domingo, 5 de junho de 2016

Opinião do dia – Luiz Werneck Vianna

O enigma da atual conjuntura reside no fato incontornável de este lugar, por definição, ser neutro quanto à política, na medida em que somente pode agir por provocação de quem de direito. Por essa razão elementar, o diagnóstico formulado pelos responsáveis pela condução da Operação Lava Jato de que a raiz dos nossos males reside em nossas estruturas políticas, embora inequivocamente correto, somente pode se converter numa intervenção saneadora por obra de um agente externo ao Poder Judiciário, no caso, o poder político e suas instituições, crucialmente o Parlamento. Intervenções tópicas, mesmo que exemplares, como detenções e eventuais condenações, não têm o condão de erradicá-los.

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Luiz Werneck Vianna é sociólogo e professor da PUC-Rio. ‘A crise, os tribunais e o Parlamento’, O Estado de S. Paulo, 5/6/2016

Delação atinge Dilma e base quer acelerar impeachment

Líder do governo defende inclusão de fala de Odebrecht como prova para impeachment de Dilma

• Para o tucano, as declarações do empresário deverão ajudar a convencer senadores indecisos de que a petista não tem condições de voltar a comandar o País

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O líder do governo no Senado, Aloysio Nunes (PSDB-SP), defendeu neste sábado a inclusão das revelações feitas pelo empreiteiro Marcelo Odebrecht como prova no processo de impeachment da presidente afastada Dilma Rousseff. Para o tucano, as declarações do empresário deverão ajudar a convencer senadores indecisos de que a petista não tem condições de voltar a comandar o País.

Segundo reportagem da revista IstoÉ, em acordo de confidencialidade com a Operação Lava Jato, Odebrecht teria afirmado que Dilma pediu pessoalmente uma doação de R$ 12 milhões para sua campanha eleitoral em 2014. Conforme a publicação, o empreiteiro diz que o então tesoureiro da campanha, Edinho Silva, pediu o montante, mas Odebrecht se recusou a pagar. O empresário, então, teria procurado Dilma, que teria afirmado: "É para pagar".

"Essas declarações ajudam a formar a convicção de que ela não pode permanecer na presidência. É mais uma elemento para corroer aquela fimbria de autoridade que ela tinha", disse Aloysio Nunes. Para o senador, as falas de Odebrecht devem ser levadas em consideração no julgamento do impeachment. "Isso contribui para desmoronar aquela imagem virginal que ela o PT construíram dela e da gestão dela".

Na avaliação do tucano, o próprio advogado de Dilma, José Eduardo Cardozo, abriu espaço para essa inclusão, ao pedir ontem na comissão do impeachment do Senado a inclusão como prova dos áudios em que o senador Romero Jucá (PMDB-RR) defende estancar as investigações da Lava Jato. "Já que é para falar do conjunto da obra, fica evidente que (a declaração de Odebrecht) deve ser levada em consideração", disse.

Na sessão da comissão do impeachment do Senado desta sexta-feira, o pedido de Cardozo foi negado pelo relator do processo, senador Antonio Anastasia (PSDB-MG). O tucano mineiro sustentou que os áudios de Jucá são estranhos ao processo. "Os áudios não são fatos novos, não alargam o objeto. Não são estranhos ao processo, eles são o processo", rebateu o advogado de Dilma.

Dilma será principal alvo na delação de Marcelo Odebrecht, diz revista

Delações da Odebrecht citarão 13 governadores e 36 senadores, diz Veja

• Ex-presidente da OAS dirá que pagou reformas de sítio a pedido de Lula e que tríplex pertence ao ex-presidente

- O Globo

SÃO PAULO — Reportagem da revista “Veja” deste final de semana afirma que as delações premiadas do empresário Marcelo Odebrecht e de altos funcionários da empreiteira deverão citar pelo menos treze governadores e 36 senadores como beneficiários de propinas nas campanhas eleitorais de 2010 e 2014. De acordo com a publicação, a Odebrecht distribuiu, à margem da lei, cerca de R$ 100 milhões em recursos aos candidatos. Segundo a revista, Marcelo Odebrecht decidiu fazer o acordo de delação depois de todas as tentativas de livrá-lo da prisão.

A revista revela também que o ex-presidente da OAS, José Adelmário Pinheiro, o Léo Pinheiro, também dirá em sua delação premiada que pagou as reformas do sítio em Atibaia a pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que o tríplex no Guarujá realmente pertencia ao ex-presidente e que Aécio recebia 5% de propina das obras da Cidade Administrativa, em Minas Gerais, através de um emissário. Outros beneficiários citados pelo empresário são o atual ministro da Secretaria de Govern, Geddel Vieira; o senador Romero Jucá; o presidente do Senado, Renan Calheiros; e o deputado Eduardo Cunha, todos do PMDB. A revista lembra também que, depois de resistir, Pinheiro decidiu fazer acordo de delação premiada numa tentativa de reduzir sua pena de 16 anos.

Ministros do STF avaliam que delação de Odebrecht pode acenar para fim da Lava Jato

• Detalhes da suposta negociação direta entre Dilma e o empreiteiro seriam o que faltava à possível última linha de investigação nas operações; a Procuradoria-Geral da República não confirmou o teor da delação

Gustavo Aguiar - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - As informações contidas na delação do empresário Marcelo Odebrecht e que implicam diretamente a presidente afastada Dilma Rousseff em pagamento de propina para financiar a campanha eleitoral de 2014 estão sendo encaradas no Judiciário como uma peça-chave para amarrar as pontas das investigações e acenar para um fim da Operação na Lava Jato.

Segundo interlocutores dos ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) ouvidos pelo Estado, os detalhes da suposta negociação direta entre Dilma e Odebrecht para que o empreiteiro pagasse R$ 12 milhões à campanha presidencial eram o que faltava para ensejar a possível última linha de investigação nas operações.

O episódio foi relatado por Odebrecht na delação negociada com o Minsitério Público Federal, segundo reportagem deste sábado publicada na revista Istoé. O caso, no entanto, é encarado com cautela, pela dificuldade que um suposto encontro privado e, portanto, sem provas concretas de que tenha ocorrido nas circunstâncias descritas pelo relator, tenha de fato acontecido.

Líder do PMDB diz que nova delação ajuda a consolidar impeachment

• Peemedebista, no entanto, não quis comentar as novas suspeitas sobre o presidente do Senado, Renan Calheiros; Randolfe defende cassação de chapa

Igor Gadelha - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), afirmou neste sábado que as declarações do empreiteiro Marcelo Odebrecht sobre a presidente afastada Dilma Rousseff ajudam a "consolidar" o impeachment da petista.

Conforme a publicação, o empreiteiro diz que o então tesoureiro da campanha e ex-ministro de Dilma, Edinho Silva, pediu o montante, mas Odebrecht se recusou a pagar. O empresário, então, teria procurado a presidente afastada, que teria afirmado: "É para pagar".

"Isso tudo vai consolidando ainda mais a condição do impeachment", afirmou Eunício Oliveira, evitando, porém, comentar diretamente a fala de Odebrecht. "Não vou comentar delação de ninguém, porque não me cabe".

Lula escalou Dutra para ‘esvaziar’ CPI da Petrobrás, afirma Cerveró

• Delator da Lava Jato declarou que petista, em 2009, deu 'missão' ao ex-s enador e ex-presidente da estatal petrolífera porque ele tinha 'facilidade de diálogo'

Ricardo Brandt, Isadora Peron, Gustavo Aguiar e Mateus Coutinho – O Estado de S. Paulo

Em delação premiada, tornada pública pelo Supremo Tribunal Federal nesta quinta-feira, 2,, o ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró (Internacional) afirmou que em 2009 o então presidente Lula escalou o ex-senador José Eduardo Dutra (PT/SE) para ‘esvaziar’ a Comissão Parlamentar de Inquérito aberta para investigar desvios na estatal petrolífera.

Dutra havia sido presidente da Petrobrás (2003/2005), no primeiro mandato do petista. Ele havia exercido o mandato de senador pelo partido entre 1995 e 2003. Entre 2010 e 2011 presidiu o PT. Dutra morreu em 2015, aos 58 anos.

“Em 2009, foi instalada no Congresso Nacional uma CPI sobre a Petrobrás”, relatou Cerveró, no dia 7 de dezembro de 2015. “Na época, José Eduardo Dutra era o presidente da BR Distribuidora. Em razão da CPI, o Presidente da República Luiz Inácio Lula da Silva atribuiu a José Eduardo Dutra a missão de participar do ‘esvaziamento’ da CPI da Petrobrás.”

Delações de Odebrecht e OAS alarmam políticos

• Empreiteiros devem relatar caixa dois para diversos partidos

Em avançadas negociações de colaboração premiada com a Lava-Jato, Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro deverão envolver Dilma, Aécio, 13 governadores e 36 senadores, segundo revista

Delações explosivas

• Para lideranças de PT, PSDB e PMDB, Lava-Jato provocará refundação do sistema político brasileiro

Jailton de Carvalho - - O Globo

O avanço das negociações para a delação dos empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro no âmbito da Lava-Jato alarma políticos de diversos partidos e agravará a crise política. Os donos da Odebrecht e da OAS devem revelar caixa dois para as campanhas presidenciais de Dilma Rousseff (PT) e Aécio Neves (PSDB) em 2014, além de propina para até 13 governadores e 36 senadores, segundo a “Veja”. Reportagem de ontem do GLOBO mostrou que Sérgio Machado, ex-presidente da Transpetro, relatou propina de R$ 70 milhões para o presidente do Senado, Renan Calheiros, o senador Romero Jucá e o ex-presidente José Sarney, todos do PMDB. Os acusados negam.

A revelação do explosivo conteúdo de uma série de delações premiadas já concluídas ou em andamento envolvendo personagens de diversos partidos levará o sistema político brasileiro a refundar suas bases, caso seja confirmado o teor das acusações. A avaliação é feita por lideranças das três legendas (PT, PSDB e PMDB) que se revezaram na Presidência da República nos últimos 21 anos. Políticos estão cada vez mais apreensivos com o teor das delações e temerosos de virarem alvos. Aém disso, a crise política tende a se aprofundar ainda mais nos próximos meses. Ontem, o GLOBO revelou que o ex-diretor da Transpetro Sérgio Machado relatou aos investigadores o pagamento de R$ 70 milhões a caciques do PMDB, entre eles o presidente do Senado, Renan Calheiros (AL), o senador Romero Jucá (RR) e o ex-presidente da República José Sarney (AP).

O último a sair apaga a luz

• Lava-Jato pode provocar cenário de terra arrasada na política brasileira

Paulo Celso Pereira - O Globo

Se tiverem seu conteúdo comprovado, as delações em negociação neste momento com o Ministério Público Federal tendem a decretar o fim do sistema político brasileiro como o conhecemos. Os longos depoimentos de executivos de ambas as empreiteiras (OAS e Odebrechet) e suas consequentes operações deverão tomar os próximos meses, e a primeira pergunta que assombra hoje é: quais políticos conhecidos hoje passarão incólumes por elas? O quadro de 2018 será definido antes de mais nada pela sobrevivência.

Caso os empreiteiros Marcelo Odebrecht e Léo Pinheiro cumpram as promessas ventiladas até agora, os dois principais nomes dos partidos que polarizaram a disputa presidencial desde 94 — PT e PSDB — estarão fora do jogo. Independentemente de os empreiteiros entregarem documentos cabais que comprovem o que dizem, as manchas das acusações formais contra o ex-presidente Lula e Aécio Neves dificilmente permitirão que estes sigam na corrida presidencial.

Odebrecht liga Mantega e Palocci a lista de propinas

Bela Megale, Mario Cesar Carvalho – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Quando descobriu que a Odebrecht tinha um departamento especializado em pagar propinas, a Polícia Federal encontrou uma mina de provas, materializadas em planilhas com valores, e alguns enigmas, já que os agraciados com suborno eram tratados por codinomes.

Um desses codinomes, "Italiano", foi interpretado pela PF como sendo o ex-ministro Antonio Palocci, mas quem seria um certo "Pós-Itália", citado também em anotações de Marcelo Odebrecht?

Executivos do grupo Odebrecht vão afirmar em acordo de delação que "Pós-Itália" é o ex-ministro da Fazenda Guido Mantega, segundo a Folha apurou junto a profissionais que trabalham no acordo que a empreiteira negocia com a força-tarefa da Operação Lava Jato em Curitiba e a Procuradoria Geral da República em Brasília.

Palocci e Mantega foram ministros da Fazenda nos governos de Lula e Dilma, respectivamente. Com Dilma, Palocci chegou a ocupar o segundo posto do governo, ao chefiar a Casa Civil.

Em um e-mail de um funcionário da empreiteira interceptado pela PF, o codinome "Italiano" aparece associado aos valor de R$ 6 milhões, enquanto o "Pós-Itália" teria recebido R$ 50 milhões para repassar ao PT.

O documento, intitulado "Posição Programa Especial Italiano", seria a indicação de propinas pagas ao partido entre 2008 e 2012, de acordo com interpretação da PF e dos procuradores. Em 31 de junho de 2012, os pagamentos supostamente ilícitos somavam R$ 200 milhões.

A PF não sabia quem era "Pós-Itália", segundo relatório de fevereiro deste ano: "ainda não logramos êxito na identificação do indivíduo designado por tal nome".

O advogado de Palocci e Mantega, José Roberto Batochio, diz que as delações não passam de ilações sem qualquer fundamento.

Repasses ao PT
As planilhas foram elaboradas por Maria Lucia Tavares, secretária da Odebrecht que cuidava do controle do pagamento de propina, inclusive no exterior.

Depois de ser presa em fevereiro, ela firmou acordo de delação premiada com a Justiça passando a fornecer detalhes sobre o setor da empreiteira voltado para pagamento de propina. Os valores seriam repasses para campanhas do PT e também para o marqueteiro João Santana por meio de caixa dois.

A mulher de Santana, Mônica Moura, também negocia acordo de delação com procuradores da Lava Jato e confirmou a suspeita da PF de que "Italiano" é Palocci.

Ela disse, nas discussões para o acordo, que Mantega repassava recursos da Odebrecht para Santana, como noticiou o jornal "O Globo" em abril, mas não identificou-o como "Pós-Itália".

Santana atuou nas campanhas de reeleição de Lula em 2006, nas duas disputas de Dilma Rousseff, em 2010 e 2014, e no pleito do prefeito de São Paulo Fernando Haddad em 2012, recebendo do PT R$ 229 milhões oficialmente.

A PF, porém, aponta que a empresa pagou o marqueteiro em eleições no exterior, como as de El Salvador e Angola. Só na disputa de Angola ele recebeu US$ 50 milhões, valor que é considerado absurdo por outros marqueteiros ouvidos pela Folha, já que a mesma pessoa preside o país há 36 anos.

A PF suspeita que os valores recebidos por Santana em Angola foram, de fato, pagamentos por campanhas que o marqueteiro fez no Brasil –o que a defesa de Santana nega com veemência.

Palocci já era investigado pela Lava Jato desde junho do ano passado, sob suspeita de ter pedido R$ 2 milhões para a campanha de Dilma em 2010, de acordo com a delação do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa.

Alberto Youssef, citado por Costa como o autor do pedido do pagamento, nega que tenha feito a solicitação.

Mantega já teve seu nome citado na Lava Jato e é investigado por outra operação da PF, a Zelotes, na qual é suspeito de ter indicado um conselheiro para um órgão da Receita que, por sua vez, beneficiou empresa da qual teria recebido propina.

Ambos afirmam que as acusações não têm qualquer fundamento.

Outro lado
O advogado de Antonio Palocci e Guido Mantega, José Roberto Batochio, diz que a citação de seus clientes na delação de executivos da Odebrecht não passa de ilação sem qualquer fundamento.

Sobre Palocci, Batochio afirma que o ex-ministro nunca foi conhecido pelo apelido de "Italiano" que aparece na planilha encontrada pela Polícia Federal no anexo de e-mail de um executivo da empreiteira.

"Contesto com toda a ênfase que o Palocci tenha sido identificado por uma alcunha que nunca foi associada a ele. Havia um lobista italiano que circulava pelas empreiteiras em busca de projetos", disse.

Em relação a Mantega, ele diz que o valor citado ao lado do codinome que seria atribuído a ele dentro da Odebrecht, de R$ 50 milhões, "é completamente inverossímil". "São suposições gratuitas", afirma.

Batochio refuta também que Palocci tenha recebido R$ 2 milhões para a campanha de Dilma Rousseff em 2010, como afirmou o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa em sua delação.

Costa diz que o valor foi pedido a ele pelo doleiro Alberto Youssef, que negou a versão do ex-diretor da estatal.

Caixa dois
O advogado Fabio Tofic Simantob, que defende o marqueteiro João Santana, diz que as suspeitas de que ele tenha recebido propina da Odebrecht são completamente infundadas.

De acordo com Simantob, a única irregularidade que seu cliente cometeu foi ter recebido recursos de caixa dois no exterior.

A mulher de Santana, a publicitária Mônica Moura, confessou que recebeu US$ 3 milhões da Odebrecht em conta na Suíça. Os procuradores da Operação Lava Jato já têm provas de que Santana recebeu também US$ 4 milhões do lobista Zwi Skornicki, que representava os interesses de um estaleiro de Cingapura.

De acordo com o advogado de Santana, seu cliente recebeu por serviços que prestou, o que não configura os crimes de corrupção ou lavagem de dinheiro.

A única infração que o marqueteiro cometeu, segundo ele, foi não ter declarado os valores à Receita Federal.

O PT nega também que tenha recebido recursos ilícitos da Odebrecht.

Em nota, o partido diz: "O PT nega que tenha recebido os montantes citados na planilha. Todas as doações recebidas pelo partido aconteceram estritamente dentro da legalidade e foram posteriormente declaradas à Justiça Eleitoral".

Luz no fim do túnel? - Fernando Henrique Cardoso

- O Estado de S. Paulo

Passados os dias de ansiedade do processo de impeachment, com forte probabilidade de o Senado reafirmar a decisão da Câmara, o País perceberá que seus problemas continuam à espera de solução. 

São muitos, desde os econômicos (para os quais o novo governo, forçosamente, voltará o olhar), passando pelos morais (a Lava Jato é o melhor sinal de que podem ser encaminhados), até os sociais, que são os que mais atazanam o povo, à frente o desemprego e a carestia, frutos da má condução econômica das últimas fases do petismo no poder. Estes problemas, infelizmente, não poderão ser resolvidos da noite para o dia. Como tampouco poderão ser os da saúde, os da educação, da segurança ou os dos transportes.

O povo sente que é assim. Espera sinais de mudança e isso o governo Temer pode e deve dar.

A crise, os tribunais e o Parlamento - Luiz Werneck Vianna

- O Estado de S. Paulo

Análises de conjunturas políticas, muito especialmente em épocas de crise, têm em mira a localização dos pontos sensíveis a partir dos quais uma dada intervenção dos atores possa alterar a correlação de forças existente em favor da direção que se deseja imprimir aos rumos dos acontecimentos. Tais operações, na nossa experiência republicana, já conheceram como lugares privilegiados a questão militar e a sindical, quando a expertise demandada nessas análises implicava conhecer as inclinações de suas lideranças.

Na circunstância que aí está não há mistério na identificação desse lugar de difícil precisão. Até as pedras das ruas são capazes de reconhecê-lo no interior dos tribunais, no juizado federal de Curitiba e, principalmente, neste papel de pontificado laico de que está investido o Supremo Tribunal Federal. A judicialização da política virou a segunda pele da República, a tal ponto que a sociedade já adotou como língua geral a que lhe vem do Direito, dos seus procedimentos e instituições, esgrimindo, à esquerda e à direita, o texto constitucional em todas as controvérsias políticas.

Metralhadora ponto 100 - Fernando Gabeira

• Agora que se conhece o rombo, não há outro caminho exceto enfrentá-lo

- O Globo

Numa das conversas gravadas com Sérgio Machado, Sarney disse que a delação da Odebrecht seria uma verdadeira metralhadora ponto 100. Parece que o tema já foi negociado na semana passada. Daqui a pouco, ouviremos o tiroteio, junto com explosões menores, como as delações de Léo Pinheiro, da OAS, e do próprio filho de Sérgio Machado, que era operador financeiro em Londres.

Se as rajadas atingirem todos os grandes partidos, como se anuncia, ficaremos com a paisagem depois da batalha, mortos caídos na estrada e feridos se arrastando na poeira. Talvez seja por isso que alguns jornalistas estrangeiros nos perguntam: o sistema político brasileiro vai implodir? É uma pergunta difícil. O sistema político brasileiro precisa implodir. Mas ao mesmo tempo não pode implodir: estamos numa profunda crise econômica, e ele é essencial para a travessia.

Antes autoritário que corrupto – Ferreira Gullar

- Folha de S. Paulo

Tenho dito aqui que o tipo de populismo característico do governo do PT –como o de alguns outros países latino-americanos– nasceu como uma alternativa ao regime comunista que acabou antes que chegassem ao poder pela revolução. Não chegariam, é claro, mas em face das novas circunstâncias, tiveram que mudar de tática.

Esse populismo, que se valeu dos recursos públicos para ganhar a adesão das camadas mais pobres da população, adotou naturalmente uma política econômica que, para mostrar-se anticapitalista, levou o país à bancarrota. Por outro lado, apropriou-se das empresas estatais e saqueou-as em aliança com empresários capitalistas, que diziam combater.

Democracia e Poder Moderador – Merval Pereira

- O Globo

Em recente ciclo de palestras na Academia Brasileira de Letras sobre os papéis dos Poderes da República, um tema surgiu constantemente: o papel do Poder Moderador na História brasileira, desde a Constituição de 1824, passando pelo papel das Forças Armadas, até os dias de hoje, quando alguns consideram que o Supremo exerce esse papel moderador.

O debate sobre sistemas de governo, que a crise política traz de volta, também se repete, com propostas de retomada do parlamentarismo, ou a adoção do semipresidencialismo, a exemplo de França ou Portugal.

Há discordâncias sobre a atualidade de uma figura para exercer um Poder Moderador, como o imperador, ou uma instituição, como Forças Armadas ou STF, e uma concordância, resumida pela posição do historiador e membro da ABL José Murilo de Carvalho: o problema hoje se coloca em termos de combinar representatividade com governabilidade, em situação de ampla participação eleitoral e conflito distributivo.

Sorte para o azar - Dora Kramer

- O Estado de S. Paulo

Ninguém em sensata consciência discorda de que Dilma Rousseff tinha zerado seu estoque de condições de governar quando foi afastada da Presidência por força da abertura do processo de impeachment no Senado, em 12 de maio.

Ninguém de bom senso, portanto, ignora que a volta dela ao cargo seria a assinatura de um contrato do País com o desastre completo. Seja pela retomada dos meios e modos que nos levaram à recessão na área econômica e à depressiva convivência com a corrupção sistêmica, seja pela ameaça de soluções estranhas à Constituição como a ideia de patrocinar eleição presidencial fora do tempo. Em qualquer hipótese, dias piores virão.

Nisso, até o PT concorda, indisposto que está para segurar um rojão pronto a explodir em suas mãos. Justamente em ano de eleição municipal na qual a perspectiva do partido é ruim, mas seria muito pior na posse de uma Presidência em xeque.

Pragmatismo míope - Hélio Schwartsman

- Folha de S. Paulo

Para uma gestão cuja missão histórica é começar a resolver um intricado gargalo fiscal, pega mal o governo Temer ter capitaneado a aprovação de um pacote de reajustes para o funcionalismo público cujo custo é estimado em R$ 58 bilhões em quatro anos.

Nos cálculos do presidente interino, não vale a pena se indispor com os servidores e, por extensão, com parte do Congresso para evitar um aumento cujo impacto mais imediato consta do Orçamento e, portanto, já foi empurrado para o megadéficit de R$ 170 bilhões atribuído à gestão de Dilma Rousseff.

Pode ser. Mas receio que haja uma certa miopia nessa visão. É verdade que um governo tampão como o de Temer deve ser essencialmente pragmático. Também é verdade que o Congresso, apesar de ter pelo menos 30% de seus membros metidos em encrencas judiciais diversas, precisa ser cortejado. Dilma caiu porque perdeu o apoio dessa gente. Infelizmente, ninguém inventou ainda um jeito de fazer democracia sem Parlamento e, goste-se ou não, nossos parlamentares foram legitimamente eleitos pela população.

É disso que se trata - Luiz Carlos Azedo

• Louco seria Temer, se não concedesse os aumentos acordados com os representantes dos servidores. O PT se aproveitaria da situação, como na Cultura e na antiga CGU

- Correio Braziliense

Registrou-se a quinta queda consecutiva do PIB neste ano, reforçando a perspectiva de três anos de recessão — se voltarmos a crescer em 2017 —, um desempenho econômico muito pior do que os de Rússia, Grécia e Ucrânia. Esse é o balanço do desgoverno da presidente Dilma Rousseff, por mais que a turma do “Fora, Temer” queira mascarar as coisas, com a narrativa do “golpe de Estado”. São 12 milhões de desempregados, uma desgraça, principalmente para os jovens que deveriam ter entrado no mercado de trabalho nestes três últimos anos e não têm a menor ideia de quando isso vai ocorrer.

Turbulência, raios e trovões - Eliane Cantanhêde

- O Estado de S. Paulo

A Aeronáutica vive o milagre da multiplicação de jatos e jatinhos e tornou-se um exemplo da barafunda e mais um ótimo motivo para o Senado resolver logo o impeachment. Se é para Dilma Rousseff voltar, que volte logo. Se é para Michel Temer assumir de fato e de direito, que seja logo também. O que não pode é esticar essa indefinição, essa insegurança, essa bola dividida.

A presidente afastada não pode sair voando em avião militar para fazer comício sobre um golpe que não há, mas tem direito a avião para sua casa em Porto Alegre. O interino pode ir a São Paulo e para onde bem entender, já que está “em exercício” e cumpre agenda oficial. Além dos dois, a FAB carrega dois fardos da Câmara, o presidente interino Waldir Maranhão e o afastado Eduardo Cunha. Só para a São Luís de, e do, Maranhão, são 2 horas e meia na ida e na volta todo fim de semana.

O ponto, afinal - Míriam Leitão

- O Globo

O colapso do governo Dilma suscita uma questão fundamental. Ela fracassou por uma incapacidade pessoal ou porque do ideário de esquerda faz parte o desprezo pela responsabilidade fiscal e o descuido com a inflação? Se o desrespeito aos limites dos gastos for inerente à esquerda brasileira, então todas as vezes em que eles subirem ao poder o país terá com o quê se preocupar.

Oajuste fiscal não é um fim em si mesmo. Ele se dispõe como caminho para um projeto, seja ele conservador ou progressista, ou o nome que se dê aos conceitos da velha dicotomia política. Durante toda a sua vida partidária, o PT demonstrou não ter entendido o valor da estabilidade fiscal que foi parte determinante de uma conquista cara ao povo brasileiro: a moeda estável.

Neoliberalismo na América Latina – Samuel Pessôa

- Folha de S. Paulo

De 1994 até 2008, a política econômica seguiu receituário "neoliberal". A expressão não é precisa pois nesse período a carga tributária e o gasto social se elevaram. Mas houve ortodoxia na macroeconomia e implantação de agenda que visava a redução do intervencionismo estatal, esta desfeita em 2006, com a troca de guarda na Fazenda.

O regime de política econômica, em resposta à crise global e à euforia causada pela descoberta do pré-sal, mudou de vez em 2009. Até 2010, aos trancos e barrancos, melhorávamos continuamente. A partir de 2011, passamos a piorar continuamente.

A austeridade ameaçada – Editorial / O Estado de S. Paulo

Se já não estava fácil para o governo interino chefiado por Michel Temer convencer a população da necessidade de aceitar sacrifícios no presente para a criação das bases de um futuro melhor, a tarefa terá ficado ainda mais difícil depois da decisão tomada pela Câmara dos Deputados, com o apoio explícito do Palácio do Planalto, de autorizar reajuste médio de 21,5% em quatro anos nos vencimentos de servidores públicos de diferentes carreiras. O governo interino terá de explicar para mais de 11 milhões de brasileiros que perderam seus meios de sustento e para os 90 milhões que, tendo conservado o emprego, têm sua renda real ceifada pela crise por que, num cenário de depressão, os servidores públicos federais, em grande parte já protegidos pela estabilidade, merecem tratamento tão diferenciado com dinheiro do contribuinte.

Ritos e esperas – Editorial / Folha de S. Paulo

Alçado ao poder nas peculiares circunstâncias que se conhecem, o presidente interino, Michel Temer (PMDB), não se tem distinguido pela capacidade de estabelecer contatos comunicativos mais intensos com a opinião pública; nem esta parece ser a sua prioridade.

Político afeito à vida dos bastidores, conhecedor dos rigores do protocolo e das flexibilidades da realpolitik, Temer elege como principal foco de atenção, até o momento, o restabelecimento dos laços entre Executivo e Congresso.

Preocupa-se em obter rápida, ainda que não integral, aprovação para as urgentes medidas econômicas cuja elaboração delegou ao ministro Henrique Meirelles (Fazenda), que representa a espinha dorsal de um governo frágil pela origem, abalado por denúncias e inibido nas próprias vacilações.

A crise nada invisível dos estados – Editorial / O Globo

• Retoma-se a renegociação de dívida, em que será preciso prever ajustes, como na crise da União, pois a irresponsabilidade fiscal abrangeu toda a Federação

Numa turbulência econômica de proporções cataclísmicas e históricas pela qual o país passa, deflagrada por erros de políticas definidas e aplicadas pelo governo central, e tudo isso em meio a um processo de impeachment da presidente, é inevitável que as atenções se concentrem em Brasília — no Executivo, no Legislativo e no Judiciário, muito acionado no embate político que acompanha todo o imbróglio.

Porém, a crise atinge por inteiro a Federação, em que estados e municípios padecem dos efeitos da debacle fiscal, sem recursos institucionais para se precaver de forma mínima. Mesmo que sejam recursos ilusórios, apenas adiem os ajustes dolorosos e necessários para colocar as finanças públicas no eixo. A União, por exemplo, pode emitir títulos de dívida — embora, em certas circunstâncias, como agora, isso apenas agrave a situação. Mas entra dinheiro em caixa.

A sociologia no atoleiro – Sérgio C. Buarque

- Revista Será? (PE)

Fernando Henrique Cardoso, um dos mais notórios fundadores da sociologia no Brasil e na América Latina, não é mais um intelectual. É isso mesmo. O CLACSO-Conselho Latinoamericano de Sociologia, na defesa da fé e da doutrina, simplesmente cassou o título de intelectual do ex-presidente. Título, aliás, que ninguém recebe formalmente, não sendo mais que uma denominação para as pessoas cuja atividade profissional consiste em pensar, analisar, discutir e formular ideias, o que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso tem feito ao longo da vida profissional e política. E que continua fazendo. Mas o CLACSO, julgando e discordando das ideias e posições do ex-presidente, e com a autoridade de inquisitor-mor da sociologia, destituiu o intelectual.

Oferenda – João Cabral de Melo Neto

Já deixando o Recife
entro pelos caminhos comuns do mar:
entre barcos de longe,
sábios de muito viajar;
junto desta barcaça
que vai no rumo de Itamaracá;
lado a lado com rios
que chegam do Pina com Jiquiá.
Ao partir companhia
desta gente dos alagados
que lhe posso deixar,
que conselho, que recado?
Somente a relação
de nosso comum retirar;
só esta relação
tecida em grosso tear.

Raphael Rabello & Alceu Valença - Igarassu (Capiba)