quinta-feira, 2 de outubro de 2014

Opinião do dia: Roberto Freire

É um governo inepto e incompetente. A gestão de Dilma é um desastre, além disso, as perspectivas no cenário econômico são as piores possíveis. Foi o pior quadriênio que tivemos na economia na história da República.

Roberto Freire, deputado federal (SP) e presidente nacional do PPS, sobre a divulgação dos dados do BC, S. Paulo 1 de setembro de 2014.

Aécio e Marina atacam uso dos Correios em campanha

• Aécio acusa Correios de boicotar PSDB; Marina diz que há ‘uso político’ da estatal

• Campanha tucana afirma que 5,6 milhões de panfletos deveriam ser distribuídos em Minas, mas denúncias indicam que não chegaram

Marcelo Portela e Pedro Venceslau - O Estado de S. Paulo

O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, acusou nesta quarta-feira os Correios de boicotar em Minas Gerais correspondências eleitorais do partido. As campanhas de Aécio e do candidato tucano ao governo do Estado, Pimenta da Veiga, vão fazer hoje representações ao Tribunal Regional Eleitoral em Minas e ao Ministério Público Federal em Brasília pedindo que a estatal seja investigada.

Na terça-feira, o Estado revelou um vídeo em que o deputado estadual Durval Ângelo (PT) afirma que a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição, só chegou aos “40%” das intenções de voto em Minas Gerais porque “tem dedo forte dos petistas nos Correios”. O parlamentar fez o comentário em uma reunião da qual participou também o presidente da empresa, Wagner Pinheiro.

Ao comentar nesta quarta-feira o caso, a candidata do PSB, Marina Silva, reafirmou a defesa do fim da reeleição.

“Por isso que eu sou contra a reeleição, porque cria uma situação de aparelhamento, de uso político das instituições públicas. Uma confusão entre o partido e o governo. Esse tipo de prática deve ser condenada pela sociedade e, principalmente, pela Justiça Eleitoral”, afirmou após visita à comunidade de Paraisópolis, na zona sul de São Paulo.

Nesta quarta-feira, a assessoria de Aécio informou que a campanha contratou os Correios no dia 25 de agosto para a distribuição de 5,6 milhões de correspondências a 100% dos endereços domiciliares de cidades do Estado.

Pelo contrato, o material deveria chegar à casa dos eleitores em até dez dias, o que não teria ocorrido segundo a campanha tucana. O PSDB diz que juntou mil declarações de destinatários que dizem não terem recebido as correspondências.

“Estão querendo fraudar as eleições em Minas Gerais. Os Correios chegaram a cometer a imprudência de, em um ofício, dizer que, ‘se não chegou, vamos enviar novamente’. Como enviar novamente se não havia outra remessa a ser enviada?”, disse Aécio em visita a Governador Valadares (MG). “Acho que aí há um ato falho que aponta para o caminho de uma fraude. Se comprovada a fraude, é algo absolutamente grave.”

Segundo o PSDB, o boicote teria por objetivo prejudicar as candidaturas de Aécio e Pimenta no Estado, o segundo maior colégio eleitoral do País e principal reduto eleitoral do presidenciável tucano.
Pesquisa Ibope/Estado/TV Globo divulgada na terça-feira mostrou que a petista lidera a disputa presidencial no Estado, com 36% das intenções de voto, ante 31% de Aécio e 17% de Marina Silva (PSB). Na disputa estadual, o candidato do PT, Fernando Pimentel, aparece com chance de vitória em 1º turno, com 45%, ante 25% de Pimenta.

Além da suspeita de boicote às correspondências, as representações do PSDB com pedido de Ação de Investigação Judicial Eleitoral seriam destinadas também à apuração da atuação de funcionários dos Correios nas campanhas do PT em Minas.

Pela manhã, em Mogi das Cruzes (SP), Aécio acusou o PT de querer vencer as eleições “no grito” e chegou a falar em ação criminal na Justiça contra o ministro das Comunicações, Paulo Bernardo, o presidente dos Correios e superintendentes da estatal. “Queremos a criminalização de todos os responsáveis por essa ação perversa de um partido.”

A notícia do Estado foi mostrada na quarta-feira no último programa eleitoral na TV de Pimenta da Veiga. “Os Correios pertencem ao povo brasileiro, não ao PT”, afirma uma atriz da propaganda.

PPS. O líder da bancada do PPS na Câmara dos Deputados, Rubens Bueno (PR), encaminhou na quarta-feira representação ao Ministério Público Federal contra Dilma. O PPS, aliado da candidata Marina Silva (PSB), questiona o uso dos Correios pela campanha presidencial petista.

Para o deputado, há uma “campanha aberta” conduzida pela empresa em favor da atual presidente, o que caracterizaria crime de improbidade administrativa.

Na semana passada, o Estado revelou que os Correios autorizaram a distribuição de 4,8 milhões de folders da campanha de Dilma em São Paulo. Outras dez siglas de oposição também receberam a mesma autorização para 927,7 mil panfletos.

Aécio e Marina acusam Correio de atuação eleitoral

• Tucano acusa Correios de não entregar material de campanha do PSDB em MG, e pessebista disse que a reeleição é uma chaga no país

• Marina diz que episódio em Minas é aparelhamento; Dilma pergunta em coletiva: "vocês acreditam nisso?"

Sérgio Roxo, Silvia Amorim e Tiago Dantas – O Globo

SÃO PAULO - Os candidatos do PSB e do PSDB à Presidência da República, Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB), criticaram nesta quarta-feira o suposto uso dos Correios pela campanha de reeleição da presidente Dilma Rousseff (PT). A pessebista afirmou que usar a empresa é o resultado do aparelhamento do Estado pela petista. Já o tucano acusou nesta quarta-feira o PT de orquestrar uma ação nos Correios de Minas Gerais para que o material de campanha dele e do candidato ao governo mineiro, Pimenta da Veiga, não fosse entregue a eleitores.

Vídeo divulgado nesta quarta-feira mostra o deputado estadual em Minas Durval Ângelo (PT) afirmou que Dilma só chegou aos 40% das intenções de voto no Estado porque "tem dedo dos petistas nos Correios".

A acusação foi feita durante visita de Aécio ao município de Mogi das Cruzes, no interior de São Paulo, onde ele mandou um recado aos petistas: — Queremos a criminalização de todos os responsáveis por essa ação perversa de um partido que não respeita a democracia e que quer vencer no grito. Não vai vencer no grito. Quem vai vencer essa eleição somos nós.

Marina, por sua vez, afirmou haver uma "confusão entre o partido e o governo" evidenciado no caso:

— A reeleição é uma chaga no nosso país. Ela começou da forma errada, com compra de votos, inaugurando o mensalão no Congresso Nacional. É uma prática que faz com que os governantes, em vez de pensar no interesse da população, façam de tudo para se reeleger, não importam os meios, querem se reeleger a qualquer custo e a qualquer preço. Cria uma situação de aparelhamento, de uso político das instituições públicas, de confusão entre o partido e o governo, entre o governo e o Estado — respondeu Marina, ao ser indagada sobre a denúncia.

A candidata do PSB também deu sequência nesta quarta-feira à troca de acusações com Dilma. Em resposta a uma fala da petista, Marina disse que “falta de caráter é prometer e não cumprir”. A presidenciável visitou a Favela de Paraisópolis, em São Paulo, onde, na campanha de 2010, teria se comprometido com a construção de um hospital.

— Falta de caráter é vir numa comunidade como esta, prometer um hospital e não cumprir depois de quatro anos. Isso, sim, é mentir.

Aécio disse que nas últimas 24 horas o PSDB identificou que eleitores mineiros não receberam material enviado pela campanha tucana por meio dos Correios. O partido comunicou que entrará com uma representação Judicial para punir os responsáveis. A coligação "Muda Brasil", de Aécio Neves, divulgou nota na qual cassifica a denúncia de utilização dos Correios na campanha petista como algo de "extrema gravidade", e "uma confissão do abuso de poder político e econômico nestas eleições".

— É absolutamente grave e estarrecedor o que estamos assistindo nessa campanha no meu estado. Recebemos a denúncia nas últimas horas de que os Correios em Minas (Gerais), durante toda a campanha, não cumpriram com sua responsabilidade. Cometeram um crime e não enviaram as correspondências da nossa campana, seja da do Pimenta da Veiga, seja da nossa candidatura presidencial. Estamos entrando na Justiça criminalmente contra o ministro das Comunicações (Paulo Bernardo), o presidente dos Correios (Wagner Pinheiro) e os superintendentes que participaram desse crime.

Aécio encerrou nesta tarde a campanha eleitoral do primeiro turno em São Paulo. Até o próximo domingo, o candidato participará de eventos de campanha somente em Minas Gerais e no Rio de Janeiro.

O jornal "O Estado de S. Paulo" publicou nesta quarta-feira uma reportagem em que mostra o deputado estadual Durval Ângelo (PT) durante uma reunião em que teria dito que a estatal ajudou as candidaturas de Dilma Rousseff (PT) e de Fernando Pimentel, candidato petista ao governo de Minas Gerais, a estarem em primeiro lugar nas pesquisas no estado.

Tucano pedirá apuração sobre Correios

- Folha de S. Paulo

JUIZ DE FORA (MG) e BRASÍLIA - Na reta final da campanha, o presidenciável Aécio Neves (PSDB) disse que pedirá investigação sobre suspeitas de que os Correios tenham prejudicado a campanha tucana em Minas Gerais ao não entregar correspondências de propaganda política do partido aos eleitores.

A denúncia, baseada em um vídeo em que o deputado Durval Ângelo (PT-MG) diz que o crescimento de Dilma nas pesquisas em Minas "tem o dedo forte do PT nos Correios", foi publicada pelo jornal "O Estado de S. Paulo".

"Nos deixa indignados a utilização de uma empresa centenária como os Correios brasileiros na campanha eleitoral dos nossos adversários."

"Estamos entrando então em uma investigação criminal no TRE. Essa forma do PT de governar se apropriando do Estado como se fosse seu patrimônio tem que ser encerrada e os responsáveis, punidos", disse Aécio.

Questionada sobre o vídeo, Dilma disse que a história é um "absurdo": "Vocês, que são jornalistas, acreditam nisso? Isso é um absurdo". A direção dos Correios negou que a estatal tenha atuação político-partidária.

Ata da Petrobras diz que ex-diretor renunciou

Uma 'demissão' sob elogios

• Atas de reunião do conselho desmentem versão de Dilma de que foi ela quem exonerou Costa

Maria Lima e Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - Documento oficial da Petrobras põe em xeque o discurso adotado pela presidente Dilma Rousseff, nos últimos dias, sobre as circunstâncias em que o ex-diretor de Abastecimento da estatal Paulo Roberto Costa deixou o cargo. Ao declarar que combate os malfeitos, Dilma sustenta que demitiu Costa em 2012. Ata da reunião que escolheu o sucessor de Paulo Roberto Costa na Diretoria de Abastecimento traz, no entanto, uma versão diferente. No documento, os representantes do governo no Conselho de Administração da Petrobras não só registram que foi o diretor quem renunciou ao cargo como ainda fazem questão de elogiar a atuação de Costa na cúpula da estatal.

A ata resume a reunião do Conselho de Administração do dia 2 de maio de 2012, presidida pelo ministro da Fazenda, Guido Mantega. Registrado na Junta Comercial do Rio no dia 16 do mesmo mês e publicado no Diário Oficial do estado no dia 28, o documento diz que todo o conselho concordou em registrar em ata elogios ao desempenho do mesmo diretor que, agora, a presidente diz ter demitido.

"O presidente do Conselho de Administração, Guido Mantega, em face da renúncia do diretor de Abastecimento Paulo Roberto Costa, submeteu o nome do senhor José Carlos Cosenza, indicado pela presidente da Petrobras, Maria das Graças Silva Foster, para substituí-lo", informa a ata. Aprovado o novo nome para a direção da Petrobras, a ata registra: "Outrossim, determinou o registro dos agradecimentos do colegiado ao diretor que deixa o cargo, pelos relevantes serviços prestados à companhia no desempenho de suas funções".

Corrupção revelada em detalhes
Preso na Operação Lava-Jato, Paulo Roberto Costa fechou um acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal, homologado pela Justiça. No acordo, Costa se comprometeu a revelar detalhes sobre esquema de corrupção na Petrobras. Ele já prestou cerca de cem depoimentos. Não só apontou o envolvimento de empreiteiras como indicou partidos e políticos que eram beneficiados pelo pagamento de propina a partir de contratos com a Petrobras.

Num dos depoimentos, como revelou O GLOBO, o ex-diretor contou que recebeu US$ 23 milhões, em contas na Suíça, de apenas uma empreiteira. O dinheiro era de propinas que ele recebeu sem que o doleiro Alberto Youssef, outro acusado no esquema de corrupção, ficasse sabendo.

No último domingo, durante o debate na TV Record, para rebater os ataques de Aécio Neves (PSDB) em um pedido de resposta, Dilma declarou que demitira Costa e que, em seu governo, a Polícia Federal fez as investigações que culminaram na prisão dos envolvidos na Operação Lava-Jato. Os adversários não chegaram a questionar a presidente Dilma sobre o fato de que não cabe ao presidente da República nomear ou demitir diretores da Petrobras.

- Na verdade, uma coisa tem que ficar bem clara! Quem demitiu o Paulo Roberto fui eu. E a Polícia Federal, do meu governo, foi quem investigou todos esses malfeitos, esses crimes e ilícitos. Eu sou a única candidata que apresentou propostas concretas de combate à corrupção, principalmente contra a impunidade, como, por exemplo, tornar o crime de caixa dois crime eleitoral - disse Dilma, durante o debate, sem fazer menção aos agradecimentos que o Conselho de Administração fez a Costa.

Participaram da reunião do Conselho de Administração, além de Mantega, os conselheiros Francisco Roberto de Albuquerque, Jorge Gerdau Johannpeter, Sergio Franklin Quintella, Silvio Sinedino Pinheiro, Josué Christiano Gomes da Silva - candidato ao Senado em Minas Gerais pelo PMDB -, a presidente Graça Foster, e a ministra do Planejamento, Miriam Belchior.

Campanha reafirma que decisão foi de Dilma
Nos últimos dias, a presidente Dilma tem atacado a candidata do PSB, Marina Silva, taxando-a de "mentirosa" por ter declarado que votou a favor da aprovação da CPMF. Mostrando checagem feita pelo GLOBO e que desmentem Marina, Dilma tem colado na adversária a pecha de mentirosa. "É muito importante que as pessoas assumam o que fazem. Errar é humano, mas mentir é desvio de caráter", atacou Dilma anteontem.

Procurada, a coordenação da campanha de Dilma informou que a decisão de demitir Paulo Roberto Costa da direção da Petrobras foi da presidenta da República, e essa decisão foi comunicada ao diretor pelo ministro de Minas e Energia, Edison Lobão. A assessoria enviou ao GLOBO trecho do depoimento de Paulo Roberto Costa à CPI da Petrobras no Senado.

Segundo a campanha, o depoimento do ex-diretor confirmaria o que Dilma declarou sobre a demissão. Disse Costa na CPI: "O ministro me falou (...) "Nós resolvemos que precisamos ter uma nova pessoa na Diretoria de Abastecimento." Eu falei: "Ministro, sem problema. Não há nenhum problema. Eu entendo isso." E o ministro falou (...): "Eu gostaria que você fizesse uma carta de demissão." Eu disse: "Nenhum problema, eu faço." ( Colaborou Márcio Beck )

Costa sai para prisão domiciliar e prepara denúncia contra 13 empresas

André Guilherme Vieira – Valor Econômico

CURITIBA - Liberado o ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa, para cumprir prisão domiciliar no Rio pelo acordo de delação premiada, o Ministério Público Federal (MPF) prepara denúncias por crimes de corrupção, formação de organização criminosa e lavagem de dinheiro contra os responsáveis legais de 13 empresas e um consórcio: Camargo Corrêa e CNCC, Sanko-Sider, Queiroz Galvão,,Mendes Júnior, UTC/Constran, Andrade Gutierrez, OAS, Odebrecht, Engevix, Iesa, Hope, Egesa e Toyo Setal Empreendimentos Ltda.

A operação Lava-Jato apresenta à Justiça o que afirma ser a "prova material" dos delitos, que teriam sido cometidos no âmbito de contratos da Petrobras com sobrepreço, e nos pagamentos feitos por serviços que não existiram à empresas de fachada do doleiro Alberto Youssef - principalmente as contra apresentações de serviços com a Rigidez Empreendimentos, GFD, e MO Consultoria e Laudos. A Justiça já admitiu preliminarmente que tais pessoas jurídicas são meras fachadas, sem atividade comercial comprovada.

O conjunto de provas reúne extratos bancários, documentos de importação fictícios, contratos assinados por representantes das empresas - o que para a acusação categoriza e individualiza as condutas - além de vídeos de pessoas que frequentavam o escritório de Youssef na zona sul de São Paulo. Os acessos ao local foram registrados pelo circuito interno de câmeras de vigilância do prédio.

Os investigadores garantem que, desta vez, as evidências reunidas dificilmente serão esvaziadas nos tribunais superiores, como no caso da operação Castelo de Areia. A investigação foi anulada no Superior Tribunal de Justiça (STJ), porque o mote para a investigação - uma denúncia anônima - foi julgada inadimissível pela Corte.

"Neste caso é completamente diferente. Não há brecha para nulidades. É 90% documental", assegura um dos integrantes da investigação. A Castelo de Areia foi deflagrada em 2009 para apurar crimes financeiros e desvios de verbas públicas que envolviam diretores de empreiteiras e partidos políticos.

O interrogatório do advogado Carlos Alberto Pereira da Costa à 13ª vara criminal da Justiça Federal paranaense foi juntado ao conjunto de provas elencado pelo MPF. Ele afirmou ao juízo que o vice-presidente da Camargo Corrêa, Eduardo Leite e o membro do conselho de administração, João Auler, teriam atuado como contatos do doleiro Youssef com a empreiteira. Leite foi flagrado em escutas telefônicas da PF. Pereira da Costa teve prisão preventiva revogada e pode ter condenação reduzida por colaboração com a Justiça.

A força-tarefa conta também com as informações prestadas pelo ex-diretor da Petrobras, Paulo Roberto Costa. O Valor apurou que o ex-executivo forneceu detalhes sobre suposto esquema de propinas que teria sido pago por construtoras a políticos. Há um detalhe que permeia toda a investigação e que pode comprometer a comprovação do envolvimento de políticos. Grande parte do dinheiro movimentado a mando de parlamentares, segundo a PF e o MPF, teria ocorrido por meio de transações em dinheiro vivo. "É preciso que o Banco Central estabeleça controle rigoroso no sistema bancário. Fluxo de recurso em espécie é difícílimo de rastrear", alerta um responsável pela Lava-Jato.

Antes de trabalhar com a delação de Costa, os investigadores terão de aguardar a decisão do ministro relator no Supremo Tribunal Federal (STF), Teori Zavascki. Ele pode dividir a Lava-Jato em duas frentes, uma no STF com os implicados que gozam de privilégio de foro e outra no juízo natural do caso, na Justiça Federal de Curitiba. Zavascki pode também manter tudo sob a competência do STF, mesmo que a última instância do judiciário não tenha sido concebida para amparar apurações que demandem estrutura e disposição de servidores, como na Lava-Jato.

"O mais interessante é que a prova é feita em cima do 'caixa 1'. As empresas de Youssef emitiram notas para a contabilidade oficial dessas empresas, empreiteiras e consórcios, porque isso tem de ser colocado no Imposto de Renda", esclarece um investigador. "Muitas empresas contrataram a mesma prestadora de serviços", diz.

O MPF ainda precisa concluir uma análise complexa, que consiste no cruzamento do CNPJ de todas as empresas que aparecem na Lava-Jato com a prestação de informações das empreiteiras à Receita.

Fontes ligadas ao caso confirmaram que duas grandes empreiteiras investigadas já enviaram advogados até a sede da força-tarefa no Paraná, em busca da construção de um acordo de leniência, alternativa que livraria executivos de eventual condenação criminal. Mas que, por outro lado, poderia resultar em pesadas multas.

O ex-ministro da Justiça, advogado Marcio Thomas Bastos, negou que seja o representante de um pool de empresas em negociação com os acusadores do caso Lava-Jato. "Eu represento duas empresas, a Camargo Corrêa e a Odebrecht. Reitero que ambas negam envolvimento em qualquer ato ilícito neste caso ou em qualquer outro", disse ao Valor Pro.

A Camargo Correa/CNCC informou que a empresa não pode se manifestar sobre encaminhamento jurídico que ainda não é oficial mas reiterou que 'jamais teve relacionamento comercial ou fez qualquer tipo de repasses para empresas ou pessoas ligadas ao sr. Alberto Yousseff'. A empresa informou estar à disposição das autoridades: "Temos convicção de que a lisura do Consórcio CNCC será reconhecida após os esclarecimentos nos fóruns cabíveis".

A Odebrecht afirma que seu nome aparece na Lava-Jato em razão de um erro de informação nos autos, que apontam para uma empresa de um consórcio com CNPJ diferente do da Odebrecht. Os investigadores afirmam, no entanto, que a empresa constará da acusação por prática de ilícitos que estariam comprovados nos autos. A empresa informou que o erro foi devidamente informado ao juízo de Curitiba, que acolheu o argumento dos advogados da empresa.

Procurada, a UTC informou: "Não há qualquer contrato de prestação de serviços ou uma única nota fiscal emitida pela UTC para as duas empresas citadas".

A Queiroz Galvão informou desconhecer o teor das investigações. A Iesa foi ouvida pelo MPF e negou envolvimento com o esquema de Youssef. A Toyo Setal, a Sanko Sider e a Egesa não retornaram aos pedidos de informação da reportagem.

Com Dilma no teto e Marina no piso, a Aécio restam os indecisos

César Felício - Valor Econômico

SÃO PAULO - A presidente Dilma Rousseff (PT) está próxima ao seu teto em intenções de voto para a eleição presidencial de domingo, a ex-senadora Marina Silva (PSB) aproxima-se de seu piso e o senador Aécio Neves (PSDB) pode empatar com a adversária do PSB caso cresça entre os indecisos das regiões Sul-Sudeste, ou com maior escolaridade e renda. Segundo Márcia Cavallari, diretora do Ibope Inteligência, a possibilidade de uma vitória de Dilma no primeiro turno é muito pequena.

O motivo é o movimento detectado na última pesquisa nacional do instituto, divulgada na terça-feira: Marina continua perdendo eleitores, mas com um perfil diferente dos que haviam desistido de votar na candidata nas rodadas anteriores: os novos desiludidos da candidata do PSB são de segmentos do eleitorado em que Dilma tem dificuldade de transitar e que são mais sensíveis ao tipo de discurso do PSDB.

O total de indecisos atingiu 7%, o percentual mais alto no Ibope desde 25 de agosto. Aécio foi incapaz de captar este eleitorado até o momento. É um eleitor que, ou migrará para ele, ou irá anular o voto. "No momento de tomar sua decisão, este eleitor indeciso tende a rejeitar a continuidade", disse Márcia. O tucano não passa de 19% das intenções de voto há três rodadas, patamar que ainda está abaixo do que o candidato dispunha antes da entrada de Marina na corrida eleitoral.

Segundo a diretora do Ibope, Dilma nunca ultrapassou na série do instituto o patamar de 40% de votos. No momento, está com 39% no Ibope. Seu percentual chegou a cair para 34%, no momento em que Marina se aproximava de seu auge nas pesquisas do instituto.

"Dilma bateu no piso dela quando Marina ganhou votos no Norte e Nordeste, entre os mais pobres e menos escolarizados", disse, pontuando que os limites de crescimento de Dilma são precisos: "Ela tem um percentual de eleitores que rechaçam a possibilidade de se votar nela da ordem de 40% e um desejo de mudança do eleitorado que ainda é predominante", disse Márcia.

Na primeira onda de perda de votos de Marina, Dilma capitalizou o movimento, ganhando cinco pontos percentuais entre 25 de agosto e 8 de setembro. Passou de 34% para 39%. Com leves oscilações, Dilma está estacionada nas últimas três semanas. Nas últimas semanas, Marina acentuou a queda e o eleitorado perdido se dispersou: dos quatro pontos perdidos nos últimos 15 dias, dois foram para indecisos, um para Dilma e um para outros candidatos.

"Cerca de 22% dos eleitores afirmam que com certeza votarão em Marina, este é o piso dela. E ela está com 25% na última pesquisa", disse Márcia. De acordo com a pesquisadora, os três principais candidatos estão com potenciais de voto semelhantes no momento.

A soma dos eleitores que dizem que votaram na reeleição de Dilma ou que poderão fazê-lo é de 55%. No caso de Marina, estes dois contingentes somam 58%. Em relação a Aécio, a soma resulta em 56%. A conclusão é que qualquer combinação no segundo turno será entre candidatos com nível de rejeição semelhantes entre si.

Disputa pelo 2º lugar na campanha presidencial deve ser voto a voto

• Análise estatística elaborada pelo Ibope em parceria com o ‘Estadão Dados’ simula combinações possíveis de votação dos opositores

José Roberto de Toledo e Daniel Bramatti - O Estado de S. Paulo

Em duas semanas, a vantagem relativa de Marina Silva (PSB) sobre Aécio Neves (PSDB) para passar ao 2.º turno presidencial caiu pela metade. Em 15 de setembro, ela tinha 3,8 vezes mais chances do que o tucano. Na terça-feira, a diferença era menor: 2 para 1. Sua vantagem caiu 46%, mas a chance de Marina ainda é o dobro da de Aécio. É o que mostra um modelo estatístico desenvolvido pelo Ibope e pelo Estadão Dados, com base no potencial de voto.

“Se as curvas de intenção de voto dos dois candidatos (Marina e Aécio) continuarem com as tendências recentes, há uma probabilidade de elas se cruzarem em algum ponto no futuro próximo”, diz a CEO do Ibope Inteligência, Márcia Cavallari. Mas não é possível prever se isso acontecerá antes da eleição.

O modelo estatístico desenvolvido pelo Ibope e pelo Estadão Dados simula todas as combinações possíveis de votação de Marina e Aécio, e depois calcula quantas dessas combinações beneficiam um ou outro candidato. Segundo os resultados da pesquisa Ibope divulgada na terça, 67% dessas combinações levariam Marina ao 2.º turno contra Dilma Rousseff (PT), e 33% levariam Aécio. Duas semanas atrás, essa proporção era de 79% a 21%.

As simulações de resultado só se aplicam a Aécio e Marina. As taxas de intenção de voto de Dilma (39%) e dos candidatos nanicos (3%) são dadas pela pesquisa Ibope mais recente, e a taxa de brancos e nulos (10%) pelo histórico de votações para presidente. Logo, a soma das taxas de Marina e Aécio tem que dar obrigatoriamente 48%.

O mínimo e o máximo de votos que Marina e Aécio podem ter são diferentes entre si - ou ambos teriam chances iguais de chegar ao 2.º turno. Pisos e tetos determinam quantas combinações de resultado levariam Marina ou Aécio ao 2.º turno.

Piso. O piso eleitoral é calculado pelo potencial de voto exclusivo de cada candidato. Ou seja, quantos eleitores dizem que votariam com certeza nele e apenas nele. O mínimo de votos para Dilma foi de 33% na mais recente pesquisa Ibope, contra 16% para Aécio e 20% para Marina. Quanto maior o piso, mais chances tem o candidato.

O cálculo do teto eleitoral é mais complexo. Ele se baseia em outro modelo estatístico desenvolvido pelo Ibope e pelo Estadão Dados e divide o eleitorado brasileiro em três grupos: pró-PT, anti-PT e volúvel.

A chance de um eleitor antipetista votar em Dilma tende a zero. Já a chance de um pró-PT votar nela é superior a 80%. No eleitorado volúvel há maior equilíbrio.

Os pró-PT chegaram a 39% na mais recente pesquisa Ibope. São aqueles eleitores que se enquadram em pelo menos três das cinco condições seguintes: é beneficiário do Bolsa Família, aprova Dilma, acha seu governo bom ou ótimo, diz ter preferência partidária pelo PT e descarta afirmar que não votaria nela de jeito nenhum.

Os anti-PT não se enquadram em nenhuma dessas características. Eles somam 33% do eleitorado nacional. Os restantes 28% são os volúveis, que responderam positivamente a uma ou duas daquelas questões. Podem votar tanto na petista quanto nos candidatos de oposição.

Funil. O teto de votação é resultado de um funil. No caso de Dilma, são os eleitores dos grupos pró-PT e neutro que não a rejeitam e que dizem que votariam nela com certeza ou poderiam votar. Feitas as contas, Dilma poderia ter, no máximo, 55% dos votos.

Nos casos de Aécio e Marina, o funil que calcula seu teto de votação tem a mesma fórmula. É a soma dos eleitores que pertencem aos grupos volúvel e anti-PT e que não rejeita o candidato (ou a candidata) e que poderia votar ou votaria com certeza nele ou nela. O teto de Aécio chegou a 38%. O de Marina vem caindo a cada nova pesquisa, mais ainda é mais alto: 40%.

A taxa de intenção de votos na candidata do PSB apresentou queda ou oscilação negativa nos últimos cinco levantamentos do Ibope - desde o início de setembro, ela perdeu oito pontos porcentuais, ou um quinto de seu eleitorado.

Nos votos válidos- excluídos os votos nulos, brancos e eleitores indecisos -, a vantagem de Dilma sobre Marina subiu de 10 para 16 pontos em uma semana. Já a distância entre Marina e Aécio caiu de 11 para 7 pontos.

Ataques a Dilma devem marcar último debate

• De olho na vaga no segundo turno, Aécio e Marina vão concentrar suas críticas na atuação da presidente

Sérgio Roxo, Fernanda Krakovics, Catarina Alencastro e Maria Lima – O Globo

BRASÍLIA e SÃO PAULO - Na reta final da campanha, o último debate entre os presidenciáveis, promovido hoje pela TV Globo, a partir das 22h30m, deverá ser marcado pelos ataques a presidente Dilma Rousseff, candidata à reeleição e líder nas pesquisas de intenção de voto. Os candidatos Aécio Neves (PSDB) e Marina Silva (PSB), que disputam uma vaga no segundo turno, pretendem partir para o confronto com a petista. A campanha do tucano resolveu "deixar Marina em paz", continuar batendo na presidente e reforçar os valores do ex-governador de Minas como o mais preparado para administrar o país pós-PT.

Marina falará de corrupção
Já Marina, em queda nas pesquisas de intenção de voto, deve adotar a mesma linha do discurso feito na terça-feira em reunião com apoiadores de sua candidatura, quando acusou a petista de mentir. Na ocasião, disse que não "quer se parecer com essa gente", em relação aos adversários. Ontem, a equipe da pessebista passou a tarde reunida com o objetivo de definir a estratégia para neutralizar os ataques contra Marina e usar o debate para apresentar propostas e mostrá-la como uma pessoa firme.

- Para quem tem apenas dois minutos de TV, o debate da Globo é a bala de prata desta eleição. É o momento de maior audiência e atenção. Cinquenta milhões de pessoas vão estar assistindo. Estamos preparados para qualquer cenário - disse um integrante da equipe de Marina.

Marina deve, durante o debate, explorar com firmeza as acusações de corrupção no governo federal. Aliados dizem que a postura da candidata, com um tom diferente do mostrado até agora na campanha, vai surpreender. A vida pessoal da candidata também vai ser abordada. A ideia é que Marina faça referências aos episódios sofridos de vida, reforçando a frase adotada como um novo slogan nesta reta final do primeiro turno: "não é um discurso é uma vida".

Nos últimos dias, Marina já relembrou essas passagens, como o medo que sentiu quando, na adolescência no Acre, adquiriu leishmaniose. Ontem, ela abordou o sofrimento por que passou num hospital público ao dar à luz a primeira filha. Ontem, em visita à Favela de Paraisópolis, em São Paulo, Marina gravou imagens na área mais pobre da comunidade. Ela quer mostrar que o Brasil real "não é tão colorido" quanto a propaganda apresentada por Dilma Rousseff no horário eleitoral.

Aécio também aposta no encontro de hoje, considerado decisivo para pautar o debate político nos dois dias que antecedem a eleição. Ele não pretende bater em Marina.

- Dilma se encarrega de Marina, que está em viés de baixa. Aécio tem que se mostrar como o que tem mais qualidades para resolver os problemas lá na frente - disse o deputado João Almeida (PSDB-BA), coordenador de logística da campanha.

Andreia Neves, irmã e uma das principais estrategistas do candidato, disse que desde sempre, e hoje principalmente, o maior desafio é tornar Aécio conhecido. Ele começou com nível de conhecimento de apenas 9% no Nordeste, mas vem melhorando, por isso a necessidade de manter, até agora, sua biografia no programa de TV.

- Na pesquisa que jogou Aécio para 14% das intenções de votos, muita gente dava como uma situação irreversível. Mas nos momentos mais difíceis, para animar a turma, o Aécio sempre dizia: vamos em frente, isso é parte do processo, não é o fim. Hoje, essa avaliação se confirmou, que os 14% não eram o fim. Vai que dá? - comentou ela ontem, após a última pesquisa Datafolha.

No último programa de TV, hoje, Aécio deve mostrar sua família e agradecer ao povo brasileiro pela paciência de acompanhá-lo e ouvir suas propostas de campanha. As imagens foram gravadas no casarão da família em São João Del-Rei (MG).

Já Dilma deve dividir os ataques - antes concentrados na ex-senadora - entre Marina e Aécio. A última propaganda de TV, hoje, no entanto, deve ser predominantemente propositiva. Estável na liderança das pesquisas de intenção de voto, a campanha à reeleição da presidente vai continuar com a estratégia de manter o foco em São Paulo, que concentrará as últimas atividades de rua. Apesar do cenário confortável, há preocupação entre os petistas em não desmobilizar a militância nesta reta final e evitar um clima de já ganhou

"O importante é não errar"
Dilma está bastante focada no debate da Globo. A campanha da petista acredita que o fato de a presidente ter resistido ao tsunami Marina e conseguido reverter a tendência de favoritismo que a pessebista alcançou se deveu, entre outros fatores, a Dilma ter errado pouco.

O trabalho da equipe da reeleição é para que a presidente se mantenha assim. A tarde de ontem foi dedicada à preparação para o debate. Os ministros Aloizio Mercadante (Casa Civil) e Thomas Traumann (Comunicação Social) foram para o Palácio da Alvorada ajudar Dilma no treinamento para o enfrentamento que fará com seus rivais.

- Dilma pode até não empolgar. Mas, neste momento, o importante é não errar - disse um interlocutor de Dilma.

Marina planeja se aproximar do PSDB se for ao 2º turno

• Para PSB, ex-senadora errou ao se recusar a dialogar com lideranças com as quais o partido havia costurado acordos

• Em ato de campanha em São Paulo, tucano disse estar convencido de que ciclo do PT no governo está no fim

Marina Dias, Daniela Lima e Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

RIO e BRASÍLIA - Candidata do PSB à Presidência da República, Marina Silva disse a interlocutores que vai liderar pessoalmente a aproximação com o PSDB --partido que desprezou e até hostilizou durante a campanha-- caso contenha a queda nas pesquisas e consiga chegar ao segundo turno.

Para aliados, a candidata, num eventual segundo turno, precisará mostrar que tem capacidade de governar e dialogar com outros partidos, hoje uma de suas fragilidades mais exploradas pelos rivais.

Para integrantes da campanha do PSB, Marina errou, após a morte de Eduardo Campos, ao se recusar a conversar com lideranças com as quais ele havia costurado acordos, como Geraldo Alckmin (PSDB), em São Paulo, e Lindbergh Farias (PT), no Rio.

Apesar de estarem com a estratégia do segundo turno na cabeça, aliados preveem dias tensos até o domingo.

O cansaço cada vez mais visível da candidata e a queda nas intenções de voto fizeram com que ela ficasse mais arredia com sua equipe, que dá sinais de nervosismo.

Na terça (30), quando o Datafolha mostrou que a diferença para Aécio fora reduzida a cinco pontos percentuais, aliados se aproximavam de jornalistas para dizer que, "na hora do voto, muita gente que ia votar em Aécio vai votar em Marina". "Vocês vão ver."

No mesmo dia, ela insistia que não era necessário fazer foto agendada pela equipe --que deu certo após muitas explicações do fotógrafo e dos assessores --e cancelou uma entrevista coletiva alegando ter de poupar a voz. Saiu sem falar com jornalistas, momento raro na campanha.

Rouca, irá descansar até o último debate presidencial, nesta quinta (2), na TV Globo. Foi aconselhada a questionar Dilma sobre o descontrole das contas públicas e as denúncias envolvendo a Petrobras.

Com o acirramento da disputa, Aécio deu ordem para dobrar a mobilização em lugares estratégicos. Os apoiadores que distribuem material de campanha e as chamadas colinhas vão trabalhar em turno dobrado em São Paulo.

No Nordeste, o tucano pediu empenho especial na Bahia e no Ceará, onde tem palanques regionais fortes.

Ele centrará seus esforços nos últimos três dias em Minas, seu berço político e segundo maior colégio eleitoral do país. Adotará forte tom emocional --no Estado, diz o PSDB, está a chance mais palpável de obter uma vantagem maior sobre as rivais, virar o jogo e ir ao segundo turno.

A subida nas pesquisas voltou a empolgar aliados e equipe. Nos últimos dias, a quem perguntou se dará tempo para reverter a vantagem que Marina tem sobre ele, Aécio foi taxativo: "Já deu".

Nesta quarta (1º), mal colocou os pés em São Paulo e puxou o coordenador da campanha de Geraldo Alckmin ao governo paulista pelo braço. "Como é que estão os números aqui? Estou crescendo?".

Com respostas afirmativas, partiu para o ataque pouco antes de iniciar a caminhada que marcou sua última agenda no Estado antes do primeiro turno, em Mogi das Cruzes.

"Estou cada vez mais convencido que esse ciclo de governo está se encerrando. E quem tem as melhores condições de vencer somos nós."

"Volto a partir do dia 6 de outubro", prometeu.

Crescimento em SP empurra Aécio na disputa com Marina

• Candidata do PSB ainda lidera no Estado, com 31%, acima de sua média nacional, mas perdeu 11 pontos em um mês

• Tucano aproveitou força estadual do PSDB e tem os mesmos 26% da petista; no Rio, está em um distante 3º lugar

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Aécio Neves (PSDB) teve forte reação em São Paulo e empatou com Dilma Rousseff (PT) nas intenções de voto de paulistas para presidente.

Pesquisa Datafolha concluída na terça-feira (30) põe o tucano e a petista empatados no Estado com 26%.

A liderança ainda é de Marina Silva (PSB), com 31%. Mas a ex-senadora vem perdendo votos para o tucano.

As intenções de voto dos paulistas em Aécio superam a média dele no país, de 20%.

O resultado de São Paulo é relevante porque o Estado detém pouco mais de um quinto dos eleitores brasileiros. Assim, cada ponto conquistado --ou perdido-- tem forte influência na eleição.

Há um mês, Aécio tinha 18%. Marina, 42%. Desde então, ela perdeu 11 pontos, enquanto Aécio avançou 8.

Dilma foi de 23% para 26%, dentro da margem de erro de dois pontos da pesquisa.

Para Mauro Paulino, diretor-geral do Datafolha, esse avanço de Aécio tem dois motivos: a presença forte do PSDB no Estado (o tucano Geraldo Alckmin lidera com 49% para governador); e a forte rejeição de 42% a Dilma.
Apesar de ainda liderar (acima de sua média nacional, de 25%), Marina teve aumento de seu índice de rejeição. Há um mês, 13% diziam que não votariam nela de jeito nenhum. Agora, são 21%.

A rejeição a Aécio (20%) é a mesma de 30 dias atrás.

A aversão à ex-senadora acompanha os ataques de seus adversários que tentam desconstruir seu discurso de nova política e mostrar que são mais preparados.

Enquanto cresce em São Paulo, Aécio mantém um distante terceiro lugar no Rio. Dilma e Marina empatam no Estado em primeiro, ambas com 34%. O tucano tem 14%.

Marina também perdeu votos entre as pesquisas, mas tem a seu favor um recall das eleições de 2010, quando liderou para presidente no Rio.

Os fluminenses também têm menos rejeição a Dilma que os paulistas --33%. Contra Aécio estão 20%; contra Marina, 17% (a taxa era de 11% há 30 dias). A margem de erro no Rio é de três pontos.

Merval Pereira: Unidade (re)forçada

- O Globo

Igual a esta eleição, só a de 1989, a primeira direta para a Presidência da República depois da redemocratização. Naquela ocasião, Brizola e Lula disputaram palmo a palmo quem iria para o segundo turno contra Collor de Mello, que venceu o primeiro com 28,52% dos votos.

Lula se classificou por menos de um ponto percentual (exato 0,63), teve 16,08% dos votos, e Brizola, que teve 15,45%, morreu certo de que havia sido roubado. O segundo turno foi dos mais disputados, e Collor venceu Lula por menos de seis pontos percentuais: 49,94% contra 44,23%. Ou, em votos válidos, 53,03% contra 46,97%. Hoje, mesmo que a presidente Dilma apareça em pesquisas do Datafolha abrindo quase dez pontos sobre Marina ou Aécio, os analistas de pesquisas eleitorais acreditam que dificilmente a diferença para o vencedor será tamanha. Por paradoxal que pareça, a disputa acirrada entre Marina e Aécio para ver quem chega ao segundo turno pode (re)forçar uma união que estava prevista lá atrás, quando o ex-governador Eduardo Campos ainda era o candidato do PSB.

Qualquer um dos dois que chegue ao segundo turno contra Dilma chegará praticamente empatado com o terceiro colocado, o que quer dizer que precisará do apoio do outro para se tornar competitivo. Segundo o Datafolha, a presidente Dilma está fechando o primeiro turno com a perspectiva de ter menos votos para o segundo do que teve em 2010 contra José Serra: naquela ocasião, teve 56,05% contra 43,95%. Hoje, contra Martin a, tem 54% contra 46% e, contra Aécio, 55% contra 45%. Isso demonstra que seus votos estão consolidados, mas também que não conseguiu ampliar seu eleitorado depois de quatro anos de governo. Ao mesmo tempo, a oposição, que historicamente sempre teve uma média de 40% dos votos, ampliou um pouco seu eleitorado desde 2010.

O que está em jogo para a oposição é reduzir a diferença no início do segundo turno em cerca de seis pontos percentuais, enquanto a presidente Dilma tentará ampliar o seu eleitorado para a média histórica petista de 60% de votos válidos no segundo turno. Até o momento, no entanto, a intenção de votos da presidente tem batido num teto de 40%, enquanto o eleitorado oposicionista já chegou a colocar Marina Silva à frente com dez pontos de vantagem, o que significa que ela tem potencial para recuperar esses votos que já foram seus. Ou, como preferem os tucanos, que o candidato Aécio Neves já mostrou que ele é quem é capaz de enfrentar o aparelho petista, pois tem experiência e uma máquina partidária mais bem distribuída pelo país, com força em estados importantes como São Paulo e Minas Gerais.

O problema de Aécio Neves é que ele foi surpreendido por uma reação do eleitorado mineiro que não estava nos seus planos. A derrota do tucano Pimenta da Veiga, se não for revertida, será um baque político importante, a ponto de prejudicá-lo na corrida presidencial mesmo que vá para o segundo turno. Segundo as pesquisas, em Minas, ele disputa o primeiro lugar com Dilma, que também é mineira. Em São Paulo, ao contrário do que eu escrevi ontem, segundo o Ibope, ele está em terceiro lugar, embora crescendo de 19% para 22%. Marina Silva, que já liderou a disputa em São Paulo, hoje está empatada com Dilma em 29%, mas em queda, enquanto a presidente está subindo.

O PSDB, que já estava fora do jogo, está se recuperando de maneira imprevisível e já garantiu seu papel de força oposicionista de peso na definição do segundo turno. Mesmo que Marina resista ao assédio de Aécio, precisará do apoio do PSDB para ter competitividade e, sobretudo, para demonstrar que tem capacidade de montar um acordo partidário pela governabilidade. Caso Aécio Neves a ultrapasse, será difícil para Marina, depois de ter sido massacrada pelo PT, ficar em cima do muro como fez em 2010.

Dora Kramer: Momento de indecisão

- O Estado de S. Paulo

Não chega a ser a "onda da razão" esperada pelo senador Aécio Neves, mas uma marola razoável o suficiente para levar o candidato do PSDB de volta à perspectiva de disputa por uma vaga no segundo turno, considerando-se a hipótese mais provável de que a eleição não se decida neste domingo.

Como a presidente Dilma Rousseff continua inabalável em seu patamar de 40% de intenções de votos, quem andou foi o eleitor de oposição que havia caminhado rumo à candidatura de Marina Silva e há duas semanas vem dando de maneira vagarosa passos na direção oposta.

A tendência é nítida, a única dúvida é se haverá tempo para a ultrapassagem. Situação considerada praticamente impossível pelos analistas de pesquisas em meados do mês de setembro, quando o crescimento inicial de Marina se estabilizou, mas ela parecia resistir bem à despudoradamente desleal pancadaria petista.

Não resistiu. Tampouco caiu apenas por força da credulidade popular nas falsificações do marketing da campanha de Dilma ou pelo repentino convencimento do eleitorado nos méritos do candidato Aécio. Submetida ao confronto duro do embate eleitoral na condição de favorita, Marina foi retirada à força do altar em que reinava como figura sagrada.

Não soube - não quis ou não contou com ajuda para tal - como Lula alimentar a construção do mito e submergiu ao encontro com a realidade. Isso ao menos em relação à imagem que o público fazia dela. Uma expectativa alta, artificial até por inatingível, mas era nesse campo da utopia que transitava Marina. Sentimento alimentado pela definição do projeto "sonhático" na eleição de 2010, termo deixado de lado quando assumiu a candidatura.

Tomemos o exemplo da questão da CPMF. Discussão desnecessária, assunto vencido, mas para o eleitor de Marina ela ser flagrada numa afirmação falsa sobre uma votação do passado é falta grave. O eleitor do PT está pouco se lixando para as mentiras do partido. Acostumou-se. O de Marina esperava mais e não deve ter gostado de vê-la cair em tantas contradições quando puxada para o terreno lamacento da vala dos comuns.

Foi levada a ser igualada. Com a desvantagem de ser mais frágil na reação e na resistência ao empuxo.

Elementar. O mínimo que o doleiro Alberto Youssef tem para contar em seu acordo de delação premiada é o número das contas e o nome dos respectivos beneficiados onde eram feitos, aqui e lá fora, os depósitos das propinas dos contratos da Petrobrás.

Como informou sua ex-contadora Meire Poza quando esteve na CPI, ele era o "banco" do esquema.

Quanto a Paulo Roberto Costa, preso desde junho, a autorização para que responda os processos em prisão domiciliar evidencia que, ao juízo do ministério público e da Justiça, os cem depoimentos prestados no acordo firmado por ele contêm provas consistentes para desvendar as autorias e a materialidade (provas) dos crimes cometidos na estatal.

Com a homologação do ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, já não é possível o governo dizer que as traficâncias são apenas produtos de material de imprensa desprovido de fé jurídica.

Revanche. Por enquanto não se pode dizer que a atitude do presidente da OAB-DF de negar a renovação da licença de Joaquim Barbosa para advogar seja corporativista porque, a despeito da alegação de que o ex-ministro tratou mal advogados, parece um ato de tolice à deriva.

Caso o conselho da Ordem corrobore o veto ao trabalho nem assim caberá a razão corporativa. Terá sido um gesto obscurantista.

Jarbas de Holanda: Volta de Aécio à disputa do 1º turno. E um embate menos desigual no 2º

As pesquisas divulgadas ontem à noite pela Globo – do Datafolha e do Ibope – reforçam a possibilidade, ou a tendência mais recente (a ser confirmada ou esvaziada por outras que o serão ao longo da semana) de que Aécio Neves consiga até domingo empatar e ultrapassar Marina Silva como finalista da oposição para o confronto final com a governista Dilma Rousseff. Os dois levantamentos registram redução da superioridade de Marina sobre Aécio, respectivamente, para cinco pontos das intenções de voto dela, de 25% para 20%, e de seis pontos, de 25% para 19%. Com mais uma queda da candidata do PSB, ao passo que o tucano ganha dois pontos na primeira, e mantém o percentual no segundo. Por seu turno, Dilma estabiliza as suas em 40% e em 39%, após avanços em pesquisas anteriores. Nas projeções do 2º turno, esta amplia para 8% a vantagem em relação a Marina, de 49% a 41%, no Datafolha e para 4%, de 42% a 38%, no Ibope. Enquanto a taxa correspondente de Aécio eleva-se para 41%, igual à de Marina (contra 50% de Dilma). E numa disputa entre os dois cai para 38% a 34% a vantagem anterior bem maior em favor dela.

A presença de Aécio no 2º turno poderá ter implicações políticas e eleitorais de caráter contraditório. No primeiro plano, porque ele tem condições bem melhores que as de Marina – densa experiência político-administrativa, consistência pessoal e de qualificada equipe de apoio e forte respaldo partidário – para enfrentamento da candidata governista e do petismo num embate em que o equilíbrio do horário gratuito reduzirá a vantagem da concorrente no uso, intenso, que persistirá, da máquina federal. Tais condições poderão evidenciar-se no tête-a-tête na televisão. No qual certamente será bem mais difícil, do que tem sido até agora, evitar o debate sobre os resultados da política econômica e dos seus efeitos sociais negativos, que passam a acentuar-se; das causas e consequências da crise energética; dos escândalos de corrupção na Petrobras, nos fundos de pensão, em outros órgãos e empresas da União; do atraso dos projetos de infraestrutura; dos custos para o país do terceiro-mundismo da política externa.

Já no plano eleitoral, a troca de Marina por Aécio terá, ou teria, que enfrentar um risco de peso: o de que parcela significativa, mesmo que minoritária, dos eleitores de Marina, até pela origem petista de parte dela, opte por Dilma no turno final. Com efeitos que dependerão da escala dessa parcela. E condicionados, também, pela postura que Marina assumirá, ou assumiria, no cenário de perda de qualidade de fina-lista. Mas escala sem dúvida maior que a de eleitores de Aécio que deixariam de dar um voto útil a Marina. E devendo ser levado em conta que, graças à grande dimensão do assistencialismo e ao vale-tudo praticado na campanha reeleitoral (sem nenhum limite ético ou compromisso com a verdade), Dilma vai chegando a esta fase da disputa com melhora de avaliação e aprovação popular de seu governo.

Quanto à outra possibilidade de mudança do cenário eleitoral, a de uma vitória de Dilma Rousseff no 1º turno (gerada pelo crescimento de suas intenções de voto no Datafolha da última sexta-feira) cabe assinalar que ela tem grau praticamente zero de concretizar-se. Pois a candidata do PT não logrará atingir a soma dos votos dos dois grandes adversários e do conjunto dos chamados candidatos nanicos. Por isso, foi pouco racional – ou “exagerada” segundo os analistas econômicos – a reação na segunda-feira do mercado financeiro a tal pesquisa. Reação traduzida em uma queda de até 11% nas ações das estatais, que levou o Ibovespa ao maior recuo em três anos. Quadro negativo que se desdobrou em alta da cotação do dólar, para quase R$ 2,50, a maior desde 2008, e que prossegue nos dias seguintes. Esta indicativa da crescente piora da crise fiscal do país e da estagnação da economia.

Jarbas de Holanda é jornalista

Luiz Carlos Azedo: A reta de chegada

• A grande incógnita da disputa de primeiro turno é quem vai para o segundo contra Dilma. Marina está numa trajetória de queda, enquanto Aécio sobe

- Correio Braziliense

O grande maestro Tom Jobim dizia que o Brasil não é para principiantes. A frase é famosa, já foi usada por um candidato contra uma candidata, mas está valendo mais do que nunca nessa reta final da campanha eleitoral, na qual a presidente Dilma Rousseff (PT) tirou o salto alto e saiu de tamanco na mão pra cima dos adversários. Marina Silva (PSB) e Aécio Neves (PSDB) que se cuidem no debate de hoje à noite, na TV Globo, porque a turma do PT é da pesada. A pancadaria será do pescoço pra cima.

Mesmo com o PT usando tudo o que pode — até a estrutura dos Correios para distribuir material de campanha com exclusividade e sem a devida chancela, o que seria considerado crime eleitoral em qualquer país sério — às vésperas da eleição, as pesquisas ainda apontam para a realização do segundo turno na disputa pela Presidência. As chances de vitória de Dilma no primeiro turno são remotas. Os petistas e seus aliados espalham, na reta de chegada, que Dilma vai ganhar no primeiro turno. Tentam sufocar a oposição com o clima de “já ganhou”.

A grande incógnita da disputa de primeiro turno continua sendo quem vai para o segundo contra Dilma. Marina está numa trajetória de queda, enquanto Aécio sobe. Há cinco pontos apenas de diferença entre ambos. É uma disputa emocionante, uma vez que as curvas das pesquisas Datafolha e Ibope mostram que podem chegar empatados no domingo.

Nos melhores momentos da campanha, Aécio chegou a 23%, tanto na pesquisa Sensus de abril quanto no Ibope de agosto. Depois, foi volatilizado pela morte do candidato do PSB, Eduardo Campos, que catapultou Marina. O tucano, porém, gradativamente conseguiu se recuperar e já está quase de volta a esse patamar. A distância da candidata do PSB para Aécio caiu de nove para cinco pontos em quatro dias, Marina perdeu nove pontos neste mês, e o tucano ganhou seis pontos.

Dilma tem 15 pontos percentuais de vantagem sobre Marina. Bate duro na candidata do PSB, que caiu em algumas armadilhas petistas, duas das quais estão custando muito caro: a de que é a candidata dos banqueiros e a de que mentiu quanto à votação da CPMF. Sem tempo de televisão para se defender ou atacar, Marina continuará sangrando até o dia da eleição. É aí que Aécio cresce como candidato de oposição. Parece que a migração de votos de Marina para Dilma chegou ao limite. Resta saber se continuará caindo e se esses votos serão capturados por Aécio.

O imponderável da eleição no primeiro turno é o comportamento vacilante dos eleitores na última semana de campanha eleitoral. Segundo o Ibope, um terço do eleitorado é contra o PT, mas está dividido: 36% dos votos vão para Aécio, que está tecnicamente empatado com Marina, que tem 40%. Nessa faixa, ainda há 15% de votos brancos e nulos. Uma grande parcela de eleitores, porém, ainda pode mudar de candidato. São 32% dos eleitores de Marina, 21% de Dilma e 20% de Aécio. E há 15% de indecisos, que ainda não sabem em quem votar. Ou seja, a reta de chegada será na areia movediça.

Conta outra
Essa polêmica sobre a CPMF, o imposto do cheque, pode se voltar contra Dilma, que tenta desmoralizar Marina. A candidata do PSB votou contra o tributo quando era senadora petista, mas foi a favor do fundo criado para beneficiar o Bolsa Família com os recursos arrecadados dos correntistas, projeto do falecido senador Antônio Carlos Magalhães (DEM). Vale destacar que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso criou a CPMF, quando era ministro da Fazenda de Itamar Franco; depois, o PSDB de Aécio Neves votou pelo fim do tributo, no governo Lula.

O PT culpa a crise da saúde pelo fim do imposto, mas isso não é verdade, porque a arrecadação federal continuou aumentando. Mesmo assim, a governo sempre quis recriar a CPMF. Talvez Dilma Rousseff esteja pensando nisso para tapar o rombo das contas públicas. Segundo o Banco Central, o deficit primário de agosto chegou a R$ 14,5 bilhões. Dos R$ 99 bilhões que deveria economizar, o governo só economizou R$ 10 bilhões em oito meses.

Mais pesquisas
Não faltarão pesquisas nessa reta final: hoje tem Datafolha, Sensus e Ibope; no sábado, MDA, Ibope, Vox Populi, Datafolha e Sensus; e, do domingo, Ibope (boca de urna).

Eliane Cantanhêde: Contagem regressiva

- Folha de S. Paulo

Os últimos Datafolha e Ibope recolocam a possibilidade real de mais um embate entre PT e PSDB no segundo turno, como ocorre desde 2002. Os índices atuais são eloquentes, mas a tendência é que mais importa. Isso, evidentemente, mexe com todas as campanhas.

Dilma Rousseff, desde o início favorita, pelas condições objetivas, aparentemente estacionou num patamar de 40%. É alto, mas insuficiente para lhe garantir uma vitória no primeiro turno. Por isso, faz 1.001 cálculos sobre quem é o candidato mais conveniente no segundo.

Marina Silva, o grande fenômeno da eleição, virou alvo, reagiu mal à pressão e vem perdendo não apenas fôlego, mas algo essencial na sua postulação: o encanto. Sua campanha decidiu subir o tom contra Dilma, na expectativa de se fixar como a opção com mais condições para derrotar o PT e Dilma. Ela e Aécio disputam ferozmente um troféu --o do mais forte candidato anti-PT.

Aécio Neves, que tem um partido maior e mais estruturado, mais palanques estaduais e um conjunto de circunstâncias mais consistente do que o de Marina, depende agora dele próprio para ir ao segundo turno.

A diferença entre Aécio e Marina caiu a apenas cinco pontos, mas é resultado mais da queda dela do que da efetiva subida dele. Até aqui, o tucano limitou-se a recuperar o patamar de 20% que tinha antes da morte de Eduardo Campos.

Vejamos, portanto, a complexa equação a dias das urnas: Dilma com 40% e sem previsão de ir além, Marina caindo fortemente, Aécio subindo levemente. Se Marina despencar e Aécio não ultrapassar seu próprio teto, Dilma pode ser reeleita no primeiro turno. Se Marina continuar em queda e Aécio virar a grande novidade da reta final, deverá se repetir um segundo turno entre PT e PSDB.

Na contagem regressiva, Dilma continua favorita, com as Bolsas caindo, o dólar subindo e a Petrobras, coitada, pagando o pato. Mas tudo ainda é bastante imprevisível.

Cristian Klein: Marina falha onde é melhor


  • Sem palanques, candidata do PSB apostava no discurso

- Valor Econômico

No ano em que mais se falou de 'nova política', as eleições brasileiras mostram - às vésperas do primeiro turno - a força das práticas tradicionais, das regras do jogo e como a bolha de emoção e esperança em torno de Marina Silva se esvaziou na reta final.

Nas corridas estaduais, é o velho PMDB quem deve eleger o maior número de governadores, embora com população menor à que será administrada pelo PSDB.

O grande desfalque na "velha política" vem do Maranhão, com a provável derrota do clã Sarney - dono da mais longa hegemonia regional, iniciada há 48 anos. O que não significa que o fracasso nas urnas não possa ser resolvido no tapetão, como ocorreu em 2009 com a cassação do mandato de Jackson Lago, e sua substituição por Roseana Sarney.

O terceiro turno dos tribunais está entre as artimanhas das raposas da velha política, geralmente associada à 'velha Justiça'.

O sopro de mudança da campanha de Marina já seria uma novidade, ainda que a candidata do PSB tivesse um discurso antigo. Quebrar a polarização de 20 anos entre PT e PSDB é uma façanha por si mesma, que independe do conteúdo político de quem o conduz.

Mas com Marina o discurso é tudo - ou quase tudo. A presidenciável subiu vertiginosamente por causa dele. E também passou a cair, rapidamente, por ele.

Não há grandes deserções entre seus apoiadores. Ou uma "cristianização" de sua candidatura pelo PSB, que chegou a ser cogitada após a morte de Eduardo Campos, pelo receio de dirigentes da legenda perderem espaço para o Rede, grupo liderado pela ex-senadora.

As explicações para o crescimento e declínio de Marina passam pouco pelas estruturas partidárias, alianças - às quais, aliás, ela sempre foi refratária - embora tenham a ver com o poder de fogo dos adversários.

Marina caiu porque o discurso da 'nova política' começou a se desmontar tão logo suas contradições ficaram evidentes. O rápido sucesso da candidatura tornou iminente a vitória e antecipou um pragmatismo que, em condições normais, apareceria mais tarde, sobretudo na formação de governo.

Cinco dias depois da morte de Campos, o Datafolha apontava em 18 de agosto, na primeira pesquisa com Marina, que a candidata do PSB já aparecia em segundo lugar, com 21%, contra 20% de Aécio Neves e 36% de Dilma. Em 26 de agosto, o Ibope mostrava que a ex-senadora encostava em Dilma, 34% a 29%, contra 19% do presidenciável tucano. Três dias depois, Marina divulgava seu programa de governo, em São Paulo, horas antes do Datafolha confirmar, à noite, que a desafiante já empatava em 34% com Dilma Rousseff.

Marina não era mais uma promessa sonhática. Era a própria expectativa de poder. E, como qualquer raposa política, passou a ter que administrá-lo. A ousadia para ganhar cedeu lugar ao medo de perder.

No dia seguinte ao lançamento do programa de governo, o recuo nas propostas para a comunidade LGBT marcou a inflexão pragmática, a partir de pressões de grupos religiosos. O compromisso com a independência do Banco Central - do qual Marina divergia de Campos - veio antes, mas deve-se mais a uma estratégia deliberada de aproximação com o mercado e competição com o PSDB do que a uma mudança de rota.

Lidar com interesses conflitantes - como se já antecipasse a tarefa de governar - passou a ocupar o centro das preocupações da campanha. A liderança nas pesquisas acelerou a busca intensa de contato entre a ambientalista e o agronegócio.

O disparo dos primeiros torpedos do PT - comparando Marina a presidentes que caíram por falta de apoio partidário, como Jânio Quadros e Fernando Collor - exigiu respostas que balançaram a narração da 'nova política'.

A face realista da campanha, o candidato a vice, Beto Albuquerque, foi quem transmitiu a má notícia, pondo fim à história da carochinha de escolher 'os melhores': não dá para governar sem o PMDB.

Desabava o principal pilar do discurso de Marina - que já não se apoia tanto nele, seja por falta de convicção, porque o truque foi revelado ou por passar mais tempo a retrucar os ataques do PT do que a apresentar suas ideias.

A campanha dilmista - com 5,5 vezes mais tempo de propaganda de rádio e TV - empurrou Marina para as cordas. Na defensiva, a pessebista é enredada pela agenda petista que inclui temas como pré-sal e a preservação das leis trabalhistas. Acossada, Marina tropeça nos próprios erros, como a declaração de que votou a favor da CPMF quando era senadora.

Inesperadamente, Marina tem falhado onde é melhor: no discurso, no uso da palavra, de onde vem sua força. A saída estratégica, por meio da vitimização, não deu certo. Pelo contrário. Difundiu no eleitorado a sensação de que lhe falta "pulso firme", de que seria fraca e volta atrás a todo momento.

A velha Marina, sonhática, não teve tempo de se adaptar à nova Marina, mais pragmática, na exigência da disputa pelo poder como ela é. Até a voz falha, numa rouquidão que não sara nos últimos dias.

O ímpeto de responder a cada provocação do - pai ou irmão mais velho - PT amplificou questões que, ignoradas ou subestimadas, resultariam em menos desgaste. As explicações venceram a esperança. Ao menos no primeiro turno.

Marina terá mais três dias para resistir, não ser ultrapassada por Aécio e evitar a repetição da dinâmica eleitoral - lembrada aqui há quatro semanas - que aconteceu em São Paulo, em 2012, com o então candidato à prefeitura, Celso Russomanno (PRB). Se sobreviver, as regras do jogo lhe serão mais favoráveis, com a divisão igualitária do tempo de TV. Mas seja como for a 'nova política' de Marina desvaneceu-se em algum ponto do primeiro turno.

À ex-senadora cabe encontrar o modo de reencantar os simpatizantes perdidos. Acertar o discurso, independentemente de rótulos, e atrair aqueles que a veem - e a valorizam, pela trajetória pessoal - como uma espécie de novo Lula.

Vagner Gomes de Souza : A Sucessão Presidencial, a Esquerda e seu Labirinto

Em qual campo político poderíamos classificar PT, PSDB e PSB? Direita ou Esquerda? Sem qualquer dúvida essas agremiações partidárias têm origem e referencial na Esquerda conforme as denominações dessas siglas. Portanto, causa estranheza que falemos de polarizações no cenário político da sucessão presidencial entre campos ideológicos. Por outro lado, nesses 20 anos de gestão pós-Real (PSDB e PT sob o comando de amplas coalizações) a Esquerda ficou “raquítica” na formulação de políticas democráticas. Houve, na verdade, duas fases marcantes nessas duas décadas: a luta pela estabilidade econômica que foi seguida pela melhor distribuição da renda social. Não podemos negar avanços na economia e no social. Contudo, há um mal-estar na representatividade política diante de um presidencialismo de coalização no qual é um contrapeso no aprofundamento da democracia. Assim, as manifestações de junho de 2013 emergiram na negação de tudo que representasse uma política partidária, ou seja, a negação sem proposição que levou ao gradual esvaziamento das ruas.

Na atual sucessão presidencial, os “marqueteiros” assumiram mais uma vez o comando das campanhas o que desqualificou ainda mais o debate político sobre temas relevantes para a sociedade. Em que medida os questionamentos sobre a autonomia do Banco Central seria relevantes para enfrentar os problemas na Saúde Pública? Eis a questão. As demandas da população: Saúde, Segurança e Educação foram redesenhadas em uma campanha de propagação de uma sensação de incomodo. Como se tudo seria apagado por uma “borracha” em um Programa escrito em lápis. Porém, não há um Programa que diferencie os nomes principais que disputam as duas vagas para o Segundo Turno. O silêncio em relação a representatividade da política é muito característico. Não se trata de afirmar que vetará determinadas siglas, mas demonstrar em quais pontos programáticos há aproximações e diferenciações diante da necessidade de ganhar uma estabilidade governamental sem prolongar a prática do “aparelhamento” do Estado.

A coalização governista está cada vez mais distante da vocação de um partido que represente os trabalhadores. Trata-se de um Movimento Pelo Social com bases numa “fauna política” diversificada de forças políticas sem compromisso com grandes bandeiras. Se houver um compromisso de aprofundamento democrático, a base política do continuísmo se desfaz em uma sequência de desgastes até um revés numa votação de uma Medida Provisória periférica coagir o Mandatário do Executivo a ceder mais espaços políticos no Governo Federal. Nesse sentido, a base política do “lulismo” está sempre se autorreproduzindo na ocupação do “centro político”. Os sinais de insatisfação que constatamos nos eleitores da oposição refletem que não será segundo mandado tranquilo de Dilma em caso de vitória. Seria necessário uma refundação da política para que o mundo político seja reformado em nome de uma melhor qualidade na participação democrática. Entretanto, os sinais da economia indicam que a esquerda não sairia do labirinto do “tripé econômico”.

O PSDB realiza um luta política autocentrada pela sua manutenção na Grande Política nacional. Não está claro ao eleitor médio o que seria uma “Nova Economia” diante de tudo que representaram nos anos de FHC. Uma nova política industrial implicaria uma contradição com o setor de Agronegócios. Na verdade, eles lutam voto a voto para não serem pulverizados diante da possível derrota no estado de Minas Gerais. O “calcanhar de Áquiles” da candidatura da Coligação Muda Brasil está na possível derrota do PSDB no governo estadual mineiro. Não chegar ao Segundo Turno e não ampliar sua bancada no Congresso Nacional é o pior dos cenários para a social-democracia brasileira. Esses, em primeiro lugar, precisam passar pela refundação para trazer aos eleitores mais que o “antipetismo”.

A candidatura própria do PSB se beneficiou pelo acidente em percurso da campanha eleitoral que levou ao desaparecimento do seu então Presidente nacional e grande articulador político: Eduardo Campos. A visibilidade política da Marina Silva após o “13 de agosto” é proporcional a grau de responsabilidade política desse partido que se denomina socialista com compromissos políticos da valorização da democracia e das conquistas sociais dos trabalhadores. A migração das intenções de votos da base do “lulismo” foi revertida pela publicidade eleitoral enquanto que o eleitor “antipetista” clássico reencontrou Aécio Neves nessa reta final da campanha. Diante dessa realidade política, ainda percebemos que falta uma Grande Política que demonstre condições de lutar por mudanças. Agora é momento de refazer com a herança política das principais siglas que fazem parte da coligação. A ética da responsabilidade deve prevalecer se deseja se mantiver competitivo no cenário nacional.

A esquerda não governa sozinha em nenhuma parte do mundo, muito menos no Brasil. Gradualmente a sociedade brasileira avançou nos indicadores econômicos e sociais, mas a democracia política está sob hegemonia de uma política marcada pelas “máquinas eleitorais” e pelo clientelismo. Faltou um debate sobre os rumos da representatividade política em nosso país uma vez que os marqueteiros hegemonizaram o duelo eleitoral. Desejamos que isso não ocorra nos próximos 21 dias de intervalo para o Turno eleitoral decisivo.

Mestre em Sociologia pelo CPDA-UFRRJ.

Carlos Alberto Sardenberg: Licença para enganar

• Fica, pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação com os fatos e com a lógica

- O Globo

Dá para compreender: eleição tem muito de emoção, de modo que as campanhas, dominantemente de rádio e TV, precisam apelar para o sentimento dos eleitores. Mas vale enganar, especialmente, as pessoas mais desinformadas?

Pessoal que trabalha com Dilma tem dito que muitas afirmações feitas pela presidente, como a que os banqueiros querem dominar o Banco Central para tirar a comida do povo, são "coisa de campanha". Reparem: o pessoal faz essa ressalva para os eleitores mais informados, líderes de setores, formadores de opinião ou, para usar a linguagem de Lula, a elite rica.

Supondo que vale a ressalva, fica assim, portanto: a campanha tem umas mentirinhas para pegar o voto daquela turma que, vocês sabem, não é muito esperta; mas no governo será diferente, mais razoável e menos emocional.

Se for isso, a conclusão é inevitável: campanha é uma licença para mentir; e não se trata "apenas de propaganda", mas de propaganda enganosa.

Muita gente diz que nos Estados Unidos é pior. Não é. Sobram lá os ataques pessoais, assim entendidos como a crítica feita diretamente à pessoa do candidato, não tanto a suas posições. Por exemplo: dizer que o adversário é incompetente, falso e sem moral.

Acontece. Cada campanha assume os riscos desses ataques. Sim, riscos, porque muitas vezes produzem efeito contrário. De todo modo, os candidatos não têm como escapar de posições definidas sobre os grandes temas nacionais e internacionais. Trata-se de uma cobrança do ambiente político.

Considerem os debates pela televisão, aliás, uma invenção da democracia americana. As regras são mínimas, em geral, selecionando apenas o assunto central, por exemplo, diplomacia ou economia. Os mediadores, jornalistas, têm ampla liberdade para perguntar e reperguntar, para gastar tanto tempo quando considerem necessário para esclarecer uma posição.

Aqui, por exigência dos candidatos, nisto apoiados pela legislação eleitoral, não por acaso feita pelos próprios políticos, as regras são colocadas de modo a criar menos riscos para os participantes. Falando francamente: são regras para permitir que os candidatos se escondam nas generalidades e não sejam cobrados por isso.

Fica, pois, assentado que campanha é assim mesmo, um vale-tudo emocional, sem relação com os fatos e com a lógica, e, sobretudo, não constitui um compromisso de governo. Eis uma ideia generalizada por aqui.

Trata-se de um dano para a democracia. Primeiro, porque coisas de campanha acabam sendo coisas de governo. O candidato passa o tempo todo fugindo de temas como reforma da Previdência, da legislação trabalhista ou ineficiência do serviço público — e não terá como introduzi-los no governo, mesmo porque logo haverá outra eleição.

Segundo, essas campanhas não formam opinião geral ou consensos ou mesmo maiorias sobre políticas de governo. Surgiu assim uma geração de líderes de campanha, tão vagos e tão indefinidos como suas propagandas de rádio e TV. No governo, esses líderes tratam de empurrar com a barriga, atender clientelas organizadas e não criar caso com ninguém.

Por isso, aliás, acontecem alianças que parecem estranhas, mas que, na verdade, são muito lógicas, pois estão todos na geleia geral.

Claro, não é todo mundo igual. Há níveis e escalas. Marina, por exemplo, foi surpreendentemente clara, para os padrões vigentes, quando propôs a independência do Banco Central ou a flexibilização da legislação trabalhista. Verdade que precisou depois "amenizar" a última proposta, mas foi um avanço.

Pequeno. Por exemplo, ninguém discutiu a sério, em todo o período eleitoral, um tema crucial para a produtividade da economia brasileira: a terceirização do trabalho.

E a campanha da presidente Dilma está no lado oposto, no lado do máximo vale-tudo: banqueiro é ladrão de comida, os ricos querem expulsar os pobres dos aeroportos, a imprensa é contra o povo, as empresas querem matar os seus trabalhadores para ter mais lucro, ter uma colaboradora acionista de banco é grave falta pessoal.

Já ter aliados na cadeia ou perto disso é perseguição política do Judiciário das elites.

Classificar isso de esquerda, progressista ou popular, é até injusto com as doutrinas socialistas ou trabalhistas. Cai mesmo no lado dos bolivarianos. E se é tudo coisa de campanha, é pior ainda: um falso bolivarianismo seria o quê?

Carlos Alberto Sardenberg é jornalista