil, e eu vejo que este atual governo errou muito. Então dá para reverter muita coisa que ficou a desejar nesses quatro anos, e é o que eu vou fazer com uma equipe muito boa — disse Zema.

Energia desperdiçada: Editorial | Folha de S. Paulo

Se ficar tomado pela pauta ideológica, Vélez perderá chance de melhorar a perspectiva de futuro de milhões

A indicação do ministro da Educação explicitou uma disputa no novo governo que talvez nem sequer o presidente eleito conhecesse.

A reação de apoiadores de primeira hora de Jair Bolsonaro, religiosos conservadores sobretudo, a nomes não comprometidos com a chamada Escola sem Partido foi enérgica a ponto de modificar o curso dos acontecimentos e o perfil do titular da pasta.

Diante do veto ao educador Mozart Ramos, a escolha do professor de filosofia Ricardo Vélez Rodríguez, chamado às pressas para conversar com Bolsonaro, representou a vitória da ideologia pouco familiarizada com o setor sobre a técnica, o conhecimento especializado e a tarimba administrativa.

Nada que não possa ser recuperado. Outras pessoas que chefiaram a Educação nos últimos anos careciam de experiência no campo.

Todas tiveram a humildade de suprir essa deficiência cercando-se de assessores competentes, prestigiando a inteligência decantada no próprio MEC e, talvez mais importante, chancelando os diagnósticos na base dos programas prioritários, de longo prazo, que têm ajudado a recuperar parte do imenso atraso no ensino básico.

Dessa lista de prioridades não consta a implantação de mecanismos patrocinados pelo Estado, de resto inconstitucionais, para alcaguetar professores e bisbilhotar o que dizem em sala de aula.

Inflação, bom sinal para 2019: Editorial | O Estado de S.Paulo

O presidente Michel Temer fechará o mandato, quase certamente, com a inflação bem comportada. Será um presente de boas-vindas para o novo governo. Com alta de apenas 0,19%, o IPCA-15 de novembro reforçou a expectativa de um fim de ano melhor para as famílias. A pesquisa foi realizada entre os dias 12 de outubro e 12 deste mês. Esse levantamento é usado como prévia do Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), publicado regularmente na primeira semana de cada mês. Se as pressões inflacionárias continuarem moderadas, o futuro presidente e sua equipe encontrarão um cenário de preços muito favorável sob mais de um aspecto.

Se esse quadro se confirmar, os consumidores terão espaço razoável no orçamento para continuar indo às compras e gerando, portanto, uma preciosa demanda para movimentar a produção. O Banco Central (BC) poderá manter os juros básicos no atual patamar – de 6,50% ao ano – ainda por algum tempo, favorecendo o crédito e a movimentação dos negócios. Maior atividade permitirá aumento da arrecadação de impostos, contribuições e taxas, facilitando a execução orçamentária no primeiro ano do novo mandato.

Além disso, poder iniciar o governo sem ser assombrado por um quadro inflacionário ruim já será uma bênção para o novo presidente. Quem conhece um pouco de história do Brasil pode avaliar facilmente o significado dessa bênção.

Entre o ajuste e o risco Trump: Editorial | O Estado de S. Paulo

O jogo bruto do presidente Donald Trump, modelo cultuado pela família Bolsonaro, é uma das principais ameaças ao crescimento da economia mundial – e do Brasil, portanto – nos próximos anos, segundo a Organização para Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE). As tensões no comércio, centradas na disputa entre Estados Unidos e China, já tiraram do produto global, em 2018, uma lasca estimada entre 0,1 e 0,2 ponto de porcentagem. As perdas podem crescer. Se o governo americano elevar para 25% as tarifas sobre todos os bens de origem chinesa, em 2020 o crescimento global poderá cair dos 3,5% agora projetados para 3%. A queda de braço entre os governos americano e chinês começou com um surto protecionista na Casa Branca.

As primeiras medidas, barreiras contra importações de aço e alumínio, atingiram exportadores brasileiros e de vários outros países. A política de Washington, claramente oposta à ordem multilateral, é voltada principalmente contra a concorrência chinesa, mas afeta em grande escala as trocas internacionais e já é tema de disputa na Organização Mundial do Comércio (OMC).

Barreiras comerciais e insegurança quanto à evolução do intercâmbio prejudicam muito mais que as trocas de mercadorias, afetando as decisões de investimento, o sistema produtivo e a geração de empregos, como indicam os cálculos publicados pela OCDE. A avaliação dos danos potenciais das barreiras tarifárias ocupa boa parte da nova edição das Perspectivas Econômicas divulgadas nesta semana pela entidade.

O principal objetivo do Mais Médicos: Editorial | O Globo

O programa serviu de biombo para que o contribuinte brasileiro pagasse empréstimos feitos a Cuba

É indiscutível que o presidente eleito Jair Bolsonaro foi açodado ao insistir em críticas, corretas, ao programa Mais Médicos, antes de assumir, e sem que o governo Temer tivesse algum plano de contingência para reduzir os danos de uma reação extemporânea de Cuba de, sem o aviso prévio de praxe, retirar os profissionais do país. Aconteceu o que se temia, mas se sabe hoje que Havana deve ter usado as declarações do futuro presidente, adversário político do aliado PT, para encerrar às pressas um programa cujo objetivo meritório era apenas um pretexto para encobrir grande operação financeira de ajuda petista à ditadura da Ilha, com recursos do Erário brasileiro. Mas, se o objetivo era impedir qualquer auditoria no acordo, não deu certo. Informações e telegramas despachados da embaixada brasileira em Cuba, revelados pela “Folha de S. Paulo”, levantaram apontado véu que cobria a operação.

O enredo é ardiloso. A ideia do Mais Médicos é de Cuba, aceita com previsível bom grado pela sempre prestimosa presidente Dilma Rousseff, quando se tratava de atender apedidos de aliados ideológicos. Aliás, característica dos petistas em geral. Houve alguma discussão sobre custos, mas nunca acerca do arcabouço fantasioso do programa, descrito, com todas as palavras, segundo os documentos divulgados, como um mecanismo financeiro para Cuba pagar ao Brasil dívidas que a Ilha contraía junto ao grande aliado sul-americano. Inclua-se no caso o projeto do porto de Mariel, executado pela sempre presente Odebrecht, com financiamento do BNDES.

Wall Street emite sinais que interessam ao novo governo: Editorial | O Globo

Momento da economia mundial requer muita atenção, tanto de analistas quanto de políticos

A economia americana, observada da superfície, ostenta indicadores invejáveis. Inflação sob controle, pouco acima dos 2%; crescimento em bom ritmo (3%) e, como consequência, taxa de desemprego historicamente muito baixa (aquém dos 4%). Por isso mesmo, o Federal Reserve (Fed), o Banco Central americano, vem elevando aos poucos os juros.

O cenário, como se vê, parece benigno. Mas, no início da semana, o mercado de ações — sensível sismógrafo do que acontece no subsolo das economias — caiu de forma pouco usual. Houve razões pontuais: papéis da Apple mergulharam 4%, puxados por más previsões de vendas; ações de outros gigantes da tecnologia foram atrás; pessimismo com o embate comercial entre China e EUA. Tudo somado com outros fatores degradou o humor do mercado.

Aqueda em Wall Street se propagou pelo mundo e um turbilhão de análises preocupantes fluiu pela rede digital. Há outros sinais pelo mundo nada animadores. Um deles, aquedado preço do petróleo —30% desde o início de outubro. Trata-se de um indicador valioso do nível de atividade econômica. Deve haver relação com o esfriamento, no último trimestre, de economias de peso como China e Japão, a segunda e a terceira maiores do mundo, e a Alemanha, também entre as dez mais poderosas.

PPS tenta atrair quadros insatisfeitos do PSDB

Coluna do Estadão

Depois de intensificar o diálogo para incorporar quadros da Rede, o PPS começa a se aproximar de importantes nomes do PSDB. Presidente nacional do Partido Popular Socialista, Roberto Freire se encontra hoje, em São Paulo, com Alberto Goldman, um dos fundadores do PSDB. Ontem, Freire se reuniu com outro tucano graúdo. Desde a vitória de João Doria ao governo paulista, há um grupo incomodado com os rumos que a legenda pode tomar, inclusive com a possibilidade de ter de apoiar a gestão do presidente eleito, Jair Bolsonaro (PSL).

União. Em consulta, o TSE vetou fusões entre partidos com menos de cinco anos, como é o caso da Rede. Com isso, o PPS calcula que conseguirá filiar só parte dos cinco senadores da legenda. Na Câmara, a previsão é de ter uma bancada de 10 deputados. Um deles é o pastor Abílio (PHS-BA).

Não deu. O PPS chegou a escolher o nome Movimento para rebatizar a legenda. Mas voltou atrás ao descobrir que há um grupo fascista homônimo na Hungria. Entre as novas opções cotadas, estão Cidadania, Cidadãos e Vamos.

No páreo. Derrotado nas urnas, Cássio Cunha Lima (PB) passou a ser defendido pelos cabeças-brancas do PSDB para assumir o partido em maio de 2019, quando Geraldo Alckmin deixa o posto. O movimento tenta frear o avanço de Doria, que faz campanha para Bruno Araújo (PE).

Toffoli: Congresso e presidente eleito devem ‘pacificar’ país

Presidente do STF elogia indicação de ex-assessor para Ministério da Defesa

Janaína Figueiredo | O Globo

BUENOS AIRES - Em visita oficial à Argentina, o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Dias Toffoli, disse ontem desejar que os próximos anos sejam marcados pela pacificação. Segundo ele, a tarefa deve ser cumprida pelo presidente eleito, Jair Bolsonaro, e pelo Congresso que tomará posse no ano que vem.

— Nossa esperança é de que, passados esses tempos de turbulências que vivemos nos últimos quatro ou cinco anos, o novo presidente e o novo Congresso pacifiquem a nação brasileira e governem para todos — afirmou Toffoli.

Perguntado sobre a nomeação do general Fernando Azevedo e Silva, até pouco tempo seu assessor, o presidente do STF fez rasgados elogios ao futuro ministro da Defesa.

— O general Fernando é uma pessoa qualificadíssima por seu currículo, história e experiência. Foi comandante do Estado Maior do Exército, responsável pela segurança nas Olimpíadas (de 2016) e tem uma vasta experiência que, com certeza, o levará a ser um grande ministro da Defesa. Ela vinha nos ajudando e agora vai poder atuar dentro do Ministério da Defesa em toda a nação, o que é extremamente positivo.

Onyx tenta aproximar presidente eleito do Congresso

Chefe da transição tem buscado diminuir resistência dos partidos, e vai montar time de ex-parlamentares para ajudar articulação

Catarina Alencastro | O Globo

Enquanto o presidente eleito, Jair Bolsonaro, segue no discurso de combate à “velha política”, ignorando partidos e líderes do Congresso na montagem do seu ministério, um de seus principais auxiliares, o futuro ministro Onyx Lorenzoni, já começou a aproximação com os caciques do Parlamento. Desde o início da transição, há três semanas, o gabinete de Bolsonaro se deu conta de que não conseguirá implementar uma agenda legislativa valendo-se apenas de governadores e de bancadas setoriais, como gostaria Bolsonaro. Para avançar nas votações, será preciso melhorar o clima com a “política tradicional”, o que Onyx, em almoços, jantares e reuniões reservadas, vem tentando fazer.

O GLOBO apurou que o futuro ministro da Casa Civil passou a dedicar parte do seu tempo a reuniões com lideranças partidárias para ouvi-las e expor planos. Fazer a “corte” aos parlamentares, no jargão político, é um gesto que costuma facilitar a vida dos presidentes no Legislativo.

Sérgio Augusto: O Rio de Clarice

- O Estado de S. Paulo

Na cidade, Clarice Lispector fixou-se em definitivo no Leme, que chamava de “minha terra”

Oito anos atrás, num ciclo de palestras organizado pelo Instituto Moreira Salles com o título geral de Cidade por Escrito, o português Carlos Mendes de Souza discorreu sobre a apaixonada relação de Clarice Lispector com o Rio de Janeiro. Agora nos chega por escrito, impresso e com lombada, um deleitante tour pela cidade igualmente a partir da biografia e da ficção de Clarice, conduzido pela pesquisadora Teresa Montero, que há quase três décadas se dedica a perpetuar a memória da escritora.

O Rio de Clarice – Passeio Afetivo pela Cidade (Autêntica, 188 págs.) pertence a um híbrido subgênero de não ficção rotulável de turístico-literário ou topobiográfico: guias de viagem consagrados à redescoberta de uma cidade através da vida e da obra de escritores que a vivenciaram e retrataram em prosa ou verso. Clarice nasceu na Ucrânia, morou em Maceió, Recife, Belém, Nápoles, Berna, Torquay (Inglaterra), Washington – casada com o diplomata Maury Gurgel Valente, só no exterior viveu 16 anos – mas fez do Rio a sua Pasárgada, o pano de fundo de quase todas as suas narrativas ficcionais, de suas crônicas e reportagens, mesmo daqueles contos transcorridos no interior de um apartamento ou de sua alma.

Ela residiu cinco anos na Tijuca, circulou intensamente pelo centro, como estudante (de Direito), funcionária da Agência Nacional (de que foi tradutora, redatora e repórter) e colaboradora de revistas e jornais (Senhor, Jornal do Brasil, Manchete); viveu no Flamengo e em Botafogo, até fixar-se em definitivo no Leme, que chamava de “minha terra”. Lá morou de 1959 até morrer, em 1977, e escreveu 12 dos 17 livros que publicou ao longo de quatro décadas.

Ainda é possível visitar alguns dos locais por ela habitados, menos os dois primeiros, nas ruas Lúcio de Mendonça e Mariz e Barros, na Tijuca, há muito substituídos por outras edificações. As geminadas casas de dois andares da pitoresca Vila Saavedra, no n.º 76 da Rua Silveira Martins, no Catete, seu endereço entre 1940 e 1943, permanecem de pé porque preservadas pelo Patrimônio Histórico.

Edgard Moraes - Recordar é viver

Cecília Meirelles: É preciso não esquecer nada

É preciso não esquecer nada:
nem a torneira aberta nem o fogo aceso,
nem o sorriso para os infelizes
nem a oração de cada instante.

É preciso não esquecer de ver a nova borboleta
nem o céu de sempre.

O que é preciso é esquecer o nosso rosto,
o nosso nome, o som da nossa voz, o ritmo do nosso pulso.

O que é preciso esquecer é o dia carregado de atos,
a ideia de recompensa e de glória.

O que é preciso é ser como se já não fôssemos,
vigiados pelos próprios olhos severos conosco,
pois o resto não nos pertence.