quinta-feira, 31 de março de 2022

Lauro Jardim: Doria anuncia hoje que vai abandonar sua candidatura a presidente

João Doria decidiu abandonar a sua pré-candidatura à presidência da República pelo PSDB e vai continuar no governo de São Paulo até o dia 31 de dezembro.

Pelo menos foi essa a decisão comunicada hoje cedo aos seus auxiliares mais próximos e será anunciada pelo próprio Doria numa entrevista coletiva que dará no Palácio dos Bandeirantes, às 16h. 

A saída de Doria do páreo é uma consequência da falta de apoio que sua pré-candidatura vinha sofrendo desde o início do ano dentro do PSDB. Os resultados das pesquisas de intenção de votos também não ajudavam em nada: nelas, Doria aparecia com 2%, em média.

Todo esse contexto ajudou a que sua candidatura não saisse do ponto morto.

Nas últimas semanas, o movimento anti-Doria no PSDB ficou mais forte. Essa turma se alinhou a Eduardo Leite, derrotado nas prévias de novembro, para virar a mesa e fazer do governador gaúcho o candidato do partido a presidência.

Doria sentiu o golpe. Nos últimos dias, ele tem afirmado que está sendo traído pelo partido.

Merval Pereira: ‘Amémsalão’

O Globo

Tudo está conectado. Não é por acaso que, no mesmo dia em que o deputado federal bolsonarista Daniel Silveira resiste a uma ordem judicial para colocar tornozeleira eletrônica, o presidente Bolsonaro tenha voltado, do nada, a criticar a urna eletrônica. Ambas as situações têm como alvo um único ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Alexandre de Moraes, que presidirá o Tribunal Superior Eleitoral (TSE) durante as eleições e determinou novas punições ao parlamentar.

Os ataques a outro ministro, Luís Roberto Barroso, reduziram-se na medida em que ele deixou a presidência do TSE. Pesquisadores que monitoram as redes sociais bolsonaristas constataram uma evidência inescapável: os verdadeiros adversários de Bolsonaro são as instituições STF, TSE e seus ministros, e não Lula ou Moro. Eles são mais buscados e citados nas redes sociais ligadas ao bolsonarismo que os adversários políticos.

Malu Gaspar: A Petrobras, o povo e a mentira

O Globo

Toda vez que algo arranha a imagem de um governante, um partido ou um político, a primeira explicação é que o problema está na comunicação. Não falha, basta o sujeito se ver em maus lençóis. De diferentes maneiras, é assim que os dois principais candidatos à Presidência da República, Lula e Jair Bolsonaro, têm justificado suas contradições a respeito da questão mais importante para o jogo eleitoral no momento: a Petrobras e a alta dos combustíveis. 

Foi assim que Bolsonaro explicou, nas conversas secretas com o economista Adriano Pires, por que precisava trocar o presidente da Petrobras. Segundo ele, era preciso alguém que soubesse se comunicar com a sociedade e com a imprensa. Não é que ele quisesse interferir no preço dos combustíveis, o problema é que a Petrobras “comunica mal”.

E Pires, embora não tenha nenhuma experiência como executivo, nem sequer como conselheiro de empresas, sempre esteve disponível aos jornalistas, dando entrevistas em linguagem acessível sobre petróleo, gás e energia. Ou seja: na visão do presidente, comunica bem.

É curioso que o presidente da República fale em “comunicar mal”. Foi ele mesmo quem reclamou que a Petrobras não tinha “qualquer sensibilidade com a população”. Contou, ainda, que o Congresso havia feito um pedido à Petrobras para atrasar em um dia o anúncio do reajuste do diesel.

Míriam Leitão: Uma nota mentirosa e assinada também pelos três comandantes de tropas

O Globo

nota comemorando a ditadura militar de 64, divulgada ontem à noite pelo Ministério da Defesa, é a pior já divulgada neste governo. Ser assinada pelo general de pijama Walter Braga Netto, que está saindo do cargo para ser candidato a vice na chapa de Jair Bolsonaro, era de se esperar. Mas o grave é ter as assinaturas do general, do almirante e do brigadeiro que comandam as tropas. Nesse ponto é uma ameaça ao país. Não se pode esquecer o contexto. Bolsonaro é um defensor de ditaduras, sente “embrulho no estômago” como disse outro dia, de respeitar a Constituição, e passou três anos e três meses no poder vomitando ameaças golpistas. Bolsonaro está disputando a reeleição, em situação desfavorável nas pesquisas, e ontem mesmo voltou a fazer ameaças. Esse contexto piora muito a nota.

Luiz Carlos Azedo: Atitude de Silveira foi uma provocação ao Supremo

Correio Braziliense

O deputado sinalizou uma linha de recrudescimento dos ataques e desafios ao STF por parte dos grupos bolsonaristas radicais. Aposta num ambiente de confrontação entre os Poderes

Ao se recusar a usar tornozeleira eletrônica, desafiando o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), e buscar refúgio nas dependências da Câmara, exigindo solidariedade do presidente da Casa, Arthur Lira (PP-AL), o deputado Daniel Silveira (União Brasil-RJ) escalou uma provocação política, cujo objetivo era criar um ambiente de radicalização contra a Corte, com propósitos eleitorais e um viés golpista. Silveira somente recuou diante da multa de R$ 15 mil para cada dia sem tornozeleira, que lhe foi aplicada por Moraes em consequência da rebeldia.

Pressionado, Lira fora condescendente com Silveira: distribuiu nota na qual afirmava que o plenário da Câmara é inviolável e defendeu que o plenário do Supremo analise o pedido de revogação da decisão de Moraes feito pela defesa de Silveira. Réu no STF por estimular atos antidemocráticos e ameaçar as instituições, o parlamentar fluminense passou a madrugada de terça para quarta-feira em seu gabinete, depois de anunciar que não colocaria a tornozeleira; diante da decisão de Moraes e da nota do presidente da Câmara, se refugiou no plenário. O julgamento da ação penal contra Silveira está marcado para 20 de abril.

Aliado dos bolsonaristas da Câmara, que tiveram um papel importante na sua eleição, Lira assumiu uma posição ambígua em relação a Silveira: “Decisões judiciais devem ser cumpridas, assim como a inviolabilidade da Casa do Povo deve ser preservada. Sagrada durante as sessões, ela tem, também, dimensão simbólica na ordem democrática”, argumentou. Moraes atendeu a um pedido da Procuradoria-Geral da República (PGR), que solicitou a aplicação de medidas restritivas ao deputado.

Cristiano Romero: PT-PSDB: no meio do caminho tinha um Dirceu

Valor Econômico

Em 2004, transição deu a Lula e FHC prêmio nos EUA

No início do segundo ano do primeiro mandato de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) na Presidência da República, estourou o primeiro caso ruidoso de corrupção do governo petista. O escândalo envolvia assessor direto do então poderoso ministro José Dirceu.

Ainda que se soubesse da ocorrência de malfeitorias em gestões do partido em prefeituras, o episódio surpreendeu petistas, simpatizantes e oposicionistas. A ética, como ocorre com frequência em eleições no Brasil, foi a principal bandeira das campanhas do PT nos pleitos de 1989 a 2002.

O desgaste foi debitado inteiramente na conta de Zé Dirceu, que, além de exercer o papel tradicional do chefe da Casa Civil (coordenação de todos os ministérios, análise prévia dos principais atos de governo, formatação de projetos de lei, medidas -provisórias etc.), era o responsável pela articulação política. Por essa razão, o ministro era o principal alvo da oposição para enfraquecer Lula.

Até então (fevereiro de 2004), o petista vinha governando com amplo no Congresso Nacional - no ano anterior, a emenda constitucional que instituiu a contribuição previdenciária de funcionários públicos aposentados e estabeleceu que, a partir da regulamentação daquela emenda, os novos servidores teriam que se aposentar pelo INSS, como os trabalhadores do setor privado (a regulamentação só foi feita na gestão Dilma Rousseff).

Maria Cristina Fernandes: Carteira de clientes

Valor Econômico

Pires deve informar empresas para as quais prestou serviço

Corria o governo Michel Temer e a gestão Eduardo Cunha na Câmara dos Deputados quando um currículo chegou à Diretoria de Governança e Conformidade da Petrobras. Vinha diretamente do Palácio do Planalto. Era de um advogado, cuja carteira de clientes percorria a linha sucessória da Presidência da República de cima a baixo.

Derrotada a turma do deixa-disso, a Petrobras resolveu encarar. Um emissário bateu à porta da subsecretaria de Assuntos Jurídicos da Presidência para tratar do assunto. No primeiro “veja bem” o burocrata deu pra trás. O presidente, disse, já tinha desistido de indicá-lo.

Se os procedimentos de governança, como o general Joaquim Silva e Luna garantiu em palestra do Superior Tribunal Militar, estiverem mantidos, Adriano Pires terá que passar pelo mesmo escrutínio.

Para se descobrir as causas defendidas por um advogado, porém, há meios relativamente transparentes, como a busca eletrônica nos tribunais. Para fazer o mesmo com um consultor como Pires é preciso que ele forneça as informações.

João Doria*: Obrigado, São Paulo

Folha de S. Paulo

Bons gestores também devem ter a capacidade de agir diante do improvável

Atendo nesta quinta-feira (31) à convocação do meu partido, consagrada pelo voto de todos os filiados, para que o PSDB lidere um projeto de paz social e desenvolvimento sustentável capaz de oferecer emprego e oportunidades a todos os brasileiros. Cumpro o preceito legal, que determina a desincompatibilização do governo de São Paulo, para iniciar nossa caminhada rumo à Presidência da República.

Nesses 39 meses de gestão enfrentamos os mais complexos, raros e agudos desafios da vida pública. O compromisso democrático das instituições, a necessidade de fazer o que é certo —e não o mais fácil—, a colaboração num mundo global e a resiliência do nosso povo foram testados como poucas vezes na história.

Bruno Boghossian: Inflação à flor da pele

Folha de S. Paulo

Eleitor reage com rapidez a inflação e lança responsabilidade sobre o presidente

Os candidatos a presidente encontrarão na campanha um eleitor sensível aos sobressaltos da economia. Depois de terem flertado com um certo otimismo no fim do ano passado, os brasileiros voltaram a enxergar tempos difíceis com o novo choque da inflação.

Em dezembro, o Datafolha havia registrado uma melhora das expectativas econômicas da população. Naquela época, o índice de entrevistados que diziam esperar uma subida de preços passou de 69% para 46%. Os primeiros meses de 2022, com a disparada dos combustíveis e a resistência da inflação dos alimentos, viram uma reversão desse alívio.

Ruy Castro: Dicionário Brasileiro da Corrupção

Folha de S. Paulo

Um livro a ser feito com urgência -fica a sugestão

Uma ideia jogada ao acaso nesta coluna na quinta última (24) foi recebida com entusiasmo por alguns leitores: a de um Dicionário Brasileiro da Corrupção. Nunca foi feito, e não por falta de material. Mesmo ignorando a Colônia e o Império, que tinham costumes próprios, o que se poderá levantar de sujeira a partir da República, em 1889, encherá volumes. Afinal, é uma das grandes especialidades do Brasil: o uso da República para práticas não republicanas, como roubar, desviar, desfalcar, falsificar, sonegar, subornar, aliciar, perverter —em suma, corromper.

Uns mais, outros menos, todos os governos desde Deodoro caíram na farra, com destaque para os autoritários e para os que se elegeram como vestais. Os primeiros, pelo motivo óbvio: quanto mais ditadura, mais censura e menos controle pelas leis, pela sociedade e pela imprensa, donde mais corrupção. O famoso mar de lama em que o governo constitucional de Getulio Vargas se afundou em 1954 não passou de um filete diante do que se roubou de 1964 a 1985 sob os militares —que, não por acaso, tomaram o poder para, entre outras, "combater a corrupção".

Maria Hermínia Tavares: Extrema direita põe democracia na mira

Folha de S. Paulo

Minoria radical se prepara para as eleições como se fossem uma guerra de extermínio do adversário

No porão das redes sociais por onde escoa o lodo da extrema direita, circulam duas mensagens similares. Na primeira, a imagem estilizada de um Lula barbudo com a arma apontada para um corpo sem rosto ocupa a mosca de um alvo crivado de balas. Na outra, em vídeo, um homem anuncia que é "dia de brincadeira de Magnum 357" e aperta o gatilho enquanto exclama: "Olha lá um petista passando".

Na edição de 11/3, a revista Crusoé, insuspeita de simpatias esquerdistas, informa que clubes de tiro frequentados por apoiadores de Jair Bolsonaro são estimulados a usar imagens do candidato do PT em seus estandes de tiro. Impossível dizer se isso é a regra ou exceção. É certo, porém, que, sob o incentivo declarado do governo, os indicadores de afeição pelas armas e a facilidade de comprá-las dispararam feito metralhadoras.

William Waack: ‘Profil durch kontrast’

O Estado de S. Paulo

A expressão alemã, que vale políticos e carros, diz que é preciso um contraste para se ganhar um perfil

Ao fim da era petista, Lula era o líder popular que desperdiçou uma chance histórica (o ciclo das commodities), presidiu o maior esquema de corrupção da história brasileira e apontou uma sucessora inepta que levou o Brasil à maior recessão enfrentada por um país que não estava em guerra. Hoje, recuperou de maneira formidável a imagem e é tido por ex-adversários como salvador da democracia.

Esse perfil vem pelo contraste com o seu principal adversário, Jair Bolsonaro. Lula nunca foi um radical e continua não sendo. Nunca foi um político de grandes ideias, seu “movimento” político é ele mesmo e mais ninguém. O lulismo (como o varguismo, o peronismo) é a figura de quem lhe empresta o nome, e não deixa sucessores. Sua “genial” jogada política de conquistar um ex-adversário para ter “o centro” a bordo é apenas o óbvio de quem sabe que, sozinho, não ganha.

A “fortuna” de Lula, no sentido que Maquiavel deu à expressão, é Bolsonaro. O atual presidente desperdiçou uma rara onda disruptiva, em boa parte nascida do antipetismo, que expressava um profundo desejo de mudança. Sem saber fazer política, além de vociferar boçalidades para seguidores nos cercadinhos físicos (porta do palácio) e mentais, ressaltou o patrimonialismo, cedeu instrumentos de poder do Executivo para o Legislativo e deixa o País governado por aqueles que estavam envolvidos com Lula nos piores momentos da “política”.

Adriana Fernandes: Mercadante & Arida

O Estado de S. Paulo

Interesse acontece porque Pérsio Arida foi coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin

É muito mais simbólica do que uma realidade efetiva a aproximação do economista Pérsio Arida com o petista Aloizio Mercadante.

Os dois se reuniram por mais de uma hora e meia, na semana passada, e o vazamento do encontro, que ocorreu na Fundação Perseu Abramo (reduto do pensamento econômico do PT), agitou o mundo político e empresarial.

O interesse geral em torno dessa liga acontece porque Pérsio Arida foi coordenador do programa econômico de Geraldo Alckmin nas eleições de 2018, e o ex-governador de São Paulo se mudou para o PSB para ser vice na chapa de Lula, ainda não oficializada.

Com a aliança política, é natural imaginar que Alckmin venha a ter influência nas costuras em torno de um acordo programático em temas econômicos.

Celso Ming: Troca de Luna por Pires

O Estado de S. Paulo

Ficou a impressão de que a substituição intempestiva do presidente da Petrobras não passou de uma operação popularmente conhecida como troca de seis por meia dúzia.

Adriano Pires, o nome indicado à presidência, que deve tomar posse dia 13, não pensa substancialmente diferente do presidente demitido, o general Joaquim Silva e Luna.

Ambos entendem que a interferência do governo nos preços dos derivados de petróleo produz mais distorções do que a manutenção do critério atual, o da Paridade Internacional de Preços, que é determinado pelas cotações em dólares vigentes no mercado internacional convertidas em reais pelo câmbio do dia.

Nem mesmo se pode dizer que Pires diverge de Silva e Luna quando recomenda que a Petrobras evite transferir a volatilidade dos preços ao mercado de consumo. O último reajuste no preço dos combustíveis determinado na gestão de Joaquim Silva e Luna, em 10 de março, guardou o espaçamento de 57 dias em relação ao reajuste anterior.

Tudo se passa como se o presidente Jair Bolsonaro pretendesse apenas produzir efeito especial para impressionar a plateia. Foi o que fez também em fevereiro de 2021 quando demitiu o presidente anterior, Roberto Castello Branco, supostamente porque não via nele acolhimento às reivindicações dos caminhoneiros.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

EDITORIAIS

Alta rotatividade no MEC prejudica políticas públicas

O Globo

Não se discute a demissão de Milton Ribeiro diante das graves denúncias de que verbas públicas eram negociadas de forma nada republicana dentro do MEC, por pastores estranhos ao quadro da pasta. Isolado, Ribeiro não tinha mais o apoio nem da bancada evangélica. Não havia como permanecer no comando de um dos ministérios mais sensíveis da administração. Após três anos e três meses de governo Bolsonaro, o MEC já vai para o quinto ministro.

Como mostrou reportagem do GLOBO, desde a redemocratização, Jair Bolsonaro foi o presidente que, proporcionalmente, mais fez trocas no comando da Educação — uma a cada 296 dias. O que mexeu menos foi Fernando Henrique Cardoso — durante oito anos, teve apenas um ministro da Educação, Paulo Renato Souza. Certamente não é por acaso que o ensino passou por avanços inegáveis. Dilma Rousseff também fez muitas mudanças, porém num período maior: seis ministros entre janeiro de 2011 e maio de 2016.

Poesia | Mario Benedetti: La culpa es de uno

 

Música | Chico Buarque, Tom Jobim e Daniela Mercury: Ela Desatinou