Thais Arbex, Reynaldo Turollo Jr. – Folha de S. Paulo
SÃO PAULO - Às vésperas da votação do pedido de impeachmentda presidente Dilma Rousseff por uma comissão especial na Câmara, a cúpula do PSDB se reuniu na manhã desta sexta-feira (8) no Palácio dos Bandeirantes, sede do governo paulista, para unificar o discurso da oposição contra a petista e dar respaldo a um possível governo Michel Temer, hoje vice-presidente da República.
A reunião serviu também para mostrar que o PSDB está unido em torno do impeachment. Líderes tucanos vinham sendo cobrados –tanto por eleitores do partido como por movimentos que pedem a deposição da petista– a se posicionar de maneira mais contundente.
Embora o PSDB seja autor da ação que pede a cassação da chapa Dilma-Temer no TSE (Tribunal Superior Eleitoral), os caciques tucanos descartaram apoio à convocação de novas eleições gerais e definiram que o impeachment é o melhor caminho para abreviar a crise política e econômica que o país atravessa.
Líderes tucanos vinham sendo cobrados –tanto por eleitores do partido como por movimentos que pedem a deposição da petista– a se posicionar de maneira mais contundente pela deposição da presidente. A avaliação interna era a de que o PSDB, como maior partido de oposição, tinha de dar uma resposta às cobranças com uma "demonstração inequívoca" pró-impeachment.
"O PSDB reafirma seu compromisso absoluto com a interrupção do mandato da presidente Dilma Rousseff pela via constitucional do impeachment, não por uma vontade daqueles que com ela disputaram a eleição, mas pela constatação de que ela, infelizmente, perdeu as condições mínimas de governar", afirmou o presidente nacional do PSDB, senador Aécio Neves (MG), que foi derrotado pela petista nas eleições de 2014.
Um dos principais defensores da queda de Dilma pela via da ação no TSE, Aécio disse que o PSDB "não é beneficiário enquanto partido político dessa solução [o impeachment], mas todos nós convergirmos para ela pela urgência da solução desse impasse".
Além de Aécio, participaram da reunião comandada pelo governador Geraldo Alckmin o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, os senadores José Serra (SP) e Aloysio Nunes Ferreira (SP), o líder e o vice-líder do PSDB na Câmara, Antonio Imbassahy e Miguel Haddad, respectivamente, o secretário-geral do PSDB, deputado Silvio Torres, e Samuel Moreira, recém-nomeado chefe da Casa Civil de Alckmin.
FHC afirmou que o momento exige "serenidade, firmeza e decisão dentro da Constituição".
"Chegou a hora de dar um basta nisso tudo. Não dá mais para ter dúvidas. Por mais penoso que seja interromper um mandato, mais penoso é ver o Brasil se esfacelar", disse o ex-presidente.
"Esse grave momento que o país atravessa precisa ser abreviado. A população brasileira quer mudança. Nós temos lado, estamos do lado da mudança para ajudar o país a passar por esse período de grande dificuldade", declarou Alckmin.
Os governadores do PSDB Beto Richa, do Paraná, e Pedro Taques, de Mato Grosso, também estiveram presentes. Ficou acertado que os governadores trabalharão para que os deputados de seus Estados que estejam indecisos ou que possam mudar de lado votem a favor do impeachment.
Os deputados Paulinho da Força (SD-SP) e José Carlos Aleluia (DEM-BA) participaram do cafezinho do encontro no Bandeirantes.
Embora o impeachment de Dilma seja, de acordo com avaliações de tucanos próximos a Aécio, o "pior cenário" para o projeto dele de se tornar presidente da República em 2018, o discurso adotado é de unidade em torno dessa saída para a crise.
Para aliados de Aécio, o PT, na oposição, poderia convencer os eleitores, principalmente os mais pobres, de que "o golpe contra Dilma piorou a situação do país". Alguns tucanos avaliam que Temer não conseguirá reverter o quadro nacional sem adotar medidas impopulares. Isso que dará força ao discurso petista de que seu governo era melhor. Nessas circunstâncias, deixar a presidente Dilma "definhando" no cargo até 2018 fortaleceria a candidatura de Aécio.
Governo Temer
No encontro no palácio, os tucanos analisaram o possível governo Michel Temer, hoje vice-presidente. Parte do PSDB acredita que o partido deve apoiar o peemedebista sem aderir ao governo. Evitará, assim, embarcar numa "canoa não tão confiável" e "colocar em risco o projeto do PSDB para o país".
A direção do partido, no entanto, não impedirá que tucanos aceitem ministérios, como pode acontecer com o senador José Serra (SP).
O partido já começou a discutir internamente os pontos que levará a Temer caso o impeachment seja aprovado. "Acontecendo a saída de Dilma, vamos conversar para saber o que pensa Temer, uma vez que o PSDB já tem um projeto para o país", disse um dirigente.
Ofensiva
Em contraposição à ofensiva deflagrada pelo governo e pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que tem feito corpo a corpo com deputados para tentar evitar a queda de Dilma, a oposição prepara uma força-tarefa para arregimentar parlamentares para votar a favor do impeachment. A ofensiva mira nos indecisos e até nos que já declararam apoio à presidente, mas que seriam suscetíveis a mudar de lado.
No início da próxima semana, Aécio vai se reunir com a bancada do partido na Câmara para garantir o empenho dos 51 deputados na ofensiva.
Nomes importantes da sigla que não estão mais no dia a dia de Brasília, como o prefeito de Manaus, Arthur Virgílio, foram escalados. "Vamos atrás de cada parlamentar individualmente para dizer: 'A vida te deu a oportunidade de entrar para a história. Entre pela porta da frente, se não você vai sair pela porta dos fundos'", disse Aécio.
Racha paulista
O encontro pró-unidade no Bandeirantes aconteceu em um momento em que o PSDB paulista está rachado, depois do apoio do governador Geraldo Alckmin ao empresário João Doria, escolhido candidato do partido para disputar a Prefeitura de São Paulo neste ano.
Alckmin, que com o apoio a Doria contrariou tucanos paulistas históricos, como FHC, Serra e Aloysio Nunes, fez um gesto pela unidade do PSDB na disputa em São Paulo.
Os três apoiaram o vereador Andrea Matarazzo, hoje no PSD, e já deram sinais nos bastidores de que não subirão no palanque do afilhado de Alckmin –farão campanha velada para Matarazzo.
Ato da Força Sindical
Aécio saiu da reunião direto para um ato pró-impeachment organizado por Paulinho da Força no sindicato dos trabalhadores da construção civil, no centro de São Paulo. O senador chegou ao evento abraçado a Paulinho, sob gritos de "Fora, Dilma". Fez um breve discurso a uma plateia de dirigentes sindicais e disse que teria que voltar a Brasília para tratar do impeachment.
"[Nas eleições de 2014] Batemos na trave, chegamos perto [de tirar o PT do poder], mas hoje vemos que o nosso adversário não era uma coligação de partidos políticos, mas uma organização que queria se manter no poder", disse Aécio.
No evento, Paulinho anunciou que entidades sindicais pró-impeachment lançariam uma carta pedindo a Temer para, num eventual governo seu, manter os direitos trabalhistas