sábado, 9 de abril de 2016

0pinião do dia – Fernando Gabeira

O PT fazia duas escolhas que iriam marcar sua trajetória. A primeira, usar dinheiro sujo em campanha, mesmo método que atribuía aos adversários. A segunda foi deixar de apresentar um programa real de transformações, optar pela emoção, as luzes e cores, mulheres grávidas descendo a colina vestidas de branco. O PT saía da História para entrar no marketing. Não importava tanto o debate de ideias sobre o Brasil real, mas uma projeção idílica do futuro.

Esse mergulho carbono 14 não é um exercício nostálgico porque encerra duas lições. A primeira é que não surgirá nada de novo no universo político se escolhermos usar os mesmos instrumentos que condenamos no adversário. A segunda, muito importante, é que não há mais espaço para fantasias de luzes e cores, mas a urgência de um debate franco sobre os problemas do País. Ou fazemos os ajustes na economia ou os estragos caem sobre a nossa cabeça, como caíram sobre a dos gregos.

Não há tempo a perder quando se tem quase 10 milhões de desempregados. Será preciso negociar, suprimir concessões, para evitar a falência do Estado.

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Fernando Gabeira é jornalista. ‘Carbonos 14’. O Estado de S. Paulo, 8/04/2016

Tucanos desistem de nova eleição e vão apoiar Temer

PSDB sepulta tese de novas eleições e blinda Michel Temer

• Cúpula do partido se reuniu em São Paulo para dar uma demonstração de unidade

Pedro Venceslau, Elisabeth Lopes e Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - A uma semana da votação decisiva sobre o impeachment da presidente Dilma Rousseff na Câmara dos Deputados, a cúpula do PSDB se reuniu nesta sexta-feira, 8, em São Paulo, para dar uma demonstração de unidade, sepultar a tese de novas eleições e blindar o vice-presidente Michel Temer (PMDB).

O encontro ocorreu em um momento de turbulência interna do partido. O governador Geraldo Alckmin enfrenta um racha sem precedentes em São Paulo devido ao apoio que deu ao empresário João Doria nas prévias da capital e os tucanos divergem sobre a participação em um eventual ministério de Temer.

O senador Aécio Neves (MG), presidente do PSDB, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores Aloysio Nunes e José Serra, os governador Beto Richa (PR) e Pedro Taques e uma comitiva de parlamentares tucanos se reuniram no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista.

Eleições. Durante o encontro, os tucanos decidiram retirar de uma vez por todas a proposta de novas eleições do horizonte e selar o apoio a “solução Temer”. No fim de 2015, às vésperas do recesso do parlamentar, as principais lideranças do PSDB no Congresso anunciaram que a melhor saída para a crise política seria a realização de novas eleições, e não apenas o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

Embora os discursos já demonstrassem uma nova mudança retórica, a posição partidária não havia mudado oficialmente até a reunião desta sexta-feira. “O PSDB reafirma o seu compromisso absoluto com a interrupção do mandato da presidente Dilma pela via constitucional do impeachment: 100% do partido apoia o afastamento", afirmou Aécio em entrevista coletiva após a reunião na sede do governo paulista. Em seguida, o senador fez uma ponderação: “O PSDB não é beneficiário dessa solução”.

Em sua fala, Alckmin ressaltou que o momento é “unidade” em benefício do povo brasileiro. “O quadro político é de extrema gravidade e precisa ser aliviado. A população brasileira quer mudança. Nós temos lado: o lado da mudança”.

Motivo de divergência interna, o debate sobre a participação do PSDB com cargos em um eventual governo Temer foi adiada para depois da votação do impedimento. Defensor da participação, José Serra não participou da entrevista coletiva aos lados das lideranças tucanas.

Sobre a tese de realizar novas eleições gerais, que hoje é defendida por parte do PMDB e ventilada por setores do governo, o PSDB foi unânime. O secretário geral do partido, deputado Silvio Torres (SP), classificou como “absurda” a proposta.

“Não há a menor chance de realizar eleições gerais”, afirmou ele aos jornalistas.

Terminada a reunião, Aécio seguiu com uma comitiva de deputados para um evento organizado pela Força Sindical que teve com um dos objetivos centrais dar apoio ao vice-presidente Michel Temer, que é alvo de um pedido de impeachment na Câmara. "O impeachment não era a primeira opção de muitos de nós tucanos.

Sempre achamos que novas eleições a partir do TSE (Tribunal Superior Eleitoral) talvez fosse o caminho que legitimasse de forma mais adequada um novo governo.

Mas hoje, há uma convergência em razão da necessidade de essa mudança acontecer rapidamente. Não se sabe o que acontecerá no TSE nem quando. O impeachment está nas nossas mãos", disse Aécio.

'PSDB não é beneficiário do impeachment', diz Aécio

• Senador fez discurso no Palácio dos Bandeirantes após reunião com lideranças tucanas; deputado Silvio Torres disse que não há chance de serem realizadas eleições gerais

Pedro Venceslau e Elisabeth Lopes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO - Em um evento formatado para vender a imagem de unidade do PSDB, o senador Aécio Neves, presidente do partido, disse nesta sexta-feira, 8, em discurso feito no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, que os tucanos não serão "beneficiários" do impeachment da presidente Dilma Rousseff.

"O PSDB reafirma o seu compromisso absoluto com a interrupção do mandato da presidente Dilma pela via constitucional do impeachment: 100% do partido apoia o afastamento", afirmou o tucano. "O PSDB não é beneficiário dessa solução", concluiu.

Às vésperas da semana decisiva do processo de impeachment na Câmara, o governador Geraldo Alckmin reuniu as principais lideranças do PSDB na Câmara, dois governadores da sigla, Beto Richa (PR) e Pedro Taques (MT), o ex - presidente Fernando Henrique Cardoso e o senadores Aloysio Nunes e José Serra, que não participou na entrevista coletiva.

Em sua fala, Alckmin ressaltou que o momento é "unidade" em benefício do povo brasileiro. "O quadro político é de extrema gravidade e precisa ser aliviado. A população brasileira quer mudança. Nós temos lado, o lado da mudança". Tucanos dizem que durante o encontro houve unanimidade sobre a rejeição a proposta de realizar eleições gerais, que é defendida por parte do PMDB e era o mote da oposição até pouco tempo.

O secretário geral do PSDB, deputado Silvio Torres (SP), classificou como "absurda" a proposta. "Não há a menor chance de realizar eleições gerais", afirmou ele aos jornalistas. Segundo ele, o tema de maior divergência entre os tucanos, a participação do PSDB em um eventual ministério de Temer, será debatido em outro momento. Após o encontro, parte da comitiva seguiu com Aécio Neves para um evento organizado pela Força Sindical para dar apoio a Temer.

Andrade Gutierrez. Aécio Neves também rebateu a argumentação do governo de que tanto a campanha dele em 2014 como a da presidente Dilma Rousseff receberam dinheiro das mesmas empreiteiras, inclusive da Andrade Gutierrez.

"Uma coisa é financiamento de campanha, outra coisa é o achaque. O PT tem que responder às acusações que lhe são feitas. Nós recebemos de várias empresas, mas não se esqueça, somos oposição. Que influência teríamos no benefício dessas empresas? Ao contrário, isso não está sendo sequer questionado", afirmou o tucano rapidamente ao deixar um ato pró-impeachment em São Paulo e retornar para Brasília.

O ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Marques Azevedo, fechou recentemente delação premiada - homologada no Supremo Tribunal Federal (STF). O executivo traz dados em sua delação de que as doações das campanhas de 2010 e 2014 para a presidente Dilma Rousseff foram fruto de propina, de superfaturamento de contratos em obras da Petrobras e do setor elétrico.

Tucanos unificam discurso favorável à saída de Dilma

• Para FH, ‘mais penoso que interromper um mandato é ver o Brasil se esfacelar’

Stella Borges- O Globo

SÃO PAULO - Após reunião na sede do governo paulista para discutir a crise política, líderes do PSDB unificaram o apoio ao impeachment da presidente Dilma Rousseff. Ao falar do assunto, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso chegou a comparar a situação do governo a um cristal rachado.

— Por penoso que seja interromper um mandato, mais penoso ainda é ver o Brasil se esfacelar e ver que não existe capacidade do atual governo de se recompor. Está na hora de apoiar o impeachment. Quebrou-se a confiança. Quando o cristal é rachado, não se recompõe — disse FH, para quem o momento exige “serenidade, firmeza e decisão” para agir conforme o previsto na Constituição.

O presidente do partido, senador Aécio Neves, afirmou que os tucanos estão unidos em torno do impeachment e confiantes quanto à votação do assunto na próxima semana, na Câmara:

— O PSDB não é beneficiário dessa solução. O PSDB reafirma o compromisso absoluto com o impeachment pela via constitucional, e não por uma vontade daqueles que disputaram a eleição, mas pela constatação de que ela (a presidente Dilma Rousseff ), infelizmente, perdeu as condições mínimas de governar.

Anfitrião do encontro, o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, classificou como “de extrema gravidade” o quadro político atual do país e destacou que o momento é de unidade no partido.

— Nós temos lado, o lado da mudança para ajudar o país a passar por esse período de grande dificuldade — disse o tucano.

Temer comanda frente pró-impeachment

Temer assume linha de frente por votos pelo impeachment

• Vice passa a articular pessoalmente junto a parlamentares e líderes partidários

Júnia Gama, Isabel Braga

Diante da incerteza sobre a aprovação do impeachment da presidente Dilma Rousseff, o vice-presidente Michel Temer entrou na linha de frente das articulações para conseguir votos a favor do afastamento de sua parceira de chapa. Se até semanas atrás apenas os interlocutores de Temer atuavam no corpo-a-corpo com políticos para conseguir apoio ao impeachment, nesta reta final para a votação do processo na Câmara o vice-presidente passou a fazer diretamente o contato com parlamentares e dirigentes partidários em busca de votos.

Nos últimos dias, Temer conversou sobre o tema com políticos de diversos partidos da base aliada, como o ministro Gilberto Kassab (Cidades) e o presidente do PSD, Guilherme Campos; o ex-presidente do PR e principal liderança do partido, Valdemar Costa Neto, a quem telefonou na quarta-feira; além de deputados e senadores desses partidos, do PP e do próprio PMDB, onde há divisão sobre o impeachment.

Caminho sem volta
Segundo um desses políticos, Temer teria partido para o “tudo ou nada” diante da avaliação de que está em um caminho sem volta. Foram tantos e tão simbólicos seus gestos no sentido de um afastamento do Palácio do Planalto que, caso o impeachment não seja aprovado, sua situação junto ao governo tende a ficar insustentável. Paralelamente, integrantes da tropa de choque de Temer já negociam espaços em um futuro governo do PMDB. Parlamentares do PR dizem que foi oferecido ao partido manter o Ministério dos Transportes, mas turbinado, com secretarias de Portos, Aeroportos e Infraestrutura Terrestre.

Nas conversas, segundo interlocutores, Temer fala da importância de “estarem juntos para superar este momento grave”, tirar o Brasil da crise e “colocar as coisas em ordem”. O vice ainda se oferece para atender demandas dos políticos, mas, segundo relatos, sem especificar negociações sobre participação em um eventual governo seu. Em alguns casos, o vice-presidente pede que seu interlocutor “pense bem” sobre a decisão que pretende tomar. No caso de Guilherme Campos, as investidas de Temer não devem ter tanto impacto sobre o resultado, já que o PSD liberou os deputados da bancada para votarem conforme suas vontades, independentemente de o partido pertencer à base governista.

— Tenho ótima relação com Temer, mas seria uma sinalização muito ruim neste momento eu me encontrar com ele porque estou correndo atrás das pendências e passivos dos deputados em relação ao governo. E agora, com a saída do PMDB da base, finalmente as coisas estão acontecendo. Mas, o PSD respeita a posição de cada deputado sobre o impeachment e não irá interferir — disse Campos ao GLOBO

Telefonemas com alertas
O deputado Valtenir Pereira (PMDB-MT), que integra a comissão do impeachment, conta que recebeu um telefonema de Temer esta semana. A abordagem foi cuidadosa, sem pedido direto de voto pró-impeachment. Mas o vice ponderou que ele deveria ter “cuidado” em sua escolha já que é candidato a prefeito de Cuiabá. Disse para avaliar bem a posição a ser adotada considerando a disputa eleitoral. O Mato Grosso, acrescentou Temer a Valtenir, é um estado agrícola e tem um percentual considerável de pessoas a favor do impeachment. O deputado disse que não se definiu e que prepara um voto em separado para apresentar na segunda-feira.

— Foi uma conversa tranquila, ele é muito equilibrado. Não me senti constrangido. Gostei muito da abordagem dele e levo em consideração sim, mas há outros componentes a serem considerados para minha decisão. Senti que, independente da decisão do meu voto, isso não fechará portas — contou o peemedebista que se filiou recentemente à legenda.

A assessoria de Temer confirma que o vice tem mantido contato com lideranças políticas de diversos partidos, mas nega que haja pedidos diretos de votos a favor do impeachment. Outros peemedebistas disseram que, nos telefonemas, Temer mantém seu estilo discreto e não pede votos de forma direta.

Comissão do impeachment forma maioria contra Dilma

• Deputado Tadeu Alencar (PSB-PE) é o 34º parlamentar a favor do afastamento

Isabel Braga e Eduardo Bresciani – O Gllobo

BRASÍLIA — A comissão do impeachment já tem maioria formada contra a presidente Dilma Rousseff. Os deputados Jhonatan de Jesus (PRB-RR) e Tadeu Alencar (PSB-PE) declararam ao GLOBO, nesta sexta-feira, voto favorável ao afastamento. Segundo levantamento, o número de deputados da comissão a favor chega a 34, enquanto 20 declararam ser contra. Onze parlamentares estão indecisos. A comissão tem 65 membros titulares. A votação está marcada para a próxima segunda-feira, dia 11 de abril.

– Essas operações (pedaladas fiscais) são caracterizadas como empréstimos à União, o que é vedado pela Lei de Responsabilidade Fiscal. O governo vem negando que elas possam ser assim classificadas, mas eu entendo que é crime de responsabilidade. Vou votar a favor do impeachment – disse Jesus, ao chegar para a sessão de discussão do relatório.

O GLOBO faz um levantamento junto aos parlamentares desde o início da semana. Na quarta-feira, foi publicado que já havia 30 votos pelo impeachment. Neste mesmo dia, o relator, Jovair Arantes (PTB-GO), anunciou seu voto nesta direção. O deputado Paulo Maluf (PP-SP), que chegou a se declarar antes contra o afastamento, mudou de posição depois que o presidente do seu partido, Ciro Nogueira, anunciou que o partido continuaria do governo sem consultar o diretório nacional. Com a adesão de Jhonatan de Jesus, o parecer de Jovair deve ser aprovado na próxima segunda-feira.

Às 15h36m desta sexta-feira, a comissão de impeachment iniciou a sessão para discutir o relatório de Jovair Arantes. Os parlamentares chegaram a um acordo de levar os debates até as 3h da madrugada de sábado.

Após mais de 13 horas de sessão, Comissão do Impeachment encerra 1ª fase de discussão

• Ao todo, 61 dos 116 deputados que haviam se inscrito para falar discursaram; primeira fase terminou às 4h42

Igor Gadelha, Daniel Carvalho, Daiene Cardoso e Julia Lidner - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Após mais de 13 horas de sessão, a Comissão Especial do Impeachment na Câmara dos Deputados encerrou às 4h42 deste sábado a primeira fase da discussão do parecer favorável ao impedimento da presidente Dilma Rousseff. Ao todo, 61 dos 116 deputados que haviam se inscrito para falar discursaram. Entre eles, 40 se posicionaram a favor e 20 contra o impeachment. Houve ainda um indeciso: o deputado Bebeto (PSB-BA).

Entre as principais legendas que compõem a comissão, o Partido da República (PR) foi o único em que nenhum representante discursou. Assim como PP e PSD, o PR tem negociado com o Palácio do Planalto mais espaço no governo em troca de apoio da bancada contra o impeachment. Tanto no PP quanto no PSD, apenas dois deputados discursam na sessão, todos a favor do afastamento da presidente Dilma Rousseff.

A sessão começou por volta das 15h30 de sexta-feira, mas os discursos de fato só iniciaram cerca de uma hora depois. Governistas e oposicionistas se alternaram em suas falas contra e a favor do impeachment. Governo e oposição, contudo, acabaram deixando em segundo plano o teor do parecer do relator, deputado Jovair Arantes (PTB-GO), favorável ao impeachment, e focaram seus discursos nas críticas um ao outro.

Governistas ressaltaram que partidos da oposição também são acusados de corrupção e acusaram opositores de não aceitarem perder as últimas eleições e querem tirar Dilma por meio de um "golpe". Focaram ainda na estratégia de lembrar que a linha de sucessão presidencial é integrada por membros investigados por corrupção, como o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), segundo na linha de sucessão.

Já a oposição centrou suas críticas em outras acusações e suspeitas contra o governo Dilma, algumas alheias ao parecer de Arantes, bem como contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e ao PT. Opositores apostaram também na estratégia de dizer que aqueles que votarem contra o impeachment estarão concordando com os crimes de responsabilidade a que a petista é acusada na representação.

Tumultos. Durante toda a sessão, houve princípio de tumulto em apenas dois momentos. O primeiro foi quando, seguindo a linha adotada por governistas, o deputado Pepe Vargas (PT-RS) afirmou que PSDB e DEM são os partidos com maior número de políticos cassados no País. O líder do DEM, Pauderney Avelino (AM), e o deputado Mendonça Filho (PE) reagiram com gritos de "mentira".
O segundo bate-boca mais acalorado aconteceu durante o discurso do deputado Sílvio Costa (PT do B-PE), vice-líder do governo na Câmara. O parlamentar ironizou o deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) pelo fato de ele ser pastor evangélico e chamou o deputado Danilo Forte (PSB-CE) de "merda", "corrupto" e "imbecil", o que gerou a reação imediata de parlamentares pró-impeachment.

Cansaço. O cansaço era visível nos rostos de deputados, assessores e jornalistas que participavam da sessão da comissão. O deputado Sóstenes Cavalcante (DEM-RJ) distribuiu energéticos para funcionários que estavam trabalhando, que se somou ao cafezinho servido pela Câmara. O presidente da comissão, deputado Rogério Rosso (PSD-DF), também mandou fazer sanduíches de pão francês e queijo para distribuir.

Do lado de fora do plenário, manifestantes contrários ao impeachment distribuíam pão com mortadela. Diante da polarização política no País, convencionou-se relacionar mortadela aos apoiadores do governo e coxinha aos defensores do impeachment. Os sanduíches foram oferecidos tanto aos parlamentares governistas, que levaram o lanche para o plenário, quanto para os oposicionistas.

Para tentar evitar que o plenário não ficasse esvaziado durante a sessão, os parlamentares se revezavam, principalmente os da oposição. Por volta das 2 horas deste sábado, houve um momento em que havia somente um parlamentar governista, o deputado Paulo Pimenta (PT-RS). Alguns deputados só chegaram na hora de falar e deixaram o local após o discurso, indo para casa ou reunir-se em restaurantes com colegas.

Fogo amigo. Durante os discursos, o governo recebeu críticas até de deputados aliados do Palácio do Planalto. Embora tenha dito ter convicção de que a presidente Dilma Rousseff não cometeu crime de responsabilidade que justifique seu afastamento, o líder do PMDB na Câmara, deputado Leonardo Picciani (RJ), fez uma dura crítica à petista durante sua fala, feita já na madrugada deste sábado.

Picciani afirmou que o Brasil chegou a atual situação, "porque quem ganhou a eleição não teve a humildade de reconhecer que ganhou uma eleição dividida e chamar o País a uma reconciliação e quem perdeu não teve a resignação de aceitar o resultado e pensar no País; preferiu contestar e pensar apenas na sua ambição política". "Essa página, sim, seja qual for o resultado, tem que ser virada", disse.

Votação. A discussão do parecer será retomada na segunda-feira, 11. Nessa fase, somente os líderes partidários e a defesa poderão falar. A previsão é de que a votação aconteça no mesmo dia. Se aprovado, o parecer será publicado no Diário Oficial da Câmara. Após 48 horas da publicação, o presidente da Casa poderá levá-lo para votação em plenário.

Em debate do impeachment, 62% se inscrevem contra Dilma

Isabel Fleck, Rubens Valente, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - No primeiro dia de debate do relatório que recomenda a abertura de processo de impeachment contra Dilma Rousseff, nesta sexta-feira (8), 62% dos 115 deputados federais que se inscreveram para falar optaram pela lista favorável ao afastamento da presidente da República.

O índice não é suficiente para autorizar a abertura do processo –são necessários os votos de pelo menos 342 dos 513 deputados em plenário, ou seja, 66,7%–, mas mostra uma situação difícil para Dilma, embora hoje seja praticamente impossível antecipar um resultado.

Na lista de apoio a Dilma (45 nomes, mas com dois deputados que também se inscreveram na lista contrária), o PT era o partido com mais integrantes, 22.

Partidos que negociam nos bastidores ministérios, cargos e verbas com o Palácio do Planalto quase não registraram deputados para defender a petista. O PP não aparece na lista. O PSD tem apenas um deputado. O PR também registrou apenas um nome –o líder da bancada, Maurício Quintella Lessa (AL), o que representa um sinal positivo para o governo.

O líder do PMDB, Leonardo Picciani (RJ), também se inscreveu para defender Dilma. O partido do vice presidente Michel Temer rompeu com o Planalto, mas Picciani faz parte da ala minoritária que mantém fidelidade ao governo.

Nanicos a quem foram oferecidos cargos e verbas também se inscreveram contra o impeachment, como o PHS e o PTN.

No grupo dos 72 deputados que integram a lista contrária a Dilma (dois deles, Bebeto, do PSB da Bahia, e Aliel Machado, da Rede do Paraná, também colocaram seus nomes na lista favorável a ela), a oposição trouxe o maior número de nomes –16 do PSDB, 14 do DEM–, além do PMDB, com 8.

Os partidos de centro que negociam com Dilma também inscreveram nomes, mas em geral de deputados que há muito tempo são favoráveis ao impeachment –3 do PR, 4 do PSD e 4 do PP.
O segundo mandato de Dilma Rousseff

Pão e queijo
O debate na comissão especial do impeachment da Câmara começou às 16h25 desta sexta e deve entrar na madrugada deste sábado (9).

Cada um dos 115 inscritos tem de 10 a 15 minutos para falar. Apesar de a comissão ter apenas 65 deputados titulares, a fala foi aberta a qualquer deputado.

O presidente da comissão, Rogério Rosso (PSD-DF), disse que iria providenciar "pão, manteiga e queijo" a todos dos parlamentares. A fala resultou em piadas da oposição, que ironiza o PT e movimentos sindicais com a afirmação de que os protestos contra o impeachment são engrossados mediante oferta de pão com mortadela.

Rosso convidou a defesa de Dilma a se pronunciar ao fim da discussão sobre o relatório –e antes da votação na comissão espeical. Como a discussão irá terminar de madrugada, é possível que algum representante da Advocacia-Geral da União fale na sessão de segunda-feira. O convite foi feito após uma reclamação de deputados governistas, que pediram novo espaço para a defesa.

O parecer de Jovair Arantes diz haver indícios gravíssimos de que Dilma cometeu crime de responsabilidade na execução orçamentária. Há na comissão maioria para aprovação desse parecer, cuja votação será feita nesta segunda-feira (11). A votação final no plenário pode ocorrer no dia 17, um domingo.

"A denúncia apresentada contra a presidente mostrou-se apenas a ponta de um iceberg monstruoso, gigantesco e para não dizer vergonhoso dos porões da política brasileira. (...) Dizer que não é crime é querer brincar com a honra dos brasileiros", disse Evair de Melo (PV-ES), o primeiro deputado a falar.

As falas foram intercaladas entre contrários e favoráveis ao relatório. Jandira Feghali (PC do B-RJ), foi uma das defensoras de Dilma. "É mentira, não há crime de responsabilidade", disse, destacando que, se houver impeachment, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), será o vice "de fato" e que um governo Michel Temer será "ilegítimo".

Cunha foi presença constante nas falas dos governistas. "Alguém acredita que melhorará o combate à corrupção com Eduardo Cunha" como o próximo na linha sucessória, questionou Henrique Fontana (PT-RS), para quem o impeachment é uma "tentativa [do PMDB] de chegar ao governo do país sem votos, com um acordão de elites". Segundo Ivan Valente (PSOL-SP), Cunha à frente do processo representa uma "vergonha" nacional e internacional.

O deputado Benito Gama (PTB-BA), favorável ao impeachment, disse que o país passa hoje por uma "degradação em todos os sentidos, da sociedade, do governo". "Estamos sendo levados para o caos, não somente nacional, mas internacional."

Já o petista Arlindo Chinaglia (SP), ex-presidente da Câmara, criticou aqueles que temam desgaste da imagem por ser contra o impeachment.

"Eu não consigo conceber um parlamentar com medo."

Estatístico prevê 72% de votos favoráveis a impeachment de Dilma

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Se a votação na Câmara fosse hoje, o impeachment da presidente Dilma teria a aprovação de 72% dos deputados, indica análise estatística do professor de economia da Universidade Federal de Pelotas (UFPel) Regis Ely.

Para que o processo seja aprovado, são necessários votos de 342 parlamentares, ou 67% do total.

"A não ser que ocorra fato político muito relevante, há probabilidade de cerca de 75% de o impeachment passar na etapa de admissibilidade na Câmara", afirma Ely, que atua nas áreas de previsão, análise de dados, séries temporais e finanças.

O algoritmo construído por Ely parte do princípio de que a decisão dos deputados sofre influência do partido e do Estado pelo qual foram eleitos. Com base nisso, ele infere qual será a posição dos que ainda não declararam seu voto (detalhes da metodologia podem ser vistos em regisely.com/blog/impeachment/ )..

A análise, feita a partir de dados levantados pelo Datafolha de 21 de março a 7 de abril, tem acurácia de 91%.

O número de deputados que se declaram indecisos mostra, porém, que há negociação em curso, o que eleva a volatilidade das decisões.

Efeito manada
Ely ressalta dois fatores que podem afetar a previsibilidade da votação –prevista para ocorrer no dia 17.

A ordem de votação, que ainda não foi definida pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, pode provocar um "efeito manada". Além disso, se em algum momento a votação estiver decidida, os deputados podem mudar de opinião ou se abster.

"Esses fatores podem gerar distorções significativas no percentual de favoráveis que o algoritmo prevê, mas não creio que influenciem o resultado final da votação."

Também tem impacto na previsibilidade o índice de ausência na votação, já que cada falta implica um voto a menos a favor do processo.

Para estimar esse efeito, Ely fez simulações com diferentes índices de ausência (veja quadro). De acordo com os cálculos, se as faltas não superarem 5%, a tendência é que o processo seja autorizado (sempre com base nos dados apurados até o dia 7).

"Entretanto, quando a ausência é maior que 6%, o resultado final da votação parece se inverter", afirma Ely.

O algoritmo foi construído como exercício de previsão com fins didáticos e de demonstração do uso de técnicas de análise de dados em problemas práticos, afirma o professor da UFPel. Contribuíram com o projeto os professores Cláudio Shikida (UFPel) e Bruno Speck (USP).

Em reunião, líderes tucanos pregam união em torno de impeachment

Thais Arbex, Reynaldo Turollo Jr. – Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Às vésperas da votação do pedido de impeachmentda presidente Dilma Rousseff por uma comissão especial na Câmara, a cúpula do PSDB se reuniu na manhã desta sexta-feira (8) no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para unificar o discurso da oposição contra a petista e dar respaldo a um possível governo Michel Temer, hoje vice-presidente da República.

A reunião serviu também para mostrar que o PSDB está unido em torno do impeachment. Líderes tucanos vinham sendo cobrados –tanto por eleitores do partido como por movimentos que pedem a deposição da petista– a se posicionar de maneira mais contundente.

Embora o PSDB seja autor da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os caciques tucanos descartaram apoio à convocação de novas eleições gerais e definiram que o impeachment é o melhor caminho para abreviar a crise política e econômica que o país atravessa.

Líderes tucanos vinham sendo cobrados –tanto por eleitores do partido como por movimentos que pedem a deposição da petista– a se posicionar de maneira mais contundente pela deposição da presidente. A avaliação interna era a de que o PSDB, como maior partido de oposição, tinha de dar uma resposta às cobranças com uma "demonstração inequívoca" pró-impeachment.

"O PSDB reafirma seu compromisso absoluto com a interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff pela via constitucional do impeachment, não por uma vontade daqueles que com ela disputaram a eleição, mas pela constatação de que ela, infelizmente, perdeu as condições mínimas de governar", afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que foi derrotado pela petista nas eleições de 2014.

Um dos principais defensores da queda de Dilma pela via da ação no TSE, Aécio disse que o PSDB "não é beneficiário enquanto partido político dessa solução [o impeachment], mas todos nós convergirmos para ela pela urgência da solução desse impasse".

Além de Aécio, participaram da reunião comandada pelo governador Geraldo Alckmin o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores José Serra (SP) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), o líder e o vice-líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy e Miguel Haddad, respectivamente, o secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres, e Samuel Moreira, recém-nomeado chefe da Casa Civil de Alckmin.

FHC afirmou que o momento exige "serenidade, firmeza e decisão dentro da Constituição".

"Chegou a hora de dar um basta nisso tudo. Não dá mais para ter dúvidas. Por mais penoso que seja interromper um mandato, mais penoso é ver o Brasil se esfacelar", disse o ex-presidente.

"Esse grave momento que o país atravessa precisa ser abreviado. A população brasileira quer mudança. Nós temos lado, estamos do lado da mudança para ajudar o país a passar por esse período de grande dificuldade", declarou Alckmin.

Os governadores do PSDB Beto Richa, do Paraná, e Pedro Taques, de Mato Grosso, também estiveram presentes. Ficou acertado que os governadores trabalharão para que os deputados de seus Estados que estejam indecisos ou que possam mudar de lado votem a favor do impeachment.

Os deputados Paulinho da Força (SD-SP) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) participaram do cafezinho do encontro no Bandeirantes.

Embora o impeachment de Dilma seja, de acordo com avaliações de tucanos próximos a Aécio, o "pior cenário" para o projeto dele de se tornar presidente da República em 2018, o discurso adotado é de unidade em torno dessa saída para a crise.

Para aliados de Aécio, o PT, na oposição, poderia convencer os eleitores, principalmente os mais pobres, de que "o golpe contra Dilma piorou a situação do país". Alguns tucanos avaliam que Temer não conseguirá reverter o quadro nacional sem adotar medidas impopulares. Isso que dará força ao discurso petista de que seu governo era melhor. Nessas circunstâncias, deixar a presidente Dilma "definhando" no cargo até 2018 fortaleceria a candidatura de Aécio.

Governo Temer
No encontro no palácio, os tucanos analisaram o possível governo Michel Temer, hoje vice-presidente. Parte do PSDB acredita que o partido deve apoiar o peemedebista sem aderir ao governo. Evitará, assim, embarcar numa "canoa não tão confiável" e "colocar em risco o projeto do PSDB para o país".

A direção do partido, no entanto, não impedirá que tucanos aceitem ministérios, como pode acontecer com o senador José Serra (SP).

O partido já começou a discutir internamente os pontos que levará a Temer caso o impeachment seja aprovado. "Acontecendo a saída de Dilma, vamos conversar para saber o que pensa Temer, uma vez que o PSDB já tem um projeto para o país", disse um dirigente.

Ofensiva
Em contraposição à ofensiva deflagrada pelo governo e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem feito corpo a corpo com deputados para tentar evitar a queda de Dilma, a oposição prepara uma força-tarefa para arregimentar parlamentares para votar a favor do impeachment. A ofensiva mira nos indecisos e até nos que já declararam apoio à presidente, mas que seriam suscetíveis a mudar de lado.

No início da próxima semana, Aécio vai se reunir com a bancada do partido na Câmara para garantir o empenho dos 51 deputados na ofensiva.

Nomes importantes da sigla que não estão mais no dia a dia de Brasília, como o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, foram escalados. "Vamos atrás de cada parlamentar individualmente para dizer: 'A vida te deu a oportunidade de entrar para a história. Entre pela porta da frente, se não você vai sair pela porta dos fundos'", disse Aécio.

Racha paulista
O encontro pró-unidade no Bandeirantes aconteceu em um momento em que o PSDB paulista está rachado, depois do apoio do governador Geraldo Alckmin ao empresário João Doria, escolhido candidato do partido para disputar a Prefeitura de São Paulo neste ano.

Alckmin, que com o apoio a Doria contrariou tucanos paulistas históricos, como FHC, Serra e Aloysio Nunes, fez um gesto pela unidade do PSDB na disputa em São Paulo.

Os três apoiaram o vereador Andrea Matarazzo, hoje no PSD, e já deram sinais nos bastidores de que não subirão no palanque do afilhado de Alckmin –farão campanha velada para Matarazzo.

Ato da Força Sindical
Aécio saiu da reunião direto para um ato pró-impeachment organizado por Paulinho da Força no sindicato dos trabalhadores da construção civil, no centro de São Paulo. O senador chegou ao evento abraçado a Paulinho, sob gritos de "Fora, Dilma". Fez um breve discurso a uma plateia de dirigentes sindicais e disse que teria que voltar a Brasília para tratar do impeachment.

"[Nas eleições de 2014] Batemos na trave, chegamos perto [de tirar o PT do poder], mas hoje vemos que o nosso adversário não era uma coligação de partidos políticos, mas uma organização que queria se manter no poder", disse Aécio.

No evento, Paulinho anunciou que entidades sindicais pró-impeachment lançariam uma carta pedindo a Temer para, num eventual governo seu, manter os direitos trabalhistas

Sindicalistas rebatem ataques do PT contra vice-presidente

Centenas de sindicalistas pedem impeachment de Dilma em ato em São Paulo

• Ato foi convocado pelo deputado Paulinho da Força e deve contar com a presença de lideranças do PSDB, como Aécio Neves

Ana Fernandes - O Estado de S. Paulo

SÃO PAULO- Centenas de sindicalistas reúnem-se no Sindicato dos Trabalhadores nas Indústrias da Construção Civil de São Paulo (Sintracon-SP), nesta sexta-feira, 8. O ato intitulado "Impeachment Já" foi chamado pelo deputado Paulinho da Força (SD-SP), aliado do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e um dos principais militantes pela deposição da presidente Dilma Rousseff na Casa.

O ato desta sexta ocorre no auditório do Sintracon-SP, que está lotado. Há bandeiras da Força Sindical e de sindicatos mescladas a faixas de "Impeachment Já" e "Fora Dilma". "O Brasil vai 'Dilmal' a pior" diz uma das faixas na parede. Sindicalistas se revezam no palco para discursar palavras de ordem contra o governo e contra a presidente.

A maioria das falas destaca que o movimento sindical não está integralmente ao lado do PT e que existe organização de trabalhadores para derrubar Dilma. Há sindicalistas e manifestantes também ocupando a rua onde fica o sindicato. Políticos da oposição são esperados para o ato. O presidente do PSDB, Aécio Neves, confirmou presença e deve chegar em breve.

O senador participava de uma reunião com outros líderes tucanos para falar do impeachment no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista. Além dele, são esperados o senador Aloysio Nunes (PSDB-SP), o presidente do PSB, Carlos Siqueira, e o presidente do PPS, Roberto Freire. A Central Única dos Trabalhadores (CUT), pró-governo, organiza um ato com Lula no fim da tarde, também na capital paulista.

'A presidente não gosta do Congresso', afirma relator do impeachment

Rubens Valente – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O relator da comissão de impeachment na Câmara, Jovair Arantes (PTB-GO), afirmou à Folha que Dilma Rousseff "não gosta do Congresso" e atribuiu parte da atual crise ao "pouco caso" que ela teria dado aos parlamentares.

Segundo Jovair, a presidente e sua equipe "se sentem acima da lei" por terem mantido pedaladas fiscais em 2015 mesmo após críticas e advertências feitas em 2014. 

A seguir, trechos da entrevista.

Folha - Por que o senhor concentrou seu voto nos fatos de 2015?

Jovair Arantes - Para não dar nenhuma oportunidade de que o governo pudesse judicializar o processo. É claro, é de domínio público, que houve malversação gigante em 2014, mascarando um quadro para a sociedade em um momento eleitoral. Acontece que, mesmo com esse problema enorme que houve em 2014, o governo continuou fazendo em 2015.
Então é aquela velha história que se fala no sertão: 'O governo tem coragem de mamar em onça parida'. Porque quem foi alertado que não pode, que está cometendo um crime, e continua cometendo, é porque não tem medo, está acima da lei.

O senhor acha que a presidente está ou se sente acima da lei?

Pelo menos ela demonstrou que se sente, ela e toda sua equipe se apresentam dessa forma à sociedade. Eles não demonstraram pudor ou medo, continuaram fazendo, cometendo as pedaladas e os crimes de responsabilidade. O que eu afirmei muito no meu relatório foi a questão de usurpar a questão do Poder Legislativo. E é esse o termo.

Até que ponto a presidente tem participação pessoal nesses atos?

Bom, eu não digo pessoal. Mas se minha equipe faz qualquer coisa, eu tenho que responder por isso. A presidente comanda um país, determina o caminho que o país vai seguir do ponto de vista orçamentário, fiscal. Você vê presidentes levando países para o buraco porque tomam decisões erradas. O Congresso é guardião disso.

Se ela quer fazer qualquer tipo de ação que possa ser diferente do que foi aprovado, tem que pedir. E o Congresso tem que aprovar. É simples assim. O contrário é coisa de governo totalitário, absolutamente centralizado, que não quer saber dos outros. A presidente Dilma não gosta do Congresso, não tem afeto pelo Congresso.

Que provas há no processo que caracterizam a participação de Dilma no que o sr. chama de usurpação do Congresso?

A edição dos decretos sem autorização legislativa. E depois disso ela continuou cometendo o crime. Então é bárbaro isso, não pode continuar assim.

O senhor mencionou que a presidente 'não gosta do Congresso'. Por que razão?

Você vê outros países e outros presidentes que passaram pelo Brasil. Eles têm relação próxima, conversam amigavelmente, pegam sugestão de deputados. O governo tem que ouvir o Congresso, consultar o Congresso.

E a presidente Dilma não está fazendo isso?

Eu não me lembro de ela fazer isso em momento algum. Já participei de reuniões com ela, mas muito mais para dizer amém do que para levar qualquer sugestão. Mais recentemente, quando entrou em crise, ela chamou e até ouviu, mas não colocou em prática nada do que falamos.

O senhor diz que parte dessa crise tem a ver com essa dificuldade de Dilma com o Congresso?

Isso é claro. O início dessa crise política foi o pouco caso que ela faz do Congresso. Para ela, o Congresso era só para votar o Orçamento para fazer do jeito que ela quisesse e depois aprovar as contas, quando viessem, do jeito que viessem. E ficou provado que não está certo.

Qual foi o papel do advogado que atua para Eduardo Cunha e foi seu assessor no relatório?
Não só ele trabalhou comigo, como é um excelente profissional. Oxalá eu tivesse dez assessores da qualidade do doutor Renato Ramos.

Caixa ignorou recomendação de Conselho contra ‘pedalada’

• Pagamentos foram intensificados nos meses anteriores à reeleição

Ata de 6 de junho de 2014 revela ordem expressa, mantida até agora sob sigilo, contra operações

Ata do Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal de 6 de junho de 2014, mantida em sigilo, revela que o colegiado fez recomendação expressa à direção do banco para que suspendesse pagamentos de programas sociais por falta de repasses de recursos da União nos meses que antecederam a reeleição da presidente Dilma, conta VINICIUS SASSINE. A recomendação ocorreu pela falta de definição jurídica sobre as “pedaladas”, uma das razões do pedido de impeachment de Dilma. A Caixa foi obrigada a pagar benefícios como Bolsa Família, abono salarial e seguro-desemprego com recursos próprios. O comando do banco depois recebeu parecer jurídico endossando a legalidade das operações, mas a Caixa não consultou mais o Conselho e continuou praticando as “pedaladas”.

Advertência ignorada

• Conselho de Administração da Caixa recomendou suspender ‘pedaladas fiscais’, mas diretoria desprezou

Vinicius Sassine - O Globo

BRASÍLIA — Atas até hoje sigilosas do Conselho de Administração da Caixa Econômica Federal revelam que a direção do banco fez pagamentos de programas sociais do governo nos meses que antecederam a reeleição da presidente Dilma Rousseff em 2014, mesmo tendo recebido recomendação expressa de que as operações fossem suspensas.

O Conselho de Administração da Caixa recomendara ao banco que deixasse de pagar benefícios diante da falta de definição jurídica sobre a legalidade de operações, no centro das acusações sobre “pedaladas fiscais”, no processo de impeachment. Na época, a União não repassava toda a verba necessária, e a Caixa era obrigada a usar recurso próprio para arcar com o pagamento de Bolsa Família e seguro-desemprego.

A recomendação do conselho, órgão superior à direção da Caixa, está expressa em ata da reunião dos sete conselheiros em 6 de junho de 2014. Após a diretriz do conselho, o comando do banco recebeu um parecer jurídico que endossaria a legalidade das operações. Sem que os conselheiros voltassem a ser consultados, a direção da Caixa continuou fazendo as operações. A ata da reunião de 6 de junho registra que os conselheiros consideraram “os riscos envolvidos” na manobra para fazer a seguinte recomendação: “Que a Caixa se abstenha de utilizar a previsão contratual sob análise jurídica”, diz trecho do documento obtido pelo GLOBO.

Auditoria detectou riscos
Os riscos foram detectados numa auditoria interna da Caixa, referente a atividades em 2013, discutida na reunião do conselho. A auditoria fez um detalhamento sobre represamentos de repasses de verbas dos ministérios ao banco, que se viu obrigado a arcar com o pagamento dos programas e benefícios do governo, o cerne das “pedaladas fiscais”.

A “previsão contratual” citada na recomendação diz respeito a uma cláusula do contrato assinado entre a Caixa e o Ministério do Trabalho para o pagamento de seguro-desemprego e abono salarial. A cláusula permitia que o banco pagasse os benefícios enquanto a União não regularizasse os repasses. A legalidade desta cláusula ainda dependeria de análise jurídica. Enquanto isso, o Conselho de Administração recomendava que as operações fossem suspensas.

Em resposta ao GLOBO, a Caixa sustentou que a análise jurídica foi finalizada “dias depois” da reunião do conselho, mais especificamente em 24 de junho de 2014. O parecer concluiu pela legalidade da cláusula contratual. O novo documento, porém, só foi submetido ao Conselho de Administração em 25 de setembro, como consta em ata da reunião, cujos trechos foram obtidos pelo jornal. Nesse intervalo de quase quatro meses, a recomendação dos conselheiros para que se interrompessem as “pedaladas” deixou de ser seguida. Dilma foi reeleita em 26 de outubro.

As “pedaladas” com seguro-desemprego, abono salarial e Bolsa Família ocorreram intensamente em junho, julho, agosto e setembro. Os saldos negativos nas contas de suprimento dos programas no banco foram registrados na maioria dos dias no período, conforme relatório final do Tribunal de Contas da União (TCU) que embasou parecer pela rejeição das contas de 2014 de Dilma. A recorrência de saldos negativos é uma prova das “pedaladas” e de como a manobra configura operação de crédito, segundo o TCU.

Indagada sobre o fato de o parecer jurídico não ter sido submetido ao conselho entre junho e setembro, a Caixa argumentou ao GLOBO que “optou-se por cautela manter os pagamentos, a fim de preservar os direitos dos beneficiários dos programas sociais”. A instituição considerou ainda “a grande relevância” dos programas e a existência do “posicionamento jurídico favorável”. “A decisão (de manter os pagamentos) foi referendada por parecer técnico do TCU, no processo de tomada de contas que analisa o caso”, disse a Caixa.

Os conselheiros também discutiram os pontos mais importantes do relatório de atividades do Comitê de Auditoria da Caixa, relacionado ao segundo semestre de 2013. O documento tratou de uma transferência de R$ 2,4 bilhões da subconta “seguro-desemprego” para a subconta “valores a receber - programas sociais”. A recomendação foi para que o assunto fosse analisado pela Diretoria Jurídica, “ante a possibilidade de caracterização de empréstimo a controlador”. O TCU e o relatório final do processo de impeachment de Dilma consideram que as “pedaladas” representaram operações de crédito, o que infringiu a Lei de Responsabilidade Fiscal (LRF).

Na reunião do Conselho de Administração de 25 de setembro de 2014, o diretor jurídico do banco, Jailton Zanon da Silveira, fez um relato sobre os represamentos dos pagamentos pelos ministérios, como mostram os documentos obtidos pelo GLOBO.

Inquérito civil no Distrito Federal
Além do processo das contas presidenciais, das auditorias do TCU e do processo do impeachment, as “pedaladas” são objeto de um inquérito civil público em curso na Procuradoria da República no DF. Em ofício no último dia 5, o procurador Ivan Cláudio Marx, responsável pelas investigações, pediu que a Caixa esclareça a decisão final da Diretoria Jurídica sobre o assunto; que medidas foram tomadas após a recomendação do conselho para o banco se abster de usar a cláusula contratual que permitia os pagamentos; e se a presidência fez gestão junto ao FAT para regularizar os saldos negativos. O procurador também pediu o encaminhamento dos pareceres jurídicos sobre o assunto.

Ao GLOBO, a Caixa afirmou que o conteúdo das atas mostra o “pleno funcionamento das instâncias de governança da Caixa, com pareceres jurídicos internos e externos que sustentam o cumprimento dos contratos e da legislação referente à prestação de serviços pertinente a cada programa social, além da adoção das medidas de gestão necessárias ao cumprimento desses contratos”. “A Caixa sempre cumpre as recomendações de seu Conselho de Administração”, diz o banco.

Segundo a Caixa, a reunião de 6 de junho de 2014 não fez “qualquer conclusão preliminar” sobre os pagamentos dos benefícios, e que o conselho jamais se referiu a “pedaladas”, mas a cláusulas dos contratos de prestação de serviços com a União. “A Caixa fez gestão para solucionar saldos que ainda existissem em seu favor, atendendo a todas as recomendações de seu Conselho de Administração.”

Delator afirma que campanha de Dilma cobrou R$ 700 milhões de empreiteiras

Ex-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo delatou, segundo o “Jornal Nacional”, que o então tesoureiro Edinho Silva contou ter pedido às sete empresas com mais contratos com o governo o total de R$ 700 milhões para a campanha de Dilma em 2014. Delatores da Andrade também denunciaram propina para os ex-governadores Sérgio Cabral (RJ), Eduardo Braga (AM) e Agnelo Queiroz (DF), que negam.

Empresa diz que Edinho cobrou R$ 700 milhões

  • De acordo com delação, três ex-governadores teriam recebido propina por obras de estádios da Copa

- O Globo

BRASÍLIA - Novos trechos da delação premiada de dirigentes da construtora Andrade Gutierrez, aos quais o “Jornal Nacional” teve acesso, revelam que o atual ministro da Secretaria de Comunicação, Edinho Silva, então tesoureiro da campanha da presidente Dilma Rousseff em 2014, teria dito ao ex-presidente da construtora Otávio de Azevedo que as sete empresas mais beneficiadas em contratos deveriam doar os R$ 700 milhões para ajudar nos gastos eleitorais. De acordo com os depoimentos colhidos, Edinho teria mostrado uma planilha das doações a Azevedo. Nela, uma das sete doadoras apareceria como responsável pelo pagamento de R$ 180 milhões. No Tribunal Superior Eleitoral, a campanha de Dilma declarou ter recebido oficialmente cerca de R$ 350,4 milhões.

Na delação foi registrado que a Andrade Gutierrez já tinha repassado R$ 60 milhões ao ex-tesoureiro João Vaccari Neto e teve que pagar os R$ 40 milhões restantes a Edinho. O governo sustenta que as doações, devidamente registradas, da Andrade Gutierrez somam cerca de R$ 20 milhões, segundo o advogado Flávio Caetano, coordenador jurídico da campanha à reeleição. Já de acordo com a delação, parte das doações solicitadas para a campanha de Dilma foi registrada no Tribunal Superior Eleitoral, e parte foi feita em caixa dois não declarado.

Os executivos da empreiteira dividiram os temas das delações em seis áreas: desvios em obras da usina de Belo Monte; do Complexo Petroquímico do Rio, Comperj; da Ferrovia Norte Sul; da Usina de Angra 3; em estádios da Copa do Mundo; e em campanhas eleitorais.

Maracanã estaria entre obras com propina
Três ex-governadores, entre eles Sérgio Cabral, do Rio (PMDB), também foram citados na delação como beneficiados por propinas em troca de contratos de obras dos estádios da Copa do Mundo. No caso do Maracanã, o dinheiro teria sido destinado a Cabral, que também recebeu recursos, segundo os depoimentos prestados, por obras no Comperj. Agnelo Queiroz (PT), ex-governador do Distrito Federal, teria recebido desvios da construção do Mané Garrincha, segundo a delação. Da Arena da Amazônia, em Manaus, teria saído propina para o ex-governador Eduardo Braga (PMDB), hoje ministro de Minas e Energia.

Ainda segundo o “Jornal Nacional”, os executivos explicaram também que obras do setor elétrico foram destinadas à Andrade Gutierrez como uma compensação pelo pouco espaço em projetos da Petrobras, dominados por Odebrecht e Camargo Corrêa. No caso da usina de Angra 3, no Rio, segundo os delatores, a propina foi direcionada ao almirante Othon Luiz Pinheiro, ex-presidente da Eletronuclear, por meio de uma empresa dele, a Aratec, que é investigada por ter recebido da Andrade Gutierrez R$ 4,5 milhões.

Sobre a contratação do ex-presidente Lula para dar palestras, os dirigentes teriam dito que o serviço foi prestado e que não houve qualquer irregularidade, segundo o jornal.

Em nota à TV Globo, Flávio Caetano afirmou que a suposta delação premiada do ex-presidente da Andrade Gutierrez, se confirmada, é mentirosa; que não houve o alegado acordo de pagamento de R$ 700 milhões por sete empresas; e que nenhuma delas doou R$ 100 milhões. Flávio Caetano disse ainda que é mentirosa a afirmação de que a Andrade Gutierrez teria doado R$ 40 milhões. Ele afirmou que a empresa doou, segundo a coordenação de campanha, exatos R$ 20 milhões.

A defesa de Vaccari Neto disse que não há comprovação dos fatos narrados nas delações. O ex-governador do Rio Sérgio Cabral se disse indignado com o conteúdo dos depoimentos envolvendo seu nome. Agnelo Queiroz, ex-governador do Distrito Federal, não quis comentar. Eduardo Braga sustentou que deixou o governo em 2010 e não assinou contratos para construção de estádio.

Lula ironiza conteúdo de delação
O ex-presidente Lula ironizou, ontem à noite, a delação premiada feita pelos executivos da Andrade Gutierrez. Em encontro com estudantes e profissionais da área de Educação, em São Paulo, o petista questionou o fato de a empresa “ter ligação com os tucanos” e disse que o PT precisa aprender a buscar dinheiro no cofre de “dinheiro bom” das empreiteiras.

— Essa empresa é sabidamente ligada aos tucanos. Será que esse PT é tão besta? A empresa tem um cofre de dinheiro benzido, e o PT só vai no cofre podre. O PT precisa apreender a ir só no cofre de dinheiro bom — disse Lula, referindo-se às doações eleitorais feitas pela Andrade Gutierrez também para candidatos de oposição.

O ex-presidente afirmou ainda que as pessoas que vão às ruas se manifestar contra o governo federal não são inimigos: — Eles são apenas desinformados. Ao falar sobre o convite da presidente Dilma Rousseff para ser ministro, Lula revelou que, inicialmente, recusou a oferta com medo de se desentender com a chefe.

— Se Fidel (Castro) e Che Guevara não couberam dentro de Cuba, como eu e a Dilma vamos caber dentro do Palácio? — questionou, em alusão ao fato de Che ter abandonado o posto que tinha no governo cubano depois da revolução comunista.

Zelador que depôs contra Lula é demitido

• José Afonso Pinheiro perdeu emprego no Condomínio Solaris, no Guarujá, onde ex-presidente seria dono do tríplex 164-A

Por Julia Affonso – O Estado de S. Paulo

O zelador José Afonso Pinheiro, do Condomínio Solaris, no Guarujá, e uma das testemunhas da investigação sobre o tríplex que seria do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, foi demitido na quinta-feira, 7. José Afonso Pinheiro depôs ao Ministério Público do Estado no inquérito que apura se Lula é o verdadeiro proprietário do apartamento 164-A, do Solaris, no litoral de São Paulo – o que é negado taxativamente pelos advogados do petista.

“Foi pura política por causa daquele depoimento”, afirmou o zelador nesta sexta-feira, 8. “As pessoas nunca dão motivo (para a demissão). O motivo foi que estavam me dispensando porque não precisavam mais do meu serviço, mas a gente sabe o que está acontecendo aqui. Depois de eu ter dado o depoimento, a engenheira da OAS disse que eu tinha falado demais. O síndico mesmo disse que eu tinha falado demais. O pessoal deixa esfriar um pouquinho e acaba sobrando para a gente que é menos favorecido.”

Para o promotor Cássio Conserino, que investigou o petista, ‘há fortes indícios de represália diante do teor do testemunho absolutamente esclarecedor que ele prestou durante as investigações’.

Em 9 de março, a Promotoria denunciou criminalmente Lula no caso do tríplex por lavagem de dinheiro e falsidade ideológica ao supostamente ocultar a propriedade do imóvel – oficialmente registrado em nome da OAS. São acusados também a ex-primeira-dama Marisa Letícia, o filho mais velho do casal Fábio Luiz Lula da Silva, o Lulinha, e mais 13 investigados. Na lista estão o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o empresário Léo Pinheiro, da empreiteira OAS, amigo de Lula, e ex-dirigentes da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop).

José Afonso Pinheiro nasceu no Paraná está no Guarujá há 30 anos. O zelador afirma que há 3 trabalhava no Solaris.

As declarações de José Afonso Pinheiro foram prestadas em 23 de outubro de 2015. O zelador disse aos promotores Cássio Conserino, Fernando Henrique Araujo e José Carlos Blat que a ex-primeira-dama Marisa Letícia, mulher de Lula, ‘chegou a frequentar o espaço comum do edifício indagando sobre o salão de festa, piscina, áreas comuns’. Segundo o zelador, ‘os familiares do ex-Presidente chegavam com um passat/preto e um carro, prata, inclusive sabe dizer que eles chegavam com um corpo de seguranças, três ou quatro’.

Em seu depoimento, o zelador narrou que os seguranças prendiam ‘o elevador enquanto a família presidencial estava acomodada no tríplex e isso, obviamente, gerava muitas reclamações’. José Afonso Pinheiro relatou também que ‘o funcionário Igor, da OAS, pediu para que não falasse nada, ou seja, de que o apartamento seria do Lula e da esposa, mas, sim, deveria dizer que é pertencente a OAS’. “Esse pedido aconteceu depois do carnaval de 2015.”

Na ocasião, ele disse ainda que ‘nenhuma outra pessoa diversa de integrantes da família Lula, ou do próprio casal presidencial, não frequenta ou frequentou a unidade 164-A’. O zelador não soube dizer se o tríplex esteve à venda, mas afirmou que a unidade, ‘diferente de outras, nunca foi visitada por qualquer pessoa acompanhada de corretor ou corretora de imóveis’.

Nesta sexta-feira, José Afonso Pinheiro disse. “As pessoas fazem o que fazem e nós trabalhadores, que somos verdadeiros, que falamos a verdade, somos punidos”, reclamou. “No fim, os únicos que acabam sendo prejudicados somos nós, que somos o lado do trabalhador e que falamos a verdade. Não pode falar a verdade das coisas. Fui chamado a atenção, porque falaram que eu falava demais.”

O zelador afirmou. “Eu apenas falei a verdade. Em nenhum momento eu falei fatos que não tinham ocorrido. O pessoal acha que você não pode falar a verdade. Tem que omitir, mentir”, disse. “Como eu vou falar depois que não sei, não vi? Não posso.”

Diálogo impossível – Merval Pereira

- O Globo

A presidente Dilma, cada vez mais acuada pelos fatos, é uma guerrilheira da retórica quando está em comícios fechados com sua claque, e uma estadista quando em cerimônias públicas. No palanque, especialmente no Planalto, que transformou em seu escritório eleitoral, onde apenas petistas e assemelhados são permitidos, Dilma, além da confusão verbal que lhe é característica, chama de golpistas os adversários políticos e abusa da luta política para tentar marcar a narrativa que sustenta hoje o PT.

A de que o partido está sendo perseguido por ser o defensor do povo, e que o pedido de impeachment é um golpe parlamentar. Como se a elite perversa quisesse reverter as conquistas alcançadas pelos governos petistas nos últimos 14 anos.

Vive ainda no passado recente, quando o mundo crescia a tal ponto que todos os países emergentes melhoraram a distribuição de renda e retiraram da pobreza milhões de pessoas. Finge que não sabe que esse passado já não existe mais, e que, se insistir em permanecer à frente do governo, o país acabará revertendo ao que era há uma década, o que já acontece em muitos setores, especialmente na renda média do brasileiro.

Nas raras aparições públicas em que são mínimas as possibilidades de ser vaiada, a presidente lança apelos ao entendimento, como fez ao discursar na inauguração do Estádio Aquático Olímpico, no Rio, ontem. Disse a presidente: “Acho que um clima de quanto pior, melhor não interessa ao país, não interessa à necessária estabilidade econômica e política do país. Se nós somos capazes de fazer uma Olimpíada, se somos capazes de fazer uma paraolimpíada, somos capazes de fazer também o nosso país voltar a crescer. Para isso, um elemento é fundamental — o elemento da convergência, o elemento do diálogo e o elemento da parceria”.

A mesma presidente prepotente que, no auge de uma popularidade artificial, desdenhava dos adversários e não raras vezes tratava-os como se fossem seres que viviam em outro planeta, agora vem estender a mão para um diálogo impossível.

O mesmo acontece com o ex-presidente Lula, a quem se atribui a ideia de fazer uma nova Carta ao Povo Brasileiro caso a presidente consiga superar o impeachment, e ele se transforme em chefe da Casa Civil.

Em 2002, na campanha que o levou ao Planalto, Lula aceitou escrever um compromisso formal de que manteria a política econômica que seu antecessor, Fernando Henrique, implantara com o Plano Real.

Precisava acalmar o mercado financeiro, garantindo que não daria um cavalo de pau na economia, como, aliás, não fez até meados do seu segundo mandato. Agora, diante das dificuldades de Dilma, Lula pretende que sua sucessora repita o gesto, para tentar ganhar apoios para reverter a crise econômica.

Mas há obstáculos intransponíveis à repetição como farsa dessa estratégia. Começando pela confissão do próprio Lula, em 2014, de que se arrependeu de ter feito a Carta ao Povo Brasileiro. Isso porque, a partir da crise de 2008/2009, ele encontrou uma desculpa para adotar o projeto econômico petista, que acabou nessa crise histórica em que estamos envoltos, com o maior período de recessão da República.

A nova matriz econômica, depois de um crescimento de 7,5% em 2010 que permitiu a Lula eleger Dilma como sua sucessora — e, sabe-se hoje, já financiado pela corrupção da Petrobras —, levou o país à breca quando a fome de Dilma por políticas heterodoxas encontrou-se com a vontade de comer do ex-ministro da Fazenda Guido Mantega.

Como acreditar que a presidente Dilma quer o diálogo se, além da incapacidade de ouvir o outro, ela não abre mão de suas convicções econômicas que nos levaram aonde estamos? Como acreditar que Lula, arrependido da primeira carta, será o fiador da segunda?

Além do mais, já se foi o tempo em que as visões de PT e PSDB tinham alguma semelhança que permitiriam aproximação política efetiva. Hoje, esses pontos em comum, mesmo existentes — como, por exemplo, na rede de apoio social iniciada no governo Fernando Henrique —, já não servem de apoio a trabalho conjunto, pois a luta política se exacerbou tanto que mesmo falando a mesma língua os dois já não se entendem.

Some-se a isso a circunstância de que o PT está envolvido em uma prática política corrupta que vem sendo desvendada pela Lava-Jato, não há espaço para uma aproximação antes de saber quem vai sobrar para fazer o suposto acordo político.

Nova maioria para uma nova agenda - Murillo de Aragão*

- O Estado S. Paulo

Provavelmente em 90 dias, no máximo, saberemos se o processo de impeachment resultará no afastamento ou não de Dilma Rousseff da Presidência da República. Independentemente de quem seja o presidente após o processo, o Brasil precisa de uma nova agenda e de uma nova maioria. Afinal, estamos na pior situação econômica possível em décadas: déficit fiscal, inflação, recessão e instabilidade política. Claramente, a atual configuração política do governo não tem a menor condição de enfrentar nossos desafios. É um governo tomado por um discurso bolivariano, que mais fragiliza do que o fortalece na luta contra o impeachment.

Quais os cenários políticos possíveis? Vamos a eles. Seja quem for o presidente, deverá haver recomposição do Ministério, visando a dar consistência a um presidencialismo de coalizão que nunca se realizou. Obrigatoriamente, o novo presidente terá de abrir espaço no governo para compor nova maioria, que terá de apoiar uma agenda dura de ajustes. E terá de se relacionar com políticos, pessoalmente, de forma regular e consistente. No caso de Dilma, ser a líder que nunca foi. Os desafios serão fazer a maioria ser operacional e mantê-la unida ante o debate de temas muito duros.

Outro fator determinante do day after do impeachment na Câmara seria o tamanho do apoio que Dilma Rousseff receberia para barrá-lo. Imaginem que cerca de 300 deputados aprovem o pedido. Não é suficiente para autorizar o julgamento no Senado, mas é uma robusta oposição que pode vir a paralisar o governo na Câmara.

Negociar com os adversários será salvação e obrigação. Assim, a conciliação de Dilma com o mundo político torna-se inevitável. E o vice-presidente Michel Temer, como “líder da maioria”, mesmo “derrotado”, terá papel relevante na construção de uma nova base. É uma grande ironia. Coisas do Brasil. Coisas da política.

Em qualquer cenário, tanto Dilma quanto Temer terão de realmente alocar aliados em postos importantes. Mesmo sendo um governo de reconstrução nacional, não poderá ser um teatro de coalizão. Terá de ser feita uma completa redivisão do poder e uma obrigatória adesão da base política à agenda do novo governo. Para ter um mínimo de sucesso a nova agenda deve ser construída em conjunto com os partidos da nova base. Viveremos, de verdade, um ciclo semipresidencialista em que sa nova maioria no Congresso governará. Não sendo assim, não iremos a lugar nenhum.

No campo fiscal e econômico, a nova maioria terá de se comprometer com um duro ajuste fiscal e a aprovação de medidas duras nos campos previdenciário, trabalhista, tributário e empresarial. O governo terá de ser mais flexível nas regras de concessão e contratação de obras públicas, a fim de direcionar o Brasil para uma economia mais aberta e competitiva. Enfim, nada disso é parecido com o que foi feito nos últimos anos. Dilma teria de jogar suas convicções econômicas no lixo e virar a página. Não parece que vá ocorrer caso ela permaneça. Porém a receita para sair da crise é clara.

Michel Temer, caso assuma a Presidência, terá de tomar medidas drásticas e urgentes. Algumas já estão delineadas no programa Ponte para o Futuro.

Provavelmente, mesmo não estando de acordo, Temer terá de buscar a aprovação da CPMF, tendo em vista um equilíbrio fiscal mínimo para, na sequência, implementar reformas mais profundas. Terá de acelerar o debate sobre a unificação do ICMS e promover uma radical simplificação do modelo tributário, além de acabar com as vinculações orçamentárias e estabelecer limites para o crescimento da despesa pública, congelar aumentos de salários do funcionalismo público e cortar ministérios e cargos de confiança. Não é uma agenda trivial.

Considerando o quadro e seus desafios, o cenário em caso de vitória de Dilma na disputa do impeachment não é animador. Dois outros desafios para o presidente pós-impeachment devem ser considerados. Para Elias Canetti, do alto de sua sapiência, a inflação é um fenômeno de massa no sentido mais verdadeiro e estrito da palavra. Diz ele que a inflação causa um efeito perturbador tão grave quanto as guerras e as revoluções. Por isso as medidas de controle da inflação devem ser duras e imediatas, a fim de evitar o caos e o descontrole.

O outro desafio está na dinâmica própria das investigações e dos julgamentos ligados às Operações Lava Jato e Zelotes. Como disseram o juiz Sergio Moro e o ministro Teori Zavascki, ainda tem muita coisa para acontecer. Os danos ao mundo político e empresarial ainda não estão delimitados. As delações relacionadas às megaempreiteiras estão estraçalhando o mundo político e sepultando o capitalismo tupiniquim. Um novo modelo terá que ser construído.

Administrar o Brasil pós-impeachment será, para quem estiver no comando, uma tarefa muito difícil. O País terá de se olhar no espelho e ver que o modelo em vigor é insustentável. Terá de enfrentar a tarefa de matar vacas sagradas e dizer, claramente, quais privilégios e quais benesses devem acabar. Terá de recompor o presidencialismo de coalizão numa base partidária superfragmentada. Terá, ainda, de profissionalizar a administração das estatais antes de embarcar num amplo programa de privatizações. Tudo emoldurado pelo agravamento da recessão, do desemprego, da inflação e dos efeitos colaterais das investigações em curso. E, ainda, submetido às surpresas da Lava Jato e à resistência das corporações à perda de benefícios.

Mas os problemas de hoje são oportunidades e, sobretudo, os conselheiros mais perversos e realistas que os governantes de plantão podem ter. Encará-los poderá apresentar-nos as soluções de que tanto necessitamos para evitar o naufrágio da nossa democracia.

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*Murillo de Aragão é mestre em ciência política e doutor em sociologia pela Unb, é advogado e consultor

E agora, Folha? Demétrio Magnoli

- Folha de S. Paulo

Domingo passado, Dilma Rousseff saboreou um inesperado triunfo, servido no editorial de primeira página da Folha ("Nem Dilma nem Temer", 3/4/16). Repetindo o que tantos pediram, sem sucesso, ao longo do último ano, o maior jornal do país envia uma mensagem decepcionante: o destino de uma presidente "que perdeu as condições de governar" deve depender, exclusivamente, da vontade dela mesma. "Eu jamais renunciarei", retrucou a presidente, de bate-pronto. O tempo passou na janela, e só a Folha não viu.

As críticas do editorial à solução do impeachment oscilam pendularmente entre os registros da política e do direito. As "pedaladas fiscais", razão jurídica perfeita para o impedimento, não preenchem o requisito político "numa cultura orçamentária ainda permissiva". Os múltiplos "indícios de má conduta", razão política irrefutável para a deposição constitucional, não preenchem o requisito jurídico pois "falta comprovação cabal". A equação argumentativa da Folha foi formulada por um matemático decidido de antemão a rejeitar a alternativa do impeachment.

A raiz da posição do jornal encontra-se sorrateiramente explicitada em outro lugar: o impeachment deixaria "um rastro de ressentimento", pois "mesmo desmoralizado, o PT tem respaldo de uma minoria expressiva". Tradução: a maioria da sociedade deve ceder à chantagem minoritária do "povo organizado", aceitando um "novo normal" formado por violações jurídicas de baixo impacto político e crimes políticos ainda carentes de veredito jurídico. Mas, como é deselegante dizer isso, o editorial maquia suas manchas com o corretivo cremoso da inócua solicitação de renúncia ao mandato presidencial.

O tempo passou na janela. Antes das delações de Delcídio do Amaral e da Andrade Gutierrez, e antes da nomeação de Lula à Casa Civil, havia bons motivos para questionar o impeachment. Hoje, porém, à luz do dia, o Planalto comete sucessivos crimes de responsabilidade. Nas palavras do próprio editorial, "a administração foi posta a serviço de dois propósitos: barrar o impedimento, mediante desbragada compra de apoio parlamentar, e proteger o ex-presidente Lula e companheiros às voltas com problemas na Justiça". Mas, estranhamente, a Folha descarta no nono parágrafo os crimes políticos que aponta no quinto. Na sequência, opera um salto argumentativo arbitrário, oferecendo a saída da dupla renúncia da presidente e do vice.

Temer não está engajado em operações de obstrução da Justiça. Mas, segundo a lógica sofística do editorial, o vice ocupa lugar idêntico ao da presidente, pois "tampouco dispõe de apoio suficiente na sociedade". Da imputação decorreria o imperativo da renúncia simultânea de ambos, abrindo caminho para novas eleições presidenciais. Mas, apesar das virtuosas intenções declaradas, o apelo do jornal apenas oferece um pretexto farisaico aos deputados que, por motivos pecuniários ou ideológicos, ensaiam perfilar com o Planalto na votação do impeachment. Afinal, por que trocar seis por meia dúzia?

Todo o poder ao povo! A solução imaginada pelo editorial produziria um governo calçado na legitimidade eleitoral, não uma transferência de comando para o sócio menor da coalizão que nos conduziu a uma tripla crise, econômica, política e ética. Contudo, o caminho até a antecipação de eleições presidenciais não passa pelo atalho utópico da dupla renúncia, pois Dilma "jamais" renunciará. Igualmente, não passa pelo longo contorno do TSE e do STF, pois a cassação da chapa Dilma/Temer depende de julgamentos que só se concluiriam em 2017, gerando eleições indiretas.

Se o jornal quer mesmo que o povo decida, tem o dever de apoiar o impeachment –para, em seguida, solicitar a renúncia de Temer. A única alternativa é o túnel da anomia: Dilma até 2017, sucedida por um presidente escolhido pelo Congresso. E agora, Folha?

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Demétrio Magnoli é sociólogo

Delação de empreiteira é chave para a Lava-Jato – Editorial / O Globo

• Depoimentos de ex-executivos de empresa reforçam investigações sobre o esquema, por tratarem do método de lavagem de propinas por meio da legislação eleitoral

O barômetro da crise política oscilou fortemente contra os interesses de Dilma e do lulopetismo desde quinta-feira, com a divulgação, pela “Folha de S.Paulo”, de trechos da delação premiada de representantes da empreiteira Andrade Gutierrez na Lava-Jato.

E ainda houve o parecer do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, ao Supremo, contra a nomeação de Lula para o Ministério. Janot entende ter havido de fato tentativa de retirar o ex-presidente do alcance da força-tarefa de Curitiba, nas investigações da Lava-Jato, sob o juiz Sérgio Moro.

O ex-presidente e o ex-executivo da Andrade Gutierrez, Otávio Marques de Azevedo e Flávio Barra, entre outros da empresa, confirmaram o que era esperado: a Andrade, só ultrapassada em tamanho pela Odebrecht no ramo das grandes obras públicas, de fato converteu dinheiro de propina obtido na execução de grandes projetos (Belo Monte, Angra 3 e Comperj, este da Petrobras) em doações “legais” às campanhas de Dilma, em 2010 e 2014. PT e PMDB foram as legendas receptadoras dos recursos da empreiteira.

Esta lavagem de dinheiro usando a Justiça eleitoral já havia sido mencionada, nas investigações da Lava-Jato, pelo empreiteiro Ricardo Pessoa, da UTC. Ao incluir esta esperteza delitiva na contribuição premiada, os ex-dirigentes da empreiteira devem estar seguros de que conseguirão provar o que contaram.

Cifras elevadas trafegaram nesse universo. Só na hidrelétrica de Belo Monte, o consórcio construtor — Andrade, Odebrecht e Camargo Corrêa — conseguiu uma propina de R$ 150 milhões, o equivalente a 1% do valor do projeto. Claro que por meio do superfaturamento na obra. O que significa que as centenas de milhões drenados para PT, PMDB e PP, principalmente, neste esquema e nos outros, foram retiradas dos cofres públicos, a fonte de recursos desses empreendimentos.

Nas delações, desfilaram nomes conhecidos: o ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, o ex-ministro Edison Lobão (PMDB), o primeiro amigo João Carlos Bumlai e os ex-ministros Antonio Palocci e Erenice Guerra, substituta de Dilma na Casa Civil. Os desmentidos foram os previstos.

No caso da presidente, em mais um dos comícios que tem organizado no Planalto, ela optou por esquecer o conteúdo das revelações e criticar os “vazamentos direcionados”, determinando ao ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que investigue como a imprensa soube dos depoimentos, referendados pelo ministro Teori Zavascki. Não deixou, mais uma vez, de entoar o mantra do “golpe”.

Na montagem do quebra-cabeça desta aliança entre grandes empreiteiras e o lulopetismo, para drenar recursos públicos de projetos gigantescos tocados por estatais, a Andrade Gutierrez é peça importante, como a Odebrecht.

Não só pelo tamanho, mas pelo fato de se dispor a ajudar a desvendar a ponta do esquema em que está a lavagem de dinheiro de propina usando-se a legislação eleitoral. O branqueamento de dinheiro sujo na doação “legal a candidatos” deve ter induzido seus idealizadores a imaginar que haviam cometido um crime perfeito.

A Lava-Jato precisa aprofundar estas investigações, porque se supõe que haja cifras ainda mais elevadas escamoteadas por esta manobra.