domingo, 4 de maio de 2014

Opinião do dia: Aécio Neves

Temos que ousar, temos que ter na administração pública a coragem de romper com estruturas carcomidas como estas que estão aí. O nosso dever é apresentar ao Brasil uma proposta alternativa.

Vamos vencer, não sei. Mas tenho uma vantagem enorme em relação a quem está no governo. Vou fazer uma campanha pregando as minhas crenças, falando a verdade e dizendo aquilo que acredito. 

O governo deve ser um instrumento de desenvolvimento econômico e social do Brasil e não de enriquecimento de grupos políticos que estão na estrutura do governo gerando indignação entre os brasileiros.

Aécio Neves, senador (MG) e presidente nacional do PSDB. Em pronunciamento na cidade de Uberaba (MG), O Globo, 3 de maio de 2014.

Contrato entre Petrobras e Odebrecht foi aprovado após doação a campanha, diz revista

• Valor do contrato é de US$ 826 milhões e acerto para campanha de Dilma Rousseff, de US$ 8 milhões

• Construtora nega irregularidades

- O Globo

SÃO PAULO - Um contrato entre a Petrobras e a construtora Odebrecht, firmado em outubro de 2010, período eleitoral, teria sido aprovado após acerto de uma doação equivalente a US$ 8 milhões (R$ 17,7 milhões) para a campanha de Dilma Rousseff, segundo reportagem da revista “Época”, publicada neste sábado. O contrato, no valor de US$ 826 milhões ( R$ 1,8 bilhão), previa serviços de segurança, meio ambiente e saúde em unidades da Petrobras no Brasil e no exterior. O contrato é investigado pela PF e pelo MPF. E a Petrobras está na iminência de uma CPI.

Segundo a publicação, o lobista João Augusto Henriques afirmou que montara a operação e que a ideia de que a Odebrecht fosse a construtora do projeto era dele. A doação foi acertada com o tesoureiro informal do PT, João Vaccari. Segundo João Augusto, as negociações tiveram início em 2009, época em que funcionava no Senado a CPI da Petrobras. De acordo com a revista “Época”, pelo acordo, o PMDB ajudaria a enterrar a CPI, relatada pelo senador Romero Jucá. Em troca, a direção da Petrobras, então comandada por José Sérgio Gabrielli, assinaria embaixo do projeto Odebrecht. E o contrato foi fechado.

Pouco mais de um ano, em janeiro de 2012, antes da posse de Graça Foster, auditores encontraram irregularidades graves no contrato. No relatório, os auditores diziam que o contrato deveria ser rescindido. Os auditores entenderam que a contratação fora equivocada, por causa do perfil das empresas convidadas e pelo prazo reduzido para apresentação de propostas. De acordo com auditores, o processo de contratação sequer tinha edital de convocação em língua estrangeira.

A auditoria preliminar apontava que a Petrobras determinara que os serviços relativos às refinarias de Pasadena, nos Estados Unidos, Bahía Blanca, na Argentina, e Okinawa, no Japão, deveriam ser submetidos a autorização específica antes de ser feitos. No caso de Pasadena, isso significou um aditivo de US$ 20,3 milhões ao contrato. Para os auditores, a regra não foi respeita e concluíram que a Odebrecht atribuiu preços elevados a serviços que serão feitos em maior quantidade durante a execução do contrato. A prática é conhecida como “jogo de planilha”, onde a empresa contratada lucra mais e a contratante costuma ficar no prejuízo.

Por causa do relatório, a presidente da Petrobras, Graça Foster, e sua equipe pretendiam anular o contrato. Ao saber disso, João Augusto e o PMDB reagiram. De acordo com a “Época”, o presidente da Odebrecht, Marcelo Odebrecht, procurou Graça Foster para impedir a anulação do contrato e chegou a mencionar as “contribuições políticas” decorrentes do contrato.

Depois disso, outra versão de auditora foi apresentada, a qual não recomendava a anulação do contrato. Em janeiro de 2013, a Petrobras anunciou a redução do contrato: de US$ 826 milhões, para US$ 480 milhões.

Em nota enviada à revista “Época”, a Odebrecht afirma: “A Odebrecht nega veementemente a existência de qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobras, conquistados legitimamente por meio de concorrências públicas”.

A construtora disse ainda que “desconhece questionamentos feitos em auditoria interna da Petrobras e as conclusões dessa mesma auditoria. A empresa está à disposição de qualquer órgão de fiscalização para fornecer informações sobre o mencionado contrato, cujas obras previstas já foram concluídas e entregues.”

Clique aqui e leia a reportagem completa da revista

Copa põe a eleição na marca do pênalti

• Enquanto o Planalto aposta as fichas na Seleção, políticos e analistas fazem projeções sobre a influência do Mundial na disputa presidencial de outubro

Paulo de Tarso Lyra, Grasielle Castro e Marcos Paulo Lima - Correio Braziliense

Daqui a 39 dias, em São Paulo, quando a presidente Dilma Rousseff declarar oficialmente aberta a Copa do Mundo de 2014, ela também estará dando o pontapé inicial na nova fase da partida que disputará em outubro. A petista será candidata à reeleição e, no outro lado do gramado eleitoral, terá como principais adversários Aécio Neves (PSDB) e Eduardo Campos (PSB). O Mundial ocorrerá em pleno período das convenções partidárias, que definirão oficialmente as candidaturas e as alianças. E o governo aposta que, se Neymar e companhia ganharem o hexacampeonato, uma onda de otimismo tomará conta do país. Se perderem, contudo, um tsunami de problemas represados poderá vir à tona. Os dois cenários, projeta o Planalto, têm capacidade para influenciar o humor das urnas.

Dilma sonha em estar no seleto quadro de governantes que foram anfitriões da Copa do Mundo e conseguiram ver o próprio país levantar o caneco. Para evitar a repetição das contrangedoras vaias ouvidas na abertura da Copa das Confederações, em junho do ano passado, a presidente decidiu não fazer discurso no jogo inaugural da Copa, limitando-se a um protocolar "declaro aberto os jogos". Poucos tiveram esse privilégio (veja quadro acima). A correlação direta com as eleições é mais rara ainda. Das seis vezes em que isso aconteceu, em pelo menos duas delas os comandantes da nação eram ditadores: Benito Mussolini, em 1934, na Itália; e Jorge Rafael Videla, na Argentina, em 1978.

Para Leonardo Barreto, doutor em ciência política pela Universidade de Brasília (UnB), neste momento, só é possível especular sobre os resultados concretos da relação entre a bola e as urnas, especialmente porque estaremos diante de um fenômeno com poucos precedentes: "Em outros momentos nos quais o Brasil foi campeão, a Seleção conquistou o caneco fora do país", lembrou ele, citando os torneios sediados na Suécia (1958), no Chile (1962), no México (1970), nos Estados Unidos (1994) e no Japão/Coreia do Sul (2002).

Mesmo assim, em todos eles, não houve uma relação direta entre os dois fatores: o torneio e o voto. O mito de que o êxito da Seleção se transformara em prestígio para o governo ocorreu em 1970, no governo do general Emílio Garrastazu Médici. "Naquele ano, tivemos eleições legislativas e houve um elevado índice de votos brancos e nulos", recorda Barreto. Em 1994, o tetracampeonato brasileiro coincidiu com a vitória de Fernando Henrique Cardoso (PSDB), candidato apoiado pelo então presidente, Itamar Franco. Mas PT e PSDB admitem que, mais do que a vitória do escrete comandado por Romário (hoje deputado federal pelo PSB), o que pesou na eleição foi o Plano Real, que controlou a hiperinflação.

Em 2002, o pentacampeonato no Japão, com dois gols de Ronaldo na final contra a Alemanha, não garantiu a manutenção dos tucanos no poder — o petista Luiz Inácio Lula da Silva foi eleito naquele ano para o primeiro de seus dois mandatos. O segundo viria em 2006, quando o Brasil foi eliminado nas quartas de final pela França de Zinédine Zidane. Em 2010, Dilma manteve o PT no poder, mas a Seleção Brasileira teve o passaporte de retorno carimbado pelos holandeses Sneijder e Robben nas quartas de final.

A visão estrangeira
Barreto acredita que a repercussão internacional do evento esportivo terá papel de destaque na imagem que a nação terá de si própria nesse período de exposição sob os holofotes de todo o planeta. "O Brasil ainda é muito atento ao que se fala sobre ele no exterior. Adoramos quando as revistas e os jornais estrangeiros nos elogiam. Por isso, a opinião dos correspondentes internacionais sobre a Copa poderá afetar a nossa autoestima e amplificar os tons de otimismo ou de pessimismo", analisa.

Para o líder do PMDB no Senado, Eunício Oliveira (CE), a vitória na Copa não significará que o país deixará de lado a preocupação com a inflação e os movimentos sociais. "Mas pode, sim, mexer com o orgulho nacional e tornar-se um catalisador para Dilma. Foi no governo dela que as arenas em que as seleções jogarão ficaram prontas", afirma.

Já o líder do PT no Senado, Humberto Costa (PE), afirma que será dissipado o mau humor generalizado em relação aos jogos, algo que não tinha acontecido quando o país fora escolhido para sediar os jogos, em 2007. "Disseram que as coisas não andariam, que os estádios não ficariam prontos nem os aeroportos. Tudo está aí. Acho que faremos uma grande Copa", aposta o petista.

Dilma quer entrar neste time // Relembre casos de chefes de Estado e de governo que viram as respectivas seleções nacionais serem campeãs em casa

1930
Uruguai
Juan Campisteguy
1934
Itália
Benito Mussolini
1966
Inglaterra
Rainha Elizabeth II e Harold Wilson (primeiro-ministro)
1974
Alemanha
Gustav Heinemann (presidente/E) e Helmut Schmidt (primeiro-ministro)
1978
Argentina
Jorge Rafael Videla
1998
França
Jacques Chirac (presidente/E) e Lionel Jospin (primeiro-ministro)

Governo teme reação nas ruas

• Planalto se preocupa com a dimensão dos protestos. Depois de junho do ano passado, Dilma não recuperou mais a alta popularidade

Paulo de Tarso Lyra – Correio Braziliense

Se torce para que a Seleção Brasileira avance na Copa do Mundo — e quem sabe, seja campeã — o governo monitora e reza para que as manifestações de junho não se repitam como as do ano passado, quando uma multidão foi às ruas e derreteu a popularidade da presidente Dilma. Ela jamais retornou aos patamares anteriores à Copa das Confederações. Pior, depois de um leve respiro nas pesquisas de popularidade, a petista caiu novamente nas aprovação de governo e, agora, nos índices de intenção de voto.

Extracampo, a situação do governo é bem complicada. "O país viveu um curto-circuito no ano passado que está, por enquanto, adormecido. Depois da Copa, sobretudo se a Seleção não for exitosa, esses fusíveis serão religados", disse o líder do DEM no Senado, José Agripino (RN).

A aposta do Planalto é que a conjunção de fatores ocorrida no ano passado dificilmente voltará a se repetir. Nos meses posteriores, a presença das pessoas nos protestos anti-Copa diminuiu. Por outro lado, a escalada de violência aumentou, culminando na morte do cinegrafista Santiago Dantas, em janeiro deste ano. "As pessoas continuam insatisfeitas com uma série de coisas. Mas perceberam que as manifestações foram tomadas pelos black blocs e abandonaram os protestos", declarou um interlocutor do governo.

O Planalto demorou a encaminhar ao Congresso o tão alardeado projeto para coibir a violência nas passeatas. O texto não tem previsão de votação. Para aumentar a insegurança, a cidade que sediará a final da Copa, em 13 de julho, no Maracanã, viu a bandeira do governador Sérgio Cabral (PMDB) se enfraquecer.

As Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) mergulharam num confronto entre policiais e traficantes em comunidades estratégicas e emblemáticas do Rio de Janeiro, como o Alemão, Rocinha e Pavão-Pavãozinho. A situação tornou-se tão complexa que o governo fluminense antecipou a ampliação do efetivo de policiais nas ruas da cidade: serão 2 mil.

Manifestações, violências nas favelas pacificadas, medo de rebeliões nos presídios. Em janeiro, o Correio antecipou que o Planalto desejava firmar uma parceria com o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) para tentar diminuir a pressão nas unidades carcerárias, sobretudo nas cidades sedes dos jogos. No fim do ano passado, após a descoberta de um esquema de fuga dos principais líderes da maior facção criminosa do país, o grupo anunciou que "não vai ter Copa". Depois disso, o Brasil ainda presenciou a barbárie em Pedrinhas, no Maranhão, onde mais de 60 presos foram executados em 2013.

O governo também terá de conviver com as queixas dos torcedores durante os jogos. Metade das arenas que sediarão as partidas não terão rede wi-fi, o que dificultará a transmissão de dados. Boa parte dos aeroportos segue em obras. O hotel que será construído ao lado do Aeroporto de Guarulhos, em São Paulo, só estará pronto após o Mundial. "As companhias aéreas aumentaram o número dos voos disponíveis, não haverá caos aéreo", apostou uma autoridade. Para esse assessor governista, a maior parte das pessoas compraram ingressos para assistir o jogo nas cidades em que moram, o que diminuiu a quantidade de passageiros nos aeroportos. "O fluxo de turistas será menor do que os períodos de carnaval e réveillon."

Manifestações, violência nas ruas e nos presídios, caos aéreo. O Planalto ainda teme uma onda de greve de servidores federais. Há duas semanas, os policiais militares da Bahia cruzaram os braços e Salvador mergulhou em uma crise urbana de saques e depredações. A presidente ordenou que a Advocacia-Geral da União fique atenta aos grevistas para tentar, na Justiça, liminares que considerem ilegais movimentos dessa natureza, especialmente durante o período da Copa.

A bola e o voto // Os entraves da presidente Dilma Rousseff durante os 30 dias de Copa do Mundo:

Resultado em campo
O mito de que uma vitória em campo pode ajudar a eleger o presidente foi desmentido nas últimas eleições (2002, 2006 e 2010). Mas a presidente Dilma acha que o otimismo decorrente do hexa pode ajudá-la. Se perder, a situação se complica.

Estádios padrão Fifa
As arenas ficarão prontas, mas alguns problemas aconteceram durante os eventos-teste. Além disso, metade dos estádios deverá estar sem internert wi-fi, o que dificultará o envio de dados e imagens pelos torcedores.

Aeroportos
Parte das obras dos aeroportos brasileiros não ficará pronta. Há quem tema a ocorrência de um caos aéreo pelo grande volume de voos que cruzarão os céus do país nos dias de jogos.

Mobilidade urbana
Todas as grandes cidades têm obras de mobilidade. Por causa dos atrasos, ficou decidido que as férias escolares ocorrerão durante a Copa. Para facilitar ainda mais, alguns dias de partidas se tornarão ponto facultativo.

Manifestações de rua
O temor de que as ruas sejam novamente ocupadas por manifestantes, a exemplo do que aconteceu em junho do ano passado, é grande. O governo não conseguiu aprovar o projeto de lei para coibir manifestações. Após os protestos do ano passado, a popularidade de Dilma derreteu a patamares próximos da atual.

Segurança e presídios
No fim do ano passado, quando o Ministério Público de São Paulo desbaratou um esquema de fuga da principal organização criminosa do país, a facção ameaçou impedir a realização dos jogos. No Rio de Janeiro, o aumento da violência nas Unidades de Polícia Pacificadora (UPPs) também ligou o alerta nas autoridades federais.

Greves
Servidores públicos também podem se tornar um calo para o governo. Insatisfeitos com a política de valorização salarial, alguns funcionários defendem que a categoria aproveite o momento para uma paralisação geral. A Advocacia-Geral da União (AGU), porém, já monitora os sindicatos.

Povo fala//
Como a copa do mundo pode influenciar as eleições?

Paulo Peixoto, 64 anos, servidor público, Asa Sul
"A Copa não influenciará. A situação econômica do país, sim. Qualquer brasileiro, que ganha $ 1 mil não tem condições de comprar alimento"

César Lopes, 32 anos, servidor público, Guará
"A influência vai ser grande. Se o Brasil não passar das oitavas, acho que vai gerar uma grande revolta. Porém, se passar para a semifinal ou final, já vai ter um contentamento"

Karoline Matias, 20 anos, confeiteira, Recanto das Emas
"A Copa influenciará as eleições por causa das mudanças, principalmente de infraestrutura. Estão sendo gastos milhões, que poderiam ser investidos em outras coisas"

Francisco Lucas, 48 anos, servidor público, Planaltina
"A Copa do Mundo influencia muito porque é um evento grande e com a participação da Presidência. Portanto, vai influenciar, sim, quem está no governo hoje"

Daniel Rodrigues, 25 anos, Santo Antônio do Descoberto
"Não tem influência. Vai ser só farra. Hoje, é uma minoria que se mobiliza, que pensa no próximo"

Marcos Antônio Nascimento, 21 anos, atendente, Arapoanga
"A Copa é só futebol, não tem nada a ver com eleições. Esse monte de obra pode até atrapalhar um pouco, mas estão fazendo por causa das eleições e não pela Copa. Copa é Copa, eleição é eleição"

Dilma anuncia verbas para o agronegócio, mas é vaiada em MG

• Presidente participou da abertura oficial da Expozebu, que reúne empresários da agropecuária do Triângulo Mineiro

Leonêncio Nossa – O Estado de S. Paulo

UBERABA - A presidente Dilma Rousseff foi vaiada em três momentos na abertura oficial da Expozebu, que reúne empresários da agropecuária do Triângulo Mineiro. No evento, realizado em Uberaba (MG), ela prometeu que o plano agrícola pecuário 2014-2015 terá mais recursos e mais facilidades na obtenção de crédito. Na versão anterior, a verba para financiamento foi de R$ 136 bilhões. O anúncio não foi suficiente para conter a platéia.

As vaias começaram assim que a presidente recebeu a medalha alusiva aos 80 anos da Expozebu. Voltaram no início e no fim do discurso da presidente. Visivelmente tensa, a presidente não fez nenhum comentário sobre as manifestações. O evento contava com grande número de simpatizantes do deputado Ronaldo Caiado (DEM-GO). O parlamentar, também homenageado com a medalha do evento, foi aplaudido pela platéia.

Dilma anunciou que segunda-feira o Diário Oficial da União publicará um decreto do Ministério do Meio Ambiente formalizando a entrada em vigor do cadastro ambiental rural, o CAR, ferramenta de dados para controle de desmatamentos com base em informações das propriedades rurais. O CAR foi criado com o Código Florestal. Ele é um dos requisitos para a obtenção de financiamento público.

A presidente Dilma afirmou que o governo está aberto a sugestões para a elaboração do plano agrícola que deverá ser anunciado ainda este mês. Dilma observou que a meta é manter as diretrizes dos planos anteriores, ampliar recursos e simplificar procedimentos. "Dos R$ 136 bilhões para o crédito em 2013 e 2014, foram contratados R$ 116 bilhões até março. Desse montante, R$ 42,5 bilhões foram destinados ao financiamento da pecuária", afirmou Dilma.

Em Uberaba, Aécio critica aparelhamento do governo Dilma

• Pré-candidato tucano à Presidência participou de encontro com pecuaristas

Ezequiel Fagundes – O Globo

UBERABA – Em encontro com pecuaristas, o senador e pré-candidato do PSDB à Presidência da República, Aécio Neves, criticou duramente o aparelhamento da máquina pública no governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e se comprometeu, caso vença a eleição, a não barganhar o ministério da Agricultura com os aliados. A reunião nesta sexta-feira também contou com a presença do ex-governador José Serra. Amanhã, a presidente Dilma participa da abertura da 80ª edição da Exposição Internacional de Gado Zebu (Expozebu), que estima movimentar mais de R$ 150 milhões com leilões e negócios na cidade.

Ao contrário do ano passado, quando Dilma e Aécio dividiram o palco de abertura da Expozebu, o tucano não vai marcar presença no parque de exposições. O senador mineiro, no entanto, já confirmou que vai prestigiar a tradicional feijoada do pecuarista Jonas Barcelos, na fazenda Mata Velha.

- Não podemos permitir que o ministério da Agricultura seja transformado em moeda de troca do governo federal. O ministro da Agricultura tem que se sentar com o ministro da Fazenda e com o ministro do Planejamento para discutir o orçamento. Não há projeto de poder que justifique o que estão fazendo com o estado brasileiro. Nós vamos dar ao ministério da Agricultura a dimensão que ele merece - prometeu.

Irônico ao falar sobre a quantidade de ministérios, o tucano comparou o governo Dilma com o governo do Sri Lanka, na Índia.

- Quero trocar esse perverso aparelhamento da máquina pública, feito pelo governo federal, cuja consequência é a ineficiência e os sucessivos desvios pela meritocracia. É quase um acinte, para usar um termo brando, falar que o Brasil tem hoje 39 ministérios, 25 mil cargos em comissão. Para se ter uma ideia, nós só temos menos ministérios no mundo do que o Sri Lanka. E que se cuide o Sri Lanka, porque se tiver alguém com dois ou três segundos na TV para dar para à candidata a presidente ganha mais um ministério.

De acordo com Aécio, o inchaço da máquina estatal fez enriquecer grupos políticos.

- Temos que ousar, temos que ter na administração pública a coragem de romper com estruturas carcomidas como estas que estão aí. O nosso dever é apresentar ao Brasil uma proposta alternativa.
Vamos vencer, não sei. Mas tenho uma vantagem enorme em relação a quem está no governo. Vou fazer uma campanha pregando as minhas crenças, falando a verdade e dizendo aquilo que acredito. O governo deve ser um instrumento de desenvolvimento econômico e social do Brasil e não de enriquecimento de grupos políticos que estão na estrutura do governo gerando indignação entre os brasileiros - atacou.

Pendências na Justiça podem custar perto de R$ 1 trilhão ao governo

• Anexo à proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias mostra que a conta cresceu 31% em 2013

Lu Aiko Otta, Mauro Zanatta - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Os processos que tramitam na Justiça contra a União e sobre os quais o risco de derrota é maior do que remoto somam R$ 909 bilhões, num cálculo conservador. É o que indica levantamento feito pelo 'Estado' num documento anexo à proposta de Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO) para 2015, chamado "riscos fiscais". Em comparação com o ano anterior, a conta cresceu 31%.

Esses números são informados aos parlamentares, em cumprimento à Lei de Responsabilidade Fiscal, para que saibam que há faturas fora do Orçamento que podem causar impacto nas contas em algum momento - o que ficou conhecido, nos anos 90, como "esqueletos".

Dessa forma, a cifra bilionária é divulgada para dar a deputados e senadores um horizonte de gastos do governo no médio e longo prazos, informa o Ministério do Planejamento. Ela não indica que tudo será convertido em despesa federal, pois são causas jurídicas em discussão.

Além disso, uma eventual derrota da União não traz efeitos imediatos. O "prejuízo" normalmente é diluído nos anos seguintes, com a emissão de títulos para pagamentos de dívida (precatórios).

O volume de precatórios emitidos este ano deverá chegar a R$ 14,7 bilhões, segundo informa o anexo à LDO. Para os próximos três anos, a estimativa é de R$ 16,1 bilhões a cada ano.

O crescimento da conta dos "esqueletos" ocorreu, entre outros fatores, porque o governo elevou de R$ 50 bilhões para R$ 173,5 bilhões a estimativa de custo de uma derrota numa disputa de mais de 20 anos travada com os usineiros. "O aumento do valor se deu em razão de cálculo realizado decorrente da inclusão de novos processos sobre o tema, tudo em virtude de um diagnóstico mais preciso e aperfeiçoado de todos os processos", explicou a Advocacia-Geral da União (AGU).

As estimativas foram puxadas para cima também pela inclusão de novas causas bilionárias na lista, segundo o Ministério do Planejamento. As prefeituras, por exemplo, cobram R$ 118 bilhões da União, que teriam sido perdidos em medidas de combate à crise econômica.

Foram também incluídas duas causas tributárias. A primeira, que pode custar até R$ 66,88 bilhões, discute se o governo poderia ou não ter revogado isenções tributárias anteriormente concedidas às cooperativas. Elas estavam livres do recolhimento da Contribuição para o Financiamento da Seguridade Social (Cofins) e da Contribuição Social sobre o Lucro Líquido (CSLL), mas essa situação foi revertida por uma medida provisória editada em 1999.

Na outra causa, estimada em R$ 35,22 bilhões, as empresas discutem se têm ou não direito a crédito tributário do IPI sobre insumos adquiridos na Zona Franca de Manaus. O anexo de riscos fiscais também alerta para outros fatores que podem impactar no caixa, como uma frustração na taxa de crescimento econômico ou o volume de operações de empréstimo nos quais a União é avalista, pois em caso de "calote" a fatura sobra para os cofres federais.

Por outro lado, estima o que a União tem a receber - que também é uma cifra enorme. Os créditos que estão em cobrança, inscritos na Dívida Ativa da União, eram de R$ 1,2 trilhão no final de 2013, um crescimento de 9% sobre o ano anterior. No ano passado, o governo conseguiu receber R$ 23,5 bilhões de todo esse estoque.

CVM apura fraude em fundo de pensão dos Correios

• O fundo de pensão Postalis, o terceiro maior do país, teve influência do doleiro Alberto Youssef, preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal

• Rombo em plano de previdência do Postalis pode chegar a R$ 2,5 bilhões

- O Globo

A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) abriu investigação para apurar uma série de operações fraudulentas no mercado financeiro que atinge o fundo de pensão Postalis, dos funcionários dos Correios, o terceiro maior do país com cerca de 130 mil participantes. O GLOBO identificou uma delas: um aporte de R$ 40 milhões, de 19 de dezembro de 2012, no Banco BNY Mellon por meio da gestora DTW Investimento LTDA, que teria sido direcionado pelo ex-diretor da fundação Ricardo Oliveira Azevedo após influência do doleiro Alberto Youssef, e dos donos da Tino Real Participação, Maria Thereza Barcelos da Costa e Eric Davi Bello, alvos da Operação Lava-Jato da Polícia Federal. O Postalis confirmou o aporte, cujo principal resultado foi uma rentabilidade aquém da esperada para o fundo irrigado com dinheiro público.

Um ex-dirigente do Postalis relata que Maria Thereza foi apresentada ao sócio-majoritário da DTW, Paulo Roberto Caneca, por Youssef, quando a empresa ainda não se chamava DTW e tinha apenas dois meses no mercado. À época, as negociações com Azevedo iniciaram. Eles então teriam acertado que uma pessoa da confiança de Azevedo, Bruno Rodrigues Leal, entraria como laranja na sociedade da empresa de Caneca. Segundo profissionais do mercado, Caneca é conhecido como doleiro. Ele nega. Ao GLOBO, o dono da DTW admitiu ter se encontrado com Azevedo “meia dúzia de vezes”, mas disse que jamais se envolveu com Youssef e o casal Maria Thereza e Bello.

A influência de Youssef no Postalis é antiga. Na CPI dos Correios, em 2005, o doleiro já aparecia como responsável por indicações feitas ao PMDB para a presidência do fundo, quando o partido assumiu o Ministério das Comunicações.

Azevedo foi afastado do cargo de diretor financeiro do Postalis em outubro do ano passado após a Superintendência Nacional de Previdência Complementar (Previc) constatar irregularidades em investimentos que provocaram prejuízos calculados em quase R$ 1 bilhão. As investigações apuraram a prática de fraudes, com a organização aplicando recursos da entidade previdenciária em fundos controlados pelos próprios sócios da DTW. A identificação de Bruno Rodrigues Leal como homem de Azevedo na M. Asset pela Previc fez com que ele deixasse a sociedade, dando lugar ao irmão Caio Rodrigues Leal, este com 30% de participação na empresa, agora com o novo nome de DTW após cinco alterações contratuais. A Previc e o BNY Mellon não quiseram comentar o caso.

Fundo está sem gestor
Irregularidades na DTW também estão sendo apuradas pela CVM. A primeira delas é que Caneca teria omitido para a comissão ter sido investigado pela Polícia Federal por suspeita de lavagem de dinheiro em ação penal no Ministério Público Federal do Paraná, que apurou evasão de divisas do Brasil para paraísos fiscais na CPI do Banestado. A outra é que o fundo DTW está sem o gestor responsável há mais de dois meses, o que contraria as normas da CVM, que não foi avisada da saída de Cristiano Maroja nem pela DTW e tampouco pelo Mellon, administrador da gestora de fundo.

Também é analisado o fato de o sócio da DTW, Caio Rodrigues Leal, ter sido o estruturador da empresa Dogma Empreendimentos Imobiliários S.A., por meio de sua outra empresa, a Prime Consultoria e Gestão Financeira. Do aporte de R$ 40 milhões do Postalis no BNY Mellon, Leal utilizou R$ 10 milhões na compra de 25% de uma Cédula de Crédito Imobiliária (CCI) da Dogma. Portanto, ele estava nas duas pontas da operação, o que no mercado financeiro é chamado de “Zé com Zé”, prática proibida pelas normas da CVM. O que chama atenção é que a Dogma deu como garantia um terreno comprado para a construção de um condomínio no centro de Curitiba — e que ainda não saiu do chão — um dia depois do aporte da Postalis. A estruturação de um projeto CCI se dá quando uma empresa é contratada para intermediar a operação junto a entidades de fiscalização. O preço médio pago pelo serviço de estruturação está em R$ 200 mil.

O ex-gestor Cristiano Maroja contou que se desligou da empresa por “não se identificar com visões de negócio" dela. Ele detinha 5% das cotas na sociedade. Caio Leal diz que entrou na gestora DTW depois de estruturar a CCI da Dogma. Procurada, a CVM disse que “acompanha e analisa as movimentações e tomará as medidas cabíveis quando necessário, e que pode aplicar as punições aos infratores das regras em vigor no mercado de capitais”. Mas segundo a reportagem apurou, a comissão não descarta atuação em conjunto entre o BNY Mellon e a DTW na troca de informações para direcionar a aplicação do aporte antes mesmo de a operação ser solicitada pelo Postalis. Se confirmadas as irregularidades, BNY e DTW poderiam ser enquadrados por responsabilidade solidária.

Postalis perdeu dinheiro nas aplicações
Um ano e quatro meses depois do aporte de R$ 40 milhões na DTW, as duas aplicações do Postalis no Banco BNY Mellon — uma de R$ 30 milhões em renda fixa e outra de R$ 10 milhões em ações — rendem hoje ao fundo de pensão valores muito aquém do que se a fundação tivesse aplicado em investimentos considerados mais conservadores, como poupança ou Notas do Tesouro Nacional (NTN). Especialistas do mercado financeiro consultados pelo GLOBO disseram que se o Postalis apostasse em NTNs, por exemplo, teria tido um rendimento durante esse período de 17,5%, o que deixaria o valor aplicado em renda fixa no patamar de R$ 35,25 milhões, enquanto o montante aplicado em ações estaria hoje na casa dos R$ 11,75 milhões. O cálculo foi facilitado por não ter havido resgate do fundo durante os 16 meses.

No site da CVM, é possível confirmar o desempenho das aplicações. A Postalis confirmou o fraco desempenho. O investimento em renda fixa apresentou rentabilidade de 0,01%, e em ações, 7,64 pontos percentuais negativos. Soma-se a esses valores, o pagamento de uma taxa anual de 2% do Postalis aos prestadores de serviço, no caso, o BNY Mellon e a DTW. Pode-se concluir que o Postalis pagou ainda cerca de R$ 800 mil, em 2013, pela administração do fundo. De acordo com o Postalis, o BNY Mellon dá ao gestor “a liberdade de escolha para investimentos, desde que estejam de acordo com as políticas de investimentos dos planos e a legislação em vigor”. Já o BNY alegou sigilo das operações. Caneca negou prejuízo nas aplicações.

Rombo como consequência por má gestão
Gestões de eficiência duvidosa do Postalis durante os mandatos dos ex-diretores financeiros Adilson Florêncio da Costa e Ricardo Oliveira Azevedo podem ter contribuído para que um déficit técnico em um dos planos de previdência da fundação alcançasse cifras bilionárias desde 2009 — o que levou a entidade a aumentar a contribuição dos funcionários e causar uma queda de braço entre os sindicatos dos trabalhadores, a Empresa Brasileira de Correios e Telégrafos (ECT) e o Tesouro Nacional sobre quem deve pagar a dívida. Em 2008, os Correios decidiram encerrar as atividades do plano de Benefício Definido (BD) e transformar a expectativa de direitos dos participantes em números, totalizando valor projetado para aporte de R$ 700 milhões, para equilibrar as contas do BD, algo assumido pela patrocinadora. Porém, um ano depois se constatou que o valor necessário para efetivar o saldamento (interrupção de pagamento das contribuições) do BD mais que dobrou, indo a R$ 1,5 bilhão.

Somado a esse valor, há ainda um déficit de R$ 935 milhões provenientes, em sua maioria da área de investimento do Postalis, identificado no balanço do ano passado e que onera ainda mais o Plano BD — levando o rombo, caso os Correios não aceitem saldar a dívida, a um valor de cerca de R$ 2,5 bilhões, ou 35% do patrimônio do plano, estimado em R$ 7 bilhões. O Conselho Fiscal dos Correios, ligado ao Tesouro, questionou o pagamento, mas concordou em saldar, por enquanto, a cota mensal da dívida.

— Dentro da empresa há um litígio. Enquanto a ECT propõe dividir esse valor com os funcionários, as entidades dos trabalhadores reagem com indignação, porque o Postalis, com aval da patrocinadora, no caso os Correios, fizeram o saldamento obrigatório sem nos consultar e prometeram assumir a dívida — diz Rogério Ubine, ex-conselheiro do Postalis e atual membro da Associação Nacional dos Participantes dos Fundos de Pensão (Anapar) e diretor da Federação Nacional dos Trabalhadores nos Correios (Fentect).

Segundo Ubine, uma proposta defendida pelo Tesouro para que a ECT não assuma sozinha o prejuízo e divida, como prevê a lei, com os participantes do BD, está sendo discutida em âmbito administrativo. Para ele, a ECT não reconheceu até hoje essa dívida, que já comprometeu o lucro da empresa. As entidades questionam ainda a rentabilidade de outro plano de pensão, o PostalPrev, cuja participação é de apenas dos funcionários da ativa. De acordo com o presidente da Federação Interestadual dos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadores dos Correios (Findect), José Aparecido Gimenes Gandara, o rendimento em 2013 foi negativo em 0,52%, quando sua meta era de 12,5%. Os sindicatos denunciam ainda que, mesmo com rentabilidade negativa, o Postalis pagou prêmio ao gestor que administra o investimento.

O GLOBO não conseguiu localizar Adilson Florêncio da Costa e Ricardo Oliveira Azevedo.

Empresariado vê Marina como entrave para Campos

Pedro Venceslau - Agência Estado

O fato de ser filiado a um partido de bandeira "socialista" e de até pouco tempo ter integrado a base de apoio da presidente Dilma Rousseff (PT) não se mostrou obstáculo tão grande para a aproximação do ex-governador e pré-candidato à Presidência Eduardo Campos (PSB) com os empresários quanto sua aliança com a ex-ministra do Meio Ambiente Marina Silva, sua pré-candidata a vice.

Essa é a percepção de parte dos 320 empresários que participou do 13º Fórum de Comandatuba, na Bahia. O encontro reuniu nomes com Abílio Diniz, da BR Foods, Luiza Trajano, do Magazine Luiza, e André Esteves, do BTG Pactual, e serviu como palanque da oposição.

Diante da ausência inédita de ministros de Dilma, Eduardo Campos e o senador Aécio Neves, pré-candidato do PSDB ao Palácio do Planalto, encontraram campo livre para cortejar o PIB. Depois de um debate de cinco horas em que a dupla respondeu lado a lado, pela primeira vez, perguntas do público e de jornalistas, o tucano saiu ovacionado pela plateia. Já o ex-governador de Pernambuco, que esteve o tempo todo acompanhado de Marina, teve uma recepção bem menos calorosa.

"Aécio foi mais assertivo nas propostas. A sensação do empresariado é de que ele está mais livre para desenvolver suas plataformas de governo. Campos está um pouco inibido", disse o empresário João Doria, presidente do Lide (Grupo de Líderes Empresariais), entidade que organiza o fórum. "Com Marina, ele toma muito cuidado no trato de certo temas para não feri-la ou contrariá-la."

Aécio tem adotado um discurso mais ortodoxo na economia e defendido o legado do ex-presidente Fernando Henrique Cardozo, algo que não havia sido feito ainda pelos candidatos do PSDB desde que o partido deixou o comando do País, em 2002.

Fernando Henrique Cardoso*: A que ponto chegamos!

- O Estado de S. Paulo / O Globo

Eu, como boa parte dos leitores de jornal, nem aguento mais ler as notícias que entremeiam política com corrupção. É um sem-fim de escândalos. Algumas vezes, mesmo sem que haja indícios firmes, os nomes dos políticos aparecem enlameados. Pior, de tantos casos com provas veementes de envolvimento em "malfeitos", basta citar alguém para que o leitor se convença de imediato de sua culpabilidade. A sociedade já não tem mais dúvidas: se há fumaça, há fogo.

Não escrevo isso para negar responsabilidade de alguém especificamente, nem muito menos para amenizar eventuais culpas dos que se envolveram em escândalos, nem tampouco para desacreditar de antemão as denúncias. Os escândalos jorram em abundância, não dá para tapar o sol com peneira. O da Petrobrás é o mais simbólico, dado o apreço que todos temos pelo que a companhia fez para o Brasil. Escrevo porque os escândalos que vêm aparecendo numa onda crescente são sintomas de algo mais grave: é o próprio sistema político atual que está em causa, notadamente suas práticas eleitorais e partidárias. Nenhum governo pode funcionar na normalidade quando atado a um sistema político que permitiu a criação de mais de 30 partidos, dos quais 20 e poucos com assento no Congresso. A criação pelo governo atual de 39 ministérios para atender às demandas dos partidos é prova disso e, ao mesmo tempo, é garantia de insucesso administrativo e da conivência com práticas de corrupção, apesar da resistência a essas práticas por alguns membros do governo.

Não quero atirar a primeira pedra, mesmo porque muitas já foram lançadas. Não é de hoje que as coisas funcionam dessa maneira. Mas a contaminação da vida político-administrativa foi-se agravando até chegarmos ao ponto a que chegamos. Se, no passado, nosso sistema de governo foi chamado de "presidencialismo de coalizão", agora ele é apenas um "presidencialismo de cooptação". Eu nunca entendi a razão pela qual o governo Lula fez questão de formar uma maioria tão grande e pagou o preço do mensalão. Ou melhor, posso entendê-la: é porque o PT tem vocação de hegemonia. Não vê a política como um jogo de diversidade no qual as maiorias se compõem para fins específicos, mas sem a pretensão de absorver a vida política nacional sob um comando centralizado.

Meu próprio governo precisou formar maiorias. Mas havia um objetivo político claro: precisávamos de três quintos da Câmara e do Senado para aprovar reformas constitucionais necessárias à modernização do País. Ora, os governos que me sucederam não reformaram nada nem precisaram de tal maioria para aprovar emendas constitucionais. Deixaram-se levar pela dinâmica dos interesses partidários. Não só do partido hegemônico no governo, o PT, nem dos maiores, como o PMDB, mas de qualquer agregação de 20, 30 ou 40 parlamentares, às vezes menos, que, para participar da "base de apoio", se organizam numa sigla e pleiteiam participação no governo: um ministério, se possível; senão, uma diretoria de empresa estatal ou uma repartição pública importante. Daí serem precisos 39 ministérios para dar cabida a tantos aderentes. No México do PRI dizia-se que fora do orçamento não havia salvação...

A raiz desse sistema se encontra nas regras eleitorais que levam os partidos a apresentarem uma lista enorme de candidatos em cada Estado para, nelas, o eleitor escolher seu preferido, sem saber bem quem são ou que significado político-partidário têm. Logo depois nem se lembra em quem votou. A isso se acrescenta a liberalidade de nossa Constituição, que assegura ampla liberdade para a formação de partidos. Por isso, não se podem obter melhorias nessas regras por intermédio da legislação ordinária. Algumas dessas melhorias foram aprovadas pelos parlamentares. Por exemplo, a exigência de uma proporção mínima de votos em certo número de Estados para a autorização do funcionamento dos partidos no Congresso. Ou a proibição de coligações nas eleições proporcionais, por meio das quais se elegem deputados de um partido coligado aproveitando a sobra de votos de outro partido. Ambas foram recusadas por inconstitucionais pelo Supremo Tribunal Federal.

Com o número absurdo de partidos (a maior parte deles meras siglas sem programa, organização ou militância), forma-se, a cada eleição, uma colcha de retalhos no Congresso, em que mesmo os maiores partidos não têm mais do que um pedaço pequeno da representação total. Até a segunda eleição de Lula, os presidentes se elegiam apoiados numa coalizão de partidos e logo tinham de ampliá-la para ter a maioria no Congresso. De lá para cá, a coalizão eleitoral passou a assegurar maioria parlamentar. Mas, por vocação do PT à hegemonia, o sistema degenerou no que chamo de "presidencialismo de cooptação". E deu no que deu: um festival de incoerências políticas e portas abertas à cumplicidade diante da corrupção.

Mudar o sistema atual é uma responsabilidade coletiva. Repito o que disse, em outra oportunidade, a todos os que exerceram ou exercem a Presidência: por que não assumimos nossas responsabilidades, por mais diversa que tenha sido nossa parcela individual no processo que nos levou a tal situação, e nos propomos a fazer conjuntamente o que nossos partidos, por suas impossibilidades e por seus interesses, não querem fazer - mudar o sistema? Sei que se trata de um grito um tanto ingênuo, pedir grandeza. A visão de curto prazo encolhe o horizonte para o hoje e deixa o amanhã distante. Ainda assim, sem um pouco de quixotismo, nada muda.

Se, de fato, queremos sair do lodaçal que afoga a política e conservar a democracia que tanto custou ao povo conquistar, vamos esperar que uma crise maior destrua a crença em tudo e a mudança seja feita não pelo consenso democrático, mas pela vontade férrea de algum salvador da Pátria?

*Fernando Henrique Cardoso é sociólogo e foi presidente da República.

Merval Pereira: Critérios e tendências

- O Globo

Há pesquisas para todos os gostos na praça, e elas movimentam os bastidores políticos e a especulação financeira, neste caso quando há notícias de que a popularidade da presidente Dilma está caindo o mercado agradece. O avesso também acontecerá, necessariamente, se e quando a presidente se recuperar nas pesquisas.

Essa não é uma boa perspectiva para quem se coloca como a melhor opção para presidir o país. Quando Lula começou a aparecer como o franco favorito nas pesquisas em 2002, os especuladores financeiros reagiram ao perigo potencial que ele representava, levando o dólar até a R$ 4,00 e elevando o risco Brasil.

Agora, a cena se repete invertida, mas pelas mesmas razões: o mercado financeiro oscila para cima com a possibilidade de derrota de Dilma, o que significa que a direção econômica do país mudará de rumo. A convenção do PT que reafirmou a candidatura de Dilma, tentando soterrar a campanha pela volta de Lula, teve um tom agressivo que denota todo o ressentimento pela crescente rejeição ao governo petista refletida nas pesquisas eleitorais e nas vaias que seus principais líderes estão recebendo pelo país.

Ontem mesmo foi a vez de a presidente Dilma ser vaiada mais uma vez, desta em uma tradicional exposição de gado zebu em Uberaba, em Minas, terra de Aécio Neves que Dilma também reivindica para si, pois nasceu no estado. Mas assim como historicamente não está ligada ao PT, e sim ao PDT, também o estado que tem mais a ver com sua vida política é o Rio Grande do Sul.

A radicalização da campanha petista, com críticas à elite e à grande imprensa, mais uma vez acusada por Lula como a grande opositora do governo, pode levar, no entanto, a resultado contrário ao desejado pelos apoiadores de Dilma. As pesquisas indicam que ela está caindo pelas tabelas em direção à votação tradicional do PT, que gira em torno de 30% do eleitorado.

Lula só saiu desse índice para tornar-se presidente quando ampliou seu eleitorado adotando uma imagem pública menos agressiva do que a que tinha nas campanhas anteriores, de 1989 a 1998, quando perdeu quatro eleições seguidas, duas para Collor (primeiro e segundo turnos ) e duas para Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno.

Teve que escrever a hoje famosa "Carta ao povo brasileiro", em que se comprometeu com a manutenção da política econômica, e amenizou tanto sua imagem que a certa altura da campanha me disse, satisfeito: "Desta vez estou eleito. Quando até a Vera Loyola anuncia que votará em mim é que já ganhei".

A socialite da Barra da Tijuca que colocava tapete persa na casa de seu cachorrinho de estimação representava naquela ocasião a aceitação do Lulinha Paz e Amor, criatura criada pelo marqueteiro Duda Mendonça que anda sumida nos últimos tempos.

As pesquisas divulgadas nos últimos tempos, mesmo que os critérios de algumas, como a de ontem do Instituto Sensus ou a do Vox Populi de dias atrás, possam provocar dúvidas, são uníssonas em uma direção: a presidente Dilma está perdendo densidade eleitoral com o passar dos dias, e o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, surge como a alternativa preferida dos que votam com a oposição, grupo que tem sido a maioria no primeiro turno de todas as eleições realizadas desde 1994.

Há ainda uma outra tendência reafirmada: a distância entre Dilma e Aécio num provável segundo turno está diminuindo à medida que o candidato da oposição vai ficando mais conhecido do grande eleitorado.

O outro candidato da oposição, o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos, continua sem tirar vantagem da adesão de Marina Silva, e sofre algumas restrições impostas por sua companheira de chapa. Agora mesmo, ao ouvir Aécio Neves dizer que é companheiro "do mesmo sonho" de Campos, Marina fez questão de afirmar que há diferenças bastante profundas entre os dois, sugerindo que a adesão a uma eventual ida de Aécio para o segundo turno não são favas contadas.

Provavelmente faz isso para marcar uma posição de independência da chapa Eduardo Campos-Marina Silva, confiante em que o eleitorado está cansado da polarização entre PT e PSDB e acabará escolhendo a terceira via como alternativa de mudança. Se Campos se convencer de que deve também tratar o candidato tucano como adversário, o calor da campanha eleitoral pode inviabilizar um acordo no segundo turno, o que favorecerá mais uma vez o PT.

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Dou um descanso ao leitores e paro por uns dias. A coluna voltará a ser publicada no dia 20.

João Bosco Rabello:A percepção do risco

- O Estado de S. Paulo

No dicionário da presidente Dilma e do ex-presidente Lula, "ir pra cima" e "fazer o diabo" são sinônimos , e refletem o temor que tomou conta do PT desde que a queda da candidata oficial nas pesquisas se mostrou uma tendência consistente.

O partido começou a enxergar riscos no projeto de reeleição da presidente, há algum tempo considerada tão certa que era discutida apenas se ocorreria no primeiro ou no segundo turno.

Fiel à filosofia que anunciou para a sua campanha, de que "em eleição se faz o diabo", a presidente ocupou a rede de televisão, de caráter institucional, no Dia do Trabalhador, para um escancarado ato eleitoral de lançamento de um pacote de bondades que selou o desprezo do governo por uma política fiscal séria e aumentou a conta dos ajustes para 2015.

Lula, por sua vez, acrescentou à já desgastada cantilena contra a imprensa, duras críticas ao empresariado nacional, ao qual "acusa" de ganhar dinheiro - não fosse outro o objetivo da atividade econômica. O "delito" do lucro já estava na raiz dos problemas de Dilma com os investidores e agora ganhou o coro de seu padrinho político.

Na vida real, os problemas se acumulam desde o escândalo que se abateu sobre a Petrobrás com a investigação da Polícia Federal que revelou desvios de recursos por um ex-diretor da empresa, Paulo Roberto Costa, em dupla com o doleiro Alberto Youssef, que ganhou o desenho de duto financiador de campanhas eleitorais.

A candidatura de Alexandre Padilha ao governo de São Paulo, uma operação casada com a de reeleição de Dilma, foi inegavelmente abalada pela revelação de que a versão do ex-ministro da Saúde para o contrato milionário entre o laboratório de fachada do doleiro Youssef e o ministério, não tinha amparo na realidade.

Uma foto publicada (O Globo, 02/05/2014) desmentiu Padilha: lá estava ele, na solenidade de assinatura do contrato que dissera desconhecer, ao negar a influência do deputado André Vargas na operação em favor do doleiro.

Pior: junto com a foto um parecer técnico do ministério contra os termos financeiros do contrato, alertando para superfaturamento no preço unitário do comprimido do remédio objeto da parceria, usando-se como parâmetro os valores da mesma medicação em outros estados.

A semana fechou com as ruas materializando a insatisfação das pesquisas: representantes de partido e governo vaiados por sindicalistas, braço histórico do PT.

O conjunto dos fatos demonstra que o diagnóstico de Lula ("o eleitor não é bobo") não tem mão única: neste momento, aplica-se sobretudo ao governo.

Eliane Cantanhêde: A chapa Aécio-Serra

- Folha de S. Paulo

Ninguém acreditava, mas a possibilidade de José Serra ser candidato a vice na chapa de Aécio Neves é real e está crescendo.

Significa que Serra pode dar a Aécio o que Aécio negou a Serra em 2010, com enorme impacto negativo na campanha tucana de então.

A operação, claro, não é fácil e embute vantagens e desvantagens tanto para um quanto para outro. Mas é o que melhor se apresenta para ambos, num momento de grande ânimo nas oposições diante da queda de Dilma nas pesquisas e do salve-se quem puder governista.

As principais vantagens para Aécio, ao agregar Serra como vice, seriam fortalecer a campanha em São Paulo, surfar no recall do nome dele e conferir um ar, digamos, mais maduro à chapa puro-sangue.

A desvantagem é que Serra não tem um temperamento nada fácil e ninguém --muito menos Aécio-- pode esperar que seja um vice humilde, silencioso e omisso nos debates sempre acalorados de campanha.

E, para Serra, a vantagem é que ele não tem alternativa. O que é melhor, ser deputado e morar em apartamento funcional ou tentar ser vice-presidente, desfrutar do Palácio do Jaburu e participar do centro do poder?

Desde jovem, ainda presidente da então combativa UNE, Serra sonha com algo que jamais irá conquistar: ser eleito presidente da República. Se esse sonho se esvaiu, sobra a possibilidade de ser vice e sentar na cadeira todas as vezes que o presidente viajar, por exemplo.

A desvantagem? Ele vai ter que engolir o próprio orgulho em seco, esquecendo os traumas e as desfeitas de Aécio em Minas em 2010. Afinal, a união não é por amor, é por pragmatismo e cálculo político e individual.

Na avaliação oposicionista, desde 2002 não há tanta chance de vitória, mas para Aécio ou para Eduardo Campos? As pesquisas dirão.

Se Aécio não vencer a eleição, o que Serra tem a perder? Na verdade, muito pouco. A candidatura a vice é pegar ou largar.

Pasadena desmente Dilma: O Estado de S. Paulo - Editorial

Em dado momento da sua fala de ostensivo tom eleitoral em rede de rádio e de TV, na véspera do Dia do Trabalho, a presidente Dilma Rousseff apregoou o seu empenho no combate à corrupção. "O que pode envergonhar um país não é apurar, investigar e mostrar." (…) "É varrer tudo para baixo do tapete." Até aí tudo bem: ela precisa mesmo polir a lembrança da "faxina ética" do começo de seu mandato. O curioso é que se alongou no assunto apenas para chamar à cena a Petrobrás, que "jamais vai se confundir com atos de corrupção ou ação indevida de qualquer pessoa".

A estatal foi empurrada para o noticiário pela confissão da própria Dilma, em março último, de que, na presidência do Conselho de Administração da empresa, aprovou em 2006 a sua associação a um grupo belga na Refinaria de Pasadena com base em nada mais do que um breve parecer. Dois anos depois, viria a descobrir que o texto era "técnica e juridicamente falho". Como se tornou amplamente sabido, a petroleira acabou enterrando na destilaria US$ 1,24 bilhão, com prejuízo contabilizado de US$ 530 milhões. Em 2012, oEstado havia trazido à tona as linhas gerais da transação.

O Ministério Público Federal, a Polícia Federal e o Tribunal de Contas da União abriram investigações sobre o caso - os primeiros focalizando eventual superfaturamento e evasão de divisas, o último voltado para possível negligência e gestão temerária na condução do negócio. Ou seja, "atos de corrupção ou ação indevida", como afirmou Dilma no seu pronunciamento. Mas Pasadena desmente as suas palavras. A presidente não só não tomou nenhuma iniciativa em sua alçada para deslindar o imbróglio e "lutar para que todos os culpados sejam punidos com rigor", como alardeou na TV sobre corrupção em geral, mas luta ainda, isso sim, contra a CPI da Petrobrás.

Só que ela está perdendo a batalha. A Justiça degolou a manobra governista de diluir o inquérito sobre Pasadena e a gastança nas obras da Refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, proposto pela oposição, misturando-os a escândalos tucanos em São Paulo. Fracassou também a tentativa petista de impedir que os deputados participem da investigação surgida no Senado, onde o Planalto tem folgada maioria para mantê-la sob controle. Sob forte pressão do presidente da Câmara, Henrique Alves - e ameaças de retaliação -, o presidente do Senado, Renan Calheiros, que vinha jogando em parceria com Dilma, concordou com a ideia de acrescentar uma CPI mista à original.

A presidente alega que o intento da oposição é armar um circo para desestabilizá-la e usar contra ela, na campanha eleitoral, os eventuais percalços da Petrobrás. Ainda que fosse verdade, ela não pode se desvencilhar pessoalmente do bilionário fiasco de Pasadena. Primeiro, porque, se tudo o que estava a seu alcance a respeito do contrato que dependia do aval do Conselho da empresa era um resumo de página e meia, ela deveria ter exigido mais informações antes de se comprometer com um investimento daquela envergadura. Em segundo lugar, como apontou a representação do Ministério Público no Tribunal de Contas, Dilma tornou a errar em detrimento da Petrobrás.

De fato, em 2008, ela vetou a compra da metade da refinaria ainda em posse dos belgas, como exigiam com base numa das cláusulas que o resumo omitira e que só então Dilma veio a conhecer. Ao desacatar o "direito líquido e certo" da associada, dizem os procuradores, ela arrastou a estatal a um litígio que terminou com a Justiça americana dando razão à recorrente, o que obrigou a petroleira a gastar em despesas legais US$ 173 milhões, que de outro modo teriam ficado nos seus cofres. Por fim, pesa contra a presidente o affair Nestor Cerveró, o autor do parecer cujas falhas ela viria a invocar. O diretor internacional foi então transferido para a BR Distribuidora. Demitido, só há pouco, seis anos depois.

Em audiência na Câmara dos Deputados, na última quarta-feira, a presidente da Petrobrás, Graça Foster, responsabilizou o Conselho - Dilma Rousseff, em última análise - pela permanência de Cerveró no grupo. Bem que o antecessor de Graça, José Sérgio Gabrielli, disse que a presidente "não pode fugir da responsabilidade dela". É disso que se trata.

Brasília-DF: Denise Rothenburg

- Correio Braziliense

Mais um trinco
Os aliados presentes ao evento do PT na noite de sexta-feira não esperavam um anúncio tão contundente de Lula a respeito de seu descompromisso com candidatos não-petistas ou palanques duplos nos estados. A tendência, diante desse fato, é um aumento da pressão para que não se feche aliança com o PT.
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Os mais irritados são justamente os peemedebistas. Isso quer dizer trabalho dobrado para Michel Temer tentar segurar a vaga de vice na chapa pela reeleição da presidente. Diante do anúncio de Lula, aqueles que tinham alguma dúvida em seguir com Dilma para neutralizar o poder de Lula junto ao povo, estão praticamente decididos a cuidar da própria vida, seguindo o exemplo do Rio de Janeiro, onde está em curso a campanha Aezão (Aécio em apoio a Luiz Fernando Pezão).

Senhor sabe tudo
Informações que chegam aos amigos do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa a respeito do estado emocional dele indicam depressão. Os parlamentares já foram inclusive avisados de que ele está disposto a contar tudo o que sabe a respeito dos negócios envolvendo a empresa e seus protagonistas. Esse foi o principal motivo da transferência para a carceragem da Polícia Federal. Lá, se ele pegar uma gripe, levantará suspeitas de que tem alguém inoculando vírus para não o deixar em plena saúde a fim de prestar o depoimento à comissão externa da Câmara.

Ela é ele
A referência de Lula a Heloísa Helena e as citações que ela recebeu como candidata a presidente em 2006 tinham endereço certo: o ex-governador de Pernambuco Eduardo Campos. O ex-presidente não citou Eduardo, mas mencionou Heloísa Helena apenas para deixar claro seu palpite de que Eduardo só é o queridinho agora porque "o maior partido de oposição, a gloriosa imprensa" (palavras de Lula) acha que ele vai tirar votos de Dilma e não do tucano Aécio Neves.

Dois pesos
O mesmo Eduardo da Fonte (PP-PE) que, na sexta-feira, bradava o apoio à reeleição de Dilma Rousseff, reclamava do sucateamento da rede de distribuição de energia elétrica do país. Citou ainda que 13% das mortes são causadas por choques elétricos no Brasil e os constantes apagões. Mencionou ainda o lucro da Celpe, R$ 1,4 bilhão em cinco anos.

A fuga de argôlo
Por duas vezes, o corregedor da Câmara, deputado Átila Lins (PSD-AM), tentou dar ciência ao deputado Luis Argollo (SDD-PR), flagrado nas escutas telefônicas feitas pela Polícia Federal na Operação Lava Jato, de que existe uma representação contra ele na Corregedoria da Casa, apresentada pelo deputado Rubens Bueno (PPS-PR). Até agora, não conseguiu. Fará mais uma tentativa. Se não der certo, Argollo será notificado via Diário Oficial da União e terá cinco dias para responder sobre a sua relação com o doleiro Alberto Yousseff.

CURTIDAS
Inverteu!/ Acostumado a seguir de perto os ventos de seu partido, o deputado Lúcio Vieira Lima (foto), do PMDB da Bahia, não esconde o que tem sentido nas conversas partidárias quando pergunta aos colegas sobre o futuro da aliança em torno da reeleição da presidente Dilma Rousseff: "Dissidente hoje é quem está ficando com Dilma".

O tombo de Rosso/ Calma pessoal, nada político. O presidente do PSD do Distrito Federal, Rogério Rosso, caiu dentro do lago, quando pedalava na Ponte das Garças e foi fechado por um caminhão. Por sorte, não houve nada grave.

O elogio de Rosso/ Desde que aderiu ao ciclismo, ele tem percorrido diversas ciclovias da cidade e não esconde o que sente: "Olha, as que eu tenho percorrido, ficaram muito bacanas. Não é porque é adversário que a gente não vai elogiar o que está correto", diz ele. E olha que Rosso está há mais de um ano nessa estrada. Já emagreceu 30 quilos. Fica a dica para essa temporada de seca.

Dilma vai/ A presidente Dilma Rousseff é a única que ainda não foi à Associação Comercial de São Paulo dar o seu recado pré-eleitoral, a exemplo do que já fizeram Eduardo Campos e Aécio Neves. Ela, no entanto, mandou dizer que irá. Agora, é uma questão de agenda.

Diário do Poder – Cláudio Humberto

- Jornal do Commercio (PE)

• Facção black bloc distribui cartilha de guerra
Criminosos que se intitulam “revolucionários black blocs”, distribuem cartilha com táticas de guerrilha para membros da facção. A estratégia inclui assaltos, emboscadas, execuções, uso de coquetéis molotov e até explosão do Senado, segundo exemplar obtido pela coluna. Barricadas e placas como “fogo na PM” aparecem no material. Para os policiais descobertos infiltrados, o grupo é taxativo: morte.

• Títulos
Na cartilha, os black bloc se definem como “revolucionários”. Para o bando, o nome adotado deve ser “grupo de intimidade”.

• Intolerância
Entre os deveres dos black blocs, o material impõe o “revide não-pacífico” às forças policiais do Estado. Ou seja, bala na polícia.

• Granadas
O guia ensina como fabricar explosivos, alguns deles podendo chegar a 2.000 ºC. Tem de tudo, até bomba a partir de um desodorante.

• Lista Negra
Os “justiceiros” divulgam uma lista com alguns dos inimigos que devem ser “combatidos da forma como merecem”: Polícia, Exército e Políticos.

• Governo Dilma grampeia até sindicalistas da PF
Fontes da Federação Nacional dos Policiais Federais garantem que ao menos 30 celulares de sindicalistas são monitorados pelo governo Dilma. A entidade atribui ao ministro José Eduardo Cardozo (Justiça) atuação nos bastidores, com auxílio do Ministério Público Federal, para enquadrar os policiais na mesma legislação usada para prender o vereador Marco Prisco, líder grevista na Polícia Militar da Bahia.

• Sem distinção
Dirigentes da federação da Polícia Federal reclamam que virou rotina a troca de chips de celulares visados, inclusive de familiares próximos.

• Estilo Obama
Só na federação, uma central telefônica (PABX) chegou a estragar por conta do superaquecimento causado pelo monitoramento do governo.

• Sabotagem
O vereador e sindicalista Marco Prisco está preso na Papuda, e responde por crimes previstos na Lei de Segurança Nacional.

• Quem paga
Enquanto deputados gastam a torto e a direito, funcionários da Câmara reclamam que até o cafezinho sofre racionamento nos anexos da Casa.

• Despreparo
Experiente na arte da política, o ex-senador Heráclito Fortes (PSB-PI) observa que se o PT não estava preparado para o poder, após a vitória de Lula em 2002, hoje não parece estar preparado para deixá-lo.

• O alvo
Antes contrário à aliança com PSDB em Mato Grosso do Sul, o PT agora estimula o senador petista Delcídio Amaral a disputar o governo com o tucano Reinaldo Azambuja como seu candidato ao Senado, com o objetivo de fragilizar o palanque de Aécio Neves no Estado.

• Base aliada
Em reunião privada antes do Encontro Nacional do PT, na sexta (2), o presidente Rui Falcão contabilizou o apoio de nove partidos à reeleição de Dilma, sem incluir o PR do mensaleiro Valdemar Costa Neto.

• Puro fisiologismo
Rui Falcão disse a um grupo de dirigentes regionais do PT que os deputados do PR pediram o “Volta, Lula” porque querem substituir César Borges pelo senador Antônio Rodrigues (SP) nos Transportes.

• Reativando as bases
O vice Michel Temer combinou com presidente do PMDB, Valdir Raupp (RO), de fazer um périplo em maio nos Estados para acertar coligações e acalmar rebeldes que querem desembarcar da aliança com Dilma.

• Fim de festa
Foram mixurucas a formatura do Instituto Rio Branco e a condecoração da Ordem do Rio Branco, quarta (30), no Itamaraty: a maioria dos agraciados recebeu o convite no mesmo dia, e em protesto ou porque não deu tempo, não apareceu. E a vaia a Dilma, prevista, não rolou.

• Liberado
O Tribunal Superior Eleitoral publicou acórdão permitindo que as 40 sessões de 30 segundos do PMDB nacional, em rádio e TV, sejam usadas pelos diretórios estaduais, neste domingo.

• Síndrome de Macunaíma
Síntese no Twitter da fala de Dilma na TV: “ Falar em Bolsa Família no Dia do Trabalho é igual a cantar Parabéns em velório.”

Panorama político - Ilimar franco

- O Globo

Procuram-se investidores
O ministro Paulo Bernardo (Comunicações) e o presidente da Anatel, João Rezende, farão um road show por Europa e Estados Unidos entre junho e julho. Partem em busca de investidores para a ampliação dos serviços de 4G no Brasil. Já houve conversa com os chineses. O governo corre contra o tempo para aumentar a arrecadação com o leilão marcado para agosto.

Há vagas
O governo federal está preocupado com o índice de desocupação dos hotéis no período da Copa do Mundo. Segundo dados apresentados ao Ministério do Turismo pelo Fórum de Operadores Hoteleiros do Brasil, havia até o fim de abril só 50% de ocupação nas cidades-sede, enquanto 41% dos quartos estão desocupados e 9% bloqueados por agências. O pior caso é São Paulo: a desocupação chega a 64%. Em Curitiba, 43% dos quartos estão vagos e, em Salvador, 35%. O Rio é campeão de ocupação dos hotéis. Há apenas 10% de disponibilidade. E este índice cai a 7% no fim de semana da final da Copa, 12 e 13 de julho. No Rio, 1% está bloqueado por agências.

“A presidente Dilma deve estar com saudade da ministra Ideli. Desde que Aloizio Mercadante e Ricardo Berzoini assumiram a coordenação política, seu governo está vindo abaixo.”

Aécio Neves
Senador e presidente nacional do PSDB

Piora ou melhora?
O deputado Luiz Argôlo (SDD-BA), que trocou mensagens carinhosas com Alberto Youssef, explicou ao partido que fez negócios com o doleiro. Vendeu um terreno na Bahia e recebeu parte do pagamento em rolos compressores.

Oi, oi, oi
Ao receber ligação de Dadá da Bahia, o presidente do TSE, ministro Marco Aurélio Mello, tomou um susto. “Fala, meu negão!”, disse a cozinheira baiana. Mello achou que ela havia se enganado. Depois de titubear por alguns instantes, riu e teve uma conversa animada com Dadá, que aceitou fazer propaganda institucional para o TSE sem receber cachê.

Descolada
A presidente Dilma gostou tanto do “face to face” que realizou na semana passada, que disse aos auxiliares que quer usar o sistema de conversa online com mais frequência. Sem avisar, surgirá no Facebook para responder algumas questões.

Desidratação socialista
Uma preocupação passou a rondar a cúpula do PSB: três dos mais bem votados deputados não concorrerão à reeleição, podendo levar a uma redução da bancada. Romário (RJ) e Beto Albuquerque (RS) concorrerão ao Senado. Márcio França (SP) ficará na coordenação da campanha de Eduardo Campos a presidente.

Minoria expressiva
Das 16 vagas da Câmara na CPMI da Petrobras, apenas duas são do PT. As demais, são distribuídas entre partidos da oposição e da base aliada nem tão fiel, formando maioria que quer ver o circo pegar fogo durante as investigações.

Quem é quem
As vagas da Câmara na CPMI da Petrobras serão assim distribuídas: duas para PT, PMDB e PSD, cada; e uma para PSDB, PP, PR, PSB, DEM, SDD, PTB, PDT, e bloco PV-PPS, cada. Por isso, governo queria restringir investigação ao Senado.

Chega esta semana ao Brasil a última leva dos 11,4 mil cubanos contratados pelo governo para integrar o Programa Mais Médicos.

José de Souza Martins*: Sem lenço, sem documento

• Haitianos foram iludidos pela propaganda de uma prosperidade que não está à altura de absorver excedentes populacionais

- O Estado de S. Paulo

É compreensível o nervosismo do governo do Acre com a ingrata tarefa de literalmente deportar para São Paulo os imigrantes senegaleses, dominicanos e, predominantemente, haitianos que atravessaram a fronteira do Brasil com a Bolívia e estão se amontoando em Brasileia. O Acre é um Estado pobre e sem condições de emprego para assimilar da noite para o dia milhares de pessoas que lá buscam refúgio simplesmente porque a fronteira é vulnerável. O ingresso de estrangeiros em território brasileiro é uma questão federal. O problema social e humano desses imigrantes só se configura porque, nessa questão, o governo do Acre foi abandonado à própria sorte pelo governo da União. Talvez desse melhores resultados espernear em Brasília, que se omite, do que em São Paulo, que improvisa às pressas o recebimento dos inesperados chegantes. Certamente, não é política de acolhimento de imigrantes nem é política de imigração a de fretar 50 ônibus para transferir o problema do Acre para a capital paulista.

Louve-se a Congregação dos Missionários de São Carlos Borromeu, a dos padres scalabrinianos, que, na sua Igreja de Nossa Senhora da Paz, na Baixada do Glicério, estão fazendo o que podem para acolher e abrigar os imigrantes e ajudá-los a obter documentação e emprego. Os carlistas têm mais que secular história de apoio e acompanhamento de migrantes e imigrantes em todo o mundo. A tradição de sua generosidade missionária no Brasil é conhecida. Sorte que, acima do descabido bate-boca que o governo petista do Acre trava com o governo tucano de São Paulo e com a administração municipal petista da cidade, tenham os refugiados encontrado abrigo e apoio na Pastoral dos Migrantes. Não fosse isso, estariam passando por maus momentos.

O Brasil tem uma história de recebimento organizado e racional de imigrantes estrangeiros que começou com a preparação da abolição da escravatura, no século 19. Particularmente São Paulo, a província cuja economia poderia ser mais afetada pelo fim da escravidão, organizou na Europa o recrutamento de imigrantes e preparou aqui a infraestrutura de acolhimento com a edificação da Hospedaria dos Imigrantes, inaugurada em 1888. Por ali passaram dezenas de milhares de imigrantes estrangeiros, e mesmo nacionais, destinados aos cafezais paulistas. Foi aquele o primeiro endereço de tantíssimos oriundi, cujos filhos nasceriam brasileiros e eles próprios se tornariam brasileiros com a naturalização geral efetuada pela República. Cidadãos ilustres e brasileiríssimos dos nossos dias descendem de avós que dormiram sua primeira noite de Brasil no que é hoje o Memorial da Rua Visconde de Parnaíba, na Mooca.

Mas o Brasil sabia o que estava fazendo com sua política imigratória bem organizada, que se estenderia, em São Paulo, até os primeiros anos posteriores ao fim da 2ª Guerra Mundial. Foi quando recebemos inúmeros imigrantes e migrantes, ali mesmo na hospedaria, trabalhadores qualificados, já não para puxar enxada entre as leiras de café, mas para o trabalho especializado nas fábricas do boom industrial dos anos 1950.

O que mudou no fluxo imigratório de agora é que já não se trata de imigrantes à procura da prosperidade do café ou da indústria, mas de imigrantes que buscam refúgio da miséria de países de economias arruinadas. Foram iludidos por uma propaganda internacional de prosperidade que de fato aqui não houve nem há na escala capaz de absorver excedentes populacionais de outros países. Muita gente alcançada pelo noticiário ufanista, até mesmo em países prósperos, ficou encantada com o suposto salto quase milagroso de multidões ontem famintas para uma classe média consumista, beneficiadas por um programa de ficção política, o Fome Zero. Na verdade, ilusão gerada pelos poucos reais de programas como o Bolsa Família, que permitem empurrar, estatisticamente, pobres dos estratos econômicos inferiores para estratos médios, o que está muito longe de configurar ascensão social e menos ainda a classe média.

Um documentário sobre haitianos levados para cidades médias de Santa Catarina, para trabalhar na indústria têxtil e de vestuário, mostra o desapontamento de alguns ao chegarem ao lugar de destino e descobrirem que não estavam chegando a uma Nova York dos trópicos. Embora sejam excelentes cidades, com um nível de vida muito bom, como é próprio daquela região, ficou evidente a súbita descoberta do engano.

Para compreender o cenário de uma imigração como essa, não se pode deixar de levar em conta o que tem ocorrido com os bolivianos em São Paulo há um bom número de anos: o trabalho servil na indústria de confecções reiteradamente constatado e combatido pelos fiscais do trabalho. Que, no entanto, não cessa. Se considerarmos o que acontece com os africanos clandestinos na Espanha e na Itália, fica evidente que falta um acordo internacional para criar alternativas de vida e de trabalho nos países de onde tentam escapar e esperam encontrar em países como o Brasil.

*José de Souza Martins é sociólogo, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP, autor, entre outros, de A sociologia como aventura(Contexto).

Maria Gadú - Tudo diferente

Carlos Drummond de Andrade: Sonetilho do falso Fernando Pessoa

Onde nasci, morri.
Onde morri, existo.
E das peles que visto
muitas há que não vi.

Sem mim como sem ti
posso durar. Desisto
de tudo quanto é misto
e que odiei ou senti.

Nem Fausto nem Mefisto,
à deusa que se ri
deste nosso oaristo,

eis-me a dizer: assisto
além, nenhum, aqui,
mas não sou eu, nem isto