No Roda Viva, Freire fez alerta: "Economia vai cobrar seu preço"
Fábio Matos
Mais uma vez no centro do Roda Viva, um dos mais importantes programas de debate da televisão brasileira, o deputado federal Roberto Freire (SP), presidente nacional do PPS, falou sobre as primeiras movimentações dos partidos políticos com vistas à sucessão de 2014. Questionado sobre a possibilidade de o governador de Pernambuco, Eduardo Campos (PSB), se lançar na disputa, Freire afirmou que a candidatura pode se tornar uma alternativa consistente ao projeto do PT, a partir de um racha na base aliada do próprio governo.
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“Se ele vier a ser candidato, vem como alguém que rompe a base do governo pela esquerda e pode atrair outros setores. Eu não estou esperando que ele faça oposição, mas não é um candidato do governo. É uma alternativa ao governo que aí está”, disse o presidente do PPS. “Não acredito que Eduardo não esteja buscando sua ampliação. Ele está. As coisas estão acontecendo, é um certo fenômeno que está aí. Não sei se é o cansaço com o governo, mas vários empresários, por exemplo, começam a pensar sobre Eduardo.”
Freire lembrou que Campos é um dos possíveis candidatos à Presidência da República em 2014 que foram convidados e aceitaram participar de uma conferência política organizada pelo PPS, programada para o mês de abril, em Brasília. Além do governador pernambucano, devem participar do encontro o senador Aécio Neves (PSDB-MG), a ex-ministra Marina Silva (que tenta formar seu novo partido, a Rede Sustentabilidade) e o ex-deputado Fernando Gabeira (PV-RJ), além de outras importantes lideranças como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
“É difícil dizer agora o que vai acontecer em 2014. A gente não sabe nem se Dilma vai ser candidata. O que Lula fala hoje não se escreve amanhã. Mas temos várias alternativas e vamos fazer um congresso nacional no final do ano”, explicou Freire. “A abertura do debate é feita por uma conferência política, que vamos realizar em abril, para a qual foram convidados representantes do que chamamos de esquerda democrática. O que acontece é que alguns dos que chamamos, talvez pela antecipação eleitoral, sejam colocados como pré-candidatos.”
Na entrevista, o parlamentar criticou o que chamou de “tradição sebastianista” do Brasil. “Nós precisamos de um salvador da pátria. O Lula foi presidente e até hoje não sabemos o que ele realmente pensa. Temos que buscar saber o que os candidatos pensam sobre o Brasil”, afirmou.
Freire também rechaçou a tese dos adversários de que o PPS teria se tornado mera “linha auxiliar” do PSDB e lembrou que o partido apoiou Lula em eleições anteriores a 2006. “O partido não é linha auxiliar nem está automaticamente aliado a quem quer que seja. Há uma tentativa de dizer que temos uma tradição de estar com o PSDB. Mas, desde 1989, eu votei mais em Lula do que no PSDB”, completou.
O presidente do PPS também citou Aécio e Marina como possíveis alternativas ao partido nas próximas eleições. “Eu conheci Aécio muito jovem, na juventude do MDB. Não está excluído o apoio ao Aécio, mas você tem alternativas que se aproximam do pensamento do PPS. E tem a própria Marina.”
Dilma, Lula, Bolsa Família e economia
Outro tema abordado na entrevista de Roberto Freire ao Roda Viva foi o momento difícil da economia brasileira na primeira metade do governo de Dilma Rousseff. Para o presidente do PPS, apesar dos elevados índices de popularidade de Dilma, problemas econômicos graves como a estagnação do país e os repiques inflacionários podem ter influência eleitoral decisiva em 2014.
“A avaliação de Dilma pode ser boa, mas a do governo é muito ruim. A população não está tendo uma boa visão das questões básicas, como saúde, educação e segurança. É tão grande a preocupação da população que a segurança passou a ser cobrada também das prefeituras e não somente do governo do estado. Se o governo estivesse muito bem, ninguém estaria falando na sua sucessão”, afirmou Freire. “E a economia vai cobrar seu preço. Eu não vou dizer que será o desastre, mas uma economia que cresce 1% não pode sustentar nível de emprego alto. Isso vai cobrar um preço. Eu espero que não seja dramático.”
Freire criticou duramente o que qualificou como “funcionalidade conservadora” do programa Bolsa Família. “As pessoas começam a tomar consciência de que aquilo não representa nenhuma mudança. O Bolsa Família tem uma funcionalidade conservadora, que não muda a realidade, mesmo melhorando o presente. A política compensatória não mudou nada no Brasil”, criticou o deputado. “A ditadura teve votos nos grotões e parecia que nunca iríamos derrotá-los. Lula conseguiu unificar todos os coronéis.”
O parlamentar recordou que o PPS rompeu com o governo Lula, ainda no primeiro mandato do ex-presidente, por discordar da política econômica adotada naquele momento. “Nós rompemos com o governo Lula fazendo críticas à política econômica. Não rompemos por causa da corrupção, não. Até porque, na época, não havia aparecido o mensalão. Nós nem sabíamos disso”, destacou.
Serra e fusão
O nome do ex-governador de São Paulo, José Serra (PSDB), apoiado pelo PPS nas eleições presidenciais de 2010, também virou tema de debate durante o programa. Freire destacou a antiga relação do Partido Comunista Brasileiro (PCB) com o tucano e chegou a dizer que considera Serra a figura pública mais bem preparada do país. “A aliança em 2010 se deu muito em função de José Serra ser o candidato. É uma relação histórica que se estreitou quando ele esteve exilado no Chile, por exemplo. A relação do PCB sempre foi muito boa com o Serra”, lembrou o parlamentar.
Questionado se gostaria de ver o ex-governador no PPS, Freire foi categórico, mas também deixou claro que, neste caso, não haveria qualquer garantia de candidatura presidencial. “Gostaria muito [de ter Serra no partido], e há muito tempo. Factível, é sim, mas se é provável, não sei. Ninguém pode dizer que será candidato pelo PPS, mas fazer parte do partido nos honraria muito”, disse.
Perguntado sobre os rumores de que o PPS poderia se fundir ao PMN para dar origem a uma nova legenda, Freire admitiu que a ideia de fusão esteve em pauta, sempre com a preocupação de se construir uma nova alternativa de esquerda democrática na política brasileira. “Não é para integrar um novo partido e virar uma geleia geral. É para virar uma oportunidade de debater e formar uma esquerda democrática brasileira. Não é juntar, não. É construir uma alternativa de esquerda democrática maior do que é o PPS hoje”, afirmou.
Já na parte final da entrevista ao Roda Viva, Freire foi questionado sobre temas polêmicos e disse ser favorável à descriminalização do aborto e ao casamento gay.
O programa
Esta não é a primeira vez que Roberto Freire participou do Roda Viva. O parlamentar já foi o entrevistado do programa em 1989, ano da primeira eleição presidencial no Brasil pós-redemocratização, quando se candidatou ao Planalto pelo PCB.
Mais recentemente, Freire foi sabatinado no programa em 2009, um ano antes do pleito que elegeria Dilma Rousseff presidente da República, e em 2010, pouco depois de ser eleito deputado federal por São Paulo.
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No ar desde 1986, quando a democracia do país dava seus primeiros passos após duas décadas de regime militar, o Roda Viva é um dos mais tradicionais programas de debate da televisão brasileira.
Participaram do programa desta segunda-feira, como entrevistadores, Bruno Boghossian, do jornal O Estado de S.Paulo; Denise Rothenburg, do Correio Braziliense; Sheila Magalhães, da Rádio Band News FM; Guilherme Evelin, da revista Época; Daniela Lima, da Folha de S.Paulo; e o apresentador do Roda Viva, Mario Sergio Conti.
Fonte: Portal do PPS