Diego Mendes
DEU NA FOLHA DE PERNAMBUCO
Ex-prefeito da Capital morreu aos 93 anos na madrugada deste sábado
A política pernambucana amanheceu de luto. Ontem morreu, aos 93 anos, o engenheiro e ex-prefeito do Recife Pelópidas Silveira, que estava internado, desde o último dia 15 de agosto, no Hospital Memorial São José (HMSJ), no bairro do Derby. De acordo com a assessoria de imprensa do HMSJ, o político deu entrada na unidade hospitalar para realizar uma cirurgia de obstrução intestinal, mas acabou permanecendo até as 5h50 de ontem, quando sofreu falência múltipla dos órgãos. O corpo do ex-chefe do poder executivo da capital de Pernambuco foi levado para o Cemitério Modara da Paz, em Paulista, na Região Metropolitana do Recife (RMR), onde foi velado das 9h50 até às 16h, quando foi realizado o sepultamento. O governador de Pernambuco, Eduardo Campos, vai decretar luto oficial no Estado de três dias.
De acordo com o genro de Pelópidas Silveira, José Áureo Bradley, a morte do ex-prefeito deixou toda a família entristecida, pois ele era um homem forte e feliz. “Não existem palavras para descrever a dor que todos nós estamos sentindo neste momento. Acreditávamos que ele sairia dessa situação, que começou com um problema no intestino e evoluiu para uma infecção. Infelizmente, não podemos evitar, é o destino”, disse muito emocionado, após amparar a esposa, que preferiu não falar com a imprensa.
Pelópidas Silveira Nasceu no Recife, em 15 de abril de 1915. Formou-se na Escola de Engenharia de Pernambuco, iniciando sua formação técnica, ainda estudante. Trabalhou como assistente, no Porto do Recife, e na construção de estradas no Interior do Estado. Foi professor das Escolas de Engenharia e de Arquitetura, na Universidade Federal de Pernambuco (UFPE); participou da criação do Instituto Tecnológico do Estado de Pernambuco (ITEP).
No governo do interventor José Domingues, foi prefeito nomeado do Recife, de fevereiro a agosto de 1946, permanecendo no cargo até agosto do mesmo ano. Candidato ao governo estadual pela Esquerda Democrática (depois, Partido Socialista Brasileiro), com apoio do PCB, foi derrotado em janeiro de 1947 por Barbosa Lima Sobrinho (PSD). Apesar disso, venceu na capital e cidades vizinhas com um total de 58 mil votos (contra 91,9 mil do candidato do PSD, e 91,4 mil de Neto Campelo, da UDN.
Na década de 50, continuou ligado à atividade política, participando da campanha O Petróleo é nosso. Em 1955, na primeira eleição popular para a prefeitura da capital, foi lançando candidato a prefeito pela Frente do Recife, coligação que reunia seu partido (o PSB), o PTB e o PTN, com apoio dos comunistas (então na clandestinidade). Foi eleito com 81 mil votos (dois terços do eleitorado) contra Antônio Alves Pereira, candidato conservador do PRT, que recebeu 23 mil votos (19%).
Durante seu governo, priorizou as obras viárias, a instalação do bonde elétrico e a higienização das feiras públicas. Também abriu as Audiências Públicas e estimulou a formação de associações de bairros. Em 1958, antes da conclusão do seu mandato, foi candidato a vice-governador na chapa de Cid Sampaio, lançado pela coalizão UDN/PSB/PTB/PSP/PTN. Mas a vitória de Cid Sampaio criou um problema na prefeitura do Recife, porque Pelópidas recusou-se a deixar o cargo de prefeito para assumir o de vice-governador, o que daria posse ao seu substituto e adversário, Vieira de Menezes. Após um longo processo judicial, Pelópidas deixou a prefeitura somente em dezembro de 1959, mas somente após assegurar a eleição de seu sucessor, Miguel Arraes.
Em 1962, candidatou-se a deputado federal pelo PSB, mas conquistou apenas a suplência. No ano seguinte, foi chamado pelo governador Miguel Arraes para ocupar a secretaria de Viação. Ainda em 1963, foi lançado novamente como candidato à prefeitura de Recife, pela aliança PSB/PTB, obtendo uma nova vitória eleitoral. No entanto, não permaneceu até o fim do mandato porque, como aliado do governador Arraes, foi preso em 2 de abril de 1964 (em função do golpe militar de 1964) e seu mandato foi cassado pela câmara de vereadores de Recife. Seria libertado somente em dezembro do mesmo ano, mas no ano seguinte foi aposentado compulsoriamente da UFPE.
Em 1965, foi aposentado pelo regime, juntamente com outros professores, da UFPE. Filiou-se ao Partido do Movimento Democrático Brasileiro (PMDB). Beneficiado pela Lei da Anistia, em 1980, foi reintegrado à Universidade. Em 2002, foi um dos agraciados com o título de “Expoente de Pernambuco”, pela Assembléia Legislativa de Pernambuco.
Depoimentos
"A perda de Pelópidas empobrece Pernambuco e o Brasil. Foi nos últimos 50 anos uma das maiores referências políticas da luta do povo. Ao lado do meu avô Miguel Arraes, ele fundou a Frente do Recife, movimento que até hoje coloca sua marca de coerência e de compromisso com as aspirações populares, com a luta dos menos favorecidos e com um Brasil que se firma independente . Não era só um lider que se afirmava com suavidade e coerência, era alguém que tinha o pensamento estruturado e que ajudava a estruturar as idéias de muitos companheiros. Extremamente próximo a mim, sofro muito a sua perda."
Eduardo Campos, Governador do Estado
"Foi uma das maiores perdas para o Estado de Pernambuco e, particularmente, a sua capital. Pelópidas iniciou um dos grandes eixos da nossa gestão, que é a inclusão social com participação popular. Executou várias obras para melhorar a qualidade da vida da população pernambucana. Pelópidas Silveira era um gestor competente, digno, ético, de luta e de esquerda. É um símbolo da luta do povo brasileiro. O que mais encantava nele é que nunca abriu mão das suas convicções políticas e ideológicas."
João Paulo (PT), Prefeito do Recife
"Para a gente é um profundo pesar o falecimento de Pelópidas Silveira. Ele foi o primeiro prefeito do Recife eleito pelo voto direto. Criou políticas de participação popular, em uma gestão democrática. Cuidou da cidade e cuidou das pessoas. Foi um marco, uma referência para nós. Depois de muito tempo, quere-mos dar continuidade ao seu projeto de uma cidade mais humana e solidária. Ele deixa um exemplo para todo cidadão que quer construir uma cidade mais justa e entra para História com grande pesar. E nós quisemos, eu e Milton Coelho, com o nome de nossa coligação, fazer uma homenagem. Vemos seu falecimento com muita tristeza."
João da Costa (PT), candidato a prefeito da Frente do Recife
"A morte dele deixa uma lacuna na política não apenas de Pernambuco, mas de todo o País. Por mais de 60 anos, foi uma referência para todos que administraram o Recife após sua passagem pela prefeitura. Pelópidas influenciou gerações de políticos e de gestores públicos por sua ética, competência administrativa e coerência. Por isso conquistou o respeito e admiração até dos seus adversários. Ele foi um prefeito ousado, com uma imensa visão do futuro. Mostrou que era possível gerir uma cidade complexa como o Recife, tendo compromissos com os mais pobres, mas sem deixar de lado a infra-estrutura municipal. Durante o período militar, Pelópidas exerceu um papel importante e isso se estendeu após a volta da democracia. Essa influência se manteve intacta, mesmo sem ele voltar a ocupar um mandato ou cargo público novamente."
Jarbas Vasconcelos (PMDB), Senador
"Pelópidas representava o que havia de melhor na política de Pernambuco. Homem de convicções firmes e extremamente generoso, Pelópidas era um administrador público dos mais competentes e quase unanimidade entre os pernambucanos. Espero que sua memória vá servir de inspiração para novas gerações de políticos do nosso Estado."
Sérgio Guerra (PSDB), Senador
"Pelópidas foi uma das figuras mais importantes do Estado, um homem muito firme nas suas convicções políticas, mas que nunca permitiu que isso resvalasse para o terreno pessoal. Era generoso e considerado a única unanimidade que Pernambuco teve até hoje. Era amigo pessoal, que freqüentava a minha casa e eu a dele. Bem-humorado e de bem com a vida."
Raul Henry (PMDB), candidato a prefeito