sexta-feira, 18 de maio de 2018

Opinião do dia: Fernando Henrique Cardoso

Acho que precisa haver um esforço. Se você diluir o centro no centrão, não corresponde com o desejo de reforçar o pensamento democrático, prestar atenção nas desigualdades, combate à corrupção e visão de futuro, o Brasil integrado na economia global, isso que eu acho uma visão que precisa ser renovada no centro.

O povo não quer saber de dá cá toma lá, o povo quer saber da vida concreta dele. Esse centro democrático progressista tem que olhar para os interesses do povo, e não o interesse dos políticos, que nós estamos cansados de ver que não dá certo.

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Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República. O Estado de S. Paulo, 18/5/2018.

*Fernando Gabeira: Um fio de esperança

- O Estado de S. Paulo

Talvez o novo não surja com o frescor da pele de um bebê, mas se infiltre no que já existe

Sempre que examino o horizonte próximo das eleições presidenciais, não consigo dissociá-las dos rumos da Lava Jato num aspecto fundamental: a ruína dos maiores partidos brasileiros. O PT sofreu o maior impacto, com a prisão de Lula. PSDB e MDB arrastam-se em escaramuças jurídicas, sem perceber que também estão em decadência aos olhos dos eleitores.

Ambos tiveram seus operadores presos pela Lava Jato e soltos por Gilmar Mendes – Paulo Preto e Milton Lyra, respectivamente. No futebol costumamos dizer que o juiz quando apita uma falta de ataque inexistente na grande área, apita perigo de gol. Gilmar apita perigo de delação premiada, tentando evitar a derrocada total dos dois grandes partidos.

PSDB e MDB possivelmente respirem aliviados com operadores soltos ou mesmo, no caso de Geraldo Alckmin, com seu processo sendo retirado da competência direta da Lava Jato. Mas essa sensação de alívio momentâneo não leva em conta o fato de que tudo está sendo feito relativamente às claras, diante de uma opinião pública atenta. O desgaste é permanente e tende a crescer.

A ruína dos três grandes partidos revela também um paradoxo nas eleições deste ano. Ao mesmo tempo que estão em queda, são eles que devem deter a maior parte dos R$ 2,6 bilhões destinados a financiar a campanha eleitoral.

Bernardo Mello Franco: A quarta prisão de José Dirceu

- O Globo

José Dirceu vai voltar para a cadeia. Aos 72 anos, o ex-ministro iniciará a quarta temporada no xadrez. Ele começará a cumprir a pena quase cinco décadas depois de ser preso pela primeira vez, no Congresso de Ibiúna.

Em 1968, Dirceu era um dos líderes do movimento estudantil. Capturado, ficou numa cela até o ano seguinte, quando entrou no grupo de 15 presos políticos trocados pelo embaixador americano. Embarcou para o exílio com aura de herói da luta contra a ditadura.

As outras prisões ocorreram na democracia, e estão ligadas a escândalos de corrupção. O petista foi condenado no julgamento do mensalão, acusado de organizar a compra de apoio ao governo Lula. Agora volta à cadeia no petrolão, acusado de receber dinheiro do esquema que saqueou a Petrobras.

O lobista Milton Pascowitch contou à Lava-Jato que pagou um “mensalinho” de R$ 80 mil a R$ 90 mil a Dirceu. Ele também bancou outras despesas do ex-ministro, como as reformas de uma casa de campo (R$ 1,3 milhão) e de um apartamento em São Paulo (R$ 1 milhão).

Dirceu descreve essas transações como “erros”, e afirma que manteve uma “relação indevida” com quem não devia. É uma forma autoindulgente de contar a história. Para a Justiça, ele cometeu crimes como corrupção e lavagem de dinheiro, e deve pagar por seus atos de acordo com a lei.

O ex-ministro estava em liberdade havia pouco mais de um ano, graças a um habeas corpus do Supremo Tribunal Federal. Agora deve encarar um longo tempo preso, após ter a condenação confirmada (e aumentada) em segunda instância.

Fora do governo, o petista se tornou um homem rico. Ele faturou cerca de R$ 40 milhões vendendo influência em governos aqui e no exterior. Mesmo assim, pediu ajuda para pagar a multa imposta no julgamento do mensalão. Muitos petistas contribuíram com a vaquinha, acreditando que ele passava por dificuldades reais.

Agora é improvável que o ex-ministro desperte a mesma solidariedade. Na melhor hipótese, ele deve ganhar algum reconhecimento por não delatar os companheiros, como fez o também ex-ministro Antonio Palocci. É o que lhe sobra.

Eliane Cantanhêde: Murro em ponta de faca

- O Estado de S.Paulo

Nada do que Temer fala, faz ou anuncia cola; tudo o que é contra ele vira um sucesso

Tudo o que o presidente Michel Temer diz, faz ou anuncia se volta contra ele, como se batesse num muro intransponível. A própria “festa” pelos dois anos de governo sucumbiu diante de um slogan inacreditável e das longas reportagens sobre um ano do áudio com Joesley Batista. Só cola o que é contra Temer.

Depois do “Bora, Temer”, agora uma nova piada pronta: “O Brasil voltou, 20 anos em 2”, ou “o Brasil voltou 20 anos em 2”? Dezenas de páginas de discurso do presidente versus uma frase de uma infelicidade gritante. Adivinhe quem ganhou essa disputa na internet e na mídia... E a nova peça publicitária, com um afogado, além de inoportuna nesses tempos difíceis, é de mau gosto incrível.

Até quando Marcela Temer se meteu no lago Paranoá para salvar a cachorrinha não houve tempo para capitalizar e humanizar a imagem presidencial. O Planalto sabotou uma reação simpática, punindo a agente responsável pela segurança da primeira-dama.

No discurso de segunda-feira, Temer elencou todos os avanços da economia, os juros em queda, a inflação mínima, o fim da recessão. O resto da semana, porém, foi derrubando, um a um, os dados do presidente. O Banco Central interrompeu o processo de queda dos juros, o dólar passou ontem dos R$ 3,70 e a Bolsa caiu 3,37%. E a subutilização atingiu 24,7% da força de trabalho, algo em torno de 30 milhões de brasileiros – 30 milhões!

E o fim da recessão? Na conversa com o presidente, na sexta-feira, ele falava animadamente da recuperação econômica e citou um crescimento de 3% neste ano. Questionei, porque o mercado já estava revendo essa previsão para baixo. Pois é. Com o resultado negativo do primeiro trimestre, a perspectiva agora é só de 2,3%.

Ricardo Noblat: Em desespero, PT agarra-se à batina do Papa Francisco

- Blog do Noblat | Veja

Para tirar Lula da prisão, vale tudo

É dura a vida do PT e dos que comungam o discurso de que Dilma e Lula foram vítimas de um “golpe parlamentar-midiático”, sendo um deposto e o outro preso e impedido de se candidatar a presidente.

Como o povo não saiu às ruas para protestar ateando fogo ao país, e se muito chegam a 50 os militantes de plantão expostos ao frio de Curitiba, que mais haverá de se fazer em favor de Lula?

Qualquer coisa serve. E a mais recente tem a ver com o Papa. Recortou-se um trecho do sermão feito ontem por ele em Roma e apresentou-se como algo a ter a ver com Dilma e Lula. Eis o trecho recortado:

“Criam-se condições obscuras para condenar a pessoa. A vida civil, a vida política, quando se quer fazer um golpe de Estado: a mídia começa a falar mal das pessoas, dos dirigentes, e com a calúnia e a difamação essas pessoas ficam manchadas. Depois chega a Justiça, as condena e no final se faz um golpe de Estado”.

O sermão está em português no site do jornal L’Obsservatore Romano sob o título “Contra o veneno da maledicência”. O trecho poderia se referir a qualquer país do mundo ou a nenhum especificamente.

Francisco pregava a unidade dos homens em torno de Jesus. Lembrou como a opinião pública da época, que antes reverenciara Jesus, acabou por abandoná-lo aos gritos de “crucifica-o”.

Disse também que algo parecido aconteceria mais tarde com São Paulo e os demais mártires cristãos. E estendeu-se ainda sobre “a fofoca” que tanto mal faz às pessoas e divide seus paroquianos.

Recomenda-se ao PT que se debruce sobre os ensinamentos de Jesus. E que não despreze as encíclicas assinadas pelos antecessores de Francisco. Encontrará citações preciosas que poderão lhe ser úteis. Do tipo:

Bruno Boghossian: Bangue-bangues

- Folha de S. Paulo

Posse de revólver pode parecer direito individual, mas efeitos são coletivos

Um projeto apresentado na Câmara no ano passado sugere que juízes deixem de aplicar pena ao cidadão que atirar em alguém movido por “medo, surpresa, susto ou perturbação do ânimo”. A proposta do deputado Fausto Pinato (PP-SP) ampliaria o rol de situações comparáveis à legítima defesa, com atenuação ou exclusão de punições.

“Temos assistido diariamente a episódios de violência que remontam à barbárie, sem que o Estado brasileiro saia da sua postura genuflexa e atue para o resgate da ordem e da lei”, escreveu o parlamentar.

O Instituto Sou da Paz reagiu com ceticismo. “Não se pode perceber como isto melhorará a grave crise pela qual passa o país”, anotou a entidade.

O debate sobre o relaxamento de regras para a posse e o uso armas de fogo ganha corpo e chega à campanha eleitoral turbinado por um temor crescente com a violência. O assunto é crítico e deveria ser discutido com sobriedade, mas o ambiente de medo aumenta o poder sedutor de soluções radicais.

O diretor-geral do Datafolha, Mauro Paulino, destaca que metade dos brasileiros tem receio de sair às ruas próximas de casa à noite. “O ambiente favorece a valorização do discurso armamentista como solução imediata para o problema”, diz.

Reinaldo Azevedo: Juiz que prende não toma champanhe

- Folha de S. Paulo

Moro começa a olhar para nossa ‘melancólica humanidade’ com olhos estranhos

O juiz Sergio Moro nem é um salafrário, como gritaram esquerdistas brasileiros em Nova York, nem é um “Ramphastos dorius” —tucano da espécie Doria— só porque se deixou fotografar ao lado do candidato do PSDB ao governo de São Paulo e participou naquela cidade de um evento, entre outros, do Lide, o grupo de empresários liderado pelo ex-prefeito. Mas a questão está longe de ser “uma bobagem”, como ele classificou as críticas que lhe foram dirigidas.

Não é normal, decoroso ou corriqueiro que o juiz que encarna, em terras nativas, a punição aos corruptos, numa operação que acumula acertos, mas também uma penca de erros, desfile mundo afora o seu charme de caçador de corruptos.

Só neste ano, é sua terceira viagem aos EUA. Oh, não! Não acho que ele seja um agente da CIA. Acho apenas que ele se torna um agente político quando participa de encontros organizados por bancos, associações empresariais e afins. E, como é sabido, políticos disputam votos, não envergam togas. Podem ser presos, mas não mandam prender.

Tal exposição não é ilegal, mas é indecorosa. Moro demonstra ainda, como é próprio de uma personalidade que começa a fazer parte do “jet set”, o particular senso de humor da mundanidade.

Segundo reportagem desta Folha, ao discursar no evento do Lide, fez graça: “Tinha uma gravata vermelha e uma gravata azul. Isso pode ter diferentes sentidos. A vermelha poderia significar Partido Republicano ou Partido dos Trabalhadores. A azul poderia ser o PSDB ou até o Partido Democrata.”

Acabou indo com a vermelha. Não sendo petista, será ele um republicano?

Dora Kramer: Poder, seja lá como for

- Revista Veja

A ideia do “centro” é controlar o Congresso e manter tudo como está

O truque é antigo mas ainda funciona: o partido faz profissão de fé na candidatura própria, lança um nome e fica ali (“comendo umas goiabas”, na definição de uma amiga para compasso de espera) rondando a mesa de negociações, no aguardo da abertura dos trabalhos de cooptação.

O PMDB faz isso há 24 anos, com sucesso. Perdeu feio as duas primeiras eleições presidenciais pós-redemocratização (não obteve nem 5% dos votos em ambas), mas esteve no domínio do Congresso, com bancadas substantivas e ocupação de postos-chave, entre os quais a presidência das duas casas legislativas, e consequentemente no controle de todos os governos de lá para cá. Algumas vezes nos bastidores; outras em cena aberta no palco.

A manobra se repete agora em versão ampliada, quando praticamente todas as legendas enquadradas no campo do chamado centro à direita se preparam para formar um grande bloco a fim de se manter no poder à revelia da demanda da sociedade por renovação na política e independentemente de quem venha a ser presidente. A ideia óbvia é fazer do(a) eleito(a) refém da dita governabilidade e manter as coisas como sempre foram.

Todas as pré-candidaturas, assim chamadas ao modo de eufemismo, no DEM, PP, PR, PRB, PTB, PSD, Solidariedade e companhia, cairão daqui até meados de junho, quando começa a expirar o prazo (final em 15 de julho) para a definição das candidaturas de fato. Talvez a exceção seja justamente o MDB, agora devidamente autorizado a retomar a antiga sigla.

José de Souza Martins: O 13 de Maio e nós

Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

Nossa memória coletiva só acorda nos aniversários de números redondos. As outras datas são as do esquecimento. Neste ano, o 13 de maio nos lembra que a Lei Áurea foi assinada há 130 anos. Por ela, para alguns, teve fim a escravidão no Brasil; para outros, a data que merece respeito é a do aniversário da morte de Zumbi, senhor do quilombo de Palmares, em Alagoas. Zumbi deu sentido a um anseio de liberdade de alguns e para alguns, mas não de todos nem para todos. E tampouco a lei da princesa Isabel quis ir tão longe.

Os cem anos de resistência dos quilombolas palmarinos, no século XVII, não foram uma antecipação dos ideais de liberdade, que só teriam sentido na Revolução Francesa. Na prática, a lei de 13 de maio de 1888, se não libertou de fato e plenamente os brasileiros ainda sob sujeição, fossem eles negros ou pardos, africanos ou indígenas, tornou a escravidão ilegal. Abriu, data venia, uma larga brecha jurídica para um campo de luta pela liberdade que usamos mal e compreendemos pior.

Quando se fala em escravidão, a imagem que logo vem à cabeça de quase todos nós é a do negro preso ao tronco ou amarrado ao pelourinho recebendo as chibatadas de castigos desumanos. O que é verdade, mas não é a verdade inteira, pois o escravo era capital imobilizado em sua pessoa, não era tratado como animal para apanhar, mas animal a ser cuidado para trabalhar e dar lucro.

A escravidão foi uma realidade complexa que, sociológica e politicamente, escravizou tanto os escravos quanto seus senhores, como nos lembrou Joaquim Nabuco. As pessoas se socializam reciprocamente, quem é mandado e quem manda, quem apanha e quem bate. A escravidão brutalizou o negro, mas brutalizou, também, o seu senhor. Uma dificuldade para superar, de fato, as sequelas da escravidão após o 13 de Maio, não foi jurídica, foi social e psicológica. A lei dizia que o negro era livre, mas a personalidade e a consciência dos antigos senhores, pela escravidão aleijadas, não lhes permitiam compreender e reconhecer nas relações pessoais o que fora determinado no plano jurídico. Até hoje muitos ainda não sabem qual é a diferença entre ser juridicamente livre e ser socialmente subjugado.

Maria Cristina Fernandes: Antes de melhorar, ainda pode piorar

Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

Em 19 de julho de 2016, Talita Borges, recém-formada em administração pública pela Fundação Getúlio Vargas, em São Paulo, chegou a Primavera, na zona da mata de Pernambuco. Com 14 mil habitantes, tem o mesmo porte de sete em cada 10 municípios do país.

Com outros colegas do curso e de uma organização não governamental que arregimenta jovens para modernizar o setor público, Talita se voluntariou para a campanha de Alexandre Lins, um consultor da Unesco de 25 anos que decidira entrar na política. O avô havia sido prefeito da cidade, cargo pretendido por Lins em sua estreia. O grupo decidira fazer uma campanha nos conformes. Tudo seria registrado e o candidato entoaria o discurso da renovação. A experiência se transformou no documentário "Primavera do Brasil", que aguarda uma vaquinha virtual para ir ao ar.

Dois grupos se revezam no poder há décadas na cidade, o de "Pão com Ovo" e o do "Galego do Gás". Ambos estão impedidos de disputar pela Lei da Ficha Limpa, mas se fizeram presentes na eleição com as candidaturas da mãe e da mulher. Em três meses de campanha, Xandeco, nome adotado pelo postulante da Rede, e sua turma viram de tudo. Cada candidato adotou uma cor em suas camisetas. Devidamente trajados, esses militantes se distribuíam na cidade para fazer número nos eventos e mostrar força.

Os motoqueiros chegavam a ganhar R$ 100 por dia e os militantes, R$ 50, para balançar bandeiras em três expedientes, pequenas fortunas numa cidade em que 96,7% têm renda de zero a dois salários mínimos. A proibição de shows levou a uma mão de obra mais intensiva, de porta-bandeiras a entregadores de panfletos no porta a porta da campanha.

O que está no manual como a safra da cidadania é percebido pelos entrevistados do documentário como o momento de embolsar algum antes que os políticos assumam, coloquem película escura nos carros e torrem suas receitas em contratos viciados de transporte, merenda e lixo que saldarão o que foi investido no caixa 2 da campanha. O século 19 é aqui e agora.

Luiz Carlos Azedo: Mais do mesmo na política

- Correio Braziliense

O pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Geraldo Alckmin, anunciou ontem que os economistas Edmar Bacha e Pérsio Arida, dois dos criadores do Plano Real, formarão sua equipe econômica. Bacha, que é um dos diretores da Casa das Garças, vai cuidar da política de comércio exterior. Também foram anunciados os economistas José Roberto Mendonça de Barros, que foi secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998, e seu filho, Alexandre Mendonça de Barros.

Num momento em que a economia dá sinais de estancamento por causa da crise fiscal e da nova situação internacional provocada pela política econômica de Donald Trump nos Estados Unidos (guerra comercial com a China e elevação dos juros pelo banco central norte-americano), o anúncio de Alckmin teve por objetivo criar um fato político que reaproxime os agentes econômicos de sua candidatura, que enfrenta grandes dificuldades para decolar. Para o mercado, não deixa de ser significativa a iniciativa, uma vez que o afrouxamento da política fiscal pelo governo Temer já comprometeu as expectativas de crescimento acima dos 3% do PIB em 2018.

O problema, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso gosta de dizer, é que “mercado não ganha eleição”. É preciso construir um discurso capaz de galvanizar a opinião pública, o que o candidato tucano não vem conseguindo. Um dos problemas é o isolamento político de Alckmin. No mesmo dia em que anunciou o miolo de sua equipe econômica, o presidente do MDB, Romero Jucá (RR), revelou que havia conversado com o presidente Michel Temer sobre as vantagens de anunciar logo a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles à Presidência da República, pelo MDB. Segundo ele, como não há um candidato de centro que se destaque, o ex-ministro da Fazenda poderia começar a ocupar esse espaço.

Nos bastidores do Palácio do Planalto, o projeto de reeleição de Michel Temer já foi sepultado, mas o de uma candidatura própria do MDB ainda não, apesar das resistências regionais. O documento “Encontro com o Futuro”, com um balanço dos dois anos de governo, na verdade, é uma plataforma política para as eleições, com propostas de políticas públicas e continuidade das reformas, inclusive da Previdência. Meirelles está entusiasmado com a possibilidade de ser candidato, uma vez que as relações entre Alckmin e Temer continuam estremecidas. Para setores do PSDB, porém, o ex-ministro da Fazenda seria o vice ideal do tucano paulista.

Alckmin promete aumentar comércio exterior em 50%

Por Ricardo Mendonça | Valor Econômico

SÃO PAULO - Ao anunciar a incorporação de mais três economistas na equipe que elabora seu plano de governo - Edmar Bacha, José Roberto Mendonça de Barros e Alexandre Mendonça de Barros -, o tucano Geraldo Alckmin subscreveu três metas econômicas que promete perseguir caso seja eleito presidente: zerar o déficit fiscal em até dois anos, aumentar importações e exportações em 50% ao longo do mandato e, num período mais longo, dobrar a renda média da população.

O anúncio foi feito ontem em São Paulo durante uma entrevista coletiva organizada numa mansão vazia do Jardim Europa que pertence ao cientista político Luiz Felipe d'Avila, um dos coordenadores do documento em fase de confecção. O grupo estava acompanhado do também economista Persio Arida, apresentado dias atrás como coordenador do programa de governo.

A meta de aumento de 50% nas importações e exportações foi citada por Arida ao defender maior abertura da economia brasileira como estratégia para produzir ganhos de produtividade. "Se não abrir a economia, o país não vai dar o salto que precisa", afirmou.

Depois de lembrar que o Estado não tem condições de investir, pois precisa fazer o ajuste fiscal, o economista disse que aposta na atração de capitais nacional e estrangeiro para investimento em infraestrutura. Ele afirmou que é necessário acabar com o que chamou de "mito" da existência de setores estratégicos, como petróleo e energia. Lembrou que aço, fertilizantes e telecomunicações, entre outros, já foram considerados estratégicos, mas que esse tipo de classificação não faz sentido.

A meta de zerar o déficit fiscal em até dois anos também foi mencionada por Arida. Assim como a de dobrar a renda dos brasileiros. Depois que Alckmin mencionou esse objetivo, Arida afirmou que "não é algo que se consiga nem em um mandato nem em dois mandatos". Ninguém citou, porém, qual seria o tempo necessário para tal.

José Roberto e Alexandre Mendonça de Barros (pai e filho) destacaram a importância da agricultura para o desenvolvimento do Brasil. O setor foi classificado como "polo dinâmico que tem sido mal compreendido".

No início, Alckmin disse que foi apresentado a um estudo que mostrou distribuição de renda melhor em áreas de agronegócio. "Nas cidades de agro forte, o índice de Gini melhorou", disse. Mais adiante, Alexandre Mendonça de Barrou voltou ao assunto, mas com uma abordagem diferente: "Todos os Estados com melhor distribuição de renda são Estados agrícolas", afirmou. Em seguida, citou Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Santa Catarina como exemplos disso.

Por apoio do PSB, PDT discute ex-prefeito de BH como vice de Ciro

Plano inicial do partido era que a vaga fosse ocupada por um empresário do Sul ou do Sudeste

Gustavo Uribe| Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - Com a expectativa de fechar uma aliança nacional com o PSB, o PDT tem discutido a indicação do ex-prefeito de Belo Horizonte Márcio Lacerda para o posto de vice-presidente na chapa de Ciro Gomes.

O plano inicial do partido era que a vaga fosse ocupada por um empresário do Sul ou do Sudeste e que não tivesse a imagem atrelada diretamente ao universo político, como o caso do presidente da CSN (Companhia Siderúrgica Nacional), Benjamin Steinbruch.

Como o PP, partido a que ele é filiado, tem articulado uma coligação de centro-direita com o DEM e o PRB, o PDT avalia a necessidade de fazer um gesto político que amarre de vez o PSB na chapa presidencial. Com um apoio, a sigla mais do que dobraria o tempo de propaganda televisiva de Ciro.

O mineiro é empresário, amigo do cearense e foi seu secretário-executivo quando ele comandava o Ministério da Integração Nacional, durante o governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Ele deixou o cargo após seu nome ser mencionado no escândalo do mensalão como tendo recebido dinheiro do ex-tesoureiro do PT Delúbio Soares. Na época, ele disse que pediu ajuda ao petista para pagar agência de publicidade que fez a campanha presidencial de Ciro em 2002.

A indicação de Lacerda para o posto de vice tem o apoio da corrente pernambucana do PSB, a mais forte da legenda. Isso porque a retirada de sua pré-candidatura ao governo de Minas Gerais e o apoio do partido à reeleição de Fernando Pimentel, do PT, facilitaria um acordo em Pernambuco.

O governador Paulo Câmara, do PSB, tem buscado o apoio do PT à sua candidatura a um segundo mandato. Os petistas, contudo, têm cobrado reciprocidade em outras disputas estaduais, como em Minas Gerais.

PSB deve desistir de Marcio Lacerda em Minas para apoiar PT

Coluna do Estadão | O Estado de S. Paulo

PT e PSB negociam acordos regionais para tentar garantir a reeleição dos seus governadores em Minas e Pernambuco. O pacto passa pelo PSB desistir de lançar a candidatura de Marcio Lacerda ao governo mineiro para apoiar o petista Fernando Pimentel. Em troca, o PT abriria mão de disputar os governos de Pernambuco e da Paraíba. Nesses Estados, o partido apoiaria a reeleição do governador Paulo Câmara e de João Azevêdo, respectivamente, ambos do PSB. Para isso, o PT limaria a candidatura de Marília Arraes e não lançaria nome próprio na PB.

Na mesa. Paulo Câmara (PSB) e Pimentel (PT) jantaram, ontem, em Pernambuco. O prato principal foi o acordão em torno da reeleição dos dois. A maior dificuldade é o PT convencer Marília Arraes a desistir da candidatura. O movimento será de cima para baixo.

Chama reforço. Dirigentes do PSB acham que tirar Marcio Lacerda da disputa será mais fácil. A ele será oferecida vaga de senador na chapa de Pimentel. Outra alternativa é o PSB indicá-lo como vice na chapa do presidenciável Ciro Gomes (PDT).

Alianças estão na pauta de reunião de governadores no Recife

Marcos de Moura e Souza | Valor Econômico

BELO HORIZONTE - O governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel e o da Bahia, Rui Costa, ambos petistas, devem encontrar-se hoje no Recife com o governador de Pernambuco, Paulo Câmara (PSB) e outros chefes de administrações estaduais. Formalmente, o encontro tratará de questões administrativas, mas alianças eleitorais deverão entrar na pauta. O PSB hesita entre aliar-se ao presidenciável Ciro Gomes (PDT) ou ficar sem candidato presidencial este ano.

Interessa a Paulo Câmara uma composição com o PT para viabilizar sua reeleição. E interessa a Pimentel atrair o PSB para sua campanha por um segundo mandato. Essa costura teria, no entanto, de passar por uma desistência do pré-candidato do PSB ao governo de Minas, o ex-prefeito de Belo Horizonte, Marcio Lacerda.

Na próxima semana, os governadores petistas devem se reunir em Brasília com a presidente nacional do partido, a senadora Gleisi Hoffmann. O encontro, esperado para terça ou quarta-feira, tem como objetivo travar a discussão sobre a campanha presidencial.

A direção do PT vem insistindo que Lula é candidato a presidente. Mesmo cumprindo pena de prisão em Curitiba, após ser condenado em segundo instância por corrupção passiva no processo do triplex no Guarujá (SP), Lula mantém ampla liderança nas pesquisas de intenção de voto.

Lula reafirma candidatura em artigo

Por Carolina Freitas e Raphael Di Cunto | Valor Econômico

SÃO PAULO E BRASÍLIA: O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e a cúpula petista redobraram a aposta e tornaram mais distante ontem a possibilidade de o PT apoiar um candidato de outro partido na eleição presidencial ou lançar um nome alternativo. Pré-candidato à Presidência, Lula cumpre pena por corrupção passiva na Polícia Federal em Curitiba (PR), com sentença já transitada em julgado na segunda instância e deve ser declarado inelegível caso registre sua candidatura.

Em artigo publicado ontem no jornal francês "Le Monde" Lula deixou claro que vê uma retirada da candidatura como uma confissão de culpa. "Sou candidato a presidente do Brasil, nas eleições de outubro, porque não cometi nenhum crime", disse. "Para me prender, e tentar me impedir de disputar as eleições ou fazer campanha para o meu partido, tiveram que ignorar a letra expressa da constituição brasileira, em uma decisão provisória por apenas um voto de diferença entre 11 na Suprema Corte", afirma o petista no texto.

O artigo indica que o PT questionará a legitimidade do processo eleitoral caso Lula não possa participar. As eleições, de acordo com o ex-presidente, "só serão democráticas se todas as forças políticas puderem participar de forma livre e justa".

Em seu artigo para a publicação francesa, Lula descreve o Brasil atual como uma "pária em política externa", evitado por líderes internacionais e distante dos países vizinhos. O petista atribui a ascensão do presidente Michel Temer (MDB) a um "golpe parlamentar que abriu caminho para um programa neoliberal que havia perdido quatro eleições seguidas e que é incapaz de vencer nas urnas".

Lula foi condenado a 12 anos e 1 mês de prisão pela segunda instância da Justiça. Ele está preso há 40 dias, depois de perder um recurso julgado pelo Supremo Tribunal Federal (STF).

Para FHC, não se deve confundir 'centro' com 'Centrão'

Ex-presidente é um dos patrocinadores de um manifesto a ser lançado no fim de maio, encabeçado por lideranças de PSDB, DEM, MDB e PTB

Daniel Weterman | O Estado de S.Paulo

Defendendo a união do que chama de centro democrático e reformista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso afirmou nesta quinta-feira, 17, que é importante "não confundir o centro com centrão".

Fernando Henrique é um dos patrocinadores de um manifesto a ser lançado no fim de maio, conforme antecipado pelo Estado, que destaca a necessidade de unir um "centro democrático" nas eleições, encabeçado por lideranças de PSDB, DEM, MDB e PTB.

"Acho que precisa haver um esforço", disse FHC. "Se você diluir o centro no centrão, não corresponde com o desejo de reforçar o pensamento democrático, prestar atenção nas desigualdades, combate à corrupção e visão de futuro, o Brasil integrado na economia global, isso que eu acho uma visão que precisa ser renovada no centro."

Como centrão, o tucano explicou que se refere a pessoas com interesses fisiológicos no "dá cá toma lá" de partidos e governo. "O povo não quer saber de dá cá toma lá, o povo quer saber da vida concreta dele. Esse centro democrático progressista tem que olhar para os interesses do povo, e não o interesse dos políticos, que nós estamos cansados de ver que não dá certo."

O ex-presidente deu um recado ao seu partido falando que é preciso unir o centro nas eleições, mas que misturar o chamado "centrão" na aliança pode ter um custo caro perante o eleitorado.

Questionado se Geraldo Alckmin (PSDB) está confundindo o centro com centrão, FHC disse que o presidenciável tem sido prudente. "O Alckmin tem tido bastante prudência nessa matéria. Não tem nem dado passos além da perna", citou. Destacando que o ex-governador paulista é experiente, Fernando Henrique citou uma "receita" para Alckmin na campanha.

"Ele sabe que tem que jogar para o longo prazo, e sabe também que há o momento, que é o atual, que tem de ver com que aliança ele vai se propor. E, depois no momento decisivo que é a campanha, [apresentar] 'o que eu vou dizer ao País'."

Corrida. Enquanto o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB) patina nas pesquisas de intenção de voto e conversa com outros partidos para as alianças eleições de outubro, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso disse que o pré-candidato tucano tem sido "prudente" e não tem dado "passos além da perna" nas alianças eleitorais.

Aliança com MDB. Após conversar com o presidente Michel Temer, Fernando Henrique considera difícil uma aliança do PSDB com o MDB no primeiro turno das eleições. O tucano afirma que, "provavelmente", o MDB terá candidato próprio e que, se não tiver, vai se concentrar nas eleições estaduais.

Maior do que o obstáculo de ser vinculado à imagem do governo Temer, disse FHC, são os "choques" entre as duas legendas nos palanques estaduais. "É difícil, os problemas são objetivos, muito mais que subjetivos", declarou, destacando que a decisão por uma aliança caberá a Alckmin.

Empenhado em unir partidos de centro, FH diz que movimento não é o Centrão

Ex-presidente critica grupo fisiológico de deputados que sustentava Eduardo Cunha

Dimitrius Dantas | O Globo

SÃO PAULO - No mesmo dia em que assinou um texto defendendo a união do que chama de centro democrático e progressista, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso fez questão de diferenciar o grupo político que tenta formar do chamado Centrão, bloco parlamentar que une partidos que inicialmente deram sustentação ao ex-presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), preso por corrupção.

— Não (podemos) confundir o centro com o Centrão. Isso não corresponde ao meu desejo, que é reforçar o pensamento democrático, prestar atenção às desigualdades, combate à corrupção e visão de futuro — disse FH.

Segundo ele, o Centrão é um grupo de políticos com interesses fisiológicos e uma possível aliança com esse grupo diminuiria a margem para a discussão com a população durante a campanha eleitoral.

No manifesto, publicado pelo jornal "O Estado de S. Paulo" e confirmado pelo GLOBO, FH e outras lideranças defendem a união dos partidos do campo político que se autodenomina de centro (que não está nem à direita nem à esquerda). A proposta é criar uma iniciativa que alcance vários partidos, de liberais a sociais democratas e socialistas democráticos.

Embora o PMDB tenha assinado o manifesto, Fernando Henrique afirmou que é improvável que o partido apoie o candidato tucano para a Presidência da República, o ex-governador de São Pauo Geraldo Alckmin. Segundo ele, o partido do presidente Michel Temer tem um candidato próprio e, em alguns estados, PSDB e PMDB são adversários.

— Estou fora da coordenação de campanha. Digo o que eu penso, o que acho que tem que fazer. Quem vai decidir isso é o Alckmin. Mas o PMDB está se organizando para ter candidato. É difícil porque em muitos estados o PMDB e o PSDB estão em choque — disse.

Para os idealizadores do manifesto, o centro não faz referência ao sentido ideológico do termo, já que poderia unir a centro-direira e a centro-esquerda. O centro surgiria como metáfora para o objetivo de garantir um equilíbrio no sistema político em relação aos extremos radicais na esquerda e na direita.

O texto do manifesto, ainda não finalizado, foi lido e aprovado por FH e pelo chanceler Aloysio Nunes Ferreira. Novas assinaturas devem ser tomadas até o lançamento do manifesto, no próximo dia 29.

O ex-presidente desconversou, contudo, quando questionado se o candidato do seu partido estaria confundindo o centro com o Centrão. No último dia 5, Alckmin visitou Ciro Nogueira, presidente do PP, no Piauí, mesmo dia em que telefonou para Michel Temer, atitude vista como um sinal de reaproximação entre ambos. Tanto Nogueira quanto Temer são denunciados da Operadora Lava Jato. Para FH, Alckmin vem agindo com prudência em relação a essas alianças.

Apesar da movimentação nos bastidores, o candidato do PSDB ainda não engrenou nas pesquisas de intenção de voto. Levantamento da MDA publicado pela Confederação Nacional de Transportes mostrou uma queda nas intenções de voto em Alckmin e aumento de sua rejeição. Fernando Henrique, no entanto, não se mostrou preocupado.

— Não, não, não, o Alckmin tem tido bastante prudência nessa matéria (alianças), não tem dado passos além da perna. Ele é um político experiente, sabe que tem que jogar pro longo prazo e tem um momento que é o atual, de ver com que aliança vai se propor, e depois o momento decisivo, que é o da campanha — disse.

Alckmin anuncia equipe econômica com criadores do Plano Real

Edmar Bacha se juntará a Persio Arida na formulação da política econômica do pré-candidato; ambos participaram da equipe de FHC no Ministério da Fazenda em 1993

Marcelo Osakabe | O Estado de S.Paulo

Os economistas Edmar Bacha e Persio Arida, dois dos criadores do Plano Real, formarão a equipe econômica do pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin. O anúncio foi feito pelo tucano em um evento em São Paulo. Na campanha, Bacha, que é um dos diretores da Casa das Garças, vai cuidar da política de comércio exterior.

Também foram anunciados os economistas José Roberto Mendonça de Barros, que foi ex-secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda entre 1995 e 1998, e seu filho, Alexandre Mendonça de Barros. A equipe, no entanto, ainda não está fechada.

Em novembro, Bacha publicou, junto com Elena Landau e Luiz Roberto Cunha, uma carta criticando a atuação da bancada do PSDB no debate da reforma da Previdência. Na ocasião, eles argumentaram que não fechar questão sobre o tema era negar "todo o esforço nessa direção feito ao longo do governo FHC".

Com esquerda e direita divididas, fator Bolsonaro aumenta incerteza no Rio

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - "É, de longe, o cenário eleitoral mais aberto do Brasil", resume o deputado federal e presidente do PSDB fluminense, Otavio Leite. A disputa a governador do Rio, nebulosa e à espera de definições da corrida presidencial, tem uma quantidade de pontas soltas que começam, muito lentamente, a se juntar. Centro-esquerda e centro-direita estão tão divididas que mal escondem seus pontos fracos e a dificuldade de se articularem. Podem ser surpreendidas pela direita mais conservadora, com o lançamento do deputado federal e ex-policial militar Marcelo Delaroli (PR), que desponta como palanque estadual de Jair Bolsonaro (PSL) ao Planalto. O presidenciável não cogitava ter candidato a governador no Estado.

Até recentemente o maior fator surpresa, o outsider e técnico de vôlei Bernardinho (Novo) refugou e nem por isso o cenário ficou mais claro. O senador e ex-jogador de futebol Romário (Podemos), um "quase outsider", lidera as pesquisas, mas nem todos confiam que entrará em campo.

Na eleição à prefeitura da capital, há dois anos, lançou candidatura e depois a abandonou. Há quem diga que agora estaria mais disposto, com a possibilidade de ser o palanque do azarão e também senador Alvaro Dias (Podemos-PR), pré-candidato ao Planalto. "Tá um pouco diferente. Percebo mais ânimo. Outro dia o vi no avião lendo números sobre o Rio", diz um político do Estado.

No xadrez eleitoral do Rio, porém, a indefinição de Romário é apenas um dos fatores da zona de incerteza. Há dúvida até sobre a participação do segundo lugar no levantamento mais recente, feito pelo instituto Paraná Pesquisas, o ex-prefeito Eduardo Paes, que teve 14,1% das intenções de voto contra 26,9% de Romário.

Recém-filiado ao DEM, Paes é egresso do MDB, manchado pelas acusações e condenações por corrupção que atingiram integrantes da cúpula do partido, entre eles o ex-governador Sergio Cabral e o ex-presidente da Assembleia Legislativa, Jorge Picciani. O próprio ex-prefeito é alvo de investigações da Lava-Jato e estaria recebendo pressões da família para não concorrer e da chinesa BYD Motors - maior montadora de veículos elétricos do mundo, da qual é executivo para a América Latina - para se manter na iniciativa privada.

Frente busca suprir ausência de Freixo

Por Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - Se a fragmentação da direita na eleição a governador do Rio é grande, a da esquerda não é menor. Principal expressão eleitoral do campo progressista no Rio, o deputado estadual Marcelo Freixo (Psol) afastou qualquer possibilidade de concorrer ao Palácio Guanabara. Vai se lançar a deputado federal para ajudar o Psol a ultrapassar a cláusula de barreira, que passa a vigorar nestas eleições. Com a decisão de Freixo, a união das legendas de esquerda ficou mais difícil. O PT mantém a candidatura do ex-chanceler Celso Amorim (3,6% das preferências, de acordo com levantamento do Paraná Pesquisas); o PCdoB conta com o vereador de Niterói Leonardo Giordano; o PDT aposta no deputado estadual Pedro Fernandes; e o Psol vai novamente com o vereador da capital Tarcisio Motta, que obteve quase 9% dos votos em 2014.

Na tentativa de formar uma frente progressista, o antropólogo Luiz Eduardo Soares tem promovido reuniões em sua casa em São Conrado - "É o nosso aparelho" - para se chegar ao consenso em torno de um nome.

O primeiro encontro, com representantes da sociedade civil e de movimentos sociais, foi no dia 8. Na sexta-feira, 25, o convite será estendido a dirigentes e representantes partidários, como os deputados federais Alessandro Molon (PSB) e Jandira Feghali (PCdoB), o senador Lindbergh Farias (PT) e Freixo.

Das cinco legendas que participam, o PSB é a única que não tem pré-candidato, o que, na opinião de Soares, poderia facilitar as demais a abrirem mão de seus postulantes, em favor, por exemplo, do ex-ministro da Saúde, José Gomes Temporão. "O Rio é um pequeno retrato do Brasil em seus piores aspectos. O cenário é dantesco. Mas isso também facilita e induz a entendimentos", diz o antropólogo.

Luiz Eduardo Soares - que já foi do PT e do Rede Sustentabilidade, de Marina Silva - sugere ainda a filósofa e petista Márcia Tiburi. Ou mesmo Tarcisio Motta. O importante, diz, não é o nome, mas a formação da frente. O terceiro encontro do esforço que qualifica de "quixotesco" será um evento público, num auditório maior.

Estão fora do grupo de discussão o Rede, cujo pré-candidato é o decano da Câmara dos Deputados, Miro Teixeira (6,2%), e o PPS, aliado tradicional dos tucanos no Estado. "O problema do PPS é que fechou com a direita em todo esse processo do impeachment [da ex-presidente Dilma Rousseff] e esteve no governo Temer. O Rubem Cesar é meu amigo, uma grande figura, mas se autoexcluiu ao escolher partido que não faz parte do nosso campo. E o Rede, além do impeachment, ficou a favor da intervenção federal", diz.

Vinicius Torres Freire: O dólar e todos contra o governo

- Folha de S. Paulo

BC causa ira e confusão no mercado; dólar caro piora imagem política de governistas

O povo dos mercados teve alguns prejuízos, precisou rever onde coloca seu dinheiro e ficou desnorteado com a decisão do Banco Central de não mexer na taxa de juros, o que causou viva irritação na praça.

O revertério do BC explica o tumulto desta quinta-feira (17) nos negócios. Como de costume, porém, um dia apenas não permite saber qual o novo tom do mercado, se é que a banda vai tocar mesmo de outro modo. As notícias econômicas dos últimos dias talvez tenham mais importância para a política eleitoral.

Um primeiro motivo do tumulto foi uma rearrumação da casa da finança. Como o BC decidiu manter a Selic em 6,5% ao ano, contrariando expectativa quase geral, teve gente que amanheceu comprando ou vendendo dinheiro a preço errado, digamos, levando prejuízo. Uma perda relevante aqui costuma demandar compensações ali, vendas de certos ativos. Uma reação em cadeia, grosso modo.

Segundo, além de recomposição das aplicações, a decisão do Banco Central provocou incerteza e, assim, levou gente para a retranca. Sejam as dúvidas boas ou não, investidores e negociantes de dinheiro passaram a perguntar:

Míriam Leitão: O corte certo

- O Globo

O próximo governante terá que fazer um ajuste fiscal de 5% do PIB, segundo o economista Arminio Fraga, para que “o Brasil saia do cheque especial". Ele acha que pode haver um aumento de impostos — desde que não seja a CPMF —, mas antes teria que haver cortes nos gastos e ele sugere um ponto onde começar a reduzir as despesas. “A ‘bolsa empresário’ custa 7% do PIB e os programas não têm avaliação".

Por “cheque especial” ele quer dizer o déficit público brasileiro, que cresceu muito e agora se mantém num nível alto. Com a expressão “bolsa empresário” ele se refere aos inúmeros subsídios e incentivos concedidos no Brasil aos setores empresariais. Em entrevista que concedeu ao meu programa na GloboNews, ele falou das três crises cambiais que enfrentou no governo, em 1991, quando era diretor da área externa, e em 1999 e 2002 quando era presidente do Banco Central, e as comparou com a atual alta do dólar.

— Em 1991 era um sistema de câmbio administrado que tinha ficado defasado. Foi uma minicrise, o câmbio desvalorizou 15%. A de 1999 o país estava saindo de uma âncora cambial e tinha que fazer um ajuste fiscal. A de 2002 foi uma crise de confiança, o medo real e absoluto do que viria depois.

Hoje o país está mais forte do ponto de vista das contas externas do que em todas as anteriores, porque o déficit em transações correntes está praticamente zero e o país continua atraindo investimento estrangeiro. Por outro lado, agora o déficit fiscal está mais alto e a dívida subiu muito nos últimos anos.

— Com isso, a coisa se volta para uma incerteza maior: o que vai ser o futuro do Brasil diante desse desafio fiscal.

Arminio acha que o Banco Central agiu certo, esta semana, ao interromper a queda dos juros, a despeito de a inflação estar baixa.

— O Banco Central já estava vendendo reservas, a ração diária outra vez. A venda direta de US$ 250 milhões por dia. Nesse quadro, uma pausa faz todo o sentido.

Arminio disse que a atual equipe está conseguindo manter o nível de déficit, o que por si só é uma dificuldade no Brasil. Mas tudo o que foi aprovado no atual governo foi o teto de gastos, que ele acha muito difícil cumprir sem outros ajustes. Para ele, a reforma da Previdência não é apenas urgente, ela tem que ser bem mais ampla do que foi proposta pelo governo Temer, e defendeu uma mudança completa no orçamento.

— O governo não conseguiu fazer a reforma da Previdência e o lado fiscal está aí para quem vier. E o que vem é um baita desafio. Estamos falando de uma juste de 5% do PIB, talvez um ponto volte com o país crescendo, mas o ajuste terá que acontecer. A dívida é maior do que era antes desse colapso fiscal. Essa parte ficou para o próximo governo.

Fernando Dantas: Chegou a conta

- O Estado de S.Paulo

Com contas públicas arrumadas, seria mais fácil enfrentar qualquer tormenta

A conta do desequilíbrio fiscal chegou. Num momento em que a economia brasileira ainda se arrasta e a inflação é a mais baixa desde o Plano Real, o Banco Central deixou de cortar a Selic, a taxa básica, na quarta-feira por causa do câmbio.

É preciso qualificar essa afirmação. A forte desvalorização que o real vem sofrendo ante o dólar atinge a maior parte das moedas, especialmente dos países emergentes. E o corte que o BC deixou de fazer, de 0,25 ponto porcentual, é pequeno demais, por si só, para fazer diferença na economia. Mas é preciso olhar o contexto maior.

Nos últimos anos, o mundo viveu uma fase de excepcional liquidez, como consequência da ação superagressiva dos principais bancos centrais para estimular as economias desenvolvidas. O excesso de dinheiro circulando pelo mundo criou um clima de complacência em relação aos desequilíbrios de muitos países.

Agora, porém, a festa está acabando, e em velocidade superior à esperada no caso dos Estados Unidos. Enquanto o Fed, o banco central americano, elevou os Fed Funds, a taxa básica de lá, do intervalo de zero a 0,25% ao ano no fim de 2015 para 1,5% a 1,75% em março deste ano, a taxa de juros de dez anos do Tesouro americano (a mais importante do mundo) saiu de 1,36% em julho de 2016 para 3,11% ontem.

No momento em que o excesso de dinheiro começa a ser drenado dos mercados globais, as fragilidades que antes eram ignoradas se tornam incômodas para os investidores.

Assim, embora haja um movimento autônomo de valorização do dólar ante outras moedas, que pode ser visto mesmo ante divisas de países e áreas mais sólidos em seus fundamentos, como Canadá, Austrália, Chile e zona do euro, no caso de emergentes mais problemáticos a mesma história se torna potencialmente mais turbulenta.

Claudia Safatle: A economia está sob o domínio da política

- Valor Econômico

É preciso mais do que a queda da Selic para o país crescer

A atividade econômica está sob o domínio da política. O inquietante quadro eleitoral do país é parte importante da revisão generalizada das estimativas de crescimento para este ano. O próprio governo reduzirá seus prognósticos de 3% para cerca de 2,3% a 2,5% na semana que vem, quando da divulgação do relatório bimestral de receitas e despesas com os novos parâmetros macroeconômicos.

No mercado, a mudança de rota indica que a expansão do PIB deverá se situar entre 1,5% e 2,5%. Consumo e investimento estão fracos e não mais se vislumbra o cenário que a área econômica imaginava para os próximos meses do ano - com significativa melhora no mercado de trabalho e na produção.

Os sinais da fragilidade na retomada do crescimento se confirmaram no Índice de Atividade Econômica do Banco Central (IBC-Br), que teve queda de 0,13% no primeiro trimestre deste ano em relação ao último trimestre de 2017.

O PIB do primeiro trimestre deve ficar na casa de 0,2% em comparação com igual período do ano anterior e, no ano, em 2,3%, segundo Silvia Matos, economista do Ibre/FGV. Pelo menos dois fatores diferenciam a modesta performance do consumo neste ano da expansão do ano passado: a desinflação que teve impacto positivo na massa de rendimentos em 2017; e a liberação das contas inativas do FGTS, que injetou algumas dezenas de bilhões de reais na economia. A massa ampliada de rendimentos, que cresceu 5,4% no ano passado, deve ter acréscimo de apenas 0,4% neste exercício.

Sílvia Matos estima um aumento de 2,8% no consumo das famílias e de 0,3% no consumo do governo. Para os investimentos, a situação também não é animadora. Ela projeta expansão de 4,3%. Os ventos internos e externos estão invertendo a direção.

Por atividade, as projeções são de expansão de 2,9% para a indústria, 1,9% para a agropecuária e de 1,8% para o setor de serviços. Não há clareza, por enquanto, em relação ao impacto da crise na Argentina sobre a indústria automobilística brasileira.

Contrariando a aposta dos mercados numa candidatura de centro para onde convergiriam os maiores partidos, Jair Bolsonaro (PSL) e Ciro Gomes (PDT) são os dois candidatos que, no momento, ameaçam disputar o segundo turno das eleições.

O primeiro quer armar toda a população e o segundo disse, até agora, que vai desfazer tudo o que o governo Temer fez e que tanto agradou o setor real da economia. "Nessa perspectiva, fica a pergunta: Quem vai botar a mão no bolso para investir no país?", indagou uma alta fonte oficial.

Rogério Furquim Werneck: Perplexidade e desalento

- O Globo

Nos últimos quatro anos, o eleitor vem tendo de lidar, a duras penas, com turbilhão interminável de fatos graves e desconcertantes

Ao comparar resultados de maio com os de março, a nova pesquisa CNT/MDA detecta, de um lado, elevação substancial do percentual de eleitores indecisos e dispostos a votar em branco ou anular o voto e, de outro, quedas nas intenções de voto de todos os candidatos a presidente, afora Ciro Gomes, que mostrou oscilação de menos de um ponto percentual para cima, dentro da margem de erro. O que a comparação revela, a cinco meses das eleições, é um país tomado pela perplexidade e pelo desalento.

Para tentar entender fenômeno tão complexo, há que ter em conta, antes de mais nada, quão massacrado vem sendo o eleitorado desde a eleição presidencial de 2014. Nos últimos quatro anos, o eleitor vem tendo de lidar, a duras penas, com um turbilhão interminável de fatos graves e desconcertantes.

Reeleita numa disputa presidencial acirrada, em que conseguiu esconder do eleitorado as reais proporções da alarmante crise econômica que armara no seu primeiro mandato, Dilma Rousseff permitiu-se imediato e escancarado estelionato eleitoral, ao nomear um ministro da Fazenda de perfil ortodoxo, para levar adiante um programa que contrariava em tudo o que prometera na campanha eleitoral.

Joaquim Levy não durou um ano. E na esteira do quadro de descalabro fiscal que, afinal, emergiu em toda a sua inteireza, Dilma acabou afastada do cargo e submetida a um processo de impeachment que redundou em sua substituição definitiva por Michel Temer, 20 meses após o início do mandato presidencial.

A essa altura, já não havia mais espaço para ilusões sobre o tamanho da recessão que estava em curso. A queda acumulada do PIB no biênio 2015-16 seria superior a 7%. E a taxa de desemprego chegaria a 13,6% no final de 2016, o dobro da que fora observada em 2014. Apesar da recuperação por que agora passa a economia, ainda há 13 milhões de pessoas desempregadas no país.

O desempenho inicial de Temer surpreendeu. Tendo conseguido montar um ministério que lhe assegurou amplo apoio do Congresso e uma equipe econômica de alto nível, conseguiu estabilizar a economia, restaurar a credibilidade do Banco Central e reinstituir a transparência na gestão das contas públicas. E, como parte de um plano de ajuste fiscal paulatino, que teria de se arrastar por mais de um mandato presidencial, conseguiu também aprovar um teto constitucional à expansão de gastos e submeter ao Congresso uma proposta ousada e abrangente de reforma da Previdência.

O BC escolheu a segurança: Editorial | O Estado de S. Paulo

A festa acabou, o dólar disparou, o cenário externo ficou perigoso e prevaleceu a prudência na reunião do Copom, o Comitê de Política Monetária do Banco Central (BC). Depois de uma série de 12 cortes iniciada em outubro de 2016, o comitê resolveu manter a Selic, a taxa básica, em 6,50%. Fontes do mercado e analistas profissionais ainda falavam, na manhã de quarta-feira, numa redução para 6,25%. Essa havia sido a mediana das projeções captadas na última pesquisa Focus, fechada na sexta-feira e divulgada na segunda-feira pelo BC. Havia espaço para esse movimento, argumentavam, porque a inflação continua bem abaixo da meta e o crescimento econômico está mais lento que no fim do ano passado. Mesmo fazendo algum sentido, essa conversa parecia estranha, inegavelmente, no meio da turbulência cambial e da insegurança mostrada por empresários, investidores e consumidores diante do quadro eleitoral e da paralisação da pauta de reformas.

A possibilidade de um novo corte havia sido indicada várias vezes por diretores do BC, desde a reunião anterior do Copom, em março. Numa entrevista recente, o presidente da instituição, Ilan Goldfajn, pareceu confirmar essa quase promessa de redução da taxa para 6,25%. Mas apenas pareceu. A decisão, disse ele em resposta a um entrevistador, dependeria das perspectivas da inflação. Como as projeções ainda apontam inflação abaixo de 4% neste ano, a nova redução da Selic foi dada como certa por muitos especialistas.

Mas as perspectivas de inflação dependem de vários fatores e um deles é o preço do dólar. Analistas parecem haver menosprezado esse detalhe. Se houve alguma surpresa, seria fácil desfazê-la com a leitura da nota emitida no começo da noite de quarta-feira, logo depois da reunião do Copom. A nota menciona o arrefecimento da atividade econômica e o comportamento ainda favorável da inflação, com projeções em torno de 3,5% para este ano e de 4% para 2019 e 2020. Mas o quadro muda quando se refazem as contas com juros constantes de 6,50% e dólar a R$ 3,60.

Parada nos juros é sinal para futuro governo: Editorial | O Globo

Manutenção da Selic em 6,5%, apesar de sinais do próprio BC de que os cortes continuariam, alerta próximo presidente para a gravidade da situação fiscal

Notas do Comitê de Política Monetária (Copom), do Banco Central, sinalizavam a continuidade dos cortes nos juros básicos (Selic), numa série inédita, depois de 12 reduções consecutivas, de 14,25% para 6,25%. O próprio presidente do BC, Ilan Goldfajn, em recente entrevista à GloboNews, reforçou o prognóstico. Mas a taxa foi mantida, quarta-feira, nos 6,5%.

Desencontros podem acontecer nos bancos centrais, cujo único compromisso precisa ser com a missão de refrear a inflação e manter a economia equilibrada. A decisão foi sensata, devido à veloz mudança do cenário externo, com o movimento consistente de valorização do dólar, na esteira da expectativa de que os juros americanos devem subir de forma mais rápida. Pois os sinais de aquecimento da economia dos EUA, com risco de mais inflação, são fortes. Na linguagem do Copom, o “balanço de riscos” aconselha cautela, a ser mantida nas próximas reuniões.

A tendência de elevação mais rápida dos juros americanos deprecia, em especial, moedas de países emergentes, porque o dinheiro globalizado que se encontra aplicado em seus mercados vai para os EUA atraído por taxas mais elevadas, conjugadas à extrema segurança dos títulos do Tesouro dos Estados Unidos. Quem não estiver com os fundamentos (contas internas, externas, inflação) bem alinhados deve enfrentar grandes desvalorizações, devido à chamada fuga de divisas.

Economia segue na rota do baixo desempenho: Editorial | Valor Econômico

A política monetária encerrou o ciclo de baixa e a recuperação da economia, já bastante fraca, terá de se virar sem seu único estímulo. É certo que o ciclo seria interrompido de qualquer forma e que os efeitos da grande redução, resultado de cortes em 12 reuniões consecutivas do Copom, até agora não se fizeram sentir por completo. Com todas as condições favoráveis, no entanto, o desempenho econômico no primeiro trimestre foi decepcionante, a julgar por vários indicadores setoriais e, agora, pelo IBC-Br do Banco Central, que registrou queda de 0,13% no período.

O IBC-Br foi o mais recente dos indicadores a exprimir a letargia da reação da economia. Dados negativos do comportamento dos serviços, do emprego e de vários indicadores de confiança esfriaram as expectativas de bancos e consultorias mais otimistas. E os analistas pessimistas estão agora mais pessimistas. A pesquisa Focus vem indicando há semanas que as projeções para o crescimento do PIB no ano se aproximam dos 2,5%. Há um movimento em direção, na verdade, aos 2%, mas aguarda-se a divulgação dos números oficiais do IBGE, no dia 30, para revisões mais apropriadas.

Não há nada de estranho ou imprevisível que tenha ocorrido nesse início do ano. A economia continua se debatendo com as sequelas da mais longa recessão da história republicana recente e das políticas que a produziram. A desarrumação das contas públicas, que estão produzindo déficits superiores a 2%, impediram que medidas contracíclicas sustentáveis entrem em cena. A crise política, que corre paralela, desarticulou investimentos e o governo federal, totalmente enredado nela, não criou condições para expectativas mais favoráveis aos investimentos privados.

O reaquecimento econômico será lento, como se previu desde meados de 2017, e os mais otimistas na curva das expectativas estão às voltas com a realidade. Uma parte dos analistas apostou em uma recuperação como as ocorridas no passado recente - rápida e intensa. Era difícil apreciar, no entanto, a profunda avaria no motor do consumo, depois de mais de uma década de exuberante performance.

Sobreviventes: Editorial | Folha de S. Paulo

Um ano depois da delação da JBS, Temer e outros envolvidos se mantêm à tona, mas não há vitoriosos

Passou-se um ano desde que, com o revelado na delação do empresário Joesley Batista, o presidente Michel Temer se viu em meio a uma crise capaz de encerrar precocemente o seu mandato.

O emedebista contornou o perigo a custo, mas de certa forma é como se não tivessem restado vitoriosos políticos depois de uma sequência de eventos tão escandalosa.

Gravado numa conversa fora de agenda, o presidente indicava ao dono da JBS o nome do então assessor Rodrigo Rocha Loures como interlocutor de confiança.

Seria a pessoa a substituir o ex-ministro Geddel Vieira Lima (Secretaria de Governo) nesse papel, de atribuições ainda obscuras.

Sabe-se que Rocha Loures foi flagrado, dias depois, com uma mala contendo R$ 500 mil, a ele entregue por um representante da JBS.

Quanto a Geddel, descobriram-se em setembro suas impressões digitais num apartamento desocupado em Salvador, onde eram guardados R$ 51 milhões em espécie.

O ex-ministro se encontra em prisão preventiva. Com o recebimento unânime da denúncia do Ministério Público pela Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal, tornou-se, na semana passada, réu em processo criminal.

Não foi esse, por enquanto, o destino de Rocha Loures —que se beneficiou, por tabela, das prerrogativas e do poder político de Michel Temer. O presidente conseguiu, com os acordos fisiológicos que conduz com maestria, apoio da maioria da Câmara dos Deputados para sustar um processo.

Um ano depois da delação: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um ano depois do vazamento de sua delação, Joesley Batista foi denunciado mais uma vez. Num caso que tramita em segredo de justiça, a Procuradoria da República da Primeira Região denunciou Joesley Batista e Francisco de Assis e Silva, ex-diretor jurídico do Grupo J&F, por terem participado de um esquema de compra da atuação do procurador da República Ângelo Goulart Villela. Segundo a acusação, o objetivo do esquema era que o procurador beneficiasse Joesley e a empresa Eldorado Celulose na Operação Greenfield, que investiga fundos de pensão. Em outubro de 2017, os irmãos Joesley e Wesley Batista já haviam sido denunciados à Justiça Federal de São Paulo por uso de informação privilegiada e manipulação do mercado.

É mais que hora de a Justiça esclarecer os fatos envolvendo os acordos de colaboração premiada de Joesley Batista e de outros integrantes do Grupo J&F. Do que se sabe até agora, três pontos chamam a atenção. A Procuradoria-Geral da República (PGR), sob a chefia de Rodrigo Janot, concedeu anistia irrestrita a criminosos confessos, fazendo crer que o crime compensaria. O objetivo do Direito Penal é justamente o oposto: desestimular a prática de ações criminosas.

Em segundo lugar, há fortes elementos indicando que os acordos ultrapassaram os limites da lei. A suspeita, como os próprios delatores dão a entender em algumas gravações, é de que membros do Ministério Público teriam feito jogo duplo, beneficiando indevidamente os delatores durante a elaboração do acordo. As condições acintosamente favoráveis para Joesley Batista e outros integrantes do Grupo J&F reforçam a dúvida sobre a lisura da negociação.

A. Piazzolla. Libertango

Mario Quintana: Canção de Outono

O outono toca realejo
No pátio da minha vida.
Velha canção, sempre a mesma,
Sob a vidraça descida…

Tristeza? Encanto? Desejo?
Como é possível sabê-lo?
Um gozo incerto e dorido
De carícia a contrapelo…

Partir, ó alma, que dizes?
Colher as horas, em suma…
Mas os caminhos do Outono
Vão dar em parte nenhuma!