segunda-feira, 3 de agosto de 2020

Partido Político – Dicionário de Política - Norberto Bobbio (Parte I e II)

I. DEFINIÇÃO. — Segundo a famosa definição de Weber, o Partido político é "uma associação... que visa a um fim deliberado, seja ele 'objetivo' como a realização de um plano com intuitos materiais ou ideais, seja 'pessoal', isto é, destinado a obter benefícios, poder e, consequentemente, glória para os chefes e sequazes, ou então voltado para todos esses objetivos conjuntamente". 

Esta definição põe em relevo o caráter associativo do partido, a natureza da sua ação essencialmente orientada à conquista do poder político dentro de uma comunidade, e a multiplicidade de estímulos e motivações que levam a uma ação política associada, concretamente à consecução de fins "objetivos" e/ou "pessoais". Assim concebido, o partido compreende formações sociais assaz diversas, desde os grupos unidos por vínculos pessoais e particularistas às organizações complexas de estilo burocrático e impessoal, cuja característica comum é a de se moverem na esfera do poder político. 

Para tornar mais concreta e específica esta definição é usual sublinhar que as associações que podemos considerar propriamente como partidos surgem quando o sistema político alcançou um certo grau de autonomia estrutural, de complexidade interna e de divisão do trabalho que permitam, por um lado, um processo de tomada de decisões políticas em que participem diversas partes do sistema e, por outro, que, entre essas partes, se incluam, por princípio ou de fato, os representantes daqueles a quem as decisões políticas se referem. Daí que, na noção de partido, entrem todas as organizações da sociedade civil surgidas no momento em que se reconheça teórica ou praticamente ao povo o direito de participar na gestão do poder político. É com este fim que ele se associa, cria instrumentos de organização e atua.

Nesta acepção, os partidos aparecem, pela primeira vez, naqueles países que primeiramente adotaram formas de Governo representativo: não que os partidos nasçam automaticamente com o Governo representativo; é mais porque os processos civis e sociais que levaram a esta forma de Governo, que previa uma gestão do poder por parte dos "representantes do povo", teriam depois conduzido a uma progressiva democratização da vida política e à integração de setores mais amplos da sociedade civil no sistema político. 

Fernando Gabeira - Fake news, injúria e conspiração

- O Globo

Decretaram minha morte e reclamam por eu não ter levado a sentença a sério

Notícias falsas, injúrias, teorias da conspiração, quase todas as semanas, sobem ao topo da pauta política no Brasil.

Nas redes, muito se falou do ataque a Felipe Neto, depois de sua aparição no “New York Times” criticando o governo Bolsonaro. A velha acusação aos comunistas, comem criancinhas, ganhou uma versão atualizada contra Felipe.

No campo editorial, tive a oportunidade de ler “A máquina do ódio”, um livro de Patrícia Campos Mello sobre fake news e violência digital no mundo. Ela conta, entre outros casos, a carga injuriosa que sofreu quando denunciou manipulação digital nas eleições de 2018.

Nem sempre foi assim no Brasil. Nesses tristes momentos de tecnopopulismo, costumo dar uma olhada na bela coletânea intitulada “Duelos no serpentário”, coligida por Alexei Bueno e George Ermakoff.

Trata-se de uma antologia de polêmicas intelectuais no Brasil, de 1850 a 1950. Havia alguma ironia, insultos aqui e ali, mas eles passavam dias, noites, escrevendo suas teses, sob a luz de lamparinas. O problema era convencer com ideias.

Ana Maria Machado - Vergonha e prioridades

- O Globo

Espertalhões preferem deixar no abandono tudo o que importa

Se o historiador Carlo Ginzburg tem razão, e a vergonha coletiva pode funcionar como uma forma de identidade nacional, podemos nos identificar como brasileiros se nos unirmos na consciência do vexame. Fomos capazes de construir uma capital em cinco anos, no meio do nada, mas não fomos minimamente capazes de educar nossos cidadãos em cinco séculos, no meio de tudo. E esse tudo em cujo meio vivemos é uma natureza deslumbrante, recursos que estamos destruindo de todas as maneiras. Contra a razão e a Ciência.

Qualquer criança pode ver isso. Ainda estes dias, a pirralhinha sueca Greta Thunberg, vergonhosamente desprezada pelo nosso presidente, deu mais uma lição a ser incorporada a nosso processo educativo — se conseguirmos. Recebeu um prêmio internacional e nos doou dinheiro, como forma concreta de colaborar com um fundo para proteger nossas florestas. E assim defender nossos rios, nosso regime de chuvas, nossos campos e o clima que garante tudo isso.

Cacá Diegues - A política de guerra

- O Globo

Vou tratar de virar fã de Felipe Neto

Se a esquerda faz política demais, a direita por sua vez não sabe fazer política, não faz política nenhuma. Mas se ilude quem pensa que nosso presidente de direita, Jair Bolsonaro, se elegeu sem um programa claro, por puro prazer da aventura política contra a política, a antipolítica que ele tanto anunciou. Ele e sua turma nunca se interessaram pela política como modo de levar a sociedade em direção a uma agenda que corrigisse o passado e organizasse o futuro, não se prepararam para isso. Eles se prepararam para uma guerra e só pensam nela.

Uma guerra que só ainda não foi escancarada, fazendo mais vítimas e provocando mais tiroteios aleatórios e insanos, por causa da pandemia, por causa de um pequeno animalzinho, um quase nada, o vírus assassino que não permitiu que o bando de Bolsonaro assumisse o papel central de seu tempo. A guerra que programaram e pretendiam praticar é humanamente menor do que a calamidade pública provocada pela Covid-19.

Quem não se lembra das ameaças guerreiras feitas pouco antes de se tornar trágica a presença do vírus por aqui? Um dia, na televisão, Bolsonaro nos garantiu que tinha vencido a eleição de 2018 no primeiro turno e que, portanto, tinha sido roubado. O presidente afirmou que tinha provas disso e que ia mostrá-las à nação. Faz mais de oito meses que esse show passou na televisão... e cadê as provas? Quantas vezes ouvimos dele, de seus filhos e dos ministros mais queridos e alinhados, que haveria muito em breve uma ruptura inevitável, que não dava mais para suportar as perseguições dos outros Poderes ao Executivo? Quantas vezes ouvimos, desde há bastante tempo, expressões como “agora chega” ou “acabou” ou “não dá mais” ou coisa que o valha? Faz tempo que essas expressões de radicalidade começaram a ser usadas e, até agora, a guerra não passou de fuxico.

Ricardo Noblat - Às vésperas dos 100 mil mortos pelo Covid-19, a cada um a sua culpa

- Blog do Noblat | Veja

O que se viu, ontem, no Leblon foi a perfeita adequação dos figurantes à lembrança de quem deu nome ao cenário. Batizada de Delfim Moreira em homenagem ao único louco que se tornou presidente da República do Brasil, a avenida, fechada ao trânsito, foi ocupada por uma multidão de descuidados com a própria saúde que desfilaram indiferentes ao risco da morte pelo coronavírus.

Este país já teve uma Rainha Louca, Maria I, Rainha do Reino Unido de Portugal, Brasil e Algarves. E presidentes considerados loucos por seus desafetos. Mas Delfim Moreira, que governou entre 1918 e 1919, foi o único até agora a ser clinicamente considerado louco. Vice-presidente, sucedeu Rodrigo Alves, uma das 35 mil vítimas mortais da gripe Espanhola por aqui.

Delfim Moreira era um louco manso. Jamais ousou fazer a apologia de qualquer remédio contra a gripe que matou entre 17 milhões a 50 milhões de pessoas no mundo. Às vezes colocava seu fraque e suas condecorações para ir a uma solenidade que não havia. Certa vez, conta a lenda, foi visitado por Ruy Barbosa, mas ficou olhando atrás da porta, abrindo-a e fechando.

O Covid-19 já infectou pouco mais de 2.733.000 pessoas no Brasil. Cinco meses após o primeiro caso de infectado, a presença do vírus foi detectada em 98% do total de municípios, segundo o Ministério da Saúde. Ou seja: em 5.442 cidades. Apenas 128 ainda estavam a salvo do vírus até o último fim de semana. Nesta, está prevista a ultrapassagem da marca dos 100 mil mortos. Uma tragédia.

O que se viu na Avenida Delfim Moreira e nas areias interditadas da praia do Leblon não foi diferente do que se vê no resto do país, o único do mundo onde, há 5 meses, morrem mais de mil pessoas por dia, segundo Tânia Vergara, presidente da Sociedade de Infectologia do Estado do Rio. A maioria dos brasileiros passou ao modo “E daí?” e decretou na prática o fim da pandemia.

E, no entanto, os números mostram que ela avança pelo interior do país, embora não tenha abandonado os grandes centros urbanos, nem mesmo a cidade do Rio, onde há sinais de que uma segunda onda poderá se abater. No Distrito Federal, o vírus está em alta. Em comum, a maioria das cidades ainda sem registros da doença têm menos de 10 mil habitantes. E carece de hospitais e de UTIs.

Marcus André Melo* - Centrão

- Folha de S. Paulo

Um centrão-antagonista comandando a Câmara e detendo a chave do impeachment e de pautas bomba produz grande incerteza

“Através de toda Europa indagou-se, em 1945 e 1946: pode-se governar com os comunistas? Em 1947, sem eles? Em 1948, pergunta-se: como governar contra eles?”

O dilema envolvido em como governar em um quadro em que a presença de um partido ou bloco rival tem forte poder estratégico —e não pode ser ignorado— foi identificado com acuidade por Raymond Aron, nas suas "Memórias".

A analogia serve como ponto de partida para a discussão do papel do PMDB —e no atual governo, do centrão— no cálculo estratégico dos presidentes. Embora o termo tenha sido usado no governo Sarney para uma facção do partido, seu uso atual para designar um bloco é sugestivo: deve-se a um padrão de fragmentação partidária, nunca visto em democracias —há dez partidos com 28 (5,4% do total) a 41 (7,9%) cadeiras na Câmara dos Deputados. Mas o conceito é sem dúvida analiticamente pobre.

Sob Bolsonaro a sequência de Aron inverte-se: em 2019, governava-se contra o centrão. Ele fez campanha e iniciou sua gestão sob a consigna da rejeição da velha política; seu ministro da Justiça simbolizava a luta contra a corrupção.

Celso Rocha de Barros* - Cabo Mendonça, soldado Aras

- Folha de S. Paulo

Ministro da Justiça produziu dossiê contra 'antifascistas' e procurador-geral da República faz guerra contra Lava Jato

O ministro da Justiça, André Mendonça, e o procurador-geral da República, Augusto Aras, são o cabo e o soldado de pés chatos que Bolsonaro usa em seu novo ataque à democracia brasileira.

Mendonça, que virou ministro da Justiça quando Moro deixou o cargo, vem se destacando na perseguição contra adversários do governo.

Produziu um dossiê contra “antifascistas” que incluía dois acadêmicos respeitados, Paulo Sérgio Pinheiro e Luiz Eduardo Soares, bem como policiais de esquerda, que poderiam vir a ser um obstáculo ao aparelhamento das polícias.

Aras, por sua vez, faz guerra contra a força-tarefa da Lava Jato e tenta centralizar os instrumentos de investigação para usá-los no interesse do golpismo. Enquanto Mendonça briga para prender antifascistas honestos, Aras briga para manter fascistas corruptos em liberdade.

A guerra bolsonarista contra a Lava Jato vem produzindo cenas curiosas. Na semana passada, por exemplo, o bolsonarista Alexandre Garcia usou as revelações da Vaza Jato para criticar a turma de Curitiba.

Leandro Colon - O jogo seletivo de Aras

- Folha de S. Paulo

PGR fala em "caixa de segredos" da Lava Jato, mas se cala diante da usurpação da AGU

A reunião do Conselho Superior do Ministério Público Federal na sexta-feira (31) é o símbolo deprimente da crise entre o chefe da PGR, Augusto Aras, e um grupo de procuradores que lhe faz oposição.

Temos visto, rotineiramente, ataques mútuos, egos inflados e desvios da liturgia exigida para a função de procurador da República.

Anti-lavajatistas, dentro e fora do Ministério Público, celebram a disposição de Aras em enfrentar a força-tarefa de Curitiba, liderada há alguns anos por Deltan Dallagnol.

Nos bastidores, cresce a certeza de que Aras deve desmantelar ou ao menos fatiar as atribuições do grupo que comanda a Lava Jato.

Bruno Carazza* - Sobre homens e bichos

- Valor Econômico

O simbolismo do valor do dinheiro nas cédulas e na música brasileira

“A renda da tua saia vale cinco mil réis”, dizia o primeiro verso musical gravado no Brasil. Composto por Xisto Bahia e cantado por Manuel Pedro dos Santos (Bahiano), o lundu “Isto é Bom” foi lançado pela Casa Edison em 1902. A presença de uma referência monetária no registro fonográfico mais antigo do país seria o prenúncio de uma longa e conflituosa relação do brasileiro com a inflação, cantada em verso e prosa na MPB.

Se na virada dos 1800 para os 1900 cinco mil réis compravam o tecido para uma saia, quase 40 anos depois um vestido custava vinte vezes mais, conforme reclamam Noel Rosa e Vadico num samba de 1934: “Você me pediu cem mil réis / pra comprar um soirée”. Nascida no ano seguinte, uma canção de Candeia dá a exata medida da desvalorização da moeda brasileira naquelas primeiras décadas do século XX ao utilizá-la como referência de seu desprezo pela amada que o traiu: “Não vales mil réis”.

Tanto foi assim que Getúlio Vargas, em 1942, sepultou o padrão monetário que o Brasil herdou de Portugal e instituiu o cruzeiro. Numa época em que ainda não vigia o princípio da impessoalidade, Getúlio colocou o seu próprio retrato na nota de dez (!). Foi em vão. O desenvolvimentismo a qualquer custo, levado às últimas consequências com a Brasília de JK, aliado à insegurança institucional do período, corroeram o valor da moeda. Já no governo Castelo Branco, um ingresso para um brinquedo num parque de diversões custava centenas, como nos contam os mutantes Rita Lee e Arnaldo Baptista: “400 cruzeiros / velhos compram com medo / das mãos do bilheteiro / as entradas do trem fantasma”.

Alex Ribeiro - Encurtamento da dívida deixa país vulnerável

- Valor Econômico

Súbita mudança de humor dos mercados é risco para estratégia de emitir títulos públicos de curto prazo

Dois ex-presidentes do Banco Central alertaram, nos últimos dias, para os riscos da tendência de encurtamento do prazo da dívida pública, num ambiente de muita incerteza sobre a manutenção do teto de gastos, a principal âncora fiscal do país. O Tesouro Nacional pode até ganhar algum tempo emitindo títulos públicos de curto prazo, mais baratos. Mas ficará cada vez mais vulnerável a uma súbita mudança de humor dos mercados.

Arminio Fraga, da Gávea Investimentos, citou um número que sintetiza o perigo: pelo andar da carruagem, o Tesouro terá que captar no mercado o equivalente a 46% do Produto Interno Bruto (PIB) em 12 meses, para rolar os títulos que vencem no período, para pagar os juros da dívida e para bancar o altíssimo déficit primário do governo.

O fantasma é um eventual repeteco do que aconteceu em 2002, quando o próprio Arminio chefiava o BC. Os investidores se tornaram mais relutantes em financiar o governo, diante das dúvidas sobre o compromisso do então candidato Luis Inácio Lula da Silva com a austeridade fiscal. “O governo não conseguia vender papéis que venciam em 2003”, disse, referindo-se ao ano em que começaria o novo governo. A bomba só foi desarmada quando Lula se comprometeu a manter o ajuste das contas públicas.

Denis Lerrer Rosenfield - Estranho liberalismo

- O Estado de S.Paulo

Nova CPMF seria para financiar o Renda Brasil e aumentar a chance de reeleição de Bolsonaro

O assim chamado projeto de reforma tributária do governo federal é assaz estranho. Tardou 18 meses para ser apresentado, pois, da forma que foi feito, poderia ter sido entregue na segunda semana do mandato, em fevereiro de 2019. Com um pouco de preguiça, na quarta! Foi enviada à Câmara dos Deputados, com pompa e entrega pessoal, uma simples unificação do PIS e da Cofins, quando nessa Casa e no Senado tramitam duas PECs que, além de contemplarem esses pontos, são muito mais completas e abrangentes. Já há toda uma discussão em curso, comissão mista, relator, conversas avançadas com os secretários estaduais da Fazenda para incluir no projeto o ICMS, e assim por diante. Não faz o menor sentido o governo entrar em cena somente agora, salvo se a razão for política, e não econômica.

Tendo perdido protagonismo, ele tenta resgatá-lo. Seu risco consistia e consiste em ser deixado de lado, tornando-se mero ator coadjuvante, sem maior relevância. Foi ressentida uma necessidade de exposição política, veiculando a seguinte mensagem: também faço parte do jogo! Entrando como novo ator, criou toda uma encenação relativa a fatiamento, tentando embaralhar o debate.

As falhas negociais são gritantes, porque a primeira etapa pressupõe as demais, com a alegação de que algo não contemplado neste momento o será depois, sem que se saiba se haverá depois ou, caso exista, qual será sua proposta. Não dá para confiar. Os diferentes agentes econômicos e sociais ficam literalmente pisando em falso, alguns com medo de ter seus interesses contrariados se disserem algo antes do tempo, sem que se vislumbre, porém, o próprio tempo! Em vez de entrar numa discussão séria, aproveitando os projetos existentes, o governo optou pela desorientação.

Fareed Zakaria – Trump nunca dominou o papel de presidente

- The Washington Post / O Estado de S. Paulo

Ele transformou a Casa Branca em um reality show, por isso sua resposta à pandemia nos EUA foi um fracasso

Estamos acostumados a pensar na presidência dos Estados Unidos como uma posição de liderança moral – um “púlpito intimidador”, nas palavras de Theodore Roosevelt. E muitos dos que passaram pela Casa Branca usaram bem essa função vital. Mas o presidente americano moderno também tem um aspecto gerencial central como CEO do governo federal, e essa dimensão do poder é crucial em uma crise nacional. O presidente Donald Trump nunca entendeu ou dominou esse papel, que é a principal razão pela qual o surto de covid-19 no país se transformou em uma catástrofe.

A presidência tornou-se o símbolo do status de superpotência americana, com imagens da Casa Branca reconhecíveis em todo o mundo. Mas a Constituição, na verdade, enfraquece o cargo desde a concepção, dando-lhe um dos conjuntos mais limitados de poderes de qualquer chefe de governo do mundo. O estudioso Richard Neustadt observou que, para fazer qualquer coisa, o presidente “deve usar qualquer influência que possua no Congresso, agências, mídia, governos estaduais, interesses privados, aliados estrangeiros e opinião pública no exterior e em casa... Comparado a todas as oposições, mesmo um presidente ‘forte’ é fraco”.

Alguns argumentam que a acumulação de poder presidencial por meio de ações executivas tem sido ampla e perigosa. Outros observam que essa expansão ocorre principalmente no campo dos assuntos internacionais, argumentando que, na verdade, existem duas presidências, uma forte na política externa e uma fraca nas questões domésticas. Certamente, quando comparada aos sistemas parlamentares, onde o chefe de governo controla essencialmente o poder executivo e o legislativo, a presidência americana é notável por sua autoridade limitada.

A vez do gás – Editorial | Folha de S. Paulo

Projeto que estimula a concorrência no mercado é passo importante para retomada

O programa de abertura de mercados e de reforma econômica parece ter enfim recomeçado, depois de meses confinado às gavetas pela pandemia e pela inabilidade política do governo Jair Bolsonaro.

Em junho, o Congresso Nacional aprovou a nova lei do saneamento, embora ainda com empecilhos ao início imediato da concorrência na oferta de serviços de água e esgoto —tema de discussão restante entre parlamentares e o Planalto, que vetou trechos do texto aprovado no Legislativo.

Tratou-se de avanço indiscutível, contudo —assim como pode ser o caso da nova legislação do gás.

Na semana passada, aprovou-se a tramitação em regime de urgência do projeto que pode contribuir para a criação de um mercado eficiente para o produto.

O gás natural é um combustível fóssil, assim como o petróleo. No Brasil, a maior parte do consumo se dá na indústria —na produção química, nas fábricas de cloro, fertilizantes, alumínio, vidro, biocombustíveis ou cerâmica, por exemplo. O segundo maior destino é a produção de eletricidade.

O novo perfil socioeconômico da USP – Editorial | O Estado de S. Paulo

O perfil socioeconômico dos calouros da USP - até então considerada uma instituição para os filhos da alta burguesia - mudou consideravelmente

Quatro anos após ter adotado o primeiro plano de cotas sociais e raciais de sua história, a Universidade de São Paulo (USP), a maior do País, atingiu em 2020 as metas de inclusão social previstas, com um corpo discente integrado mais por estudantes oriundos de escolas públicas do que do ensino privado. Além disso, a instituição vem aumentando significativamente o número de alunos autodeclarados pretos, pardos e indígenas em seus cursos de graduação.

Aprovado pelo Conselho Universitário, o plano de inclusão previa, para o vestibular de 2018, uma reserva de 37% das vagas de cada unidade de ensino e pesquisa para alunos vindos de escolas públicas e não brancos. Em 2019, a reserva foi de 40% e, em 2020, subiu para 45%. Para o próximo vestibular e para os anos subsequentes, a reserva atingirá os 50% tanto por curso como por turno. Ao mesmo tempo, a USP também criou uma comissão de acompanhamento para apoiar a Pró-Reitoria de Graduação e informar o Conselho Universitário sobre a sustentabilidade orçamentária da Política de Permanência e Formação Estudantil, implementada com o objetivo de evitar que graduandos abandonem os estudos no meio do curso.

Além disso, em 2015 a USP já havia tomado uma iniciativa inédita, abrindo outra porta de ingresso, ao lado do vestibular tradicional - o Sistema de Seleção Unificada (Sisu), com base no qual as instituições públicas de ensino superior oferecem vagas para candidatos participantes do Exame Nacional do Ensino Médio (Enem).

Manobra de Aras contra ‘lavajatismo’é um retrocesso – Editorial | O Globo

Mais que só combater a corrupção, Lava-Jato representou um marco no amadurecimento institucional

Nem educação, nem pandemia. Nem saneamento, nem segurança. A prioridade dos políticos em Brasília é um certo “lavajatismo”, expressão do procurador-geral Augusto Aras para qualificar as práticas e métodos de integrantes do Ministério Público no combate à corrupção. Acabar com o que resta da Operação Lava-Jato é uma causa hoje capaz de unir, à chiadeira contumaz dos advogados dos réus, uma fauna improvável com ministros de tribunais superiores e parlamentares de todos os matizes, da esquerda petista à direita bolsonarista, do “centrão fisiológico” ao “centrinho democrático”, presidentes do STF e do Legislativo, para não falar nos próprios Lula e Bolsonaro.

Os adversários do “lavajatismo” podem discordar sobre as palavras que gostariam de ver inscritas na lápide da operação, mas todos se unem no objetivo de vê-la morta e soterrada. O movimento de Aras ganhou corpo depois que saiu do governo o principal rosto dela, o ex-juiz Sergio Moro, rival provável de Bolsonaro nas urnas em 2022. É, antes de tudo, uma jogada política para reduzir a visibilidade e o poder de ação dos aliados de Moro. Em troca, Bolsonaro indicaria Aras à vaga aberta no Supremo com a aposentadoria do ministro Celso de Mello.

A reforma tributária ampla é o melhor caminho – Editorial | Valor Econômico

País deve seguir as melhores práticas internacionais, acolhidas pela OCDE, que apontam para a criação de um IVA nacional

Quando surgiu, no início do século passado, a ideia de tributar apenas o valor que cada empresa adiciona a um determinado produto ou serviço foi uma verdadeira revolução. O que veio a ser chamado de IVA demorou a ser adotado. A França foi o primeiro país a usar essa nova forma de tributação, ainda na década de 1950, em substituição ao imposto sobre vendas.

Ao longo do tempo, o IVA foi sendo adotado por vários países e, hoje, cerca de 170 nações utilizam este modelo de tributação do consumo. Nas Américas, o Brasil foi o primeiro país a adotar a tributação sobre valor adicionado, com o Imposto sobre Produto Industrializado (IPI), em 1964, segundo o economista Ricardo Varsano, especialista em tributação. Em 1967, o país foi o primeiro a adotar também um imposto sobre valor adicionado subnacional, com o então Imposto sobre Circulação de Mercadorias (ICM).

A vantagem do IVA é que essa forma de tributação evita o que se chama de “efeito cascata”, pois permite que o produtor se credite do imposto que foi pago nas etapas anteriores da cadeia produtiva. A empresa só é tributada sobre o valor que agregou efetivamente ao produto ou serviço.

Música | Tom Jobim e Chico Buarque: Ela Desatinou

Poesia | Vinicius de Moraes - Soneto de fidelidade

De tudo ao meu amor serei atento
Antes, e com tal zelo, e sempre, e tanto
Que mesmo em face do maior encanto
Dele se encante mais meu pensamento.

Quero vivê-lo em cada vão momento
E em seu louvor hei de espalhar meu canto
E rir meu riso e derramar meu pranto
Ao seu pesar ou seu contentamento

E assim, quando mais tarde me procure
Quem sabe a morte, angústia de quem vive
Quem sabe a solidão, fim de quem ama

Eu possa me dizer do amor (que tive):
Que não seja imortal, posto que é chama
Mas que seja infinito enquanto dure.