O Lula de 2023 tem muito a aprender com o Lula de 2003
O Globo
Duas décadas representaram enorme retrocesso
na visão do presidente sobre a disciplina fiscal
Era previsível — e foi previsto aqui mesmo no
GLOBO, entre tantos outros lugares — que as metas traçadas pelo governo na
apresentação do novo arcabouço fiscal se revelariam impraticáveis. Cumpri-las
dependeria daquilo que infelizmente se tornou anátema nas rodas políticas de
Brasília: cortar gastos. Mesmo assim, elas foram reiteradas repetidas vezes
pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad — em particular o compromisso de
zerar o déficit em 2024, enviado pelo Executivo ao Congresso na Lei de
Diretrizes Orçamentárias. Todos confiaram que, depois do descontrole
orçamentário promovido pela PEC da Transição, haveria ao menos grande esforço
para reequilibrar as contas
públicas. Intenções contam.
Até que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva torpedeou a meta do ano que vem no final de um café da manhã com jornalistas: “Eu sei da disposição do Haddad, sei da vontade do Haddad, sei da minha disposição. (…) [Mas] nós dificilmente chegaremos à meta zero. (…) Se o Brasil tiver um déficit de 0,5%, o que é? De 0,25%, o que é? Nada. Absolutamente nada. Vamos tomar a decisão correta e vamos fazer aquilo que vai ser melhor para o Brasil”. Desde então, o governo se engalfinha em torno do novo compromisso que apresentará à sociedade.