sexta-feira, 10 de dezembro de 2021

Vera Magalhães - Ora ruge, ora mia, mas sempre destrói

O Globo

Jair Bolsonaro cansa. O Brasil está exausto de um presidente que dedica seus dias a atrapalhar o andamento do país.

Toda intervenção do presidente da República é voltada a estorvar, atrapalhar o andamento dos ministérios, dos demais Poderes, das outras instituições, da relação entre os entes federativos, do combate ao desmatamento, da vacinação, da fiscalização da vacinação, do Enem… A lista não tem fim.

Porque, quando há uma área em que ainda não deu um pitaco e ele descobre, Bolsonaro trata de meter o bedelho nela também.

Conviver com um chefe de Estado com essas características — inéditas entre tantas outras, as mais deletérias, as mais exóticas, as mais intoleráveis —, entre tantos que já se revezaram no poder no Brasil, é uma tarefa que desafia a lógica, a paciência e, no caso de muitos auxiliares e bajuladores, o amor-próprio, a coerência e o bom senso.

Parecia que o Brasil tinha entendido, desta vez rápido, que há uma nova variante do coronavírus circulando, a Ômicron, e decidira não deixar para agir depois de todos, sob o risco de enfrentar uma nova onda de contágio, internações e mortes.

E aí veio Bolsonaro. Como ele não se dedica a estudar os assuntos, a se reunir com ministros, a ler pareceres e recomendações, e quer sempre apenas dar pitacos aleatórios, começou a bradar que “jamais” seu governo exigiria passaporte da vacina, que comparou a uma “coleira”, para viajantes entrarem no Brasil.

Bernardo Mello Franco – Os 20% de Bolsonaro

O Globo

É preciso esperar para ver como o pastor André Mendonça vai se comportar no Supremo Tribunal Federal. Mas o responsável por sua escolha não esconde a euforia. Conta com um despachante que cumpra suas ordens na mais alta corte do país.

Às vésperas da posse do novo ministro, o capitão resolveu antecipar sua decisão no julgamento do marco temporal. “Nós já sabemos que o André vai ser um voto para o nosso lado”, afirmou, em entrevista à Gazeta do Povo.

O julgamento foi interrompido em setembro com o placar em 1 a 1. Edson Fachin votou contra a adoção do marco, que legaliza o roubo de terras indígenas até 1988. Kassio Nunes Marques votou a favor da tese, que beneficia grileiros e madeireiros.

Bolsonaro disse ao jornal paranaense que Mendonça defendeu o marco quando atuava como ministro da Justiça e advogado-geral da União. Isso já seria suficiente para que o novo ministro se declarasse impedido de julgar o caso. Mas o histórico recente do Supremo sugere que a decisão caberá ao próprio pastor.

César Felício - Governadores vão de vento em popa

Valor Econômico

Eleição deve reverter onda oposicionista nos Estados

Os governos estaduais estão nadando em dinheiro. A constatação tem sido feita por diversos economistas, inclusive pelo gaúcho Darcy Francisco Carvalho dos Santos, em um artigo que usa a frase inicial desta coluna como título. É uma excelente notícia para os governadores que tentam a reeleição ou para seus apoiados. Poderá representar a reversão de uma tendência que vem se manifestando desde 2006: a de troca de mando nas oligarquias regionais.

Há 16 anos, 18 dos 27 vencedores das eleições estaduais eram da situação local. Esse número caiu para 17 em 2010, 14 em 2014 e apenas 12 em 2018, no que foi a primeira vez desde 1994 em que a oposição regional prevaleceu. É claro que cada uma das 27 sucessões estaduais tem a sua própria trama, mas vento de cauda diminui o risco das turbulências. No que depender de caixa para a máquina, as condições estão dadas para se virar essa curva.

Segundo Darcy Francisco, os Estados tiveram somados um déficit de R$ 167,9 milhões em 2019, último ano pré-pandemia e primeiro da gestão dos atuais mandatários. Em 2021, até o fim do quinto bimestre, tinham um superávit de R$ 124,6 bilhões. Em termos proporcionais, a situação mais folgada é a do Amapá (33% sobre a despesa). Em termos absolutos, a de São Paulo, com R$ 29,6 bilhões.

Fernando Abrucio* - Eleição de 2022 será um plebiscito

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Quem quiser ultrapassar Bolsonaro para ir ao segundo turno precisa entender quais temas mais impactam a avaliação negativa do governo

Cada eleição presidencial tem uma história, mas há algo em comum em todas elas: existe um eixo que organiza a percepção da maior parte do eleitorado. As pesquisas têm mostrado que a questão econômica ganhou proeminência para o eleitor. Houve também o crescimento da preocupação com a temática social, ligada ao aumento da pobreza e da desigualdade. De todo modo, a marca de um pleito é mais ampla e diz respeito a um fator que interliga as questões. Neste sentido, a alma da disputa de 2022 será um plebiscito sobre o governo Bolsonaro.

O presidente de plantão sempre é o principal tema da eleição, seja porque é bem avaliado e/ou sua agenda tem apoio majoritário na sociedade, seja porque é malvisto pela maioria dos eleitores e/ou suas propostas de políticas públicas fracassaram. No caso do governo Bolsonaro, quase 60% da população o avalia como ruim ou péssimo e somente em torno de 20% dizem que a gestão é boa ou ótima. O mais impressionante é que próximo de 65% do eleitorado diz que não votaria de jeito nenhum pela reeleição do bolsonarismo.

Claro que há algum espaço para melhoria da avaliação governamental, pois a postura mais populista, combinada com um discurso de valores de extrema direita, será a tônica em 2022, num jogo de “topa tudo por mais votos”. A aliança com o Centrão, em busca de tempo de TV, fundo eleitoral e alguma capilaridade territorial, também pode ter um efeito positivo, embora a pecha de corrupção presente neste grupo tirará votos de Bolsonaro nas cidades médias e grandes. Mas, mesmo com tanta rejeição, o bolsonarismo poderá angariar algo em torno de 25% dos eleitores na disputa presidencial. Quem quiser ultrapassá-lo para ir ao segundo turno, sobretudo o grupo que vem sendo chamado de terceira via, terá de entender melhor o sentido do plebiscito do ano que vem.

José de Souza Martins* - As desigualdades sociais ocultas

Valor Econômico / Eu & Fim de Semana

Ainda há quem tenha dúvida sobre o que é a condição humana e sobre quem tem direito a invocá-la como atributo de identidade

Um dos grandes problemas do Brasil de hoje é o do disseminado desconhecimento do que é a humanidade da pessoa, uma referência essencial à vida social. O que acarreta tensões sociais e a dessocialização de muitos indivíduos, condenados à anomia. A questão racial e o preconceito são componentes dessa anomalia. As manifestações frequentes de racismo são dela indícios, os de que esta sociedade está sociologicamente doente. O que põe em perigo pessoas inocentes e desvalidas.

Para muitos, no país inteiro, ainda há quem tenha dúvida sobre o que é a condição humana e sobre quem tem direito a invocá-la como atributo de identidade. São repetidas as evidências dessa característica oculta de nossas desigualdades sociais.

Não se trata apenas de racismo. Resquícios da escravidão ainda persistem, na mesma mentalidade que regulava o relacionamento violento entre o senhor e o escravo. Sendo o escravo uma mercadoria, era ele mero equivalente de coisa. Um item de compra e venda. Nem era considerado propriamente humano. Não apenas o escravo negro, africano ou de origem africana, mas também o pardo, o indígena e até o duvidosamente branco.

Fernando Gabeira - Tempos de fome e recessão

O Estado de S. Paulo.

Vivendo no Palácio da Alvorada, é possível ter uma sensação de riqueza e prosperidade enquanto o País afunda na miséria

Entramos em recessão, e o ministro Paulo Guedes afirmou que a economia brasileira está decolando. Nenhuma novidade. Bolsonaro nega o aquecimento global e a pandemia de covid-19. Mas nem tudo vai no mesmo caminho, pois, em tributo à realidade, a taxa de juros vai subir.

O conceito de negação surgiu no século passado. Para mim, foi numa carta de Freud, em 1935, que apareceu pela primeira vez. Antes disso, a negação era chamada de outro nome mais direto: mentira.

Há cerca de um mês, Paulo Guedes anunciou um grande projeto de captação de investimentos na área do meio ambiente. Não saiu do papel. Em Brasília, muitos deputados já perceberam que ele é o ministro da semana que vem, está sempre anunciando algo que não se consuma.

Tenho a impressão de que Guedes veio do mundo financeiro, onde o verbo tem um grande peso, mas o mundo real da economia, do saneamento básico, da habitação, da inclusão digital, do desenvolvimento sustentável, tudo isso parece distante e intangível em sua gestão.

Eliane Cantanhêde - O dilema de Lula

O Estado de S. Paulo.

Moro, conveniente no primeiro turno, pode ser adversário mortal para Lula no segundo

As pesquisas vão confirmando o que os políticos, contra ou a favor dele, já vinham detectando: o ex-presidente Lula está consolidado com folga na liderança do primeiro turno, mas pode ter grandes dificuldades no segundo. Seu risco é enfrentar a mesma onda de rejeição ao PT e a ele que embalou a vitória do improvável Jair Bolsonaro.

Já há sinais, inclusive, de que Lula continua com grande vantagem também no segundo turno, mas perde alguns pontos tanto no confronto direto com Bolsonaro, agora no PL, quanto com o seu “algoz” Sérgio Moro, do Podemos.

Assim, Lula vive um dilema: deixar correr solta a candidatura de Moro, que serve para abocanhar votos de Bolsonaro e da direita no primeiro turno, mas evitando que Moro cresça a ponto de chegar ao segundo turno. A calibragem é delicada. E, obviamente, não depende só de Lula, mas do fôlego de Moro e do desenrolar da própria campanha.

Vinicius Torres Freire - Bolsonaro estanca sua sangria

Folha de S. Paulo

Desprestígio diminui um pouco, rejeição eleitoral é enorme e condições econômicas não ajudam governo

impopularidade de Jair Bolsonaro diminui um pouco, segundo a pesquisa Quaest para a Genial Investimentos feita na primeira semana de dezembro. A avaliação negativa caiu de 56% para 50% de novembro para este mês. Baixou mais em todas as regiões do país, menos no Nordeste, onde ficou na mesma (61% de negativo). A margem de erro dessa pesquisa é 2,2 pontos, para mais ou menos.

A rejeição na urna continua quase na mesma e enorme: neste mês, 67% dos entrevistados diziam que não votariam em Bolsonaro; em novembro, 64%. Mas ele estancou a sangria, mesmo com tanta morte, fome e inflação.

Uma pesquisa apenas ou uma andorinha não fazem um verão de melhoria de prestígio presidencial. Tentar explicar motivos de variação de voto já é difícil levando em conta períodos longos, que dirá de um mês para outro. Mas convém prestar atenção.

Reinaldo Azevedo - Lula nem precisa falar para vencer

Folha de S. Paulo

Em vez de ser uma alternativa, Moro amarra o ‘nem-nem’ a uma agenda de extrema direita

ex-presidente Lula segue como franco favorito na disputa presidencial do ano que vem, mesmo falando o mínimo possível. Nem precisa.

A logolatria de alguns de seus potenciais adversários, candidatos a autocratas, conspira a seu favor. E há o espetáculo do crescimento de delírios do paraíso, em meio a caminhões de ossos, de Paulo Guedes.

Na mais recente pesquisa Genial-Quaest, o petista seria eleito no primeiro turno nos quatro cenários testados. Tem, de muito longe, o melhor saldo na conta intenção de voto/rejeição.

Nada disso despertou a atenção do "centrão dos opinadores", formado pelo batalhão que está convencido de que a salvação vem da fórmula "nem Lula nem Bolsonaro".

Até pode vir. Mas cumpre indagar: não sendo nem uma coisa nem outra, então é o quê? Esse "centrão" preferiu destacar, na referida pesquisa, uma suposta "consolidação" de Sergio Moro como alternativa da terceira via. Pode até acontecer.

Bruno Boghossian - Ódio, mentira e golpismo

Folha de S. Paulo

Presidente fez gesto para agitar base radical e personagens que operam no submundo político

Jair Bolsonaro acorda todos os dias ao lado do centrão, mas tem tempo para seus velhos amigos. Num evento no Planalto, o presidente saiu em defesa de personagens como o parlamentar preso por ameaçar um ministro do STF, um coordenador da milícia digital bolsonarista e um político cassado por espalhar mentiras sobre as urnas eletrônicas.

Depois de receber críticas pelo abandono de aliados, Bolsonaro ofereceu apoio público a colaboradores com problemas na Justiça: o deputado federal Daniel Silveira, o blogueiro Allan dos Santos e o deputado estadual cassado Fernando Francischini. O presidente fez o gesto para agitar sua base radical e reativar a máquina de ódio, fake news e golpismo que pretende usar em 2022.

Hélio Schwartsman - O cérebro trapaceiro

Folha de S. Paulo

Se todo ser humano pratica o autoengano, como fica Bolsonaro nesse mapa da hipocrisia?

Todo ser humano pratica o autoengano, que é o que lhe permite navegar pelas contradições em que se mete sem aniquilar a autoimagem. Especialmente nos políticos, o autoengano é complementado por doses generosas de hipocrisia. Não é algo a lamentar. Seria impossível fechar acordos e até encetar negociações políticas, se as pessoas não fossem capazes de perdoar desavenças passadas, rever posições e, no limite, transigir com princípios. Algumas linhas vermelhas precisam ser mantidas, ou instauraríamos o cinismo pleno, mas elas variam de indivíduo para indivíduo.

Como fica Jair Bolsonaro nesse mapa da hipocrisia? Dado que não sou grande fã dele, seria tentador pintá-lo como um cínico sem estribeiras, que mente deslavadamente para obter o que deseja, mas não creio que seja tão simples. Senão por outros motivos, mente melhor o sujeito que acredita nos próprios engodos. E Bolsonaro levou 58 milhões de brasileiros no papo.

Rogério Werneck* - Lambança fiscal

O Estado de S. Paulo / O Globo

PEC dos Precatórios mostrou que, mais uma vez, o rolo compressor montado pelo Centrão na Câmara não pôde ser replicado no Senado

Mesmo quem, agarrado ao autoengano, ainda se esforçava para tentar detectar um mínimo de seriedade na gestão da política fiscal, não pôde deixar de ver com apreensão a afobação que se viu nesta semana, em Brasília, com a PEC dos Precatórios

Já há algum tempo, o plano de jogo era mais do que sabido. Tendo em vista as urgências eleitorais do Planalto e do Centrão, o governo entendeu que já não teria mais condições de preservar a integridade do regime fiscal em vigor. E pôs em marcha a aprovação de uma PEC que, a um só tempo, permitiria “flexibilizar” o teto de gastos e impor gigantesco calote a dívidas judiciais a partir de 2022.

O que ficou claro, agora, é que a implementação do plano se mostrou bem mais problemática do que se imaginava. E, com o benefício da visão retrospectiva, é fácil perceber que sua implementação não era mesmo nada trivial. Longe disso. Teria sido um desafio de grande complexidade em qualquer circunstância. Mais complexo ainda com a votação de uma PEC em dois turnos, a toque de caixa, no apagar das luzes do ano legislativo.

Mais uma vez, o rolo compressor montado pelo Centrão na Câmara não pôde ser replicado no Senado. Não é que tenha havido grande resistência à “flexibilização” do teto e ao calote. Mas o texto que, afinal, pôde ser aprovado discrepou, em boa medida, do que fora aprovado na Câmara. 

Simon Schwartzman* - Mineiros autênticos

O Estado de S. Paulo.

É um conforto ver que Lamounier e Bacha continuam remando contra a corrente, na busca dos melhores caminhos para o Brasil

Diferentes de mim, Bolívar Lamounier e Edmar Bacha, que acabam de publicar suas histórias (Edmar Bacha, No país dos contrastes, Selo Real, 2021; e Bolívar Lamounier, De onde, para onde, Global, 2018, e Antes que me esqueça, Desconcertos, 2021), são mineiros de verdade. Bolívar nasceu em Dores do Indaiá, e lembra com afeto as casas coloniais, as pescarias no rio e o isolamento que fazia da cidade parte do sertão mineiro. Edmar lembra da pequena Lambari do sul de Minas, do sobrado em que morava, do sanduíche que comia no Bar do Juca e do apito do trem que chegava à cidade ao anoitecer. Foi em Dores, nos anos 20, que Francisco Campos fundou uma Escola Normal, uma das primeiras do País, onde a mãe se formou como professora rural e na qual matriculou o filho para estudar nas “classes anexas” em que a melhor pedagogia da época era adotada. O pai era um pequeno fazendeiro e comerciante, da família Lamounier de Itapecerica, que incluía médicos, políticos e músicos. Lambari, em comparação, era uma cidade mais moderna, parte do “circuito das águas” que recebia os turistas das cidades grandes em seus hotéis e cassinos. Do lado da mãe, que era diretora da escola local, Edmar vem de uma família de origem portuguesa, os Lisboa, na qual o culto da literatura era personificado na tia Henriqueta. Os Bacha são de origem libanesa, que começaram a chegar ao Brasil no final do século 19 em busca de novas oportunidades. Ambas as famílias se mudaram para Belo Horizonte e, no início dos anos 60, Bolívar e Edmar se encontraram na Faculdade de Ciências Econômicas da UFMG, um no curso de Sociologia e Política, outro em Economia.

Flávia Oliveira - Sem vida nem liberdade

O Globo

O ministro da Saúde — repito, da Saúde —, Marcelo Queiroga, em pronunciamento contrário à exigência de certificado vacinal de visitantes estrangeiros, repetiu frase que ouviu do chefe e ratificou. “Às vezes, é melhor perder a vida do que perder a liberdade”, sentenciou. Foi a mais inoportuna declaração emitida, até aqui, por um nome do governo Jair Bolsonaro — e olha que a concorrência não é pequena. Se crescimento do PIB fosse medido em comentários infelizes de autoridades, o Brasil estaria em pleno milagre econômico. Como não é, estamos nós estagnados, inflacionados, desempregados, famintos e, por ação oficial, em risco sanitário.

Ouvir a argumentação rasa do cardiologista titular da Saúde me conduziu à sofisticação intelectual do historiador Luiz Antonio Simas em “O corpo encantado das ruas”. É livro sobre a riqueza de saberes, vivências, culturas e visões de mundo garimpados na rua, nos subúrbios, nos terreiros, nas quebradas, nas favelas. No texto em homenagem a Dona Ivone Lara, a grande dama do samba tornada ancestral em 2018, o autor apresenta como “pouca coisa” a morte, na perspectiva do cessamento das atividades biológicas de um ser humano.

Ruth de Aquino - Quarentena de 5 dias é "patética"

O Globo

Essa quarentena de cinco dias é patética, injusta e impossível de fiscalizar, especialmente num país continental como o Brasil. Quem afirma é a Dra Margareth Dalcolmo. “O passaporte vacinal é o mínimo civilizatório neste momento. Todos os países pedem. O Brasil será uma exceção e, desculpe o termo forte, vai virar uma espécie de bordel de entrada de pessoas não vacinadas. Para onde elas irão viajar no fim do ano e nas férias se nenhum país aceita? Patético”.

O período é curto demais também para a incubação e detecção do vírus. “Cinco dias é um número arbitrário, sem base científica, alguns países estabelecem sete dias, outros, como a China, 21 dias”. Como me disse a Dra Margareth, que acaba de lançar seu livro “Um tempo para não esquecer”, o Brasil complica ao apelar a esse arremedo de isolamento. Uma barreira muito mais complexa e trabalhosa do que a requisição de um passaporte sanitário. 

O que pensa a mídia - Editoriais / Opiniões

 

EDITORIAIS

É inaceitável haver ingerência política nas instituições

O Globo

São graves as denúncias de servidores e ex-servidores do Ministério da Justiça sobre pressões dos altos escalões do governo no processo para a extradição do blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, determinada pelo ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF). Já havia indícios de intervenção, suscitados por exonerações de funcionários envolvidos com o caso, cujas condutas desagradaram ao Planalto. Agora os desmandos foram descritos e consignados no inquérito da Polícia Federal (PF) que investiga se houve tentativa do governo de obstruir o procedimento.

A delegada da PF Silvia Amélia Fonseca de Oliveira, ex-diretora do Departamento de Recuperação de Ativos e Cooperação Jurídica Internacional (DRCI), subordinado ao Ministério da Justiça, relatou à PF ter recebido telefonema do brigadeiro Antonio Ramirez Lorenzo, chefe do gabinete do ministro da Justiça, Anderson Torres, pedindo informações sobre o caso do blogueiro. Estava de férias e encaminhou o pedido à substituta, Priscila Campelo. Priscila disse ter sido informada por Lorenzo de que o ministro queria detalhes sobre o fluxo do processo.

Poesia | Vinicius de Moraes - A porta

Eu sou feita de madeira
Madeira, matéria morta
Mas não há coisa no mundo
Mais viva do que uma porta.

Eu abro devagarinho
Pra passar o menininho
Eu abro bem com cuidado
Pra passar o namorado
Eu abro bem prazenteira
Pra passar a cozinheira
Eu abro de supetão
Pra passar o capitão.

Só não abro pra essa gente
Que diz (a mim bem me importa...)
Que se uma pessoa é burra
É burra como uma porta.

Eu sou muito inteligente!

Eu fecho a frente da casa
Fecho a frente do quartel
Fecho tudo nesse mundo
Só vivo aberta no céu!

Rio de Janeiro, 1970

 

Música | Maria Bethânia, Chico Buarque e Edu Lobo - A moça do sonho