O
pleito de 2020 trouxe uma má notícia para quem aposta no radicalismo. Mas os
nomes moderados ainda não têm força para enfrentar Jair Bolsonaro
Por Edoardo
Ghirotto, Juliana Castro | Revista Veja
Como
é típico da política brasileira, Jair Bolsonaro esqueceu rapidamente a promessa
de que não se envolveria nas eleições municipais. Usou as lives semanais
para pedir votos e exibiu santinhos de apadrinhados. Não adiantou: fez campanha
para 59 candidatos e só dez deles emplacaram. No balanço final do pleito, o
bolsonarismo foi derrotado onde o presidente assumiu um lado e mostrou pouca
intensidade ou influência em diversas praças. Seu inimigo número 1, o petismo,
foi ainda pior, passando por uma nova rodada de vexames. O outrora
todo-poderoso partido da esquerda, o PT, não comanda mais nenhuma prefeitura de
capital brasileira. Enquanto as urnas castigaram os radicais, as siglas de
centro saíram premiadas, com o controle de quase metade dos municípios do país.
Mesmo tendo caído de 1 035 para 784
prefeituras, o MDB do ex-presidente Michel Temer continua sendo o maioral nessa
área. Nas capitais, PSDB e DEM mostraram força,
com quatro vitórias cada um, incluindo a do tucano Bruno Covas, em São Paulo, e
a do democrata Eduardo Paes, no Rio — dois colégios eleitorais de peso que
votaram contra um candidato da esquerda e contra um apoiado diretamente por
Bolsonaro.
Numa
eleição impactada pela pandemia e com as campanhas de rua reduzidas, o
eleitorado indicou, sim, estar farto de extremos — e menos propenso a
novidades. A “velha política”, calcada numa maior experiência e capacidade de
negociação, saiu fortalecida das urnas. A questão é entender quanto esse
fenômeno pode influenciar a eleição de 2022. Pleitos municipais registram
tendências que podem ser confirmadas dois anos depois. Em 2000, o PT colheu
diversas vitórias pelo país, inclusive em São Paulo, com Marta Suplicy. Em
2002, depois de várias tentativas frustradas, Luiz Inácio Lula da Silva foi
presidente. Em 2016, o eleitorado brasileiro deu demonstrações claras de que
queria outsiders na política. Nessa toada, João Doria foi eleito na cidade de
São Paulo e Alexandre Kalil, em Belo Horizonte. No pleito seguinte, Jair
Bolsonaro, que bradava contra tudo e contra todos, consagrou-se nas urnas. Esse
movimento parece perder força agora. “Não foi um chamado à moderação, mas a
clivagem antipetista e lavajatista arrefeceu”, pontua Lucas Martins Novaes, do
Instituto de Ensino e Pesquisa (Insper).
Nessa
perspectiva, e olhando para 2022, o desafio que se coloca para o centro é
encontrar um nome que empolgue, um líder que aglutine apoios em todo o país e
seja capaz de desbancar o presidente, que busca a reeleição, a exemplo do
fenômeno que varreu Donald Trump nos Estados Unidos. Em outros termos, não
surgiu ainda uma espécie de “Joe Biden brasileiro”. Por enquanto, conforme fica
evidente na mais nova pesquisa sobre o assunto, esse espaço permanece
desocupado. A pedido de VEJA, o instituto Paraná Pesquisas entrevistou por
telefone 2 036 pessoas no país
entre os dias 28 de novembro e 1º de dezembro,
testando cenários para a eleição presidencial. E a
principal conclusão do levantamento é que, embora tenha
saído derrotado das urnas na semana passada, Jair Bolsonaro
continua sólido na dianteira. Na verdade, se a disputa ocorresse hoje,
Bolsonaro seria o vitorioso — por larga margem.
Ao
contrário do que se imagina, sua popularidade continua firme. De acordo com a
pesquisa, sua taxa de aprovação é de 50,2%, a maior já registrada pelo instituto
(em abril era de 44% e em julho, de 47,1%). Na comparação com os levantamentos
anteriores, o presidente avançou acima da margem de erro de 2 pontos
porcentuais nas três simulações de primeiro turno, sempre acima da casa dos
30%. Enquanto isso, os possíveis adversários retrocederam ou estagnaram. Nas
cinco projeções de confrontos no segundo turno, Bolsonaro também aparece com
ampla vantagem, entre as casas de 40% a 50% das intenções de voto, dependendo
do oponente. À esquerda, Ciro e Lula contabilizam desempenhos semelhantes, na
faixa de 30%. Mais ao centro, com 34,7%, o ex-ministro Sergio Moro é quem mais
se aproxima do capitão, ficando cerca de 10 pontos abaixo dele. Outros nomes do
mesmo espectro, como João Doria e o apresentador Luciano Huck, cravaram abaixo
do desempenho de Moro (23,8% e 29,7%, respectivamente).