Por falta de apoio político e sustentação
militar, a conspiração resultou em mais uma tentativa frustrada no histórico
golpista de Bolsonaro, obrigado, mais uma vez, a desfazer a sedição que
inspirou, solicitando aos caminhoneiros de sua grei o abandono das estradas e o
retorno às suas rotinas, vários deles ao alcance dos rigores da lei. A derrota
dessa descabelada incursão antidemocrática tem o condão de alertar para os
riscos que a nossa democracia terá pela frente em sua imposição – as sementes
perversas do autoritarismo adubadas em quatro anos pela pregação fascitizante
encontraram terreno para frutificarem, como se viu no processo eleitoral e
agora nessa rebelião.
O horizonte que se revela para o governo Lula-Alkmin, diante dessa cultura antidemocrática que germinou entre nós, reclama por ações ainda mais inventivas e audaciosas do que as mobilizadas na vitoriosa disputa eleitoral. Nesse objetivo, o raio de ação da frente política a dar sustentação ao governo deve sondar, sem qualquer limitação, todas as possibilidades de expandir seu âmbito no sentido de incorporar todo aquele que recuse o fascismo como ideologia política. Nesse sentido, o agrupamento político conhecido como o Centrão e demais forças representativas do conservadorismo brasileiro, inclusive as que na disputa eleitoral se alinharam à candidatura Bolsonaro, devem ser objeto de interpelações em pautas específicas por parte do governo democrático.