sexta-feira, 17 de julho de 2015

Opinião do dia - Jürgen Habermas

Temo que o governo alemão, incluindo a facção social-democrata, tenha jogado fora, em uma noite, todo o capital político que uma Alemanha melhor acumulou em meio século.
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Jürgen Habermas, filósofo alemão, em entrevista no jornal britânico The Guardian. O Globo 17 de julho de 2015

Lula é formalmente investigado no DF por tráfico de influência

Investigação sobre Lula avança no MP

• Ex-presidente se diz alvo de "grave violação de conduta" de Procuradoria

André de Souza – O Globo

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal (PR-DF) formalizou, no último dia 8 de julho, a abertura de uma investigação sobre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. A Procuradoria apura se ele praticou tráfico de influência internacional junto a agentes públicos estrangeiros para beneficiar a construtora Odebrecht. Também investiga se Lula influenciou o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) a financiar obras da empreiteira no exterior.

A procuradora da República Mirella Aguiar, responsável pelo caso, já tinha aberto um procedimento preliminar. O prazo para esse tipo de investigação estava perto do fim e havia duas possibilidades: arquivar o caso ou convertê-lo em procedimento investigatório criminal (PIC). A Procuradoria optou pela investigação. Ainda não há ação na Justiça. Com a instauração do PIC, é possível recorrer a procedimentos comuns numa investigação, como a quebra de sigilo. A PR-DF também solicitou o compartilhamento de informações da Operação Lava-Jato, que apura principalmente irregularidades em contratos da Petrobras com empreiteiras, entre elas a Odebrecht.

Viagem paga por construtora
A procuradora instaurou a apuração preliminar depois que o GLOBO revelou, em abril, que o então diretor de Relações Institucionais da Odebrecht, Alexandrino Alencar, levou o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em um périplo por Cuba, República Dominicana e Estados Unidos, em janeiro de 2013. A viagem foi paga pela construtora e, oficialmente, não tinha relação com atividades da empresa nesses países. Investigado na Lava-Jato, Alexandrino foi preso em 19 de junho, por determinação do juiz federal Sérgio Moro. Ele é acusado por três delatores de operar o pagamento de propinas para a empresa no exterior. A relação oficial de passageiros do voo, obtida pelo GLOBO em abril, mostra que ele era o único que não fazia parte do círculo de convivência de Lula.

A PR-DF já tinha pedido informações ao Instituto Lula, à Odebrecht, ao BNDES, ao Itamaraty e a outros órgãos. Em resposta enviada em 15 de maio, advogados de Lula chegaram a pedir a extinção do procedimento, alegando a ausência de elementos que fundamentassem a suspeita. Vários órgãos pediram mais prazo para dar as respostas.

Ontem, o Instituto Lula informou, por meio de sua assessoria de imprensa, que recebeu com surpresa a informação sobre a abertura do inquérito porque entregou, na semana passada, as informações solicitadas pela procuradora Mirella Aguiar. O instituto considera que houve pouco tempo para a procuradora analisar o material repassado, considerado bem "extenso e detalhado". A entidade afirma ainda entender fazer parte das atribuições do Ministério Público investigar denúncias e diz que irá comprovar a legalidade e a lisura de todas as suas atividades. O instituto diz que Lula é "alvo de grave violação de conduta" por parte do procurador que iniciou o processo. Também argumenta que O GLOBO "criminalizou um episódio corriqueiro", uma das 78 viagens que Lula fez ao exterior desde que deixou a Presidência, em 2011, para dar palestras, receber homenagens ou participar de debates.

Em nota, a Odebrecht informou que mantém com Lula uma relação institucional de forma "transparente e condizente com a posição e importância de seu papel como ex-governante". Segundo a empresa, ele foi convidado apenas para fazer palestras "em eventos voltados a defender as potencialidades do Brasil e de suas empresas". A Odebrecht sustenta que presidentes e ex-presidentes estrangeiros fazem a mesma coisa para promover seus países e diz que os financiamentos feitos pelo BNDES são regulares e não foram obtidos por meio da interferência de terceiros.

Questionado sobre o caso, o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, defendeu Lula:

- Não tenho como comentar. Apenas digo que tenho o presidente Luiz Inácio Lula da Silva como um dos grandes líderes do país, uma pessoa idônea. No mais, evidentemente, o Ministério Público exerce sua atribuição no campo da sua competência constitucional. (Colaborou Sérgio Roxo)

MP investiga Lula por tráfico de influência

• Ministério Público Federal do DF investiga suspeita de tráfico de influência do ex-presidente em favor da construtora Odebrecht

Talita Fernandes – O Estado de S. Paulo

A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu um procedimento de investigação criminal para apurar se o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva praticou tráfico internacional de influência em favor da construtora Norberto Odebrecht. A procuradoria suspeita de fatos que tenham ocorrido entre 2011 e 2014 – quando Lula já havia deixado a Presidência. O documento diz que a suspeita é de que Lula teria obtido "vantagens econômicas da empreiteira Odebrecht, a pretexto de influir em atos praticados por agentes públicos estrangeiros, notadamente dos governos da República Dominicana e de Cuba (neste caso, em relação a obras financiadas pelo BNDES) e por agentes públicos federais brasileiros". Já havia na Procuradoria uma "notícia de fato", um procedimento preliminar ao inquérito referente à suspeita.

A decisão de transformar a ação preliminar em uma investigação formal ocorreu no último dia 8 devido ao esgotamento do prazo para que fossem apurados os fatos de suspeita iniciais, que era de 90 dias. No despacho, assinado pelo procurador Valtan Timbó Martins Mendes Furtade, foi encaminhado ofício informando da abertura o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, e o coordenador da força-tarefa, o procurador Deltan Dallagnol, responsável pelas investigações da Operação Lava Jato no Paraná. A Dallagnol é pedido que sejam encaminhados recibos, correspondências e outros materiais apreendidos que envolvam o BNDES, o Instituto Lula, o próprio ex-presidente e a empresa LILS Palestras Eventos e Publicidade, que pertence ao petista. Uma das suspeitas é de que a Odebrecht teria pago despesas de viagem do ex-presidente, mesmo não sendo viagens de trabalho para a empreiteira.

Com isso, a construtora conseguiria vantagens no exterior. Junto aos documentos de investigações encaminhados pela Polícia Federal a pedido da Procuradoria estão listadas 38 saídas do ex-presidente do território nacional, entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2014, ou seja, depois de ter deixado o cargo de Presidente da República. A empreiteira é uma das investigadas na Lava Jato, que já prendeu o ex-presidente da construtora Marcelo Odebrecht e outros executivos, como Alexandrino Alencar, ex-diretor de Relações Institucionais da Odebrecht. Segundo a Procuradoria, agora poderão ser usados todos os instrumentos investigatórios – incluindo ações de busca e apreensão e quebra de sigilo.

A investigação é conduzida pela procuradora Mirela Aguiar. Como não há participação da Polícia Federal e do Judiciário, o procedimento não é chamado formalmente de inquérito pela procuradoria. "Relevância". Em documentos encaminhados à Procuradoria, a defesa do ex-presidente pediu a exclusão do processo investigatório ao afirmar a "relevância" do petista. "É político e notório, é fundador do Partido dos Trabalhadores (PT), ex-Deputado Constituinte e ex-Presidente da República, pessoa pública e respeitada e admirada tanto no Brasil como no exterior."

A defesa listou ainda conquistas do governo Lula na política exterior, como negócios firmados com outros países, e disse que ele foi presidente da República por dois mandados e deixou o posto com "recorde de avaliação positiva". Além disso, a documentação traz uma lista de premiações internacionais recebidas pelo ex-presidente.

Ex-presidente afirma ser alvo de ‘arbitrariedade’
Em nota, o Instituto Lula disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva "é alvo de um conjunto de manipulações e arbitrariedades com o propósito evidente de criar constrangimentos e manchar, sob falsos pretextos, a imagem do maior líder popular deste País no Brasil e no exterior". "Trata-se de procedimento absolutamente irregular, intempestivo e injustificado, razão pela qual serão tomadas as medidas cabíveis para corrigir essa arbitrariedade no âmbito do próprio Ministério Público", afirmou. O instituto criticou o procurador da República no Distrito Federal Valtan Timbó Mendes Furtado, autor do procedimento aberto no dia 8, e o procurador Anselmo Lopes, "que deu início a este processo e por isso está respondendo à Corregedoria Nacional do Ministério Público".

Lopes assinou o despacho que originou o procedimento chamado "notícia de fato", no qual a procuradora Mirella Aguiar apura eventual tráfico de influência por parte de Lula em favor da Odebrecht em contratos fora do Brasil. O instituto alega que Mirella ainda tem prazo para decidir se há elementos para abrir investigação formal contra Lula e que, no dia 9, prestou as informações solicitadas pela procuradora. "O Instituto Lula e o ex-presidente Lula desconhecem as razões pelas quais o procurador Valtan Timbó Mendes Furtado interferiu, de maneira indevida e arbitrária, no procedimento que vinha sendo conduzido pela procuradora titular", afirmou o texto. A Odebrecht disse manter "relação institucional" com Lula e que ele fez "o que têm feito presidentes e ex-presidentes estrangeiros quando promovem negócios de seus respectivos países na busca de uma maior participação no comércio global".

Procuradoria abre investigação contra Lula

• Objetivo é apurar se houve tráfico de influência do petista em favor da Odebrecht em obras financiadas pelo BNDES

• Instituto Lula afirmou que recebeu com 'surpresa' a decisão e que tudo foi feito dentro legalidade

Márcio Falcão – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A Procuradoria da República no Distrito Federal abriu uma investigação criminal formal contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O petista será investigado por suspeita de tráfico de influência em favor da Odebrecht, no Brasil e no exterior, em obras financiadas pelo BNDES.

O caso já era analisado em caráter preliminar pela Procuradoria. Agora, Lula é investigado oficialmente. O Ministério Público Federal passa a ter prerrogativa de pedir quebras de sigilo e busca e apreensão relacionadas ao caso.

A Procuradoria também decidiu pedir à força-tarefa que investiga o esquema de corrupção da Petrobras o compartilhamento de provas da Operação Lava Jato que tenham relação com a construtora e, eventualmente, com o ex-presidente.

A expectativa é de que um dos próximos passos seja a tomada do depoimento do petista. A suspeita é de que Lula tenha exercido influência para que o BNDES financiasse obras de Odebrecht, principalmente em países da África e da América Latina.

A empreiteira bancou diversas viagens de Lula ao exterior depois que ele deixou a Presidência. O petista nega qualquer irregularidade.

Na fase inicial da apuração, o Ministério Público determinou que o Instituto Lula entregasse a agenda de viagens do ex-presidente para a América Latina e a África entre 2011 e 2014, que a Odebrecht informasse se pagou viagens internacionais ao petista e se elas tinham alguma relação com investimentos da construtora no mercado externo.

Ao Itamaraty foi requisitado cópias de telegramas diplomáticos e despachos sobre viagens de Lula ao exterior, relacionadas ou não com a Odebrecht. Os principais alvos são visitas a Cuba, Panamá, Venezuela, República Dominicana e Angola.

A partir do cruzamento inicial do material, a Procuradoria decidiu que há elementos para aprofundar as apurações. Na avaliação dos procuradores, as relações de Lula com a construtora, o banco e os chefes de Estado podem ser enquadradas, "a princípio", em artigos do Código Penal que tratam do tráfico de influência.

O Código Penal fixa como tráfico de influência "solicitar, exigir, cobrar ou obter, para si ou para outrem, vantagem ou promessa de vantagem, a pretexto de influir em ato praticado por funcionário público no exercício da função", prevendo pena de dois a cinco anos de reclusão.

Um relatório enviado pela Polícia Federal ao Ministério Público registrou 38 saídas de Lula do país entre fevereiro de 2011 e dezembro de 2014. Uma das empresas de táxi aéreo usadas pela Odebrecht para transportar o ex-presidente informou custo de deslocamentos entre R$ 215 mil e R$ 435 mil.

A empresa mostrou ainda que em uma viagem para Cuba Lula foi acompanhado do ex-executivo da empreiteira Alexandrino Alencar, que foi preso em uma das fases da operação Lava Jato.

A defesa de Lula chegou a enviar à Procuradoria um pedido de arquivamento do procedimento preliminar, argumentando que é equivocada a tese de que Lula teria relação próxima com a empresa.

Lula também é alvo de outras duas investigações na Procuradoria do DF relativas a acusações do empresário Marcos Valério no caso do mensalão. De acordo com a assessoria do órgão, ambas ainda estão em tramitação.

Cunha acusado de receber propina e intimidar doleiro

Delator: Cunha ganhou propina

• Júlio Camargo diz ter pago us$ 5 milhões ao presidente da Câmara; Youssef afirma estar sendo intimidado

Renato Onofre e Thais Skodowski – O Globo

SÃO PAULO e CURITIBA - O consultor Júlio Camargo, delator da Operação Lava-Jato, colocou ontem o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, no centro do escândalo da Petrobras. Em depoimento ao juiz Sérgio Moro, da Justiça Federal do Paraná, ele disse que foi pressionado por Cunha a pagar US$ 10 milhões em propinas referentes à contratação de navios-sonda pela Petrobras. Segundo o delator, US$ 5 milhões foram pedidos por Cunha pessoalmente e pagos através de Fernando Baiano, operador do PMDB na estatal. O delator contou que o dinheiro foi efetivamente entregue ao presidente da Câmara. O conteúdo do depoimento foi revelado ontem pelo site do GLOBO.

Eduardo Cunha negou a acusação e afirmou que o delator é um "mentiroso". Desafiou Camargo a provar as acusações e disse, ainda, que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, obrigou o delator a mentir.

Na audiência de ontem, Camargo afirmou que já havia dado declarações sobre o envolvimento de Cunha no esquema à Procuradoria-Geral da República, em Brasília, em duas oportunidades nos últimos meses. Assim como outros políticos citados na Operação Lava-Jato, Cunha tem foro privilegiado, o que faz com que o processo corra no Supremo Tribunal Federal (STF).

Camargo foi consultor das empreiteiras Toyo e Camargo Corrêa. Ontem, contou à Justiça como foi o processo de contratação dos navios-sonda Vitória 10.000 e Petrobras 10.000, produzidos pela Samsung Heavy Industries na Coreia, entre 2006 e 2007. Os contratos valiam US$ 1,2 bilhão. Para intermediar o negócio, Camargo receberia US$ 53 milhões, dos quais US$ 40 milhões seriam repassados a agentes políticos.

Em função de atrasos na propina, o delator relatou que, em 2011, foi surpreendido por dois requerimentos na Comissão de Fiscalização da Câmara para investigar a atuação da Samsung nos contratos. Camargo conta que, por intermédio do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, teve um encontro com o então ministro de Minas e Energia Edison Lobão no aeroporto Santos Dumont:

- Lobão viu o documento e falou: "Isso é coisa do Eduardo (Cunha)". Ele pegou seu celular e ligou para o deputado Eduardo Cunha na minha frente. Ele disse: "Eduardo, estou aqui com o Júlio Camargo. Você está louco?" - disse.

"Deputado pau-mandado"
Camargo afirmou que seu débito com Fernando Baiano era de US$ 10 milhões. Em depoimento anterior, Camargo havia mencionado "aproximadamente US$ 8 milhões". No novo relato, o consultor disse que parte desse dinheiro iria para Cunha.

- (Fernando) disse: "Estou sendo pressionado violentamente, inclusive pelo deputado Eduardo Cunha". Eu falei: "Estou à disposição para falar com o deputado, explicar a ele o que está acontecendo". Mas o Fernando me disse. "Júlio, ele não quer falar com você. Ele quer receber".

Camargo afirmou que, algum tempo depois, conseguiu finalmente marcar um encontro com Cunha em um edifício comercial no Leblon:

- (Cunha disse) que havia um débito meu com o Fernando no qual ele (Cunha) era merecedor de U$ 5 milhões e que isso estava atrapalhando, porque estava em véspera de campanha, (...) e eu vinha alongando esse pagamento há bastante tempo, e ele não tinha condições de aguardar.

Para quitar a dívida, Camargo recorreu também aos serviços do doleiro Alberto Youssef. Ele afirma ter feito operações financeiras com a GDF e a RFY (empresas ligadas a Youssef), além de transferências a empresas de Fernando Baiano.

- Ele (Cunha) me disse: "Você pode até pagar o Fernando mais dilatado, o meu eu preciso mais rapidamente. Mas eu faço questão de você incluir no acordo o que ainda falta você pagar ao Fernando - afirma Camargo.

O GLOBO localizou nos autos da Lava-Jato comprovantes dos pagamentos do delator às empresas de Soares e Youssef, mencionadas por Camargo. Um dos advogados presentes no depoimento perguntou a Camargo quem foram os beneficiários dessa propina:

- Eu não sabia que ele (Fernando Soares) tinha um sócio oculto, que era o deputado Eduardo Cunha, que também ganhou.

Ontem mesmo, Moro ouviu Youssef sobre a negociação dos navios-sonda. Ao final, o advogado Antônio Figueiredo Basto perguntou ao doleiro se ele está sendo intimidado:

- Sim, venho sofrendo intimidação pelas minhas filhas, minha ex-esposa, pela CPI. E eu acho um absurdo. Eu, como réu colaborador, quero deixar claro que estou sendo intimidado pela CPI da Petrobras, por um deputado pau-mandado do deputado Eduardo Cunha.

Camargo alegou que não fez as acusações anteriormente por temer retaliações de Cunha.

- O maior receio é com a família. Quem age dessa maneira perfeitamente pode agir contra terceiros. (Colaboraram Germano Oliveira, Julianna Granjeia, Mariana Sanches, Sérgio Roxo, Silvia Amorim, Thiago Herdy e Tiago Dantas) .

Planalto teme dias ainda piores em sua relação com a Câmara

• Governo avalia que, sentindo-se acuado, Cunha deverá retaliar

Isabel Braga, Fernanda Krakovics, Evandro Éboli, Geralda Doca e Patrícia Gagni – O Globo

BRASÍLIA - A acusação contra o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), feita pelo consultor Júlio Camargo à Justiça preocupou o governo Dilma Rousseff e pôs em alerta aliados do deputado. Após um semestre de derrotas na Câmara, o Palácio do Planalto prevê um cenário ainda pior a partir de agosto, com possíveis retaliações. No caso dos aliados de Cunha, a delação de Camargo e os rumores de que poderão surgir mais fatos contra Cunha os obrigam a repensar sua ação - o mesmo desafio de partidos de oposição, como PSDB e DEM, que se uniram a Cunha para derrotar o PT e Dilma na Casa.

Apesar de Cunha ser um dos principais algozes do governo, o Planalto não comemorou o revés sofrido por ele. Para um ministro do núcleo político, o impacto será "ruim" para Dilma.

- O governo precisa de paz - disse esse ministro.

O próprio Cunha, em café da manhã com jornalistas, antes da delação de Camargo se tornar pública, sinalizara que o governo viverá dias difíceis , após o fim do recesso parlamentar:

- Os deputados vão ficar duas semanas com o povo nas bases nos ouvidos deles, ouvindo reclamações sobre desemprego, então tendem a voltar ainda mais duros em relação ao governo.

Ele também admitiu analisar o pedido de impeachment de Dilma, entregue pelo Movimento Brasil Livre:

- Pedi pareceres de outros juristas fora da Casa para formar meu convencimento.

Aliados de Cunha afirmam que a tendência será que ele parta para cima da presidente. Em conversas reservadas, ele diz que não "cairá sozinho". Desde que foi incluído pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, na lista de investigados da Lava-Jato, Cunha acusa o governo de trabalhar para enfraquecê-lo.

Beneficiários da condução de Cunha na Câmara, integrantes da oposição dizem que agirão com responsabilidade.

- Reconhecemos a delação premiada como melhor instrumento, pois, sem ela, não estaríamos no nível de apuração que estamos. Mas, assim como aconteceu com as delações que citam a presidente Dilma, a oposição não entrou com pedido de impeachment. O mesmo cuidado e responsabilidade teremos com outras autoridades - disse o vice-líder do PSDB, Nilson Leitão (MS).

Com a Câmara entrando em recesso parlamentar, sem sessões plenárias, o único a falar ontem sobre a crise, em sessão esvaziada no plenário, foi Ivan Valente (PSOL-SP). Ele pedirá, em agosto, na volta dos trabalhos, que Cunha deponha na CPI da Petrobras. O PSOL, porém, aguardará a evolução dos fatos para acionar a Corregedoria e o Conselho de Ética da Câmara.

No fim da manhã, antes de O GLOBO publicar a informação sobre a delação de Camargo, um grupo de parlamentares, exibindo cartazes no Salão Verde, atacaram a gestão de Cunha. Deputados de PSB, PSOL, PPS e PT criticaram, em sua visão, a forma autoritária na condução das votações. Cunha ironizou o protesto, dizendo se tratar de "choro de perdedor".

Acusado de pedir propina de US$ 5 mi, Cunha culpa Janot

Acusado de cobrar US$ 5 milhões de propina, Cunha culpa Janot e Planalto

• Lava Jato. Conforme lobista Julio Camargo, presidente da Câmara elos Deputados, investigado pelo STF, exigiu dinheiro durante um encontro em 2011; parlamentar nega acusação e sugere articulação comandada pelo procurador-geral e pelo Executivo para incriminá-lo

Ricardo Brand, Fausto Macedo, Julia Affonso, Valmor Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

O lobista Julio Camargo, um dos delatores da Operação Lava Jato, declarou ontem em depoimento à Justiça Federal que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), exigiu dele US$ 5 milhões de propina em dois contratos da Petrobrás para a compra de navios-sonda. Foi a primeira vez que Camargo citou Cunha como destinatário de propina.

Segundo o delator, a cobrança foi feita pessoalmente por Cunha em encontro em 2011, no Rio. Camargo afirmou ainda que Fernando Falcão Soares, o Fernando Baiano, apontado corno operador do PMDB no esquema de corrupção na estatal, lhe disse que estava sendo pressionado pelo deputado a pagar US$ 10 milhões "atrasados" de um total de US$ 30 milhões de propina - dos quais US$ 5 milhões seriam para o peemedebista.

As denúncias também foram feitas em deleção à Procuradoria-Geral da República, comanda por Rodrigo Janot. "Fui bastante apreensivo (ao encontro do parlamentar). O deputado Eduardo Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas confesso que comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de 5 milhões de dólares", afirmou Camargo, que depôs em Curitiba na condição de testemunha de defesa de Fernando Baiano em uma das ações penais em curso na 1ª. instância da Justiça Federal no Paraná.

Ele disse que por "medo" e "receio" cedeu à pressão do presidente da Câmara a pagar em 2011 um total de US$ 10 milhões em propinas no âmbito de dois contratos na Petrobrás. Cunha é alvo de inquérito no Supremo Tribunal Federal que apura crimes de corrupção e lavagem de dinheiro. No depoimento ao juiz Sérgio Moro, Camargo afirmou ainda que já havia detalhado em delação à Procuradoria-Geral da República como foram pagos os US$ 10 milhões. Ele apontou aos investigadores o endereço onde esteve pessoalmente reunido com o presidente da Câmara para tratar dos pagamentos - um prédio comercial no Rio.

Planalto. Cunha reagiu ao depoimento afirmando que o "delator foi obrigado a mentir" e que "há um objetivo claro de constranger o Poder Legislativo", o que "pode ter por trás" o Executivo em articulação com o procurador-geral Rodrigo Janot. O peemedebista foi eleito para presidência da Câmara em fevereiro e desde então fustiga o governo da presidente Dilma Rousseff imprimindo uma série de derrotas ao Executivo no Congresso. O depoimento de Camargo ocorreu na véspera de um pronunciamento em cadeia nacional de rádio e TV programado por Cunha para esta noite.

Ontem, o delator disse também que se reuniu pessoalmente com o então ministro Edison Lobão (Minas e Energia) na Base Aérea Santos Dumont, no Rio. Ele disse que exibiu a Lobão cópia de um requerimento de informações da Câmara, subscrito por uma deputada aliada de Cunha - o documento pedia informações sobre contratos da Petrobrás com a Mitsui, da qual Camargo se dizia representante - a empresa nega. Outro delator da Lava Jato, o doleiro Alberto Youssef já havia afirmado à Justiça Federal que o presidente da Câmara era um dos "destinatários finais" de propina.

Em maio de 2015, o doleiro declarou que Cunha foi o mentor de requerimentos feitos na Câmara para pressionar a empresa Mitsui, que não estaria pagando a propina em 2011. "Fui chamado em 2011 pelo Julio Camargo no seu escritório, onde ele se encontrava muito preocupado e me relatou que o Fernando Soares, através do deputado Eduardo Cunha, havia pedido alguns requerimentos de informações referentes aos contratos da Mitsui, da Toyo e do próprio Julio Camargo, através de outros deputados", relatou na ocasião Youssef.

Opositores veem "retrocesso" na gestão da Casa
Em resposta ao balanço do semestre apresentado ontem pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), deputados opositores a ele ligados a PT, PSOL e PSB fizeram uma outra avaliação e disseram que o peemedebista conduziu um processo de "retrocesso" na Casa. Fechamento das galerias a manifestantes, blindagem de depoentes que supostamente o comprometeriam na CPI da Petrobrás, manobras regimentais e intenção de construir o "Parlashopping" estão entre os pontos negativos.

Com peemedebista ‘incontrolável’, Planalto prevê disputa tensa

Vera Rosa, Tânia Monteiro e Rafael Moraes Moura – O Estado de S. Paulo

O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), avisou o vice-presidente Michel Temer que o governo declarou guerra contra ele e pode se preparar para o troco. Na noite de anteontem, antes mesmo de o delator Julio Camargo dizer ao juiz Sérgio Moro que Cunha pediu a ele US$ 5 milhões em propina, o homem que comanda a Câmara já antevia o que podia ocorrer e culpava o ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, por todos os "vazamentos seletivos". Ao tomar sopa no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente, Cunha avisou que, no segundo semestre, ia atormentar muito mais o Planalto, em votações na Câmara. Prometeu, ainda, articular a convocação de Mercadante e do ministro da Comunicação Social, Edinho Silva, para dar "explicações" sobre denúncias do delator Ricardo Pessoa, dono da UTC, que os acusou de receber doações de campanha com dinheiro desviado da Petrobrás.

O ministro do Turismo, Henrique Eduardo Alves (PMDB), estava presente no jantar com Temer e Cunha. Circularam rumores em Brasília de que o presidente da Câmara esboçou ali como deveria ser o roteiro para o impeachment da presidente Dilma Rousseff, mas ele próprio tratou de pôr fim aos boatos. "Isso não existiu", afirmou. De qualquer forma, o governo avalia que Cunha está "incontrolável" e prevê um cenário ainda mais difícil pela frente, na volta do recesso. Na semana passada, Dilma achava que as férias de deputados e senadores poderiam esfriar a crise. Foi alertada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e por Temer de que a tensão está se agravando."O fundo do poço é agora.

O governo precisa do PMDB", disse um ministro ao Estado. Para piorar o quadro, a Procuradoria da República no Distrito Federal abriu investigação contra Lula sob a alegação de que ele usou sua influência para facilitar negócios da empreiteira Odebrecht com governos estrangeiros, sempre com financiamento do BNDES, principalmente em países da África e da América Latina. Temer vai viajar no domingo para Nova York, onde fará palestras para empresários. Mas foi incumbido por Dilma de minimizar os danos políticos provocados pela Lava Jato antes de se ausentar do País.

Ainda ontem, o vice conversou com Renan Calheiros (PMDB-AL). O presidente do Senado ameaça trabalhar pela criação da CPI do BNDES e dos Fundos de Pensão na volta do recesso, em agosto. Investigadores da Polícia Federal dizem que, além de Cunha, Renan também deve ser denunciado pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Na outra frente de batalha para acalmar os ânimos está o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, que ontem se reuniu com Janot e com o presidente do Supremo, Ricardo Lewandowski.

Criticado até pelo governo por não "controlar" a PF, Cardozo agora está batendo na tecla de que "não se deve execrar" uma pessoa antes das provas porque delatores também podem mentir. Foi um aceno, por ordem de Dilma, na tentativa de juntar os cacos da base aliada. Cunha tem irritado o Planalto, ainda, por exigir cada vez mais cargos estratégicos no governo. Além de querer pôr um afilhado seu na vice-presidência da Caixa que cuidada gestão de um fundo de investimento do FGTS (FI-FGTS), ele está brigando com o senador Jader Barbalho (PMDB-PA) pelo controle das Docas do Pará.

Jader chegou a chamar Cunha de "ditador" e disse que o correligionário fazia "negociatas". Cunha nega que esteja reivindicando mais espaço no governo. "O PMDB não está no governo. Quem está são os ministros. Nós ficamos com o ônus e o PT, com o bônus", insistiu. E provocou: "Será que sou um ditador com o qual a maioria dos deputados concorda?"

Lobista afirma que pagou US$ 5 mi a Eduardo Cunha

• Delator da Lava Jato diz que presidente da Câmara cobrou propina em 2011

• Julio Camargo diz que não falou antes sobre o assunto por temer represálias; deputado afirma que ele mente

Graciliano Rocha, Bela Megale – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O lobista Julio Camargo afirmou em depoimento à Justiça Federal nesta quinta-feira (16) que foi chantageado pelo deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ) e pagou a ele US$ 5 milhões em propina em 2011 para garantir a continuidade de um contrato bilionário com a Petrobras.

Camargo fez acordo para colaborar com as investigações da Operação Lava Jato em outubro do ano passado e prestou vários depoimentos desde então, mas esta é a primeira vez em que menciona Cunha, que atualmente preside a Câmara dos Deputados.

Questionado pelo juiz federal Sergio Moro, que conduz os processos da Operação Lava Jato no Paraná, Camargo disse que não falou antes sobre o assunto por temer represálias à sua família e às empresas que representa.

Nos depoimentos aos procuradores do Paraná, o lobista disse, no ano passado, que pagou cerca de R$ 137 milhões em propina a dirigentes da Petrobras e operadores do PT e PMDB, mas negou ter pagado suborno a Cunha.

Nas últimas semanas, ele prestou novos depoimentos em Brasília, agora à Procuradoria-Geral da República, que investiga Cunha e outros políticos suspeitos de envolvimento com o esquema de corrupção na Petrobras.

Para convencê-lo a falar, os procuradores disseram a Camargo que ele pode perder os benefícios do acordo de delação premiada, como a redução de sua pena no futuro, se não contar tudo o que sabe.

Cunha disse que Camargo mentiu em seus depoimentos e negou ter qualquer participação no esquema de corrupção descoberto na Petrobras.

"Ele quer receber"
Camargo representava a coreana Samsung em dois contratos assinados com a Petrobras para construção e afretamento de navios de exploração de petróleo, no valor de US$ 1,2 bilhão.

Ele disse que foi chantageado por Cunha depois que a empresa se recusou a pagar US$ 10 milhões da propina cobrada pelo PMDB.

Segundo Camargo, o lobista Fernando Baiano, apontado como principal operador do PMDB no esquema, disse que estava sendo pressionado por Cunha. Camargo diz que pediu para conversar com o deputado e ouviu de Baiano: "Ele não quer conversar com você. Ele quer receber".

Camargo contou que se reuniu com Cunha e Baiano num prédio comercial do Leblon, bairro nobre do Rio, para tentar resolver o impasse.

"Cunha é conhecido como uma pessoa agressiva, mas comigo foi extremamente amistoso, dizendo que ele não tinha nada pessoal contra mim, mas que havia um débito meu com o Fernando do qual ele era merecedor de US$ 5 milhões", disse Camargo.

O lobista reconstituiu assim o que teria ouvido do deputado: "Não aceito que pague só a minha parte. Pode até pagar o Fernando mais dilatado, mas o meu eu preciso rapidamente". O juiz Moro interrompeu o delator lembrando que Cunha só pode ser investigado com autorização do Supremo Tribunal Federal, onde já é alvo de inquérito.

Segundo Camargo, sua dívida com o PMDB foi liquidada com a ajuda do doleiro Alberto Youssef, outro dos operadores do esquema de corrupção. O lobista disse ter feito depósitos numa conta do doleiro no exterior, que depois teria entregue reais no Brasil. O delator afirmou que Fernando Baiano fez o dinheiro chegar a Cunha. No total, Camargo disse ter entregue entre US$ 8 milhões e 10 milhões ao operador do PMDB.

Requerimentos
Camargo disse também que foi chantageado por dois requerimentos apresentados na Câmara pela então deputada Solange Almeida (PMDB-RJ), aliada de Cunha que pediu explicações à empresa japonesa Mitsui, parceira da Samsung nos navios.

Youssef já havia apontado antes os requerimentos como um instrumento de chantagem. Como a Folha revelou, Cunha aparece nos registros eletrônicos da Câmara como autor dos dois requerimentos, o que o deputado nega.

Camargo contou que, antes de falar com Cunha, teve uma conversa com o então ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (PMDB-MA). "Isso é coisa do Eduardo", teria reagido Lobão ao ver os requerimentos, disse o delator.

A citação a Cunha no depoimento elevou a temperatura na audiência desta quinta. Aos gritos, o advogado de Fernando Baiano, Nélio Machado, acusou Camargo de fazer delação a conta-gotas e de ter mudado de versão.

Cunha diz que delator mente e promete romper com o governo

• Presidente da Câmara afirma que "é tudo vingança" do Planalto e planeja um pacote de retaliações

- Folha de S. Paulo

Atribuindo ao Palácio do Planalto uma articulação para envolvê-lo na Lava Jato, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que anunciará nesta sexta (17) o seu rompimento com o governo. A decisão ocorre após ele ser acusado pelo lobista Julio Camargo de receber US$ 5 milhões de propina.

"É tudo vingança do governo. Parece que o Executivo quer jogar a sua crise no Congresso", disse Cunha à Folha.

Após a divulgação da notícia, ele conversou com o vice-presidente e articulador político do governo, Michel Temer (PMDB-SP), e com o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL). Renan disse que o país vive uma crise institucional. Cunha comunicou que iria defender o rompimento com o governo.

Em nota logo depois que a denúncia veio à tona, ele chamou o lobista de "mentiroso": "Desminto com veemência as mentiras do delator e o desafio a prová-las", afirmou.

"É muito estranho, às vésperas da eleição do procurador-geral da República [Rodrigo Janot tenta a recondução] e às vésperas de pronunciamento meu em rede nacional [ele fará um balanço legislativo nesta sexta], que as ameaças ao delator tenham conseguido o efeito desejado pelo procurador, ou seja, obrigar o delator a mentir."

Cunha chegou à presidência da Câmara em fevereiro, derrotando o governo. Desde então, vive uma relação tensa com o Planalto e repete que as suspeitas levantadas contra ele são fruto de perseguição patrocinada por Janot, com estímulo do governo.

Desde o começo da semana, diz a aliados que aguarda uma denúncia da Procuradoria contra ele por conta das investigações da Lava Jato.

Cunha já sabia que Camargo, que até então o mantivera fora do rol de acusados, resolvera fazer acusações contra ele em seus depoimentos.

O peemedebista atribui a mudança a uma pressão exercida pelos investigadores, a mando do Planalto. A Lava Jato investiga políticos de vários partidos, incluindo o PT.

Para peemedebistas, haverá agora uma tentativa do governo Dilma de envolver Temer no escândalo para inviabilizar uma eventual sucessão da presidente pelo vice em caso de impeachment.

Retaliações
Segundo a Folha apurou, Cunha chegou a dizer que ele pode se "ferrar", mas o governo vai junto. "Guerra é guerra", ameaça, nos bastidores.

Sua retaliação deve começar com a instalação de CPIs incômodas ao governo, como a do BNDES e a dos fundos de pensão.

O ministro da Casa Civil, Aloizio Mercadante, também será convocado para depor na CPI da Petrobras. O objetivo é desgastar a presidente.

O peemedebista não descarta dar prosseguimento a um processo de impeachment contra Dilma no segundo semestre, após as manifestações de rua marcadas para o dia 16 de agosto.

Para o governo, as revelações contra Cunha vão enfraquecer seu ímpeto revanchista na Câmara. Desde o começo do ano ele tem imposto seguidas derrotas ao Palácio do Planalto.

Em entrevista coletiva na Câmara, o peemedebista disse que não se deixará ser "constrangido" e "fragilizado" pelo depoimento do delator, e afirmou que não irá alterar ou cancelar o pronunciamento em cadeia nacional de rádio e televisão que fará na noite desta sexta.

"Não vou fazer isso [cancelar] porque eu estou me pronunciando como presidente da Câmara sobre atividades da Câmara. Não estou me pronunciando para fazer alusão ou defesa de fatos pessoais."

Questionado se teria vontade de fazer uma acareação com Júlio Camargo para falar "olho no olho", Cunha afirmou que fala "com quem quer que for".

"Eu não tenho dificuldade nenhuma de rebater quem quer que seja. Ele está mentindo e o delator tem que provar sua mentira. O ônus da prova é de quem acusa."

Dilminha ganhou!!!!!

• Mensagens apreendidas na Operação Lava Jato mostram a torcida dos empreteiros da OAS pela vitória de Dilma em 2014

Estelita Hass Carazzai – Folha de S. Paulo

CURITIBA - Foi uma noite de tensão para os principais executivos da OAS. Enquanto eram apurados os votos para presidente da República, os dirigentes da empreiteira deixavam transparecer, em mensagens, a ansiedade com o resultado.

"Informação de dentro do TSE: Aécio 5% na frente", escreve um deles, às 19h24 daquele domingo. "FHC está falando em vitória de Aécio. Pode ser boato, mas..."

Na resposta, Léo Pinheiro, então presidente da OAS, solta: "Vamos ver!". Minutos depois, o alívio: "Dilminha ganhou!!!!!", festejou Pinheiro.

Aos amigos, ele enviou uma imagem de uma represa seca com uma placa: "Favor chorar aqui". Depois, uma foto de Aécio vestindo a camisa do time baiano Vitória: "Já tá acostumado a ser vice".

As dezenas de mensagens estão no inquérito que investiga a OAS na Lava Jato. Aparecem entre informações coletadas na casa e nos escritórios de Pinheiro, hoje réu sob acusação de corrupção em obras da Petrobras. Ele está em prisão domiciliar.

Pinheiro e seus colegas foram atentos espectadores do cenário político. Dono de uma rica agenda política, ele monitorava pesquisas, tinha acesso a levantamentos exclusivos de partidos e desejava sorte a políticos amigos, como o deputado federal Miro Teixeira (PROS-RJ).

Com frequência, repassava "boletins" de "JW", alcunha de Jaques Wagner (PT), então governador baiano e hoje ministro da Defesa.

Wagner agradece a ele quando seu candidato ao governo, Rui Costa (PT), aparece à frente nas pesquisas: "Já era. Você merece e contribuiu para isto". Costa foi eleito.

No dia seguinte à votação, Pinheiro brinca com um colega. Envia uma imagem de um eleitor numa urna. Acima dele, a inscrição "Este voto é um oferecimento de...", seguida de logos de financiadores de campanha –OAS entre eles.

No segundo turno, a preocupação é com a "Moça". Pinheiro e colegas avaliam que Aécio ia "dar trabalho".

Eles demonstram pendor para a análise eleitoral: "Dilma tem mais aderência e está captando mais lentamente o indeciso e branco. Haja coração", escreve Pinheiro, em 15 de outubro. "Aécio despencando! Boa notícia!", comemora outro executivo.

Dados econômicos no foco: "Desemprego em baixa. Muito bom... Vai dar 10% na urna de diferença, no mínimo", escreve o vice-presidente da OAS, Cesar Mata Pires Filho.

Com a iminente vitória de Dilma, um amigo de Pinheiro faz piada: "Mais do que nunca Super Ministro da Infraestrutura, Leozinho". Resposta do executivo: "rsrsrsrs".

Em junho, outras apreensões mostraram a intimidade dos empreiteiros com o ex-presidente Lula, chamado de "Brahma" no grupo.

Nas mensagens, os executivos baianos demonstram desprezo por ACM Neto (DEM), prefeito de Salvador: "Grampinho [apelido]" é criticado por seu "desespero" ao não conseguir eleger Paulo Souto (DEM) governador.

"Pergunto-lhe: o que teremos que fazer para fuder o Grampinho em 2016", escreve um executivo. "Vai ser fácil. Ele será destruído por ele mesmo", responde Pinheiro.

Um terceiro executivo finaliza: "Concordo! Ele não tem caráter e destila veneno. Não aprendeu a construir alianças, como nós".

A OAS e Wagner não quiseram se manifestar.

ACM Neto afirmou: "Não quero comentar essa troca de e-mails de teor desqualificado, em que um dos autores está preso pela Justiça [...]. Eu sempre estive do lado oposto destas pessoas".

Apesar da torcida contra, a OAS doou R$ 8 milhões para Aécio em 2014. Dilma recebeu R$ 20 milhões. Em 2012, ACM Neto nada recebeu.

Dilma não deve ser investigada por delação

• Janot deve usar critérios jurídicos que já impediram presidente de ser responsabilizada

Vinicius Sassine – O Globo

BRASÍLIA - A Procuradoria-Geral da República (PGR) não deve abrir inquérito contra a presidente Dilma Rousseff, que foi acusada por Ricardo Pessoa, dono da UTC, de ter recebido doações ilegais durante a campanha de 2010. Segundo fontes com acesso ao procurador-geral da República, Rodrigo Janot, a análise da delação de Pessoa vai seguir os mesmos moldes jurídicos da delação de Paulo Roberto Costa, ex-diretor da Petrobras, que também mencionou doações ilegais na mesma campanha. À época, em março, ao deixar Dilma de fora dos pedidos de abertura de inquérito que enviou ao Supremo Tribunal Federal (STF), Janot citou o parágrafo 4º do artigo 86 da Constituição: "O presidente da República, na vigência de seu mandato, não pode ser responsabilizado por atos estranhos ao exercício de suas funções."

O procurador-geral, no entanto, considerou que, pelo teor das delações, a "suposta solicitação de vantagem" deveria ser apurada. Assim, o caso foi remetido à primeira instância da Justiça Federal no Paraná, onde um inquérito foi aberto para investigar a atuação do ex-ministro Antonio Palocci. O ex-diretor da Petrobras afirmou ter recebido um pedido do delator Alberto Youssef para autorizar o uso de R$ 2 milhões, supostamente desviados de contratos com a estatal, na campanha de Dilma em 2010. O pedido teria sido feito por Palocci. O doleiro Youssef negou ter feito o pedido.

No STF, petições ocultas
A delação de Pessoa trouxe ainda suspeitas para o financiamento da campanha à reeleição de Dilma. O dono da UTC disse ter sido procurado pelo tesoureiro da campanha, Edinho Silva, atual ministro da Secretaria de Comunicação Social (Secom) da Presidência da República.

No depoimento, Pessoa afirmou ter sido lembrado por Edinho a respeito dos contratos da UTC na Petrobras. A empreiteira doou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma, segundo os registros do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). O ministro da Secom e a presidente Dilma sustentam que as doações foram legais. Uma ação no TSE, movida pelo PSDB, investiga esses repasses.

A partir da delação premiada de Pessoa, surgiram dezenas de petições ocultas no Supremo Tribunal Federal. Cada uma corresponde a um dos fatos detalhados pelo empreiteiro. Ainda não se sabe se uma das petições se refere ao episódio envolvendo Edinho e se Janot vai pedir abertura de inquérito para investigá-lo.

Renan agiliza CPIs pedidas pela oposição

• Contrariado com rumos da Lava-jato, senador fala em risco para a democracia

Cristiane Jungblut – O Globo

BRASÍLIA - Em constante atrito com o Palácio do Planalto e irritado com a ação da Polícia Federal na Operação Lava-Jato, o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), acelerou o processo de instalação de duas CPIs pedidas pela oposição: a que trata dos fundos de pensão e outra sobre o BNDES. Em meio a novas denúncias envolvendo o presidente da Câmara, deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), Renan, também citado nas investigações, voltou a atacar ontem a Lava-Jato, após ouvir um discurso sobre o assunto feito pelo senador Fernando Collor (PTB-AL), outro alvo de ação da PF, na terça-feira:

- Queria, mais uma vez, alertar que nossa democracia não pode pagar para ver, ela não pode correr risco. Não podemos permitir que um poder queira se afirmar em cima de outro poder, porque, assim, estaremos ferindo de morte a própria democracia. Vivemos um momento grave, preocupante - disse Renan.

A exemplo do que fizera quarta-feira, Collor discursou ontem e reclamou da PF. Segundo Collor, outros parlamentares podem ser afetados.

- E não se iludam, pois ninguém está livre disso. Daqui mesmo, desta Casa, novas vítimas podem sair, novas histórias poderão ser maldosamente construídas. Estamos num terreno de um verdadeiro vale-tudo! - disse Collor.

As duas CPIs devem começar a funcionar em agosto. Ontem à noite, a presidência do Senado indicou os nomes para a comissão dos fundos de pensão, incluindo o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PT-PE), e o próprio Collor.

Nos bastidores, aliados de Renan dizem que ele está muito preocupado com os desdobramentos da Lava-Jato. Pelas regras do Senado, após lidos os nomes, é marcada a instalação da CPI, ou seja, a data em que ela começa de fato a funcionar. No caso da CPI do BNDES, a tramitação está atrasada.

- No dia 6 de agosto, vou fazer a leitura do requerimento da Comissão Parlamentar de Inquérito do BNDES - anunciou Renan.

As duas CPIs incomodam o governo. A dos fundos de pensão foi pedida pelo PSDB para investigar a gestão de fundos de estatais, em especial do Postalis, dos funcionários dos Correios. No caso da CPI do BNDES, as investigações devem afetar o ex-presidente Lula, acusado de tráfico de influência internacional por obras financiadas pelo banco.

- Presidente Renan, Vossa Excelência cumpre, então, o compromisso assumido com a oposição - comemorou o presidente do PSDB, senador Aécio Neves (MG)

Ex-presidente pode ter sigilo quebrado em apurações

Juliano Basile - Valor Econômico

BRASÍLIA - O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pode ter o sigilo bancário quebrado, caso integrantes do Ministério Público tenham dificuldades em avançar nas investigações sobre suposto tráfico de influência na defesa de interesses da Odebrecht no exterior. De acordo com fontes do MP, essa quebra de sigilo não seria uma devassa nas contas pessoais do ex-presidente. Seria requisitada para checar repasses específicos recebidos por ele da companhia nos episódios em que fez viagens a outros países a convite da Odebrecht.

O MP abriu um procedimento investigatório criminal (PIC) para apurar a relação entre as viagens de Lula e os aportes dados pelo BNDES a obras nos países visitados por ele. No PIC são citados pelo menos dois países - Cuba e República Dominicana.

Os PICs costumam durar 90 dias, prazo que pode ser prorrogado pelo tempo necessário ao avanço nas investigações. Fontes do MP preveem que haverá dificuldades para obter informações junto ao BNDES, que costuma defender o sigilo nas operações de aportes financeiros a obras em outros países. Caso não obtenham dados através do BNDES, os procuradores podem recorrer a Lula e aos advogados dele para consegui-los. Se sofrerem nova negativa, a saída pode ser pedir a quebra do sigilo. Essa alternativa, no entanto, não é trivial, pois envolve um ex-presidente da República e teria que ser requerida ao Judiciário. Caso decida por esse caminho, o MP deve fazer um pedido restrito apenas às transferências recebidas por Lula da Odebrecht para viagens no exterior.

O crime investigado no PIC é crime de tráfico de influência, que tem penas de dois a cinco anos de reclusão, acrescidos de multa. A multa varia de acordo com a capacidade financeira da pessoa investigada e, em última análise, pode envolver a devolução dos valores recebidos, caso a Justiça conclua que o pagamento foi indevido ou resultou na prática de ilegalidades. As investigações estão em fase inicial.

Pemedebista diz que sigla quer deixar governo

Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Horas antes de ser acusado de receber US$ 5 milhões de propina por contratos na Petrobras, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), concedeu longa entrevista à imprensa em que pregou o fim da aliança com o PT, disse que o PMDB "está doido" para deixar o governo e indicou impor dificuldades para o governo aprovar as novas medidas econômicas anunciadas nos últimos dias.

"O governo finge que tem maioria, e a maioria finge que é governo, mas não é", afirmou, ao dizer que é a primeira vez na história recente que o presidente não tem maioria no Congresso Nacional e que ainda não foi apresentada a política econômica do segundo mandato. "[O governo] Começa a por em risco o grau de investimento do país, que é uma avaliação muito mais do cenário político do que econômico", disse.

O ministro da Fazenda, Joaquim Levy, promoveu reuniões com a base aliada e oposição para informar sobre a reforma do PIS/Cofins que pretende encaminhar ao Congresso Nacional nos próximos dias e a equalização das alíquotas de ICMS, com a criação de dois fundos de compensação para os Estados.

Para o presidente da Câmara, a ausência de seis dos 10 líderes de partidos da base aliada na reunião proposta pelo ministro da Fazenda para apresentar o plano de PIS/Cofins na quarta-feira mostra um "agravamento da crise de governabilidade" e esse projeto só será aprovado se for algo para melhorar o ambiente de negócios no país. "Se for aumento de carga [tributária] disfarçado, não passará", disse.

Cunha afirmou ainda que é "absurdo" o plano de Levy para readequação das alíquotas do ICMS, encaminhado por meio de duas medidas provisórias (MPs), mas que depende da aprovação de projeto de lei do senador Randolfe Rodrigues (PSOL-AP) para possibilitar a repatriação de dinheiro sonegado, que constituiria o fundo de compensação. O ministro conta com os recursos para atingir a meta de superávit primário deste ano.

"Não vamos votar [a MP], isso é certo, nem o projeto de repatriação, a não ser que o governo mande o projeto dele para ser discutido", afirmou. Para ele, o governo usa um senador de "laranja" para não encampar uma proposta e a MP não atende os critérios de urgência já que depende de outro projeto de lei.

O pemedebista prometeu uma pauta ainda mais pesada no segundo semestre, com o projeto que muda a correção do FGTS e o que altera o rito de tramitação das MPs e a proposta de emenda constitucional que reduz a 20 o número de ministérios e afirmou que os parlamentares voltaram ainda mais "duros" do recesso parlamentar. "Quando eu rodo o Estado no fim de semana volto horrorizado. É todo mundo reclamando", disse.

Além de críticas ao governo, Cunha endureceu o discurso contra o PT e defendeu um rompimento total com o partido. Não só na disputa nacional em 2018 como também nas eleições à prefeitura do Rio de Janeiro, já em 2016, para que Eduardo Paes (PMDB) não repita a aliança com os petistas. Para ele, o governo da presidente Dilma Rousseff está "mergulhado na pauta do PT".

Os ataques ao partido, durante mais de uma hora de conversa, se tornavam evidentes mesmo quando o assunto era outro. Questionado sobre um possível "panelaço" contra sua gestão hoje à noite, na hora em que fará um pronunciamento em cadeia nacional para um balanço das votações do primeiro semestre, o pemedebista respondeu: "Ficaria muito feliz se tiver porque vai ser do PT. Se o PT for fazer coisa dessa natureza, vai dar mais destaque [ao discurso]".

Sobre o evento na quarta-feira em que ele, o vice-presidente Michel Temer (PMDB) e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), defenderam a candidatura própria do partido em 2018, Cunha afirmou que o PMDB está "doido para cair fora" do governo e só não o faz para evitar uma crise ainda pior no país. "Instabilidade política não é bom para ninguém", declarou.

Apesar de Temer ser o vice-presidente da República e o partido ocupar sete ministérios, para Cunha a sigla não está no governo. "Quem está são os ministros", completou. A estrutura das pastas, segundo ele, são ocupadas por petistas. "PMDB não manda. Fica com o ônus", observou.

Mesmo com críticas ao governo, o pemedebista afirmou não ter convicção de que a rejeição das contas de Dilma referentes a 2014 pelo Congresso Nacional possa sustentar um impeachment, pois o processo não trata do mandato atual. Antes de os parlamentares analisarem o caso, o Tribunal de Contas da União (TCU) deve julgá-lo.

Para ele, a fase de avaliação do TCU está superestimada. "Tem que valorizar a [votação] do Congresso. O TCU é um órgão de assessoramento e dá um parecer, que deveria ser técnico", afirmou. A decisão final, portanto, é política, ressaltou. A partir da primeira semana de agosto a Câmara deve começar a votar as contas de governos de anos anteriores.

Cunha, que tem o hábito de começar a agenda cedo e dormir poucas horas, foi questionado se não perdia o sono por causa da Operação Lava-Jato e afirmou que "quando o avião está taxiando já estou dormindo". "Quem não deve, não teme", disse.

Economia fica estagnada em maio; no ano, contração é de 2,64%, diz Banco Central

• Dados de março e abril foram revisados para baixo, mostrando um quadro pior que o inicialmente estimado pela autoridade monetária

Gabriela Valente – O Globo

BRASÍLIA - Depois de dois meses de retração, a economia brasileira ficou estagnada em maio. Nos cálculos do Banco Central, houve apenas um leve crescimento da atividade de 0,03% no mês: abaixo da expectativa dos analistas do mercado financeiro de alta de 0,1% do IBC-BR, o índice de crescimento do país feito pela autoridade monetária.

Os dados do BC mostram que, nos cinco primeiros meses, a economia brasileira encolheu nada menos que 2,64%. Os técnicos do governo revisaram dados e mostram que a recessão foi maior que percebida num primeiro momento pelo BC.

Segundo os dados da autarquia, a retração da economia em abril não foi de 0,84%, mas de 0,88%. Em março, a atividade econômica caiu 1,53%. No mês passado, o BC já havia revisado o dado para retração de 1,51%. O primeiro dado divulgado pelo Banco Central era de que a queda foi de 1,07%.

Depois dessas revisões, o BC chegou a conclusão que a economia parou de retrair e ficou estagnada em maio. Os dados divulgados na manhã desta sexta-feira refletem uma recuperação pontual da indústria, mas dados frustrantes do comércio.

Na quarta-feira, o IBGE divulgou Pesquisa Mensal de Comércio (PMC) que mostrou que o volume de vendas caiu 0,9% em maio frente a abril. Foi o quarto mês seguido de queda e o pior resultado para maio desde 2001. No ano, as vendas do comércio varejista registram queda de 2%.

Já a produção industrial subiu 0,6% entre abril e maio e quebrou uma sequência de três quedas consecutivas. O resultado foi melhor que as projeções, já que os economistas apostavam em retração. No entanto, o IGBE avisou que o resultado não muda o cenário de retração da indústria. Na comparação com maio de 2014, a produção caiu 8,8%. No ano, a queda é de 6,9%.

Recessão de 2015
A previsão tanto de analistas do mercado financeiro, quanto do governo é que o país comece uma recuperação daqui para frente. No entanto, ninguém acredita que, no fim das contas, o Brasil crescerá em 2015.

A aposta do BC — que consta no último relatório de inflação, divulgado em junho — é que a retração será de 1,1% neste ano. Já o Ministério da Fazenda é mais realista. No último documento oficial, previu uma queda de 1,5% da atividade econômica em 2015.

Para o diretor de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco, Octavio de Barros, os números divulgados nesta sexta-feira pelo BC não alteram a previsão de recessão econômica neste ano. Ele aposta em dados ruins para o segundo trimestre.

“A despeito da alta na margem, o resultado de maio não altera nossa expectativa de retração de 1,3% do PIB no segundo trimestre”, disse em comunicado aos clientes, publicado instantes depois que o BC divulgou seu índice.

Diferenças na metodologia
O “PIB do BC” serve como um indicador antecedente do comportamento da economia. É o que os economistas chamam de proxy. Ele é bem mais simples e calculado de forma mais rápida que o dado oficial do IBGE.

Tanto o IBC-Br quanto o Produto Interno Bruto (PIB) são indicadores que medem a atividade econômica, mas têm diferenças na metodologia. O IBC-Br foi criado pelo Banco Central para ser uma referência do comportamento da atividade econômica que sirva para orientar a política de controle da inflação pelo Comitê de Política Monetária (Copom), uma vez que o dado oficial do PIB é divulgado pelo IBGE com defasagem em torno de três meses.

O indicador do BC leva em conta trajetória de variáveis consideradas como bons indicadores para o desempenho dos setores da economia (indústria, agropecuária e serviços).

Já o PIB é calculado pelo IBGE a partir da soma dos bens e serviços produzidos na economia. Pelo lado da produção, considera-se a agropecuária, a indústria, os serviços, além dos impostos. Já pelo lado da demanda, são computados dados do consumo das famílias, consumo do governo e investimentos, além de exportações e importações.

Economistas apontam, no entanto, que o IBC-Br indica a tendência da atividade econômica, o que ajuda a dar uma avaliação geral do PIB.

Roberto Freire - Convescote às escondidas

O desassombro com que o PT atenta contra as instituições republicanas simboliza à perfeição esses tristes tempos em que vivemos. Como se já não bastasse ter protagonizado os maiores escândalos de corrupção da história do país, como o mensalão e o petrolão, o governo petista não se cansa de demonstrar seu absoluto descaso em relação à independência entre os poderes, como revelou o recente encontro às escondidas entre Dilma Rousseff e o presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski.

Segundo o jornalista Gerson Camarotti, ambos se reuniram secretamente no último dia 7 de julho, em um luxuoso hotel na longínqua cidade do Porto, em Portugal, ao lado do ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, com a desculpa esfarrapada de que tratariam do projeto que reajusta em até 78% os salários dos servidores do Judiciário. Seguindo o padrão moral básico dos governos lulopetistas, tudo foi feito na surdina, sem a transparência e a retidão moral exigidas pelos cargos que ocupam os chefes dos Poderes Executivo e Judiciário.

Não há nada que justifique o convescote secreto do outro lado do Oceano Atlântico, um verdadeiro escárnio, um deboche contra as instituições e a sociedade brasileira. Bastaria que Lewandowski atravessasse a Praça dos Três Poderes e percorresse os pouco mais de 500 metros que separam o Supremo Tribunal Federal do Palácio do Planalto para se reunir com Dilma às claras e tratar do projeto de lei aprovado pelo Senado na última semana. Imaginar que este foi o tema do encontro entre ambos é de uma ingenuidade tão gritante quanto o nível de degradação a que chegaram as relações institucionais entre os chefes de dois Poderes da República.

Acuada em meio às incômodas revelações de quase duas dezenas de delatores no âmbito da Operação Lava Jato, que aproximam cada vez mais o gabinete presidencial do epicentro do petrolão, Dilma Rousseff é hoje uma presidente enfraquecida e sem credibilidade junto à população. Para agravar sua situação, o Tribunal de Contas de União pode emitir um parecer em que recomende a rejeição contas do governo federal em decorrência da prática criminosa das “pedaladas fiscais”, o que abriria caminho para a abertura de um processo de impeachment de Dilma no Congresso Nacional.

Em outra frente, os R$ 7,5 milhões que o empreiteiro apontado como o chefe do cartel que assaltou a Petrobras disse ter desviado para os cofres da campanha da petista à reeleição podem levar à cassação de seu mandato pelo Tribunal Superior Eleitoral e, neste caso, a decisão fatalmente seria contestada por meio de um recurso ao Supremo presidido por Lewandowski. Esse pano de fundo, evidentemente, parece muito mais verossímil como provável assunto abordado no encontro às escondidas em Portugal do que o reajuste dos salários dos servidores do Judiciário, principalmente quando se trata da total falta de escrúpulos do PT no intuito de se perpetuar no poder, mesmo que para tanto tenha de atropelar a Justiça e as instituições democráticas.

Em 13 anos de governo, o legado mais perverso da gestão petista talvez tenha sido o acentuado processo de degradação moral e degeneração das instituições da República, vilipendiadas como nunca antes neste país – para usar expressão que agrada Lula. A falta de decoro, o comportamento antiético e imoral sob todos os aspectos, a corrupção sistêmica e a crença de que é possível enganar a todos durante todo o tempo são algumas das características mais marcantes de um regime que já se esgotou e caminha para o fim. O indecente e antirrepublicano convescote em Portugal é mais um capítulo de um governo manchado pela corrupção e de uma época em que falta grandeza moral e impera a desfaçatez.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Fernando Gabeira - Para sair dessa maré

- O Estado de S. Paulo

A BR-020 é uma estrada radial de longas retas que liga Brasília ao Piauí. Aproveitei o percurso para refletir sobre o rumo dos meus artigos. Vale a pena insistir nos erros de Dilma e do PT, ambos no volume morto? A maioria do povo brasileiro já tem uma visão sobre o tema.

Num hotel do oeste baiano, abri uma revista na mochila e me deparei com uma frase do escritor argelino Kamel Daoud: "Se já não há vida antes da morte, por que se preocupar com a vida após a morte?". Ele se referia à sorte do septuagenário presidente argelino Abdelaziz Bouteflika, internado num hospital de Paris. Mas sua frase é uma pista para buscar outro rumo.

Visitei a cidade de Luís Eduardo Magalhães (BA), um polo do agronegócio. Ali se tornaram campeões mundiais da produtividade nas culturas do milho e da soja. Construíram um aeroporto com uma pista de 2 mil metros, quase o dobro da pista do Aeroporto Santos Dumont. Numa só fazenda, vi uma lagoa artificial maior que a Lagoa Rodrigo de Freitas, no Rio. O número de habitantes ali cresceu 300% em 15 anos. Tudo marchou num progresso acelerado, em níveis chineses – pelo menos os do passado recente. Mas a crise começa a afetar até mesmo essas áreas do agronegócio, que exporta e se favorece com o preço do dólar. Somos todos interligados.

A região depende de um Estado e de um governo federal mergulhados numa grave crise. Mesmo para os que estão bem situados há um desejo de achar o caminho do desenvolvimento, sair dessa maré.

É possível que alguma forma de unidade nacional possa ser alcançada pelos que querem superar a crise. E o ajuste na economia deve ser a base de seu programa. Quando digo alguma forma de unidade nacional, deixo de fora aqueles que ainda creem que um ajuste seja o caminho errado. Gostaria de incluir aqueles que acham o ajuste um caminho certo, mas agem no Parlamento como se não houvesse amanhã: gastos e mais gastos.

O fator Grécia continua perturbando os que romanticamente acham possível desafiar as leis do capitalismo: aqui se faz, aqui se paga. Admiradores de Cuba e Venezuela se voltam, agora, para a Grécia democrática, sem perceber que estão apenas trocando de fracasso econômico.

A realidade impôs à esquerda grega uma tarefa mais árdua do que seus antecessores. O governo teve de passar no Congresso um projeto mais draconiano do que a direita tentou, sem êxito, aprovar. O plebiscito disse não, o próprio governo de Alexis Tsipras disse não e, no entanto, o acordo com a Europa diz sim às condições dos credores.

O que o exemplo mostra também é que, às vezes, saídas românticas podem conduzir a um processo de humilhação nacional. No caso grego, creio, houve uma diferença de tom entre a França latina e a Alemanha. Os franceses acham que os alemães têm um enfoque vingativo. William Waack, que foi correspondente na Alemanha, lembra do fator cultural. Num país de formação calvinista, a palavra dívida é a mesma de culpa: Schuld.

Não creio que as coisas sejam as mesmas entre países tão diferentes como a Grécia e o Brasil. Mas um colapso econômico, com bancos fechados, é sempre uma lição.

Não existe necessariamente uma catástrofe no horizonte brasileiro. Mas seria bom que houvesse uma discussão sobre as premissas para sair da crise e algum compromisso com elas.

A oposição tem seus objetivos eleitorais. Precisa combater o PT. Mas o combate erradamente, quando usa os mesmos métodos do adversário, falando uma coisa, fazendo outra. Buscar uma saída estratégica não jogaria a oposição no volume morto. Muitas pessoas que encontro pelo País estão ansiosas não pela solução imediata da crise, mas por um sentimento de que o barco anda no rumo certo. O grande motor seria a política. A crise econômica depende do impulso favorável do processo político.

Hoje, o quadro é caótico. Dilma, escorregando na rede, na Itália, ilustrou sua própria situação. Meio à Guimarães Rosa, ela disse: "Quando você está lá em cima, você inclina para um lado e, imediatamente, para o outro, você fica balançando mesmo, você consegue se equilibrar. Eu não caí, mas para não cair é preciso ser ajudada". Quem ajudará Dilma a não cair? Por que ajudá-la a não cair? Em respeito aos seus eleitores? Mas eles já a rejeitam há algum tempo.

Há três frentes acossando o Planalto: TCU, TSE e Operação Lava Jato. Isso tem uma certa autonomia, não depende de ajuda. Dilma se encontrou com Lewandowski em Portugal. Supremo e Planalto se encontram, discretamente, em Porto. Não vou especular sobre o que disseram. Lembrarei apenas que se encontraram em Porto no auge da crise.

Mesmo neste caos, é preciso encontrar saídas. Na política, ela passa pela punição dos culpados de corrupção e campanhas pagas por ela. Simultaneamente, precisava surgir algo no Parlamento e na sociedade, um desejo real de superar a crise, uma unidade nessa direção. No momento, estamos saudando a mandioca e vivendo num parlamentarismo do crioulo doido.

Se estivéssemos vendo o Brasil de uma galáxia distante, até nos divertiríamos. Mas eles estão entre nós.

É preciso pensar o pós-Dilma. Ela fala muito em queda, parece preocupada com isso. Não deve doer tanto. Collor caiu e reaparece – como coadjuvante, é verdade – no maior escândalo do século. E muito mais rico: do Fiat Elba ao Lamborghini.

É preciso, pelo menos, pensar o País sem Dilma, deixá-la balançar na etérea sala do palácio, criar uma unidade em torno de um ajuste possível, recuperar o mínimo de credibilidade no sistema político.

Nas eleições, os políticos gostam da imagem de salvador. Isso não existe. Mas, no momento, ao menos poderiam dar uma forcinha criando um pequeno núcleo suprapartidário buscando uma saída, apontando para o futuro. Seria ignorado? Por que não experimentar? Um dos piores efeitos da crise são o desânimo e a paralisia. Por onde ando, vejo um compasso de espera. A maioria sabe que uma pessoa que mal se equilibra não consegue liderar o Brasil durante a tempestade. É preciso extrair as consequências dessa incômoda constatação.

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*Fernando Gabeira é jornalista

Merval Pereira - O país avança

- O Globo

Há sinais claros de que o país, apesar de tudo, move-se à frente, graças às suas instituições democráticas. A Justiça está operando em todos os níveis para que a sensação de impunidade não prevaleça na sociedade; a Polícia Federal e o Ministério Público estão fora da tentativa de controle de setores políticos, do governo ou da oposição; e o próprio ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, teve que explicar ao PT (e parece que já tivera que explicar o mesmo à presidente Dilma) que não tem condições de controlar as investigações.

Somente o hábito ancestral de tudo poder controlar é que explica não apenas a revolta petista com a "falta de controle" dos órgãos de investigação, como a do presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que acusa uma conspiração entre o Palácio do Planalto e o procurador-geral da República para envolvê-lo na corrupção investigada na Lava-Jato.

Uma semana em que dois ex-presidentes da República se tornam alvos de investigação criminal é uma semana a comemorar, não pelo gosto de ver Collor ou Lula tendo que se explicar, mas pelo simples fato de que a Justiça brasileira dá sinais renovados de que não encontra barreiras em poderosos ou milionários.

É de se ressaltar que os ex-presidentes estão sendo investigados não pelo juiz Sérgio Moro, considerado por seus adversários um parcial, mas pelo Ministério Público, e, no caso de Collor, com a autorização de ministros do Supremo Tribunal Federal (STF).

Também são de se comemorar os sinais de que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, o terceiro na linha sucessória presidencial, não mete medo nos procuradores encarregados da Operação Lava-Jato, embora meta medo no empresário Julio Camargo, um dos delatores, que revelou ontem que tinha medo de Cunha, conhecido por ser "extremamente agressivo".

Os relatos que estamos acompanhando desde o começo da Operação Lava-Jato mostram bem o esquema mafioso que controlava a corrupção na Petrobras e adjacências. O empreiteiro Ricardo Pessoa recebeu em sua cela, antes de decidir pela delação premiada, várias cartas escritas como se fossem por uma criança, em que ameaças diversas eram sugeridas.

O remetente, que se identificava como sobrinho (ou sobrinha) de Pessoa, refere-se à cadeia como "hospital" e parece oferecer ajuda a Pessoa: "Eu também já estive doente, fiz uma cirurgia e saí vivo. E a clínica ainda está aberta". O autor insinua que conhece hábitos e receios de Pessoa, faz referências ao fato de ele temer ficar na cadeia de "90 a 180 dias", cálculo que o empreiteiro revelara a pessoas próximas: "A mamãe disse que meu titio vai ficar aí por 90 a 180 dias e aí poderemos brincar".

Em alguns trechos, o remetente parece pedir ajuda a ele: "Titio, me ajude a resolver este quebra-cabeça, peça a ajuda de seus novos amigos doentes". Em outros, uma charada tem no nome Lula a solução. As ameaças eram tão claras que Ricardo Pessoa pediu ajuda à PF, e mais adiante fez uma delação premiada.

É ou não é um relato assustador, de filmes da melhor estirpe da máfia? E o que dizer de o empresário-delator Julio Camargo afirmar que temia que Eduardo Cunha "machucasse" sua família? Aliás, Camargo, a certa altura do depoimento, diz que já fizera aquela declaração denunciando Cunha ao Ministério Público, o que elimina a suspeita de que ele estaria falando pela primeira vez sobre Cunha somente agora.

Sérgio Moro, que o interrogava, cortou sua declaração para não prejudicar a investigação que já corre no Ministério Público, já que na primeira instância não podem ser tratados assuntos referentes a políticos, que têm foro privilegiado e estão sendo investigados sob a supervisão do Supremo.

São momentos tensos, sem dúvida, de uma crise institucional latente que pode ter desdobramentos políticos catastróficos para a nossa incipiente democracia, ou prenunciar uma renovação de nossos hábitos e costumes.

Eliane Cantanhêde - Ruptura

- O Estado de S. Paulo

Alguém achou a coisa mais natural do mundo o PMDB reunir solenemente toda a sua cúpula só para apresentar as novidades digitais do partido para 2016 e 2018? Pois não teve nada de natural. Foi apenas o pretexto para uma comunicação oficial muito mais importante: o descolamento do PT e a ruptura branca com o governo Dilma Rousseff. Toda a linha sucessória da República perfilou-se para o anúncio: o vice-presidente Michel Temer e os presidentes da Câmara, Eduardo Cunha, e do Senado, Renan Calheiros. Para não deixar dúvidas quanto ao significado e à seriedade do gesto, compareceu também o ex-presidente José Sarney. Temer anunciou que o PMDB terá candidato próprio à Presidência em 2018, Renan desdenhou a aliança com o PT como "circunstancial" e Cunha, o mais novo frasista da República, soltou os cachorros.

Para ele, a aliança "já acabou" e o casal "está dormindo em quartos separados". Se todas essas manifestações ocorressem no último ano de governo e às vésperas da sucessão presidencial, ok. Mas no primeiro semestre de mandato?! Não faz sentido (ou, ao contrário, faz todo sentido) que justamente o vice-presidente da República comunique, a três anos e meio do fim do mandato, que a aliança vai terminar. Significa que já terminou, como disse Eduardo Cunha, bem mais belicoso. Ele, aliás, completou o serviço ontem, num café da manhã com jornalistas de diferentes mídias. Com aquele jeitão que Deus lhe deu e que a presidência da Câmara aperfeiçoou, Cunha declarou que o PMDB "está doido para ficar longe do PT, ninguém mais aguenta a aliança com o PT". E sobre o governo Dilma, qual a opinião de Sua Excelência?

Conforme os relatos dos colegas, Cunha previu que o Congresso será "ainda mais duro" depois do recesso e que o governo "não tem maioria": "Finge ter maioria, mas essa maioria só finge que é governo". Cunha só não contava que a nova bomba da Lava Jato explodiria horas depois: a revelação do lobista Julio Camargo de que ele teria pedido US$5 milhões (US$5 milhões !!!) em propina num contrato de navios-sonda com a Petrobrás. Tudo o que Cunha conseguiu dizer, em sua defesa, foi que o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, "obrigou o delator a mentir". Pode uma coisa dessas?

Os implicados querem fazer picadinho de Janot, mas eles é que estão assando na panela. E assim "la nave va", com o governo ainda na metade do primeiro ano e Dilma já às vésperas dos julgamentos de suas contas no TSE e no TCU, as previsões de recessão e de desemprego só piorando e a agência Moody"s com a caneta pronta para, a qualquer momento,rebaixar a nota de investimento do Brasil. E também pairam sobre o País – e sobre o mundo – a crise da Grécia e as incertezas quanto à China.

Desenha-se assim um cenário em que o "aliado" PMDB se tornou o mais ameaçador adversário do PT e do governo e discute à luz do dia o "day after" da deposição de Dilma com ministros e ex-ministros do Supremo, líderes "aliados" ao Planalto e próceres do PSDB. A saída não seria pelo TSE, com a possibilidade de posse do segundo colocado em 2014 ou de novas eleições, porque ambas desembocariam na solução Aécio Neves, mas sim via TCU, que empurraria o imbróglio do mandato de Dilma para o Congresso, ou seja, para o colo do PMDB, que é quem manda e desmanda na Câmara e cada vez mais no Senado.

Conclusão: quando reúne toda a cúpula mais graduada e sela publicamente o descolamento do PT e a ruptura branca com o governo, o PMDB está não só lançando com absurda antecedência a tese da candidatura própria em 2018, mas sim preparando a posse já de Michel Temer. Se é que o PMDB vai sobreviver à crise e à Lava Jato... A posse de Temer, portanto, pode ser uma saída política, não uma solução para duas emergências: a economia esfarelando e a possibilidade crescente de prisões de ex-ministros e de batida policial na residência oficial do presidente da Câmara e até na do presidente do Senado. Mas antes das 6 da manhã, combinado?