segunda-feira, 23 de fevereiro de 2009

Sombras no avanço da esquerda

José de Souza Martins*
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO/ ALIÁS

Pouco mais de 36% dos venezuelanos decidiram, no referendo recente, pela totalidade do povo da Venezuela ao suprimir restrições à ilimitada reeleição dos governantes do país. A consulta foi feita para legitimar a pretensão de Chávez a um novo mandato, daqui a 4 anos. Grave é o fato de que a larga proporção dos que se abstiveram expressa apenas que os que preferem a alternância de poder não demonstraram ter condições de propor ao país uma alternativa consistente ao continuísmo de Chávez. A Venezuela é, hoje, um país governado em nome dos que se omitem.

Estaríamos em face de mais uma ditadura latino-americana não fossem as peculiaridades do que ocorre na Venezuela e se estende à Bolívia e ao Equador. A notícia que vem sendo difundida pela imprensa desde o ano passado, de que as novas constituições e as mudanças constitucionais nesses três países são obras de um professor espanhol de direito, da Universidade de Valência, Roberto Viciano Pastor, propõe que se reveja, com outros olhos, a dinâmica do que vem sendo chamado de nova esquerda na América Latina. O que ocorre na Venezuela é apenas a ponta de uma ampla transformação política em andamento na região.

Viciano Pastor, de farda negra, já estendeu o braço direito em saudação fascista ao ditador da Espanha, o falecido generalíssimo Franco. Vem da direita católica ultramontana, pertence hoje ao Partido Comunista Espanhol e faz parte de uma entidade que se dedica à gestação e assessoramento de mudanças constitucionais na América Latina. A mobilização política se dá em nome dos novos sujeitos da ação política. Não só os que foram marginalizados ao longo da história latino-americana pelo modelo de Estado e de partido político que é basicamente expressão do legado da Revolução Francesa, mas os que foram marginalizados e subestimados pela esquerda marxista, como os camponeses e os índios. Deprecia a democracia representativa e propõe a manifestação plebiscitária de um poder popular articulado em torno de um presidencialismo concentrador, forte e continuísta. A ideologia dessas orientações é antidemocrática e integrista, de um autoritarismo dissimulado na mecânica das reeleições e na mobilização dos pobres e desvalidos como novos sujeitos de referência, de direitos e de ação política.

Em boa parte, a possibilidade dessa cruzada de direita dissimulada de esquerda no discurso verbalmente radical, nacionalista ou regionalista e anti-imperialista, surgiu com o fim da Guerra Fria e seus efeitos devastadores para os partidos comunistas, sobretudo aqui, em que sempre foram fracos. A esquerda latino-americana em boa parte o era porque aprisionada na polarização do confronto Leste-Oeste, reduzindo todos os descontentamentos sociais, até de quem proletário não era, à visão de mundo do proletariado teórico de Marx. O fim da polarização ideológica internacional suprimiu as mediações políticas dos muitos e diferentes descontentamentos sociais deixando a massa dos insatisfeitos livres de enquadramentos políticos postiços, mas ao mesmo tempo à mercê de novas ideologias e de novos demagogos de algum modo identificados com os movimentos populares ou até deles oriundos.

Na era que se abriu com o fim da Guerra Fria, há duas grandes tendências ideológicas influentes no aparelhamento e no direcionamento dos descontentamentos sociais latino-americanos e não só a do grupo espanhol influente na Venezuela, no Equador e na Bolívia. Também originário da direita católica, há o amplo leque de influência ideológica e política dos seguidores do falecido Louis Althusser. Era ele um francês nascido na Argélia, que fora militante da juventude católica. Tornou-se comunista e promoveu uma releitura da obra de Marx que, justamente, a priva do seu princípio constitutivo, o princípio da contradição. Ela a reduz a um sistema de classificações conceituais que nega a práxis e sua historicidade social e politicamente transformadora nas sobredeterminações de instâncias com relativa autonomia, como a ideologia e a religião.

O pensamento althusseriano se difundiu na América Latina a partir da França e da esquerda francesa e se difundiu também no meio católico, especialmente entre teólogos, a partir da Bélgica, da Universidade de Louvain, uma universidade católica. Essa outra tendência foi formativamente influente no surgimento e ascensão do PT, no Brasil, na Nicarágua sandinista e, agora, no Paraguai. Não é casual que o MST no Brasil, que tem como referência teórica e doutrinária a obra de uma discípula de Althusser, atue como partido político e preconize as mesmas soluções políticas integristas viabilizadas pelo grupo espanhol para a Venezuela, o Equador e a Bolívia.

Essas reorientações teóricas e ideológicas, que nos vem, na verdade, da grande tradição do pensamento conservador, se complicam num cenário político em que as demandas sociais interpelam a sociedade legada pela dominação colonial e pela escravidão. São demandas de esquerda porque questionam as estruturas sociais injustas, as iniqüidades que se renovam, a economia que não gesta transformações nem viabiliza uma sociedade nova, de desigualdades sociais no mínimo atenuadas.

Mas as respostas oriundas desse neo-autoritarismo, que se materializa nos governos da nova esquerda latino-americana, tem sido, na verdade, respostas de direita. O integrismo que as norteia propõe uma refundação da sociedade e não sua transformação. Quando o MST fala em 500 anos de latifúndio, remete-nos para a negação da história já feita e realizada e não se revela capaz, como também ocorre com o PT e vem ocorrendo com os governos desses diferentes países, de propor um projeto histórico em que a mudança se dê pela superação das contradições que geram a pobreza e a injustiça. O discurso sobre os novos sujeitos não redistribui possibilidades de mudança e de esperança. Redistribui as injustiças pela troca de lugar social de suas vítimas e não pela superação das causas das iniqüidades sociais.

*José de Souza Martins, Sociólogo, Professor Emérito da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas da Universidade de São Paulo, é autor de Retratos do Silêncio, Coleção "Artistas da USP", Editora da Universidade de São Paulo, São Paulo, 2008; Sociologia da Fotografia e da Imagem (Editora Contexto, 2008); A Sociabilidade do Homem Simples (2ª edição revista e ampliada, Contexto, 2008); A Aparição do Demônio na Fábrica (Editora 34, 2008.

Gabeira e tucanos articulam chapa para 2010

Flávio Tabak
DEU EM O GLOBO


Reunião na casa de Marcello dá início a projeto: PSDB do Rio quer também formar palanque para Serra ou Aécio

Com um carnaval de antecedência, o deputado federal Fernando Gabeira (PV-RJ) começa a se movimentar com o PSDB do Rio para a campanha de 2010. Os primeiros passos foram dados na manhã de ontem, durante reunião organizada na casa do ex-governador Marcello Alencar (PSDB) em Petrópolis, Região Serrana do Rio. Entres os pontos discutidos, pesou o quadro nacional, já que a chefe da Casa Civil, ministra Dilma Rousseff, mantém agenda de pré-campanha. Encontros entre Gabeira e os governadores tucanos de Minas Gerais, Aécio Neves, e de São Paulo, José Serra, serão marcados.

Embora o deputado não tenha decidido se disputará o governo do estado ou uma vaga no Senado, a cúpula do PSDB fluminense está preocupada em formar, desde já, o palanque para o candidato tucano a presidente, independentemente de quem seja. Além de Gabeira e Marcello Alencar, participaram da reunião o deputado estadual Luiz Paulo Corrêa da Rocha, o deputado federal Otávio Leite, ambos do PSDB, e o ex-secretário de Ciência e Tecnologia Eloi Fernández.

Gabeira diz que a corrida política já começou, influenciada pelas ações de Dilma.

- Teve influência (a pré-campanha de Dilma). O processo foi iniciado, e, quando isso acontece, todos os atores têm que se mover. Concluímos que, como a nossa campanha será no estado, não há o que esperar. É preciso começar a estabelecer contato. Ficamos de conversar com os possíveis candidatos a presidente do nosso campo (Serra e Aécio). Não dá para esperar - contou o deputado, depois do encontro promovido por Marcello, que serviu mate e pasta árabe para os convidados.

Candidaturas abertas para atrair outras legendas

O PSDB fluminense quer Gabeira como candidato a governador, mas o deputado vai adiar a decisão para não atrapalhar a formação da futura chapa, que também conta com o PPS. Não há motivo, segundo o que foi discutido ontem, para antecipar disputa por cargos. Outras legendas, como o DEM, poderiam se afastar se achassem que as cartas já estariam marcadas.

- Não queremos apresentar um prato feito para os partidos. Foi apenas um pontapé inicial, um levantamento da situação. Não houve decisão. Temos que começar, a partir de quinta-feira, a examinar situações específicas no estado - contou Gabeira.

Além da reedição da chapa montada no segundo turno da eleição municipal de 2008 na capital, os tucanos ainda contam com os votos na Baixada Fluminense do prefeito e presidente estadual da legenda, José Camilo Zito. Já o ex-prefeito Cesar Maia (DEM) mandou avisar na reunião de ontem: é um "soldado" da chapa e pode se candidatar a qualquer cargo para ajudar a coligação nacional.

- Não estamos inventado nada de novo, mas sim retomando a aliança que foi construída. Ela expressa a preocupação com uma nova forma de fazer política no estado - afirma o deputado Otávio Leite.

As cidades que terão maior atenção, inicialmente, são as da serra, como Nova Friburgo e Petrópolis, e algumas do Sul do estado: Volta Redonda, Resende e Barra Mansa. A ideia é articular com forças alternativas. Os tucanos também começaram a olhar mais de perto a administração do governador Sérgio Cabral (pré-candidato à reeleição pelo PMDB) para montar a futura plataforma de governo.

Serra também já se movimenta

Ricardo Galhardo
DEU EM O GLOBO

Aécio, por sua vez, intensificará agenda antes das prévias

SÃO PAULO e BRASÍLIA. Oficialmente ninguém confirma, mas a movimentação do governador José Serra (PSDB) deixa evidente que o tucano já trabalha fortemente pela sua candidatura à Presidência em 2010. Serra tem viajado para outros estados, negociado alianças, fortalecido sua liderança sobre o PSDB paulista e adotado agendas nacionais, como forma de marcar sua posição e criticar o governo federal.

- É evidente que uma figura pública da estatura do Serra, governador de São Paulo, que pretende ser o candidato do PSDB à Presidência, está se movimentando. Mas são movimentos, não é campanha - diz o líder do PSDB na Câmara, José Aníbal.

De acordo com assessores de Serra, a data limite para que o governador coloque seu bloco na rua é 3 de outubro, quando encerra o prazo de filiação partidária para as eleições de 2010. A partir de então, estará dirimida a incerteza sobre os próximos passos do governador de Minas Gerais, Aécio Neves, rival de Serra na disputa interna.

Enquanto isso, o governador se movimenta. Para estreitar seus laços com o PSDB paulista, ele tem dedicado as sextas-feiras a viagens pelo interior. A medida é necessária para manter a coesão do partido no estado mais importante do país, que ficou ameaçada depois das divergências entre Serra e o ex-governador Geraldo Alckmin na eleição municipal. A nomeação de Alckmin para a Secretaria estadual de Desenvolvimento é vista como mais um lance de Serra para unificar o partido.

O apoio do governador ao prefeito Gilberto Kassab (DEM) contra Alckmin na eleição municipal de 2008 foi outro lance com vistas a 2010. Com isso, Serra atraiu não só o DEM, mas também parte do PMDB ao deixar a vice-prefeitura com Alda Marco Antônio, do grupo do ex-governador Orestes Quércia.

Sempre que pode, Serra inclui temas nacionais em sua agenda, como o aquecimento global e a crise financeira mundial. E não perde oportunidades de fustigar o PT. Na semana passada, reclamou que os prefeitos petistas não dão publicidade às parcerias com o governo estadual. Isso levou o PT paulista a divulgar nota dizendo que Serra antecipa a campanha. A nota foi encarada como piada no Palácio dos Bandeirantes.

Com muita disposição para enfrentar o colega Serra nas prévias do PSDB, o mineiro Aécio Neves tem conversado com políticos de todos os partidos e já organiza uma agenda de viagens pelo país. Mas, cauteloso, não montou uma equipe, ainda que informal, para tratar de 2010.

Tem, porém, aliados empenhados em tornar realidade seu projeto. É o caso, por exemplo, do deputado federal Rodrigo de Castro, dirigente do PSDB de Minas. Até que as prévias saiam do papel e sua pré-campanha consiga ganhar corpo, Aécio propõe que ele e Serra iniciem, no próximo mês, um périplo pelas cinco regiões do país para discutirem as propostas do PSDB para o Brasil. Ele considera que, para neutralizar o avanço do adversário do PSDB, a ministra Dilma e o presidente Lula, os tucanos precisam agir, e rápido. E sustenta que as prévias não põem em risco a unidade do PSDB.

- O PSDB tem uma oportunidade extraordinária de se preparar para 2010 andando pelo país. As prévias representam uma oportunidade que não temos o direito de perder. Antes disso, porém, eu e Serra poderemos percorrer juntos o Brasil falando sobre nossos projetos para o país - diz Aécio.
Colaboraram: Gerson Camarotti e Adriana Vasconcelos

E Lula engoliu a oposição...

Juan Arias
DEU EM O GLOBO (ontem)


A política brasileira produziu um fenômeno único na América Latina e talvez no mundo: o carismático presidente Luiz Inácio Lula da Silva e sua administração, que gozam de 84% de popularidade depois de seis anos de governo, engoliram a oposição. E não o fizeram com métodos antidemocráticos, mas sim apropriando-se de suas bandeiras.

Já se sabia que Lula é um gênio político, que soube vencer as reticências no núcleo do seu próprio partido, o Partido dos Trabalhadores. De fato, dispõe-se a eleger uma mulher, a ministra Dilma Rousseff, como sua sucessora na candidatura à Presidência em 2010, apesar de ela nunca ter disputado eleições e não ser um personagem excessivamente grato ao PT. Mas o que ninguém jamais imaginou é que ele seria capaz de eliminar democraticamente a oposição. Tanto a de direita como a de esquerda.

Como conseguiu? Com uma política que, pouco a pouco, foi escavando o chão sob os pés dos seus opositores. Cortou as asas da direita mediante uma política macroeconômica neoliberal que está lhe proporcionando bons resultados nestes momentos de crise financeira mundial graças às reservas acumuladas.

Ao mesmo tempo, pôs rédea curta nas pretensões de alguns dos movimentos sociais mais radicais, como o dos Sem Terra (MST), cujas ações têm criticado tachando-as de ilegais e instando-os a respeitar a lei em vigor. E manteve uma política de meio ambiente das mais conservadoras, algo que agrada aos latifundiários e aos grandes exportadores, que formam o núcleo mais direitista do Congresso.

Também freou as esquerdas. Conseguiu fazer calar a esquerda minoritária com uma política voltada para os estratos mais pobres do país, o que fez com que seis milhões de famílias passassem às fileiras da classe média baixa, abandonando seu estado de miséria atávica. Abriu o crédito aos pobres, que agora, com pouco dinheiro, podem abrir uma conta no banco e ter um cartão de crédito - o que os converte em partícipes da roda da economia nacional.

Para a outra esquerda, a moderada, também tornou as coisas difíceis. Hoje em dia, para o Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB), a agremiação oposicionista com maiores possibilidades de ganhar as próximas eleições porque conta com dois grandes candidatos (os governadores de São Paulo, José Serra, e de Minas Gerais, Aécio Neves), é mais difícil fazer oposição.

Os dois aspirantes do PSDB sabem que não poderão ser eleitos contra Lula. Por isso, só falam, como acaba de fazer Aécio Neves, de uma era "pós-Lula", com um projeto de nação que aporte algo novo ao projeto do presidente, que já goza do consenso da grande maioria do país.

Desde o primeiro dia de sua chegada ao poder, Lula tem mantido Henrique Meirelles, do PSDB, como presidente do Banco Central. Conservou e ampliou o projeto social "Bolsa Escola", criado pelo PSDB, batizando-o como "Bolsa Família". Esse plano ajuda hoje 12 milhões de famílias e nenhum partido da oposição se atreveria a criticá-lo.

Desde seu primeiro mandato, Lula não só demonstra ter sabido congregar apoios de 12 partidos ao seu governo, como até o momento logrou manter amizade com os candidatos opositores Serra e Neves. Ambos, além disso, desfrutam de boas relações com o PT, e inclusive não descartam governar junto ao partido de Lula se chegarem ao poder.

Mas não há realmente espaço para a oposição no Brasil? Porque, se assim fosse, haveria quem considerasse isso um grave obstáculo para uma autêntica democracia. Poderia haver, segundo vários analistas políticos, como Merval Pereira, mas o problema está no fato de que a oposição se assustou com a popularidade de Lula. Há até políticos opositores, sobre tudo dos governos locais, que buscam uma foto junto a Lula para ganhar pontos com seu eleitorado.

Se a oposição desejasse, dizem os especialistas, poderia exigir de Lula que levasse a cabo as grandes reformas de que este país ainda necessita para decolar na cena mundial, como a reforma política (é possível governar com 30 partidos no Congresso?); a fiscal (Brasil é um dos países com maior carga tributária: roça os 40%); a de Segurança Social (Lula só a realizou em parte e, apesar de un escândalo de subornos a deputados para que votassem a favor, ficou pequena); a agrária (não saiu do papel); a da educação (no Brasil ainda não é obrigatório o ensino secundário e a qualidade deste é considerada como das piores no mundo); e, por último, a penitenciária (os suicídios dos presos aumentaram no ano passado em cerca de 40%).

Juan Arias é jornalista.© El País.

PSDB busca agenda para oposição a Lula

Christiane Samarco
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO


Grupo criado pela legenda para profissionalizar discussão alerta para uso político da Petrobras
Depois do aval do governador paulista José Serra às prévias reivindicadas pelo colega de Minas Gerais, Aécio Neves, a cúpula do PSDB concluiu que o maior desafio do partido hoje é organizar a oposição, e não a consulta interna para escolher o candidato a presidente em 2010. "O que nós precisamos é aprender a fazer oposição. Temos sido um fracasso neste quesito", confessa o presidente nacional da legenda, senador Sérgio Guerra (PE).

Preocupados com o prestígio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que não para de crescer, e com o aumento da popularidade da candidata do PT ao Planalto, ministra Dilma Rousseff (Casa Civil), os tucanos avaliam que, para retomar o poder, será preciso dar foco e eficiência máxima à oposição. A estratégia, já em curso, é profissionalizar a atuação do tucanato a partir de uma agenda temática consistente e uma análise crítica de cada setor do governo, orientada por especialistas e por pesquisas de opinião.

Para formular a agenda oposicionista e municiar a tropa com a artilharia de argumentos que vão combater o PT e o governo Lula em vários fronts, sobretudo no Congresso, o deputado Luiz Paulo Velloso Lucas (PSDB-ES) está coordenando a montagem de um grupo no Rio de Janeiro. Um dos primeiros itens da pauta da oposição será, dizem, " abrir a caixa preta da Petrobrás". "A maior estatal do País sempre foi impenetrável. Vamos cobrar transparência, saber se a empresa está eficiente, se está gastando demais e se a direção não está muito partidarizada", anuncia o presidente do partido.

Velloso Lucas chama a atenção para a questão de pessoal. Lembra que, no governo Fernando Henrique Cardoso, a Petrobrás tinha 45 mil funcionários concursados e cerca de 100 mil terceirizados. "Na era petista, já são 85 mil crachás verdes (concursados), e o número de terceirizados triplicou, chegando a 300 mil", afirma o deputado.

Segundo ele, a diferença maior é que no período FHC a produção de petróleo cresceu a uma média anual de 10% - e agora não passa de 3%.

GRUPO DO RIO

"É por estas e outras que, antes de tratar de prévias, temos que discutir o legado do governo Lula e o que o PSDB, vencendo eleições, terá de pegar pela frente", emenda o deputado Edson Aparecido (PSDB-SP). Aparecido também entende que o partido perdeu tempo demais com questões internas e que agora terá de tirar o atraso, não dando trégua ao PT. "O discurso e o programa de governo que levaremos ao palanque serão definidos muito em função do que a oposição fará daqui até as eleições do ano que vem", observa.

Para dar consistência ao debate político e criar as bases do programa de governo para 2011, o PSDB está mobilizando economistas, sociólogos e especialistas em diversas áreas, além dos parlamentares e dirigentes do partido. Instalar o QG no Rio de Janeiro tem serventia múltipla. Além de fincar pé no terceiro maior colégio eleitoral, que é tradicionalmente de oposição, o PSDB aproveita o fato de que os coordenadores dos dois grupos temáticos mais importantes são cariocas.

Depois do carnaval, um grupo de coordenação vai se reunir semanalmente, dando orientação aos grupos temáticos que irão aprofundar os principais temas. Não por acaso, o debate prioritário é o do desemprego.

A discussão sobre economia e conjuntura será comandada pelo ex-presidente do IBGE Sérgio Besserman Vianna, com a colaboração dos economistas Luiz Roberto Cunha e José Roberto Affonso, ex-superintendente do BNDES. O sociólogo Alberto Carlos de Almeida coordena as pesquisas.

SEM XINGAMENTOS

"Faremos uma oposição de mérito, sem xingamento e sem agressão. Não temos outro caminho que não a racionalidade", pondera Velloso Lucas.

"Temos que enfrentar não o mito, mas os fatos, a obra deste governo", diz. Ele está convencido de que a oposição tem que se organizar, mas não porque não tenha feito nada até aqui. "O problema é que estamos lidando com um fenômeno de popularidade, um presidente que se tornou um mito, e um adversário voraz e pragmático. O PT não tem limite para fazer alianças sem princípios, nem para aparelhar o Estado despudoradamente", acusa.

A avaliação geral é que a tarefa do tucanato é conduzir o debate eleitoral de olho no projeto futuro. "O eleitor não vota olhando para trás", analisa Edson Aparecido, para concluir: "Vamos ter que mostrar que somos melhores e precisamos dedicar tempo para construir o sonho que o partido vai apresentar como projeto de governo à sociedade, a partir de experiências exitosas como em São Paulo e Minas."

Presidenciáveis tucanos cortejam Zito no Rio

Alexandre Rodrigues
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Prefeito de Duque de Caxias diz que PSDB precisa de cheiro de povo

Diante da aliança cada vez mais forte do PT do presidente Lula com o governador do Rio, Sérgio Cabral (PMDB), o PSDB busca um caminho para garantir um palanque forte para seu candidato à Presidência no terceiro maior colégio eleitoral do País em 2010. Na capital fluminense, a prioridade é reeditar a aliança com PPS e PV - que quase elegeu o verde Fernando Gabeira prefeito - para enfrentar a dobradinha de Cabral com o prefeito Eduardo Paes (PMDB), ex-tucano recém-convertido ao lulismo. Mas a principal porta para o PSDB no Rio é o prefeito tucano de Duque de Caxias, José Camilo Zito, que tem sido cortejado pelos governadores Aécio Neves (Minas) e José Serra (São Paulo), presidenciáveis do partido.

Presidente do PSDB do Rio, Zito é um dos políticos mais populares da Baixada Fluminense, que concentra quase um quarto dos 11,2 milhões de eleitores do Estado. Com um perfil bem diferente do figurino tucano tradicional, ele tirou a prefeitura de Washington Reis (PMDB), que tentava a reeleição turbinado por Lula e Cabral, logo no primeiro turno. Comandante da única vitória expressiva do PSDB no Rio, Zito é o contraponto natural ao crescimento do PT na Baixada com a reeleição de Lindberg Farias em Nova Iguaçu, outro eleitor da ministra Dilma Rousseff. No entanto, magoado com a pouca atenção que recebeu do PSDB em 2008, o prefeito ameaça ficar de fora da eleição de 2010 e atrai a atenção de vários caciques.

No dia em que foi eleito contrariando as pesquisas, Zito recebeu os parabéns de Serra pelo telefone. Serra chegou a marcar uma visita a Caxias em janeiro, adiada na véspera. "Ele disse que ainda quer vir, que quer fazer uma aproximação entre Caxias e o governo de São Paulo. Mas acho que ele quer mesmo é falar da eleição dele, né?", especula Zito em entrevista Estado.

A maior parte dos tucanos do Rio é serrista, mas Zito parece mais próximo de Aécio. O mineiro largou na frente ao visitar Caxias ainda na reta final da campanha de 2008 e faz ligações frequentes para o prefeito.

Para Zito, o PSDB perde tempo na indefinição do candidato, mas ele mesmo não se define entre Serra e Aécio. "Darei minha opinião no momento certo." Em vez de criticar a campanha antecipada de Lula, segundo Zito, o PSDB deve aprender com ele: "Acho que o PSDB precisa de um cheiro de povo."

Um país previsível

Fernando Rodrigues
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


BRASÍLIA - Passado o Carnaval, entrará em rápido processo de consolidação a tese da inevitabilidade das candidaturas de José Serra (PSDB) e de Dilma Rousseff (PT).Faltam 19 meses para a eleição presidencial, mas esse cenário previsível parece cada vez mais imutável.

Desde o retorno à democracia, em 1985, a política brasileira tem sido incapaz de produzir grandes novidades positivas e longevas. O PT injetaria oxigênio no sistema. Virou um partido tradicional do establishment. Aliou-se ao Democratas (ex-PFL) na escolha dos presidentes da Câmara, Michel Temer, e do Senado, José Sarney.

José Serra, 66 anos, e Dilma Rousseff, 61 anos, são dois candidatos respeitáveis para um país como o Brasil. Mas talvez não preencham a demanda completa dos eleitores.Para comprovar, bastaria uma pesquisa simples nos portões dos sambódromos do Rio e de São Paulo.

O pesquisador mostraria as fotos de Serra e de Dilma. Identificaria os retratos e indagaria:

"Você considera essas duas opções suficientes para a eleição presidencial ou gostaria de ter alternativas renovadoras, que dessem novo impulso ao país?".

A resposta seria óbvia, a favor de mais nomes na disputa. Mas esse mesmo eleitor certamente não fará nada para buscar um possível Obama brasileiro.

Há um trauma no Brasil por causa da última saída novidadeira. Em 1989, o jovem Collor foi eleito. Em 1992, sofreu impeachment.

Tudo somado, o Brasil se tornou um país convencional na política. Medroso, sem coragem de inovar. É um caminho de coerência histórica.

A Independência e a República foram concertações da elite e não fruto de grandes conflitos nem de amplo desejo da população.

Além do mais, há o Carnaval. Todas as transgressões são reservadas para esta semana. Depois, o brasileiro sabe se comportar e votar nos políticos de sempre.

QUANDO (Poema)

Graziela Melo

Quando
Murcha
Estiver
Minha alma,

Secos,

Os meus
Sentimentos

Mortas,


As minhas
Idéias...

Os danos
Da velhice
Invadirem
O meu corpo,


Desfigurando
O meu rosto

Anulando
Minha vaidade...

Ainda assim,
Restará


Uma poça
De afeto

Uma reserva
Oculta


De amor
E carinho

Um monte
De compaixão

E
Uma brechinha
Na alma

Para
Olhar
O outro!!!

Rio,22/02/2009 domingo de carnaval

Foco: Projeto que cria Museu da Imprensa Comunista abre conflito entre PPS e PCB

ANDRÉ ZAHAR
DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A imprensa comunista ganhará um memorial na casa da Gamboa (zona portuária do Rio de Janeiro), onde em 1950 começou a funcionar a gráfica do PCB (Partido Comunista Brasileiro). O espaço será convertido pelo PPS -que surgiu a partir do antigo "Partidão"- no Museu da História da Imprensa Operária e Comunista.

A homenagem reativou a disputa do PPS com o "novo" PCB, registrado no TSE (Tribunal Superior Eleitoral) e autointitulado herdeiro político do "velho" partido comunista fundado em 1922.

O PPS foi criado em 1992 no 10º Congresso do antigo PCB, quando 58% dos delegados presentes decidiram refundar a sigla, adotando uma nova denominação. Os delegados derrotados no encontro se reorganizaram e recriaram o PCB em 1996.

O prédio de 180 metros quadrados e dois andares, situado na rua Leôncio de Albuquerque, será restaurado para abrigar jornais, revistas e livros editados até o fim da ditadura militar (1964-1985).

O secretário-geral do PCB, Ivan Pinheiro, 62, procurou a direção do PPS para reivindicar que o PCB também administre o museu. "Não tem sentido o museu ser administrado por quem quis acabar com o PCB. Eles fizeram um ardil jurídico para transformar o PCB no PPS, mas não são os sucessores políticos do Partido Comunista."

Para aparar as arestas, os dirigentes do PPS Givaldo Siqueira, 74, e Francisco Almeida, 69, consentiram na participação de outros partidos de esquerda no conselho responsável pelo projeto. "Vamos botar PC do B, PDT e PT no conselho. Nós nunca trabalhamos com exclusivismo", afirmou Almeida.

Segundo Siqueira, o PPS tem financiamento de empresas interessadas em isenção fiscal, além de recursos do fundo partidário. A reforma será feita pelo arquiteto Cydno Silveira, que trabalhou com Oscar Niemeyer.

Cesar Maia

Para viabilizar a obra, o então prefeito Cesar Maia, que pertenceu ao PCB nos anos 60, encaminhou à Câmara Municipal um projeto de remissão de todas as dívidas com a Prefeitura do Rio e isenção tributária.

Os títulos editados pelo PCB incluíam os jornais "Novos Rumos", "Para todos", "Voz Operária" e "Emancipação". Siqueira cita que, nos anos 40 e 50, estes veículos tinham contribuições de nomes importantes como Carlos Drummond de Andrade, Jorge Amado e Graciliano Ramos."A ditadura empastelou e interditou as gráficas. Os dirigentes foram processados e passamos a trabalhar na clandestinidade, em subterrâneos, até 1975. Depois, começamos a imprimir a "Voz Operária" em Paris", conta Siqueira.

O presidente da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), Maurício Azêdo, 74, trabalhou na "Imprensa Popular" em 1956 e 57. Ele recorda que, mesmo antes da ditadura, o irmão Raul Azêdo Neto, então revisor do jornal, participou de mobilizações nas oficinas para resistir às ameaças de invasão pelos adversários do PCB.

"Eles defendiam as oficinas contra ameaças externas, inclusive de armas na mão. Não houve nunca necessidade de reação a tiros, mas foi um período muito difícil, que exigia muita coragem e resistência", assinala.

Já é Carnaval

Vejam os vídeos dos sambas da Portela e Grande Rio

http://www.youtube.com/watch?v=h0bIqj8370I

http://www.youtube.com/watch?v=draFnRPXW2g

O QUE PENSA A MÍDIA

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1248&portal=