• Fim da reeleição e reformas trabalhista, tributária e previdenciária são pontos acordados, segundo tucano
“Vamos estender essa conversa a outras forças, tendo como única prioridade o Brasil”
Aécio Neves Senador (MG) e presidente nacional do PSDB
Maria Lima, Catarina Alencastro - O Globo
- BRASÍLIA- No primeiro encontro do presidente do PSDB, senador Aécio Neves ( MG), com o vice- presidente Michel Temer para acertar o apoio dos tucanos a um eventual governo de transição, caso aprovado o impeachment da presidente Dilma Rousseff, os dois discutiram a construção de uma agenda emergencial de recuperação econômica, política e social. A reunião entre os dois foi antecipada ontem no GLOBO.
O vice-presidente se mostrou preocupado com a situação do país num cenário pós- impeachment. Disse que considera fundamental o apoio do PSDB, para arrefecer os ataques que, passada a euforia da mudança, poderá sofrer, por ser a continuidade do governo do qual participava.
Encontro durou três horas
Segundo relato feito por Aécio aos tucanos, o acordo que começou a ser costurado com Temer prevê pontos já convergentes: um ministério de “alto nível”, que não será submetido a partidos; uma reforma política, para acabar com a reeleição e o número de partidos; reforma tributária, focada na simplificação dos impostos; reforma trabalhista, cujo item inicial é a negociação direta entre patrões e empregados; reforma sindical; e reforma previdenciária, com regra de transição até se chegar a uma idade mínima para aposentadoria.
No encontro anteontem à noite em São Paulo, que durou três horas, Temer pediu que Aécio ajudasse a ampliar as conversas com notáveis da área econômica. O tucano comprometeu- se a providenciar os encontros, mas relatou que seu principal interlocutor na área, o ex-presidente do Banco Central Armínio Fraga, tem dito que não é seu projeto virar ministro. No entanto, se dispôs a colaborar.
Segundo relato de senadores tucanos, Aécio iniciou a conversa com Temer garantindo que não gostaria de debater cargos.
— O nosso limite é a construção de uma agenda de reformas fundamentais — disse Aécio ao vice-presidente, segundo senadores do PSDB.
Aécio também disse a Temer que, para minimizar qualquer tensão no PSDB, o vice-presidente precisa passar a certeza de que não vai interferir nas disputas regionais para prefeito e governador, já que, em várias cidades, o PMDB é o grande adversário dos tucanos, como em municípios do Pará, do Paraná, do Rio e de Goiás.
— Temer tem que passar essa tranquilidade para que a disputa nos estados não seja um fator de desconfiança — disse um senador tucano.
Interlocutores do PMDB informaram que a primeira iniciativa de Temer no campo político seria apoiar uma emenda constitucional para extinguir a reeleição, de forma que ele mesmo não possa disputar o pleito de 2018. A ideia, segundo seus aliados, é inibir qualquer resistência ou desconfiança sobre Temer. Ontem, em Brasília, Aécio admitiu o encontro com Temer e disse ser natural que eles conversem sobre o cenário que se desenha, com a eventual aprovação do impeachment.
— Neste momento, é importante que as lideranças conversem. Quero confirmar que estive ontem em São Paulo numa longa conversa com o vice-presidente e presidente do PMDB, Michel Temer, avaliando o cenário a nossa frente e dividindo nossas preocupações. Encontrei o vice-presidente sereno, mas muito ciente do seu papel neste momento. Vamos agora estender essa conversa a outras forças tendo como única prioridade, o Brasil. Tirar o país desta situação econômica e social caótica — disse Aécio.
Impeachment, o caminho mais rápido
O tucano explicou que a avaliação de todos é que, neste momento, o impeachment é o caminho mais rápido para resgatar a confiança no país, já que a tramitação de um processo no Tribunal Superior Eleitoral é mais demorada.
— Nós do PSDB não fugiremos a nossa responsabilidade de ajudar o Brasil. Aprovado o impeachment, nós temos que estar prontos para ajudar na construção de uma agenda ousada de resgate do Brasil. Não faremos como o PT, que negou apoio ao governo do presidente Itamar Franco. Daremos nosso integral apoio político ao governo de transição, não necessariamente com ocupação de cargos — disse Aécio, frisando que falava como presidente nacional do PSDB, e que haveria uma convergência na legenda sobre esse acordo com o PMDB.
Para Renan, pedaladas não justificam
O presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB- AL) se reuniu ontem por duas horas com os ex- presidentes Lula e José Sarney para discutir a crise política. Após o encontro, Renan disse que a aprovação do impeachment de um presidente sem “a caracterização do crime de responsabilidade” não poderá ser chamado de impeachment e sim de “um outro nome”. Em sua opinião, as chamadas pedaladas fiscais não estão caracterizadas como crime de responsabilidade. O senador disse que muitos governantes recorreram a essa manobra. As chamadas pedaladas fiscais constituem a base do pedido de impeachment analisado na Câmara.
— Para haver impeachment, tem que haver a caracterização do crime de responsabilidade da presidente da República. Quando o impeachment acontece sem essa caracterização, o nome sinceramente não é impeachment. É outro nome. É preciso caracterizar a prática do crime de responsabilidade. As pedaladas não servem, todo mundo cometeu — disse Renan.
O presidente do Senado ainda propôs que o PMDB não agrave a crise e, sem citar o Judiciário, disse que nenhum poder deve querer “grilar” a função de outro. Embora tenha dito que não terá lado na batalha do impeachment, já que isso pode desequilibrar o processo, Renan sinalizou que é contra o rompimento do PMDB com o governo.
— Se o PMDB sair do governo, e isso significar o agravamento da crise, é uma responsabilidade indevida que o PMDB deverá assumir — alertou o presidente do Senado.