Uma ode à democracia
Revista Veja
A incômoda lembrança dos ataques assustadores
do 8 de janeiro é um modo de evitar que a estupidez se repita
Há exato um ano, em 8 de janeiro de 2023, o
Brasil viveu um dos mais vergonhosos episódios de sua história. Depois de
quatro décadas de redemocratização do país, uma horda terrorista depredou os
edifícios dos três poderes, em Brasília. A turba — dita patriota, apoiadora do
ex-presidente Jair Bolsonaro,
mas obtusa e irresponsável — protestava contra a eleição de Lula, em pleito
evidentemente acatado pelo Legislativo e pelo Judiciário, porque assim funciona
o estado de direito. Descobriu-se, após imediata investigação, ter havido algum
grau de planejamento e tolerância das forças de segurança do Distrito Federal.
Repetiam-se, como farsa, os estragos do Capitólio promovidos pelos pares de
Donald Trump contra a escolha de Joe Biden.
A tragédia brasiliense foi um momento de triste memória, movido por cidadãos alimentados pelo ódio, o resultado mais nocivo da polarização que há pelo menos uma década emoldura o cotidiano dos brasileiros — na política, sem dúvida, mas também em outros escaninhos da sociedade, nas relações familiares, nos gostos artísticos, nas escolhas individuais. A incômoda lembrança daquela jornada assustadora é um modo de evitar que a estupidez se repita.