domingo, 7 de setembro de 2008

Graziela Melo lançou o livro "Crônicas, contos e poemas" quinta-feira (4/9), em Brasília


Aos amigos leitores deste Blog devo uma explicação. A página ficou alguns dias fora ar, por puro nepotismo explicito, meu. É que estava em Brasília para o lançamento do livro de minha mulher.


A Fundação Astrojildo Pereira, a Editorial Abaré e a Leart Editora lançaram, na última quinta-feira (4), o livro "Crônicas, contos e poemas", da poeta Graziela Melo. Pernambucana da Ilha de Itamaracá, viveu exilada no Chile e em Cuba durante a ditadura militar. Atualmente reside no Rio de Janeiro.

O evento foi realizado no Café Literário da Feira do Livro de Brasília, no Pátio Brasil Shopping, a partir das 19h. e teve boa presença de público. Prestigiaram o lançamento amigos do casal, destaques para o presidente do PPS, Roberto Freire, o presidente da Federação Nacional dos Fiscais da Previdência Social, Lupércio Montenegro, o cineasta Wladimir Carvalho, o assessor do Ministro da Saúde, Crescêncio Antunes Neto, as professoras Lucilia Garcez e Akiko Santos. Ademais de outros dirigentes do PPS, como o jornalista Francisco Almeida e a coordenadora das mulheres Tereza Vitali .


E que me perdoem os demais queridos amigos brasilineses que prestigiaram o evento e de cujos nomes não me lembro no momento. Se explica: depois dos 70 a memória já falha.
Finalizo, transcrevendo um dos poemas que constam do livro, dedicado ao nosso filho, falecido no exílio.


Poema para o filho morto

O Filho
Perdido
Na noite
Da eternidade
Estranha
Sem
Que possa
Guardá-lo
No colo


Vive,
No meu
Desconsolo


Como um
Condor
Desgarrado
No alto
De uma
Montanha


Voa!!!
À noite
As estrelas
São
Ternas
Brilhantes
E belas!!!


Voa
Pequeno
Condor!!!


Na infinita
Eternidade
Nas asas
Da minha
Saudade


Nas nuvens
Do meu amor
Nas pedras
Da minha dor!!!

Santiago, ago./1972

Anti-elitismo como arma


Merval Pereira
DEU EM O GLOBO


NOVA YORK. A entrada em cena da suburbana Sarah Palin fez com que a campanha presidencial dos republicanos reforçasse uma tática que historicamente vem sendo eficaz para o partido, a de carimbar os candidatos democratas de elitistas, colocando-se na posição de defensores dos cidadãos comuns. Mesmo que na prática o programa de cada partido seja a negação dessa tese, com Bush reduzindo os impostos dos mais ricos e Obama querendo taxá-los mais para reduzir os dos pobres e, sobretudo, que McCain seja filho de uma família tradicional de militares e tenha casado com uma milionária e Obama um afro-descendente filho de mãe solteira que lutou contra dificuldades para estudar, o "cosmopolitismo" do candidato democrata é alvo de ataques até mesmo do ex-prefeito de Nova York Rudolph Giuliani, uma das cidades mais cosmopolitas do mundo, se não a mais.

Ao mesmo tempo, o candidato democrata já enfrentou na campanha ataques racistas, como quando foi classificado pelo apresentador John McLaughlin, que comanda um talk-show político muito visto na televisão, como um "Oreo", uma maneira pejorativa de se referir a um negro, que seria preto por fora e branco por dentro, como o biscoito de chocolate recheado de creme popular nos Estados Unidos. No Brasil, seria o mesmo que chamá-lo de "dominó".

Obama é criticado por sua maneira de andar, por seu físico esguio, até mesmo por sua maneira de falar, que traduziria toda a sofisticação de sua formação em Harvard, onde foi o primeiro negro a presidir a revista da Faculdade de Direito.

O professor de História da Universidade de Boston Bruce J. Schulman lembra que, embora essa tática tenha sido aperfeiçoada por Richard Nixon em sua campanha presidencial vitoriosa em 1968, o anti-elitismo sempre foi uma arma política de ambos os partidos, a começar no século XIX, quando Andrew Jackson, que criou a dissidência republicana de onde nasceu o partido democrata, um general próspero dono de escravos, tornou-se um político influente como defensor dos despossuídos, marcando a política americana com o anti-elitismo.

O Brahmin de Boston John Quincy Adams foi derrotado por ele em 1828. Brahmins, a mais alta classe do sistema de castas indiano, é como os estudantes de Yale e Harvard descendentes das famílias wasps (brancos, anglo-saxões e protestantes) são conhecidos. Intelectualmente sofisticados e politicamente progressistas, esses estudantes formam uma verdadeira casta, onde dinheiro não é o mais importante.

O professor de História da Universidade de Boston Bruce J. Schulman destaca que ninguém seria mais vulnerável às acusações de esnobismo do que o democrata Franklin Delano Roosevelt, descendente de aristocratas que foi criado por tutores e freqüentou uma das mais elitistas escolas americanas, a Groton.

Considerado por muitos o maior presidente dos Estados Unidos, assumiu o governo em 1933 com o país arrasado por uma crise econômica que tivera início com a quebra de 1929 e liderou o país durante a Segunda Guerra Mundial.

O único presidente eleito quatro vezes seguidas - morreu no último mandato e provocou a emenda constitucional que impede a reeleição indefinida - Roosevelt denunciava seus companheiros de elite: "Nunca as forças do egoísmo estiveram tão unidas quanto estão agora contra um candidato. Eles são unânimes no seu ódio a mim. Eles odeiam Roosevelt, e eu saúdo o seu ódio".

Mais ou menos o que McCain fez no discurso em St. Paul: "Aos preguiçosos, egoístas, que pensam primeiro em si e não na pátria, aos indolentes, um aviso, a mudança está chegando em Washington".

Quatro dos últimos seis presidentes americanos (George H.W. Bush, George W. Bush, Bill Clinton and Gerald R. Ford) são, como Barack Obama, oriundos de universidades de elite como Yale ou Harvard. Tanto o pai quanto o atual presidente George W. Bush mantiveram uma postura de texanos rudes, apesar da fortuna.

George pai derrotou assim Michael Dukakis, um filho de imigrantes, e George W. Bush derrotou Al Gore e John Kerry, este último um legítimo Brahmin de Yale, a quem Bush atribuía uma atitude arrogante em relação a ele, a mesma que os colegas estudantes tinham na universidade, onde os Brahmins valorizam mais o preparo cultural do que o dinheiro.

Os dois têm raízes na Nova Inglaterra, mas, enquanto Kerry costumava passar férias na casa dos avós, numa cidade do norte da França, Bush nunca havia saído dos Estados Unidos antes de ser presidente.

Também Nixon tinha problemas com a elite intelectual, que julgava que "torcia o nariz" para os valores do cidadão comum americano. Quase a mesma acusação que Sarah Palin fez genericamente aos democratas, que "olhariam de cima para baixo" os prefeitos de pequenas cidades, como ela.

Nixon, em 1968, assumiu a defesa da "maioria silenciosa" da América profunda, que ele chamava de "os esquecidos", uma classe média branca atormentada, como hoje, pelos tempos difíceis e tumultuados.

Assim como os republicanos hoje acusam a mídia de ser elitista e de tratar Sarah Palin com machismo, Nixon e o vice Spiro Agnew classificavam seus críticos de "inúteis nababos do negativismo" e os intelectuais de "esnobes insolentes".

O professor de Harvard Samuel Huntington - que se diz orgulhosamente descendente de doze gerações wasps - fala que a elite americana está se desnacionalizando para se internacionalizar, e por isso já não consegue representar a média da opinião pública americana, que definitivamente não é cosmopolita.

Na eleição de 2004, George Bush aproveitou-se da fama de "europeu" de John Kerry para dizer, em um dos debates, que não se preocupava com o que o resto do mundo, ou mais especificamente a Europa, pensasse sobre suas atitudes, pois olhava primeiro os interesses dos Estados Unidos.

Nesta campanha, a viagem ao exterior de Barack Obama provocou a mesma reação dos republicanos, especialmente seu já célebre discurso para uma multidão em Berlim.

Direção imprudente


Dora Kramer
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Longe de estar "ultrapassado", como afirmou o ministro da Defesa, Nelson Jobim, na sexta-feira, o caso das escutas ilegais ganhou corpo justamente depois que o governo tentou uma ultrapassagem arriscada no seu roteiro habitual de administração de crises e, no improviso, acabou se atrapalhando todo.

A semana começou com a celebração da firmeza e da agilidade do Planalto pelo afastamento da diretoria da Agência Brasileira de Inteligência na segunda-feira à noite e transcorreu aos tropeços em bate-boca de ministros, generais, delegados de polícia, cada um tirando uma peça da obra construída para apaziguar a ira do Supremo Tribunal Federal.

No meio da confusão, estranhamente quem menos falou foi o ministro da Justiça, Tarso Genro.

Discreto, entrou em cena já na hora dos remendos, para apresentar uma proposta de aumento da pena de prisão e perda dos direitos políticos aos grampeadores do submundo da espionagem.

Na minuta da proposta não há instruções sobre como proceder para identificá-los e tirá-los da clandestinidade a fim de fazer valer os rigores da nova lei.

O presidente Luiz Inácio da Silva tampouco parou de se movimentar em outras direções, mas nada foi suficiente para abafar o barulho da discussão sobre a denúncia do ministro Jobim de que a Abin teria extrapolado o limite legal de suas funções ao comprar equipamentos de escuta.

Era só um argumento para reforçar junto ao presidente Lula a tese da urgência em apresentar um suspeito ainda no primeiro dia útil da crise para apaziguar os ânimos no Supremo, cujo presidente havia sido comprovadamente alvo de um grampo.

O STF fechou-se unânime em defesa de Gilmar Mendes que cobrava uma atitude mais objetiva que a habitual a formalidade do pedido de abertura de inquérito na Polícia Federal.

Afastava-se temporariamente a direção da Abin "em nome da transparência" das investigações, dava-se uma satisfação ao Tribunal, recolhiam-se os elogios pela pronta reação e tudo resolvido.

Quase deu certo.

O presidente do Supremo continuou a tratar do assunto, mas já sem o tom de cobrança ao presidente da República adotado na hora da pressão, as saudações apareceram aqui e ali, mas na terçafeira mesmo as coisas desandam.

Primeiro por causa da profusão de manifestações de admiração e louvor do primeiro escalão da República ao trabalho do chefe da equipe posta sob suspeita horas antes. A demissão fora, então, injusta, apressada, infundada? A decisão de Lula começa a ser enfraquecida pela própria equipe presidencial, em seu afã de desagravar o lado supostamente ofendido sem perceber que o cobertor era curto demais para abrigar todas as versões.

Ato seguinte, "vaza" a informação de que na reunião de segundafeira no Palácio do Planalto Nelson Jobim apresentara ao presidente indícios fortes para justificar a ação contra a Abin. A agência teria usado o sistema de compras do Exército para adquirir equipamentos de interceptação telefônica.

O ministro da Defesa prontamente confirma a história.

Recapitulando: o governo oferece cabeças ao sacrifício no início de uma crise, depois parte da equipe presidencial defende os demitidos e, em seguida, o ministro da Defesa complica os defendidos confirmando informações passadas ao presidente numa reunião fechada.

Quantas vezes um ministro já deu aval a "vazamentos", ainda mais sobre o conteúdo de conversas com o chefe, envolvendo uma acusação grave contra um órgão ligado diretamente à Presidência? Quantas vezes o governo apresentou suspeitos espontaneamente? Quantas vezes os acusados foram afastados de seus postos para garantir a "transparência" das investigações sobre qualquer uma das denúncias feitas desde o caso Waldomiro Diniz até hoje? Nem uma única mísera vez qualquer das cenas acima aconteceu e foi aí, ao sair do "texto" habitual, que o Palácio do Planalto perdeu a direção.

Como não houve previsão para o segundo capítulo, depois do primeiro cada personagem agiu de acordo com o que julgou mais conveniente e, de repente, o governo se vê sentado na berlinda produzindo acusações contra si.

É quando entra o ministro Nelson Jobim dando o assunto por "ultrapassado" até a conclusão "das investigações da Polícia Federal".

A idéia, pelo jeito, é voltar ao ponto zero da crise.

Difícil será dar por não dito o muito que foi dito durante quatro dias sobre o tenebroso tema da espionagem clandestina possivelmente – como admitiu o chefe do Gabinete de Segurança Institucional – existente nas entranhas do Estado.

Pé de coelho

O presidente Lula fala em sorte, refere-se à "magia" do momento nacional, demora-se nos factóides e passa ligeiro pelos fatos.

Alimenta subliminarmente a crendice de que sua importância vai além da Presidência, apresentando-se como um legítimo amuleto para o povo brasileiro.

Coisas do Senado


Nas Entrelinhas :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE


A disputa pela presidência da Casa vai esquentar ainda mais porque em 2010 haverá renovação de dois terços dos mandatos dos senadores e a maioria deles, hoje, está em risco eleitoral
A alta política brasileira transita pelo Senado Federal, venerável e vetusta Casa política que surgiu no Império. É um reduto conservador, que já deu muitas dores de cabeça aos governantes, quase sempre quando o parlamento foi afrontado pelo Executivo. É composto por ex-governadores, ex-ministros e lideranças em ascensão, embora tenha uma legião de suplentes sem-votos, que em alguns casos assumiram os mandatos por terem financiado a campanha do titular.

Patronos

Toda vez que se fala em reforma constitucional, surgem propostas para acabar com o sistema bi-cameral e extinguir o Senado. Nada ocorre, entretanto. De dimensões continentais, dele o Brasil não pode prescindir para conter o poder centralizador da União e garantir certa autonomia aos estados. Foi para equilibrar essas relações, aliás, que surgiu a “política de conciliação” no gabinete de Honório Hermeto Carneiro Leão, o Marquês de Paraná, em 1953. Depois de décadas de confronto, saquaremas (por causa da hegemonia dos políticos fluminenses) e luzias ( devido à revolta liberal mineira da Vila de Santa Luzia do Rio das Velhas, em 1842) chegaram a um entendimento. Vem daí a expressão jocosa de que “todo luzia é um saquarema no poder”.

A galeria dos políticos que já passaram pelo Senado e deixaram o nome na história do Brasil por seu talento e coragem é vasta. Feijó, Cairú, Caxias, Pinheiro Machado, Nereu Ramos, Juscelino Kubitschek, Josaphat Marinho, Teotônio Vilela, Nilo Coelho, Afonso Arinos e Mário Covas são alguns deles. O grande patrono, porém, é um político derrotado, cujo nome virou sinônimo de inteligência e cultura, o baiano Rui Barbosa de Oliveira. Advogado, jornalista, jurista, diplomata, sucedeu Machado de Assis na Academia Brasileira de Letras. Foi o principal autor da Constituição de 1891, que Floriano Peixoto afrontou em 1893, com seu presidencialismo golpista, centralizador e autoritário. Rui foi obrigado a se exilar, mas retornou em 1895 e assumiu o mandato no Senado, para o qual sempre foi reeleito. Candidato a presidente da República, foi derrotado nos pleitos de 1910, 1914 e 1919 pelas oligarquias regionais. Faleceu em 1923.

Submundo

A vida no Senado não se restringe aos grandes momentos e grandes personagens. A pequena política e o submundo, com seus atores menores, também tecem a trama política. São as memórias dos políticos, muito mais do que os anais da Casa, que contam seus bastidores. A vida mundana também engendra grandes acontecimentos históricos. Basta ler os relatos do ex-chefe da segurança do Senado, Francisco Pereira da Silva, no livro O Índio sai da sombra, escrito pelo jornalista Carlos Chagas (Editora Dom Quixote). É de rolar de rir. Tem um olhar diferente da crônica política, mas é revelador de como certas coisas funcionam e da personalidade de muitos políticos. Alguns até já morreram, mas outros estão vivíssimos.

A propósito, a disputa pela Presidência do Senado vai esquentar ainda mais porque em 2010 haverá renovação de dois terços dos mandatos dos senadores e a maioria deles, hoje, está em risco eleitoral. Vem aí uma nova safra de ex-governadores, majoritariamente governistas. Dependendo do resultado das eleições municipais, o governo terá força para abrir uma brecha na lei da fidelidade partidária e promover um novo troca-troca partidário. A meta é conseguir maioria absoluta no Senado. Completaria o triunfo político do governo Lula.

Qual é sua Proposta?

Marcos Coimbra
DEU NO ESTADO DE MINAS

Seja por alguma identidade prévia, seja por sentimento partidário, seja porque chegou a uma decisão pelo que sabe dos candidatos e suas alianças, o eleitor escolhe

No senso comum a respeito do comportamento eleitoral, existem coisas verdadeiras e outras não. Uma das mais comuns é dizer que as eleições se travam entre “propostas”, através de seu confronto e avaliação.

Pergunte-se a qualquer eleitor, candidato ou aos profissionais que levam uns aos outros, os marqueteiros, e todos serão unânimes. É preciso apresentar “propostas”, mostrar aos cidadãos que aqueles que pretendem governar têm soluções para os problemas que afligem as pessoas.

Parece a coisa mais óbvia, que dispensa considerações. Sem boas “propostas”, como alguém teria chances em uma eleição, conseguiria convencer os eleitores de que está mais preparado que os demais? Afinal, os eleitores não precisam conhecer o que pensam todos, antes de fazer suas escolhas?

Verdade? Claro que não, como, no fundo, ninguém ignora, do eleitor mais humilde ao Presidente da República. Mas todos gostamos de fingir que é assim que se tomam as decisões de voto, talvez porque acreditar nisso produz em nós uma ilusão de racionalidade.

A idéia de que as “propostas” são a base de uma campanha eleitoral é uma daquelas coisas que os eleitores fingem que é verdade e os candidatos (e seus marqueteiros) fingem que acreditam. Tem tanta substância como qualquer lenda, mas teima em aparecer toda vez que estamos em época de eleição.

Nesta, está presente até demais. O figurino do bom candidato a prefeito em 2008 exige dúzias de “propostas” para exibir na propaganda eleitoral, como belas gravatas ou lindos complementos, jóias, bonitos penteados. É de mau tom aparecer na televisão sem elas.

Em algumas cidades, está em curso um campeonato de propostas. Em Recife, há quem já apresentou mais de cem, apenas nos primeiros dias da propaganda eleitoral. Em São Paulo, Marta, Alckmin e Kassab travam uma batalha diária para saber quem empilha mais propostas na frente do eleitor. Em cada aparição no horário eleitoral, nenhum mostra menos que 10. País afora, o mesmo se repete, com direito a todo tipo de bizarrice. Só de metrôs se diria que vamos ter mais de 100.

Os eleitores confirmam que é isso mesmo, que é assim que escolhem. Quem quiser ouvir o coro que fazem, basta se sentar nas salas de observação de grupos focais, usados em pesquisas qualitativas. Parece coisa ensaiada. Do Oiapoque ao Chuí, só dá “proposta”.

É fácil, no entanto, ver quão pouco a sério os próprios eleitores se levam nesse assunto. Se perguntarmos que propostas conhecem dos candidatos a prefeito de suas cidades, dificilmente teremos mais que uma pequena minoria conseguindo acertar alguma.

Não é difícil explicar o porquê. Com diversos candidatos (11 em São Paulo, 12 no Rio, por exemplo) se sucedendo na telinha, cada um dizendo que vai fazer 10 coisas a cada dia, só um eleitor de memória prodigiosa seria capaz de se lembrar delas no dia seguinte.

Salvo do candidato em quem já decidiu que vai votar. Seja por alguma identidade prévia, seja por sentimento partidário, seja porque chegou a uma decisão pelo que sabe dos candidatos e suas alianças, o eleitor escolhe. Daí em diante, presta atenção, de fato, nas “propostas”, mas apenas nas de seu candidato. Mais para ter argumentos com os quais justificar a opção que fez.

Nem as “propostas” estão no fundamento das escolhas nem são motivo para levar o eleitor a desistir de uma candidatura.

Tudo isso, é claro, para os eleitores normais. Talvez exista quem faça, de verdade, o que os demais apenas dizem fazer: Sentar-se na frente da televisão, atentamente, anotando tudo que dizem os candidatos, para chegar a uma comparação racional da viabilidade, custo e vantagem de cada proposta. Ao cabo disso, escolher.

Mas não é assim que as coisas se dão no mundo real.

O petróleo continuará nosso


Fernando Henrique Cardoso
Sociólogo, ex-presidente da República
DEU EM O GLOBO


Não faz muito tempo, chamei a atenção nesta coluna para os desafios postos pelas descobertas de petróleo no pré-sal e para a necessidade de haver convergência de opiniões que permita, se for o caso, mudanças nas leis que regulamentam sua exploração. Mencionei mesmo a possibilidade de se utilizar os recursos gerados para resolver os problemas educacionais, trocando-se “minérios por neurônios”.

Agora, com o governo capitaneando o alarido, volta-se ao velho refrão: o petróleo é nosso. Entretanto, desde a primeira lei sobre petróleo, de 1953, que respondeu aos justos anseios do que chamávamos de “emancipação nacional”, até a mais recente, enviada ao Congresso por meu governo em 1997, o petróleo jamais deixou de pertencer ao povo brasileiro, por intermédio da União. A diferença entre as duas leis é que, na primeira, a exploração se dava sob exclusividade da Petrobras, enquanto na segunda ela se dá por várias empresas, inclusive a Petrobras, sob regime de concessão e sob regulação da Agência Nacional do Petróleo, a ANP. Não há dúvidas quanto a que a União detém e continuará a deter o monopólio do subsolo.

Qual a razão, então, para o recente surto de “o petróleo é nosso”? É que agora os neonacionalistas querem criar outra empresa estatal, alegando que a Petrobras carreará os lucros da exploração do pré-sal para mãos privadas e, horror máximo, algumas delas estrangeiras. Há razões para um debate sério sobre como utilizar melhor as reservas do pré-sal, mas a exaltação falsamente nacionalista não é o melhor caminho. Diante da provável imensidão das reservas, há questões objetivas a serem enfrentadas. De onde virão os recursos para explorar um óleo que se encontra a 300 quilômetros da costa e a mais de 6 mil metros de profundidade? Hoje o barril de petróleo está acima de US$ 100, continuará nesse patamar? Qual o custo de extração do pré-sal e, portanto, qual o preço de mercado compatível com sua utilização? Só para explorar as primeiras reservas descobertas, fala-se, com exagero, em US$ 600 bilhões no período de 10 anos. Trata-se de muito dinheiro; terão o Tesouro e a Petrobras recursos suficientes para tanto?

Essas são as primeiras avaliações, mas se supõe existir um manancial que pode ser algumas vezes maior. Só novas e dispendiosas perfurações confirmarão a extensão dos achados. Há tempo, portanto, para ampliar o debate. Ele não deve circunscrever-se ao governo e aos interessados economicamente; precisa envolver a sociedade civil, os técnicos e até mesmo considerar a visão de especialistas de fora do país.

Será necessário mudar o marco legal vigente? Olhando o êxito das descobertas no pré-sal e a quase autonomia petrolífera alcançada depois do fim do monopólio estatal, a resposta seria não. Há, contudo, pontos duvidosos. A lei vigente permite aumentar a taxação de várias formas e mesmo elevar o limite de 40% na chamada “participação especial”, que se aplica aos campos com grande volume de óleo e alta rentabilidade. Diante do volume dos novos campos, isso talvez seja insuficiente. Se o for, há pelo menos dois caminhos: aumentar por decreto presidencial esse limite específico ou mudar a regra, transformando em regime de partilha o regime de concessão de exploração (no qual a empresa concessionária, a Petrobras ou outra qualquer, arca com os investimentos, paga as taxas e impostos e fica com os lucros). Na partilha, comprovada a descoberta e feita a extração, a União indeniza os custos às empresas, retém o petróleo e faz com seus lucros o que melhor lhe aprouver.

E há ainda a possibilidade de um sistema misto, mantendo-se o sistema atual para os contratos vigentes e para as reservas fora do pré-sal e instituindo o novo para as reservas dentro do pré-sal. Complicador adicional: mantido o sistema de concessões no pré-sal, haverá a possibilidade de que as empresas “suguem” petróleo além do existente nas reservas concedidas, se houver petróleo em áreas contíguas de posse da União ou já concedido a outras empresas. Será necessário, portanto, que a ANP defina uma regra para resolver o caso, conforme prevê a lei atual.

Mesmo que se admita a necessidade de revisões legais (por exemplo, para redefinir o percentual de participação dos municípios) e que se tome em consideração a eventualidade de um regime de partilha, não seria função da ANP contratar (sempre em regime de licitação pública, espero) as empresas que fariam a exploração? E não é possível que os resultados financeiros fiquem à disposição de uma conta no Tesouro Nacional — um fundo soberano — que cuidará de evitar fluxo de recursos na economia que valorize o real ainda mais e provoque dificuldades para a continuidade da industrialização? Por que então sonhar com um pesadelo, uma estatal inútil? A não ser que se pense na partilha política dela e nos cabides de emprego que possa criar.

Há outras idéias arriscadas no ar. Por exemplo: vender as reservas ao mercado financeiro por antecipação (fazer a chamada “securitização”) e gastar o que ainda não se materializou, o que equivaleria a endividar o futuro do país. A verdadeira solução norueguesa não se resumiu a uma estatal não operativa, mas essencialmente em criar um mecanismo para colocar no exterior os resultados financeiros da exploração do petróleo, limitar os gastos aos rendimentos obtidos e, ao mesmo tempo, incentivar a indústria local de equipamentos e derivados petrolíferos.

Não há dúvidas, portanto, de que o pré-sal abre excelentes oportunidades para o futuro do país. Pode mesmo ser necessário algum ajuste no marco legal. É louvável a preocupação com o destino da renda futura, que se bem aplicada (na educação e na expansão da industrialização, por exemplo) equivalerá à nova “emancipação nacional”, reduzindo o desemprego, a ignorância e a pobreza. Mas tudo terá de ser feito às claras, sem clima eleitoreiro, sem mais clientelismo e falso nacionalismo, que confundem os interesses da nação com os da burocracia estatal ou de partidos. O Brasil merece respeito, convém lembrar no dia de hoje.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
http://www.pps.org.br/sistema_clipping/mostra_opiniao.asp?id=1079&portal=

Acabaram-se as certezas


Clóvis Rossi
DEU NA FOLHA DE S. PAULO


SÃO PAULO - Era uma vez o tempo em que um certo grupo de economistas tinha tantas certezas absolutas e definitivas que passavam a impressão de que seriam capazes de dizer, sem pestanejar, quantos milímetros de chuva cairiam no dia 29 de abril de 2011. Pior: os jornalistas acreditávamos neles. A crise financeira iniciada em agosto do ano passado teve ao menos essa formidável qualidade: os economistas já não têm certezas, só dúvidas (e, os jornalistas, idem, idem, salvo um outro que acha que fala com Deus todos os dias). Ah, minto, ainda há uma categoria de economistas, os profetas do apocalipse, que continuam tendo certezas. Dia após dia, prevêem uma catástrofe na primeira curva da esquina. Um dia, acertam e reafirmam-se em suas certezas.

Tome-se, para citar só um dos muitos termos que os economistas inventam para embasbacar platéias, o "decoupling" (descasamento entre os ricos, em crise, e os emergentes, bombando).

Houve momentos de certeza do "decoupling" e, agora, o noticiário está salpicado, aqui e ali, de certeza de "coupling". Na vida real, só houve "casamento" nas Bolsas: nos ricos, como nos emergentes, caíram estrepitosamente. Assim mesmo, a coisa não é linear: se se tomar agosto de 2007 como início da crise, a Bolsa brasileira ainda navegava em águas positivas até agosto de 2008, ao contrário de todas as demais, no mundo rico ou emergente. Só nas últimas semanas é que entrou no vermelho.

A nova moda é falar de "desalavancamento" (pagar dívidas). O "Financial Times" vê até o "grande desalavancamento", que "continua sem pausa globalmente". Significa que não haverá dinheiro disponível na praça, certo? Errado, se a praça for o Brasil, onde o crédito continua se expandindo.

Não dá para entender? Não se preocupe, a era das certezas acabou ou está hibernando.

Recife de luto com morte de Pelópidas


Diego Mendes
DEU NA FOLHA DE PERNAMBUCO

Ex-prefeito da Capital morreu aos 93 anos na madrugada deste sábado

A política pernambucana amanheceu de luto. Ontem morreu, aos 93 anos, o engenheiro e ex-prefeito do Recife Pelópidas Silveira, que estava internado, desde o último dia 15 de agosto, no Hospital Memorial São José (HMSJ), no bairro do Derby. De acordo com a assessoria de imprensa do HMSJ, o político deu entrada na unidade hospitalar para realizar uma cirurgia de obstrução intestinal, mas acabou permanecendo até as 5h50 de ontem, quando sofreu falência múltipla dos órgãos. O corpo do ex-chefe do poder executivo da capital de Pernambuco foi levado para o Cemitério Modara da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde foi velado das 9h50 até às 16h, quando foi realizado o sepultamento. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vai decretar luto oficial no Estado de três dias.

De acordo com o genro de Pelópidas Silveira, José Áureo Bradley, a morte do ex-prefeito deixou toda a família entristecida, pois ele era um homem forte e feliz. “Não existem palavras para descrever a dor que todos nós estamos sentindo neste momento. Acreditávamos que ele sairia dessa situação, que começou com um problema no intestino e evoluiu para uma infecção. Infelizmente, não podemos evitar, é o destino”, disse muito emocionado, após amparar a esposa, que preferiu não falar com a imprensa.

Pelópidas Silveira Nasceu no Recife, em 15 de abril de 1915. Formou-se na Escola de Engenharia de Pernambuco, iniciando sua formação técnica, ainda estudante. Trabalhou como assistente, no Porto do Recife, e na construção de estradas no Interior do Estado. Foi professor das Escolas de Engenharia e de Arquitetura, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); participou da criação do Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco (ITEP).

No governo do interventor José Domingues, foi prefeito nomeado do Recife, de fevereiro a agosto de 1946, permanecendo no cargo até agosto do mesmo ano. Candidato ao governo estadual pela Esquerda Democrática (depois, Partido Socialista Brasileiro), com apoio do PCB, foi derrotado em janeiro de 1947 por Barbosa Lima Sobrinho (PSD). Apesar disso, venceu na capital e cidades vizinhas com um total de 58 mil votos (contra 91,9 mil do candidato do PSD, e 91,4 mil de Neto Campelo, da UDN.

Na década de 50, continuou ligado à atividade política, participando da campanha O Petróleo é nosso. Em 1955, na primeira eleição popular para a prefeitura da capital, foi lançando candidato a prefeito pela Frente do Recife, coligação que reunia seu partido (o PSB), o PTB e o PTN, com apoio dos comunistas (então na clandestinidade). Foi eleito com 81 mil votos (dois terços do eleitorado) contra Antônio Alves Pereira, candidato conservador do PRT, que recebeu 23 mil votos (19%).

Durante seu governo, priorizou as obras viárias, a instalação do bonde elétrico e a higienização das feiras públicas. Também abriu as Audiências Públicas e estimulou a formação de associações de bairros. Em 1958, antes da conclusão do seu mandato, foi candidato a vice-governador na chapa de Cid Sampaio, lançado pela coalizão UDN/PSB/PTB/PSP/PTN. Mas a vitória de Cid Sampaio criou um problema na prefeitura do Recife, porque Pelópidas recusou-se a deixar o cargo de prefeito para assumir o de vice-governador, o que daria posse ao seu substituto e adversário, Vieira de Menezes. Após um longo processo judicial, Pelópidas deixou a prefeitura somente em dezembro de 1959, mas somente após assegurar a eleição de seu sucessor, Miguel Arraes.

Em 1962, candidatou-se a deputado federal pelo PSB, mas conquistou apenas a suplência. No ano seguinte, foi chamado pelo governador Miguel Arraes para ocupar a secretaria de Viação. Ainda em 1963, foi lançado novamente como candidato à prefeitura de Recife, pela aliança PSB/PTB, obtendo uma nova vitória eleitoral. No entanto, não permaneceu até o fim do mandato porque, como aliado do governador Arraes, foi preso em 2 de abril de 1964 (em função do golpe militar de 1964) e seu mandato foi cassado pela câmara de vereadores de Recife. Seria libertado somente em dezembro do mesmo ano, mas no ano seguinte foi aposentado compulsoriamente da UFPE.

Em 1965, foi aposentado pelo regime, juntamente com outros professores, da UFPE. Filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Beneficiado pela Lei da Anistia, em 1980, foi reintegrado à Universidade. Em 2002, foi um dos agraciados com o título de “Expoente de Pernambuco”, pela Assembléia Legislativa de Pernambuco.

Depoimentos

"A perda de Pelópidas empobrece Pernambuco e o Brasil. Foi nos últimos 50 anos uma das maiores referências políticas da luta do povo. Ao lado do meu avô Miguel Arraes, ele fundou a Frente do Recife, movimento que até hoje coloca sua marca de coerência e de compromisso com as aspirações populares, com a luta dos menos favorecidos e com um Brasil que se firma independente . Não era só um lider que se afirmava com suavidade e coerência, era alguém que tinha o pensamento estruturado e que ajudava a estruturar as idéias de muitos companheiros. Extremamente próximo a mim, sofro muito a sua perda."

Eduardo Campos, Governador do Estado

"Foi uma das maiores perdas para o Estado de Pernambuco e, particularmente, a sua capital. Pelópidas iniciou um dos grandes eixos da nossa gestão, que é a inclusão social com participação popular. Executou várias obras para melhorar a qualidade da vida da população pernambucana. Pelópidas Silveira era um gestor competente, digno, ético, de luta e de esquerda. É um símbolo da luta do povo brasileiro. O que mais encantava nele é que nunca abriu mão das suas convicções políticas e ideológicas."
João Paulo (PT), Prefeito do Recife

"Para a gente é um profundo pesar o falecimento de Pelópidas Silveira. Ele foi o primeiro prefeito do Recife eleito pelo voto direto. Criou políticas de participação popular, em uma gestão democrática. Cuidou da cidade e cuidou das pessoas. Foi um marco, uma referência para nós. Depois de muito tempo, quere-mos dar continuidade ao seu projeto de uma cidade mais humana e solidária. Ele deixa um exemplo para todo cidadão que quer construir uma cidade mais justa e entra para História com grande pesar. E nós quisemos, eu e Milton Coelho, com o nome de nossa coligação, fazer uma homenagem. Vemos seu falecimento com muita tristeza."

João da Costa (PT), candidato a prefeito da Frente do Recife

"A morte dele deixa uma lacuna na política não apenas de Pernambuco, mas de todo o País. Por mais de 60 anos, foi uma referência para todos que administraram o Recife após sua passagem pela prefeitura. Pelópidas influenciou gerações de políticos e de gestores públicos por sua ética, competência administrativa e coerência. Por isso conquistou o respeito e admiração até dos seus adversários. Ele foi um prefeito ousado, com uma imensa visão do futuro. Mostrou que era possível gerir uma cidade complexa como o Recife, tendo compromissos com os mais pobres, mas sem deixar de lado a infra-estrutura municipal. Durante o período militar, Pelópidas exerceu um papel importante e isso se estendeu após a volta da democracia. Essa influência se manteve intacta, mesmo sem ele voltar a ocupar um mandato ou cargo público novamente."

Jarbas Vasconcelos (PMDB), Senador

"Pelópidas representava o que havia de melhor na política de Pernambuco. Homem de convicções firmes e extremamente generoso, Pelópidas era um administrador público dos mais competentes e quase unanimidade entre os pernambucanos. Espero que sua memória vá servir de inspiração para novas gerações de políticos do nosso Estado."

Sérgio Guerra (PSDB), Senador

"Pelópidas foi uma das figuras mais importantes do Estado, um homem muito firme nas suas convicções políticas, mas que nunca permitiu que isso resvalasse para o terreno pessoal. Era generoso e considerado a única unanimidade que Pernambuco teve até hoje. Era amigo pessoal, que freqüentava a minha casa e eu a dele. Bem-humorado e de bem com a vida."

Raul Henry (PMDB), candidato a prefeito