Um dos líderes do movimento pelas Diretas diz que Bolsonaro fala demais e critica falta de consistência de Luciano Huck
Paula Sperb | Folha de S. Paulo
XANGRI-LÁ (RS) - Os carros passam mais devagar em frente à casa de varanda ampla a poucas quadras do mar. A baixa velocidade é para que consigam enxergar o morador, o ex-senador Pedro Simon (MDB), que completa 90 anos na próxima sexta-feira (31).
O gaúcho responde aos acenos levantando o braço. Foram ao menos dez cumprimentos em uma hora de entrevista, incluindo os apertos de mão na beira da praia de Rainha do Mar, em Xangri-lá, onde "veraneia" há pelo menos 50 anos.
Seu aniversário será celebrado no dia 1º, em Capão da Canoa, mesma cidade litorânea onde liderou a passeata das Diretas-Já em 1984, com cerca de 50 mil pessoas em um domingo de verão.
Nascido em Caxias do Sul, onde iniciou sua vida política como vereador, foi deputado estadual, governador, ministro e senador. De 1979 a 2015, Simon só não se elegeu para o Senado quando foi eleito governador.
O emedebista tem viajado pelo Brasil para realizar palestras gratuitas para estudantes. Seu livro de cabeceira é a Bíblia, que alterna com leituras sobre atualidades. Incentivado pela mulher Ivete Fülber Simon, ele pratica pilates, vai à academia e sobe e desce seis lances de escadas do seu apartamento, no bairro Petrópolis, em Porto Alegre.
Lembrado especialmente por sua atuação pela redemocratização, Simon acredita que, sob o governo Jair Bolsonaro, a "democracia está bem". Diz que votou em branco pela primeira vez em 2018 e negou ter dado "apoio crítico" a Bolsonaro, como o MDB gaúcho no segundo turno.
• Depois de sua luta pela redemocratização, como o senhor avalia o Brasil de hoje? A democracia vai bem ou mal?
A democracia está bem. Tivemos os governos do PT, que todo mundo se assustava. "O Lula, que vai implantar o comunismo, o não sei o quê", diziam. Sob o ponto de vista institucional, ele se saiu bem.
Teve o [Fernando] Collor, um cara todo complicado, cassado pelo impeachment. Saiu o impeachment, a normalidade democrática continuou. O Itamar [Franco] foi um governo espetacular. Veio o Lula, o afastamento da Dilma [Rousseff], que não foi por corrupção, foi por não cumprir regras da administração pública.
Agora veio o Bolsonaro. Sob o ponto de vista institucional, estamos bem. Sinceramente, estamos bem. As reformas estão saindo, é altamente positivo. Uma das coisas que gostei do Bolsonaro, quando assumiu, foi convidar o [Sergio] Moro e dizer: "Vai ser meu ministro da Justiça e da Segurança, ele vai ter plena e total [autonomia] e pode até ser meu filho [investigado], eu compreendo". Agora, no dia a dia que estamos vivendo, a coisa está um pouco diferente. O filho do Bolsonaro [Flávio] está em uma confusão enorme e, em função disso, o Bolsonaro não está tendo mais aquela firmeza que ele tinha com relação ao Moro.
• O que o senhor pensa sobre Bolsonaro?
Ele fala demais e fala equivocado. Ele diz algumas coisas que não precisava dizer.
Ele criou um problema com os israelitas, falou que ia transferir a embaixada de Tel Aviv para Jerusalém. Ele fez a confusão com o presidente norte-americano, que matou o general do Irã. Essas confusões que ele faz, ele não está sendo feliz.