sábado, 5 de julho de 2014

Opinião do dia: Zuenir Ventura

Imagina depois da Copa. O que fazer sem esse ópio do povo, como se dizia antigamente? A overdose já está me levando a misturar times e partidas.

Zuenir Ventura, jornalista e escritor. O risco do palpite errado, O Globo, 5 de julho de 2014

Barbosa derruba liminar e autoriza julgamento de processo que pode tornar Arruda ‘ficha suja’

• Prazo para registro de candidaturas termina amanhã. Ex-governador do DF foi condenado em primeira instância

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA – O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Joaquim Barbosa, suspendeu uma decisão liminar e autorizou o Tribunal de Justiça do Distrito Federal e Territórios (TJDFT) a realizar um julgamento que pode enquadrar o ex-governador do DF José Roberto Arruda (PR) na Lei da Ficha Limpa. O julgamento havia sido cancelado semana passada por uma liminar do ministro Napoleão Nunes Maia Filho do Superior Tribunal de Justiça (STJ). Preso em 2010 no escândalo conhecido como “mensalão do DEM”, Arruda é pré-candidato a governador e lidera as pesquisas de intenções de voto.

Condenado por improbidade administrativa em primeira instância pela acusação de ter comprado apoio político para sua candidatura em 2006, com recursos provenientes de contratos de informática do governo do DF, Arruda poderia ser impedido de concorrer se o TJDFT mantivesse a decisão. O caso estava na pauta da última quarta-feira, mas o ministro do STJ concedeu liminar impedindo a realização do julgamento. Barbosa revogou a decisão de Napoleão

Se eleito, posse pode não ocorrer
No recurso ao STF, o procurador-geral da República, Rodrigo Janot, argumentou que a liminar impedindo o julgamento comprometia o processo eleitoral no DF. “A tutela do STJ findou por negar, na prática, à população do DF um processo eleitoral hígido na escolha do seu governador, a macular a própria credibilidade e efetividade do Poder Judiciário”, argumentou o procurador.

O prazo para o registro de candidaturas termina hoje. Arruda poderá se inscrever para a eleição sem ser inelegível no ato do registro. Caso o tribunal mantenha a condenação, será aberta nova disputa jurídica para saber se ele poderá tomar posse, se ganhar a eleição. Como o enquadramento na Ficha Limpa não foi feito antes da inscrição da candidatura, ele poderá disputar.

A defesa de Arruda quer que o STJ declare a suspeição do juiz da 2ª Vara da Fazenda Pública do Distrito Federal, Álvaro Ciarlini, responsável pela decisão de condenação em primeira instância. Ciarlini foi declarado suspeito e impedido de julgar outro réu do mesmo caso, o ex-deputado Leonardo Prudente. Arruda quer que a suspeição seja estendida ao processo contra ele.

Escândalo levou Arruda à prisão
Arruda perdeu o mandato de governador em 2010, após ficar preso. O governador é acusado de chefiar a arrecadação e distribuição de propina a aliados políticos. Pelas investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, um grupo de auxiliares diretos de Arruda — entre eles o ex-secretário de Assuntos Institucionais, Durval Barbosa — recebia dinheiro de empresários com contratos com o governo e repartia esses recursos entre aliados políticos.

Parte das cenas de suborno explícito foram documentadas em vídeos gravados por Durval e, depois, entregues à polícia. O esquema teria surgido ainda na administração do ex-governador Joaquim Roriz e continuado, com mais força, no governo Arruda.

As cenas de corrupção devastaram o governo e a Câmara Distrital. Entre os políticos que perderam o mandato na esteira do escândalo estão Arruda, o ex-governador Paulo Octávio e três deputados, entre eles o então presidente da Câmara Legislativa, Leonardo Prudente. Eles formavam a cúpula do DEM.

Não foi a primeira vez que Arruda se viu envolvido em um escândalo. Em 2001, renunciou ao mandato de senador. Ele foi réu confesso do processo sobre a violação do painel do Senado. Arruda e o ex-senador Antônio Carlos Magalhães, já falecido, foram acusados de violar o painel eletrônico do Senado para descobrir quem votou contra a cassação do ex-senador Luiz Estevão.

Acuado pelas provas que o apontavam como um dos personagens centrais na fraude do painel, Arruda confessou o crime, chorou e prometeu se regenerar. Menos de uma década depois teve o mandato cassado pelo Tribunal Regional Eleitral (TRE). Semana passada, lançou-se candidato ao governo local pelo PR.

Picciani pressiona Lupi para desistir da candidatura ao Senado do Rio

• Peemedebista ameaça retirar PDT de coligação; PROS escolhe Lilian Sá para senadora, e PCdoB lança nome avulso

Guilherme Amado – O Globo

BRASÍLIA e RIO — O presidente regional do PMDB no Rio, Jorge Picciani (PMDB), deu um ultimato ao presidente nacional do PDT, o ex-ministro do Trabalho Carlos Lupi, para que ele retire hoje sua candidatura ao Senado. Caso contrário, o PDT estará fora da coligação que quer reeleger Luiz Fernando Pezão (PMDB) ao Palácio Guanabara e, consequentemente, o deputado estadual Felipe Peixoto (PDT) não será o candidato a vice-governador.

— Eu já falei para o Lupi. Não tem cabimento essa candidatura dele. O candidato da nossa chapa é o Cesar Maia. Se o Lupi não tirar a candidatura, o PDT está fora da chapa e o Felipe Peixoto não será o vice. Caso isto ocorra, o nome do (senador) Francisco Dornelles é natural para essa vaga de vice — afirmou Picciani.

A pedido do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Carlos Lupi lançou-se ao Senado para ser o candidato apoiado pela presidente Dilma Rousseff (PT) e pelo próprio Lula. No entanto, a lei eleitoral não permite que uma mesma coligação tenha dois candidatos ao Senado. Na última segunda-feira, Lupi afirmou, em uma coletiva, que um acórdão do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) lhe garantiria a candidatura. Lupi, assim como alguns setores do PMDB, não concordaram com a indicação do ex-prefeito e vereador Cesar Maia (DEM) para a vaga ao Senado

O TSE não confirmou que a interpretação do texto feita por Lupi esteja correta. O tribunal esquivou-se de responder sobre o caso, já que, caso haja alguma representação contra a candidatura do pedetista, os ministros da Corte podem ter de julgar a situação.

Picciani voltou a atacar o Palácio do Planalto, que, segundo ele, tem tentado enfraquecer a chapa do “Aezão” — formada por 19 partidos e que pede voto para a reeleição de Pezão e para a candidatura a presidente do senador Aécio Neves (PSDB-MG).

— O Palácio do Planalto não têm limites. Levar o (apoio do) PROS para (a candidatura do deputado federal Anthony) Garotinho (ao governo do estado) foi ideia deles. Essa história do Lupi idem — acusou Picciani.

Ex-ministro também contraria PROS
A candidatura avulsa de Lupi também provocou impasse na coligação do candidato a governador pelo PR, deputado Anthony Garotinho. Até então único candidato ao Senado da base aliada de Dilma, o deputado federal Hugo Leal (PROS), que estava na chapa de Garotinho, desistiu da disputa por perder a exclusividade no palanque da presidente. O PROS sugeriu como opção para substituir o parlamentar o vice-presidente nacional da legenda, Comandante Norberto. Mas, o ex-governador do Rio não concordou com a escolha. Para Garotinho, Norberto não teria densidade eleitoral suficiente para garantir a vaga.

O PR chegou a ameaçar o PROS de retirá-lo da disputa ao Senado pela coligação, caso insistisse no nome de Norberto. Garotinho defendeu a indicação da deputada federal Lilian Sá para a disputa. Na madrugada de ontem, a executiva estadual do PROS optou por aceitar Lilian para o Senado e Comandante Norberto para a vaga de primeiro suplente. O anúncio oficial da mudança será feito hoje pela legenda.

O PCdoB, que integra ao lado de PSB e PV a aliança do candidato ao governo do estado Lindbergh Farias (PT), lançará hoje no Rio um candidato avulso ao Senado. A decisão foi tomada ontem, durante reunião da executiva estadual. Líderes do PCdoB no Rio acusam o PSB de quebrar o acordo que previa a primeira suplência aos comunistas. A vaga para senador na chapa de Lindbergh é ocupada pelo deputado federal Romário (PSB). O PCdoB indicou o presidente regional da legenda, João Batista Lemos, para a suplência.

Apesar de a candidatura independente ao Senado do PCdoB, o partido garantiu que não deixou a aliança e reafirmou que se mantém na coligação Frente Popular.

“Tivemos posições altruístas”
De acordo com a deputada federal Jandira Feghali, a candidatura poderá ser novamente em torno de seu nome ou de outro quadro político com peso eleitoral. Na última pesquisa Ibope de intenções de voto, Jandira permanecia tecnicamente empatada com Romário na primeira posição, seguidos por Sérgio Cabral (PMDB):

— Tivemos posições altamente altruístas em ceder a candidatura ao governo do Rio, no primeiro momento, e ao Senado, logo em seguida. Eram candidaturas extremamente competitivas. Pensamos desde o início na composição da coligação, com objetivo de construir uma aliança forte, à esquerda — disse Jandira. — Contudo, o rompimento do acordo pelo PSB nos força a isto. O PCdoB não pode ser tratado dessa forma. Nós não tratamos aliados os colocando de joelhos, mas em pé. Em 2006, quando concorri ao Senado, o PSB ocupou a primeira suplência, com Roberto Amaral — criticou a deputada.

Caso o PSB não aceite manter o acordo, a direção estadual do PCdoB anunciará hoje à tarde o nome escolhido para a disputa. O registro no Tribunal Regional Eleitoral das candidaturas pode ser feito até as 19h de hoje.

— O PCdoB precisa ser valorizado e tratado com respeito. Estamos cobrando o cumprimento de um acordo feito entre os quatro partidos da aliança: PT, PV, PSB e PCdoB — acrescentou Jandira

(Colaborou Marcelo Remígio).

O enrosco petista no maior estado do país

• Candidatura de Dilma tem contratempos em SP, com palanque fragilizado

• Às vésperas do início da campanha oficial, presidente também sofre com baixa aprovação. Na oposição, Aécio Neves e Eduardo Campos terão de contornar problemas no Rio de Janeiro

Paulo de Tarso Lyra - Correio Braziliense

A conquista da maioria dos votos de 68,2 milhões de eleitores concentrados em São Paulo, em Minas Gerais, no Rio de Janeiro e na Bahia tem consumido a maior parte dos esforços de estrategistas e candidatos ao Palácio do Planalto no aquecimento para a campanha presidencial. Os três principais nomes na corrida pelo controle do Executivo contabilizam fragilidades pontuais em, ao menos, um desses locais. Na campanha petista, o quadro é bem diferente de 2010, quando Dilma Rousseff se elegeu perdendo apenas entre os paulistas, ainda assim por uma margem pequena de votos. O porém é que, justamente nesse estado, os problemas ganharam corpo nas últimas semanas.

Ao contrário de há quatro anos, o principal adversário oposicionista, o senador Aécio Neves (PSDB-MG), tem a hegemonia mineira, unificou o PSDB paulista em torno de sua candidatura, uniu as oposições baianas — em uma articulação conjunta com o prefeito de Salvador, Antonio Carlos Magalhães Neto (DEM) — e angariou o apoio do PMDB fluminense, insatisfeito com o fato de o PT ter lançado o senador Lindbergh Farias para concorrer contra Luiz Fernando Pezão (PMDB).

"O PT não pode errar como errou em São Paulo. Isso é mortal", disse um estrategista político ligado ao ex-prefeito de São Paulo Gilberto Kassab (PSD). No plano nacional, os pessedistas estão com Dilma. Mas, em São Paulo, apoiarão Paulo Skaf (PMDB). O PT paulista patina na candidatura de Alexandre Padilha, o que deixa a presidente Dilma Rousseff com um palanque frágil em um estado governado pelos tucanos há 20 anos. "Além disso, o índice de aprovação dela em São Paulo não chega aos 30%. É muito baixo", disse o aliado de Kassab.

Tradicionalmente, o PT sempre teve contra si um eleitorado consistente entre os paulistas, sobretudo no interior. "Em São Paulo estamos enfrentando as mesmas dificuldades de sempre. A nossa rejeição inicial é histórica, mas temos que levar em conta que enfrentamos dois candidatos bastante qualificados — um deles nosso aliado", disse o secretário de Organização do PT, Florisvaldo Souza, referindo-se ao peemedebista Paulo Skaf. Coordenador nacional da campanha do tucano Aécio Neves (MG), o senador José Agripino Maia (RN) comemorou a estratégia do mineiro em São Paulo. "Ele trouxe para o seu lado um ex-presidente (Fernando Henrique Cardoso) e dois ex-candidatos ao Planalto (José Serra e Geraldo Alckmin). De quebra, ainda indicou Aloysio Nunes Ferreira, o senador mais bem votado da história da capital, como vice", disse Agripino.

O senador demista — que chegou a ser cotado para vice caso a vaga coubesse ao DEM — destacou também a mudança de ares no Rio de Janeiro. "Se olhássemos há dois meses, a nossa situação era muito desconfortável, sem palanques fortes no estado. Conseguimos atrair o PMDB, com sua máquina de governo e uma aliança que chega a 18 partidos", destacou Agripino. Na Bahia, o cenário se repete, com uma aliança envolvendo PSDB, DEM e PMDB. Em 2010, a vitória de Dilma sobre Serra no estado foi acachapante: 62% a 21%. "Não digo que vamos vencer na Bahia. Mas a perspectiva é de que o resultado seja mais apertado", aposta o coordenador-geral da campanha de Aécio.

Segundo o secretário de organização do PT, a fuga de aliados reflete a polarização nacional. "É natural que, nos estados, as demais legendas busquem caminhos próprios até como uma maneira de se viabilizar eleitoralmente", apostou Florisvaldo. Um exemplo disso, segundo apostam atentos observadores políticos, teria acontecido na Bahia, com o desembarque do PTB da chapa petista, capitaneado pelo presidente da sigla, Benito Gama. "Foi uma questão de sobrevivência. Benito é cria do PFL e percebeu que, na Bahia, não é a candidatura presidencial de Dilma que garantirá votos nas eleições proporcionais e sim, a aproximação com ACM Neto e Aécio Neves", disse um aliado de Dilma.

Espaço reduzido
Com menos tempo de televisão que seus principais adversários, o candidato do PSB ao Palácio do Planalto, Eduardo Campos, ainda amarga uma situação pouco confortável: ele também é aquele com menos palanques fortes nos principais colégios eleitorais brasileiros. Em São Paulo e no Rio, por exemplo, o socialista não terá sequer um candidato a governador filiado ao seu partido.

Na capital paulista, o PSB indicou o vice de Geraldo Alckmin (PSDB-SP), o deputado Márcio França. No horário eleitoral para governador, o número que aparecerá é o 45, do PSDB. No Rio, a situação é semelhante. Romário (PSB) é candidato ao Senado na chapa do petista Lindbergh Farias. Ele só aparecerá na tevê nos dias reservados à propaganda para presidente, às terças, às quintas e aos sábados.

Secretário-geral do PSB e um dos coordenadores políticos da campanha de Eduardo Campos, Carlos Siqueira acredita que a ausência em dois colégios eleitorais importantes não fará um estrago tão grande na campanha de Eduardo. Ele lembra que na Bahia o PSB tem uma candidata competitiva — a senadora Lídice da Mata — e, em Minas, o cenário se repete com o ex-deputado Tarcísio Delgado. "Não acho que estaremos fragilizados. Tarcísio e Lídice têm chances de ajudar na nossa campanha", disse Siqueira.

O secretário-geral socialista também lembra que, em São Paulo, as disputas são diferentes de qualquer outro canto do país. "O PMDB tinha o vice-presidente na chapa presidencial de Dilma Rousseff e elegeu apenas um deputado federal. Nós elegemos cinco. Imagine agora, oficialmente integrados à chapa de Alckmin e com candidato próprio à Presidência?" projetou um dos coordenadores da campanha do PSB.

Aberta a temporada de caça aos votos do eleitor

- Correio Braziliense

A campanha para as eleições de 5 de outubro começa oficialmente neste domingo. A partir de agora, os candidatos e partidos estão permitidos a fazer propaganda e pedir votos, mas há limites neste período de três meses em que os postulantes a cargos eletivos estarão nas ruas e nas telas da tevê. Os chamados showmícios, por exemplo, são vetados pela legislação eleitoral, assim como a distribuição de brindes ao eleitor — prática comum em eleições no Brasil até poucos anos atrás.

Qualquer abuso contra as regras eleitorais poderá resultar em multas e no enquadramento do candidato pelas práticas de compra de votos e abuso de poder econômico e político. Caberá ao Ministério Público fiscalizar e denunciar eventuais irregularidades. Os próprios partidos também poderão representar na Justiça Eleitoral contra adversários.

Daqui a 90 dias, estarão em disputa no primeiro turno das eleições os cargos de presidente e de vice-presidente da República, governador e vice-governador, senador, deputado federal e deputado estadual. No caso do Distrito Federal, deputado distrital.

A principal fase da campanha está marcada para começar em 19 de agosto, quando terão início as propagandas gravadas para o horário eleitoral gratuito. Todos os candidatos às eleições majoritárias têm direito a tempo de rádio e tevê. O cálculo é feito com base no tamanho da bancada de cada partido que compõe a coligação. A partir desse período, também serão veiculadas inserções de 15 segundos ao longo da programação das emissoras.

No segundo turno das eleições, previsto para 26 de outubro, que acontecerá onde nenhum candidato ao governo estadual tenha atingido mais de 50% dos votos, a propaganda eleitoral será dividida em dois blocos de tamanhos idênticos. Caso haja segundo turno para a disputa presidencial, a regra será a mesma: divisão igual de tempo de rádio e tevê para os dois postulantes.

Batalha no Nordeste

Julia Duailibi – O Estado de S. Paulo

Pesquisa Datafolha, feita nos dias 1 e 2 de julho, mostrou que a presidente Dilma Rousseff (PT) tem 55% das intenções de voto no Nordeste. No mês passado, tinha 48%. Já Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB) têm, respectivamente, 10% e 11% – mantiveram os mesmos porcentuais que da pesquisa anterior.

Nas últimas eleições, o Nordeste, segundo maior colégio eleitoral do País com 27% do eleitorado, tem dado a vitória para o PT. Em 2010, José Serra chegou a perder por uma diferença de 10,7 milhões de votos. Na eleição deste ano, PT e PSDB trabalham, de novo, com a vitória de Dilma na região, onde a presidente tem melhor aprovação – a pesquisa mostra que o melhor desempenho de Aécio é no Sudeste, onde está o maior colégio eleitoral do País. Lá, o tucano tem 27% das intenções de voto contra 28% de Dilma.

A campanha de Aécio tentará compensar a diferença de votos para Dilma no Nordeste com o crescimento da votação no Sudeste, especialmente em Minas e no Rio de Janeiro, onde Serra perdeu para Dilma por 1,8 milhão e 1,7 milhão de votos, respectivamente. Ampliar a diferença em São Paulo, onde o tucano venceu por 1,8 milhão de votos, também seria positivo, mas é tarefa difícil. São Paulo é o berço eleitoral de Serra, e o desempenho dele pode ter se aproximado do teto de votação do PSDB no Estado.

Os tucanos também tentarão aumentar a vantagem no Sul, onde o PSDB venceu por 1,2 milhão de votos em 2010, e no Centro-Oeste, onde a vitória foi por pouco mais de 100 mil votos. Ocorre que essas regiões têm pouco eleitor, 14,6% e 7,2% do eleitorado, respectivamente. Portanto, para ajudar na matemática, a vantagem teria de ser muito maior do que a de 2010.

O PSDB pode até vencer em Minas, terra de Aécio, e no Rio, e ampliar um pouco a votação nos demais Estados, mas terá que reduzir a desvantagem no Nordeste. Não tem como fugir disso.

Para a oposição, a situação deve melhorar quando o eleitor souber que Aécio é o candidato do PSDB – 30% dos eleitores do Nordeste não o conhecem contra 12% dos do Sudeste. Na pesquisa espontânea, o candidato do PSDB tem apenas 4% das intenções de voto na região, contra 39% de Dilma e 5% de Campos. Integrantes da campanha lembram ainda que o tucano ainda não atingiu o desempenho de José Serra, em 2010, e de Geraldo Alckmin, em 2006, no Nordeste – e para eles Aécio deve ultrapassar esses tetos assim que a campanha começar nos Estados, a Copa acabar e ele se tornar mais conhecido.

“Não tenho a menor dúvida de que teremos no Nordeste um desempenho melhor do que em 2010″, declarou o senador José Agripino Maia (DEM-RN), coordenador da campanha. Um dos motivos para isso, diz ele, são os palanques regionais, que estariam mais bem estruturados na região do que na eleição anterior. Aécio terá cabos eleitorais fortes na Bahia, no Sergipe, no Ceará, na Paraíba e no Piauí. Em Alagoas a situação é mais complicada, assim como em Pernambuco, terra de Campos e de Lula.

Para o PT, será difícil os tucanos diminuírem a vantagem pró Dilma na região. Embora admitam que a campanha do PSDB por lá estará mais estruturada neste ano, dizem que a ação do governo federal será reconhecida nas urnas. Citam como exemplo programas como o Bolsa Família e o Minha Casa, Minha Vida.

Na segunda-feira, haverá primeira reunião de coordenação da campanha de Aécio, em São Paulo. Em pauta, uma agenda para o Nordeste para tentar reverter o quadro, que hoje continua favorável a Dilma. Em pauta também, a defesa dos programas sociais do PT. O partido já percebeu que é armadilha criticá-los.

Dilma relança programas para campanha

• Projetos em andamento, como Minha Casa, Pronatec e Ciência sem Fronteiras, têm novas fases anunciadas perto do período eleitoral

Rafael Moraes Moura, Tânia Monteiro, Murilo Rodrigues Alves, - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Prestes a começar oficialmente a campanha pela reeleição, a presidente Dilma Rousseff adotou a tática de lançar novas etapas de programas de governo já em execução - mesmo quando as fases iniciais ainda não foram concluídas. A estratégia tenta dar visibilidade ao que a gestão petista considera suas marcas, evitar que esses projetos sejam apropriados pelos candidatos de oposição e reforçar no eleitorado a tese da "mudança com continuidade".

O mais recente lance dessa tática ocorreu na quinta-feira, com o mega-anúncio da terceira fase do Minha Casa Minha Vida. A solenidade mobilizou Dilma e mais dez ministros, espalhados por 11 cidades do País e videoconferência entre a presidente e seus auxiliares.

Os anúncios das novas fases dos programas federais ocorrem mesmo quando ainda não foram concluídas as etapas anteriores. É o caso do Ciência sem Fronteiras 2 e do Programa Nacional de Acesso ao Ensino Técnico e Emprego (Pronatec) 2, ambos com metas abrangendo o período de um eventual segundo mandato (2015 a 2018).

A ideia é mostrar Dilma como a única capaz de promover as mudanças que o eleitorado, segundo pesquisas, defende na próxima gestão. No dia 21, durante a convenção nacional do PT que confirmou sua candidatura, a presidente reiterou a tese da continuidade com mudanças e prometeu um "novo ciclo de desenvolvimento" para "consolidar e aprofundar conquistas".

Assessores do Planalto dizem que fazem parte da estratégia do governo o "aprimoramento, ajuste e fortalecimento" dos programas na área habitacional, no acesso ao ensino técnico e na distribuição de renda, entre outros.

Ação e reação. A sucessão de anúncios serve ainda como resposta às movimentações dos candidatos de oposição. O tucano Aécio Neves tem defendido a expansão e o aprimoramento de programas do PT, como o Pronatec e o Programa Universidade para Todos (ProUni). O candidato do PSB, Eduardo Campos, prometeu manter o Minha Casa e construir 4 milhões de unidades - a meta da terceira fase do programa petista é de 3 milhões.

Diante das promessas dos opositores, Dilma e o governo têm dado respostas em discursos e entrevistas. "Nós falamos em 12 milhões (meta da segunda etapa do Pronatec) com a certeza de que esse número é viável. Nós demonstramos ao longo desse período e construímos a nossa curva de aprendizado", disse Dilma em cerimônia no Palácio do Planalto, no dia 18, em resposta velada a Aécio. "Nós, hoje, sabemos como se faz. Nós, hoje, podemos melhorar muito o Pronatec."

A primeira etapa do Pronatec concedeu 7,4 milhões de bolsas e, segundo o Ministério da Educação, cumprirá a meta de 8 milhões. Esse programa e o Ciência sem Fronteiras são as principais marcas da gestão Dilma que o PT pretende apresentar na área da educação.

Moradia. Dilma chegou a cancelar o anúncio da terceira etapa do Minha Casa Minha Vida, marcada por ela mesma para o fim de maio, depois que Campos prometeu construir 4 milhões de casas populares em quatro anos. Mas o governo retomou a ideia e anunciou a meta de 3 milhões de unidades.

"É uma meta realista. A meta do governo tem um estudo por trás. Não é uma meta da boca para fora, rápida, que responda a um debate eleitoral", disse Jorge Hereda, presidente da Caixa Econômica Federal, responsável pelas obras do programa. "A meta do governo é importante para a afirmação da sustentabilidade e da continuidade do programa, mas por trás de si tem cálculos que respeitam a economia do País", afirmou Hereda.

O mega-anúncio do Minha Casa 3 frustrou as expectativas do setor de construção civil, que esperava respostas do governo a pedidos como a criação de uma faixa intermediária entre o nível 1 (famílias que ganham até R$ 1.600 mensais) e o 2 (renda familiar de R$ 1.600 a R$ 3.250) e o reajuste do valor dos imóveis para cada grupo de beneficiários. Hereda disse que essas questões estão sendo estudadas pelo governo com o setor de construção e os movimentos sociais, mas o detalhamento só será feito no fim do ano, após as eleições presidenciais.

Presidente prepara também terceira versão do PAC
A presidente Dilma Rousseff também já afirmou que lançará a terceira versão do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC) "lá por agosto". Ela até citou um exemplo de obra a ser incluída no programa, como o arco ferroviário de São José dos Campos (SP), que teve o edital de construção suspenso porque o governo decidiu conectar a obra à Ferrovia Norte-Sul.

Não há como assegurar se essa data será cumprida. Nos bastidores, há pouca movimentação em torno de uma eventual terceira versão do programa.

Como candidatos a integrar a nova versão do "filho" de Dilma, estão obras de mobilidade urbana, muitas das quais ficaram pelo caminho, principalmente quando o País foi escolhido como sede da Copa do Mundo. E, das duas versões iniciais do PAC, grandes obras não foram concluídas - como a integração de bacias do São Francisco e o arco metropolitano do Rio de Janeiro.

Diferente de programas mais focados, como o Minha Casa Minha Vida ou o Ciência Sem Fronteiras, o PAC nasceu em janeiro de 2007 como a junção de obras de estatais (como Petrobrás e Eletrobrás), autarquias e empresas públicas (Dnit e Infraero) e parte pequena oriunda de recursos diretos do orçamento. Por ser a união de "orçamentos" distintos - portanto flexíveis para cada empresa -, o PAC é um programa muito maior, mas menos focado e com metas flexíveis.

O trem-bala surgiu em 2009 e foi incluído como meta do PAC 2, no ano seguinte. O PAC 2 termina em dezembro e o leilão do trem-bala nem foi realizado. Tampouco se ouve falar de nova edição do Programa de Investimentos em Logística, um dos poucos êxitos de Dilma na área de infraestrutura. As concessões de aeroportos e rodovias foram bem-sucedidas. Mas a parte de ferrovias não avançou e a de portos está desde o ano passado parada no Tribunal de Contas da União.

Hegemonia de cinco eleições é desafiada

• Após quase 20 anos de gestão, tucanos tentam manter Estado sob seu comando em meio à crise hídrica

Ricardo Chapola Ricardo Brandt e Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

A política paulista poderia ser resumida numa máxima, dados os resultados eleitorais: “a campanha pelo Palácio dos Bandeirantes é aquela disputa entre políticos em que o PSDB ganha no final”.
Já são quase 20 anos de governo, cinco eleições vencidas, as últimas duas sem precisar de 2.º turno. Os tucanos admitem, porém, que estão agora diante da mais difícil missão desde que Mário Covas venceu Francisco Rossi em 1994. Não só pelo natural desgaste do longo tempo no poder, mas também em razão de problemas da administração, como a ameaça de falta d’água nas torneiras dos paulistas.

As pesquisas apontam atualmente uma ampla vantagem do governador Geraldo Alckmin (PSDB). A configuração dos palanques nas últimas semanas, após acordos de última hora, entretanto, elevaram o empresário Paulo Skaf (PMDB) à condição de adversário de peso, com o maior tempo de TV entre os concorrentes. Além disso, ele tem um perfil conservador, algo que costuma agradar aos eleitores do Estado, em especial os do interior.

No PT, partido que tem polarizado a disputa com os tucanos nas últimas três eleições, a situação não é das melhores. O ex-ministro da Saúde Alexandre Padilha, nova aposta eleitoral do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, perdeu aliados, teve o tempo de TV reduzido e enfrenta certo desânimo entre os correligionários.

Na avaliação dos petistas, Lula não tem mostrado tanto empenho por Padilha, uma vez que Skaf é do PMDB, principal aliado do projeto reeleitoral de Dilma Rousseff. A própria presidente já disse aos peemedebistas: não importa quem estará no 2.º turno, Padilha ou Skaf, o importante é ganhar dos tucanos em seu principal reduto, maior colégio eleitoral do País, com cerca de 32 milhões de pessoas aptas a votar.

São Paulo também é alvo de outros candidatos à Presidência da República, especialmente do tucano Aécio Neves, que escolheu um vice do Estado, o senador Aloysio Nunes Ferreira, para “amarrar” o partido e tentar conquistar uma ampla vantagem sobre Dilma e o presidenciável do PSB, Eduardo Campos, e assim garantir sua ida ao 2.º turno da disputa. Aécio vai criar uma espécie de campanha paralela em São Paulo, pois sabe que Alckmin estará concentrado em seu projeto de reeleição.

Aécio tem um histórico de desentendimentos com os tucanos paulistas. Foi acusado por aliados de Alckmin e de José Serra de não se empenhar em Minas, seu Estado, quando eles disputaram a Presidência da República – Serra em 2002 e 2010 e Alckmin em 2006.

Temas centrais. Padilha – que depois de Dilma e do prefeito paulistano, Fernando Haddad, passou a ser chamado de terceiro “poste” de Lula – e Skaf adotaram a “mudança de verdade” como mote. A coincidência de slogan causou até atrito entre os candidatos. Primeiramente ele foi usado pelo PT. Depois os peemedebistas decidiram adotá-lo também.

Os discursos também devem coincidir no que se refere às críticas ao governo tucano. O tema preferencial é a falta d’água nas represas do Sistema Cantareira, que abastece boa parte de São Paulo. Alckmin diz que o problema é climático – não choveu o que deveria ter chovido. Os adversários afirmam que faltaram, além de chuva, planejamento e investimentos no setor.

Outra área a ser explorada tanto por Skaf quanto por Padilha é a de transportes. Ambos apontam o ritmo lento da expansão das linhas do Metrô. Alckmin, por sua vez, argumenta que nunca se investiu tanto em transporte sobre trilhos e que há oito grandes obras em andamento que só não foram entregues porque são projetos de longo prazo. Ele justifica os atrasos citando greves de operários, problemas na emissão de licença ambiental pela Prefeitura de São Paulo e questões técnicas e geológicas nas escavações.

O setor metroferroviário paulista também pode ser vidraça por causa das denúncias sobre o cartel de trens que atuou no Estado durante os governos tucanos. O Ministério Público aponta acertos entre empresas que teriam causado danos milionários aos cofres públicos paulistas. Também acusa altos funcionários das estatais responsáveis pelos serviços de receber propinas das multinacionais.

Dois ex-secretários de Alckmin, Rodrigo Garcia e José Aníbal, são investigados sob suspeita de envolvimento com o cartel. Ambos negam veementemente qualquer ligação com o esquema de acertos. Alckmin afirma que o governo tomou todas as providências para lidar com o caso, pedindo punição das empresas na Justiça e realizando investigações internas para apurar envolvimento de funcionários públicos.

Disputa paralela. A disputa pela vaga que cabe a São Paulo no Senado Federal promete ser tão acirrada quanto pelo comando do Palácio dos Bandeirantes. De um lado Eduardo Suplicy, petista que está há três mandatos consecutivos no cargo, desde 1990. De outro, Serra, ex-prefeito da capital e ex-governador do Estado.

Há ainda um terceiro nome com potencial de competitividade, o ex-prefeito Gilberto Kassab (PSD). Kassab só se lançou ao Senado porque achava que Serra, seu padrinho político – foi vice do tucano no município –, não iria disputar a cadeira. Serra, porém, decidiu na última hora buscar a vaga que hoje é de Suplicy após ter sinalizado que seria candidato à Câmara dos Deputados. Mesmo pressionado por ver um aliado como futuro adversário, Kassab, que diz ter sido pego de surpresa, decidiu se manter no páreo.

A situação de Kassab retrata, de certa forma, a confusão de alianças que costuma marcar as eleições brasileiras. Ele é aliado de Serra, que será seu rival. Seu partido, o PSD, é aliado de Dilma no plano federal, e de Skaf, adversário dos petistas paulistas, no plano estadual. Resta saber para quem ele vai pedir voto.

O centro nervoso dos atos de junho

- O Estado de S. Paulo

Uma sequência de passeatas de protesto – contra o aumento das tarifas de transporte, a má qualidade dos serviços públicos e a corrupção na política – tomou as ruas de São Paulo nos primeiros dias de junho do ano passado. Inspiradas principalmente pelo Movimento Passe Livre, que se insurgia contra o aumento de R$ 3 para R$ 3,20 nas passagens do transporte público, multidões lotaram as ruas da capital, com faixas e palavras de ordem.

Iniciados no dia 6 daquele mês, esses protestos se repetiram nos dias seguintes. A reação violenta da tropa de choque da Polícia Militar na Rua da Consolação, na região central, aos manifestantes que partiram do Teatro Municipal em direção à Avenida Paulista no dia 13, uma quinta-feira, teve efeito contrário ao esperado pelas autoridades: deu mais força ao movimento.

No conflito, além de integrantes do protesto, ficaram feridos jornalistas e repórteres fotográficos que foram atingidos por balas de borracha. A resposta veio na segunda-feira seguinte, dia 17. Concentrada inicialmente no Largo da Batata, em Pinheiros, zona oeste, a manifestação teve a adesão de milhares de pessoas até então não envolvidas nos protestos. O fenômeno espalhou-se pelo País. O clima e a situação dos políticos já não eram mais os mesmos.

Veterano do poder na hora mais difícil

- O Estado de S. Paulo

Os 20 anos que o PSDB já somou no comando do governo de São Paulo, nove foram sob a gestão de Geraldo Alckmin. Hoje candidato à reeleição, o governador poderá totalizar 13 anos no poder se conseguir vencer o que operadores tucanos definem como a campanha “mais difícil” do partido no Estado.

O principal desafio a ser vencido pelo governador na campanha deste ano será o de superar o próprio modelo de gestão, colocado em xeque após os protestos de junho de 2013, quando Alckmin viu sua popularidade cair em meio a abusos da Polícia Militar nas ruas de São Paulo contra manifestantes e jornalistas. A vacina contra eventuais ataques dos adversários tem uma fórmula simples: explorar o alegado perfil de bom gestor do tucano. Habituado a começar bem cedo o trabalho, a cada dia, Alckmin também costuma varar madrugadas em serviço por toda a semana, sustentado a intermináveis goles de café.

Apesar de chegar à campanha com um mandato fragilizado pela crise no abastecimento de água na região metropolitana de São Paulo, e também pelas denúncias de formação de cartel no setor metroferroviário, o tucano ainda lidera as pesquisas de intenção de voto.“Alckmin tem uma capacidade de trabalho invejável. Ele não se deixa levar pelo mau humor ou pela pressão. Está sendo equilibradíssimo”, garante o presidente do PSDB paulista, deputado Duarte Nogueira, sempre ao seu redor. “Ele demonstra autoridade sem autoritarismo no que diz respeito aos temas de alta pressão que enfrentou no mandato.”

Durante seus compromissos, o governador consegue ser paciente – atende, invariavelmente, a todos os eleitores que lhe pedem um abraço ou uma foto. Houve ocasiões, como no ano passado, em que ele fez questão de posar para as câmeras, passando, uma a uma, por todas as mesas de um jantar promovido por sindicalistas em São Paulo.

Além disso, raras foram as vezes em que Alckmin perdeu a chance de contar suas piadas, que ia distribuindo em meio a discursos, coletivas de imprensa ou mesmo nas rodas de conversa com assessores e amigos enquanto toma o cafezinho, geralmente em alguma padaria próxima aos locais dos eventos de que participa.

Isolado no Palácio. Parte dos integrantes do PSDB se sente alheia à construção da candidatura do governador à reeleição. Reservadamente, reclama que o governador se encastelou no Palácio dos Bandeirantes, fortim a partir do qual toma todas as decisões consultando apenas uma equipe com pessoas de sua confiança. Dentro de seus domínios, Alckmin tem o respeito professoral dos secretários que formam o primeiro escalão do governo.

Antes de se tornar prefeito de Pindamonhangaba, seu reduto eleitoral no Vale do Paraíba, o tucano se elegeu vereador em 1972, aos 19 anos, graças às suas aulas de química dadas a alunos de um cursinho da cidade, onde nasceu. Alckmin é formado em medicina, com especialidade em anestesia, pela Universidade de Taubaté.

Vice-governador de Mário Covas, assumindo o governo permanentemente após a morte dele, em março de 2001, o tucano foi reeleito no ano seguinte e ganhou novo mandato nas eleições de 2010. Alckmin também já concorreu à Presidência da República, em 2006, mas foi derrotado no segundo turno pelo então presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Em 2008, disputou a Prefeitura da capital paulista, mas, de candidato favorito, acabou perdendo ainda no primeiro turno.

O preço das alianças

• "As manifestações de junho expõem a profunda insatisfação da população com o sistema político. Isso não é passageiro"

• "O magnetismo que o governo do PT exercia sobre os partidos diminuiu. Governos muito longos são desgastantes"

Diego Viana - Valor Econômico

SÃO PAULO - No contexto de uma eleição marcada pela insatisfação popular com a representação política, um dos fenômenos políticos mais importantes é a ascensão do Partido Socialista Brasileiro (PSB) ao ponto de se qualificar, em princípio, para disputar uma vaga no segundo turno e alterar a correlação de forças políticas no Brasil. É a opinião do cientista político Leonardo Avritzer, professor da Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e presidente da Associação Brasileira de Ciência Política.

Para Avritzer, a presença da aliança entre Eduardo Campos (PSB) e Marina Silva no pleito soma-se a outros fatores significativos para os resultados da eleição de outubro, como o desgaste dos 12 anos de governo petista, que começa a desfazer a ampla aliança da eleição de 2010, e o desafio que o candidato tucano, o senador mineiro Aécio Neves, enfrenta para nacionalizar uma liderança ainda estadual.

Ao fim de um período em que um possível fracasso da organização da Copa do Mundo, incluídas as obras de infraestrutura, era um assunto de temores públicos e debates políticos, a conclusão do torneio abre as portas para o período eleitoral. Embora a questão da Copa tenha sido politizada tanto pelo governo quanto pela oposição, Avritzer entende que ambos erraram, ao não perceber que o tema dizia respeito a um compromisso não do governo, mas do país.

Leia a seguir os principais trechos da entrevista com o cientista político, que analisa o possível impacto da recente ascensão do PSB sobre o quadro eleitoral, a relação das manifestações de rua com o sistema político e os possíveis cenários para a disputa de outubro.

Valor: O governo trata o fato de não ter havido o caos anunciado para a Copa como grande ativo político, porque a oposição teria apostado nesse caos. A ausência de caos é trunfo político?

Leonardo Avritzer Quando o Brasil assumiu o compromisso de realizar a Copa, foi um compromisso administrativo importante para um país que, dentre os principais países em desenvolvimento, tem a pior infraestrutura. À medida que as obras foram atrasando, parecia que o governo ia descumprir amplamente um compromisso internacional, o que o desgastaria. Isso significaria, talvez, algum ganho para a oposição. Nenhuma das duas coisas se confirmou e acho que tanto o governo quanto a oposição erraram. O governo errou por gerir de forma deficiente as obras. A oposição errou por achar que esse era um compromisso do governo, quando era um compromisso do país.

Valor: A ampla aliança de 2010 que elegeu Dilma Rousseff está fora de cogitação para 2014, com a saída do PSB e do PTB, e uma série de palanques locais se afastando do PT. Aécio Neves chegou a sugerir que esses partidos "sugassem" o máximo antes de mudar de lado. Em que medida isso pode ser decisivo?

Avritzer: Neste presidencialismo de coalizão fragmentado, fazer alianças é bom e ruim. É bom porque é difícil governar sem maioria no Congresso. Mas o preço dessa maioria é ruim para o país. Sabemos quais são os partidos ligados às falhas nas obras de infraestrutura para a Copa, por exemplo. Não é bom ter alianças tão amplas, mas elas garantem tempo na TV e uma certa governabilidade. É infeliz a frase de Aécio. O "sugar" não diz respeito ao governo, é sugar o país. O preço das alianças amplas é a ineficiência da máquina pública. Se for eleito, é Aécio quem vai ter que lidar com esse problema. Uma das grandes dificuldades do país é um centro apolítico fisiológico representado por alguns partidos. Vamos pensar nos ministérios de que esses partidos gostam, como Transportes. O PR é "especializado" nesse ministério. São concessões de rodovias e coisas muito importantes para o país. A melhoria do corredor de exportação da soja, por exemplo. Esse "sugar" significa problemas na gestão da economia.

Valor: O PT, em 2010, parecia ser um grande ímã de alianças, mas essa fratura parece indicar que a força de atração diminuiu. O que houve?

Avritzer: O magnetismo que o governo do PT exercia sobre os partidos diminuiu nesses últimos 12 a 18 meses. A teoria da democracia diz que governos muito longos são desgastantes. O revezamento no poder exerce um equilíbrio sobre os vícios que o poder provoca. No caso do PT, há desgastes, seja na organização da máquina pública e dos ministérios, seja na relação com os partidos. Que partidos estão saindo? Alguns grupos estão entre os mais fisiológicos da política brasileira. A saída não é necessariamente ruim para a aliança governista. Pode trazer um pouco de coerência.

Valor: O PSB lançou Eduardo Campos candidato a presidente. Ele é um candidato forte para chegar ao segundo turno?

Avritzer: Ele está procurando uma posição num sistema muito polarizado, que não o favorece. O apoio a Lindbergh [Farias, do Partido dos Trabalhadores] no Rio faz sentido em sua trajetória política, mais do que a aliança com [o governador tucano Geraldo] Alckmin em São Paulo. Mas o problema central de Campos é que é muito difícil chegar ao segundo turno sem um apoio significativo em São Paulo. Marina Silva ajuda ou atrapalha? É cedo para dizer. Ele é pouco conhecido da população e a aliança com Marina também. Talvez o fenômeno partidário mais relevante no Brasil seja o crescimento do PSB. Desde 1994, consolidamos um sistema de dois grandes partidos que governam e dois grandes partidos que os auxiliam a governar. O PSB, dependendo de seu desempenho, pode ser uma novidade.

Valor: Se o PSB chegar ao segundo turno, deixando de fora o PSDB, será a primeira vez, desde 1994, que o PSDB não estará nessa fase da eleição. A novidade poderá ter consequências na política brasileira?

Avritzer: Para muitos cientistas políticos, o sistema democrático só é consolidado quando os mesmos partidos disputam o poder. Tenho dúvidas. A Espanha, por exemplo, está numa crise política e econômica profunda. E está surgindo um novo partido. Isso tem a ver com a insatisfação da população. No Brasil, uma parcela da população não está satisfeita com a polarização entre PT e PSDB. Um possível crescimento de Campos pode estar relacionado a isso. Seria uma novidade decisiva. O centramento em dois grandes atores gera uma previsibilidade necessária no sistema político. Os atores econômicos pedem isso. Mas não acho que o PSB esteja muito fora daquilo que se espera, seja pelos atores sociais, seja pelos econômicos.

Valor: O senhor escreveu em artigo que tornar-se conhecido fora de Minas Gerais é um grande desafio para Aécio Neves. Como lhe parece o senador como candidato que enfrenta uma máquina poderosa como a do PT?

Avritzer: Esta eleição é decisiva para ele. Ou ele se dá muito bem, não necessariamente ganhando, ou dificilmente vai manter uma liderança nacional. Os mineiros gostam de Aécio. Não está claro que gostem dos governos do PSDB. Existe um diferencial entre apoio político a Aécio e apoio a candidatos do espectro político ao qual ele pertence. É muito significativo esse diferencial. É difícil saber se ele vai conseguir nacionalizar a liderança local. É um desafio importante em São Paulo, dados os conflitos com [José] Serra e Alckmin. Ele tem características que não parecem se adequar ao eleitorado paulista, que é conservador nos hábitos morais. Outro problema é que ele não consegue ser uma liderança forte no Senado. O PSDB tem líderes mais importantes que ele no Senado, como Álvaro Dias.

Valor: Marina Silva foi o grande fenômeno de 2010. Depois desses quatro anos, pode-se dizer que ela soube aproveitar o impulso das urnas?

Avritzer: Marina enfrentou um problema comum na política, ao qual parece ter dado uma solução ruim: a diferença entre sua popularidade pessoal e a capacidade de transformá-la em estrutura organizacional competitiva. Recorrer à aliança com Campos colocou outros problemas para ela, problemas de coerência política. Ele tem uma política desenvolvimentista, que frequentemente não atenta para o meio ambiente. Seja sob o ponto de vista organizacional, seja do ponto de vista do campo político a que ela quer pertencer, a liderança de Marina Silva tem problemas hoje.

Valor: A aposentadoria de Sarney, anunciada na última semana, pode ser lida como uma página que se vira na política brasileira?

Avritzer: Desde a redemocratização, temos renovações importantes na política brasileira, como o crescimento do PSDB e do PT. Mas temos fortes continuidades, especialmente no campo do PMDB. Dentre elas, Sarney é uma das principais, com Renan Calheiros e outros. É um estilo de fazer política no Brasil que persiste. Alguns Estados ainda são muito clientelistas, outros menos. São máquinas políticas aliadas à mídia, especialmente à televisão. Essa concepção de fazer política está sob ataque no país, mas ainda não foi derrotada. A aposentadoria de Sarney está mais ligada à idade do que à decadência da liderança de seu grupo no Maranhão. É um grupo desafiado, existe mais oposição a ele hoje do que no passado, mas essas estruturas construídas na democratização, em torno de fortes alianças políticas e meios de comunicação, continuam vivas.

Valor: Com a burocratização, a aliança com o agronegócio e o apoio à repressão policial, os movimentos sociais e a esquerda militante, das ruas, sentiram-se alienados do PT, tratando-o por "ex-querda". Isso pode comprometer o partido?

Avritzer: Talvez o fato que melhor simbolize esse afastamento seja a saída da Marina Silva. Ela é claramente uma personificação dessa relação: líder ambientalista, que trouxe lideranças de movimentos sociais da Amazônia para o governo. Hoje, há dissensões no meio ambiente, na política indígena, nas políticas urbanas. Mas o afastamento é relativo. Ninguém ocupou esse espaço. Esses movimentos não são eleitoralmente significativos, mas são muito significativos do ponto de vista do espírito da opinião pública. Até o sentimento anti-Copa teve ligação com eles. Essa é uma questão para o PT: como retomar uma relação que foi positiva num período histórico muito significativo.

Valor: Caso o PT perca a eleição: o que acontece com um partido que passou a maior parte de sua história como oposição, foi governo, compôs com forças às quais tinha se oposto renhidamente, desenvolveu uma máquina eleitoral forte, afastou-se das bases sociais e voltou a ser oposição?

Avritzer: Certamente, implicaria muitas mudanças. Mas o PT tem tanto bases sociais fortes quanto capacidade de adaptação ao governo. Continuou fazendo convenções, continuou fazendo eleições internas diretas. Adaptou-se ao poder, é inegável, levando um conjunto de militantes para as estruturas do Estado. Talvez o lugar em que mais se adaptou tenha sido a estrutura parlamentar. De 2002 para cá, o perfil dos parlamentares do PT mudou muito. Eles se tornaram mais influentes. O PT faria o chamado "aggiornamento", a atualização da identidade partidária. Vai ter que readequar sua relação com as bases que deixou de lado. Vai ser um pouco menos governo, menos Estado, e um pouco mais movimentos sociais. Todos os partidos com origem em movimentos sociais fazem isso. O PSOE, na Espanha, o PS francês, o Bloco de Esquerda em Portugal.

Valor: Outra aposta é que a chamada classe C pode ser um fiel da balança na eleição, dependendo do que decidir: se continua apoiando as políticas às quais se atribui sua ascensão social ou se fica mais conservadora.

Avritzer: A ideia de que classes ascendentes se tornam conservadoras pode estar correta em relação à direção, mas esperar que isso se manifeste rapidamente é um equívoco. O melhor exemplo é a classe média que Roosevelt criou nos EUA dos anos 30. Ela foi votar nos republicanos nos anos 80, com Reagan. É um longo processo. Mesmo no caso dos EUA, até hoje eles são chamados de "swing voters", porque voltaram aos democratas com Clinton. Talvez essa seja a vocação da classe C. A principal preocupação dessas pessoas, hoje, é continuar sendo classe média.

Valor: Os protestos que começaram em 2013 deixaram marcas visíveis no sistema político?

Avritzer: As manifestações de junho expõem a profunda insatisfação da população com o sistema político. Isso não é passageiro. É uma característica estrutural da opinião pública que está se formando no país, que não se identifica com os partidos, é crítica do Congresso e acha, com razão, que a corrupção não é punida e o estrato político é privilegiado. Também já passou o tempo em que, no Brasil, o acesso a serviços públicos era a grande reivindicação. Não se trata mais de acesso. A questão, hoje, é a qualidade dos serviços. Essas questões estão aí para ficar e vão exigir que o sistema político as trate com seriedade. Acho decisivo, também, fazer uma reforma política. Quase um quarto dos senadores são suplentes que não foram eleitos. O sistema de financiamento entre grandes empresas e sistema político quase não tem controle. A política precisa se adaptar à nova sociedade que o Brasil já é, com mais informação e menos desigualdade.

Merval Pereira: Trégua da Copa

- O Globo

Mesmo sendo o Brasil “o país do futebol”, os resultados das Copas do Mundo nunca influenciaram as eleições para presidente da República, que de quatro em quatro anos coincidem com os campeonatos desde 1994. Sendo este ano realizado no Brasil, sabia-se que, desta vez, seria um pouco diferente, pelo impacto do resultado dos jogos no ânimo dos brasileiros, e também pela organização do campeonato em si.

A presidente Dilma lançou equivocadamente um slogan, “a Copa das Copas”, como se o governo tivesse o condão de transformar pela propaganda a competição em mais uma realização petista. Mesmo sendo evidente que, se dentro do campo os muitos gols e partidas emocionantes podem transformá-la numa das melhores Copas já disputadas, fora dos estádios o que justificaria o epíteto nada tem a ver com o governo: a simpatia do povo brasileiro, a alegria dos estrangeiros pelas praias ensolaradas, a comemoração pelas ruas do país numa confraternização que é característica do brasileiro.

Não será a Copa das Copas pela organização, nem pelos estádios, embora tudo tenha funcionado a contento dentro de um esforço extraordinário de segurança que transformou os arredores dos estádios e as principais vias das sedes em verdadeiras praças de guerra.

Melhor assim do que o contrário, mas o funcionamento do que era falho só foi razoável porque saímos da normalidade, e isso muito se deve às críticas quanto aos atrasos e ao desleixo com que a organização da Copa foi tratada pelos governantes.

Depois da democratização, não houve governo que quisesse se aproveitar das campanhas da seleção para ganhar popularidade. Durante a ditadura militar, sim, governos tentaram interferir até mesmo na escalação da seleção. A vontade do então presidente Médici de escalar Dario na seleção de Saldanha é uma das versões que persistem sobre a Copa de 1970, que teve no México uma atuação perfeita para trazer o tri sob o comando de Zagallo.

Desgastes diversos, com autoridades e jornalistas, e sua ligação com o Partido Comunista Brasileiro levaram Saldanha a ter que deixar o comando da seleção. Também é conhecida a tentativa, no governo Geisel, de convencer Pelé a voltar à seleção em 1974, o que ele rejeitou sabiamente.

Os governos do PT montaram a Copa do Mundo no Brasil com um olho na popularidade e outro na eleição deste ano. O que deveria ser a apoteose de um projeto iniciado há sete anos, quando a Fifa escolheu o país do futebol para sediar a Copa, transformou- se em um pesadelo para o governo e para a Fifa enquanto a bola não rolava, e mostrou que o povo brasileiro não é exatamente o que pensavam que era: acrítico diante da possibilidade de ver os principais craques do mundo da bola ao vivo em suntuosos
estádios.

O povo brasileiro vai dando um exemplo de como é possível separar as coisas sem perder a naturalidade. Adora futebol, está apoiando a seleção brasileira, mas nada indica que tenha ânimo de esquecer seus problemas apenas por causa do futebol.

Por isso, o governo volta a cometer um erro primário se interpretar a pausa que a Copa está dando aos brasileiros, que resultou no desanuviamento do ambiente político, como sinal de que os problemas da vida real estão superados. Tudo indica que, passada a trégua proporcionada pela festa do futebol, qualquer tentativa de usar o patriotismo inerente ao povo brasileiro em galardão político pode ser rechaçada pela população.

A pesquisa Datafolha que recolocou a presidente Dilma no patamar que todas as demais pesquisas lhe dão, entre 38% e 40%, demonstra a resiliência de sua candidatura, sinal de que, especialmente no Nordeste, a máquina partidária e de propaganda do governo tem condições de mantê-la como favorita mesmo em situações adversas, como a que vivemos na economia nos últimos quatro anos.

A partir de agora, a propaganda oficial está proibida, e o noticiário político terá que tratar igualmente os candidatos, o que dará mais espaço aos de oposição e reduzirá a exposição da presidente, que busca a reeleição. A gordura que ela conservou durante os primeiros meses de campanha ainda é suficiente para colocá-la em posição de liderança na corrida sucessória, mas, depois da efêmera pacificação que a Copa está dando ao ambiente político, a realidade do dia a dia voltará a ser encarada pelo eleitorado.

Fernando Rodrigues: Copa e largada eleitoral

-Folha de S. Paulo

A seleção brasileira de futebol venceu por 2 a 1 nesta sexta-feira (4) a da Colômbia. Prolonga-se a sensação de alegria geral. Mas mesmo que o resultado tivesse sido adverso, a festa só duraria um pouco mais. No domingo, dia 13, será disputada a partida final do torneio.

Depois de um pouco de festa, sempre haverá uma certa ressaca, com ou sem o título. Milhares de estrangeiros vão embora. Acabam os dias de semiferiado para assistir aos jogos. As partidas do Campeonato Brasileiro voltarão a ter estádios vazios e futebol sofrível. E começa para valer a campanha eleitoral.

A linha de largada da corrida presidencial oferece algumas pistas sobre o que pode acontecer. Sobretudo porque o Brasil já acumula várias eleições e um histórico democrático que permite comparações.

Hoje, neste início de julho, Dilma Rousseff (PT) tem 38%. Aécio Neves (PSDB) pontua 20%. Eduardo Campos (PSB) está em 9%.

A líder Dilma está agora no patamar em que esteve Fernando Henrique Cardoso (PSDB) neste mesmo mês em 1998, quando tinha 40% e ganhou a reeleição. Em julho de 2002, Luiz Inácio Lula da Silva (PT) registrava 38%, no início de sua primeira caminhada vitoriosa ao Planalto. A própria Dilma, há quatro anos, em 2010, marcava 38%.

O oposicionista Aécio está no limite mínimo de outros segundos colocados nesta fase do ciclo eleitoral. Vários concorrentes em disputas passadas já conseguiam colocações melhores a esta altura. O tucano pode sempre se comparar a FHC em 1994 --que em julho daquele ano tinha 21% contra 38% de Lula, mas acabou virando o jogo e vencendo.

Só que o Brasil em 1994 era outro. FHC encarnava o Plano Real. Dizimou a oposição petista em menos de 60 dias. Não está claro qual poderia ser o fato que Aécio criaria agora para ser o seu "Plano Real".

Sem medidas de impacto, as eleições se tornam mais previsíveis.

Miguel Reale Júnior*: Cristianização

- O Estado de S. Paulo

As múltiplas composições eleitorais só podem deixar perplexo o eleitor, que se surpreende com junções nunca dantes imaginadas, contestadas mesmo por seus atores até a undécima hora, ou defecções que contrariam neste ou naquele Estado a linha adotada pelo partido no plano nacional.

Assustadoramente, em bom estilo do PCC, político comandou de dentro do presídio o caminho a ser seguido por seu partido, o PR, impondo à presidente da República a destituição de um seu ministro, que cometera o pecado mortal de não atender parlamentares da sigla. Feita a vontade do mensaleiro, o PR decidiu apoiar oficialmente a reeleição da presidente. Esse fato demonstra o terreno pantanoso em que se arrima a nossa democracia.

De outra parte, há imperativos de ordem pessoal ou busca de sintonia com o eleitorado, cuja tendência orienta os candidatos a deputado e a governador, que se sobrepõem aos compromissos oficiais firmados pelos partidos. A história de nossa vida política bem revela como essas preferências pessoais e de conveniência eleitoral pesam muito mais do que a adoção de uma candidatura em convenção nacional do partido.

Em 1950 Getúlio Vargas, candidato dos trabalhadores pelo PTB, recebeu o apoio concreto do PSD, partido de centro-direita, que abandonou no correr da disputa o seu candidato a presidente, Cristiano Machado, orientando firmemente a vontade eleitoral em favor do antigo ditador. Nasce daí o termo "cristianização", que significa a crucificação de um candidato por seus correligionários.

Em janeiro de 1985 Paulo Maluf foi derrotado no colégio eleitoral, apesar de ser o candidato (a presidente da República) do partido majoritário, base política do regime militar, o PDS, sucessor da Arena, em vista de defecções em favor do candidato do partido de oposição à ditadura, o PMDB. Tancredo Neves, na eleição indireta então existente, no mesmo colégio eleitoral, órgão composto por parlamentares federais e representantes de Assembleias Legislativas, ganhou com os votos do partido adversário, inclusive tendo por candidato a vice um recém-egresso da presidência do PDS, o sempre presente José Sarney.

Chegou-se a discutir, à época, se caberia ao PDS fixar como questão fechada, a ser seguida por seus membros, o voto obrigatório no candidato do partido na eleição pelo colégio eleitoral, sob pena de, em caso de desrespeito, exclusão da legenda, por infidelidade. Ponderou-se, então, que questão fechada apenas teria lugar no Congresso Nacional, e não no colégio eleitoral. Era uma importante questiúncula, que foi básica para Paulo Maluf ser cristianizado. A consagração de Maluf na convenção como candidato do seu partido a presidente não resistiu aos ares da redemocratização.

Malgrado ter, em convenção nacional, reafirmado o apoio oficial à reeleição da presidente Dilma Rousseff e ocupar na chapa o cargo de vice-presidente, em vários Estados, especialmente do Nordeste, o PMDB vai cristianizando a sua candidata. Como explicar tal fenômeno?

Primeiramente, é fato notório não ter existido de 1946 a esta parte vida partidária consistente na política brasileira. Em 1965, após o golpe, ainda permaneciam existindo 13 partidos que haviam, nos anos 60, começado a consolidar-se, tais como o PSD, o PTB, a UDN, o PSP, o PDC, quando o Ato Institucional n.º 2 os dissolveu, formando forçosamente dois partidos, Arena e MDB.

A reunião imposta de diversas linhas dentro de um mesmo partido não resistiu à realidade, criando-se, então, o subterfúgio das sublegendas. As conveniências pessoais ditaram o surgimento de partidos dentro dos partidos.

Além da falta de tradição partidária, é necessário reconhecer formarem-se as opções eleitorais em vista de idiossincrasias e disputas locais, constituindo estas imperativos enfraquecedores das orientações emanadas pela cúpula. Assim, o PMDB começou o processo de "cristianização" de Dilma. Seja porque os ventos apontam no sentido contrário à sua candidatura, cuja rejeição não se limita à elite branca, como no primeiro momento o guru Lula explorara, seja por dificuldades de convivência ou mesmo conflitos entre as siglas PT e PMDB em muitos municípios cujos líderes políticos, prefeitos e deputados, no dia a dia vão propagar apoio a candidatos de oposição.

Essa é a situação no Rio de Janeiro, onde o candidato do PMDB ao governo chegou a dizer que seu palanque abrigaria Dilma, Aécio Neves e o pastor Everaldo. Cobrado por Gilberto Carvalho, Pezão voltou atrás ao declarar apoio a Dilma. Prevalecerá, contudo, o Aezão, união entre Aécio e Pezão, pois assim vão agir, como se noticia, prefeitos e deputados.

No Ceará o PMDB, com seu candidato ao governo, Eunício de Oliveira, firmou acordo com o PSDB e compôs, conjuntamente com o DEM, chapa única para governador, vice e senador. O palanque do PMDB no Ceará será de Aécio. O mesmo sucederá na Bahia, em coligação na qual o candidato ao governo será do DEM, o vice, do PSDB e ao Senado, do PMDB, com palanque aberto para Aécio.

O que sucede com o PMDB ocorre igualmente com o PP, cuja Executiva, em reunião fechada, decidiu consagrar apoio à candidatura de Dilma, mas essa posição foi fortemente contestada na base partidária, especialmente nos Estados de Minas Gerais e Rio Grande do Sul.

Destarte, o já conhecido processo de cristianização só tende a aumentar graças a um conjunto de fatores: a antipatia gerada pela figura presidencial; a marca da corrupção; os rumos desfavoráveis da economia; as posições contrárias, por razões múltiplas, à presidente em diversos Estados, pelos membros de partidos oficialmente apoiadores da reeleição.

Resta esperar que os candidatos da oposição não se limitem a usufruir a rejeição crescente à presidente, pois devem trazer o alento de novos tempos com propostas concretas de reorganização econômica e política, sem o que teremos mais do mesmo, sob outra etiqueta.

*Advogado, professor titular aposentado da Faculdade de Direito da USP, membro da Academia Paulista de Letras, foi ministro da Justiça

*Cláudio Couto: A erosão do núcleo duro

O Estado de S. Paulo

Nos últimos dias, muito se falou da recuperação da presidente Dilma Rousseff na pesquisa Datafolha. Após meses de queda contínua, a candidata à reeleição recobrou quatro pontos porcentuais (acima, portanto, da margem de erro), acompanhada de modo menos destacado por seus principais oponentes - Aécio Neves e Eduardo Campos. Até o liliputiano José Maria (PSTU) oscilou positivamente.

As intenções de voto que causaram esse crescimento generalizado provieram principalmente dos eleitores antes sem candidato. Esses eram 30% no início de junho, declinando para 24% agora. Contudo, como o crescimento de todos os postulantes somou 11%, há uma diferença de 5% difícil de se explicar graças aos arredondamentos.

Apesar da discrepância, que mereceria mais esclarecimentos, a pesquisa parece detectar uma alteração no cenário eleitoral, apontada pela maioria dos analistas como decorrente da mudança nas percepções sobre a Copa do Mundo. Virou sucesso o que antes era amplamente anunciado como fiasco certo. E como há poucas coisas capazes de criar tanto contentamento quanto um desfecho feliz para o que prometia ser um desastre, temos aí uma boa explicação para a mudança do humor popular.

O problema é que o mau humor social não parece advir unicamente de expectativas e avaliações sobre a Copa. Ele vem de um paulatino aumento de insatisfação que não apenas recrudesceu após junho de 2013, mas possibilitou junho de 2013. Para isto, talvez sejam mais reveladores alguns dados da pesquisa CNI-Ibope de meados de junho último. Mais que as apreciações genéricas sobre a presidente e seu governo, chamam a atenção ali percepções sobre certas áreas de políticas públicas. Em todas há um claro declínio da satisfação popular.

No caso da educação, até junho de 2013 a desaprovação era preponderante, mas em patamar próximo à aprovação - enquanto a primeira ficava sempre pouco acima dos 50%, a segunda ficava sempre um pouco abaixo. Com o tempo, a "boca" do gráfico foi se abrindo e hoje verificamos uma desaprovação que beira os 70%, contra 30% de aprovação. Já no caso da saúde, da segurança pública e dos impostos, o cenário é algo distinto, pois embora os patamares de desaprovação tenham crescido e sejam maiores que os da educação, eles já eram significativamente maiores. Assim, para estas áreas a avaliação piorou, mas não mudou de natureza.

Houve também piora da apreciação de aspectos centrais da gestão macroeconômica, como combate à inflação e política de juros. Depois de um momento bastante alentador para o governo, em 2012, a "boca" do gráfico se abriu, com a desaprovação ultrapassando os 70% em ambos os casos. Talvez resida exatamente aí, na inflação (nem tão alta, mas persistente), a explicação principal para a difusão social do mau humor.

Os dados mais impressionantes, contudo, vêm das percepções populares sobre duas áreas que foram os grandes trunfos dos governos petistas desde meados da década passada: os combates à fome e à pobreza, bem como ao desemprego. No caso da primeira política, o declínio das apreciações ao seu respeito se iniciou justamente em junho de 2013, sendo que desde março de 2014 temos uma avaliação negativa que supera a aprovação - hoje, por uma margem de 12%. Já no caso da segunda, apesar dos níveis recorde de emprego, a reprovação supera a aprovação desde setembro - hoje, por uma margem de 20%.

Quando as percepções populares sobre um governo começam a erodir justamente no que pode ser considerado seu núcleo distintivo, há motivos para que ele se preocupe e seus adversários se animem. Há mais coisas envolvidas numa eleição - como as articulações regionais, por exemplo -, mas é na aprovação a políticas sensíveis que lhe distinguem que um governo se faz. E se desfaz.

Zuenir Ventura: O risco do palpite errado

- O Globo

• Imagina depois da Copa. O que fazer sem esse ópio do povo, como se dizia antigamente? A overdose já está me levando a misturar times e partidas

Oproblema de escrever antes do jogo, como estou fazendo agora, é que tudo pode ser desmentido ou ultrapassado quando for lido amanhã (hoje, para o leitor). Então por que escreve? Por que não trata de outro assunto? É simples, é porque não consigo prestar atenção em mais nada, a não ser na Copa. Nesses dois últimos dias, experimentei a tal da síndrome de abstinência pela suspensão brusca do consumo de jogos. Imagina depois da Copa.

O que fazer sem esse ópio do povo, como se dizia antigamente? A overdose já está me levando a misturar times e partidas. Não sei mais quem venceu quem nem quem foi para os pênaltis além do Brasil. Para não cometer gafes, arriscando palpite errado ou análise furada, vou me ater a questões que dominaram o noticiário da semana. Uma é tática.

Depois do último jogo, houve consenso entre os colunistas esportivos de que a má atuação do nosso time era devida principalmente à falta de um meio-campo capaz de juntar defesa e ataque.

Daí aqueles chutões sem rumo, o curto-circuito na ligação direta, as saídas frustradas, a ausência de um armador de jogadas. Como eram observações de profissionais especializados, alguns com mais tempo de ofício do que Felipão de treinador, eu me perguntava: será que só ele não vê isso? Espero que finalmente ele, teimoso, tenha considerado as críticas.

A outra questão importante é de ordem psicológica. Trata-se das discutíveis condições emocionais da equipe, em consequência da pressão criada pelo próprio Scolari, com aquele discurso ufanista de que o Brasil era o melhor e tinha que ser campeão. Isso pesou de forma dramática nas costas dos jogadores, provocando em alguns uma crise de choro na hora da decisão contra o Chile, o que teria motivado um chamado de urgência da psicóloga Regina Brandão. Parecia então que um bom desempenho da equipe ia depender da terapeuta.

Na entrevista coletiva dada junto com Thiago Silva, o treinador desmentiu, indignado, essa versão e disse que ela sempre acompanha a seleção e que as conversas havidas estavam previamente combinadas. Aí aconteceu uma coisa curiosa. Dos dois entrevistados, o mais sereno e equilibrado foi o jogador, tão criticado por seu suposto desequilíbrio emocional na hora dos pênaltis. Ele considerou o choro natural e explicou:

“Eu me entrego de corpo e alma.” Já o treinador, impaciente, irritadiço, demonstrou seu estado de espírito ao mandar “pro inferno” quem não gosta de seu estilo.

Para mim, daqui a pouco vai começar o jogo que vocês já viram. Tomara que as questões apresentadas tenham sido superadas pela vitória que a pátria sem chuteiras tanto esperava.

*Washington Novaes: Lentes do futuro apontam sombras

- O Estado de S. Paulo

Não é preciso ser profeta para antever a alta possibilidade de manifestações de descontentamento, protestos, até distúrbios, no País com o término da Copa do Mundo e a intensificação das campanhas eleitorais. Basta olhar o noticiário.

Pode-se começar pela inflação. O último relatório trimestral do Banco Central (BC) indica que este ano ela deve ficar em 6,4%, próxima do teto previsto pelo governo, 6,5% (Estado, 27/6). De março a junho subiu 0,3%. E ainda faltam seis meses até o fim do ano. Paralelamente, a dívida federal chegou (1.º/7) a um acumulado de R$ 2,052 trilhões (28/5) - equivale a 56,8% do produto interno bruto (PIB). O déficit nas transações externas já crescera em abril. Aumenta a participação do consumo interno nas importações, que foi de 22,5% nos primeiros meses do ano (17/5) - e talvez por isso diga o BC que "a alta nos preços de alimentos está se dissipando", o que poderia levar a uma baixa de preços no atacado (2/7). Mas na balança comercial, pela primeira vez desde 1980, o setor primário responde por mais de 50% das vendas ao exterior. A redução das exportações totais tem influência forte da Argentina em crise - menos 19,8% comprados do Brasil no primeiro semestre. Com isso a participação de manufaturados no comércio exterior baixou 10,2% e a de semimanufaturados, 8,1%.

O quadro social também é preocupante, com taxas de violência próximas de 30 por 1.000 habitantes (Correio Braziliense, 22/6), nada menos que 56,3 mil mortes em um ano. E 70% dos que deixam a prisão voltam ao crime, segundo artigo de Fernando Schüler, do Projeto Fronteiras do Pensamento (Aliás, 29/6). Temos perto de 100 milhões de processos em andamento (ou parados) na Justiça, mais de 700 mil pessoas encarceradas. E não se faz a tão pedida reforma do Judiciário.

É inacreditável que o País ainda tenha quase 50 milhões de pessoas em nível de pobreza ou miséria, incluindo os 40 milhões que se beneficiam do Bolsa Família, que incluiu 13,8 milhões de famílias e reduziu a extrema pobreza em 28% (O Globo, 16/10/2013). Mas a faixa da extrema pobreza abrange ainda 3,6% da população. E as desigualdades de renda no País são constrangedoras. Só 58% dos alunos matriculados concluem o ensino médio (Estado, 2/7) e 85% destes são dos segmentos de maior renda. E a maioria dos que abandonam a escola, entre 13 e 15 anos de idade, segundo análise do BID, o fazem porque "não acreditam que a educação vai lhes proporcionar mais qualidade de vida" (Estado, 2/7).

Embora os condutores de nossas macropolíticas só deem importância real a taxas de crescimento da economia - sem levar em conta fatores sociais, recursos naturais, serviços públicos, etc., que as reduziriam -, a previsão de economistas varia entre 0,8% e 1,9% do PIB em 2014. Segundo o ministro da Fazenda, esses índices baixos são culpa da seca, da inflação, da recuperação lenta da economia mundial, do baixo crescimento da Europa, da volatilidade cambial - nenhuma culpa nossa (Estado, 31/5), apesar de a revista britânica The Economist (13/6) dizer que passamos de Belíndia para Italordânia (mistura de Itália com Jordânia). O fato é que nossa indústria, tão acalentada pelos adoradores da economia, se reduziu em 0,9% no último trimestre, 1,4% no primeiro. A da construção civil reduziu sua participação no PIB em 0,9%. A melhor situação ficou nas Regiões Norte, Nordeste e Centro-Oeste (Estado, 29/6).

Segundo o Fundo Monetário Internacional (FMI), não teremos como fugir a "reformas estruturais" se quisermos continuar a crescer (13/6). Basta ver o nível de vendas de veículos nos seis primeiros meses do ano, que é o pior desde 2010 e com queda de 7,6% em relação ao primeiro semestre.

E tudo isso ocorre no 20.º aniversário do Plano Real, que ajudou a baixar a inflação de 2.477,1% em 1993 para menos de 6% (Estado, 2/7), da mesma forma que reduziu o desemprego, mas aumentou os impostos (de 25% para 35% do PIB). Ainda assim, economistas consultados pelo BC (Folha de S. Paulo, 29/6) acham que o aumento do PIB, de 1,6% este ano segundo cálculos governamentais (que chegou a falar em 6%), deverá ser de apenas 1,2%.

Não bastasse, autoridades insistem em velhos caminhos, como redução de impostos para setores como a indústria automobilística, sem sequer mencionar quanto o aumento do número de veículos nas ruas significa para os gigantescos problemas urbanos e para perdas não contabilizadas de tempo pelos usuários; 253 mil unidades foram vendidas em junho, quase 10% menos que em maio. E com tudo isso retornamos à antiga posição de o setor agropecuário ser o maior fator de crescimento econômico e de nos tornarmos importadores de cada vez mais produtos, principalmente da Ásia. E ainda sem levar em conta que a agropecuária, segundo estudo de Embrapa, Unicamp e WRI, está se tornando a principal fonte de emissão de poluentes.

Mas talvez o fator mais poderoso de inquietação seja a mais recente taxa de crescimento do emprego formal, a pior em 22 anos, com apenas 58,8 mil vagas criadas (Estado, 29/6), apesar de a taxa de desemprego ainda estar em 4,6%, o menor nível histórico (Folha, 29/6). Nesse quadro, quem ousa propor mudanças profundas em nossa sociedade?

Prestações de contas do Congresso querem fazer parecer que vivemos no melhor dos mundos. Mas os congressistas só trabalharão em quatro dias durante dois meses. Empreiteiras continuam a ser a maiores contribuintes de dinheiro para campanhas eleitorais.

"Não esperem nada do Congresso", diz o senador Pedro Simon, que está deixando a vida pública. "Vivemos uma crise de gestão", acrescenta o ministro Gilmar Mendes, do STF. Nossas instituições "estão num processo de erosão", segundo o recém-aposentado ministro Joaquim Barbosa. De onde virão soluções, se a sociedade não se organizar, não exigir a descentralização de tudo, sua participação em tudo na administração pública - é preciso insistir?

*Jornalista

Rolf Kuntz*: O antimilagre econômico do governo brasileiro

- O Estado de S. Paulo

Milagre econômico, no Brasil, na Alemanha ou no Japão, é só um exagero de linguagem, mas antimilagre é uma realidade inegável. Se alguém duvidar, examine os números da indústria, das contas externas, do investimento produtivo e do crescimento do produto interno bruto (PIB) nos últimos quatro anos. De janeiro a junho - só para citar um exemplo - a corrente de comércio foi 2,8% menor que a de um ano antes, com redução tanto das exportações quanto das importações. É um claro sintoma de graves desarranjos na economia. Na maior parte do mundo, governos comuns, sem talentos excepcionais e sem poderes mágicos, derrubam o crescimento para conter a inflação, fechar buracos nas contas externas ou controlar a dívida pública - muitas vezes para cuidar de todos esses problemas ao mesmo tempo. Essa política pode ser dolorosa, mas com frequência é inevitável. Numa exibição de virtudes extraordinárias, o governo da presidente Dilma Rousseff realizou a mágica oposta: reduziu o crescimento industrial, espalhou a insegurança entre empresários e consumidores e fez encolher o comércio exterior sem atacar um só desajuste fundamental. O desemprego medido pelo Pnad, 7,1% no primeiro trimestre, supera o de várias economias desenvolvidas. É como se o País sofresse os efeitos penosos de uma terapia severa - mas sem terapia.

Esse antimilagre se explica por uma combinação desastrosa de vários fatores - diagnóstico errado, confusão de objetivos, voluntarismo, populismo e sujeição das decisões econômicas a interesses pessoais e partidários. O problema do diagnóstico bastaria, sozinho, para causar boa parte dos estragos dos últimos anos. As primeiras ações a partir da crise global podem ter sido corretas, ou pelo menos justificáveis, mas as condições mudaram e a política, apesar disso, foi mantida.

Desde o fim de 2008 o governo tenta estimular a economia como se o País estivesse, em todo esse tempo, travado por problemas conjunturais. Problemas desse tipo justificariam os estímulos ao consumo, assim como justificaram, em 2009, o Programa de Sustentação do Investimento (PSI), bancado com subsídios pelo Tesouro e operado pelo Banco Nacional do Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES). Lançado como ação provisória, em 2009, o programa foi prorrogado várias vezes e seu prazo atual terminará no fim do próximo ano. Há muito tempo deixou de ser uma ação contracíclica, assim como os estímulos fiscais e financeiros ao consumo. As autoridades, no entanto, nunca admitiram esse fato.

O impacto recessivo da crise de 2008 durou até 2009 para o Brasil e para a maior parte dos emergentes, mas o governo brasileiro continuou agindo como se o quadro nunca tivesse mudado. O diagnóstico de crise conjuntural pode ter sido correto em 2008 e 2009, mas o governo deveria tê-lo abandonado há muito tempo. Ao mantê-lo, manteve também uma estratégia esgotada, custosa, inflacionária e ineficaz - uma paródia de política keynesiana. Ao insistir em ações de efeito conjuntural, o governo tratou como desafios de curto prazo problemas estruturais. A percepção desses problemas parece ter sido sempre muito fragmentada e, além disso, prejudicada pela insistência em atribuir o baixo crescimento da economia nacional a causas externas.

A alardeada redescoberta do planejamento nunca foi além da retórica. O Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), inventado em 2007 e mantido a partir de 2011, nunca foi mais que uma costura malfeita de retalhos juntados sem efetiva articulação e sem prioridades bem definidas. Acabou servindo para um discurso mistificador, ao incorporar, por exemplo, o plano de investimentos da Petrobrás. Esse plano, atualizado regularmente, era parte da rotina da empresa e continuaria existindo sem o PAC. Mais que isso: seria executado com eficiência muito maior sem a interferência de interesses políticos, pessoais e partidários. Enfim, cada novo balanço confirma o peso desproporcional dos financiamentos imobiliários e das construções habitacionais no total das aplicações.

Sem surpresa, o PSI, o PAC, as desonerações e os estímulos fiscais e financeiros a setores e a grupos selecionados foram insuficientes para impulsionar a indústria e o investimento. O total investido em capital fixo - máquinas, equipamentos, construções e instalações particulares e obras de infraestrutura - continua na vizinhança de 18% do PIB. A meta de 24%, padrão encontrado facilmente em outros emergentes, continua como promessa para um futuro indefinido. O pífio desempenho da indústria - de janeiro a maio produção 1,6% inferior à de um ano antes - é apenas a continuação de três anos e meio muito ruins, segundo o IBGE.

Não se trata de problema conjuntural, mas de competitividade, disse na quinta-feira o gerente executivo de pesquisa da Confederação Nacional da Indústria (CNI), Renato da Fonseca. A encrenca é reconhecida tanto no Brasil quanto no exterior. A distância entre a produtividade brasileira e o padrão médio das economias desenvolvidas continua muito grande, segundo estudo publicado na semana pela Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE).

A advertência vale para a maior parte dos emergentes, mas é especialmente importante para o Brasil, estagnado e cada vez menos competitivo. O déficit comercial acumulado no ano só diminuiu de maio para junho (quando chegou a US$ 2,490 bilhões) porque as importações diminuíram. Em junho a receita das vendas foi 3,2% menor que a de um ano antes, mas a despesa foi 3,8% inferior à de junho de 2013 - mais um sinal de uma economia murcha.

Em pesquisa publicada em dezembro pela CNI, 64% dos consultados mencionaram ganhos de produtividade em suas empresas em cinco anos. Mas só 7% avaliaram suas companhias como mais produtivas que as estrangeiras. Doze por cento apontaram produtividade similar, 28% qualificaram suas empresas como menos produtivas e - mais notável - 53% nem sequer responderam. Terá alguma autoridade, em Brasília, lido essa pesquisa?

* Jornalista