Fica
para depois – Opinião | O Estado de S. Paulo
Os
seguidos adiamentos de decisões pelo governo seguem a lógica de uma
administração que tem um único rumo: o da satisfação das condições para a
reeleição do presidente Bolsonaro
É
impressionante a capacidade do governo de Jair Bolsonaro de procrastinar
decisões, das banais às mais urgentes. Nem se pode dizer que isso acontece
porque o governo não tem rumo; ao contrário, os seguidos adiamentos seguem a
lógica de uma administração que tem um único rumo: o da satisfação das
condições para a reeleição do presidente Bolsonaro.
Bolsonaro
foi eleito com a promessa solene de revolucionar o Estado brasileiro,
promovendo toda sorte de reformas e de planos de reorganização. O objetivo,
segundo garantiu na campanha, era entregar ao País um Estado que estivesse a
serviço dos contribuintes, e não se servindo destes.
Era
evidente, para quem tivesse um mínimo de informação, que Bolsonaro não tinha
como entregar o que prometera, não em razão das circunstâncias, mas porque, em
toda a sua trajetória política, sempre defendeu exatamente o contrário.
Corporativista e estatólatra, o deputado do baixo clero notabilizou-se por
votar contra todas as medidas necessárias para destravar o Estado e melhorar a
qualidade das contas públicas.
Alinhando-se
ao PT, Bolsonaro rejeitou o Plano Real, sabotou projetos que restringiam
privilégios de servidores e trabalhou contra a quebra do monopólio da Petrobrás
sobre o petróleo e da União sobre os serviços de telecomunicações. Suas
digitais estão também na oposição feroz às reformas da Previdência e
administrativa.
Foi
essa coerência programática que garantiu a Bolsonaro sete mandatos como
deputado e um eleitorado cativo. Como candidato à Presidência, contudo, viu-se
obrigado a vestir a fantasia do liberal que nunca foi e a anunciar que, se
eleito, faria as reformas que sempre desprezou.