domingo, 4 de março de 2012

OPINIÃO DO DIA – Alberto Goldman : Decadência moral

"É surpreendente a decadência moral, em processo acelerado, que se verifica no governo Dilma Roussef. A indicação do senador Marcelo Crivella, legítimo representante da Igreja Universal, para o Ministério da Pesca, é simbólico dessa afirmativa que faço. Já não há qualquer preocupação sequer com a imagem pública da administração federal, usada e abusada para fins políticos menos nobres.

As guerras internas entre diretores do Banco do Brasil, uma instituição que sempre se preservou apartada dos interesses políticos menores, mostram a podridão que tomou conta do organismo governamental. E isso se repete em todos os cantos do governo Dilma que é um agente ativo desse estado de coisas."

Alberto Goldman, ex-deputado (SP) ,ex-governador e vice presidente nacional do PSDB, no blog, 3/3/2012.

Manchetes de alguns dos principais jornais do Brasil

O GLOBO
MEC só entrega um terço das creches que divulga
Empresas perdem R$ 11 bi com dólar
Quando corromper compensa

FOLHA DE S. PAULO
Serra sobe nove pontos e lidera disputa em SP
Em represália, Brasil pedirá o afastamento de dirigente da Fifa

O ESTADO DE S. PAULO
Governo planeja formalizar relação de trabalho eventual
Vice de Serra depende do tempo de TV do PSD
‘Ficha Limpa é roleta-russa', diz Mendes
Rebelo quer que Fifa afaste Valcke da Copa
BP pagará US$ 7,8 bi a vítimas de vazamento

CORREIO BRAZILIENSE
Mulheres de pedra
Chute na canela
O amor nos tempos do bicho
As negociatas que atravancam a reforma agrária brasileira
Crise no BB piora inferno de Mantega

ESTADO DE MINAS
Quem levou o sino?
Lei pode tirar 20 mineiros das urnas
Esquenta a guerra entre Rebelo e Fifa

ZERO HORA (RS)
Tarso, entre o piso, o plano e as promessas
Um presidente na torcida faz muita diferença

JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Médico foge de planos e penaliza os clientes
O bate-boca Fifa x Brasil
Sem professores

O que pensa a mídia - editoriais dos principais jornais do Brasil

http://www2.pps.org.br/2005/index.asp?opcao=editoriais

Após assumir candidatura, Serra sobe e vai a 30 pontos


Por:Vaguinaldo Marinheiro

SÃO PAULO - O ex-governador José Serra subiu nove pontos percentuais na pesquisa de intenção de votos para a Prefeitura de São Paulo após assumir que quer ser o candidato do PSDB na eleição de outubro.

Levantamento feito pelo Datafolha entre quinta e sexta-feira mostra Serra com 30% dos votos num cenário em que estão os principais postulantes ao cargo.

No fim do mês de janeiro, ele tinha 21%.

Em segundo fica Celso Russomanno (PRB), com 19%. O petista Fernando Haddad obtém apenas 3%.

Serra lidera em todos os cenários em que participa.

No mais enxuto, em que concorreriam apenas ele, Gabriel Chalita (PMDB) e Haddad, alcança 49% do total de votos, o que liquidaria a eleição no primeiro turno, já que esse percentual representa mais que a soma de votos dos demais pré-candidatos.

O Datafolha ouviu 1.087 eleitores. A pesquisa, que tem margem de erro de três pontos percentuais para mais ou para menos, foi feita na semana em que Serra teve muita exposição devido ao anúncio de que queria concorrer.

Isso ajuda a explicar o crescimento de 2% para 12% em sua intenção de voto espontânea (quando não é apresentado ao eleitor o nome de nenhum candidato).

Após meses de silêncio e especulações, Serra afirmou no dia 27 de fevereiro que pretendia participar da prévia tucana para escolher o candidato do partido.

Marcada para hoje, ela foi adiada para o dia 25.

Dois dos quatro pré-candidatos tucanos desistiram. Só José Aníbal e Ricardo Tripoli continuam no páreo. A pesquisa, porém, deve funcionar como novo banho de água fria em suas postulações.

Aníbal obtém 4% das intenções de voto no cenário em que aparece como o candidato tucano. Tripoli alcança 3%.

Serra tem a seu favor o fato de ser muito conhecido (99% dos leitores sabem quem ele é, contra 41% de Haddad, por exemplo), e de sua rejeição ter oscilado negativamente desde a última pesquisa: de 33% para 30%.

No período, cresceu a rejeição de todos os outros.

Mas uma coisa pesa contra o ex-governador, o fato de ter abandonado a prefeitura em 2006, 15 meses após tomar posse, para se candidatar ao governo estadual.

De todos os entrevistados, 76% se lembram do fato; 66% dizem que agiu mal; 70% afirmam que ele não deveria fazer isso novamente; 66% acham que sairá para concorrer à Presidência em 2014.

Na semana passada, o pré-candidato disse que desta vez é diferente, que cumprirá os quatro anos e que seu sonho de ser presidente "está adormecido pelo menos até 2016".

Durante a campanha de 2004, Serra também disse que ficaria os quatro anos e chegou a assinar um papel se comprometendo a cumprir o mandato até o final.
Esse fato certamente será usado pelos oponentes durante a campanha.

Já Haddad tem como pontos negativos o fato de poucos o conhecerem (59% não sabem quem ele é) e de não o identificarem como o candidato do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva --apenas 10% reconhecem isso.

São pontos que os petistas pretendem trabalhar na campanha e na propaganda de TV.

Em março de 2010, Dilma Rousseff também aparecia atrás nas pesquisas na disputa contra o mesmo Serra.

Mas, na época, 86% diziam conhecê-la e 59% sabiam que ela era a escolhida de Lula.



FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Efeito Dilma em 2010 fez PSDB agir na capital

Efeito Dilma em 2010 fez PSDB agir na capital

João Domingos

BRASÍLIA - Escaldado pela demora na escolha do candidato que enfrentaria Dilma Rousseff em 2010, o PSDB aprendeu a lição da campanha presidencial e reagiu rapidamente às movimentações do PT na construção da candidatura do ex-ministro Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo.

Mais que isso: o partido criou as condições para forçar José Serra a decidir-se por disputar a eleição oito meses antes do pleito.

Participaram do cerco a Serra o governador Geraldo Alckmin, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o presidente do PSDB, deputado Sérgio Guerra (PE). Na definição de um integrante da cúpula tucana, foi uma operação de "cerca Lourenço", em que cada um dava declarações de forma a lembrar Serra de que ele era o melhor nome para enfrentar Haddad, lançado ainda no ano passado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

A partir de janeiro, quando ficou claro que Haddad sairia do Ministério da Educação para se dedicar à campanha, Guerra passou a viajar a São Paulo para reuniões com Alckmin.

Às vezes, falava com Serra, sempre lembrando-o de que o PT tinha como principal projeto em 2012 a conquista de São Paulo. Daí, partiria para vencer as eleições nos Estados, de forma a dominar completamente o País em alguns anos. Serra sempre era lembrado que o PSDB havia se transformado no único partido capaz de cortar os planos do PT, visto que outras legendas de oposição - como o DEM e o PPS - são pequenas e as demais estavam nas mãos do governo.

Em janeiro Fernando Henrique aproveitou o fato de ter sido procurado pelo jornal El País, da Espanha, e pela revista The Economist, da Inglaterra, para fazer declarações que mexeram com os brios de Serra. Ao jornal espanhol, Fernando Henrique criticou Lula, dizendo que ele "age mais com o coração do que com a cabeça"; à publicação britânica, disse que o senador Aécio Neves era o candidato natural à Presidência da República em 2014. Após a divulgação das entrevistas, o PSDB "interpretou" as palavras do ex-presidente como o "aumento" da pressão a Serra.

Mesmo assim, de acordo com um dirigente do PSDB, Serra não dava sinais de que aceitaria se candidatar. Os tucanos então mudaram um pouquinho a tática. Eles fizeram chegar a Serra a opinião de que só ele poderia defender o partido, porque era o candidato mais capacitado para vencer o PT.

PSD. Quando, a partir de fevereiro, os petistas começaram a articular a aliança que apoiaria Haddad - tendo avançado sobre o PSD de Gilberto Kassab -, a pressão sobre Serra aumentou. No dia 19 de fevereiro, Guerra disse, em entrevista ao Estado, que a candidatura de Serra - que não existia ainda - representaria a "resistência da democracia ao projeto de hegemonia petista".

O ex-governador Alberto Goldman também participou do esforço para levar Serra a ser candidato à prefeitura de São Paulo. "Fomos ao Serra e mostramos que não havia ninguém melhor do que ele para enfrentar esse combate", disse. Serra cedeu.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

São Paulo: Como a candidatura Serra afeta a política nacional

A reação tucana

Com Serra e Lula em campo, a eleição municipal em São Paulo caminha para definir muito mais do que o prefeito da maior cidade do país

Otávio Cabral

Vencer a eleição para a prefeitura de São Paulo é vital para o projeto do PT, mais precisamente do seu presidente de honra, Luiz Inácio Lula da Silva. Há duas décadas, a política brasileira é marcada por uma briga acirrada entre o PT e o PSDB, com os demais partidos orbitando como satélites em torno do governo de ocasião. Os tucanos ficaram oito anos na Presidência. Os petistas que lhes sucederam já estão em seu terceiro mandato. Nesse período, o PT aparelhou o estado, cooptou partidos aliados, sindicatos, movimentos sociais e desequilibrou o jogo. Agora, para alcançar a hegemonia e reduzir a oposição a pó, almeja conquistar o estado de São Paulo, a principal praça de resistência dos tucanos, e, para isso, a prefeitura de São Paulo é uma escala fundamental. O anúncio da entrada do ex-governador José Serra na briga municipal, porém, jogou areia no projeto petista.

Serra, que pretendia disputar pela terceira vez a Presidência da República em 2014, comunicou na semana passada que o plano está agora "adormecido" e se pôs à disposição do partido para concorrer às eleições municipais. Além de ser o único nome capaz de unir o PSDB na disputa paulistana, ele é também o único a ter chances reais de ganhar uma batalha na qual o PT vem descarregando todos os seus tanques. Lula patrocinou a candidatura do ex-ministro da Educação Fernando Haddad e empenhou-se em fortalecê-la formando um tal balaio de gatos – ou leque de alianças, como se diz em política – que incluiria até um aliado histórico do PSDB, o prefeito Gilberto Kassab, fundador do PSD. No momento em que se aproximou do PT e ameaçou distanciar-se do PSDB, no entanto, Kassab forçou Serra a abandonar a indefinição e assumir sua candidatura à prefeitura.

Agora, com o cenário definido (Serra ainda terá de se submeter às prévias do partido, mas, a esta altura, elas não passam de formalidade), a eleição para a prefeitura de São Paulo ganha contornos de disputa nacional. Isso não significa que Serra e Haddad poderão deixar de lado os sérios problemas nas áreas de saúde, educação e transporte que atormentam a vida dos 11 milhões de paulistanos. Mas serão cobrados também a debater o modelo que seus partidos querem para o país. "A presença de Serra colocou a eleição paulistana na vitrine habitacional. Será o duelo entre o projeto monopolista de Lula e a sobrevivência da oposição como alternativa de poder", analisa o cientista político Rubens Figueiredo. No discurso em que anunciou sua candidatura, Serra declarou que entrou na disputa para deter o avanço do PT como força hegemônica da política nacional. “Estão em jogo duas visões distintas de administração dos bens coletivos, duas visões distintas na de democracia, duas visões distintas de respeito aos valores republicanos”, afirmou. Se Lula nacionalizou a disputa ao utilizar seu prestígio e a força do governo federal para montar o palanque de Haddad, o PSDB promete devolver na mesma moeda. "É uma eleição emblemática por tratar da maior cidade do país e por envolver líderes políticos nacionais. Será uma espécie de ensaio, mas com outros atores, para a eleição presidencial de 2014", afirma o presidente do PSDB, Sergio Guerra.

Se foi a ameaça de Kassab de se aproximar do PT que forçou Serra a abandonar a indefinição, partiu de Alckmin a catada final que o levou a assumir a candidatura. Na véspera do Carnaval, o governador se reuniu com o senador mineiro Aécio Neves e o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso para afinar um discurso de convencimento. Uma semana depois, convidou Serra para um jantar no Palácio dos Bandeirantes, no qual deixou claro que ele era a única opção para derrotar o PT. Para finalizar, prometeu empenhar-se em sua campanha - o que, mais do que uma obviedade, era um compromisso que Serra precisava obter dele, dado que na sua tropa rondava a desconfiança de que Alckmin pudesse fazer "corpo mole" para favorecer o candidato do PMDB, Gabriel Chalita, seu ex-secretário de Educação.

Em contrapartida, a cúpula do PSDB exigiu de Serra o compromisso de que, caso eleito, não deixará o mandato para tentar disputar a Presidência em 2014, como fez em 2006, quando renunciou ao cargo para concorrer a governador. As pesquisas mostram que Serra é bem avaliado como gestor e deixou marcas positivas em suas passagens pelo Ministério da Saúde, prefeitura e governo. Mas a desconfiança de que ele usa o cargo que ocupa como um degrau para subir a um posto mais alto é tida como um dos principais componentes de sua taxa de rejeição, que atinge 33% do eleitorado. Não por acaso, as primeiras entrevistas do tucano foram dedicadas a prometer que ele ficará, sim, os quatro anos na prefeitura. Para ser 100% convincente, faltou apenas fazer aquilo que lhe cobra a cúpula do PSDB: declarar que seu candidato a presidente em 2014 é o ex-governador de Minas Aécio Neves, seu desafeto e o preferido do partido.

Em São Paulo, Serra enfrentará um candidato hoje com 5% de intenção de voto e alto potencial de crescimento. Com seu perfil de jovem professor universitário, Fenando Haddad foi escolhido por Lula para conquistar a classe média refratária ao PT. Além do padrinho bom de voto, o ex-ministro conta com a boa vontade da presidente Dilma Rousseff - que prometia não usar o governo na campanha, mas já usou. Na semana passada, ela nomeou o senador Marcelo Crivella, do PRB, para o Ministério da Pesca, agradando a bancada evangélica, ultimamente descontente com Haddad. Lula e Dilma também vêm tentando conquistar o PSB para o palanque de Haddad e, na semana passada, reunidos em São Paulo, encomendaram uma pesquisa para avaliar se a candidatura de Chalita é boa ou ruim para o petista. Caso concluam pela segunda alternativa, o governo negociará com o PMDB a retirada de Chalita da disputa.

Se para o PT a vitória nas eleições municipais de São Paulo é condição para a conquista da hegemonia do partido, para o PSDB ela representa o primeiro passo para retomar a Presidência em 2014. Nos próximos meses, a capital será a arena de uma guerra entre os dois principais partidos do país. E os melhores exércitos de cada lado já estão em campo.

Pescador de votos

Daniel Pereira

Na semana passada, a presidente Dilma Rousseff trocou o comando do Ministério da Pesca, aquela excrescência administrativa criada pelo ex-presidente Lula para acomodar aliados no primeiro escalão. Demitido do cargo de ministro pela segunda vez só neste governo, o petista Luiz Sérgio foi substituído pelo senador Marcelo Crivella, do PRB. A troca não era tema das conversas, entabuladas desde o ano passado, sobre mudanças na equipe ministerial. Também não teve o objetivo de aumentar a eficiência da máquina pública, como as mexidas até agora realizadas. O próprio Crivella admitiu que não conhece nada do setor pesqueiro e, fazendo piada das próprias credenciais, disse que jamais colocou uma minhoca num anzol. Não faz diferença. O senador foi alçado à Esplanada por uma contingência política. Mais do que isso, por uma necessidade eleitoral, numa demonstração de que - apesar de prometer o contrário - a presidente da República mergulhará de cabeça para ajudar o PT a conquistar espaços na campanha municipal deste ano.

Dilma nomeou Crivella de olho no apoio dos evangélicos. Bispo licenciado da Igreja Universal do Reino de Deus e sobrinho de Edir Macedo, o senador será o principal interlocutor do Palácio do Planalto com esse segmento. No curto prazo, ele pode ser decisivo para que Lula e o PT consigam conquistar a prefeitura de São Paulo. O governo quer que Crivella convença o PRB a desistir da candidatura de Celso Russomano, fechando aliança com o petista Fernando Haddad. Se isso não for possível, o governo quer que o ministro costure, pelo menos, uma política de boa vizinhança entre evangélicos e Haddad. O clima entre as partes azedou depois que o Ministério da Educação, ainda na gestão Haddad, planejou entregar aos alunos das escolas públicas um "kit gay", a fim de combater o preconceito. Em resposta à iniciativa, a Igreja Universal veiculou uma série de reportagens com críticas a Haddad. Dilma chegou a escalar o ministro Gilberto Carvalho para tentar selar um armistício. Como a ofensiva não deu certo, apelou para o Ministério da Pesca, que, enfim, tem uma utilidade reconhecida.

FONTE: REVISTA VEJA

José Serra: De olho em São Paulo e no Brasil

José Serra decide concorrer ao cargo de prefeito paulistano sem abandonar o sonho de se tornar presidente

Mariana Sanches

Conhecido pela falta de pontualidade, José Serra parecia mudado. O ex-governador paulista chegou cinco minutos antes do programado à casa na Zona Sul de São Paulo onde anunciou, na quinta-feira, sua pré-candidatura à prefeitura da capital. Trajava calça bege, blazer azul e um sorriso amarelo. Num espaço decorado por um painel com sua foto e os dizeres "Serra Presidente do Brasil", remanescentes da disputa de 2010, ele passou uma hora explicando por que se lançava ao pleito municipal. "Sou candidato por necessidade e gosto", afirmou. Será a quarta campanha de José Serra para prefeito paulistano. Na única vez que venceu, em 2004, ficou apenas um ano e três meses no cargo.

Uma semana antes do Carnaval, ele evitava o assunto. "Serra escorraçava qualquer um que aventasse essa possibilidade", diz um aliado. "Ele estava totalmente voltado para o projeto nacional, uma nova candidatura a presidente." Embora Serra argumente que tem "prazer em administrar", a necessidade foi o fator definitivo para empurrá-lo à disputa. Sua resistência a oferecer seu nome como candidato levou o PSDB a um processo de prévias. Os quatro postulantes tucanos – Bruno Covas, Andrea Matarazzo, José Aníbal e Ricardo Trípoli – tinham pouca chance de ganhar e se mostraram incapazes de atrair partidos para formar uma coligação capaz de enfrentar o candidato apoiado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o ex-ministro da Educação Fernando Haddad (PT-SP). Além do distanciamento de antigos aliados, como DEM e PPS, os tucanos ficaram alarmados com o namoro com ares de noivado que o prefeito Gilberto Kassab (PSD), afilhado político de Serra, cultivou com Lula e o PT. Lideranças nacionais, estaduais e municipais do PSDB, capitaneadas pelo governador Geraldo Alckmin, empreenderam uma romaria ao escritório de Serra. "Se ele não se lançasse e o partido perdesse a disputa, ele seria responsabilizado pela derrota", diz um tucano graduado.

Diante dos apelos, Serra mergulhou em seus atormentados processos de decisão. Avesso a riscos, levantou números e dados e estudou a capital paulistana. "Uma amiga do Instituto Paula Souza me falou que dobramos o número de escolas técnicas em São Paulo, nas minhas gestões de prefeito e governador", disse Serra durante o anúncio. Seu processo de decisão incluiu uma viagem a Buenos Aires no Carnaval. Na capital argentina, ele tem parentes e, segundo ex-assessores, faz sessões de psicanálise. Em outros momentos, como antes de assumir o Ministério da Saúde ou de lançar-se candidato à Presidência em 2002, o pisciano Serra consultou astrólogos para clarear seu rumo político. "Os políticos recorrem a isso. Serra não é exceção. Quando era deputado federal, ele chegou a viajar para Nova Délhi para consultar-se com um bruxo armênio", diz um ex-assessor.

A pré-candidatura de Serra nacionaliza a disputa. Sua entrada já desfez a cuidadosa articulação de Lula pelo apoio de Kassab. Como queriam setores do PT, inclusive a senadora Marta Suplicy, Haddad assume o papel de oposição. Como situação, Serra terá de defender o controverso legado de Kassab, prefeito há seis anos. Segundo uma recente pesquisa Datafolha, 22% dos paulistanos consideram a gestão Kassab ótima ou boa, enquanto 37% qualificam-na como ruim ou péssima. "São Paulo não tem prefeito", afirma José Aníbal (PSDB-SP). Ele ainda disputa com Serra a indicação para ser o candidato do partido. O clima dos debates que antecedem a prévia tucana (marcada para o próximo dia 25) mostra que, mais uma vez, o PSDB está dividido. Antes de combater os adversários, Serra terá de unir seus aliados.

Superados os problemas internos, restará a ele encarar uma corrida menos favorável do que aquela em que derrotou Marta Suplicy, em 2004. Com uma taxa de rejeição em torno de 30%, Serra terá de convencer a população paulistana de que não abandonará o posto para postular a Presidência em 2014. Desde 1995, Serra não cumpre integralmente os mandatos para os quais é eleito. Em 2006, deixou a prefeitura paulistana para se tornar governador do Estado. "Até 2016 não serei candidato a nada", afirma Serra, às vésperas de completar 70 anos. "O sonho da Presidência está adormecido." Se vencer em São Paulo, ele manterá esse sonho vivo, ainda que dormente. Se perder, será acordado aos sobressaltos.

FONTE: REVISTA ÉPOCA

Influência de Lula pode equilibrar disputa em SP

Apenas 10% dos paulistanos apontam Haddad como o candidato do ex-presidente, hoje o principal cabo eleitoral da cidade

Mauro Paulino, Alessandro Janoni

Mais uma vez vale o eterno mantra das pesquisas eleitorais -os dados divulgados hoje pelo Datafolha compõem uma foto da intenção de voto dos paulistanos neste momento.

Os resultados refletem sobretudo a recente repercussão da pré-candidatura Serra combinada ao desconhecimento sobre a identidade do candidato apadrinhado pelo principal cabo eleitoral da cidade, o ex-presidente Lula.

Com a exposição do anúncio de sua provável candidatura, Serra subiu nove pontos percentuais em cerca de um mês, em cenário comparável com pesquisa anterior.

Nas menções espontâneas de intenção de voto, saltou de 2% para 12%.

Nas respostas espontâneas, aliás, já se nota o desconhecimento que marca por enquanto a candidatura petista.

Além da grande maioria não saber ainda em quem vai votar, o nome do PT mais citado na pergunta aberta, com 7%, é o de Marta Suplicy.

O candidato proposto por Lula e Dilma, Fernando Haddad, alcança por enquanto, nessa situação, apenas 1%.

A exemplo do que aconteceu com Dilma no início da corrida presidencial em 2010, a maior parte dos paulistanos não consegue identificar o candidato de Lula. Apenas 10% citam Haddad.

Mas o apoio do ex-presidente é tão importante assim na capital paulista? A pesquisa revela que dentre os cabos eleitorais -Kassab, Alckmin, Dilma e Lula- o petista é o que tem maior potencial de transferência de votos hoje.

Aplicando-se sobre a taxa de intenção de voto de Haddad (3% no cenário avaliado) a mesma metodologia que o Datafolha usou em 2009 para projetar os votos que Lula poderia transferir para Dilma, o petista poderia alcançar índices próximos a 40%.

Percentual parecido conseguiria Serra, somando-se sua atual intenção de voto com o potencial de transferência do apoio do governador Geraldo Alckmin.

É claro que essas projeções pressupõem a comunicação do apoio em meios de comunicação de massa. Isto só será concretizado a partir das campanhas no horário eleitoral, das séries de entrevistas e dos debates na TV.

Serra, por exemplo, precisa anular a forte reprovação por ter abandonado a prefeitura para candidatar-se ao governo, em 2006, deixando em seu lugar Kassab, atualmente com baixa popularidade. E Haddad carrega a obrigação de atender à expectativa por ser o candidato de Lula.

Aos demais candidatos de recall como Netinho, Russomano e Chalita, fica a esperança de que PT e PSDB falhem na missão de polarizar mais uma vez a disputa.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Serra vê resultado 'interessante'; para PT, eleição está longe

Em primeiro dia de campanha nas ruas, ex-governador de SP é vaiado em visita a centro cultural na zona norte

Chalita, do PMDB, diz que debate está só no começo; partido de Russomanno afirma que candidatura é "viável"

SÃO PAULO - Líder da pesquisa Datafolha em todos os cenários, o ex-governador José Serra (PSDB) considerou o resultado do levantamento "interessante" e disse que passará a discutir temas e propostas para a cidade de São Paulo.

"Eu mesmo ainda não sou candidato, pois haverá uma prévia. Se for escolhido, vou debater com intensidade e entusiasmo os problemas da cidade", disse à Folha.

Serra disputa a prévia tucana contra o secretário estadual José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Tripoli.

Ontem, o ex-governador teve seu primeiro dia de campanha desde que assumiu a pré-candidatura.

Almoçou com líderes da zona norte em restaurante da Freguesia do Ó e, depois, visitou o Centro Cultural da Juventude Ruth Cardoso, na mesma região da cidade.

No local, inaugurado por ele quando prefeito, foi vaiado por um grupo de jovens.

"É normal. Você tem partidários de outros candidatos. O importante é ver isso aqui funcionando. Era um mercado em ruínas e hoje recebe 50 mil jovens. Inclusive esses que estão aí e não sabem que fui eu que fiz", rebateu Serra.

O presidente municipal do PT, Antonio Donato, minimizou a estagnação do candidato do partido à prefeitura, Fernando Haddad.

"A eleição está distante, e os nomes bem colocados já participaram de outras disputas, portanto, têm um grande recall", afirmou.

O candidato do PMDB, Gabriel Chalita, disse, via assessoria, que "os debates estão apenas começando" e que está "muito confiante".

Assediado por PT e PMDB, Marcos Pereira, presidente do PRB, partido de Celso Russomanno, disse que a pesquisa prova que seu candidato é viável. "Não tem por que aderir a quem está lá atrás."

FONTE : FOLHA DE S. PAULO

Vice de Serra depende do tempo de TV do PSD

A indicação do candidato a vice-prefeito de São Paulo em eventual chapa do ex-governador José Serra (PSDB) dependerá da decisão do TSE sobre a participação do PSD no horário eleitoral. Se o partido de Gilberto Kassab ganhar tempo na TV ficará com a vice, um cargo valorizado, apesar das declarações de Serra de que cumprirá integralmente o mandato. Do contrário, cresce a tese da chapa puro-sangue, com a indicação do próprio PSDB

Kassab depende de tempo na TV para emplacar eventual vice de José Serra

Eleição em SP. Se o TSE conceder ao PSD minutos na propaganda eleitoral, a candidatura a vice ficará com o partido do prefeito paulistano em eventual chapa liderada pelo ex-governador; do contrário, ganha força a hipótese de uma dobradinha do PSDB

Julia Duailibi

A escolha do candidato a vice-prefeito de São Paulo em eventual chapa do PSDB liderada pelo ex-governador José Serra dependerá da decisão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) sobre a participação do PSD no Fundo Partidário e no horário eleitoral gratuito.

Se o PSD, partido do prefeito paulistano Gilberto Kassab, ganhar minutos na propaganda eleitoral, a vice ficará com a legenda. Do contrário, cresce a tese da chapa puro-sangue, com a indicação do próprio PSDB.

O candidato a vice-prefeito numa chapa de Serra tem alto valor nas negociações eleitorais, não obstante as declarações dele, públicas e privadas, de que desta vez cumprirá todo o mandato.

A tese da renúncia em 2014 está precificada nas negociações e tem como lastro não só o desejo dele de ser presidente como a história recente: em 2006, renunciou para disputar o governo do Estado. Assumiu o vice, Kassab.

A expectativa dos advogados do PSD é a de que até o começo de abril o TSE julgue a ação em que a sigla pede que sua cota no Fundo Partidário seja calculada de acordo com a sua bancada de 52 deputados (só 47 hoje exercem o mandato; os demais estão licenciados). O critério atual leva em consideração a bancada eleita na última eleição, ou seja, em 2010. Como o PSD foi criado no ano passado, hoje tem direito a uma divisão marginal do bolo. Daí o pedido de revisão da regra.

Até que saia a decisão da Justiça, os tucanos ganham fôlego para as negociações, já que ainda têm pela frente a prévia em 25 de março, em que Serra disputará a indicação contra o secretário estadual José Aníbal (Energia) e o deputado Ricardo Tripoli.

Se vencerem a discussão sobre a distribuição do Fundo Partidário, os advogados do PSD ingressarão nos dias seguintes com a ação "siamesa", a do tempo na propaganda eleitoral, que é a que interessa na negociação da vice. "Se vencermos uma, ganhamos a outra. Elas seguem a mesma lógica", diz Saulo Queiroz, secretário-geral do PSD.

Apesar da disposição de Kassab de apoiar Serra neste ano, é o PT que tem visto com bons olhos o pleito do PSD na Justiça - os planos eleitorais dos dois partidos os aproximam em 2014.

Já o PSDB é contra o novo cálculo que beneficia o aliado de Serra. "PT foi nosso amigo, e o PSDB nosso inimigo, o que afasta a possibilidade de composição em 2014", afirma Queiroz.

Cenários. A vitória no TSE daria a Kassab 4 minutos diários de propaganda e poder de fogo na negociação da vice. O PSD se tornaria a terceira sigla com o maior tempo de TV, atrás apenas do PT e do PMDB. O DEM, hoje o aliado tucano com maior espaço no horário eleitoral (3min20s), perderia quase a metade do tempo.

Neste cenário, seria difícil não dar a vice ao prefeito. Kassab colocou quatro opções, mas a preferida é o secretário municipal de Educação, Alexandre Schneider.

Em caso de derrota no TSE, o PSD seria bombardeado pelos demais partidos da aliança, como o DEM, e veria seu cacife na negociação diminuído. Em encontro recente com Serra, o DEM avisou que, se não perder tempo de TV, vai pleitear a vice.

A chapa puro-sangue passa a ser uma saída para não melindrar nem PSD nem DEM, que se tornaram adversários quando Kassab montou seu partido, levando quadros da antiga sigla.

O secretário de Cultura, Andrea Matarazzo, amigo de Serra que abriu mão da pré-candidatura, é cotado, mas encontra a resistência do grupo de Kassab, já que ele apoiou a candidatura de Alckmin à Prefeitura em 2008. Bruno Covas, secretário estadual de Meio Ambiente, tem a simpatia do governador. Mas pesa contra ele declaração dada ao Estado em 2011 em que disse que ser vice é "querer ser subalterno".

Contra a puro-sangue, há a tese de que os adversários a usariam como indício de que Serra pode largar a Prefeitura mais uma vez. Há ainda quem veja com bons olhos a indicação de uma mulher, como Soninha Francine, pré-candidata do PPS.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Aécio evita antecipar candidatura presidencial

Gerson Camarotti

BRASÍLIA. Apesar de ter se tornado precocemente o principal nome tucano para a disputa presidencial de 2014 com a decisão do ex-governador José Serra de concorrer à prefeitura de São Paulo, o senador Aécio Neves (PSDB-MG) freou a disputa interna entre aliados mineiros pela sucessão do Palácio da Liberdade. Com a impossibilidade do governador Antonio Anastasia (PSDB-MG) de concorrer à reeleição, Aécio avisou ao seu grupo político que não aceitará pressão para antecipar o calendário.

Até então com um calendário mais folgado, Aécio já tem consciência de que passará a ser cobrado pelo PSDB para se posicionar imediatamente para a eleição presidencial de 2014. Para tucanos mineiros, uma coisa é certa: apesar de estar preso no projeto local, Serra ainda joga com o acaso e com uma eventual impossibilidade de Aécio, para retomar no futuro o projeto presidencial adiado neste momento. Por isso, a avaliação interna é que Aécio terá que assumir o papel de presidenciável.

Ao mesmo tempo, Aécio precisará cuidar da sucessão estadual em Minas, já que não haveria um nome natural. Para interlocutores, o senador sinaliza que jogará com sua força política no estado para contar com um candidato de confiança. E com isso, manter a influência direta no Palácio da Liberdade. Mas avisa que terá pressa para a escolha do nome.

- Em Minas, nós temos uma construção política muita sólida e com amplo apoio popular. Isso nos dá tranquilidade para que, na hora certa, possamos escolher o melhor nome que encarne a continuidade dos avanços. Além disso, o fato de o PT ter perdido influência em Minas e Belo Horizonte, tornando-se uma força política secundária, nos dá tranquilidade de escolher o melhor nome, na hora certa - disse ao Aécio Neves ao GLOBO.

FONTE: O GLOBO

Oito nomes são cotados para disputa em MG

A posição do senador tucano, não é por acaso. Segundo aliados, confirmada a candidatura presidencial de Aécio Neves, em 2014, a eleição em Minas será plebiscitária. Nesse caso, mesmo estando fora da disputa, ele teria uma grande influência na eleição local. No cenário de Aécio não ser candidato, avaliam interlocutores, ele teria mais dificuldade na disputa regional, já que tem dito que não deseja voltar a disputar o governo de Minas.

Na semana passada, numa reunião da bancada de Minas, em Brasília, o deputado e ex-ministro Saraiva Felipe (PMDB-MG) resumiu o quadro político. Apesar de ser adversário político de Aécio, ele admitiu internamente que seria difícil qualquer candidatura estadual ficar contra o senador na disputa nacional.

- Quem ficar contra o Aécio, terá que colocar na parede a fotografia de Joaquim Silvério dos Reis. Ou seja, será um traidor - reconheceu Felipe, em referência à Inconfidência Mineira.
Aécio terá que ser habilidoso na escolha dos candidatos. Vários nomes de seu grupo estão na disputa: o vice-governador, Alberto Pinto Coelho (PP); o presidente da Assembleia, Diniz Pinheiro (PSDB); o chefe da Casa Civil, Danilo de Castro; o secretário de Ciência e Tecnologia, Narcio Rodrigues; o deputado e ex-governador Eduardo Azeredo; e o presidente regional do PSDB, deputado Marcus Pestana. Especula-se ainda Andréa Neves, irmã de Aécio; e a secretária de Planejamento, Renata Vilhena.

FONTE: O GLOBO

Movimento social põe fim à trégua e vai às ruas

Após a lua de mel arquitetada por Lula, sindicalistas e MST farão onda de protesto

Roldão Arruda

A capacidade do governo da presidente Dilma Rousseff (PT) para negociar acordos com organizações sindicais e movimentos sociais vai passar pelo seu primeiro grande teste neste semestre. De greves e passeatas a invasões de terras na zona rural e ocupações de edifícios urbanos, por todo o País estão sendo articuladas ações que podem transformar o período pré-eleitoral num inferno para o Planalto.

No dia 15, servidores públicos federais de todo o País devem realizar um dia nacional de luta por melhores salários. Será o rufar de tambores para a greve nacional com a qual pretendem paralisar todas as repartições públicas - do Judiciário, Legislativo e Executivo - no mês de abril.

O Movimento dos Sem Terra (MST) também pretende adentrar abril com surpresas para o governo. As habituais manifestações que seus militantes promovem no período, no chamado abril vermelho, com a invasão de terras, edifícios públicos e postos de pedágio, agora devem contar com reforço de outras organizações do setor agrário. Desde a semana passada, o MST, a Confederação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura (Contag) e a Federação Nacional dos Trabalhadores na Agricultura Familiar (Fetraf) estão articulando a unificação de suas principais manifestações, que normalmente se distribuem entre os meses de abril e maio.

Esse tipo de articulação não ocorria desde a posse do primeiro governo de Luiz Inácio Lula da Silva, no início de 2003. "Já vimos que somos todos contra o modelo de política agrária que está em curso e favoráveis a outro modelo, que reconheça a importância da agricultura familiar e facilite o acesso à terra", disse ao Estado a coordenadora geral da Fetraf, Elisângela Araujo. "Agora vamos tentar unificar as ações para dar maior visibilidade às nossas propostas."

Ainda em abril estão sendo programadas ações de movimentos por moradia. Com marchas de protesto e, sobretudo, ocupações de edifícios e terrenos urbanos, elas devem ser concentradas no Estado de São Paulo.

Repúdio. No dia 17 de maio, em Brasília, o governo de Dilma será um dos principais alvos da 3.ª Marcha Nacional Contra a Homofobia. De acordo com um manifesto preparatório que está sendo distribuído por todo o País, assinado por 257 organizações de gays, lésbicas, bissexuais, travestis e transexuais, o protesto deverá expressar o "repúdio à homofobia institucional que vem dominando o governo federal".

Ainda segundo o texto, o governo "se acovarda perante os ataques do fundamentalismo religioso". A ABGLT, que reúne entidades de todo o País, reclama que Dilma já recebeu duas vezes representantes de setores fundamentalistas evangélicos, mas se recusa a receber o movimento.

O leque político por trás dessas articulações é amplo e, frequentemente, envolve setores do próprio PT - o partido do governo. A greve do funcionalismo federal está sendo articulada por entidades sindicais vinculadas à Central Única dos Trabalhadores (CUT), que é próxima ao PT. Os sem-terra, os sem-teto e os gays têm o apoio de setores petistas e também da oposição, especialmente o PSOL e o PSTU.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Revolta de militares e da base aliada contamina Planalto

Além dos problemas no Banco do Brasil, Dilma terá de atuar para conter focos de insatisfação na caserna e no Congresso

BRASÍLIA - Além da crise originada pela disputa de grupos do PT pelo controle do Banco do Brasil e do fundo de pensão Previ, a presidente Dilma Rousseff tem de administrar, nos próximos dias, problemas por todos os lados.

Alguns deles muito graves, como a insubordinação por parte de oficiais da reserva, que não reconhecem autoridade no ministro Celso Amorim (Defesa).

O problema com os militares da reserva começou com a divulgação de um manifesto pelo Clube Militar com críticas às ministras Maria do Rosário (Direitos Humanos) e Eleonora Menicucci (Proteção à Mulher) por declarações das duas sobre a Lei da Anistia. Dilma determinou a retirada do manifesto dos militares da página do Clube Militar na internet e a punição dos autores do documento. Mas eles não se intimidaram.

O general da reserva Luiz Eduardo Rocha Paiva concedeu entrevista publicada na sexta-feira pelo jornal O Globo na qual sugere que a presidente Dilma Rousseff seja convocada a prestar depoimento à Comissão da Verdade. Segundo ele, porque ela pertenceu ao grupo guerrilheiro VAR-Palmares, que seria o responsável pelo carro-bomba que matou o soldado Mario Kozel Filho. Até 2007 o general ocupou postos importantes no Exército, como a Escola de Comando do Estado-Maior da Força, Dilma sancionou o projeto que criou a Comissão da Verdade no dia 18 de novembro.

Ela terá sete integrantes e trabalhará durante dois anos depois de instalada. Poderá tomar depoimentos e fazer investigações, mas não poderá propor a punição a ninguém. Dilma ainda não conseguiu nomear os integrantes da comissão.

Dilma Rousseff enfrenta também problemas na sua base de apoio no Congresso. O PMDB deverá entregar na segunda-feira ao vice-presidente da República, Michel Temer, e ao presidente da legenda, senador Valdir Raupp (RO), um documento com quase 50 assinaturas de deputados que acusam o PT de tentar destruir o partido. O PMDB do Senado já fez chegar a Dilma Rousseff o recado de que está descontente pelo fato de o governo não fazer as nomeações de integrantes do partido para cargos em estatais. O partido se recusou a votar a recondução de Bernardo Figueiredo para a presidência da Agência Nacional de Transportes Terrestres.

Na votação do Fundo de Previdência do Servidor Público (Funpresp) a infidelidade foi geral. Nem o PT escapou. Dos 76 deputados do partido que estavam na sessão que aprovou o Funpresp, na quarta-feira, 8 votaram contra a criação do fundo. No PDT o governo levou uma goleada de 22 votos a 2 e no PSB, outro aliado, o placar também foi elástico: 17 a 9. / J.D.

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Carvalho assumiu papel que o próprio Lula havia exercido

O apoio que a candidata Dilma Rousseff (PT) recebeu da área sindical no 2.º turno da eleição de 2010 foi inédito: as seis centrais do País defenderam o voto nela. Depois de eleita, porém, a presidente não fez questão de se aproximar pessoalmente dessas organizações, nem dos movimentos sociais. Delegou ao ministro Gilberto Carvalho, da Secretaria-Geral, a tarefa de cuidar dessas relações. Agora, em meio ao nervosismo do período pré-eleitoral e articulações de diferentes movimentos na área urbana e rural, ele está prestes a enfrentar um de seus maiores desafios.

Sindicalistas ouvidos pelo Estado disseram ter saudades do presidente Lula. Segundo o dirigente da Força Sindical, o deputado Paulo Pereira da Silva (PDT), o ex-presidente ouvia diretamente os sindicalistas e atendia mais rapidamente às suas reivindicações.

Até na Central Única dos Trabalhadores (CUT), a maior do País, ligada ao PT, a diferença é sentida. "O Lula foi peão de fábrica e sindicalista e adorava conversar e negociar diretamente com gente de sindicato, de movimentos sociais, feministas, homossexuais, sem-terra, negros", diz Quintino Severo, secretário executivo da central. Na avaliação dele, o governo Dilma ainda deve afiar o diálogo com sindicatos e movimentos sociais.

Na Confederação dos Trabalhadores do Serviço Público Federal, onde se articula uma greve nacional, a queixa é quanto à demora na tomada de decisões. Segundo a entidade, as negociações sobre salários da categoria estão paradas desde janeiro.

Carvalho, que também já foi peão e sindicalista, conta com a assessoria de pessoas que já estiveram do lado de lá do balcão, como José Lopes Feijó, ex-diretor da CUT. O maior problema dele, porém, não é a falta de conhecimento dos temas, mas sim a situação política. "As decisões não dependem dele e tendem a se tornar mais complicadas, por que passam pela coalizão política que sustenta o governo e dependem da correlação de forças", observa Severo, da CUT. Os caso dos sem-terra, que se opõem à bancada ruralista, e dos gays, alvo dos parlamentares evangélicos, são exemplares..

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Entrevista: Freire diz que Dilma não tem liderança para enfrentar rebelião da base

Freire: PT jogou fora suas bandeiras. Só restou a volúpia pelo poder

Por: Diógenes Botelho

Presidente do PPS alerta que aparelhamento do Estado pelo PT já preocupa até os aliados. “A Petrobras agora criou uma nova diretoria para nada, uma diretoria de ‘aspone’ para abrigar o ex-presidente do PT”.

O presidente nacional do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP), é conhecido por não ter meias palavras. Desde 2004, quando o partido rompeu com o governo Lula, ele já avisava que o aparelhamento do Estado brasileiro promovido pelo PT levaria o país a uma situação insustentável e provocaria uma rebelião no meio político nacional. Nesta entrevista ao Portal do PPS, Freire analisa os crescentes escândalos de corrupção no governo de Dilma Rousseff e a insatisfação, considerada por ele tardia, na base governista.

“Esse aparelhamento é algo que começa a ser de impossível convivência, até mesmo para aqueles que admitiam ter migalhas desse aparelhamento, ou seja, essa base aliada que estava se dando por satisfeita com as sobras”, disse Freire.

Na avaliação do presidente do PPS, o manifesto do PMDB contra a gula do PT também é um sinal de alerta. “Esse protesto é um sinal de que a coisa pode estar fugindo do controle. Eu não sei se a presidente Dilma tem liderança para enfrentar e deter esse processo de esgarçamento da própria base de sustentação”, afirmou.

Freire critica ainda os casos de aparelhamento no Banco do Brasil e na Petrobras: “A Petrobras, agora, criou uma nova diretoria (Corporativa e de Serviços) para nada, uma diretoria de ‘aspone’. É apenas para ter um lugar para um ex-presidente do PT (José Dutra), que foi coordenador da campanha da Dilma”.

Na entrevista, Roberto Freire lembra também da rebelião do PSB na votação do Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). “Em política nada acontece sem que seja uma sinalização futura. Pode até não se concretizar, mas o governo começa a sofrer um desgaste”, analisou.

Confira abaixo a íntegra da entrevista:

Portal do PPS - Deputado Roberto Freire, essa gula do PT pelo poder, essa busca incansável por dinheiro público para abastecer esquemas de corrupção e caixas de campanha, vai levar o partido para onde?

Roberto Freire – Eu até não me preocuparia muito se só fosse o partido. O problema é que a legenda está levando junto o Brasil. O perigo é o aparelhamento de toda a estrutura do Estado, o que também não é nenhuma novidade. Só para lembrar, quando da ruptura do PPS com o governo Lula, lá em 2004, um dos elementos importantes desse processo de afastamento foi exatamente a crítica ao aparelhamento do Estado. Eu diria que isso teve mais força do que o próprio processo de corrupção, que ainda era embrionário. O que tinha ocorrido naquela oportunidade era o caso Waldomiro Diniz (que pedia propina na Loterj para abastecer a campanha do PT), que agora foi condenado. Ainda bem que se fez justiça, embora tardia. Mas só havia o escândalo do Waldomiro. O mensalão ainda não tinha explodido. Não era esse o tom da nossa discordância que motivou a ruptura. Era a crítica à política econômica do governo Lula e ao mesmo tempo o aparelhamento do Estado. A novidade é que esse aparelhamento é algo que começa a ser de impossível convivência, até mesmo para aqueles que admitiam ter migalhas desse aparelhamento, ou seja, essa base aliada que estava se dando por satisfeita com as sobras. Migalhas, como o Ministério da Pesca, para quem não sabe sequer botar minhoca em anzol. Este é o caso do pastor de almas (senador Marcelo Crivella), que agora vai ser pescador não sei de quê. Então, eles (os partidos da base) estavam satisfeitos com essas sobras, mas o PMDB começa a gritar. Esse manifesto (do PMDB, que reclama que o partido é jogado para o escanteio pelo PT) é sinal de que a coisa pode estar fora do controle. Eu não sei se a presidente Dilma tem liderança capaz de enfrentar e deter esse processo de esgarçamento de sua base de sustentação.

Portal – Essa voracidade pelo poder foi crescendo ao mesmo tempo em que cresceu a corrupção no governo? Para citar um exemplo prático, hoje se chega ao ponto de, dentro do próprio PT, ter explodido uma briga pelo comando do Banco do Brasil, arranhando a imagem do principal banco oficial.

Freire – E a briga não é só no Banco do Brasil. Você vê isso na Petrobras e em todos os ministérios. Mas quando isso chega ao Banco do Brasil, começamos a ter - e não tenho dúvida que a sociedade vai reagir muito fortemente contra isso - um crime contra um banco que representa a nacionalidade. O Banco do Brasil tem uma força emblemática e, se você tocar nele, talvez seja até mais grave que tocar na Petrobras. E eles (do PT) tocaram. Agora, a Petrobras criou uma nova diretoria (Corporativa e de Serviços) para nada, uma diretoria de “aspone”. É apenas para ter um lugar para um ex-presidente do PT (José Dutra), que foi coordenador da campanha da Dilma. É total desfaçatez, o interesse público não vale coisa nenhuma. O que vale é o interesse do governo. E essa briga no Banco do Brasil está demonstrando isso aí. A briga com a Previ (Fundo de Previdência dos Funcionários do Banco do Brasil) é coisa de facções do PT. Os outros partidos da base estão olhando e percebendo o risco. O PT não vai admitir perder nada, nem Petrobras, nem Banco do Brasil, tampouco ministérios importantes. Importantes não do ponto de vista do interesse público, mas para a corrupção e a safadeza que, infelizmente, grassam no governo Lula/Dilma.

Portal - Isso também se reflete na Câmara dos Deputados, que é comandada pelo deputado Marco Maia, do PT? Nos últimos tempos, surgiram várias reclamações. Acham que ele quer agir sozinho, impondo pauta à Casa, atropelando até os partidos aliados.

Freire – Infelizmente, a Câmara também se transformou num órgão que sofre aparelhamento. Isso fica evidente em quase todos os setores da Casa. O lulo-petismo começa a ter uma predominância na própria administração da Câmara. Mas como essa é uma casa política, parece-me que esse processo não tem muito futuro, não. Mas a postura do PT no plenário começa a ser contestada. É bom lembrar à opinião pública que o governo sofreu uma grande contestação na votação do seu projeto do Fundo de Previdência Complementar do Servidor Público (Funpresp). O PPS, na sua visão de reforma do Estado, apresentou um substitutivo muito mais avançado. E a nossa iniciativa teve orientações de voto favoráveis da parte de partidos da própria base de Dilma. Quando fomos votar o projeto, o governo teve defecções e dissidências de alguns partidos que até então eram muito fiéis ao Palácio do Planalto. O PSB é um deles, partido do governador de Pernambuco Eduardo Campos. Algum sinal? Olha, em política nada acontece sem que seja uma sinalização futura. Pode até não se concretizar, mas o governo começa a sofrer um desgaste. Talvez até por incompetência da Presidente da República, que não tem liderança alguma, e também por conta dessa volúpia com que o PT tenta aparelhar e usurpar tudo o que possa se tornar mecanismo para a corrupção e financiamento de campanha para partidos. Ou seja, o PT quer manter sob seu domínio todo o aparelho do Estado. Isso pode começar a gerar atritos com os aliados.

Portal – Por pressão de grupos religiosos, o PT tem recuado muito de posições que antes defendia, caso, por exemplo, da questão do aborto.

Freire – Incrível é que setores do PT, que defendiam posições bem mais avançadas do ponto de vista de concepção e visão de mundo, agora, estão com essa ideia de ganhar eleição a qualquer custo. Renderam-se ao voto fácil, de fazer concessões. E aí cria problema, como criou aqui (em São Paulo), por exemplo, o candidato a prefeito do “dedaço de Lula”, o Fernando Haddad. Numa postura até correta, ele propôs a discussão da educação sexual na escola. Algo correto, porém, mal conduzido. Os vídeos eram evidentemente malfeitos, mas na origem era uma posição correta. Agora, por pressão religiosa, eles recuaram totalmente. E recuam em tudo. Tem uma ministra (Eleonora Menicucci , da Secretaria Especial de Políticas para as Mulheres) que foi dizer que era a favor da descriminalização do aborto, não sei nem se ela teve essa prudência de dizer que era contra a descriminalização, porque ninguém é a favor do aborto. Podemos ser a favor de que não seja considerado crime, como nós do PPS. Mas a ministra foi com uma força tão grande a favor disso que teve que recuar. E recua todo mundo. O PT já jogou fora todas as suas bandeiras. Não é apenas aquela contra a privatização, a da ética lá atrás. Jogou fora tudo. Quer dizer, não tem mais nada, salvo a volúpia de manter o poder pelo poder.

FONTE: PORTAL DO PPS

Ivete Sangalo e Demônios da Garoa -Trem das onze

Ainda as privatizações :: Fernando Henrique Cardoso

A recente e tardia decisão do governo federal de enfrentar o péssimo estado da infraestrutura aeroportuária deu margem a loas de quem conhece a precariedade de nossos aeroportos e a justificativas envergonhadas por parte de dirigentes petistas, segundo os quais "concessões" não são privatizações, como se ambas não fossem modalidades do mesmo processo.

Passados tantos anos das primeiras privatizações de empresas e concessões de serviços públicos, e dada a sua continuidade em governos controlados por partidos que se opunham ferozmente a elas, a relevância ideológica da discussão é marginal. Só o oportunismo eleitoral pode explicar por que insistem num tolo debate que sustenta ser "patriótico" manter sob controle estatal um serviço público, ao passo que concedê-lo à iniciativa privada, com ou sem a venda da propriedade, é coisa de "entreguista".

Esvaziar o Estado de funções econômicas não passou pela cabeça dos constituintes, nem dos congressistas ou dos governos que regulamentaram ou modificaram a Constituição para adequá-la às transformações da realidade produtiva. Ainda no final dos anos 80 houve privatização de empresas de menor importância que se haviam tornado estatais porque o Estado as tinha salvado da falência, nas chamadas operações-hospital do BNDES.

No começo dos anos 90, já regulamentadas em lei, as privatizações ganharam corpo. Alcançaram, por exemplo, o obsoleto parque siderúrgico do País, que desde então passou por imensa modernização, com apoio do BNDES, não mais na função de socorrer empresas falidas, mas de promover a atualização do setor produtivo. Na segunda metade dos anos 90, quando se tratou de atrair o capital privado para os investimentos que o Estado já não podia fazer na oferta de telecomunicações, energia, petróleo, etc., flexibilizaram-se monopólios estatais e se criaram as agências reguladoras para assegurar a competição nesses setores, evitando o surgimento de monopólios privados. O governo atuou não apenas para aumentar a concorrência nos leilões - e, portanto, o ágio recebido pelo Tesouro -, mas também para apoiar, por meio do BNDES, o investimento privado que se seguiu à desestatização.

No caso do petróleo, depois da quebra do monopólio, em 1997, a Petrobrás transformou-se numa verdadeira empresa moderna, menos sujeita a influências político-fisiológicas, que hoje se insinuam novamente. Diziam que o governo queria privatizá-la, quando, na verdade, estava comprometido a fortalecê-la. Mantida sob o controle da União, mas submetida à competição, tornou-se uma das cinco maiores petrolíferas do mundo. A participação acionária do setor privado na companhia, existente desde o período Vargas, foi ampliada, até com a possibilidade de uso do FGTS para a compra de ações por parte dos trabalhadores. As contas da empresa tornaram-se mais transparentes para o governo e para a sociedade. A quebra do monopólio veio acompanhada de uma política de indução ao investimento local na indústria do petróleo, com a fixação de porcentuais de conteúdo nacional já nas primeiras licitações realizadas pela ANP. Medida adotada, no entanto, com o equilíbrio necessário para evitar aumento nos custos dos equipamentos e atrasos em sua produção, como agora se verifica.

Nas telecomunicações houve uma combinação de privatização e concessão de serviços. No caso da telefonia celular poucos foram os ativos transferidos, pois ela praticamente inexistia no País. Estamos vendendo vento, brincava Sérgio Motta, então ministro das Comunicações, que sonhava com o dia em que celulares seriam vendidos em todo canto. Pena ter morrido antes de ver seu sonho realizado. Hoje existem no Brasil mais celulares do que habitantes. Na desestatização do Grupo Telebrás houve transferência de ativos. A divisão da holding em várias empresas foi classificada de esquartejamento, quando pretendia assegurar a competição no setor. Graças a esse novo ambiente e às regras estabelecidas pelo governo, as empresas privatizadas foram obrigadas a fazer pesados investimentos para acompanhar os avanços tecnológicos e ampliar o acesso às linhas, inclusive à internet, deixando-nos sem saudades do antiquado sistema de telefonia pré-privatização.

Já no caso da Vale do Rio Doce, assim como da Embraer, houve privatização pura e simples, com a ressalva de que, nesta última empresa, o governo manteve uma golden share, com direito a veto; e o BNDES adquiriu e manteve uma posição importante, de cerca de 20%, no controle da mineradora. Para não falar na participação dos fundos de pensão das empresas estatais. Na privatização da Vale, os críticos diziam que o governo estava alienando o subsolo nacional - uma afirmação descabida, já que este era e continuou a ser propriedade da União, conforme manda a Constituição. Falavam também que a empresa terminaria "desnacionalizada", com número menor de empregos - retórica que os fatos posteriores desmentem sem margem à contestação. Ainda se escutam murmúrios do surrado argumento de que a mineradora, que hoje vale muito mais do que o bom preço por ela pago à época, foi vendida por valor vil (não foi o que se viu no leilão, vencido por um grupo nacional que ousou no preço bem mais do que o considerado razoável pelos demais concorrentes). Ora, se hoje a Vale tem valor em bolsa da ordem de US$ 100 bilhões, é porque, liberta das amarras estatais, pôde chegar aonde chegou.

Os que criticam as privatizações são os mesmos que se gabam dessas empresas e de sermos hoje a quinta economia do mundo. Esquecem-se de que isso se deve em muito ao que sempre criticaram: além das privatizações, o Plano Real, o Proer, a Lei de Responsabilidade Fiscal, enfim, a modernização do Estado e da economia. Mas atenção: não basta fazer concessões e privatizar. É preciso fazê-las com critérios predefinidos, elaborar editais claros, exigir que se cumpram as cláusulas das licitações e evitar que as agências reguladoras se transformem em balcões partidários.

Esperemos para julgar o que ocorrerá com os aeroportos.

Sociólogo, foi presidente da República

FONTE: O GLOBO

Moqueca à Crivella :: Alberto Dines

Histórias de pescador são geralmente fantasiosas, mas ao afirmar que sequer sabe enganchar a minhoca no anzol o novo ministro da Pesca, senador Marcelo Crivela (PRB-RJ), não apenas fez uma rara opção pela verdade como escancarou a enganação embutida na criação e manutenção deste Monumento ao Desperdício chamado Secretaria Especial da Pesca.

O herdeiro da Igreja Universal do Reino de Deus, líder da bancada evangélica do Legislativo, completou seu breve convívio com a transparência ao negar que a nova carreira piscatória tenha algo a ver com o esforço do governo federal em reforçar a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo. Com isso só confirmou o real objetivo da manobra. No que foi ajudado pelo devoto ministro Gilberto de Carvalho ao declarar que a nomeação do Pescador-Mor “vai facilitar a relação com as igrejas.”

Esta pueril e herética moqueca à Crivella tem o mérito de trazer para a agenda nacional a escamoteada questão do secularismo. O Brasil está retornando rapidamente ao estágio teocrático que vigeu sem interrupções do descobrimento ate a votação da primeira Carta Magna republicana em 1891.

Embora seja pacífico que o nosso atraso em matéria de educação, ciência, cultura e imprensa decorra da prolongada sujeição do Estado à Igreja nada se fez para reverter tão grave deficiência institucional. O Estado de Direito no Brasil é capenga, todos sabem disso. Ninguém tenta reabilitá-lo, tanto na esfera simbólica como administrativa.

Antes do velocíssimo crescimento das seitas evangélicas no Brasil quem ousava contrapor-se à hegemonia da Igreja eram as diferentes confissões luteranas. O general-ditador Ernesto Geisel, único chefe de Estado ostensivamente anticatólico, em 1976, numa das freadas da sua Distensão, aproveitou-se do arsenal autoritário para emplacar de forma solerte o divórcio, o que abalou a Igreja, enfraqueceu sua formidável cruzada em defesa dos direitos humanos e deu à ditadura um amplo apoio popular.

De lá para cá, ditadores e presidentes enfrentaram o poderoso vetor teocrático com a mesma esperteza: contentando de forma equitativa a católicos e protestantes, facilitando seus imensos privilégios, concedendo-lhes o ilegítimo acesso aos meios de comunicação eletrônicos e sepultando nas gavetas qualquer debate que possa nos aproximar do Estado de Direito democrático, secular e isonômico.

Mesmo o Poder Judiciário – teoricamente comprometido com suas prerrogativas e independência – convive no plenário da Suprema Corte com a discrepante exibição da cruz acima das armas da República. Na Espanha, muito mais católica, isto seria um acinte, aqui não chama a atenção dos eleitores, políticos, nem confronta os meritíssimos.

Esta incapacidade de defender o secularismo e a ideia do estado laico manifesta-se com igual intensidade nas hostes do governo e da oposição. PT e PSDB, geneticamente de esquerda, deram um jeito de driblar os respectivos DNAs e não resistem à tentação de comungar e persignar-se em atos oficiais mesmo sabidamente ateus, agnósticos ou céticos. Os confessores de hoje não se importam com ave-marias erradas e padre-nossos incompletos, diferentemente do que acontecia nos tempos da Inquisição.

O vale-tudo infiltrou-se no terreno da fé. Crivella, suas minhocas e peixes é o símbolo de um sincretismo que parece coisa do Diabo.

Alberto Dines é jornalista

FONTE: JORNAL DO COMMERCIO (PE)

Trair e coçar... :: Eliane Catanhêde

Uma base aliada gigantesca como a de Dilma é uma faca de dois gumes. No início, os governantes adoram. Depois, lamentam.

Conveniente no Congresso, uma base tão inflada e heterogênea vira um problema na hora de fatiar os cargos de governo e um drama em ano eleitoral. É quando a chantagem corre solta, como agora.

PMDB, PDT, PSB, PTB, PR, os aliados se dizem insatisfeitos com o governo e irritados com o PT e ameaçam: Olha que vamos apoiar o Serra! As colunas de Oscar Niemeyer no Palácio do Planalto tremem.

Se vão trair mesmo ou não é outra história, mas o fato é que a candidatura de José Serra pelo PSDB sacode não só a campanha do petista Fernando Haddad, que ia tão bem, como desestabiliza a aliança em torno de Dilma. Uma penca de partidos estava pronta a apoiar Haddad, mas recuou e hoje negocia a céu aberto com os dois lados, pressionando o governo por cargos e favores.

A nomeação do bispo da Universal Marcelo Crivella (PRB) para o Ministério da Pesca reflete isso, tanto quanto o choro de Dilma na cerimônia de posse. É improvável que o motivo tenha sido Luiz Sérgio, demitido duas vezes do mesmo governo, na segunda por telefone, e muito plausível que seja pela enorme pressão a que ela está submetida.

Não é fácil resistir, até porque Dilma se aconselha com Lula e a prioridade dele é derrotar os tucanos em São Paulo. Se depender de Lula, Dilma cede e pronto. Mas isso contraria a natureza da presidente, mais técnica do que política.

Enquanto quem criava caso eram os partidos médios, dava para enrolar, mas o problema passou a ser com o gigante PMDB, que tem o vice Michel Temer e foi aliado de FHC. Dos seus 76 deputados, 45 assinaram manifesto contra a sanha hegemônica petista. O alvo ostensivo foi o PT, o real é o governo Dilma.

Os aliados adoram ser governo, mas estão se coçando para trair.

FONTE: FOLHA DE S. PAULO

Dores do sistema:: Dora Kramer

O ministro Carlos Ayres Britto tomou na semana passada uma decisão aparentemente secundária, mas representativa de um debate que voltará à cena principal tão logo o Tribunal Superior Eleitoral dê início ao exame das ações do PSD reivindicando tempo de televisão e parcela do fundo partidário proporcionais à bancada de 47 deputados na Câmara.

Em caráter liminar, o ministro do Supremo Tribunal Federal decidiu que o partido do prefeito Gilberto Kassab não tem direito a participar das comissões permanentes da Casa porque "não passou pelo teste das urnas".

Corroborou a posição do presidente da Câmara, Marco Maia, que havia negado o acesso às comissões sob o argumento de que o cálculo de distribuição deve ser feito conforme o tamanho das bancadas saídas das urnas.

Problema interno na Câmara? Mais ou menos. O mesmo critério é adotado nas legislações que regem a divisão do fundo partidário e a partilha do tempo de televisão. Tanto a Lei 9.096 quanto a 9.054 são claras: estabelecem que a regra da proporcionalidade aplica-se conforme os votos obtidos na última eleição.

Ora, se o PSD não elegeu nenhum dos deputados que hoje integram sua bancada na Câmara, teoricamente o partido de Kassab teria entrado numa batalha perdida.

Problema de Kassab e do PSD? Mais ou menos. A depender das decisões que os colegiados do Supremo e do TSE venham a tomar sobre essas questões, pode vir a ser um problema para um sistema eleitoral sabidamente deformado.

Ayres Britto indicou numa direção: a da interpretação absolutamente literal da lei. Mas há divergências quanto à maneira de se abordar essas questões que poderão levar a um debate sobre legalidade e legitimidade na representação dos partidos.

O ministro Marco Aurélio Mello, por exemplo, também integrante do STF e do Tribunal Eleitoral, acha que será preciso levar em conta a realidade.

Segundo ele, quando a Justiça resolveu abrir uma brecha na regra da fidelidade partidária admitindo trocas de partido em caso de criação de nova legenda e também quando aprovou o registro definitivo do PSD – duas decisões das quais o ministro discordou e por isso diz estar "a cavaleiro" para opinar – aceitou o conceito da relatividade na aplicação das normas.

"Como ignorar a existência de um partido com 47 deputados e puni-lo até a próxima eleição? A regra beneficia o desempenho eleitoral, mas os fatos mudaram a realidade e, portanto, é preciso levar em conta o relevo maior da representação existente", argumenta.

Na ação sobre o acesso às comissões ainda a ser votada no plenário do Supremo, há chance de o PSD ganhar, uma vez que a Constituição remete a questão ao regimento interno da Câmara e este fala em "sessão legislativa" e não em "legislatura" para efeito de distribuição de postos.

A diferença? Legislatura ocorre a cada quatro anos, diz respeito ao mandato todo, e sessão legislativa é aberta duas vezes ao ano (no início de fevereiro e em agosto, depois do recesso). Como o PSD conseguiu registro no ano passado, na sessão em curso estaria apto a integrar comissões.

Quanto ao tempo de televisão e o dinheiro do fundo partidário (hoje tem direito a R$ 125 mil ao ano, se ganhar na Justiça passa a receber R$ 19 milhões), a teoria joga contra o PSD, uma vez que os termos da legislação são categóricos: a repartição dar-se-á na proporção dos votos obtidos na última eleição.

E na última eleição o PSD não existia. Os deputados que passaram a integrá-lo conquistaram votos que, como decidiu anteriormente a Justiça, transformados em mandatos, pertencem aos partidos.

Isso em tese, na letra fria, pois, é como diz o ministro Marco Aurélio: ignorar a realidade quem há de?

A despeito da tendência de afastar da literalidade, o ministro reconhece: uma decisão maleável enfraquece as tentativas da Justiça de estabelecer balizas mais firmes aos meios e modos eleitorais.

Mas aí, pondera que o problema não é do juiz, mas do sistema. "Não fecha, é casuístico e privilegia a forma em detrimento do conteúdo".

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO

Plano estratégico:: Merval Pereira

Preocupado com os rumos que pode tomar no Congresso a discussão da Estratégia Nacional de Defesa (END), o professor Eduardo Brick, da Universidade Federal Fluminense, criou, a partir de pesquisas do Instituto de Estudos Estratégicos (Inest), um projeto de agenda nacional voltada para reorganizar, fortalecer e sustentar a Base Logística de Defesa Nacional, de modo que ela possa atender ao que está previsto, com cinco pontos principais.

O problema principal a ser enfrentado, diz Brick, é a alocação de um orçamento condizente com o tamanho dos desafios e com os objetivos já definidos.

Com o orçamento atual da defesa, de cerca de 1,6 % do PIB, ele diz que não será possível ter os instrumentos de defesa implícita e explicitamente definidos na END.

Adicionalmente, a aquisição de complexos sistemas de defesa envolve processos de longo prazo, impossíveis de serem gerenciados sem que haja uma garantia de recursos durante esse período.

O segundo aspecto, portanto, alerta Eduardo Brick, é a definição de um orçamento para defesa de longo prazo, de modo que também se possa planejar em longo prazo.

Esse orçamento deveria contemplar as necessidades de aparelhamento de meios e seus custos de operação e manutenção, capacitação industrial e inovação em produtos de defesa e em seus insumos e processos produtivos.

A demanda governamental é que garante a sustentação da indústria. Portanto, os planos de aparelhamento, com orçamentos garantidos, são peça fundamental.

Mas eles não podem estar dissociados da necessidade de capacitação produtiva nem de planos para incentivar e financiar a inovação.

Assim, o segundo ponto da agenda seria preparar um programa integrado de reaparelhamento, capacitação industrial e inovação para defesa.

O planejamento do Ministério da Defesa da Austrália (Defense Capability Plan) é uma boa fonte de inspiração para o plano brasileiro, segundo Eduardo Brick.

Define um orçamento de longo prazo, os sistemas e produtos de defesa que devem ser produzidos, em que quantidades e datas de entrega, e, adicionalmente, quais capacitações industriais são essenciais.

Para planejar, é fundamental possuir informações adequadas e de boa qualidade. Existe uma grande escassez de informações sobre a Base Logística de Defesa.

Os sistemas nacionais de codificação para levantamento de dados estatísticos sobre a economia não identificam as empresas que desenvolvem produtos para a Defesa, com pouquíssimas exceções. Esta situação é uma das consequências da desatenção com que sempre foi tratado esse setor.

É preciso então criar instrumentos para exercer a função de inteligência tecnológica para Defesa e o acompanhamento continuado da situação da BLD. O próximo passo seria a criação de um programa de mobilização, reestruturação e fortalecimento da Base Logística de Defesa Nacional.

A Estratégia Nacional de Defesa define que o setor estatal da indústria de defesa deverá se responsabilizar por produtos no teto da tecnologia. Faz-se, portanto, necessária uma definição mais clara das atribuições dos setores público e privado da BLD.

Da mesma forma, ressalta Brick, existe uma grande deficiência no setor produtivo de defesa brasileiro, com relação a muitos insumos críticos e estratégicos, que normalmente são cerceados pelos países que os produzem, insumos que também são os grandes responsáveis pelo nosso déficit tecnológico.

Na sua fase inicial de criação, a BLD brasileira quase certamente não terá condições de demanda para justificar economicamente a produção desses bens. O Estado, portanto, deveria assumir essa responsabilidade, diz Brick.

A capacitação industrial e de CT&I para defesa envolve uma série de medidas em vários campos, com destaque para a formação e qualificação de recursos humanos, a modernização de laboratórios e instalações produtivas e para inovação, a integração da indústria com os institutos de ciência e tecnologia (ICT) e universidades, e a disponibilização de serviços técnicos tais como certificação, proteção intelectual, metrologia e normatização.

O quinto ponto da agenda envolve programas mobilizadores. Esses programas são, normalmente, compostos por um conjunto articulado de projetos de pesquisa básica, pesquisa aplicada, desenvolvimento experimental, engenharia e comercialização pioneira, conduzido com a participação de empresas, órgãos governamentais, universidades, centros e institutos de pesquisa e outros atores da área científica e tecnológica.

O programa americano para colocar um homem na Lua e o programa brasileiro para dominar o ciclo completo de processamento de urânio são bons exemplos.

Eles são fundamentais quando a inovação interessa a vários setores, e muitos atores devem participar do esforço para obtê-la.

Nestas condições, é importante a existência de um único responsável pelo programa, com os atributos abaixo descritos. Este comando único garante foco e evita dispersão de esforços.

Esta característica é particularmente importante no caso do Brasil, explica Eduardo Brick, onde existem pelo menos três ministérios com responsabilidades em relação à BLD.

Programas mobilizadores devem ser capazes de arregimentar e aglutinar, de uma forma desburocratizada, o potencial nacional necessário ao desenvolvimento de novos e sofisticados produtos, tecnologias e capacitações industriais para defesa, segurança e competitividade industrial.

Para um país que adia há quatro governos o reaparelhamento das Forças Armadas, especialmente a compra de caças para a Aeronáutica, tudo isso parece um desafio quase impossível de superar.

FONTE: O GLOBO

A disputa no BB e o Funpresp :: Suely Caldas

Na mesma semana em que a Câmara dos Deputados aprovou o Fundo de Previdência Complementar dos Servidores Públicos Federais (Funpresp), esquentou a pesada disputa por cargos de direção no Banco do Brasil (BB) e no seu fundo de pensão, a Previ. Oportuna, a coincidência dos dois eventos é uma espécie de trailer do que pode vir a acontecer na gestão dos três fundos de Previdência - do Judiciário, do Executivo e do Legislativo -, caso o Senado deixe frouxas as políticas de investimento e o modelo de gestão do patrimônio financeiro. Os futuros servidores precisam ficar todo o tempo de olhos bem abertos e fiscalizar com lupa a gestão do seu patrimônio, se não quiserem ver seus benefícios encolherem na hora de requerer sua aposentadoria.

No tiroteio entre o presidente do BB, Aldemir Bendine, e o presidente da Previ, Ricardo Flores, ambos lutam por mais poder nas duas instituições públicas e bilionárias. Temendo consequências graves e lesivas para os acionistas do BB e para os cotistas da Previ, a presidente Dilma interveio para tentar acabar com a guerra, até agora sem sucesso. É o que ocorre quando uma instituição pública, que precisa ter gestão técnica e profissional, é partidarizada e sofre interferências políticas em suas ações e decisões. E é o que tem ocorrido amiúde desde 2003, quando o PT assumiu o governo e passou a distribuir cargos para companheiros e partidos aliados.

No caso do Funpresp, disputas políticas podem ser ainda mais lesivas para os funcionários, porque os três fundos - do Executivo, do Legislativo e do Judiciário - têm tudo para acumular, no futuro, um patrimônio financeiro ainda mais bilionário do que tem a Previ hoje. Na verdade, ao contrário dos atuais servidores, os futuros cotistas do Funpresp não podem ignorar a qualidade da gestão dos recursos dos fundos. Se não fiscalizarem, não zelarem pelo patrimônio, não denunciarem fraudes, não se protegerem contra interferências políticas, eventuais prejuízos, déficits ou rombos decorrentes de má gestão serão debitados do valor de sua aposentadoria no futuro.

Como no caso da guerra BB-Previ, o que esperar se ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) divergirem na escolha dos dirigentes do fundo? Ou se houver a mesma disputa entre os presidentes do Senado e da Câmara dos Deputados? Ou se um político poderoso pressionar para socorrer um empresário falido, mas amigo, em aplicações financeiras? Ou, ainda, se quiser favorecer doadores de campanha usando dinheiro e negócios do fundo? A lista de possibilidades é longa e o espírito público dos políticos é curto. A solução, pois, seria adotar o modelo original das agências reguladoras, garantindo profissionalização e autonomia na gestão, e fortalecer os fundos com regras e critérios de aplicação dos recursos capazes de blindá-los contra interferências políticas.

Essa proteção não foi assegurada no projeto que saiu da Câmara e que define três modelos de gestão: o patrimônio é administrado por instituições financeiras especializadas; ou por fundos de investimento; ou, como nas estatais, por um conselho de administração e uma diretoria executiva cujos integrantes são indicados pela empresa ou eleitos pelos funcionários - em geral dirigentes sindicais ligados a partidos e sem preparo técnico para fazer render dinheiro. Como o novo ministro da Pesca, o evangélico Marcelo Crivella, que confessa: "Nem sei colocar minhoca no anzol".

Ex-sindicalista e relator do projeto na Câmara, o deputado Ricardo Berzoini (PT-SP) defende o terceiro modelo com o argumento de que ele já é aplicado com sucesso nos fundos de estatais. Sucesso? Como acionista controlador, o governo sempre interferiu nos negócios dos fundos de estatais. Poucos bem-sucedidos, como a compra da Vale; outros, desastrosos, como os investimentos da Previ na Paranapanema e no complexo turístico de Sauípe, que resultaram em prejuízos milionários. Em 2006 a CPI dos Correios apurou perdas de R$ 730 milhões em fundos de estatais decorrentes de operações fraudulentas para favorecer partidos políticos. É isso que o Congresso quer para o Funpresp?

Jornalista, professora da PUC-Rio

FONTE: O ESTADO DE S. PAULO