O Globo
Quando historiadores forem analisar o
governo Jair Bolsonaro, um dos fatores sobre o qual terão de se debruçar é o
fato de como a incompetência extrema do presidente e de seus auxiliares é
constantemente premiada com colheres de chá que acabam por premiar a falta de
planejamento.
A aprovação de afogadilho de um enorme
cheque em branco eleitoral para o presidente distribuir grana viva às vésperas
da eleição, ao arrepio flagrante da Constituição, da lei eleitoral, da Lei de
Responsabilidade Fiscal e do teto de gastos é só a mais recente dessas
incompreensíveis ajudas que Bolsonaro, mesmo deixando claras suas piores
intenções, consegue receber de todos, inclusive da oposição.
Foi assim com a PEC que promoveu a pedalada
descarada nos precatórios, que nada mais são que dívidas transitadas em
julgado; com a mais recente emenda que promoveu uma tunga no ICMS de Estados e
municípios apenas para conter o faniquito do presidente para baixar o preço dos
combustíveis de forma terceirizada, e que, como previsto não foi efetiva; com
as sucessivas e inimagináveis intervenções na direção da Petrobras, que
acontecem sem que ninguém tente impedir, entre outros episódios recentes e mais
remotos.
Agora o Senado acaba de dar lastro ao desespero eleitoral de Bolsonaro, fornecendo a ele uma vantagem econômica absurda em relação aos adversários. Como cria uma narrativa chantagista de que se trata de combater a fome, a insegurança alimentar e a perda de renda provocada com a inflação — como se todos esses flagelos reais não fossem obra continuada justamente da inoperância do governo e de sua capacidade de planejar medidas de longo prazo — o governo consegue fazer com que um rombo de R$ 40 bilhões para promover benesses eleitoreiras seja aprovado praticamente por unanimidade, com beneplácito inclusive do PT.