sábado, 9 de junho de 2018

Opinião do dia Fernando Henrique Cardoso

A sociedade descrê das instituições existentes. Se o poder vem de cima, a confiança vem de baixo. Quando não há mais confiança, o sistema político perde legitimidade. Não obstante, sem instituições e sem partidos o que emerge são líderes autoritários ou populistas. Melhor, portanto, tratar de reformar as instituições e revitalizar os partidos.

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Fernando Henrique Cardoso, Crise e reinvenção da política no Brasil, p.104. Editora Companhia das Letras, S. Paulo, 2018.

Cristovam Buarque: O professor caminhoneiro

- O Globo

Vota-se mais na política que promete carros do que na que defende a educação

Há décadas o Brasil desvia recursos da educação, do saneamento, da saúde, da moradia e de outros setores sociais para fazer as estradas, pontes, viadutos, avenidas que a indústria automobilística exige; além dos sacrifícios fiscais e das taxas de juros subsidiados, sem os quais o Brasil não se transformaria no 8º maior produtor de automóveis do mundo. Esses sacrifícios foram feitos sem reclamação, porque a inflação permitia a ilusão de recursos públicos para todas as prioridades: as sociais e as automobilísticas. O resultado é sermos grandes produtores de carros e um dos últimos países em educação, saúde, distribuição de renda, com uma cultura que prioriza mais o tanque de gasolina dos automóveis do que a qualidade de alimentação dos filhos; mais a pavimentação das vias do que a qualidade das escolas; vota mais na política que promete carros do que na que defende educação.

Graças aos caminhoneiros, estamos descobrindo que, para reduzir o preço do diesel, será necessário tirar dinheiro de outros gastos. Os caminhoneiros estão mostrando que um real gasto em uma despesa não pode ser gasto simultaneamente em outra. Antes isso era possível graças ao estelionato da inflação.

Descobrimos a aritmética; falta descobrir a política para escolher de onde retirar os recursos necessários, sem comprometer a educação e outros gastos sociais. Do total de R$ 9,5 bilhões destinados ao subsídio para o diesel, o governo propõe retirar R$ 55 milhões da educação. Os defensores da educação devem descobrir que não basta mais reivindicar, é preciso lutar para retirar recursos de outros setores: das mordomias e de outros desperdícios históricos pagos pelo Estado brasileiro, beneficiando a elite.

*Bolívar Lamounier: Hora de cair na real

- O Estado de S.Paulo

Permaneceremos um país pobre, desigual e com nível de conflito social impensável

O solavanco provocado pelo locaute/greve dos caminhoneiros força-nos a fazer algo que há anos temos tentado evitar: cair na real.

A “real”, o que é, exatamente? Dito com a simplicidade e a circunspecção que a hora exige, é o reconhecimento de que o Brasil está perdendo o bonde da História. Na toada em que temos levado a vida, é óbvio que não iremos a lugar nenhum. Permaneceremos por muito tempo como um país pobre, extremamente desigual e com o conflito social atingindo níveis impensáveis.

Não me canso de repetir que, a continuarem as medíocres taxas de crescimento do PIB que mal e parcamente temos atingido, levaremos uma geração inteira para dobrar nossa renda média por habitante, que hoje se situa em torno de US$ 11 mil anuais. E não se requer um grande esforço de imaginação para perceber que quando atingirmos essa meta (meta?!) nossa situação social será ainda muito pior que a dos países europeus que se encontram atualmente um pouco acima ou um pouco abaixo desse nível. Nossa distribuição de renda será ainda muito pior que a deles. Nosso sistema educacional, idem. Nosso índice de criminalidade violenta (número de homicídios por 100 mil habitantes), muitíssimo pior. Nossas condições de saneamento, sabe Deus. Rezemos para que pelo menos as metrópoles mais bem aquinhoadas, como São Paulo, estejam livres do pernilongo e do mosquito Aedes aegypti. E dos escorpiões, cujo número parece ter aumentando 700% nos meios urbanos do País.

Esse é o pano de fundo sine qua non em termos do qual precisamos nos entender. Para delinear preliminarmente o entendimento de que necessitamos, se queremos mesmo nos livrar desse futuro sombrio, penso que três pontos precisam ser considerados: a agenda de reformas estruturais, as eleições de outubro e certas mudanças para pior que vêm ocorrendo em nosso sistema político.

Demétrio Magnoli: Ideias fora do tempo

- Folha de S. Paulo

'Unidade' é o eufemismo para chamado a renúncias em favor de Alckmin

Há quatro décadas, investigando o fermento liberal na obra de Machado de Assis, Roberto Schwarz inventou as "ideias fora do lugar". Dias atrás, na tentativa de refazer o cenário eleitoral, os tucanos inventaram as ideias fora do tempo.

O manifesto "Por um polo democrático e reformista" conclama "liberais, democratas, social-democratas, democrata-cristãos e socialistas democráticos" à união contra "populismos radicais, autoritários e anacrônicos". Seus 17 itens são sementes de um discurso capaz de seduzir a maioria dos eleitores, órfãos de representação política. Mas o tempo passou na janela e a notória Carolina não viu.

As "ideias iniciais para alimentar o debate", como o manifesto classifica suas proposições, traçam fronteiras com Bolsonaro (defesa da liberdade e da democracia) e com Ciro (busca do equilíbrio fiscal). Lá está a plataforma reformista nos campos da economia (Previdência, tributação) e das instituições (reforma do Estado, reforma política). O combate à pobreza é conectado à ampliação da produtividade e à qualificação dos serviços públicos (educação, saúde).

O texto enfatiza o combate à corrupção e à criminalidade, evidenciando que esses temas fundamentais não devem ser entregues à sanha do discurso demagógico. Contudo, no atual estágio da corrida eleitoral, tudo isso soa como operação da campanha de Alckmin.

Inicialmente firmado pelos tucanos FHC, Aloysio Nunes e Marcus Pestana e pelo senador Cristovam Buarque, do PPS, o manifesto apresenta-se como ponto de partida de uma "obra coletiva envolvendo partidos políticos e lideranças da sociedade civil". No universo onírico instalado por essas palavras, a eleição presidencial surge como horizonte distante: o ponto de chegada.

De fato, como o tempo não para, a fragmentação do centro político já se estratificou em diversas candidaturas. Nessas circunstâncias, "unidade" é o eufemismo para um chamado a improváveis renúncias eleitorais em favor do candidato tucano.

Fernando Gabeira: Onde canta o sabiá

- O Globo

Sem humor é difícil se aventurar em outra língua. E até achar uma saída nos descaminhos em que os dirigentes meteram o Brasil

Esta semana fui pegar uma credencial no Estádio Luzhniki, em Moscou, e ouvi vozes de turistas brasileiros. Em cada momento, ouvir nossas vozes tem um significado. No exílio, ou mesmo agora, quando o Brasil entra em parafuso, o impulso é sempre de salvá-lo dentro de nós, garantir sua continuidade através da teia de emoções.

Mesmo no período em que pesquisava a Rússia, o Brasil apareceu aqui e ali, de forma meio engraçada. Tenho dúvidas se as coisas aconteceram assim, não tive tempo de confirmá-las com os atores diretos.

No livro “Todos os homens do Kremlin”, Mikhail Zygar conta uma história de Putin que envolveu Dilma Rousseff. Foi numa reunião do Grupo dos 20, em Brisbaine, Australia, em 2015.

Segundo ele, os australianos e o Ocidente estavam querendo isolar Putin, depois da anexação da Crimeia. Os anfitriões australianos fizeram tudo para constranger o líder russo. O primeiro passo foi obrigá-lo a ficar na extremidade da foto, algo que jamais tinha acontecido com ele, e que deve tê-lo enfurecido, mas dificilmente um homem da antiga KGB expressaria emoções negativas.

À noite, segundo o autor, Putin foi afastado da mesa principal no jantar e ficou praticamente só na mesa com Dilma Rousseff. Duvido desse último lance. Dilma representava o Brasil, e a situação internacional do país era tranquila.

João Domingos: A vez dos oportunistas

- O Estado de S.Paulo

Deputados acham que podem se valorizar com eventual vitória de Bolsonaro

O governo de Michel Temer está cada dia mais parecido com o de José Sarney (1985-1990): baixa credibilidade, suspeitas de corrupção envolvendo o presidente e auxiliares, pressão de empresários e de trabalhadores, ameaça de paralisação do País, e rejeição da figura do chefe do Executivo por parte dos candidatos à Presidência da República.

Sem falar nos recuos e nas idas e vindas. Sarney, com seus planos econômicos fracassados e suas tablitas de desconto de preços; Temer, com suas tabelas de frete e do preço do diesel. Lá, no governo Sarney, como cá, no de Temer, intervenções econômicas sem risco de dar certo, por desestabilizadoras de cadeias produtivas. Sarney era do MDB. Temer também é. Nos seus inícios, ambos os governos foram vistos como salvadores da Pátria. Nos finais, um deus nos acuda.

Nas condições de fragilidade em que se encontrava, Sarney pôde assistir ao fracasso da chapa Ulysses Guimarães/Waldir Pires na eleição de 1989, a primeira no período pós-redemocratização. Nas condições em que se encontra, Temer teve de desistir do sonho de se candidatar à reeleição. Henrique Meirelles, que herdou a chapa do MDB, segue lá embaixo nas pesquisas sobre intenção de votos, 1%.

Como não existe expectativa de que Meirelles venha a melhorar seus porcentuais, parlamentares do MDB não estão nem aí para o candidato, que largou o Ministério da Fazenda para tentar chegar ao Palácio do Planalto. Começam a sonhar com a vitória de Jair Bolsonaro, do PSL. E o raciocínio é simples: a candidatura de Bolsonaro já se consolidou. Como ele pertence a um partido pequeno que não fará bancada grande, caso venha a ser eleito, precisará do MDB, como todos os outros presidentes precisaram. Portanto, terá de compor com o partido e ceder vagas na Esplanada dos Ministérios a deputados e senadores emedebistas. Assim, continua a dominar setores do governo, como sempre dominou.

Julianna Sofia: Mandos e desmandos

- Folha de S. Paulo

Erros do governo na paralisação dos caminhoneiros alimentaram nervosismo do mercado

A tragédia de erros do governo Michel Temer para pôr em prática o acordo que suspendeu a paralisação dos caminhoneiros agregou o ingrediente faltante ao clima volátil que, gradativamente, vinha se instalando no mercado financeiro dadas as incertezas no cenário externo e a indefinição do quadro eleitoral.

Não só o anacronismo das decisões —como o subsídio para o diesel e o tabelamento do frete—, mas os inúmeros mandos e desmandos sedimentaram a imagem de que o “piloto sumiu”, como bem classificou um gestor de investimentos.

Enquanto o ministro Eduardo Guardia (Fazenda) reiterava não haver espaço orçamentário para ampliar a subvenção federal à gasolina, o colega Moreira Franco (Minas e Energia) insistia na criação de um colchão tributário para amortecer altas nos preços dos combustíveis. O choque de versões foi aparentemente aplacado ao se jogar a batata quente nas mãos da ANP. A agência reguladora pretensamente quer discutir a periodicidade dos reajuste dos combustíveis, tirando o foco do governo e da Petrobras.

Ana Maria Machado: Estranhezas e bizarrices

- O Globo

Talvez o mais estranho seja constatar como a greve começou de repente e se alastrou sem que os órgãos de segurança tivessem detectado

‘Sétimo dia da greve dos caminhoneiros. O país continua com paralisações em todas as rodovias. Não há mais tiroteios, assaltos, explosão de caixa eletrônico, roubo de cargas, bala perdida. O Brasil que eu quero para o futuro é um Brasil sem gasolina”.

O comentário postado nas redes sociais pretendia ser uma piada. Meio sem graça, talvez. Mas chamou a atenção, com clareza, para uma das inúmeras esquisitices desse movimento que virou um tormento ao paralisar o país e deixar a população refém de um bando de irresponsáveis. Pois é, a sensação geral foi de que a violência urbana diminuiu enquanto durou o protesto dos caminhoneiros. Ou os bandidos dependem diretamente de combustíveis para agir, ou a cobertura do crime ficou em segundo plano porque surgiu um assunto mais interessante como pauta midiática.

Aliás, a mídia não estava mesmo sendo capaz de ver qualquer violência — a não ser na distorção apresentada pelos números trazidos pelo governo. Centenas de repórteres, talvez milhares pelo Brasil afora, estavam num mutirão cobrindo os protestos pelas estradas e só no nono dia foi possível começar a perceber que havia caminhoneiros impedidos à força de trabalhar, embora quisessem, ou sofrendo ameaças de todo tipo. O que houve? Os jornalistas só ouviram porta-vozes parciais? Decidiram amplificar a voz oficial do movimento sem observar por conta própria o que ocorria? Acreditaram piamente que havia unanimidade sem intimidações truculentas? E que não havia brutamontes em cena?

Essa foi só mais uma esquisitice entre tantas estranhezas e bizarrices — a começar pela facilidade em chamar de greve um estranho protesto com fundamentos justos misturados de cambulhada a reivindicações estapafúrdias (tipo intervenção militar), em algo que nem era um movimento de assalariados contra patrões por melhores condições de trabalho, nem tinha interlocutores claros para negociar. Bizarro.

E bizarramente veio a escalada, em total irresponsabilidade, causando prejuízos incalculáveis, sem qualquer limite — já que entre nós não se compreende que o sagrado e democrático direito à greve (fundamental e exigindo respeito) possa existir sem se apoiar na criminosa atuação de piquetes que instauram a lei do mais forte e a imposição da truculência, a substituir e dispensar qualquer argumentação ou tentativa de convencimento racional.

Mas talvez o mais estranho seja constatar como tudo começou de repente e se alastrou como fogo em capinzal seco, sem que os órgãos de segurança tivessem detectado. Tanto assim, que de início o presidente estava participando de solenidade para promover automóvel e dizendo que aquilo era o fato mais importante do dia. A Abin não percebeu o que estava se armando e seu risco? Ou percebeu e não informou? Ou informou e ninguém deu a mínima? Difícil saber o que é mais esquisito e bizarro. Qualquer hipótese é altamente preocupante.

Em seguida, há outro degrau de estranhamento. Não havia nenhum plano para enfrentar uma situação desse tipo? Para o aeroporto de Brasília ter combustível foi preciso um imenso comboio de caminhões-tanques vir escoltado de Minas, devagarzinho, em dias pela estrada. A Latam encontrou uma alternativa mais rápida e usou um avião carregado de querosene para reforçar seu estoque na capital. Em horas.

E o que dizer da bizarra apoteose de Papai Noel? Uma pesquisa constatou que 87% da população apoiava a “greve”, recusava a possibilidade de preços alinhados com custos e concordava com o subsídio mas não sabia que fazia isso nem se dispunha a pagar. Passou na cabeça de alguém perguntar sobre a origem dos recursos que cobrissem a despesa, já que não se consegue que o Bom Velhinho dê conta da situação? Ao menos para, didaticamente, recordar que não há almoço grátis e seria conveniente pensar a respeito. Ainda mais em ano de eleição. De onde deve vir a grana? Vamos suspender pensões de filhas de militares? Atrasar pagamento de aposentadorias ou desvinculá-las do salário mínimo? Deixar de garantir universidade gratuita? Cortar o Fies? Reduzir drasticamente o número de cargos comissionados? Igualar a previdência dos servidores à dos outros? Pedir emprestado? Aumentar impostos? Imprimir cédulas sem lastro?

Hélio Schwartsman: E eles nem enrubescem...

- Folha de S. Paulo

Utilizar os serviços de advogados deve ser uma opção, não uma determinação

Dado que cidadãos bem informados são indispensáveis ao pleno exercício da democracia, todos os eleitores ficam obrigados a fazer a assinatura de um periódico. Se jornalistas apresentássemos um projeto de lei com essa justificativa, seríamos corretamente tachados de corporativistas, aproveitadores e outros adjetivos pouco abonadores.

Arrisco até afirmar que parte da categoria, aquela que não perdeu a noção do ridículo, se rebelaria contra a proposta. Advogados, contudo, têm se revelado capazes de impingir à sociedade disparates semelhantes sem causar comoção. É preciso tirar o chapéu para eles.

Nesta semana, a CCJ da Câmara aprovou em caráter conclusivo o PL 5.511/16, que torna “obrigatória a participação do advogado na solução consensual de conflitos, tais como a conciliação e a mediação”. Se nenhum deputado apresentar recurso, a proposta vai para o Senado.

Ricardo Noblat: Enquanto isso, no país do faz de conta…

- Blog do Noblat / Veja

Ninguém segura o Brasil!

Um político condenado por corrupção a 12 anos e um mês de cadeia, preso há mais de 60 dias, e sem esperança de ser libertado tão cedo, declara-se candidato a presidente da República e diz que nada o impedirá de ser – nem mesmo a lei sancionada por ele no passado.

Um ex-governador do segundo mais importante Estado do país, preso e condenado a penas que somadas passam de 100 anos, simula arrependimento e atribui seus erros à vaidade. Mas continua negando que recebeu propina. Tudo não passou de caixa dois.

Quatro vezes governador do Estado locomotiva do país, candidato a presidente da República pela segunda vez, o mais ilustre filho de Pindamonhangaba alega que não cresce nas pesquisas de intenção de voto porque o eleitor só liga para a Copa e o Dia dos Namorados.

A ser assim, a campanha a ter início em final de agosto enfrentará nos 30 dias seguintes a forte concorrência de datas capazes de atrair a atenção do eleitor. Celebra-se a Semana da Pátria a partir do dia 1º, o Dia do Gordo no dia 10 e o início da Primavera no dia 23.

Não bastasse – e este é o país dos excessos -, o presidente da República finge que preside e o governo que governa. Salva-se o Congresso que cansou de fingir que legisla. Quer dizer: legisla em causa própria e emergirá das urnas com a mesma cara que tem hoje.

A sensatez e o radicalismo: Editorial | O Estado de S. Paulo

Diante da atual situação do País, manifesto “Por um Polo Democrático e Reformista”, que defende a união do centro político, é iniciativa de grande relevância

Na terça-feira passada foi lançado em Brasília o manifesto Por um Polo Democrático e Reformista, que defende a união do centro político como uma maneira de viabilizar eleitoralmente uma candidatura presidencial comprometida com as reformas de que o País tanto precisa. Elaborado por 30 políticos e intelectuais de vários partidos – PSDB, MDB, PSD, PPS, PV e PTB –, o conteúdo do documento foi antecipado pelo Estado no mês passado.

“O manifesto é um chamado à consciência sobre a gravidade do momento atual e sobre as consequências profundas e duradouras que terão nossas ações e inações”, disse o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, em mensagem lida durante o lançamento. Entre as medidas propostas, o documento lista a reforma da Previdência, com adoção de um sistema único para servidores e trabalhadores da iniciativa privada, e a tributária, sem aumento de impostos. Propõe ainda a recuperação do caráter educacional do programa Bolsa Família.

Diante da atual situação do País, trata-se de uma iniciativa de grande relevância. Há grandes desafios que o próximo governo terá de enfrentar, como, por exemplo, o déficit previdenciário e a crise fiscal, e é imprescindível que os partidos minimamente comprometidos com o interesse público congreguem esforços em torno de um candidato responsável, que esteja distante das promessas populistas e, ao mesmo tempo, conquiste o eleitorado.

Apesar de sua importância, o lançamento do manifesto não foi especialmente concorrido. Por exemplo, nenhum pré-candidato presidencial compareceu ao evento. É, sem dúvida, uma pena, pois poucas vezes na história política do País a sensatez e o compromisso foram tão necessários como agora.

Nestes tempos esquisitos, o que parece brilhar é justamente a atitude oposta, de quem deseja aparecer no cenário político com propostas demagógicas e radicais. O radicalismo de alguns políticos esconde uma enorme contradição. Dizem-se muito decididos a enfrentar os problemas nacionais, mas na realidade ficam apenas na superfície, com propostas simplistas para problemas complexos.

É o que faz, por exemplo, o deputado federal Jair Bolsonaro (PSC-RJ). No seu périplo pelo País, o sr. Bolsonaro apresenta-se como o único pré-candidato ao Palácio do Planalto realmente decidido a combater as graves questões de segurança pública. Suas propostas para o tema, no entanto, resumem-se a um discurso de confronto e violência, com a promessa de armar a população.

Em tese, uma atuação nesses moldes deveria desacorçoar o eleitorado, pois evidencia um profundo desconhecimento do pré-candidato em relação ao tema. Ou, o que seria pior, que o conhece, mas prefere ignorar sua complexidade com o que estaria exposta deliberada intenção de engabelar o público.

É urgente que o poder público, em todas as esferas, atue com mais determinação no combate à violência urbana e rural. No entanto, esse trabalho de resgate da lei e da ordem vai muito além de munir o cidadão com armas. Apenas para citar alguns exemplos, um novo patamar de segurança pública envolve cuidado com as fronteiras, melhor coordenação entre a União e os Estados – que são os responsáveis diretos pela segurança pública –, políticas adequadas para os presídios, um Poder Judiciário mais diligente, com o encerramento dos processos em tempo razoável.

Quem deseja se qualificar para concorrer à Presidência da República tem o dever de abordar, sem simplismos, as questões nacionais. Suas propostas devem conter, ao menos, a descrição de políticas factíveis e que enfrentem as causas dos problemas.

De certa forma, a disjuntiva que o eleitor terá de enfrentar na urna no dia da eleição – entre competência e responsabilidade, de um lado, e populismo e radicalismo, de outro – é desde agora apresentada aos partidos e aos políticos. Ainda que a sensatez e a racionalidade pareçam brilhar tão pouco, em contraste com alguns radicalismos, o País necessita urgentemente dessas qualidades. E é isso o que uma candidatura comprometida com o interesse público, sabendo entusiasmar e cativar o cidadão, deve expressar.

Internacional Populista ameaça a ordem democrática: Editorial | O Globo

Avanço de líderes populistas em Europa e EUA traz risco de ruptura do modelo civilizatório ocidental e abre espaço para potências autoritárias, como Rússia e China

A onda populista que se espalha pelo Sul e Leste da Europa não é mera manifestação isolada de rebeldia nacionalista contra Bruxelas e o modelo de desenvolvimento baseado no racionalismo fiscal, defendido pela Alemanha de Angela Merkel. Ela faz parte de um projeto ideológico mais amplo de extrema-direita, que encontra eco igualmente no radicalismo esquerdista, alimentando-se do descontentamento generalizado que obteve fôlego sobretudo após a crise financeira de 2008, cujo impacto negativo afetou a credibilidade do bloco europeu e o sistema de cooperação e integração globais.

Apesar de pregar o isolacionismo por meio da construção de muros, reais e simbólicos, tal ideologia se articula internacionalmente, como evidenciam as visitas de Steve Bannon, ex-estrategista-chefe de Donald Trump e fundador do site de notícias ultraconservador “Breitbart News”, a governos europeus propensos à dissidência, como a Hungria do premier Viktor Orbán. Costura-se, assim, uma frente que poderia muito bem ser batizada de Internacional Populista. E, apesar da derrota eleitoral de líderes como a francesa Marine Le Pen, vozes dissonantes continuam ressoando, sobretudo nas regiões mais pobres do bloco, mirando-se no exemplo do Brexit. A vitória da coalizão de extrema-direita com populistas na Itália é o exemplo mais recente.

O custo do medo: Editorial | Folha de S. Paulo

Embora contido por ora, nervosismo dos mercados já deixa sequelas na economia

A sexta-feira (8) se encerrou com indícios de que o Banco Central e o Tesouro Nacional haviam controlado, por ora ao menos, a ameaça de pânico nos meios financeiros.

O primeiro fez promessas de intervenções maciças no mercado para assegurar proteção contra prejuízos decorrentes da escalada das cotações do dólar. O segundo recomprou títulos da dívida pública que se desvalorizaram com a elevação dos juros dos últimos dias.

Estancou-se, dessa maneira, a sequência de perdas que acentuavam as tensões dos investidores e levavam a novos solavancos dos ativos, num círculo vicioso. Mas o saldo da turbulência é, sem dúvida, negativo —e nada indica que seus efeitos estejam esgotados.

A moeda americana chegou a ser negociada a R$ 3,96 no auge do tumulto de quinta (7). No dia seguinte, a cotação média caiu a R$ 3,79, e a de fechamento, a R$ 3,71.

Adriana Fernandes: Fazendo água

- O Estado de S.Paulo

As resistências estão em ebulição e podem desmanchar pacote de compensação

O recuo do recuo na tabela de preço mínimo do frete é só uma amostra da batalha que vem por aí em torno dos termos do acordo que o presidente Michel Temer fechou com os caminhoneiros para garantir uma queda de R$ 0,46 do diesel nas bombas.

As medidas que a equipe econômica anunciou para bancar parte do custo para as contas públicas do subsídio ao diesel – a bolsa caminhoneiro – também estão sob forte ataque dos setores que perderam com o pacote anunciado às pressas no dia 31 de maio, enquanto os caminhoneiros ainda tomavam conta das rodovias e impediam o abastecimento do País.

Depois do frete, essa será a próxima zona de desgaste do governo. As resistências estão em ebulição e podem desmanchar o pacote de compensação que o governo adotou.

A grita maior vem da Zona Franca de Manaus e é contra a medida que barra a engenharia tributária com uso do Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) feita pelas grandes multinacionais produtoras de bebidas – entre elas Coca-Cola e Ambev – para obter crédito tributário na venda de xarope usado na fabricação dos refrigerantes.

A bancada do Amazonas se articulou para derrubar o decreto do presidente no Congresso. Os deputados Pauderney Avelino (DEM-AM) e a senadora Vanessa Grazziotin (PCdoB-AM) apresentaram cada um deles uma proposta para derrubar o decreto do presidente que busca diminuir os prejuízos

Pelos cálculos do Fisco, para cada R$ 100 vendidos por uma empresa que produz na Zona Franca, R$ 4 acabam sendo “pagos”, na prática, pelo Tesouro.

Ou seja, por todos os contribuintes.

José Marcio de Camargo: De volta ao câmbio flutuante

- O Estado de S.Paulo

Uma combinação de eventos gerou forte deterioração da percepção dos investidores sobre a economia brasileira

Após um longo período de estabilidade, os últimos 30 dias foram particularmente voláteis para os ativos financeiros no Brasil: forte desvalorização do real, aumentos expressivos das taxas de juros e queda dos preços das ações. Na origem deste processo está a percepção de que a economia americana está entrando em um período de superaquecimento. Com taxas de desemprego historicamente muito baixas, começa a se formar um consenso entre os analistas de que será necessário que o Federal Reserve aumente mais rapidamente as taxas de juros para evitar pressões inflacionárias persistentes.

Com o aumento das taxas de juros o dólar tem se valorizado em relação a outras moedas, principalmente em relação às moedas dos países emergentes, inclusive o real.

Ao mesmo tempo, uma infeliz combinação de eventos gerou forte deterioração da percepção dos investidores sobre a economia brasileira. Diante da desvalorização da taxa de câmbio, o Copom, em sua última reunião, decidiu manter a Selic constante, apesar de ter sinalizado que iria reduzi-la. A percepção dos investidores foi de que o Banco Central (BC) estaria mais preocupado com o nível do câmbio do que com a inflação.

A ata da reunião tentou reverter esta percepção, assegurando que, como o regime é de metas para a inflação, a taxa de câmbio não é um objetivo em si. Entretanto, a explicação não convenceu os investidores. Apesar de a taxa de inflação estar abaixo do piso do intervalo de metas, a inflação de serviços continuar em queda e as expectativas para a inflação, ancoradas, o mercado já precifica forte aumento de juros nas próximas reuniões do Copom, ao mesmo tempo que o ataque contra o real se intensificou. Um comportamento mais próximo de um regime de câmbio controlado do que de metas para a inflação.

Maia vê Planalto distante e quer ficar na chefia da Câmara

Maia já articula reeleição à presidência da Câmara

Deputado admite desistir da disputa pelo Planalto e tenta garantir apoio para um novo mandato no comando da Casa; DEM quer negociar em bloco com PP, PRB e SD

Igor Gadelha | O Estado de S.Paulo

BRASÍLIA - Sem passar de 1% nas pesquisas de intenção de voto ao Palácio do Planalto, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), já admite, em conversas com aliados, desistir da disputa. Maia prepara o argumento para a desistência e passou a articular apoio para se reeleger ao comando da Casa na próxima legislatura. “Vou trabalhar pela minha candidatura até o limite, mas, de forma nenhuma, vou para esse processo sozinho”, afirmou Maia.

A saída de Maia da disputa presidencial vai explicitar as articulações do DEM no processo eleitoral. O presidente da Câmara tem defendido um novo polo de poder, distante do PSDB – parceiro histórico – e do MDB.

Há cerca de um mês, o deputado intensificou negociação com partidos de centro, entre eles, PP, PRB e SD, para que marchem juntos na campanha. Com a entrada do PR no bloco, ele passou a ser um dos principais entusiastas da aliança dessas legendas em torno da candidatura do empresário mineiro Josué Gomes (PR), dono da Coteminas e filho do ex-vice-presidente José Alencar.

Maia e aliados não descartam uma composição com o ex-governador paulista Geraldo Alckmin (PSDB), mas têm feito acenos a outros presidenciáveis, entre eles, o ex-ministro Ciro Gomes (PDT). A avaliação dos dirigentes dessas legendas de centro é de que não se pode descartar o potencial eleitoral do pedetista.

Na negociação, o DEM pede compromisso de apoio à reeleição de Maia para o comando do Legislativo. Sua candidatura ao Planalto, desde o início, era vista como uma tentativa de o deputado se cacifar politicamente e eleitoralmente, uma vez que tem piorado seu desempenho nas urnas ao longo dos anos – em 2014 foi eleito com 53,1 mil votos, ante quase 200 mil de 2006.

Isolado, PT lança Lula pré-candidato

Lançamento sem candidato

Com Lula preso e sem unidade interna, PT reafirma ex-presidente na disputa ao Planalto

Sérgio Roxo | O Globo

-CONTAGEM (MG)- Isolado e sem adesão unânime de suas lideranças, o PT lançou ontem a pré-candidatura de Lula à Presidência da República, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. Preso em Curitiba desde o dia 7 de abril, o presidenciável petista marcou presença no ato por meio de uma carta lida para a plateia e de imagens do passado. Apesar de tentar criar um fato político para convencer os eleitores de que a candidatura é para valer, dirigentes presentes reconheciam, reservadamente, que a chance de o nome de Lula estar na urna eletrônica em outubro é remota. Como foi condenado em segunda instância no caso do tríplex do Guarujá, o expresidente preenche os requisitos para ser enquadrado na lei da Ficha Limpa, o que levaria à impugnação da sua candidatura.

Num evento com cerca de dois mil militantes, o ato aconteceu em meio à desconfiança de líderes do partido a respeito de episódios recentes que, em certa medida, minam ainda mais o projeto nacional do PT. A debandada de aliados, a dificuldade de ajustes em palanques estaduais e a ausência de um dos governadores do partido que vem demonstrando simpatia à candidatura de Ciro Gomes (PDT) marcaram o lançamento da candidatura. Lula, em carta à militância, ignorou os problemas políticos enfrentados pelo partido e preferiu fazer sua defesa:

“Sou candidato porque acredito, sinceramente, que a Justiça Eleitoral manterá a coerência com seus precedentes de jurisprudência, desde 2002, não se curvando à chantagem da exceção só para ferir meu direito e o direito dos eleitores de votar em quem melhor os representa”, escreveu o ex-presidente. “Não fui tratado pelos procuradores da Lava Jato, por Moro e pelo TRF-4 como um cidadão igual aos demais. Fui tratado sempre como inimigo”, completou.

A principal ausência no evento foi a do governador do Ceará, Camilo Santana, que, mesmo filiado ao PT, faz parte do grupo político de Ciro Gomes. O governador cearense já chegou a dizer que não acreditava na possibilidade de Lula ser candidato, e que insistir no ex-presidente poderia levar o PT ao isolamento. Ele também defendeu o apoio do partido a Ciro. A assessoria de imprensa de Camilo informou que ele não foi ao ato por “choque de agendas". Na tarde de ontem, o governador do Ceará participou da inauguração da reforma de um terminal em Fortaleza e da inauguração de um campo de futebol de várzea no município de Russas.

Ainda assim, a direção do partido tentava minimizar a ausência. A presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), chegou a afirmar que o colega de partido já estava na capital mineira.

— Se não me engano, o governador até já chegou. Os cincos governadores nossos estarão no ato.

Três horas depois, no ato de lançamento da pré-candidatura de Lula, foram chamados ao palco os governadores Fernando Pimentel (Minas), Tião Viana (Acre), Rui Costa (Bahia) e Welligton Dias (Piauí). O governador cearense, de fato, não apareceu.

ENCONTROS ADIADOS
A realização do evento de ontem havia sido definida em uma reunião de Gleisi com os governadores do partido convocado após a divulgação das declarações de Camilo em favor de Ciro. O objetivo era o de conter qualquer movimento dentro do PT em favor do pré-candidato do PDT. Gleisi procurou contornar:

— A posição do Camilo em relação ao Ciro sempre foi conhecida. Ele tem boa relação lá, tanto que temos aliança com o PDT no Ceará. Desde início, Camilo deixou claro que apoiaria Lula. O que ele externou é que se o Lula não fosse candidato, iria trabalhar para o PT apoiar o Ciro. O partido como um todo está convencido da justeza da estratégia política — disse.

Lula pede a petistas que façam pacto de não-agressão com Ciro

Catia Seabra e Carolina Linhares | Folha de S. Paulo

CONTAGEM (MG) - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva autorizou, em conversas com auxiliares, que seja costurado um pacto de não-agressão com o candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, com vistas ao segundo turno.

Segundo petistas, a orientação é que o pedetista seja tratado como alguém do mesmo campo político. Emissários do ex-presidente vão procurar Ciro já na semana que vem.

Já que uma aliança com PDT está praticamente descartada no primeiro turno, Lula tem citado dois nomes do Sudeste que gostaria ver na vice de uma eventual chapa do PT à Presidência.

As opções são indicativas de que o ex-ministro Jaques Wagner é o preferido de Lula para substituí-lo caso seja mesmo impedido de concorrer. Como Wagner tem musculatura no Nordeste, um vice do Sudeste buscaria expandir esse eleitorado.

Pré-candidato a governo do RJ, Índio da Costa ataca provável rival Paes

Paes usou obras para colocar dinheiro no bolso de Cabral, diz Índio

Ex-secretário dos governos Luiz Fernando Pezão (MDB) e do próprio Paes, pré-candidato atacou os antigos aliados

Italo Nogueira | Folha de S. Paulo

RIO DE JANEIRO - O deputado federal Índio da Costa (PSD), pré-candidato ao governo do Rio de Janeiro, afirmou nesta sexta-feira (8) que o ex-prefeito Eduardo Paes (DEM), provável rival na eleição, viabilizou o esquema de corrupção comandado pelo ex-governador Sérgio Cabral e deputado licenciado Jorge Picciani (MDB), ambos presos.

Ex-secretário dos governos Luiz Fernando Pezão (MDB) e do próprio Paes, Índio atacou os antigos aliados, e afirma que não se sabia a dimensão do esquema de corrupção dos governos do MDB. A declaração foi dada durante sabatina promovida por Folha, UOL e SBT.

“O Eduardo, se ele roubou ou não, eu não sei. Mas ele deixou roubar. E o esquema era para financiar o Picciani e o Cabral. O Eduardo fez as obras das Olimpíadas. Foi a oportunidade que ele encontrou para colocar dinheiro no bolso do Cabral e do Picciani”, disse Índio.

O deputado usou diferentes temas como trampolim para, no fim, atacar os casos de corrupção da gestão Cabral. Na segurança, disse que a Polícia Civil foi desmontada para não investigar os esquemas ilegais nas secretarias e prefeituras. A política de isenção fiscal a empresas, para ele, tinha como objetivo “pagar a joia da madame”, em referência à ex-primeira-dama Adriana Ancelmo.

“O modelo do governo do estado e o da prefeitura [na gestão Paes] são iguaizinhos”, disse o deputado, mencionando a prisão do ex-secretário municipal de Obras Alexandre Pinto.

Legados de junho

Como as forças políticas tradicionais domesticaram o levante da sociedade civil contra o estado e o transformaram na polarização entre “coxinhas” e “petralhas”

Pablo Ortellado | O Globo

Pablo Ortellado mostra como aumentou a distância entre os diversos grupos políticos depois das manifestações de junho O Brasil que existia antes das manifestações de junho de 2013 parece um outro país. O PT estava no poder havia mais de dez anos e o país vivia um longo período de crescimento econômico, pleno emprego, prestígio internacional e ampla aprovação dos eleitores. O “progressismo” era um fenômeno regional, com partidos ou coalizões de esquerda governando a Argentina, o Uruguai, a Bolívia, o Chile, a Venezuela, o Equador e, por um curto período, o Paraguai.

O Brasil daquele distante período era o país do Cristo Redentor decolando na capa da Economist, do gigante se levantando na publicidade do Johnnie Walker, o país cujo prestígio internacional era tão grande que tinha conseguido sediar a Copa do Mundo e a Olimpíada.

Como saímos dessa autoimagem gloriosa e cheia de esperança para ser o país da Lava Jato, da Petrobras quebrada, de uma presidente impedida e de um novo presidente com 5% de aprovação; um país com dois anos consecutivos de recessão econômica e cujos executivos das maiores empresas e a liderança dos três principais partidos estão presos ou prestes a ser presos?

Um pedaço dessa história diz respeito aos muitos erros da política econômica do governo Dilma: o represamento dos preços administrados, as desonerações às grandes empresas, a expansão do crédito subsidiado e a deterioração fiscal — tudo isso combinado com os efeitos da crise global e a queda nos preços das commodities. Diz respeito também às políticas antissociais implementadas para promover a austeridade no segundo mandato de Dilma Rousseff e na gestão de Michel Temer.

Mas, quando o Brasil viveu o terremoto de junho de 2013, nada disso era visível: a Lava Jato ainda não tinha começado, a taxa

Luiz Paulo Vellozo diz que PPS quer construir um projeto no Espírito Santo melhor que o atual

Rogério Medeiros – Século Diário

Ex-prefeito de Vitória por dois mandatos e ex-deputado federal, Luiz Paulo Vellozo Lucas é novamente candidato à Câmara, desta vez pelo PPS, para onde migrou no início deste ano. Em campo para debater suas propostas de mandato (veja vídeo da entrevista abaixo), ele defende que o partido forme amplas composições na disputa de outubro próximo, não só na majoritária como nas proporcionais, contando como principal partido de apoio o PSB, do ex-governador Renato Casagrande.

Alceu Valença e Orquestra Ouro Preto - Tropicana

Fernando Pessoa: Eu, eu mesmo

Eu, eu mesmo...
Eu, cheio de todos os cansaços
Quantos o mundo pode dar. —
Eu...
Afinal tudo, porque tudo é eu,
E até as estrelas, ao que parece,
Me saíram da algibeira para deslumbrar crianças...
Que crianças não sei...
Eu...
Imperfeito? Incógnito? Divino?
Não sei...
Eu...
Tive um passado? Sem dúvida...
Tenho um presente? Sem dúvida...
Terei um futuro? Sem dúvida...
Ainda que pare de aqui a pouco...
Mas eu, eu...
Eu sou eu,
Eu fico eu,
Eu...