DEU EM O GLOBO
O diagnóstico do líder do governo Romero Jucá de que o PMDB, antes de ser a solução, pode ser o grande problema para a montagem da chapa oficial à sucessão de Lula, é o mais fiel retrato de nosso presidencialismo de coalizão. Maior partido do Congresso, o que tem o maior número de prefeitos e vereadores no país, e com 9 governadores, o PMDB não consegue se unir para lançar um candidato próprio desde que cristianizou sucessivamente Ulysses Guimarães e Orestes Quércia.
Mas nenhum presidente eleito consegue governar sem um bom acordo com o PMDB, mesmo que não tenha sido apoiado oficialmente por ele na eleição presidencial.
Apoio, aliás, que não garante que a extensa e eficiente máquina partidária trabalhará integralmente pelo candidato oficial do partido.
Isso quer dizer que mesmo que a convenção, no segundo semestre do próximo ano, confirme o acordo político que está sendo costurado agora, o PMDB pode dar o vice-presidente da chapa oficial, mas certamente não estará integralmente ao lado da ministra Dilma Rousseff na campanha eleitoral.
Foi o que aconteceu, por exemplo, na eleição de 2002, quando o PMDB deu o vice, a deputada Rita Camata, mas não se empenhou na campanha do tucano José Serra.
Existe sempre ainda a possibilidade, que não é pequena, de a cúpula do partido simplesmente não ter condições de entregar ao governo o apoio formal, pois no PMDB quase sempre não há maiorias para uma definição.
A situação atual é exemplar do estado de espírito permanente desta grande federação de líderes regionais.
A direção nacional, capitaneada pelo deputado federal Michel Temer, quer formalizar o apoio, o que daria a ele a vice-presidência na chapa oficial e ao governo 5 minutos diários de propaganda de televisão.
Teoricamente esse apoio formal viria acompanhado da máquina partidária, a mais capilarizada do nosso sistema partidário, o que é fundamental nas eleições presidenciais, especialmente quando se trata de conseguir os votos do interior do país.
Mas essa máquina tão impressionante, que atrai a cobiça de todos os candidatos a presidente, nunca está integralmente à disposição do candidato escolhido, e nada indica que estará desta vez, mesmo com toda a força popular do presidente Lula.
Há setores importantes do partido que já estão comprometidos com a candidatura da oposição, como a seção paulista do PMDB, comandada por Orestes Quércia, que apoia o governador José Serra, ou a de Pernambuco, com o senador Jarbas Vasconcellos. Ou a do Rio Grande do Sul, capitaneada pelo senador Pedro Simon.
E há os estados que, em disputa acirrada com o PT, podem acabar indo para a oposição, em vez de servirem de segundo palanque para a candidata oficial Dilma Rousseff.
A Bahia, do atual ministro Geddel Vieira Lima, e Minas Gerais, do atual ministro Hélio Costa, são bons exemplos de estados fortes comandados pelo PMDB que não estão confortáveis com as alianças regionais.
Há ainda uma terceira face peemedebista, que defende a candidatura própria, que já lançou o governador do Paraná Roberto Requião. Nada indica que exista espaço para uma aventura desse tipo, que já foi tentada em outras ocasiões, sem sucesso, pelo ex-presidente Itamar Franco ou pelo ex-governador Garotinho.
Mas esse movimento é um claro indício de que mais setores peemedebistas não se satisfazem com o apoio à candidata oficial Dilma Rousseff.
Por seu turno, a oposição, na impossibilidade de vir a ter o apoio formal do PMDB, trabalha para impedir que a convenção oficialize o acordo que já foi acertado.
Na pior das hipóteses, consegue que o tempo de propaganda da televisão e do rádio que cabe ao PMDB seja dividido por todos os candidatos, sem engordar apenas a cota da candidatura oficial.
Mas não basta à oposição neutralizar os acordos do governo com sua base aliada, ela precisa ampliar seus pontos de apoio, sob pena de ficar não apenas com menos tempo de propaganda oficial na televisão, como também sem máquina partidária para trabalhar por seu candidato.
A base de apoio do PSDB, apenas com o DEM e o PPS, é muito frágil diante da ampla coalizão que está sendo montada pelo governo.
As negociações regionais estão começando a ser montadas, e não há uma definição do candidato oposicionista que sirva de atrativo para os partidos que não conseguem se entender com o PT.
Mesmo com o presidente Lula fazendo o meio de campo, está difícil chegar a um acordo em alguns estados, e o temor dos aliados, sobretudo as pequenas siglas, é de que, sem a intermediação de Lula, o PT tente ampliar seu espaço dentro da coalizão.
Mais do que para os eleitores, será para os políticos e seus partidos que a mensagem oposicionista realçará o perigo que representa um PT sem quem o controle.
Mas para que o passo seguinte seja dado, isto é, que partidos da base aliada sejam compelidos a deixar a proteção governamental para se aventurar na oposição, é preciso que se defina o candidato oposicionista e que este comande as negociações dos palanques regionais.
Os pré-candidatos tucanos já estão fazendo essas negociações, mas nenhum deles pode assumir compromissos definitivos.
Por isso as pressões para que seja antecipada a definição da candidatura, o que vem sendo reivindicado pelo governador mineiro Aécio Neves.
Tudo indica que ele terá essa primeira vitória.
Mas, no final das contas, quem sairá vencedor, seja qual for o resultado das negociações com governo ou oposição, será sempre o PMDB.