domingo, 6 de dezembro de 2020

Fernando Henrique Cardoso* - Agonia e esperanças


-  O Estado de S. Paulo | O Globo

Por uma fatalidade os dias vindouros serão de máximo perigo. Confiemos, agindo

Quase ao chegar ao fim do ano em curso, as agonias aumentaram. Na economia o País se arrasta numa recessão há já algum tempo, que foi agravada pela pandemia causada pelo novo coronavírus. Tudo, naturalmente, aumentado pela desconfiança no governo federal: faltam a ele as qualidades necessárias não só para agir com rapidez, mas mesmo para agir. Não vou relembrar, por ocioso, mas a “gripezinha” virou morte para milhares de pessoas. O descaso chegou a tanto que na área da Saúde os ministros se sucedem e os erros não cessam: falta muita coisa, mas chama a atenção a imprevisibilidade, o desconhecimento é substituído por palpites em grande quantidade.

No auge da pandemia, quando liderança, informação verídica e respeito à ciência salvam vidas, o governo federal persiste no negacionismo, na politização e no desprezo ao conhecimento. Isso, que já seria grave em tempos normais, chega às raias do absurdo diante da ameaça que pesa sobre o nosso país.

Agora mesmo, como se não houvesse urgência, há gente na sociedade pondo em dúvida a eficácia das vacinas em geral. Isso num país como o nosso, de amplíssima tradição na matéria. Os dias tristes das revoltas “contra as vacinas”, no caso a da varíola e a da febre amarela, que marcaram um tento de Oswaldo Cruz, podem até virar o feitiço contra o feiticeiro. A revolta agora é contra a demora das vacinas, quando, na verdade, nunca se viu esforço tão rápido para encontrar alguma que contenha a ação negativa do referido vírus.

Mas existe também a descrença nelas. É certo que, por enquanto, da parte de um grupo que se deixa levar pelo que deduz serem as promessas de vacinas com falta de cautela das autoridades.

Merval Pereira - Saúde à frente

- O Globo

Uma nova geração de economistas, por iniciativa de Fabio Giambiagi, um dos maiores especialistas em Previdência e em finanças do país, está reunida no livro “O Futuro do Brasil” (editora Grupo GEN), uma coletânea de textos com reflexões sobre a situação atual do Brasil, seus graves problemas, e, principalmente, propostas para a retomada do crescimento, além do curto prazo. Com prefácio de Samuel Pessoa e orelha de Paulo Hartung, o volume traz textos assinados por 32 autores, que fomentam o debate acerca de questões verdadeiramente estruturais para o crescimento econômico no período 2021-2030.

Com o olhar voltado para inserir o Brasil efetivamente no século XXI, os autores definem metas e meios para promover mudanças mirando previsibilidade, estabilidade e rigidez fiscal e crescimento econômico. Mas uma questão central permeia o debate dos especialistas: a modernização do setor público brasileiro como condição necessária para o país crescer de forma sustentável. Uma agenda que permita conjugar o atendimento das demandas dos agentes econômicos com um conjunto de tópicos voltados para os interesses da população —segurança pública, saneamento, agenda social e, sobretudo, educação e saúde.

Míriam Leitão - Este governo é um risco de vida

- O Globo

Existem governos bons, existem governos ruins e existe o governo Bolsonaro. Ele é um risco de vida. A declaração do ministro Eduardo Pazuello de que as aglomerações da campanha eleitoral não causaram aumento da pandemia no Brasil é um atentado à saúde dos brasileiros. Mostra que o general da ativa nada entendeu dos assustadores números que estão diante de nós. Os casos aumentaram muito, os hospitais estão chegando ao limite, os médicos e enfermeiros estão esgotados e tendo que buscar forças para a nova e perigosa batalha pela vida humana.

O governo Bolsonaro atravessou todas as fronteiras do que pode ser considerado um mau governo. Ele é pior. Está além dessa classificação. O ministro da Saúde nos mandou morrer, pelo visto. Olha a frase: “Se esse vírus se propaga por aglomeração, por contato pessoal, por aerossóis, e tivemos a maior campanha que podia ter nesse país, que é a municipal, nos últimos dois meses, se isso não trouxe nenhum tipo de incremento ou aumento da contaminação, não podemos falar mais em lockdown nem nada”.

O que é essa declaração? O ministro da Saúde de um país que já perdeu mais de 175 mil pessoas para o coronavírus continua não entendendo a sua responsabilidade? Nessa frase ele ignora que essa foi uma campanha muito mais contida. Quem promoveu aglomerações foi principalmente o presidente. Os candidatos usaram muito mais os meios digitais e os encontros com proteção. Mas o mais importante que Pazuello demonstra desconhecer nessa declaração no Congresso é que os números de contaminação, mortes, ocupação de leitos de UTI têm aumentado muito. E isso em função de um relaxamento dos cuidados e do distanciamento.

Vera Magalhães - O velho casuísmo

-  O Estado de S. Paulo

STF, ‘guardião’ da Carta, estende tapetão para Maia e Alcolumbre

O Brasil precisa de Davi Alcolumbre e Rodrigo Maia no comando do Legislativo? Ambos e alguns ministros do Supremo Tribunal Federal parecem crer que sim. Ou pior: parecem querer convencer o Brasil de que sim, mesmo sabendo que se trata apenas e tão somente de uma briga pela manutenção de um importante naco de poder, num momento especialmente delicado da vida nacional. 

O fato é que não, o Brasil não precisa dos dois mais dois anos à frente do Senado e da Câmara, mas sim, caso eles permaneçam lá (com a ajuda suprema), as decisões que eles tomarem terão amplo impacto na vida do Brasil, e não apenas interna corporis das Casas que comandam. O que torna o casuísmo supremo ainda mais deletério para o nosso sempre adiado amadurecimento institucional. 

Gilmar Mendes fez um voto tão longo quanto confuso para tentar convencer o País e seus pares de que Rodrigo Maia poderia tentar não o quarto, mas o segundo mandato como presidente da Câmara. E que Alcolumbre pode, sim, se candidatar a mais um biênio na cadeira azul do Senado quando outras raposas que o antecederam bem que gostariam de fazê-lo, se a regra fosse mesmo essa.

Luiz Carlos Azedo - Como perder a guerra

- Correio Braziliense /| Estado de Minas

Bolsonaro cria mais obstáculos para o desenvolvimento do país do que se imagina, pois aprofunda nosso atraso econômico e tecnológico e retarda a recuperação da economia

Quando invadiu a antiga União Soviética, Adolf Hitler já havia conquistado boa parte da Europa: além da Áustria, Tchecoslováquia e Polônia — o que deflagrou a Segunda Guerra Mundial —, a Noruega, a Dinamarca, a Bélgica, a Holanda, a França, a antiga Iugoslávia e a Grécia, além de ex-colônias europeias na África. A Operação Barbarrosa foi iniciada pelos alemães em 22 de junho de 1941 e mobilizou mais de três milhões de soldados. Sua intenção era conquistar a URSS em oito semanas. Três objetivos estratégicos foram estabelecidos por Hitler. Ocupar Moscou, a sede do governo; obter a rendição de Leningrado (São Petersburgo), a grande porta russa para o Ocidente; e controlar Stalingrado (antiga Tsarítsin, hoje, Volgogrado), para garantir petróleo em abundância. Foram passos maiores que as pernas. A 30 quilômetros de Moscou, que chegou a ser evacuada, os alemães foram repelidos; apesar da fome, a população de Leningrado resistiu até o cerco ser quebrado, em 1944. Estratégica para o controle do Cáucaso, área considerada vital para o abastecimento das tropas alemãs, em Stalingrado, a batalha foi a mais longa e sangrenta de toda a guerra, mudando seu curso.

Os alemães não tinham recursos suficientes para manter uma guerra de longa duração em território soviético, na qual exauriram suas energias. Além disso, a derrota em Stalingrado quebrou a aura de invencibilidade do Exército alemão, que acabou cercado e se rendeu. Cerca de 400 mil alemães, 200 mil romenos, 130 mil italianos e 120 mil húngaros morreram, foram feridos ou capturados. Dos 91 mil alemães feitos prisioneiros em Stalingrado, apenas 5 mil voltaram para a Alemanha. Os soviéticos sofreram cerca de 1,13 milhão de baixas, sendo 480 mil mortos e prisioneiros e 650 mil feridos em toda área de Stalingrado. Quando se rendeu, o comandante do 6º Exército alemão, marechal de campo Friedrich Paulus, referindo-se a Hitler, declarou: “Não tenho intenção de me suicidar por aquele cabo da Baviera”. Nunca antes um marechal de campo alemão havia se rendido numa frente de batalha; preferiam o suicídio à desonra. Ele havia cumprido as ordens de não se retirar de Stalingrado, a qualquer preço, mas acabou isolado, sem munição nem suprimentos.

Tem gente que considera a política uma guerra sem derramamento de sangue. Geralmente, trata os adversários como inimigos a serem exterminados. Entretanto, eles ressuscitam. Um dos três protagonistas da Conferência de Yalta, que dividiu o mundo em áreas de influência — ao lado de Franklin Delano Roosevelt (EUA) e Josef Stálin (URSS) —, o primeiro-ministro britânico Winston Churchill dizia: “A política é quase tão excitante como a guerra e não menos perigosa. Na guerra a pessoa só pode ser morta uma vez, mas na política diversas vezes.”

Bernardo Mello Franco - O exemplo de Belém

- O Globo

Em 2020, a oposição se dividiu e perdeu na maioria das capitais. Uma exceção foi Belém, onde Edmilson Rodrigues encabeçou uma frente de esquerda para conquistar a prefeitura. O deputado do PSOL montou uma aliança com seis partidos, incluindo o PT de Lula e o PDT de Ciro Gomes. No segundo turno, venceu o bolsonarista Delegado Eguchi, que dizia defender “valores da família e da pátria”.

Foi por pouco. Edmilson teve 51,7% dos votos, apenas 26 mil a mais que o rival. A disputa repetiu o enredo de 2018, com acusações rasteiras no campo moral. “Enfrentei uma campanha muito violenta. Disseram que eu construiria banheiro unissex nas escolas, que as crianças poderiam trocar de sexo aos 9 anos de idade”, conta o prefeito eleito.

A capital do Pará é uma cidade religiosa. Além de sediar o Círio de Nazaré, considerado a maior festa católica do mundo, assistiu ao nascimento da Assembleia de Deus, maior denominação evangélica do país. Sobrinho de pastor, Edmilson precisou desmentir boatos de que perseguiria os cristãos. No último debate na TV, o candidato do Patriota disse que o PSOL queria liberar as drogas e implantar a “ideologia de gênero”. O deputado ignorou a conversa e usou a réplica para falar sobre educação.

Cristovam Buarque* - Sem Teto e Sem Futuro

- Blog do Noblat | Veja

Radicalismo solidário não é o bastante

Boulos trouxe uma cara nova para a esquerda, mas não apresentou ideias novas da esquerda. Trouxe o radicalismo solidário, decente e justo de não aceitar um sem-teto em frente a edifício sem morador, mas não defendeu reformas necessárias para fechar a fábrica de sem-teto que caracteriza a estrutura social brasileira. Ele aproximou a esquerda dos sem-teto, mas não dos sem-futuro: uma utopia para o Brasil, a ser construída sobre bases sustentáveis. Ele ressuscitou a solidariedade que a direita nunca teve nem terá, e a esquerda eleitoreira e sindical perdeu; mas passou a ideias que foram soterradas pela evolução da realidade. A impressão é que a esquerda não percebeu que o Muro de Berlim caiu, e a direita não aceita que a Lei Áurea foi proclamada.

Não percebemos que o Estado se esgotou financeira, ética e gerencialmente. Seu gigantismo se fez ineficiente e atende mais aos interesses da própria máquina do que aos da população. Não aceitamos que estatal não é sinônimo de público, ainda menos de popular. Não vimos que para servir melhor aos interesses do povo é preciso considerar a inversão na pirâmide etária e a velocidade do avanço técnico, que a realidade exige reformas econômicas.

Não entendemos que a globalização, não é uma invenção do capitalismo, mas uma marcha da civilização industrial, e que o papel do progressista é tirar proveito dela para todos.

Celso Ming - O governo a reboque

- O Estado de S. Paulo

O presidente Jair Bolsonaro não poderá tirar grande proveito político da chegada da vacina porque até agora só fez jogo contra

Este início de mês parece caracterizar-se pela criação de fatos econômicos importantes por fatores externos à política econômica propriamente dita. Um deles é a vacina. Em que pesem as informações parciais e desencontradas sobre a eficácia da fase final de testes, a vacina contra a covid-19 está às portas.

As primeiras remessas não estarão disponíveis para toda a população, mas o início da vacinação começará a exercer efeitos econômicos e políticos mesmo antes disso. Investimentos serão destravados, segmentos da área de serviços poderão operar de maneira mais próxima da normalidade, as viagens serão retomadas e algumas incertezas em relação ao futuro, removidas.

Como já avançado por esta Coluna no dia 3, o presidente Jair Bolsonaro não poderá tirar grande proveito político da chegada da vacina porque até agora só fez jogo contra. Sua imagem não está identificada com ela. Ele negou a gravidade da pandemia, recomendou remédios ineficazes, como a cloroquina e hidroxicloroquinadesdenhou da vacina e vem tentando torpedear a ação dos governadores comprometidos com ela. É possível até que, nessa matéria, o Supremo Tribunal Federal meta sua colher nesse caldeirão contra o presidente. Ou seja, o acesso à vacina pela população pouco ou nada contribuirá para que o presidente Bolsonaro adquira poder de barganha política na busca de outros objetivos do governo na área econômica.

Affonso Celso Pastore*- Risco de inflação e a reação do governo

- O Estado de S. Paulo

A esperança de que Bolsonaro não embarque em uma nova aventura expansionista não se deve ao seu discernimento

Com o resultado do terceiro trimestre, sabemos que a recuperação dentro de 2020 superou todas as expectativas, reduzindo a queda do PIB a algo em torno de 4,5%. As projeções de consenso da última semana informam que em 2021 o PIB deverá crescer em torno de 3,5%, mas não esclarecem que essa taxa é próxima do carry-over de 2020. Ou seja, há um crescimento de 3,5% entre 2020 e 2021, mas praticamente não há crescimento dentro de 2021. Para amenizar as preocupações, argumenta-se que a poupança dos ricos acumulada durante o afastamento social compensará a queda da demanda dos pobres, acarretada pelo fim da ajuda emergencial. Tenho dificuldades enormes com esse argumento. Com uma taxa de desemprego podendo chegar no pico a 20%, é difícil apostar no consumo dos mais pobres e, com a incerteza elevada, é difícil que os ricos não se protejam, guardando boa parte do que acumularam. 

O fato é que a rápida recuperação – inegavelmente positiva – deixou uma herança fiscal que dificulta a continuidade do crescimento em 2021. Devido ao risco de insolvência do governo, o nível de incerteza da economia atingiu um recorde, inibindo os investimentos em capital fixo. Uma forma de aferir como a percepção deste risco se transmite é olhando para os prêmios de risco em ativos financeiros em mercados muito líquidos, como os de juros e de câmbio. 

Todos os caminhos levam ao centro

O pleito de 2020 trouxe uma má notícia para quem aposta no radicalismo. Mas os nomes moderados ainda não têm força para enfrentar Jair Bolsonaro

Por Edoardo Ghirotto, Juliana Castro  | Revista Veja

Como é típico da política brasileira, Jair Bolsonaro esqueceu rapidamente a promessa de que não se envolveria nas eleições municipais. Usou as lives semanais para pedir votos e exibiu santinhos de apadrinhados. Não adiantou: fez campanha para 59 candidatos e só dez deles emplacaram. No balanço final do pleito, o bolsonarismo foi derrotado onde o presidente assumiu um lado e mostrou pouca intensidade ou influência em diversas praças. Seu inimigo número 1, o petismo, foi ainda pior, passando por uma nova rodada de vexames. O outrora todo-poderoso partido da esquerda, o PT, não comanda mais nenhuma prefeitura de capital brasileira. Enquanto as urnas castigaram os radicais, as siglas de centro saíram premiadas, com o controle de quase metade dos municípios do país. Mesmo tendo caído de 1035 para 784 prefeituras, o MDB do ex-presidente Michel Temer continua sendo o maioral nessa área. Nas capitais, PSDB e DEM mostraram força, com quatro vitórias cada um, incluindo a do tucano Bruno Covas, em São Paulo, e a do democrata Eduardo Paes, no Rio — dois colégios eleitorais de peso que votaram contra um candidato da esquerda e contra um apoiado diretamente por Bolsonaro.

Numa eleição impactada pela pandemia e com as campanhas de rua reduzidas, o eleitorado indicou, sim, estar farto de extremos — e menos propenso a novidades. A “velha política”, calcada numa maior experiência e capacidade de negociação, saiu fortalecida das urnas. A questão é entender quanto esse fenômeno pode influenciar a eleição de 2022. Pleitos municipais registram tendências que podem ser confirmadas dois anos depois. Em 2000, o PT colheu diversas vitórias pelo país, inclusive em São Paulo, com Marta Suplicy. Em 2002, depois de várias tentativas frustradas, Luiz Inácio Lula da Silva foi presidente. Em 2016, o eleitorado brasileiro deu demonstrações claras de que queria outsiders na política. Nessa toada, João Doria foi eleito na cidade de São Paulo e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte. No pleito seguinte, Jair Bolsonaro, que bradava contra tudo e contra todos, consagrou-se nas urnas. Esse movimento parece perder força agora. “Não foi um chamado à moderação, mas a clivagem antipetista e lavajatista arrefeceu”, pontua Lucas Martins Novaes, do Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).

Nessa perspectiva, e olhando para 2022, o desafio que se coloca para o centro é encontrar um nome que empolgue, um líder que aglutine apoios em todo o país e seja capaz de desbancar o presidente, que busca a reeleição, a exemplo do fenômeno que varreu Donald Trump nos Estados Unidos. Em outros termos, não surgiu ainda uma espécie de “Joe Biden brasileiro”. Por enquanto, conforme fica evidente na mais nova pesquisa sobre o assunto, esse espaço permanece desocupado. A pedido de VEJA, o instituto Paraná Pesquisas entrevistou por telefone 2036 pessoas no país entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro, testando cenários para a eleição presidencial. E a principal conclusão do levantamento é que, embora tenha saído derrotado das urnas na semana passada, Jair Bolsonaro continua sólido na dianteira. Na verdade, se a disputa ocorresse hoje, Bolsonaro seria o vitorioso — por larga margem.

Ao contrário do que se imagina, sua popularidade continua firme. De acordo com a pesquisa, sua taxa de aprovação é de 50,2%, a maior já registrada pelo instituto (em abril era de 44% e em julho, de 47,1%). Na comparação com os levantamentos anteriores, o presidente avançou acima da margem de erro de 2 pontos porcentuais nas três simulações de primeiro turno, sempre acima da casa dos 30%. Enquanto isso, os possíveis adversários retrocederam ou estagnaram. Nas cinco projeções de confrontos no segundo turno, Bolsonaro também aparece com ampla vantagem, entre as casas de 40% a 50% das intenções de voto, dependendo do oponente. À esquerda, Ciro e Lula contabilizam desempenhos semelhantes, na faixa de 30%. Mais ao centro, com 34,7%, o ex-ministro Sergio Moro é quem mais se aproxima do capitão, ficando cerca de 10 pontos abaixo dele. Outros nomes do mesmo espectro, como João Doria e o apresentador Luciano Huck, cravaram abaixo do desempenho de Moro (23,8% e 29,7%, respectivamente).

Guilherme Amado - Em busca do anti-Bolsonaro

- Revista Época

Os movimentos políticos rumo à construção de uma candidatura forte para enfrentar o presidente começaram antes mesmo do primeiro turno, mas até agora qualquer avanço esbarra no excesso de nomes para encabeçar chapas e na falta de clareza do PT sobre qual será seu rumo

Terminada a eleição de 2020, foi dada a largada em busca de quem será o anti-Bolsonaro, o mais apto (ou apta) a derrotar o ex-capitão em 2022 e devolver o país aos trilhos da tão distante tranquilidade democrática. Os movimentos políticos rumo à construção de uma candidatura forte para enfrentar o presidente começaram antes mesmo do primeiro turno, mas até agora qualquer avanço esbarra no excesso de nomes para encabeçar chapas e na falta de clareza do PT sobre qual será seu rumo.

Atualmente, quatro nomes já se movimentam com mais clareza para enfrentá-lo, cada um num degrau diferente da escada rumo ao que pode se tornar uma candidatura de fato: Ciro Gomes, o terceiro colocado de 2018; João Doria, o governador de São Paulo eleito pelo voto bolsodoria e agora opositor; Luciano Huck, o apresentador de TV que ninguém sabe de fato se será candidato; e Sergio Moro, o ex-juiz, ex-ministro e agora consultor. Os quatro tentam formar uma chapa que una centro-direita e centro-esquerda, sabedores de que uma aliança forte será fundamental para tentar furar a polarização Bolsonaro-PT. E é aí que mora o primeiro problema.

Nenhum dos quatro tem perfil para ser vice do outro. Alguém imagina Huck deixando a vida de estrela da TV para ser vice de Doria? Ou de Moro? Ciro? Mais experiente da turma, Ciro toparia ser vice de Huck, a quem só se refere como “o estagiário”? E Doria, há tempos convicto de que seu próximo ambiente de trabalho será o terceiro andar do Planalto, por acaso aceitaria ser vice de Moro? Ou de Huck? E há mais nome na praça.

O ex-presidente do STF Joaquim Barbosa não descartou concorrer a presidente.

Janio de Freitas – Mais do que notícias da traição

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro e seus generais seguiram o ídolo Trump na pandemia do coronavírus

Os mortos por Covid-19 nos Estados Unidos de Trump já equivalem aos americanos mortos em cinco guerras do Vietnã.

Os 58 mil do número oficial de americanos mortos na guerra iniciada pelo democrata John Kennedy multiplicam-se por cinco com a recusa de Donald Trump a combater a contaminação. A “America great again”, que o impulsionou à Casa Branca, a cada dia fica menor também em vidas.

Mas nada acontecerá a esse genocida, como nada aconteceu aos genocidas das bombas de napalm, com gelatinas em chamas pegajosas nos corpos, lançadas sobre as populações civis: um milhão de mortos, na estimativa autocomplacente dos americanos, e perto de três milhões para centros de estudo da guerra.

Jair Bolsonaro e seus generais seguiram o ídolo, com primarismo ainda maior. Até hoje inexiste um plano de orientação nacional, ficando os estados entregues às ações e inações, precariedades e perplexidades de cada um.

Repete-se o descaso deliberado quando o novo ataque do vírus alcança proporções alarmantes, seja ou não uma segunda onda, discussão ociosa.

Bruno Boghossian – Os valores da família

- Folha de S. Paulo

Clã presidencial explora a estrutura do governo em benefício próprio

Não bastavam três filhos do presidente agarrados ao poder do pai. Nas últimas semanas, o quarto descendente de Jair Bolsonaro também decidiu apitar em decisões oficiais e misturar ações do governo com seus interesses particulares.

Aos 22 anos, Jair Renan Bolsonaro descolou uma reunião no Ministério do Desenvolvimento Regional para os donos de uma produtora de granito e mármore. Segundo a revista Veja, eles eram os novos patrocinadores de uma empresa de eventos e mídia fundada poucas semanas antes pelo filho 04 do presidente.

Os representantes da firma foram recebidos em 13 de novembro pelo ministro Rogério Marinho e apresentaram um projeto de casas populares. Jair Renan estava lá "por acreditar que o sistema construtivo teria potencial de reduzir custos para União". Ninguém explicou qual é a experiência do jovem no assunto. Ele cursa faculdade de análise e desenvolvimento de sistemas.

Hélio Schwartsman - Câmeras contra o racismo

- Folha de S. Paulo

É a proliferação desses aparelhos em locais públicos que pode mudar o jogo

A França elegeu o centrista Emmanuel Macron, mas isso não a poupa de “momentos Bolsonaro”, como o projeto de lei que pune com até um ano de cadeia e multa de € 45 mil quem divulgar imagens de policiais em ação com a intenção de prejudicá-los.

O timing não poderia ter sido pior. Poucos dias depois de a proposta ter sido aprovada pela Assembleia Nacional, apareceu um vídeo de policiais espancando brutalmente o produtor musical negro Michel Zecler. Milhares de franceses reagiram indo às ruas para protestar contra o projeto. O governo diz que vai aprimorá-lo antes de enviá-lo ao Senado.

Ruy Castro* - Os médicos sobre Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Ninguém mais autorizado a julgar o papel dele na pandemia

Dos 57,8 milhões de votos despejados em Jair Bolsonaro em 2018 pelos brasileiros que queriam se livrar do PT, milhares terão sido de médicos, dos estudantes de medicina e de toda espécie de profissionais da saúde, de cientistas recordistas em Ph.D ao mais humilde servente de um hospital. Ninguém, claro, poderia adivinhar que, em um ano e meio, o mundo seria varrido por uma pandemia. Mas, sendo médicos, nenhum terá suspeitado de que estavam elegendo um demente?

Eu me pergunto se, hoje, heróis da linha de frente contra a Covid-19, algum deles tem dúvida. Mais do que todos, eles sabem que, no governo, está alguém que, entre o vírus e o povo, escolheu ficar a favor da morte.

Elio Gaspari - Júnior conhece a caixa-preta da saúde

- O Globo | Folha de S. Paulo

Ministro Luís Roberto Barroso poderá homologar a papelada da colaboração do empresário José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à Procuradoria-Geral da República (PGR)

Nesta semana, o ministro Luís Roberto Barroso poderá homologar a papelada da colaboração do empresário José Seripieri Júnior, da Qualicorp, feita à Procuradoria-Geral da República (PGR). Há mais de uma semana, a repórter Bela Megale revelou que Júnior, como ele é conhecido, concordou em pagar R$ 200 milhões à Viúva pelas transações em que se meteu, alimentando caixas de políticos. Em julho, ele passou três dias na cadeia, e sua colaboração foi antecedida pela de um sócio.

Chegando a valer cerca de R$ 4 bilhões, a Qualicorp tornou-se uma campeã organizando planos coletivos de saúde. Como uma jabuticaba, ela nunca foi uma operadora, mas Júnior tornou-se um bilionário trabalhando num mercado onde se misturam capilés para políticos que colocam jabutis nas leis e azeitam-se promiscuidades com as agências reguladoras.

Finalmente, o Ministério Público acercou-se desse mercado. A Lava-Jato chegou perto, mas distraiu-se. Deltan Dallagnol, ex-coordenador da força-tarefa, recebeu pelo menos R$ 580 mil fazendo palestras para plateias da Unimed. Ele explicou que repassava os valores a entidades filantrópicas.

Quando a colaboração de Júnior for conhecida, será possível avaliar a sua profundidade. A operação Lava-Jato começou com muito menos, pois nela o fio da meada foi puxado a partir de um posto de gasolina que lavava dinheiro. A memória da Qualicorp, ou de qualquer grande operadora, guarda muito mais que isso. Os procuradores de Curitiba puxaram os fios e deu no que deu. A PGR está com o novelo na mão. Sabe-se que negociou uma multa milionária, mas a questão está também em outro lugar: na máquina desse mercado.

Vinicius Torres Freire – ‘Vacina chinesa' está para sair

- Folha de S. Paulo

China e Turquia esperam vacinar em dezembro; Indonésia, em janeiro, dizem governos

O governo chinês diz que “em breve” haverá um “grande anúncio” a respeito de vacinas com “vírus inativados”. Trata-se das vacinas da Sinovac e da Sinopharm. Meios de comunicação chineses dizem que o anúncio dessas vacinas é “iminente” e que uma aprovação oficial deve ocorrer até o fim do ano —tratam do Brasil, sem o dizer. São Paulo comprou a Sinovac.

Essa vacina chega no próximo dia 11 à Turquia, que comprou uma partida inicial de 50 milhões de doses. O governo turco pretende testá-la por duas semanas e começar a vacinação no dia 25, se o teste der certo.

A Indonésia vai receber 50 milhões de doses da Sinovac até fevereiro. O plano original era começar a vacinar na última semana de dezembro.

O prazo mais realista é a terceira semana de janeiro, conta um ex-colega de faculdade deste jornalista. Ele trabalha na alta administração de seu país. Diz que espera “aprovação em breve da vigilância sanitária brasileira”, que já estaria examinando a vacina, ele acha.

Dorrit Harazim - Natal gordo

- O Globo

O ocupante da Casa Branca nem sequer precisa simular que trabalha

Natal não é para amadores, e poucos percebem os desvios que cometem quando hipnotizados pelo festivo arrastão. Basta citar um único excesso coletivo da vida brasileira a cada dezembro. Desde que as luzinhas de decoração vindas da China passaram a custar uma ninharia, elas engolem prédios, lojas, ruas, interiores de casas, postes e praças. Você acorda de manhã, e as árvores que até a véspera pareciam árvores sumiram. Viraram espantalhos, assombrações. Estão de tronco e galhos estrangulados por fileiras cerradas dessas luzinhas que piscam dia e noite, montadas com diligência para lhes esconder qualquer vestígio de natureza. Poderiam fazer parte de algum sonho natalino do ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, mas não fazem mal a ninguém. Apenas deveriam ser usadas com mais temperança.

Nos Estados Unidos de Donald Trump, Natal é coisa séria. “Se eu me tornar presidente”, prometeu ao longo da campanha de 2016, “vamos voltar a nos cumprimentar desejando Feliz Natal, e podem esquecer o Boas Festas”. Equiparava esse cumprimento genérico e inclusivo a um ataque contra as tradições cristãs por parte de terroristas politicamente corretos. Também na campanha de 2020, o presidente alertou seus seguidores para o risco de o Natal estar sob ataque. Caso o democrata Joe Biden fosse eleito, ele seria capaz de abolir as festividades em todo o país.

O que a mídia pensa: Opiniões / Editoriais

A omissão e suas consequências – Opinião | O Estado de S. Paulo

As eleições terminaram e Jair Bolsonaro ainda não deu sinal de que trabalhará pela aprovação de reformas e projetos prioritários para o País

Como desculpa para o não andamento das reformas legislativas de que tanto o País necessita, o governo de Jair Bolsonaro valeu-se várias vezes do calendário eleitoral. No entanto, as eleições terminaram no dia 29 de novembro e o presidente Bolsonaro ainda não deu nenhum sinal de que trabalhará pela aprovação das muitas reformas e projetos prioritários para o País. Ao longo da semana passada, viu-se o mesmo e recorrente alheamento da realidade social e econômica do País, bem como do papel do Palácio do Planalto na definição e coordenação das prioridades nacionais.

A omissão do governo federal foi registrada pelo presidente da Câmara. “O governo deveria ter começado o dia hoje cedo com uma coletiva para falar qual é a pauta de seu interesse para os próximos dois meses”, disse Rodrigo Maia, na segunda-feira passada, ao UOL. “Senti falta na manhã de hoje de uma posição mais clara e de urgência, nesse momento, em relação às pautas que tratam das despesas públicas”, lembrou.

A paralisia do governo é constrangedora. Não foi votada a Lei Orçamentária Anual (LOA) de 2021, tampouco a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). É esta lei que prevê, por exemplo, a possibilidade de o governo executar, de forma provisória, a duodécima parte das despesas, em caso de não aprovação da LOA. Ou seja, sem a aprovação da LDO até o fim do ano, o governo não terá base legal para realizar nenhum gasto discricionário em 2021.

Música | Petrobras Sinfônica e Lucy Alves - Xote das Meninas

 

Poesia | Carlos Drummond de Andrade - Nenhum desejo neste domingo

Nenhum desejo neste domingo
nenhum problema nesta vida
o mundo parou de repente
os homens ficaram calados
domingo sem fim nem começo.

A mão que escreve este poema
não sabe o que está escrevendo
mas é possível que se soubesse
nem ligasse.