quarta-feira, 5 de outubro de 2022

Vera Magalhães - O antipetismo que releva o risco de Bolsonaro

O Globo

Bastou Jair Bolsonaro e o bolsonarismo saírem fortalecidos das urnas para um monte de gente que se fez de indignada com os ataques do presidente à democracia e com sua condução negacionista da pandemia, de confronto com os estados e os protocolos sanitários, saísse do armário e passasse a declarar apoio a sua reeleição.

A forma espantosa, fleumática e convicta com que governadores, prefeitos, dirigentes de partidos do agora quase extinto centro político e até aqueles cuja reputação foi enxovalhada pelo gabinete do ódio correram para apoiar Bolsonaro mostra que o fenômeno político mais subestimado da campanha é o antipetismo.

Levantamentos de diversos institutos atestavam que a rejeição a Bolsonaro superava a de Lula. Alguns chegaram a perguntar explicitamente se as pessoas tinham mais medo da volta do petista ou da permanência do candidato do PL. Todas as medições apontavam para a ojeriza maior ao legado de Bolsonaro que aos períodos anteriores, do PT no poder.

Elio Gaspari - 2022 não é 2018 e pode ser 1974

O Globo

Quem viu o último grande evento da campanha de Lula, no dia 26 de setembro, podia achar que estava na cerimônia de entrega do Oscar, com um só vencedor, Luiz Inácio Lula da Silva. Sentia-se no ar uma opção preferencial pelas celebridades. O evento destinava-se mais a deificar Lula que a permitir uma coligação de vontades que derrotasse Bolsonaro.

Contados os votos, Lula prevaleceu, mas não conseguiu fechar a eleição no primeiro turno. Olhando para o mapa, vê-se que os candidatos apoiados por Bolsonaro ficaram na frente em todos os estados do Rio Grande do Sul ao Espírito Santo. O mapa de 2022 guarda semelhanças com o do vendaval de 1974, quando o MDB elegeu todos os senadores do Rio Grande do Sul até a muralha da Bahia. (A semelhança é grosseira por parcial, porque desta vez as eleições no Rio Grande do Sul e em São Paulo decidem-se no segundo turno.)

Em 1974, o favoritismo dos candidatos da ditadura era tamanho que Ulysses Guimarães em São Paulo e Tancredo Neves em Minas Gerais preferiram ficar no conforto de sua cadeiras de deputado. Elegeram-se os pouco conhecidos prefeitos de Campinas e Juiz de Fora, Orestes Quércia e Itamar Franco.

Bernardo Mello Franco - A morte e a morte do PSDB

O Globo

Após guinada à direita, partido perde quadros, encolhe no Congresso e abraça o bolsonarismo em SP

No início da tarde de ontem, Tarcísio de Freitas desdenhou uma possível adesão dos tucanos em São Paulo. “Preguei mudança o tempo todo. Não faz sentido agora estar com eles no palanque”, disse. Três horas depois, Rodrigo Garcia foi bater continência a Jair Bolsonaro. Declarou apoio “incondicional” ao capitão e ao ex-ministro que o esnobou.

O PSDB reinava no Palácio dos Bandeirantes desde 1995. A derrota de Garcia e a queda do “Tucanistão” marcam o fim de uma era na política. Após encolher no plano nacional, o partido de Mário Covas, Franco Montoro e Fernando Henrique Cardoso perdeu sua última cidadela.

O declínio dos tucanos começou em 2014, quando Aécio Neves pôs as urnas em suspeição após perder para Dilma Rousseff. Depois disso, a sigla se associou a Eduardo Cunha e Michel Temer em busca de um atalho para voltar ao poder. O resultado é conhecido: Aécio se enrolou com a polícia, Geraldo Alckmin foi traído e os tucanos saíram da eleição de 2018 com menos de 5% dos votos.

Vinicius Torres Freire - Fora Lula, grande vitória da direita

Folha de S. Paulo

Bolsonaristas e agregados avançaram na Câmara e no governo de estados maiores

Ao longo da estrada do primeiro turno, há umas cabeças espetadas em estacas. São deputados federais muito votados na onda bolsonarista de 2018, mas decapitados em 2022 depois de romperem com o líder. No final do caminho, está o país da extrema direita e da direita negocista, que acaba de anexar novas províncias de votos.

Lula da Silva (PT) teve uma vitória preliminar e parcial. Mas Lula não é um partido. Como disse no discurso do dia da prisão, em 2018: "Não sou mais um ser humano, sou uma ideia misturada com as ideias de vocês". Afora a "ideia" Lula, a vitória até agora foi das direitas e suas ideias.

Considere-se um bloco formado por PL, partido ora alugado por Jair Bolsonaro, PP, dos regentes do governo, Republicanos, partido maior da empresa evangélica, pelo União Brasil, fusão do DEM com restos do PSL, e pelo nanico reacionário Patriota.

Bruno Boghossian – A primeira jogada de Bolsonaro

Folha de S. Paulo

Com holofotes sobre PT, presidente quer evitar eleição como plebiscito sobre continuidade do governo

A campanha de Jair Bolsonaro conseguiu uma jogada importante nas 48 horas iniciais do segundo turno: fez com que uma potencial resistência à volta do PT ganhe mais espaço como fator de decisão de voto. O presidente vinha enfrentando uma eleição com ares de plebiscito sobre a continuidade do governo, mas agora tenta usar o recomeço da disputa para buscar um equilíbrio.

Dois fatos políticos de destaque nesta terça (4) contribuem para seu esforço. O governador mineiro Romeu Zema declarou apoio à reeleição do presidente com um discurso baseado na rejeição ao PT. Em São Paulo, Rodrigo Garcia se alinhou ao bolsonarismo numa decisão fincada no antipetismo histórico do estado.

Hélio Schwartsman – Eu acredito em pesquisas

Folha de S. Paulo

Pesquisas registram o que já aconteceu, mas as pessoas veem nelas ferramentas para adivinhar o futuro

Quem não saiu bem deste primeiro turno eleitoral foram os institutos de pesquisa. Que eles fossem atacados pelas hostes bolsonaristas já era mais ou menos esperado, mas, desta vez, até o insuspeito New York Times falou mal das pesquisas.

De fato, houve discrepâncias gritantes entre as pesquisas da véspera e os resultados, não apenas na votação de Bolsonaro como também nas disputas de vários governos estaduais e corridas pelo Senado. Diretores de institutos se defendem. Alegam, não sem razão, que o público usa mal as pesquisas. Elas não são um prognóstico eleitoral, mas um instantâneo de momento que retrata só a intenção de voto, e não o voto propriamente dito. Se o eleitor muda de ideia ou só se decide poucas horas antes de visitar a urna, esses não são movimentos que as sondagens consigam captar com eficiência.

Fernando Exman - O telegrama falado de Lula ao mercado

Valor Econômico

Necessidade de dizer que vai cumprir a lei é sinal de alerta

Em um aceno para dirimir resistências ao seu nome no mercado, Luiz Inácio Lula da Silva fez recentemente elogios públicos ao presidente do Banco Central. Não foi lá uma carta aos brasileiros, como o documento que lançou em 2002. Mas Lula aproveitou uma entrevista ao SBT para enviar, digamos assim, um “telegrama falado” ao mercado.

Roberto Campos Neto, disse, é uma pessoa razoável e um economista competente. E ainda acrescentou que um BC autônomo não lhe causa problema, uma vez que em seu governo a autoridade monetária teve muita independência.

Foi, possivelmente, o movimento mais ambicioso que Lula fez nessa direção nesta campanha. Inclusive porque essa opinião está longe de ser unanimidade no PT, onde ainda se vê forte objeção à lei que garantiu autonomia ao BC.

Mas a declaração tem potencial para interditar eventuais críticas do PT à autonomia do Banco Central. Além disso, ela foi dada em meio à pressão para que revele nomes de integrantes de uma eventual equipe econômica (em caso de vitória petista, claro).

Lu Aiko Otta - Lula e Bolsonaro de olho nos ricos

Valor Econômico

Para bancar o Auxílio Brasil de R$ 600 no ano que vem, taxação precisa ser aprovada no Congresso Nacional ainda em 2022

 “Não tem de ter vergonha de ser rico, tem de ter vergonha de não pagar imposto.”

Essa frase foi dita por: a) Guilherme Mello, assessor econômico da campanha de Luiz Inácio Lula da Silva (PT); b) Paulo Guedes, ministro da Economia de Jair Bolsonaro (PL).

Pois é. Paulo Guedes vem repetindo essa fala em suas aparições públicas, em favor da proposta de taxar, com o Imposto de Renda (IR), a distribuição de dividendos.

Essa mesma ideia é defendida no programa do PT, que quer a tributação dos mais ricos, seja na cobrança sobre dividendos, seja na criação de uma tabela do Imposto de Renda da Pessoa Física (IRPF) com mais alíquotas, ou ainda numa taxação mais forte sobre heranças.

No plano bolsonarista, o IR sobre dividendos serviria para financiar o acréscimo de R$ 200 no Auxílio Brasil em 2023, pois o Projeto de Lei Orçamentária Anual (PLOA) em análise no Congresso prevê benefícios de R$ 400, e não os R$ 600 prometidos por Bolsonaro.

Tiago Cavalcanti* - Em busca de um Brasil melhor

Valor Econômico

Dados do Banco Mundial mostram que o Brasil ocupa a décima quarta posição entre os de pior nível de desigualdade

A taxa de crescimento do produto per capita brasileiro foi basicamente zero entre 2011-2020.

Em relação à economia dos Estados Unidos, após alguns anos de maior crescimento, nosso PIB per capita caiu cerca de 7 pontos percentuais no mesmo período. Como vários países emergentes cresceram mais do que os EUA, perdemos posição relativa no mundo.

Parte importante dessa queda é explicada pela estagnação de nossa produtividade, que apresentou redução ainda mais acentuada em relação à produtividade total dos fatores (PTF) da economia americana. Sofremos uma diminuição de 12 pontos percentuais entre 2011-2020 e uma tendência praticamente negativa desde 2000, apenas com uma leve subida entre 2004-2008.

O atual cenário da economia aponta para um baixo potencial de desenvolvimento de longo prazo. Fato preocupante, dado o alto percentual de famílias na pobreza e a quantidade crescente de pessoas morando nas ruas.

Além de uma renda per capita estagnada e baixa produtividade, o Brasil é um país sobremaneira desigual.

Em um conjunto de 158 países, de acordo com dados do Banco Mundial, o Brasil ocupa a décima quarta posição de pior nível de desigualdade. A maioria daqueles com maior desigualdade que o Brasil são países africanos com baixo nível de desenvolvimento.

Luiz Carlos Azedo - Segundo turno entre Lula e Bolsonaro não é nova eleição

Correio Braziliense

Lula perdeu posições e Bolsonaro avançou. Mais do que frustrar a expectativa de vitória, o resultado de domingo embalou a campanha do segundo colocado e gerou perplexidade na do primeiro

É um lugar comum nas campanhas eleitorais, principalmente de parte de quem está perdendo, a tese de que o segundo turno é uma nova eleição. Há controvérsias. As forças em movimento são as mesmas, porém, os dois primeiros colocados operam forte atração sobre as demais, por expectativa de poder, motivação ideológica e/ou emocional. Isso provoca o realinhamento eleitoral, cuja resultante será a formação de uma maioria de votos válidos, que garante a consagração inequívoca do presidente eleito.

A eventual mudança de posição entre os dois candidatos é resultado da inércia da primeira votação e da eventualidade de o líder não se dar conta de que a sua estratégia está sendo superada pelo segundo colocado. Estamos falando do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e do presidente Jair Bolsonaro (PL), obviamente. O que ocorreu na reta final do primeiro turno, por isso, gera uma força de inércia que pode resultar numa troca de posições.

Vera Rosa - O ‘fator’ Michelle no Nordeste

O Estado de S. Paulo

Bolsonaro quer primeira-dama em ‘tour’ evangélico e Lula vai lançar carta a cristãos

A guerra santa subiu de novo no palanque. Após vincular Luiz Inácio Lula da Silva a um “pacto com Satanás”, a campanha de Jair Bolsonaro (PL) quer levar a primeira-dama Michelle ao Nordeste, região em que o presidente perde feio para o candidato do PT. Evangélica, Michelle é considerada um “fenômeno” pelo comitê bolsonarista.

A avaliação é de que ela foi a responsável pela vitória da ex-ministra Damares Alves na disputa por uma cadeira no Senado. A corrida no Distrito Federal dividiu o casal Bolsonaro: enquanto o chefe do Executivo ficou ao lado da ex-ministra Flávia Arruda, Michelle saiu às ruas por Damares, definida como “a verdadeira representante dos conservadores”. Flávia era a favorita, mas foi desbancada.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

Editoriais / Opiniões

As limitações dos institutos de pesquisa

O Globo

Críticas são essenciais para que eles se aperfeiçoem. Infelizmente não é o caso dos ataques que têm recebido

A divergência entre as pesquisas eleitorais divulgadas na véspera da eleição e o resultado das urnas despertou uma controvérsia tão previsível quanto o movimento dos astros ou as marés. Os institutos foram acusados de subestimar os eleitores de Jair Bolsonaro e de superestimar os de Luiz Inácio Lula da Silva. Na eleição para governador, uma análise levantou diferenças entre as principais pesquisas e a apuração que superaram a “margem de erro” em 26 estados. A celeuma reacendeu o debate sobre uma proposta legislativa estabelecendo um “índice de acerto” com base no resultado das urnas — e até chegou à Polícia Federal.

Críticas são necessárias para os institutos aperfeiçoarem sua metodologia e aprimorarem a informação fornecida ao eleitor. Mas é preciso que sejam embasadas. Infelizmente, não tem sido o caso do bombardeio que eles têm sofrido, muito menos da ideia descabida de avaliá-los aventada no Congresso.