quarta-feira, 6 de agosto de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

Criaram agora a farsa dos interrogatórios dos denunciados, depoentes e testemunhas. As perguntas e respostas preparadas pelos aloprados reafirmam, mais uma vez, o caráter deletério do PT, que desmoraliza as instituições democráticas e republicanas.

As oposições estão corretas ao exigir a destituição do relator e uma investigação efetiva sobre os parlamentares e funcionários do Senado e do governo Dilma envolvidos nesta operação velhaca.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, em Brasília, 04 de agosto de 2014.

CPI da Petrobras - Senado cria sindicância para apurar fraudes

• Por decisão de Renan, comissão de sindicância vai apurar denúncias de fraude; PF analisa caso

Cristiane Jungblut – O Globo

Perguntas combinadas

BRASÍLIA - O Senado e a Polícia Federal vão analisar as denúncias de que os depoimentos de dirigentes da Petrobras na CPI do Senado sobre a estatal foram previamente combinados com assessores da liderança do PT, inclusive com a participação de um servidor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), criou ontem uma comissão de sindicância para apurar as denúncias, e disse que a CPI deverá continuar funcionando.

Já o presidente da CPI da Petrobras e da CPI Mista, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), disse que foi à Polícia Federal ontem de manhã e pediu a investigação policial das denúncias. A PF não quis dar informações sobre o caso. Antes de abrir inquérito, a PF vai analisar que crimes podem ter sido cometidos. Na representação apresentada ao Ministério Público anteontem, a oposição pediu que fosse apurada suspeita de violação de sigilo funcional e advocacia administrativa. A Procuradoria Geral da República ainda analisa o pedido.

Segundo assessores de Renan, a comissão de sindicância será formada por três servidores do Senado. As investigações terão prazo de 90 dias. Mas Renan avisou que pedirá pressa nas apurações, com uma conclusão antes dos três meses do prazo oficial. Renan disse considerar as denúncias "muito graves". Mas disse quem não há razão para suspender os trabalhos da CPI, como quer a oposição.

- A CPI é uma instituição que não pode sair arranhada. A CPI é um instrumento fundamental de fiscalização. Não precisa suspender nada, absolutamente. Precisamos apurar absolutamente tudo que foi denunciado, para esclarecer os fatos e estabelecer todas as responsabilidades - disse Renan.

Vital do Rêgo explicou o que pediu à Polícia Federal:

- Fui à PF e pedi providências. Precisamos saber se a prova (o vídeo divulgado pela revista "Veja" da reunião em que funcionários da Petrobras falam sobre os depoimentos combinados) envolve pessoas do Senado. Também pedi uma sindicância interna.

Relator do PT se defende em plenário
Mas Vital afirmou que quer encerrar os trabalhos da CPI dentro no prazo de 30 a 45 dias, ou seja, antes das eleições. O senador negou a suspensão dos trabalhos este mês, como queriam senadores de oposição. Ele alegou que a oposição nunca participou da CPI, e agora não pode reclamar.

- Não devemos politizar a situação. A oposição boicotou a CPI o tempo todo. Dentro de um mês, um mês e meio, quero encerrar os trabalhos - disse.

Em plenário, o relator da CPI da Petrobras, José Pimentel (PT-PE), fez uma defesa de sua atuação e disse que as perguntas foram previamente definidas no plano de trabalho na CPI e eram de conhecimento público. A própria Petrobras informou anteontem, em nota, que encontrou as perguntas do site do Senado. Pimentel anunciou ainda que, via CPI, vai requisitar a íntegra do vídeo sobre o ensaio dos depoimentos, afirmando que ele "foi editado".

De acordo com a reportagem da revista "Veja", os dirigentes da Petrobras recebiam com antecedência as perguntas que seriam feitas pelos parlamentares governistas, para não serem pegos de surpresa. Renan Calheiros informou que decidiu abrir a sindicância a pedido de Vital do Rêgo. Segundo a assessoria da presidência do Senado, o ato de criação da sindicância foi assinado ontem mesmo.

Pimentel disse que as perguntas aos dirigentes e ex-dirigentes da Petrobras faziam parte do seu plano de trabalho e que todas as suas ações foram e são aprovadas pelo conjunto da comissão.

- O que este relator faz é cumprir integralmente as decisões tomadas no plenário daquela CPI. O plano de trabalho aprovado, por unanimidade, pela Comissão Parlamentar de Inquérito já continha uma relação prévia de perguntas a serem dirigidas aos depoentes e, da mesma forma, uma relação daqueles que deveriam ser convocados em cada eixo de investigação. Logicamente, os convocados poderiam se preparar melhor, com histórico e dados, sobre as questões ali adiantadas. O plano de trabalho, naquele dia, foi tornado público - disse Pimentel.

Ele acrescentou que o ex-presidente da Petrobras José Sérgio Gabrielli depôs no dia 20 de maio e o suposto gabarito com as respostas preparadas previamente teria sido divulgado no dia 21.

- As perguntas já tinham sido respondidas pelo senhor Gabrielli em audiência pública - disse Pimentel.

Segundo ele, a CPI realizou, em 82 dias de trabalho, 11 reuniões, das quais nove foram audiências públicas de depoimentos.

Para reforçar os pedidos de investigação, ontem, o vice na chapa do candidato à Presidência Aécio Neves (PSDB), senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), enviou ofício ao ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, pedindo investigações. Também pediu à OAB que apure a conduta dos advogados Leonan Calderaro Filho e Bruno Henrique de Oliveira Ferreira, funcionários da Petrobras, acusados de participarem da combinação prévia.

Advogado teria feito gravações
Integrantes da oposição suspeitam que Bruno Ferreira tenha feito as gravações. No vídeo divulgado pela revista "Veja", a voz de Bruno é a que tem o volume de áudio maior, o que indicaria que ele estava portando a câmera escondida ou muito próximo ao microfone do equipamento de gravação. Os funcionários da estatal foram procurados ontem pelo GLOBO, mas o escritório da estatal em Brasília informou que eles não estavam na cidade.

Entre os pedidos da oposição estão o do coordenador jurídico da campanha de Aécio, deputado Carlos Sampaio, que entrou com representações no Conselho de Ética contra os senadores José Pimentel (PT-CE) e Delcídio Amaral (PT-MS) por quebra de decoro parlamentar. Os dois serão alvo de representação junto à Procuradoria Geral da União da União. A CPI da Petrobras do Senado foi criada dia 14 de maio e teria prazo até novembro para ser encerrada.

Para líder do PT, trocar informações 'é natural' e denúncias são 'bobajada'

• Senadores petistas e tucanos batem boca no plenário do senado

- O Globo

BRASÍLIA - O plenário do Senado virou palco de uma troca de acusações entre parlamentares de PT e PSDB sobre as denúncias de farsa em depoimentos na CPI da Petrobras. O líder do PT, Humberto Costa (PE), partiu para o ataque. Disse que é "absolutamente natural" assessores das lideranças dos partidos prepararem autoridades da Petrobras para os depoimentos, e acusou o PSDB de fazer o mesmo na CPI do Cachoeira, ao preparar o depoimento do então governador de Goiás, Marconi Perillo. Segundo o líder do PT, a oposição quer "envolver Dilma" e não investigar nada.

- É absolutamente natural que haja trocas de informações institucionais entre as assessorias da CPI e das lideranças dos partidos com a empresa. Isso acontece em qualquer CPI, em qualquer comissão. O próprio PSDB trabalhou arduamente para blindar Perillo, para evitar perguntas que o constrangessem. O PSDB preparar seu governador para vir à CPI não é um procedimento normal? Ele não recebeu informações do Senado para vir aqui? Qual o crime? O PSDB ainda veio nos pedir para termos civilidade. Talvez esteja com a memória turvada pelas conveniências eleitorais - disse Costa.

O senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB-SP), candidato a vice-presidente de Aécio Neves, reagiu e chegou a elevar o tom de voz ao ouvir Costa acusar os tucanos de terem pensando em privatizar a Petrobras na gestão do ex-presidente Fernando Henrique (PSDB).

- Isso é mentira! Mentira! - protestou Aloysio.

O relator da CPI, José Pimentel (PT-CE), defendeu-se:

- Jamais cometeria qualquer ato que viesse a envergonhar as famílias cearenses ou os meus pares do Congresso.

Humberto Costa disse que as denúncias são frágeis.

- Do ponto de vista político, as informações veiculadas são um ajuntamento de tolices, uma bobajada que não serve a outra coisa senão a alimentar a pauta de uma oposição ociosa e sem propostas - disse: - Essa aqui é uma casa política, não uma delegacia de polícia. Estamos aqui para investigar, mas também para defender o governo que está aí e que elegemos. Qual a farsa? Qual a fraude nisso? Estão querendo criar uma cortina de fumaça, uma montanha de espuma em mais um escândalo.

A senadora petista Gleisi Hoffmann (PR) citou um artigo de jornal que afirma que a Petrobras "sangra enquanto serve de pasto eleitoral". Aloysio Nunes rebateu:

- Mas quem está pastando na Petrobras são pessoas indicadas pelo governo do PT para promover negócios lesivos ao patrimônio da empresa. Quem está sangrando a Petrobras é sua gestão temerária. O que para mim é escandaloso é a combinação. O que se fez aqui foi apenas um jogo combinado.

O ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria Geral da Presidência, disse não ter visto farsa nos depoimentos da CPI. Ele afirmou que o grave teria sido impedir a oposição de fazer perguntas, o que não aconteceu. Segundo o ministro, a oposição boicotou a comissão:

- É um assunto eminentemente do Congresso. O grave teria sido se houvesse alguma obstrução a eventuais perguntas que a oposição poderia ter formulado

Bens de Graça Foster devem ser bloqueados hoje pelo TCU

• Falha deixou presidente da estatal fora da relação de responsáveis por Pasadena

Eduardo Bresciani - O Globo

BRASÍLIA - O Tribunal de Contas da União (TCU) discutirá hoje se inclui a presidente da Petrobras, Graça Foster, na relação de responsáveis pelo prejuízo pela compra da refinaria de Pasadena, nos EUA, e se estenderá a ela o bloqueio de bens determinado em relação aos outros diretores da estatal responsabilizados anteriormente. Apesar da substituição de três ministros em relação ao último julgamento, a tendência é de inclusão de Graça na relação.

A Petrobras já recorreu ao Supremo Tribunal Federal (STF), em nome de seus diretores e ex-diretores, questionando a medida relativa aos bens. O TCU argumentou que ela é fundamental para garantir o ressarcimento aos cofres públicos do prejuízo, estimado em US$ 792,3 milhões.

O GLOBO revelou que, por um erro do próprio TCU, Graça Foster acabou de fora da lista de responsáveis aprovada há duas semanas. Os ministros consideraram que a decisão tomada em 2009 pela diretoria executiva da estatal, de não cumprir a sentença arbitral que obrigava a Petrobras a compra a segunda metade da refinaria, ampliou o prejuízo da compra em US$ 92,3 milhões. Na hora de apontar os integrantes da diretoria, porém, foram incluídos Ildo Sauer e Nestor Cerveró, que já tinham sido substituídos por Graça Foster e Jorge Luiz Zelada, um ano antes da decisão.

A Secretaria de Controle Externo de Estatais do TCU confirmou o equívoco, e encaminhou ao relator, ministro José Jorge, um texto sobre a correção. Além de Graça e Zelada, deverão ser incluídos no rol os ex-presidentes da Petrobras América, Alberto da Fonseca Guimarães e José Orlando de Azevedo. 

Planalto controlou perguntas e ações da CPI da Petrobras

• Número 2 de ministro coordenou com Petrobras e PT estratégia no Senado

• PT compartilhou com o governo mais de cem perguntas preparadas para comissão que investiga a estatal

Andréia Sadi e Natuza Nery – Folha de Paulo

BRASÍLIA - Assessores do Palácio do Planalto coordenaram a atuação da Petrobras e da liderança do PT no Senado durante as investigações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada para examinar os negócios da estatal.

O encarregado do trabalho foi o número 2 do ministro Ricardo Berzoini, chefe da Secretaria de Relações Institucionais do Planalto, responsável pela articulação política do governo com o Congresso.

Segundo a Folha apurou, o secretário-executivo do ministério, Luiz Azevedo, ajudou a elaborar o plano de trabalho apresentado pela comissão em maio, que incluía um roteiro para a investigação e sugestões de perguntas.

Azevedo foi o estrategista escalado pelo governo para blindar a presidente Dilma Rousseff e evitar que o trabalho da CPI atingisse a atual diretoria da Petrobras. Seu papel era fazer a interlocução com a empresa estatal e afinar a tática governista na CPI.

Além de Azevedo, o Planalto destacou ainda Paulo Argenta, outro assessor de Berzoini, para evitar que a CPI saísse do controle ou causasse sobressaltos ao governo.

Para a oposição, que não participa da CPI, o roteiro de uma investigação parlamentar deveria ser definido por seus próprios integrantes, sem interferência do governo.

Reportagem publicada pela revista "Veja" nesta semana diz que a presidente da Petrobras, Graça Foster, e ex-diretores da estatal receberam antecipadamente as perguntas que responderiam na CPI.

A empresa afirma que só teve acesso antecipadamente às perguntas apresentadas pela comissão com a divulgação de seu plano de trabalho.

A Folha apurou que o governo também discutiu com assessores do PT no Senado e o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Barrocas, a conveniência da aprovação de requerimentos específicos da comissão.

Os assessores do Planalto pediram que a CPI não votasse vários requerimentos que poderiam criar embaraço para a Petrobras e o governo.

Azevedo e Argenta tiveram acesso antecipado às perguntas que o relator da comissão, José Pimentel (PT-CE), faria aos executivos sobre contratos suspeitos aprovados pelo conselho da companhia.

A Folha apurou que mais de cem perguntas preparadas para a CPI foram compartilhadas pelo PT com o governo. Os participantes da operação ouvidos pela Folha negam ter repassado as perguntas a dirigentes da Petrobras.

Os lotes com as perguntas foram entregues ao Planalto por Marcos Rogério de Souza, assessor da liderança do PT no Senado.

O governo argumenta que qualquer parlamentar tem direito de inquirir depoentes e que a bancada oposicionista boicotou os trabalhos da CPI.

A Secretaria de Relações Institucionais informou que faz parte de suas atribuições, "portanto dos servidores mencionados, acompanhar as atividades legislativas, inclusive as Comissões Parlamentares de Inquérito".

Nova CPI
Numa tentativa de abafar o barulho que a oposição tem feito com suas críticas à CPI da Petrobras, o PT articulou a instalação nesta quarta-feira (6) de uma nova CPI para investigar o cartel de empresas acusado de fraudar licitações do Metrô de São Paulo.

Composta por deputados federais e senadores, a comissão tem potencial para criar desgaste para o PSDB, que governa São Paulo há quase duas décadas e é o partido do principal rival de Dilma Rousseff na corrida presidencial, o senador Aécio Neves (MG).

Colaborou Gabriela Guerreiro, de Brasília

Para FHC, Petrobrás e Congresso devem explicações sobre CPI

• Ex-presidente afirma que, se combinação de perguntas e respostas for confirmada, parlamentares estão participando de 'uma farsa'

José Roberto Castro - Agência Estado

O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta terça-feira, 5, que cabem à Petrobrás e ao Congresso dar explicações sobre a denúncia de suposta combinação de perguntas e respostas entre integrantes da CPI instalada no Senado e a cúpula da estatal. O tucano disse que, caso fique provado o envio prévio dos questionamentos, o Congresso estará participando de uma "farsa".

"Não é o governo, é a Petrobrás que tem que dar explicações e o Congresso. Realmente o Congresso tem que explicar. Se isso for assim, o Congresso está participando de uma farsa, o que é inaceitável", afirmou FHC. Nessa segunda, 4, questionada sobre o caso, a presidente Dilma Rousseff disse que o Congresso Nacional deveria responder sobre o caso. Perguntado sobre um possível aparelhamento da Petrobrás, FHC disse que ele não visa beneficiar exatamente o governo, mas os partidos aliados.

Na edição desta terça, o Estado revelou que o encontro que discutiu perguntas e respostas de interrogados na Comissão do Senado foi realizado em sala anexa à da presidente da empresa, Graça Foster. A reunião foi filmada e as imagens foram reveladas pela revista Veja. A Petrobrás se defende afirmando que as perguntas eram públicas e foram disponibilizadas no site do Senado. A CPI foi criada para investigar a compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), pela estatal brasileira.

O presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), pediu abertura de sindicância para apurar o envolvimento de servidores e senadores, além de investigação pela Polícia Federal.

Lula. Fernando Henrique falou ainda sobre sua relação com seu sucessor Luiz Inácio Lula da Silva, de quem disse que não se considera inimigo. Respondendo a uma pergunta do programa humorístico CQC, o tucano disse que convidaria o petista para assistir a um jogo do Corinthians em sua casa. "Eu nunca o considerei inimigo político, esse negócio de inimigo quem gosta é o Lula, o nós e eles."

Nas últimas semanas, os presidentes de honra dos dois partidos que polarizam há 20 anos a disputa política no Brasil trocaram farpas pela imprensa. FHC escreveu um artigo criticando a postura Lula durante o período eleitoral. Perguntado sobre o que achava do texto, Lula se limitou a dizer que não lia Fernando Henrique Cardoso. "Somos todos brasileiros, é um concorrente, espero que ele veja assim e não fique com essa história de nós e eles".

Lula é mais hábil com Congresso, avalia FHC
O ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse nesta terça-feira que Luiz Inácio Lula da Silva teve "mais sorte" durante seu período de governo do que Dilma Rousseff. A declaração foi dada após um questionamento do programa humorístico CQC, que queria saber quem FHC considerava melhor presidente entre os dois petistas.

"Acho difícil uma avaliação desse tipo. O Lula teve mais sorte, pegou a economia crescendo. Ela pegou a economia baixando. O Lula é mais hábil com o Congresso, mas tem uma certa tendência a se aliar com determinados setores que eu acho que a Dilma preferiria não se aliar", comentou o tucano após palestra no evento GreenBuilding Brasil em que falou de desenvolvimento sustentável.

Sobre a relação entre seu partido e o PT, Fernando Henrique Cardoso disse que gostaria que houvesse entendimento em alguns casos. "Há certas questões que o povo precisa de todo mundo e que não dá pra ficar fazendo picuinha. Infelizmente não é a visão que o PT tem". Perguntado pelo programa humorístico se o PT "ameaça a democracia brasileira", FHC disse que não. "Não vou a tanto".

Senado vai abrir sindicância para apurar suspeita de fraude em CPI

• Presidente da Casa, Renan Calheiros (PMDB-AL), determina investigação sobre denúncias de combinação de perguntas e respostas entre integrantes da comissão e cúpula da estatal

Ricardo Brito - Agência Estado

BRASÍLIA - O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), afirmou nesta terça-feira, 5, que determinou a abertura de uma comissão de sindicância para apurar as suspeitas de que houve uma combinação de perguntas e respostas entre integrantes da comissão e a cúpula da estatal. O caso veio à tona no último final de semana, após a revista Veja ter revelado um vídeo no qual depoentes representantes da Petrobrás conversam sobre o "gabarito" das apurações.

Renan disse ter determinado a abertura da apuração interna para esclarecer todas as responsabilidades do episódio. A gravação aponta que poderiam estar envolvidos parlamentares e assessores técnicos da CPI - que negam as acusações.

O presidente do Senado descartou a suspensão dos trabalhos durante as investigações. "Não precisa suspender nada absolutamente. Precisamos apurar absolutamente tudo o que foi denunciado", disse, ao destacar que a CPI é um instrumento que não pode sair arranhado.

Fora dos microfones, perguntado se as denúncias são graves, o presidente do Senado assentiu com a cabeça que sim.

Também nesta terça, o presidente da CPI, senador Vital do Rêgo (PMDB-PB), pediu investigação do caso à Polícia Federal.

João Bosco Rabello: CPIs no palanque

-O Estado de S. Paulo

Mesmo com as CPIs sob controle, o governo não conseguirá evitar que os escândalos na Petrobrás, centrados, por ora, em duas refinarias – a de Pasadena, nos Estados Unidos, e a Abreu e Lima, em Pernambuco, subam ao palanque com forte apelo negativo.

Não faltou empenho ao Palácio do Planalto para reduzir os danos políticos que os dois casos produzem, mas a estratégia escolhida – talvez, a única que restasse -, exibiu o medo do governo com as revelações de enredos comprometedores.

A fuga da investigação foi um patrocínio caro do Planalto, de retorno pequeno. Não só porque as duas comissões – da Câmara e Senado – não eram as únicas fontes de informação sobre os episódio, , mas também porque o próprio governo meteu os pés pelas mãos ao executar a blindagem da Petrobrás no Congresso.

O desgaste que já era grande com as manobras explícitas para transformar a CPI do Senado em chapa-branca e, mais tarde, para bloquear a oposição na Mista, sediada na Câmara, aumentou com a revelação da revista Veja, de que os depoimentos dos convocados foram combinados com parlamentares da base aliada.

A revelação da revista expõe mais uma vez o governo como fonte da própria denúncia, como deixa claro o vazamento do vídeo que a comprova, só possível a quem participava da reunião como integrante da farsa em construção no edifício da Petrobrás, em Brasília.

Essa denúncia partiu, pois, de dentro do governo, assim como o escândalo da refinaria de Pasadena, objeto principal das CPIs, tomou forma a partir de uma acusação da presidente da República à diretoria da Petrobrás, de manipular o Conselho, por ela presidido, para que aprovasse a operação.

Tem sido essa a regra no governo, o que desmoraliza a teoria conspiratória que atribui à mídia perseguição ideológica, um recurso permanente que emprega para desqualificar o mensageiro, mais das vezes portador de denúncias produzidas no âmbito do próprio governo ou do partido que o sustenta, o PT.

O mensalão tem origem em denúncia de um de seus integrantes, o ex-deputado Roberto Jefferson, cujo partido, o PTB, deixara de receber a quantia combinada para financiamento das campanhas de seus filiados. Ao exercer a cobrança, foi alvo de denúncia de suborno nos Correios, que ele identifica no PT. A partir daí, foi o que se sabe.

Mesmo assim, o ex-presidente Lula, que o reconheceu o esquema no início e chegou a pedir desculpas públicas, hoje diz que o caso não existiu e foi um golpe da mídia com as elites. A sucessão de malfeitos, porém, tirou eficácia a esse método, como fica patente na relação de causa e efeito entre a perda de capital político do PT e o desfecho do mensalão, que levou à prisão seus principais dirigentes históricos.

Tudo indica que assim como na economia, no campo político o recurso à terceirização da culpa não produz resultados como pretendia o PT. A queda da presidente Dilma Roussef nas pesquisas, tanto na aprovação de governo quanto na intenção de voto, é uma contundente demonstração do contribuinte de que identifica no governo – e em ninguém mais – a gestão precária do país, que gerou os protestos de junho do ano passado.

A insistência no método de negação custa ao governo hoje o cenário de quase nenhuma alternativa eleitoral consistente. Não pode ser propositivo porque implicaria em explicar as mudanças como reconhecimento de erros e a presidente não parece disposta a mudar suas convicções na área econômica.

Não o fazendo, mantém não mais a desconfiança, mas a certeza dos agentes econômicos de que um novo mandato representará mais do mesmo. A essa altura, qualquer gesto da presidente está comprometido pela corrosão da confiança dos investidores, sem os quais não reativa a economia.

Planalto convoca base para conter crise da CPI

• Enquanto a oposição cobra investigações sobre supostos depoimentos combinados com diretores da Petrobras, aliados negam que tenha havido fraude no colegiado

Paulo de Tarso Lyra, Étore Medeiros – Correio Braziliense

Senadores da base do governo dedicaram boa parte do dia de ontem para defender a CPI da Petrobras das denúncias de depoimentos combinados, com distribuição de "gabaritos" aos depoentes. A atuação da base aliada, feita em sintonia com a orientação dada pelo Palácio do Planalto, é apenas a ponta do iceberg das movimentações governistas para contornar a denúncia. O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), determinou ontem a instalação de uma sindicância para apurar a participação de assessores da Casa na suposta troca de informações com a Petrobras.

Contrariando a oposição, no entanto, Calheiros repudiou uma possível suspensão dos trabalhos da CPI devido às denúncias. "Não precisa suspender nada. A CPI é uma instituição que não pode sair arranhada", defendeu. A sindicância foi pedida a Renan pelo peemedebista Vital do Rêgo (PB), que preside a CPI do Senado e a Mista.

O senador paraibano esteve na manhã de ontem na Polícia Federal, onde também pediu investigações sobre as denúncias. Rêgo disse não ver razões para suspender as atividades das comissões. Com a cabeça pedida pela oposição, o relator da CPI do Senado, José Pimentel (PT-CE), se defendeu no plenário, alegando que nunca se reuniu com depoentes ou orientou a inquirição de investigados.

"É bom que a Polícia Federal investigue, pois ela vai identificar de pronto que não há nenhum crime", garantiu o líder petista no Senado, Humberto Costa (PE). "Onde está o erro em funcionários da Petrobras fornecerem à CPI informações com base em questões formuladas pela assessoria da comissão?", questionou no plenário da Casa.

Toda a operação até o momento está sendo acompanhada de perto pelo governo. O Planalto suspeita de que o responsável pela gravação da reunião, na sede da Petrobras, tenha sido o advogado Bruno Ferreira, mas ainda não sabe as razões que o levaram a fazer isso. A dedução baseou-se no fato de que tanto o chefe de gabinete da Petrobras em Brasília, José Barrocas, quanto o chefe do departamento jurídico, Leonam Calderaro Filho, são de confiança da presidência da empresa e não teriam razões para gravar o encontro.

O governo deve mobilizar a tropa de choque no Congresso para evitar a convocação do ministro da Secretaria de Relações Institucionais, Ricardo Berzoini, para explicar a participação do assessor Paulo Argenta na combinação das perguntas à CPI.

O Correio apurou que, ao longo da segunda-feira, os articuladores políticos do governo conversaram diretamente — seja pessoalmente, seja por telefone — com o senador José Pimentel e com representantes da Petrobras. As conversas serviram para dar o tom das notas oficiais divulgadas para tentar pôr água na fervura da crise. Para um aliado de Dilma, é fundamental abafar a crise política a dois meses das eleições.

No plenário, Aloysio Nunes (PSDB-SP) interrompeu Humberto Costa algumas vezes, aos gritos de "mentira", quando o petista acusou os tucanos de terem tentado privatizar a Petrobras. Depois, Nunes, que é vice na chapa presidencial de Aécio Neves (PSDB), concordou que é natural que a base defenda o governo dentro da CPI. Para ele, o "inadmissível é fraudar o propósito investigativo de uma CPI", "com o objetivo de blindar a presidente Dilma Rousseff".

Na CPI mista, como o Correio mostrou ontem, muitas das perguntas feitas por Marco Maia, relator da CPI de deputados e senadores, à presidente da Petrobras, Graça Foster, na sessão de 11 de junho, são idênticas às que haviam sido feitas por Pimentel no Senado, onde Foster já depusera. "A assessoria do Senado, que tem dado suporte à CPI, também tem dado suporte aos senadores e deputados do PT da CPI mista. Tem perguntas, inclusive, que são absolutamente normais que sejam repetidas", comentou Costa.
Colaborou João Valadares

CPI clonadas
Veja algumas das perguntas idênticas respondidas pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Foster, nas duas CPIs que investigam, entre outros pontos, a compra da refinaria da Pasadena (EUA), que teria gerado prejuízo de cerca de US$ 1 bilhão para a estatal

CPI do Senado: não havia, na época, outras refinarias com capacidade de refino e demais características de Pasadena que pudessem ser adquiridas em condições mais vantajosas?

CPI Mista: a Petrobras, à época, chegou a buscar alternativas de refinarias com capacidade de refino e demais características semelhantes às de Pasadena?

CPI do Senado: quanto tempo durou a avaliação jurídica e financeira de Pasadena?

CPI Mista: quanto tempo durou a avaliação jurídica e financeira sobre Pasadena?

CPI do Senado: de quem é a responsabilidade pela documentação a ser encaminhada ao Conselho de Administração sobre matérias para deliberação deste colegiado, como no caso da aquisição da Refinaria de Pasadena?

CPI Mista: e de quem é a responsabilidade pela documentação a ser encaminhada ao Conselho de Administração sobre matérias para deliberação deste colegiado, como no caso da aquisição da Refinaria de Pasadena?

CPI do Senado: quando ocorreu a reunião do Conselho de Administração que não autorizou a compra dos 50% restantes, a documentação — resumo executivo — para o Conselho de Administração referente à aquisição dos 50% remanescentes fazia referência à cláusula de opção de saída?

CPI Mista: a documentação que embasou a decisão do Conselho de Administração de rejeitar a aquisição dos 50% remanescentes de Pasadena fazia referência à cláusula Put Option?

Campos promete revisão do fator previdenciário e da tabela do IR

• Candidato anunciou medidas sem dar detalhes de como implementá-las

• No Rio. Ao lado da vice, Marina Silva, Campos não quis se posicionar sobre a usina de Belo Monte

Pedro Kirilos – O Globo

Revisão do fator previdenciário e da tabela do imposto de renda, reforma tributária, fortalecimento do serviço público. Num dia de agenda no Rio ontem, o candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, não poupou munição ao fazer promessas e agregar novos compromissos aos que vêm assumindo, como o passe livre a estudantes. Na maioria das vezes, ele não entrou em detalhes sobre como implementar as medidas, que, segundo especialistas, teriam forte impacto nos cofres públicos. Mas se firmou em seu governo em Pernambuco para assegurar que, se eleito, cumpriria as propostas.

- Estamos falando de quatro anos. Vamos ter tempo para fazer a reforma tributária, equilibrar as contas públicas, fazer do ensino em tempo integral uma realidade e ter o passe livre. Já governei um estado. E todos os compromissos que assumi cumpri - disse o candidato, ao ser questionado sobre a viabilidade das propostas.

Carga tributária não aumentaria
A revisão do fator previdenciário (usado no cálculo das aposentadorias) foi citada em entrevista a uma rádio, na qual explicou apenas que articulará "um intenso debate" sobre o assunto. Depois, diante de representantes de sete entidades do fisco, foi enfático no tom das promessas. Recebeu de sindicatos e associações documento com proposições como redução da carga tributária sobre consumo. Disse que muitos dos números coincidiam com os dele. Mas que os pormenores precisavam ser analisados. Não sem antes afirmar:

- Serei o primeiro presidente do ciclo democrático que se compromete a não aumentar a carga tributária.

Segundo o candidato, ele apresentaria uma proposta de reforma tributária ao Congresso já na primeira semana de seu mandato. E sugeriu a redução dos tributos aos mais pobres, assim como o reajuste da tabela do Imposto de Renda.

- A tabela tem uma defasagem de 60%, acumulada desde o governo do PSDB até agora. Precisamos fazer justiça e reajustá-la de maneira que não tenhamos a realidade de hoje, de uma pessoa que ganha R$ 1.800 pagando imposto de renda - declarou ele, que, à noite, numa reunião na Academia Brasileira de Ciências, afirmou ainda que, em seu governo, os investimentos públicos e privados em Ciência e Tecnologia chegariam a 2%.

O tributarista Ilan Gorin diz que, antes de prometer a reforma tributária, a prioridade dos candidatos deveria ser um plano de corte de despesas públicas, identificando quanto o governo pode abrir mão da arrecadação. Já sobre a revisão do fator previdenciário, outro tributarista, Rubens Branco, afirmou que, apesar de ser favorável ao bolso do trabalhador, provocaria um rombo na Previdência (só nos últimos seis meses teve déficit de R$ 23 bilhões), fazendo com que a União tivesse de remanejar gastos ou aumentar os impostos.

Ainda ontem, Campos também comentou a crise no setor energético e disse que, se eleito, a Petrobras será blindada do que chamou de "politicagem". No entanto, ao lado da candidata a vice, Marina Silva, não respondeu ao ser perguntado se era a favor ou contra a construção da usina de Belo Monte. (Carina Bacelar , Fabiola Leoni, Rafael Galdo e Raphael Kapa)

Aécio diz que cubanos do Mais Médicos têm 'prazo de validade'

• Tucano promete criar plano de carreira para profissionais do país e acabar com a necessidade de atrair estrangeiros

• Presidenciável do PSDB decidiu nesta terça manter seu mandato no Senado durante a campanha eleitoral

Gabriela Guerreiro - Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, prometeu nesta terça (5) criar uma carreira de médicos no país se for eleito em outubro, além de 500 centros de atendimento especializado em municípios brasileiros.

O tucano disse que pretende acabar com a necessidade do atendimento de profissionais estrangeiros no país e que os médicos cubanos, trazidos ao Brasil pelo governo Dilma Rousseff, do PT, têm "prazo de validade".

"Os cubanos têm prazo de validade, ficarão aqui por três anos. O que eu pretendo é que não haja mais a necessidade de médicos estrangeiros no Brasil. Ao longo do tempo, as nossas políticas permitirão que essas vagas sejam ocupadas por brasileiros formados que passem pelo Revalida."

Há poucas semanas, o candidato do PSB ao Planalto, Eduardo Campos, apresentou propostas semelhantes as de Aécio na área da Saúde.

Após encontro com profissionais de saúde em Brasília, o tucano disse que, se houver necessidade de médicos estrangeiros, isso será uma "solução lateral, e não a central". E reiterou que os salários dos médicos cubanos têm de ser iguais aos dos demais estrangeiros que atuam no país.

Há duas semanas, durante sabatina da Folha, Aécio havia afirmado que não aceitaria as regras de Cuba para o pagamento de profissionais do programa Mais Médicos, instituído pelo governo federal em 2013. As críticas levaram Dilma e ministros a defenderem o programa.

As bolsas pagas aos médicos brasileiros e estrangeiros são de R$ 10 mil. Porém, a remuneração dos profissionais cubanos é paga ao governo do país e apenas R$ 3.000 chegam ao bolso dos médicos.

Salários
O tucano decidiu manter seu mandato no Senado durante o período eleitoral. Com isso, ele manterá a estrutura que dispõe em seu gabinete ""e a possibilidade de usar o plenário para discursos.

Aécio disse que vai devolver os salários de julho a outubro, período em que está oficialmente em campanha. Cada senador recebe mensalmente R$ 26,7 mil.

O Senado afirma que a devolução é possível desde que o próprio parlamentar devolva o benefício à União. A instituição manterá o pagamento do salário no período.

Rejeição a Dilma em São Paulo preocupa PT

Raphael Di Cunto e Bruno Peres – Valor Econômico

BRASÍLIA E ALTAMIRA (PA) - A rejeição à presidente Dilma Rousseff em São Paulo, maior colégio eleitoral do país, foi alvo de preocupação na reunião da Executiva do partido, ontem em Brasília. Pesquisas recentes mostram que Dilma empata, e em algumas sondagens até perde, do senador Aécio Neves (PSDB-MG) no Estado.

Segundo petistas ouvidos pelo Valor PRO, o presidente da sigla, Rui Falcão, fez um cenário positivo sobre a situação de Dilma no Nordeste - região que lhe deu a maior votação em 2010 -, no Rio de Janeiro e no Sul do país, onde o PT tradicionalmente tem dificuldade, mas neste ano conta com apoio de candidaturas competitivas aos governos estaduais para dar suporte à eleição nacional.

Ao descrever a situação em São Paulo, contudo, Falcão demonstrou maior preocupação e disse que a campanha concentrará as ações no Estado para melhorar a imagem de Dilma. "A eleição no Estado ainda está aberta, mas não podemos deixar consolidar essa rejeição. Isso tem segurado as intenções de voto no resto do país", disse um dos presentes à reunião.

A estratégia será alavancar a candidatura do ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha (PT), que patina com 5% das intenções de voto nas pesquisas, mas, na avaliação do partido, tem espaço para pelo menos triplicar esse percentual.

A presidente visitou ontem o canteiro das obras da hidrelétrica de Belo Monte, maior usina totalmente nacional e terceira maior do mundo, em Altamira (PA), com 54% das obras concluídas. Intercalando uma agenda simultânea de campanha e de governo, Dilma registrou imagens e gravou depoimentos para o programa eleitoral na TV.

Após o trabalho coordenado pela equipe do marqueteiro João Santana no canteiro da obra, Dilma conversou e almoçou com operários do empreendimento e defendeu, em entrevista à imprensa, o potencial hidrelétrico do país, definido como "uma grande vantagem do Brasil" a ser explorada. O roteiro da presidente incluiu um sobrevoo a Almeirim (PA) para uma visita à linha de transmissão Tucuruí-Macapá-Manaus.

Disse que não é possível estimar com exatidão o impacto do socorro financeiro às distribuidoras de energia sobre as tarifas no ano que vem. "Depende do grau de pessimismo e do 'quanto pior, melhor' que se quiser", comentou.

Dilma disse que o país não pode "conviver" com parte da população morando em palafitas, como ainda ocorre nas imediações da construção da usina, e que o governo acompanhará "permanentemente" a situação das famílias removidas da região. Para ela, o modelo de residência proposto pelo consórcio responsável pelo empreendimento possui "um tipo de configuração bem razoável". "Para nós, é um valor que essas família sejam colocadas em moradias dignas".

Questionada sobre o impacto do empreendimento e as compensações ambientais, rebateu: "Você preferia ficar sem luz? Pagar bastante caro pela tarifa de energia também, né?", respondeu a presidente, em tom irônico, alegando que respondia a uma provocação.

PT cobra Pimentel por ausência de Dilma

• Presidente não aparece em material de campanha e no jingle do candidato do partido ao governo de MG

Fernanda Krakovics – O Globo

BRASÍLIA - O presidente do PT, Rui Falcão, reclamou ontem, em reunião da Executiva Nacional do partido, de um movimento "Pimentécio" velado em Minas: dobradinha entre o candidato petista a governador, Fernando Pimentel, e o candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves. Ex-governador por dois mandatos, o tucano lidera a corrida presidencial no estado com 41% das intenções de voto, de acordo com pesquisa Ibope realizada entre 26 e 28 de julho. Dilma aparece com 31%.

Segundo participantes da reunião, Falcão, que é coordenador geral da campanha presidencial, afirmou ter cobrado Pimentel pela ausência de Dilma no material de campanha distribuído pelo candidato. Ainda de acordo com o presidente do PT, o mineiro negou estar escondendo a presidente e disse que houve um erro na gráfica. Dilma também não é citada no jingle de Pimentel.

Partido não admite dissociação
Ex-ministro de Desenvolvimento Econômico do governo Dilma, Pimentel é amigo da presidente desde a juventude, quando militaram juntos contra a ditadura militar. Mas ele também já foi próximo de Aécio, a quem se aliou em 2008 para eleger Márcio Lacerda prefeito de Belo Horizonte.

Na semana passada, em reunião com coordenadores estaduais da campanha à reeleição de Dilma, Falcão já havia afirmado que não seria tolerado que candidatos locais tentassem se dissociar da presidente. Participantes do encontro afirmaram que, na ocasião, ele não fez referência a nenhum caso concreto.

- Estamos vigilantes com nossos candidatos. Não vai ter candidato nosso dissociado da presidente. O partido não vai aceitar isso - afirmou o presidente do PT, na semana passada.

A prioridade da campanha de Dilma é a região Sudeste, principalmente o eleitorado que se diz indeciso em São Paulo, maior colégio eleitoral do país. A presidente participará amanhã de ato de campanha com integrantes de seis centrais sindicais na capital paulista. No dia seguinte, há previsão dela se encontrar com pastoras da Assembleia de Deus também em São Paulo. E, no sábado, a presidente participa de caminhada em Osasco com o candidato do PT a governador, Alexandre Padilha. Dilma iniciou a semana visitando uma unidade de saúde em Guarulhos, na segunda-feira. No Rio, a campanha de Dilma discute com o candidato do PR a governador, Anthony Garotinho, a ida a um restaurante popular ou a um conjunto habitacional.

Na reunião da Executiva, foi divulgado que em 24 horas de arrecadação pela internet, a campanha de Dilma conseguiu R$ 9 mil em 70 doações.

Dilma e PT discordam sobre 'fator Lula'

• Temendo ser ofuscada e voltar a aparecer como 'criatura', presidente resiste a colocar seu antecessor no papel de âncora da campanha à reeleição

Vera Rosa, Ricardo Della Coletta, Ricardo Brito - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA: O tamanho da participação do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva na campanha de Dilma Rousseff à reeleição é objeto de divergências entre o PT e o Palácio do Planalto. Disposta a construir sua própria imagem sem a alcunha de "criatura", Dilma resiste a ter Lula como âncora da campanha. Para a presidente, o padrinho político deve ser o complemento, mas não o protagonista de sua corrida rumo ao segundo mandato.

A cúpula do PT discorda dessa avaliação, mas "pisa em ovos" na relação com a presidente. Reunidos ontem em Brasília, dirigentes da Executiva Nacional do partido ouviram a apresentação de uma especialista em pesquisas sobre o cenário eleitoral e saíram de lá com a convicção de que Dilma deve colar cada vez mais sua imagem à de Lula.

Na série histórica de pesquisas, um dado comparativo entre os "avalistas" dos candidatos chamou a atenção. De todos os cabos eleitorais analisados, Lula tem o maior poder de transferência de votos, de acordo com os levantamentos que chegaram ao comitê da reeleição.

O problema é que Dilma, embora com dois atos de campanha previstos com o ex-presidente nesta semana, quer mais independência em relação ao "criador" e tenta "vender" uma marca própria.
Em conversas reservadas, dirigentes do partido dizem que Dilma tem receio de ser ofuscada e, por isso, a participação de Lula está sendo "dosada" pelo comitê da reeleição. O ex-presidente, porém, faz o que quer.

Ruas. As divergências não são apenas na forma, mas no conteúdo da campanha. Se dependesse de Lula, Dilma estaria nas ruas há muito tempo, principalmente em São Paulo e Minas, os dois maiores colégios eleitorais, onde ela enfrenta a disputa mais acirrada com o PSDB. No Nordeste, Lula acredita que resolve sozinho a parada. A presidente, no entanto, sempre preferiu apostar na propaganda eleitoral de TV, a partir de 19 de agosto, para melhorar o seu desempenho. Dilma só começou a beijar criancinhas na segunda-feira, quando o Jornal Nacional, da TV Globo, inaugurou a cobertura diária dos candidatos.

Naquele dia, ela visitou uma Unidade Básica de Saúde, em Guarulhos, para promover o programa Mais Médicos. Mas não avisou o candidato do PT em São Paulo, Alexandre Padilha, ex-ministro da Saúde que sonha em aparecer ao seu lado para aumentar seus índices de intenção de voto nas pesquisas. O desencontro irritou Lula, que se queixa por não estar sendo ouvido como gostaria sobre a condução da campanha.

Um sintoma do descontentamento de Lula é a sua ausência nas reuniões da coordenação de campanha com Dilma, como ocorreu na segunda-feira, no Palácio da Alvorada.

Agenda. Hoje a presidente participará de uma sabatina na Confederação Nacional da Agricultura, em Brasília, onde também estarão Aécio e Campos. Amanhã, ela e seu "avalista" aparecerão juntos, mais uma vez, em São Paulo. Depois da ação de Lula, Dilma receberá o apoio de seis centrais sindicais, em ato no Ginásio da Portuguesa.

No sábado, Dilma vai fazer uma caminhada em Osasco, reduto do PT, ao lado do ex-presidente e de Padilha. Se dependesse dela, no entanto, as aparições com Padilha seriam mínimas, porque a candidatura do petista em São Paulo não consegue decolar.

Desfaçatez e ousadia na fraude da CPI: O Globo - Editorial

• A participação na farsa dos depoimentos de advogados da Petrobras e de petistas deixou visíveis muitas impressões digitais do aparelhamento da estatal

Desde que Sílvio Pereira, secretário-geral do PT, recebeu um jipe de luxo de presente da empreiteira GDK, fornecedora da Petrobras, ato explícito de corrupção descoberto em meio ao escândalo do mensalão, ficou entendido que não seria saudável o relacionamento que petistas estabeleciam com a estatal.

Ainda transcorria o primeiro governo Lula, e fatos que ainda viriam a acontecer confirmariam aquela percepção. A interferência de interesses partidários na empresa produziria também outro tipo de ônus — ético e de credibilidade da sua administração.

A farsa engendrada na CPI instalada no Senado para examinar, entre outros assuntos, a desastrosa aquisição da refinaria de Pasadena, Texas, é típica.

Reportagem de “Veja” mostrou cenas e diálogos capturados clandestinamente em reunião feita para que perguntas a serem formuladas na comissão fossem antecipadas, a fim de que convocados pela comissão recebessem assessoria prévia da estatal. Os assessorados eram o ex-presidente José Sérgio Gabrielli, Graça Foster, presidente atual, e Nestor Cerveró, ex-diretor internacional, responsável pelo documento falho “jurídica e tecnicamente” que, segundo Dilma Rousseff, a induziu a aprovar a aquisição da refinaria, na condição de presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

A CPI, instalada por força de decisão do Supremo, já nasceu “chapa branca”. Gabrielli, Graça Foster, Cerveró ou qualquer outro não enfrentariam inquisidores interessados em vasculhar a operação. Mas está claro que a campanha à reeleição de Dilma impôs um cuidado especial àqueles depoimentos.

Daquela reunião participaram o próprio chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Barroca, e dois advogados da estatal, Bruno Ferreira e Leonam Calderaro Filho. Atuaram ainda na operação o assessor especial da Secretaria de Relações Institucionais (leia-se, ministro Ricardo Berzoini, petista estrelado), Paulo Argenta, o assessor da liderança do governo no Senado Marco Rogério de Souza, e Carlos Hetzel, da liderança do PT na Casa. Também operou, denuncia-se, o senador Delcídio Amaral (PT-MS), ex-diretor da Petrobras, e próximo a Cerveró.

Ficaram visíveis na armação da farsa muitas impressões digitais do aparelhamento da empresa pelo partido. Era o que já sinalizava o mimo do empreiteiro a “Silvinho” Pereira.

É curioso que, mesmo acusado por Dilma, Cerveró viesse a ser protegido pela base do governo. Assuntos mais elevados estavam, e estão, em jogo, por suposto.

A farsa indica a inexistência de limites na atuação de governo e PT na campanha eleitoral. Enquanto isso, a compra imprevidente da refinaria e os indícios de superfaturamento em Abreu e Lima ainda estão para ser devidamente esclarecidos.

Petrobrás bancará multa dada a executivos por Pasadena

• Estatal vai pagar multa aplicada a executivos

• Petrobrás pretende acionar seguro previsto em estatuto para quitar valor cobrado pelo TCU por prejuízo em Pasadena

Andreza Matais, André Borges - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Petrobrás vai livrar 11 atuais e ex-dirigentes de terem de ressarcir o Tesouro pelo prejuízo com a compra da refinaria de Pasadena (EUA), além de multas e custos com as defesas. A empresa comunicou aos executivos que vai acionar um seguro para pagar o valor cobrado pelo Tribunal de Contas da União individualmente dos funcionários.

Com isso, o ex-presidente da Petrobrás José Sergio Gabrielli e os ex-diretores Paulo Roberto Costa e Nestor Cerveró, por exemplo, não terão de desembolsar recursos próprios para devolver o dinheiro. Mesmo efeito terá para a presidente da Petrobrás, Graça Foster, que deve ser incluída hoje entre os possíveis responsáveis por Pasadena em decisão a ser tomada pelo TCU. Graça, que era diretora de gás e energia quando se desenvolviam as negociações de Pasadena, deve ter seus bens declarados indisponíveis, a exemplo dos demais.

O TCU estimou perda de US$ 792 milhões com a compra da refinaria. O processo está em andamento, o que pode alterar o valor a ser ressarcido. A empresa justifica o seguro como forma de "resguardar" os executivos.

O Estado ouviu três ex-diretores que disseram estar se movimentando para garantir o uso do seguro caso o TCU confirme a punição. Segundo os ex-executivos, trata-se de um direito.

"A companhia assegurará a defesa em processos judiciais e administrativos aos seus administradores, presentes e passados, além de manter contrato de seguro permanente em favor desses administradores, para resguardá-los das responsabilidades por atos decorrentes do exercício do cargo ou função, cobrindo todo o prazo de exercício dos respectivos mandatos", diz o estatuto da empresa.

O seguro é um tipo de apólice comum em grandes companhias, principalmente as com capital aberto fora do País, como a Petrobrás. O seguro é de cerca de US$ 250 milhões. Caso o TCU mantenha a decisão de cobrar os US$ 792 milhões calculados na peça inicial, o valor acima da apólice seria pago pela petroleira e cobrado dos 11 envolvidos posteriormente.

Mas a expectativa na área jurídica da empresa e de técnicos do TCU é de que o valor será reduzido durante o processo, a ponto de ser todo coberto pelo seguro.

A apólice só não pode ser acionada se for configurado dolo do dirigente, isto é, se for provada a intenção de provocar o prejuízo.

Reunião. Para "acalmar" os ex-dirigentes responsabilizados pelo TCU e que tiveram bens declarados indisponíveis, a estatal os convocou para uma reunião em sua sede no Rio, na última semana. Cinco ex-diretores participaram do encontro com o departamento jurídico, no qual foram informados de que terão assistência financeira e de advogados. Gabrielli não compareceu porque estava em viagem fora do País, mas mandou representante.

Procurada ontem pela reportagem, a Petrobrás não se manifestou. /Colaborou Fernanda Nunes

Merval Pereira: Reforma à vista

- O Globo

Esta campanha eleitoral está começando a ter uma cara diferente das anteriores, com os principais candidatos de oposição apresentando propostas para questões fundamentais que dependem de reformas estruturais que não são realizadas há pelo menos doze anos.

É o caso da reforma tributária, que foi objeto de debate dos candidatos Aécio Neves, do PSDB, e Eduardo Campos, do PSB, nos últimos dias e ontem, em São Paulo, e foi tema de um seminário, do qual participei, organizado pela Lide de João Doria Jr e o Movimento Brasil Eficiente, do economista Paulo Rabello de Castro.

Só o governo não mandou representante, num dia em que O GLOBO tinha em sua 1ª página uma reportagem que mostra a urgência desse debate: o gasto público cresce sem parar no país desde 1997, seja o governo do PT ou do PSDB. E em consequência a carga tributária cresce também, tornando-se um dos principais obstáculos à competitividade das empresas brasileiras e ao crescimento do país.

A boa notícia é que os oposicionistas têm a mesma visão: não é possível aumentar mais a carga tributária. Têm compromisso com a simplificação da cobrança dos impostos, como 1º passo para a redução da carga. O Movimento Brasil Eficiente, coordenado pelo Instituto Atlântico, defende um "ajuste geral, corajoso e inteligente das contas públicas" com o objetivo de reduzir a carga tributária para 30% do PIB no prazo de dez anos, e criar um ambiente econômico que propicie crescimento sustentado de 6% ao ano, com o aumento de investimentos em infraestrutura para 25% do PIB.

A carga tributária, que se aproxima de 40% do PIB quando somada ao déficit público, "chegou ao limite politicamente tolerável", na definição do Movimento, que reúne confederações do setor produtivo nacional, federações empresariais e de trabalhadores, empresas de vários setores e de todos os portes, entidades de representação da sociedade civil do chamado terceiro setor, além de universidades e institutos de pesquisa.

O representante do candidato do PSDB, Wilson Brumer, homem do setor privado mas com experiência de ter sido secretário de governo em Minas, foi objetivo, e considerou exequível esse movimento para redução contínua da carga tributária até que ela chegue a 30%.

Como Aécio já havia enfatizado, isso só acontecerá se houver um controle do crescimento do gasto público corrente, e Brumer retomou proposta que Dilma, quando ministra-chefe do Gabinete Civil, considerou rudimentar: os gastos do governo não podem ser maiores do que o crescimento da economia. Ou, como definiu o jurista Ives Gandra, o Estado não pode continuar sendo maior que o PIB.

O ex-deputado federal Maurício Rands, que deixou o PT e hoje assessora Eduardo Campos, anunciou como uma decisão do candidato a criação de um conselho para acompanhar as contas do governo, conforme previsto pela Lei de Responsabilidade Fiscal e nunca regulamentado. Campos havia ontem o compromisso de não aumentar impostos, e, a partir desse patamar, fazer uma reforma tributária que simplifique e distribua melhor seus impostos para melhorar os serviços públicos.

Os dois buscam saídas para um maior equilíbrio federativo, eles que foram governadores e sentiram na carne as dificuldades que a centralização dos impostos no governo federal produzem. Ao final do debate, em que ficou claro que os empresários anseiam por mudanças estruturais, o economista Castro leu a "Carta do Povo Brasileiro", baseada em uma pesquisa encomendada ao Datafolha depois das manifestações de junho de 2013, que termina assim:

"Perdas são pedagógicas. Perdemos, um dia, a democracia, para aprendermos a não perdê-la nunca mais; com a inflação, perdemos o sentido e o valor do dinheiro para, hoje, darmos todo o valor à moeda estável. Temos perdido tempo e energia demais com governos que governam mal e nos custam cada vez mais caro. Nossa paciência não tem o tamanho da vida inteira. O povo brasileiro exige ser senhor do seu tempo. Para o Brasil se projetar como líder em sua região e como um exemplo de nação próspera, moderna e justa, perante o mundo. Queremos de volta a ordem no governo, para termos de volta o progresso, que perdemos".

Dora Kramer: Linha tênue

- O Estado de S. Paulo

Justiça seja feita aos encarregados da tarefa, não é fácil separar as atividades governamentais das ações de uma campanha à reeleição.

Uma vez que a lei não exige que os candidatos se afastem dos cargos para concorrer a um novo mandato no Poder Executivo, a mistura de agendas é uma ocorrência inevitável.

Foi assim com a presidente Dilma Rousseff nesta segunda-feira, quando até suas equipes se confundiram na hora de esclarecer se ela visitava um posto de saúde em Guarulhos como presidente da República ou como candidata.

Era evidentemente uma atividade de campanha, como todas as demais que fará - descontando as nitidamente de representação oficial - daqui até as eleições. Estava lá a equipe de filmagem para produzir imagens ao programa eleitoral e é claro que o ato foi concebido para aparecer no noticiário sobre as eleições. Os outros candidatos fizeram o mesmo.

Ah, mas ela viajou de Brasília a São Paulo no avião presidencial, chegou ao posto de saúde em carro oficial, acompanhada de batedores. Bem, Dilma Rousseff é presidente da República. Há cuidados e prerrogativas inerentes ao cargo.

Evidentemente que ela não pode circular nas mesmas condições dos adversários e deve ser preservada de modo especial, pois é chefe da Nação. O fato de ser candidata não lhe retira essa condição.

De onde, separar o inseparável torna-se quase impossível. De maneira simplista poderíamos dizer que bastaria dividir a agenda entre os horários de expediente para a presidente e, fora dele, para a candidata.

Complicado. Isso equivaleria a, em nome da extrema moralidade, confinar Dilma Rousseff durante o dia ao gabinete no Palácio do Planalto e reservar a noite - ou quem sabe a madrugada? - para o circuito eleitoral.

Já tivemos duas reeleições presidenciais, em 1998 e em 2006, e nenhuma delas foi assim. Fernando Henrique Cardoso e Luiz Inácio da Silva cumpriram agendas mistas. Embora em princípio pareça injusto, é a regra do jogo: a reeleição reserva ao candidato/governante o direito de aparecer duas vezes.

Fora da alçada legal, porém, está o uso da máquina pública em benefício da campanha. Daí a necessidade de haver duas estruturas diferentes, sendo que o presidente pode manter uma pequena equipe pessoal de governo para qualquer situação composta de assessoria, médico e segurança.

A linha de separação é tênue, mas não é invisível. Além da óbvia proibição de se inaugurar obrar, repassar verbas, demitir e contratar, do Planalto, Esplanada dos Ministérios e adjacências não deve sair um suspiro de caráter eleitoral.

E isso, com ajuda da ética pessoal e um toque de classe, é possível se perceber a olho nu.

Leveza ideológica. Nos tempos de oposição o PT sempre foi um ferrenho adversário do chamado Sistema S, o conjunto de entidades corporativas voltadas para aprendizagem profissional, assistência técnicas e similares, como Sesc, Senai, Sesi, Senac e várias outras. Pregava sua extinção.

Depois que virou governo, o partido nunca mais deu uma palavra contra. Uma boa parte da explicação pode ser encontrada em reportagem da revista Época desta semana.

Mostra como funciona um cabide de funcionários fantasmas no Sesi de São Bernardo do Campo (SP).

Nele se encontram pendurados um assessor de Lula na época do Planalto, uma das noras do ex-presidente e a mulher do ex-deputado João Paulo Cunha.

Jair Meneguelli, ex-deputado federal, ex-presidente da CUT, preside o Sesi. Ganha até R$ 60 mil mensais, tem dois carros com motorista à disposição - um em São Paulo, outro em São Bernardo.

É provável que não seja o único "S" sistema afora a fornecer motivos mais que suficientes para a defesa contundente dos companheiros pela continuidade no poder.

Fernando Rodrigues: Candidatos analógicos

- Folha de S. Paulo

Os principais políticos brasileiros continuam mais analógicos do que nunca. A internet se presta a três usos principais na política: 1) interação entre candidatos e eleitores, governantes e governados; 2) propaganda positiva ou (sobretudo) negativa e 3) arrecadação de fundos por meio de pequenas doações de indivíduos que se tornam comprometidos com uma causa.

Exceto a propaganda negativa com a aspersão de lama generalizada, é raro ver um político interagindo para valer. Existem bate-papos em redes sociais, mas controlados por assessores, em total assepsia e sem espontaneidade. Há quanto tempo Dilma Rousseff, Aécio Neves ou Eduardo Campos não respondem eles próprios a algum cidadão por meio de um post pessoal, sem hora marcada? Esse fato é raridade.

Um aspecto revelador do descaso dos políticos com o meio digital é o fracasso absoluto do financiamento de campanha pulverizado. Em 2010, os candidatos a presidente mais competitivos tiveram um desempenho sofrível na arrecadação por meio da internet. Na atual disputa, a história tende a se repetir.

Há quatro anos, Dilma Rousseff ganhou a eleição presidencial e conseguiu meros R$ 180 mil via web. Marina Silva ficou em terceiro lugar e recebeu R$ 171 mil pela plataforma online. O tucano José Serra, segundo colocado, nem se arriscou a pedir dinheiro em seu site em 2010.

Só agora, a dois meses da eleição, Dilma lançou sua ferramenta de arrecadação na internet. O site de Eduardo Campos tem um aviso, mas está inoperante. Aécio Neves não pretende entrar nesse ringue digital.

Em democracias maduras, receber muitas doações pequenas pela internet é motivo de orgulho para um candidato. Já os eleitores que dão o dinheiro se sentem empoderados para cobrar as promessas feitas pelos políticos eleitos. Talvez essa seja a razão de tal modalidade de financiamento não deslanchar no Brasil.

Rosângela Bittar: Porta-voz de causas

• Ajuntamento de corporações e nepotismo sucessor

- Valor Econômico

Uma visita a arquivos sobre o Parlamento de outros tempos, esporte de fim de férias e começo de campanha eleitoral, conduz à reflexão: o cenário das candidaturas de hoje não autoriza a esperança no resgate do conceito real de representação. O povo continuará sem pai nem mãe na Câmara e no Senado, que permanecerão no velho modelo da defesa dos interesses corporativos, no privilégio ao nepotismo, no descaso à ideologia, na ausência do exercício da política pelos princípios, pelos conceitos, pelos critérios.

O Senado Federal editou, há cerca de 15 anos, em disco e em livro, o que chamou de Grandes Momentos do Parlamento Brasileiro. Folheando aleatoriamente o volume II, encontram-se sessões plenárias de defesa candente do parlamentarismo por José Maria Alckmin, de análise política e econômica do Brasil por Almino Afonso, um protesto formal contra as reformas de João Goulart, o aprofundamento da situação do Legislativo diante das evoluções mundiais por Petronio Portella, a insatisfação de Paulo Brossard com o projeto de anistia, considerações sobre o problema demográfico do Brasil e da até hoje atual imprevidência das autoridades no tocante às questões energéticas feita por Roberto Campos.

No mesmo volume, temos ainda Afonso Arinos falando em nome dos seus pares para encerrar a Constituinte, Fernando Henrique Cardoso despedindo-se do Senado em grande estilo para assumir a Presidência da República, Antonio Carlos Magalhães externando preocupações com o funcionamento precário da Justiça e Darcy Ribeiro em exaustivo trabalho de relatar o projeto de Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional, o alicerce da modernização do sistema brasileiro de ensino. E muito mais entre essas escolhas aleatórias.

Não se trata de saudosismo extemporâneo do grande tribuno de antigamente, ou de nostalgia da retórica, do discurso que honrava a língua portuguesa. Provavelmente, se houvesse orador, hoje, ele enviaria seu emocionante pronunciamento pela rede.

Trata-se de saudade das teses e do método. Trata-se da representatividade. De lembrar que o Congresso já teve esses políticos, esses assuntos, essas preocupações. Havia concessões à demagogia, ao coronelismo da política regional, mas o Parlamento era integrado por políticos que nutriam outros políticos, líderes da vida brasileira passaram por ali atuantes. Registre-se a história, não é só de Joaquim Nabuco ou Rui Barbosa de quem se sente falta, mas de seus sucessores no pensamento sobre o Brasil.

Pode ter sido em nome da democracia ou seja lá do que for, pode ser porque o Congresso se abriu a todas as camadas ou porque houve um momento de mudança abrangente da política no sentido de esfacelar os partidos. Sem contar que o Executivo tomou de assalto o Legislativo ao governar por Medidas Provisórias e fugir do debate parlamentar conclamando plebiscitos e conselhos populares em seu lugar, o Congresso passou a ser um ajuntamento de corporações, uma soma dos netos, dos filhos dos pais, o nepotismo sucessor que dispensa vocação, competência ou ideologia.

O sindicalista elege-se para pessoalmente defender seus interesses; o empresário conduz as reivindicações da classe; o dirigente do sindicato dos trabalhadores na área faz as leis da Educação. As questões são sérias, exigem técnica e conhecimento na sua elaboração, mas no Parlamento se consomem no amadorismo.

Não pode haver eficácia em um sistema em que cada um vai lá advogar sua causa, quando é preciso encontrar quem a vocalize. Corrigir a deformação da representação, tarefa impossível no modelo corporativo, onde brigam por seu naco o delegado, o religioso, o empresário, o sindicalista, o que defende seu culto e não os princípios. A Lei de Diretrizes e Bases foi motivo de grandes debates da Educação, sob a liderança de Darcy Ribeiro, mas nunca mais se fizeram ouvir os filósofos, os pensadores da Educação. Não é com a fixação de um percentual de gastos obrigatórios que o país resolverá seus problemas de identidade.

Nas nações que ainda preservam sua representação verdadeira, a discussão parlamentar se dá em torno de princípios, de grandes teses. Um tema como o pacto federativo, por exemplo, um dos maiores problemas insolúveis brasileiros, técnica e politicamente desconhecido de parlamentares em geral, tem que incluir desde o conceito de município à definição de responsabilidades, aos fundamentos da Constituição. Ninguém liga para isso.

O atual começo oficial de campanha, que pode ser assim considerado dada a situação imutável dos candidatos durante todo o primeiro semestre de campanha de fato, deve ser um bom momento para pensar o assunto. Campanha morna, candidatos procurando sensibilizar a opinião pública. Mas é preciso desentortar a inversão feita: eles vão perscrutar as pesquisas de opinião para ver o que o povo quer, onde está sua questão fundamental.

Não é o eleitor quem deve dar o caminho para a Saúde, ele não sabe. É o líder político, depois de definir os princípios. Quem quiser que o siga.

Enquanto isso, na tarde de ontem, no Congresso, seu presidente, Renan Calheiros, coveiro da CPI do Senado, que embromou o quanto pode para tudo ficar ao gosto do governo, maior cabo eleitoral da candidatura de seu filho ao governo de Alagoas, que acochambrou-se com o partido protagonista do teatrão montado para apurar prejuízos na compra de refinaria pela Petrobras, anunciava outra comissão. Desta vez de sindicância para investigar responsabilidades pelas aulas dadas a testemunhas que iriam depor. Logo naquela, da marca fantasia, criada mesmo como palco para apresentação do governo. Como se fosse a estreia do treinamento para entrevistas e inquirições.

Condenar essa prática, diante da forma como foi montada a comissão e o que ela deveria apurar, é piada. Cujo desfecho está na expressão originalíssima de Calheiros: a CPI é um instrumento de fiscalização e cumprimento do papel do Legislativo, que não pode sair arranhado.

Luiz Carlos Azedo: Gatos escaldados

- Correio Braziliense

O presidente do Senado sabe que esses casos, como o da CPI da Petrobras, às vezes, têm surpreendentes desfechos, como aconteceu com a comissão de inquérito que investigou o Judiciário, que resultou na cassação de um senador e na renúncia de mais três

O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), anunciou ontem a abertura de uma comissão de sindicância para apurar denúncias de suposta fraude na Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) do Senado que investiga contratos da Petrobras. A presidente da estatal, Graça Foster, o ex-presidente José Sérgio Gabrielli e o ex-diretor da área internacional Nestor Cerveró tiveram acesso às perguntas dos parlamentares antes dos depoimentos que prestaram ao colegiado. Uma reunião na sede da Petrobras que tratou do assunto foi gravada por um dos participantes, que vazou o registro para a revista Veja.

Como diria Raymund Chandler (1888-1959), no ensaio literário A Simples Arte de Matar, todo crime deixa um rastro e tem uma motivação. Natural de Chicago, o escritor americano passou a juventude em Dublin, na Irlanda, e começou a escrever em Londres, onde trabalhou como jornalista freelancer. De volta aos Estados Unidos, alistou-se no exército canadense e foi lutar na França, na I Guerra Mundial. De volta à vida civil, teve a promissora carreira de executivo de um empresa de petróleo encerrada pela Grande Depressão e o alcoolismo.

A literatura, porém, ganhou um escritor que ajudou a criar o novo gênero literário da época, as histórias policiais noir norte-americanas, escritas por Chandler, Dashiell Hammet e outros roteiristas "malditos", que haviam sido expulsos de Hollywood pelo macartismo, mas fizeram a crítica dos maus costumes políticos nos jornais tabloides policiais. É de Chandler o detetive durão Philip Marlowe, herói de Adeus Minha Adorada, Janela para a Morte, A Dama do Lago, A Irmãzinha, O Longo Adeus e Playback, personagem interpretado no cinema por Humphrey Bogart.

Decoro
Os escândalos da Petrobras podem até não dar em nada, mas já compõem uma trama digna da melhor literatura noir. O vazamento do vídeo comprometedor é um efeito colateral do fato de 11 diretores da estatal — além da presidente Maria das Graças Foster — terem sido responsabilizados pelos prejuízos causados à empresa petrolífera por causa do negócio, que chegam a US$ 792,3 milhões. A operação foi aprovada pelo Conselho de Administração da empresa, à época presidido pela então chefe da Casa Civil do governo Lula, Dilma Rousseff.

Entre os diretores envolvidos estão Gabrielli, Cerveró e o ex-diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, preso pela Polícia Federal na Operação Lava-Jato e acusado de integrar um esquema de lavagem de dinheiro chefiado pelo doleiro Alberto Youssef. Todos estão sendo investigados pela CPI aberta no Senado, em maio, para apurar suspeitas de superfaturamento na compra da refinaria de Pasadena, no Texas (EUA), em 2006, ao custo de US$ 1,3 bilhão, e de desvio de recursos na construção da refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, ambas da Petrobras.

Sindicância
Renan Calheiros (PMDB-AL) determinou a sindicância porque é sua obrigação como presidente do Senado. Gato escaldado em matéria de processos por quebra de decoro parlamentar, já escapou de dois pedidos de cassação em plenário; num deles, teve de renunciar ao comando do Senado. Mas pode sobrar para os senadores José Pimental (PT-CE) e Delcídio Amaral (PT-MS), por quebra de decoro parlamentar, caso se confirme que ambos faltaram com a ética ao proteger os investigados.

O presidente do Senado sabe que esses casos, às vezes, têm surpreendentes desfechos, como aconteceu com a comissão de inquérito que investigou o Judiciário, em 1999, e trouxe à tona o caso do juiz Lalau, Nicolau dos Santos Neves, ex-presidente do TRT paulista. Sobrou para o então senador Luiz Estevão (PMDB-DF), ainda no primeiro ano de mandato; dono do grupo OK, era o responsável pela construção do fórum. Descobriu-se que, dos R$ 223 milhões repassados para a obra, de 1994 a 1998, R$ 169,5 milhões foram desviados. Estevão foi cassado e até hoje está enrolado com o caso, pelo qual foi condenado.

Três caciques do Senado acabaram renunciando aos mandatos por causa da disputa política que se estabeleceu a partir do episódio: o falecido senador Antônio Carlos Magalhães (PFL-BA), que presidia Casa, e o então líder do governo, José Roberto Arruda (ex-PSDB), que quebraram o sigilo da votação que cassou Luiz Estevão; e o senador Jader Barbalho (PA), que no ano seguinte assumira o comando do Senado, mas foi obrigado a renunciar ao mandato para evitar um pedido de cassação provocado por denúncias de Antônio Carlos Magalhães, que havia voltado à Casa, eleito com 2,9 milhões de votos, e fez um ajuste de contas com quem considerava o principal responsável por sua renúncia.

Elio Gaspari: Dilma Rousseff, mulher de sorte

- O Globo

O Instituto Histórico e Geográfico Brasileiro concluiu o inventário do arquivo do presidente Emílio Garrastazu Médici (1969-1974), coordenado pela professora Regina Wanderley. Ele contém 475 itens documentais e centenas de fotografias. O acervo foi doado em 2004 ao instituto por Roberto, filho e assessor especial do general.

No meio da papelada há a cópia de uma lista apreendida na casa de um dirigente da Vanguarda Popular Revolucionária, provavelmente em maio de 1970. Nela estão os nomes de 28 presos de São Paulo que deveriam ser libertados em troca de um embaixador cujo sequestro planejava-se. O 27º nome era o de Dilma Vana Rousseff, a "Estela", da VAR-Palmares, presa desde janeiro.

A "tigrada" do DOI sabia que se organizava um sequestro. Sabia também que a vítima passava pela rua Cândido Mendes, na Glória. Num dos maiores frangos do período, não impediu o sequestro do embaixador alemão Ehrenfried von Holleben, em junho. (Pela rua Cândido Mendes passavam três embaixadores, ele, o núncio apostólico e o argelino.)

Holleben foi trocado por 40 presos, mas da lista de 28 entraram só seis. Se Dilma tivesse sido mantida no grupo, teria ido para a Argélia e só retornaria ao Brasil em 1979, depois da Anistia. Sua vida teria sido outra, pois acabou libertada em 1972, foi para o Rio Grande do Sul, passou pela Unicamp, militou no PDT, na campanha pela Anistia e empregou-se na Fundação de Economia e Estatística do governo gaúcho. Esse pode ter sido seu segundo momento de sorte. Se uma tentativa de sequestro do cônsul em Porto Alegre tivesse dado certo, o seu líder, Fernando Pimentel, muito provavelmente teria incluído a amiga na lista dos presos a serem trocados. (O diplomata jogou o carro em cima dos sequestradores, tomou um tiro, mas foi para casa.)

No arquivo de Médici há outras pérolas. Lá, confirma-se a história segundo a qual ele guardava dois telegramas de senadores do partido governista expedidos depois da edição do Ato Institucional nº 5. Era um amuleto para lembrar-lhe a fidelidade dos políticos. No primeiro, 20 protestavam. No segundo, 34 apoiavam o AI-5. Até aí, jogo jogado, mas sete assinaram os dois. Médici guardou também uma representação do ministro da Justiça, Luís Antônio da Gama e Silva, ex-reitor da Universidade de São Paulo e ex-diretor de sua Faculdade de Direito, propondo a cassação dos 20 signatários do primeiro telegrama. Passaria na lâmina figuras como Milton Campos, Ney Braga, Daniel Krieger, Carvalho Pinto e Teotonio Vilela. Se "Gaminha" tivesse prevalecido, a ditadura tomaria outro rumo, mais radical.

Ainda há áulicos sustentando que Médici nada teve a ver com a tortura praticada durante seu governo. É uma conversa fiada implausível. Ele guardou pelo menos três lotes de documentos denunciando o que sucedia nas prisões. Se nada fez, e no inventário não há registro disso, o problema ficou para sua biografia.

O arquivo de Médici confirma sua personalidade obsessivamente austera. Cauteloso, deixou poucas anotações manuscritas, mas guardou um grampo telefônico, registrado pelo apelido palaciano de "Dragão". Um príncipe italiano aparentado com a casa florentina dos Medici perguntou-lhe numa carta se descendia dessa linhagem. Ao que tudo indica, não respondeu.