segunda-feira, 7 de agosto de 2017

Opinião do dia – Fernando Henrique Cardoso

Penso que o polo progressista, radicalmente democrático, popular e íntegro precisa se “fulanizar” numa candidatura que em 2018 encarne a esperança. As dicotomias em curso já não preenchem as aspirações das pessoas: elas não querem o autoritarismo estatista nem o fundamentalismo de mercado. Desejam um governo que faça a máquina burocrática funcionar, com políticas públicas que atendam às demandas das pessoas. Um governo que seja inclusivo, quer dizer, que mantenha e expanda as políticas redutoras da pobreza e da desigualdade (educação pública de maior qualidade, impostos menos regressivos, etc.); que seja fiscalmente responsável, atento às finanças públicas, e ao mesmo tempo entenda que precisamos de maior produtividade e mais investimento público e privado, pois sem crescimento da economia não haverá recuperação das finanças públicas e do bem-estar do povo.

Um governo que, sobretudo, diga em alto e bom som que decência não significa elitismo, mas condição para a aceitação dos líderes pelos que hão de sustentá-los. Brizola, referindo-se a Lula, disse que ele era a “UDN de macacão”, lembrando a pregação ética dos fundadores do PT. Infelizmente, Lula despiu o macacão e se deixou engolfar pelo que havia de mais tradicional em nossa política: o clientelismo e o corporativismo, tendo a corrupção como cimento. Não é desse tipo de liderança que precisamos para construir um grande País.

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*Sociólogo, foi Presidente da República, “Convicção e esperança”, O Estado de S. Paulo, 6/8/2017.

Delenda Lava-Jato | Ricardo Noblat

- O Globo

“A operação abafa é uma realidade visível. Há os que não querem ser punidos, e há um lote pior, os que não querem ficar honestos” LUÍS ROBERTO BARROSO, ministro do STF

Temer ficou porque era melhor para todo mundo. Melhor para o Congresso acuado pela Lava-Jato e interessado em extrair vantagens de um presidente fraco. Melhor para a oposição que imagina crescer batendo nele. Melhor para os reais donos do poder satisfeitos com a sua agenda de reformas. Melhor até para a maioria dos brasileiros que o rejeita. Trocá-lo por quem? E a 15 meses de uma nova eleição?

AS RUAS NÃO RONCARAM CONTRA Temer porque não são tão bobas. Em junho de 2013, o ronco repentino e espontâneo surpreendeu governantes e partidos de todas as cores. Foi só um susto, contido pela ação violenta da polícia e dos black blocs. Movimentos como aquele, sem líderes para conduzi-lo, sem pauta definida, esgotam-se como simples ventanias. Por vezes funcionam como aviso. Foi o caso.

Votação e denúncia | Denis Lerrer Rosenfield*

- O Globo

É inegável que o resultado da votação da denúncia oferecida pelo procurador-geral da República, Rodrigo Janot, configurou uma vitória expressiva do presidente Temer. Alguns analistas, que mais pareciam torcidas organizadas, chegaram a dizer que os seus dias estavam contados e que os deputados o abandonariam, dada a sua baixa popularidade. Não foi isto o que aconteceu. Mais uma vez, o presidente mostrou-se um hábil articulador, profundo conhecedor da Câmara dos Deputados, capaz de desarmar toda uma oposição que nem soube se comportar dignamente.

Diga-se, aliás, que o PT e o PSOL, nos dias anteriores, esmeraram-se em defender a ditadura de Nicolás Maduro, que, seguidor de Chávez, consumou a falência da Venezuela. As mortes rotineiras, perpetradas pelas milícias bolivarianas, são um triste retrato do “socialismo do século XXI”, tão ardentemente defendido pelas lideranças petistas. O país está em ruínas, a população na miséria, os supermercados desabastecidos, a democracia ferida de morte e o que faz a nossa esquerda? Apoia um regime claramente liberticida. Eis a alternativa que ofereceram ao país no processo de julgamento da denúncia oferecida pelo procurador-geral. Nesta perspectiva, não seria de estranhar o silêncio das ruas. Tratar-se-ia de apoiar o PT nesta sua radicalização?

O quem e o quanto | José Roberto do Toledo

- O Estado de S.Paulo

A eleição mais importante de 2018 começou e não decide quem irá para o Planalto, mas por quanto tempo o eleito ocupará o palácio. Como o impeachment de Dilma e a manutenção de Temer demonstraram, ninguém permanece presidente se não tiver 172 votos selados, amarrados e cabresteados na Câmara dos Deputados. Até abril de 2016, esse número era teórico. Desde então, passou a ser o kit básico de sobrevivência para qualquer presidente.

A diferença em relação ao período pré-Dilma é que esses 172 votos não podem mais ser adquiridos a posteriori pelo governante. Para minimizar o risco de ser traído, o sucessor de Temer terá que ter participação direta na formação dessa bancada mínima de deputados. Não por acaso, o PT decidiu priorizar a eleição para o Congresso em detrimento das eleições para governador no próximo pleito. Mas não é, nem de longe, o partido mais adiantado no posicionamento das peças nesse novo tabuleiro.

Previdência já. Ou não | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

Governo quer ampliar base antes da votação. E fala na reforma possível

Vamos imaginar que são sinceras todas as juras de amor às reformas, repetidas pelos parlamentares na votação da denúncia contra Temer. Vamos imaginar também que eles estão aflitos com o agravamento da crise fiscal que fragiliza a economia brasileira e, portanto, mais do que empenhados em apressar a reforma da Previdência. Ainda assim, o futuro dessa reforma parece duvidoso. Mesmo daquela proposta que saiu das inúmeras rodadas de negociações e chegou ao Congresso já bastante restrita em relação à que se pregava no começo do governo Temer.

Para início de conversa, não custa lembrar quem ganhou e quem “levou” a votação da semana passada. Obviamente, Temer venceu, mas terá de “pagar” por essa vitória ao Congresso, principalmente ao chamado Centrão. E, quando se fala em pagar, não se trata apenas do que foi entregue no ato da votação, seja em emendas parlamentares, crédito para uns, anistia fiscal para outros e assim por diante. Trata-se também do que será quitado em “suaves prestações”, neste recomeço do governo. E é aí que entra o próprio calendário de reformas.

Quarto do pânico | Vinicius Mota

- Folha de S. Paulo

O que a vitória de Michel Temer na sessão que apreciou a denúncia da Procuradoria contra o presidente pode dizer sobre o regime político brasileiro, submetido ao seu mais prolongado teste de estresse desde a redemocratização?

Respostas menos aleatórias dependem da decantação dos fatos nos próximos anos e do estudo metódico das variáveis. Agora, no meio do vendaval, o máximo a fazer é levantar algumas hipóteses, tais como:

1. É difícil derrubar o presidente da República no Brasil. Apenas o viés do "engenheiro da obra feita" apaga da memória como foram custosos, demorados e incertos os processos que culminaram na deposição legal de Fernando Collor e Dilma Rousseff;

Otimismo artificial | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

O governo quer impor a discussão da reforma da Previdência como passo seguinte à decisão da Câmara que barrou a denúncia contra o presidente Michel Temer.

No dia posterior ao resultado que segurou a acusação da PGR, o ministro Henrique Meirelles (Fazenda) declarou que a regra da aposentadoria deve ser votada até o mês de outubro.

Seu colega Eliseu Padilha (Casa Civil) seguiu o mesmo tom, afirmando que o tema será prioridade do Palácio do Planalto a partir de agora.

Pelo lado da Câmara, o presidente Rodrigo Maia disse ser possível apreciá-lo em setembro no plenário. Ontem, Temer recebeu Maia no Planalto para mapear o cenário de apoio.

Truculência eloquente e familiar | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Maia foi demovido de assumir o papel da dupla Cunha-Temer

Michel Temer, discursando logo após o encerramento da votação da quarta-feira, reputou o resultado como uma vitória eloquente. Convenhamos, como gosta de dizer o presidente, há aqui enorme exagero. Não ser derrotado não é o mesmo que vencer.

A análise do ocorrido quarta feira privilegiou a votação final do relatório de Paulo Abi-Ackel, quando o presidente obteve 263 votos favoráveis, uma margem de vitória que está longe de ser confortável ou garantir a sobrevivência do presidente até o fim do seu mandato.

Ao privilegiar esta votação final, os holofotes se voltaram para os parlamentares do famigerado Centrão e sua alegada volúpia por cargos e verbas. Entretanto, estes foram atores coadjuvantes do drama e só foram chamados ao palco quando a fatura já estava decidida. A tatuagem do deputado Wladimir Costa (SD-PA) pode até ser duradoura, mas a lealdade obtida no toma-lá-da-cá não resiste às mudanças do ambiente politico, como Dilma Rousseff e Eduardo Cunha bem o sabem.

Meirelles afia discurso para defender medidas | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Moody's: "Prevemos déficit um pouco maior que a meta"

O ministro da Fazenda está bem-humorado e com discurso afiado para defender no Congresso projetos que asseguram maior arrecadação ao governo e redução substantiva de despesas a longo prazo. Henrique Meirelles prevê a votação da Reforma da Previdência em outubro e pretende reverter o mais rápido possível à versão original dois projetos já em fase adiantada de votação: o Refis e a reoneração da folha de pagamentos.

Em suas novas versões propostas por parlamentares, a expectativa de arrecadação cairá em bilhões de reais e não tornará mais fácil a gestão do déficit público. Sem a entrada em vigor de novas medidas, a elevação da meta fiscal do governo está em análise porque o número de R$ 139 bilhões de déficit primário definido para o ano tornou-se pequeno.

O cenário que se avizinha é pior, a prevalecer a nova versão do Refis apresentada pelo relator dessa matéria em comissão especial da Câmara porque implica em livrar contribuintes faltosos com perdão de 99% das multas cobradas por atraso no pagamento de impostos.

TLP vem em boa hora| Gustavo Loyola

- Valor Econômico

Ao contrário da atual TJLP, a TLP poderá se tornar a verdadeira taxa de juros de longo prazo no Brasil

A ideia da substituição, nas operações do BNDES, de uma taxa de juros administrada (TJLP) por uma determinada por parâmetros de mercado (TLP) tem sofrido críticas de várias origens: empresários, economistas e políticos. Os argumentos contrários à medida são, contudo, frágeis e não resistem ao teste da realidade.

Com a TLP, as operações do BNDES terão remuneração compatível com as taxas de juros de mercado, permitindo que os ativos de créditos do banco sejam securitizados, o que trará uma fonte adicional de captação de recursos para a instituição. Facilitará, ainda, que instituições privadas possam se associar ao BNDES em operações de financiamento, diluindo assim o risco de crédito para o banco oficial. Assim, ao contrário da TJLP, a TLP poderá se tornar a verdadeira taxa de juros de longo prazo no Brasil, com consequências positivas para o mercado de capitais como um todo.

O Dia Nacional da Saúde | Marcus Pestana

- O Tempo (MG)

No último sábado, foi comemorado o Dia Nacional da Saúde. Há motivos para comemorações? Em parte sim, em parte não.

O Brasil promoveu, no final da década de 80, uma das mais radicais reformas sanitárias do mundo. Migramos de um sistema centralizado, excludente, autoritário, hospitalocêntrico, para o SUS, que tem como características principais a descentralização, a inclusão social, a participação social e a prioridade para a atenção primária.

Antes, no Inamps, só os possuidores de vínculo formal de trabalho tinham direito de acesso assegurado. Milhões e milhões de brasileiros desempregados, trabalhadores informais, pobres e miseráveis ficavam à mercê da caridade pública. Hospitais universitários e filantrópicos supriam parcialmente a lacuna. A partir da Constituição Federal de 1988 e da Lei Orgânica da Saúde, ficou consagrado como direito de cidadania e dever do Estado o acesso universal e integral à saúde.

A imagem negativa do governo | Gaudêncio Torquato

- Blog do Noblat

Alguma coisa está mal explicada: o presidente da República é impopular, mas seu governo está tirando o Brasil do fundo do poço, bastando ler os sinais de recuperação da economia. Os componentes dessa equação podem ser assim alinhavados:

Parcela da mídia, com seu extraordinário poder destrutivo, não consegue afastar Michel Temer do Palácio do Planalto, conforme defende em editoriais e no tiroteio expressivo sobre a figura do presidente.

Grandes manifestações, organizadas por movimentos sociais, intensas por ocasião do impeachment de Dilma Rousseff, mostram-se cansadas e longe das ruas.

Populações do Brasil profundo se interessam por coisas da micropolítica – casa própria, escolas, hospitais e remédios, transporte e alimentos baratos – não tomando posição aberta em assuntos como afastamento do presidente da República.

No topo e no meio da pirâmide, empresários, executivos, entidades da produção e profissionais liberais aplaudem as medidas do governo para resgatar a economia.

Como explicar a aparente contradição entre impopularidade do presidente e os avanços por ele comandados? Analisemos. A primeira observação é a de que a avaliação negativa do governo não é um fenômeno isolado. Reflete a imagem que a sociedade tem da política e seus protagonistas. Desde o mensalão, compra de deputados na era petista, denúncias invadem a intimidade dos lares, trazidas pela tuba de ressonância dos meios de comunicação. Construiu-se a paisagem de um imenso lamaçal que, a cada dia, recebe toneladas de dejetos.

Uma foto na parede – Editorial | O Estado de S. Paulo

O Partido da Social Democracia Brasileira (PSDB) surgiu em julho de 1988 com a pretensão de representar ideologicamente os anseios da classe média, afastando-se da demagogia de partidos trabalhistas como PT e PDT e do fisiologismo explícito do PMDB, de cuja costela foi criado. Para isso, contava com nomes de peso da política nacional, capazes de oferecer compromissos firmes com a modernização do País, a começar pela novidade de um partido que se propunha a ser uma agremiação de massa a partir de um ideário homogêneo, distinguindo-se claramente do cipoal de siglas que nada representam. Isto é, o eleitor do PSDB saberia exatamente que projeto estaria elegendo quando votasse em algum candidato do partido. Isso, o eleitor já não sabe mais.

O errático comportamento do PSDB ao longo da grave crise política, econômica e moral que atinge o País vai muito além de sua anedótica indecisão. O fato de que 21 dos 47 deputados do partido votaram a favor da admissibilidade da denúncia contra o presidente Michel Temer na Câmara, embora formalmente os tucanos sejam parte do governo, indica a profundidade da confusão que reina no PSDB. E é evidente que essa balbúrdia denota falta de rumo, deixando confusos os eleitores que pensavam ser representados pelos tucanos.

Pela racionalidade – Editorial | O Globo

Prejudica as pessoas de renda mais baixa não se fazer o devido combate à inflação

Não há ajuste indolor na situação de descalabro a que chegou a economia brasileira com o descontrole das contas públicas decorrente da política voluntarista de Dilma Rousseff de forçar o crescimento do PIB com mais gastos do Tesouro. Temeridade amplificada em 2013 e 2014, para embalar a campanha à reeleição da presidente, inclusive com a aplicação ao extremo de técnicas de contabilidade criativa para maquiar as catastróficas estatísticas das públicas.

Num primeiro momento, deu certo para Dilma, que se reelegeu, mas a bomba começou a explodir antes da posse, em 1º de janeiro de 2015, já com um aumento dos juros básicos pelo Banco Central presidido por Alexandre Tombini, subjugado pela presidente. O estelionato eleitoral cobraria um alto preço da população. Claro que mais elevado para os mais pobres e menos instruídos.

As manipulações retardaram que se pudesse constatar o tamanho dos estragos do desequilíbrio fiscal — e isso garantiu a reeleição, uma vitória de fôlego curto —, que terminariam configurando crime de “responsabilidade”, passível de ser punido com a perda de mandato. E aconteceu.

Revolução 4.0 – Editorial | Folha de S. Paulo

Desde que a palavra foi criada pelo autor tcheco Karel Capek em 1920, na peça "R.U.R. - Robôs Universais de Rossum", essas máquinas de dispensar trabalho humano abrem para o mundo duas perspectivas, uma radiante e outra sombria: produtividade e desemprego.

Essa é a própria história da tecnologia, em especial no modo capitalista de produção. A economia avança e incorpora ao mercado massas de miseráveis precisamente porque o recurso a maquinário amplifica a eficiência do trabalho.

A mecanização da agricultura libera mão de obra para a indústria. Esta, em seu turno de automação, cede espaço para o setor de serviços. Ainda assim, pode-se argumentar que uma coisa é complementar o labor humano e outra, diversa, é substituí-lo por inteiro.

Brasil depende da Argentina e China no superávit comercial – Editorial | Valor Econômico

Os espetaculares resultados da balança comercial brasileira neste ano confirmam que o país continua fortemente dependente do superávit obtido nas relações comerciais com duas nações, China e Argentina. São os negócios com esses dois parceiros que explicam boa parte da performance positiva registrada entre janeiro e julho.

Nestes sete primeiros meses do ano, o país registrou um saldo positivo acumulado de US$ 42,5 bilhões, conforme os dados divulgados na semana passada pelo Ministério da Indústria, Comércio Exterior e Serviços (Mdic). É um recorde histórico. As exportações somaram US$ 126,4 bilhões, enquanto as importações atingiram US$ 83,9 bilhões. Nos sete primeiros meses de 2016, a balança comercial brasileira registrava superávit de US$ 28,2 bilhões.

O detalhamento das estatísticas oficiais mostra que o Brasil vendeu US$ 30 bilhões à China até junho, e comprou dos chineses menos da metade desse valor - US$ 14,5 bilhões. O que resultou, portanto, num saldo favorável aos brasileiros de US$ 16,2 bilhões. Ou seja, quase 38% do superávit brasileiro no período veio das relações comerciais com a China. O Brasil exporta basicamente commodities para o país.

Gilmar vê Supremo ‘a reboque’ de Janot

Ministro diz que ‘normalidade na relação’ entre a Corte e o MPF será restabelecida após fim do mandato do procurador-geral da República

Pedro Venceslau | O Estado de S. Paulo.

O presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE) e ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), Gilmar Mendes, disse ontem que o fim do mandato de Rodrigo Janot vai restabelecer a “normalidade na relação” do STF com a Procuradoria-Geral da República. Gilmar reafirmou que o Supremo ficou “a reboque” de impulsos do procurador-geral. Ele ainda desejou “boa viagem” a Janot na saída do comando do Ministério Público Federal.

“Certamente o tribunal (STF) vai acertar o passo (quando acabar mandato de Janot).

Acho que haverá o restabelecimento da normalidade na relação do tribunal com a PGR”, disse Gilmar ao Estado.

O presidente do TSE esteve ontem em Manaus para supervisionar as eleições suplementares para governador (mais informações na pág. A8).

Contra investigações, Temer pode pedir suspeição de Janot

Mônica Bergamo | Folha de S. Paulo

A equipe de advogados de Michel Temer estuda pedir a suspeição do procurador-geral da República, Rodrigo Janot, para que ele não possa mais atuar em ações contra o presidente da República.

O martelo ainda não foi batido, mas a tendência é que a iniciativa siga adiante –a não ser que o próprio Janot envie sinais de que está disposto a um armistício, ou seja, a não mais apresentar novas denúncias contra Temer.

Na semana passada, por exemplo, ele fez o oposto: pediu a inclusão do presidente e de seus principais ministros, Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Secretaria-Geral), em um antigo inquérito, conhecido como "quadrilhão do PMDB", que investiga integrantes do partido na Câmara dos Deputados.

Temer e cúpula do Congresso acertam agenda de reformas

Presidente chama Maia, Eunício e Meirelles para discutir estratégias

Em reunião atípica no Planalto, no domingo, governo e aliados decidem votar a MP do Refis e, em seguida, as mudanças na Previdência

Na primeira reunião após a Câmara rejeitar a denúncia por corrupção passiva contra o presidente Temer, o governo começou a montar estratégia para reorganizar a base aliada e retomar a agenda econômica. Presidentes da Câmara e do Senado, Rodrigo Maia e Eunício Oliveira foram chamados ao Palácio do Planalto para reunião com Temer e os ministros Henrique Meirelles, Moreira Franco e Antonio Imbassahy. Ficou acertado que tentarão resolver logo a MP do Refis para retomar os trabalhos no Congresso. A MP foi desfigurada pelo relator, que incluiu descontos de até 99% em multas e juros, o que desagradou à equipe econômica. Além de fazer avançar a reforma política, o passo seguinte será votar a reforma da Previdência ainda em setembro, segundo Rodrigo Maia.

De volta ao trabalho

Em reunião no Planalto, Temer acerta agenda para votar MP do Refis e, depois, Previdência

Catarina Alencastro e Bárbara Nascimento | O Globo

-BRASÍLIA- Passado o furacão da votação da denúncia contra o presidente Michel Temer, arquivada pela Câmara na última quarta-feira, o governo tenta agora retomar a normalidade e quer dar andamento à agenda econômica no Congresso. Na primeira reunião após a votação da Câmara, Temer juntou ontem o ministro da Fazenda, Henrique Meirelles, e os presidentes da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ), e do Senado, Eunício Oliveira (PMDB-CE), para traçar um cronograma de projetos. Nos planos do Palácio do Planalto, o primeiro passo é aprovar a Medida Provisória (MP) do Refis, que cria um parcelamento de dívidas para empresas e pessoas físicas e precisa apenas de maioria simples para ser aprovada. A MP tem de ser votada até o dia 30 de setembro e pode servir como uma forma de reorganizar a base governista.

‘Há um acordo de autodefesa do sistema político contra o Judiciário’, diz cientista político

Marcos Nobre diz que está sendo criado um novo Centrão em apoio a Temer, cujo principal articulador é o tucano Aécio Neves; Nobre é professor de filosofia na Unicamp e cunhou o termo 'peemedebismo'

Marianna Holanda | O Estado de S.Paulo

Ao analisar o reflexo da votação na Câmara dos Deputados da denúncia contra o presidente Michel Temer por corrupção passiva, o professor de filosofia da Unicamp e cientista político Marcos Nobre aponta um “acordo geral de autodefesa do sistema político contra o Judiciário”. Para Nobre, o principal objetivo da base governista que votou contra o prosseguimento da acusação formal é se reeleger para “fugir de Curitiba”.

Ele vê o PSDB em um momento de divisão total, com duas estratégias distintas: com o senador Aécio Neves (MG) agindo como o “mais importante articulador do governo” e o governador de São Paulo, Geraldo Alckmin, costurando para que o partido desembarque da gestão Temer o mais rápido o possível.

“A sigla está rachada no meio e cada metade desceu para um lado do muro. É a primeira vez que o PSDB não vai poder subir no muro e fazer um arranjo interno. Alguém vai ser massacrado”, disse Nobre. Veja os principais trechos da entrevista ao Estado.

Como avalia a votação da denúncia contra Temer na Câmara e o placar de 263 votos favoráveis?

A questão não é o placar. Se a gente se fixar nisso, acha que essa votação era sobre o Temer. E não era. A votação era sobre duas estratégias para 2018 do campo de centro-direita, que hoje está próximo do governo. Uma é colar em Temer, porque vai ser uma das duas únicas fontes de recurso para eleição de 2018, já que não vai ter financiamento empresarial e que as doações de pessoa física serão limitadas. A outra fonte será o fundo (eleitoral, em discussão na reforma política). Então a estratégia é ter os partidos e usar a máquina governamental. Tanto em termos de cargos, quanto em termos de recursos. Por que a prioridade é renovar o mandato para fugir de Curitiba. A outra estratégia é: para ter de fato chance de ganhar eleição presidencial é preciso descolar do governo Temer.

Reforma sob pressão do Judiciário

Cristian Klein | Valor Econômico

RIO - As frentes de mudanças na área política que estão no Congresso - e que são prioridade na agenda da Câmara a partir desta semana - representam mais o instinto de autopreservação dos grandes partidos, numa reação ao ativismo do Judiciário, do que uma resposta à opinião pública. O que não impede de terem um grau de ousadia que poderá alterar as regras do jogo das próximas eleições.

Paira, pelo menos sobre quatro propostas, a sombra de um Judiciário que já mudou ou tem grande probabilidade de alterar pilares do sistema. O mais óbvio é o fundo eleitoral de R$ 3,5 bilhões, tábua de salvação de um sistema partidário que não pode mais receber doações de empresas por decisão do STF.

Outros três pontos - o fim das coligações proporcionais, a instituição de cláusula de desempenho (para reduzir o número de legendas) e a obrigatoriedade de um mínimo de 80% de diretórios permanentes, o que reduziria o poder dos caciques partidários -, aparecem na discussão da reforma como antecipações ao movimento do Judiciário.

Propostas da reforma política se antecipam ao Judiciário
Megaescândalos de corrupção, como os investigados pela Operação Lava-Jato, aliados a crise aguda, costumam gerar pressões da sociedade que provocam, em outros países, o ambiente propício para reformas políticas audaciosas. As frentes de mudanças que estão no Congresso Nacional - e que são prioridade na agenda da Câmara a partir desta semana - representam mais o instinto de autopreservação dos grandes partidos, numa reação ao ativismo do Judiciário, do que uma resposta à opinião pública. O que não impede de terem um grau de ousadia que poderá impactar substancialmente as regras do jogo das próximas eleições.

Com meta ousada, Novo receia criação do distritão

Por Fernando Taquari | Valor Econômico

SÃO PAULO - A reforma política em discussão na Câmara dos Deputados ameaça os planos do Novo, partido que pretende eleger de 20 a 25 deputados federais no próximo ano. A preocupação maior é com a possibilidade de a Câmara aprovar o chamado distritão, cujos eleitos são os candidatos mais votados por circunscrição.

"Se essa proposta prevalecer, teremos que repensar nossa estratégia,principalmente em relação ao número de candidatos. Temos um voto ideológico. Nosso eleitor, primeiro, escolhe o Novo e depois procura alguém dentro do partido que ele quer apoiar. O distritão meio que acaba com isso", afirma o novo presidente da sigla, Moisés Jardim, que aposta na descrença da população com a classe política como um dos principais atrativos da sigla.

Como exemplo, o dirigente cita a pesquisa da empresa Ideia Big Data, feita com 10 mil eleitores entre os dias 11 e 25 de julho, em que 79% dos entrevistados afirmaram que gostariam de votar em candidatos sem vícios ou à margem da política. Trata-se do perfil de postulantes que o Novo pretende colocar à disposição do eleitorado.

Temer e Serra comandam investida parlamentarista

Por Raymundo Costa e Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - O senador José Serra (PSDB-SP) desceu a rampa do Palácio do Planalto, no início da noite de quinta-feira, eufórico. Parlamentarista histórico, arrancou do presidente Michel Temer o compromisso de que vai trabalhar pela troca do sistema de governo no país, que é presidencialista. A adoção do parlamentarismo já foi submetida duas vezes a plebiscito. Uma em 1963, durante o governo João Goulart, e outra em 1993, depois da revisão constitucional. Em ambas a proposta foi derrotada por larga margem de votos.

É uma proposta controvertida, que surge na esteira da vitória de Temer na votação da Câmara da licença para o Supremo Tribunal Federal (STF) investigar o presidente da República. Temer ganhou, mas sua base de apoio político no Congresso encolheu. Ontem mesmo surgiram as primeiras reações à iniciativa. O presidente da comissão de reforma política na Câmara, deputado Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), condicionou a aprovação da proposta a à realização de novo plebiscito - o que certamente dificultaria sua adoção em 2018.

Contudo | Fernando Pessoa (Álvaro de Campos)

Contudo, contudo,
Também houve gládios e flâmulas de cores
Na Primavera do que sonhei de mim.
Também a esperança
Orvalhou os campos da minha visão involuntária,
Também tive quem também me sorrisse.
Hoje estou como se esse tivesse sido outro.
Quem fui não me lembra senão como uma história apensa.
Quem serei não me interessa, como o futuro do mundo.

Caí pela escada abaixo subitamente,
E até o som de cair era a gargalhada da queda.
Cada degrau era a testemunha importuna e dura
Do ridículo que fiz de mim.

Pobre do que perdeu o lugar oferecido por não ter casaco limpo com que aparecesse,
Mas pobre também do que, sendo rico e nobre,
Perdeu o lugar do amor por não ter casaco bom dentro do desejo.
Sou imparcial como a neve.
Nunca preferi o pobre ao rico,
Como, em mim, nunca preferi nada a nada.

Vi sempre o mundo independentemente de mim.
Por trás disso estavam as minhas sensações vivíssimas,
Mas isso era outro mundo.
Contudo a minha mágoa nunca me fez ver negro o que era cor de laranja.
Acima de tudo o mundo externo!
Eu que me agüente comigo e com os comigos de mim.

Falsa Baiana - Roberto Silva & Roberta Sá