“Convém ter em conta que a ascensão do PT ao poder deve muito à tolerância sem cautela do PSDB e outros partidos de oposição, que em nenhum momento acharam que deveriam abrir um amplo debate público e crítico sobre o autoritarismo popular de que o PT se faria mediação e porta-voz, fundamento conservador da concepção petista de poder.”
José de Souza Martins, professor emérito da Faculdade de Filosofia da USP. Entre outros livros, autor de A Sociabilidade do Homem Simples (Contexto), no artigo “Em defesa do Estado cabide” em O Estado de S. Paulo/Alias, domingo, 31/1.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quinta-feira, 4 de fevereiro de 2010
Reflexão do dia – José de Souza Martins
Merval Pereira:: Brasil nuclear
DEU EM O GLOBO
O fato de o chanceler Celso Amorim ter oferecido a uma plateia internacional reunida em Paris o exemplo da colaboração entre Argentina e Brasil nos anos 80 e 90 como maneira de estimular o desarmamento nuclear tem importância política dupla.
Primeiro, porque há setores dentro do governo que avaliam como um erro a política que nasceu dessa parceria, que desaguou na assinatura pelo Brasil do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1997, no primeiro governo de Fernando Henrique
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, há até pouco tempo o segundo homem do Itamaraty, e hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, considera que o Brasil usou o pretexto de uma aliança estratégica com a Argentina para aderir a todas as iniciativas americanas, especialmente na área militar.
Já na campanha presidencial de 2002, Lula provocou grande polêmica quando criticou a adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, e teve que voltar atrás.
O tratado vigora desde 1970, veta pesquisas para a produção de bombas atômicas, e foi assinado por 187 dos 190 países da ONU, mas ratificado por menos da metade.
Mais relevante ainda, a posição do chanceler brasileiro mostra que o Brasil, às vésperas da revisão do TNP, em maio, reforça sua posição a favor da utilização pacífica da energia nuclear.
Essa postura também o compromete, na intermediação com o Irã, a encaminhar as conversações no sentido de incluir seu programa sob observação e supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O Irã foi um dos primeiros a assinar o tratado, ao tempo do governo do xá Reza Pahlevi, mas, a partir da Revolução Islâmica, em 1979, passou a descumprilo e a ser alvo de pressões internacionais.
O chanceler Celso Amorim teve um encontro na semana passada, durante o Fórum Econômico Mundial, com o ministro das Relações Exteriores do Irã, no mesmo dia em que o governo de Mahmoud Ahmadinejad fuzilava dois oposicionistas que participaram dos protestos contra sua eleição, protestos que o presidente Lula minimizou na ocasião, comparando a uma briga entre torcedores de times diferentes.
O governo brasileiro insiste em que está conversando com o Irã para tentar uma saída negociada, mas o apoio ao governo de Ahmadinejad retira do Irã o peso do isolamento.
A disposição do Irã, anunciada ontem, de aceitar enriquecer seu urânio fora do país, como propôs a AIEA, pode ser um primeiro passo para um acordo.
Ressaltar o desarmamento neste momento é importante, porque ele é um dos sustentáculos do TNP, e foi superado na prática por programas nucleares de Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte.
Recentemente, o presidente Lula disse que os Estados Unidos e a Rússia só teriam moral para pedir que o Irã abdicasse de seu programa nuclear se também se desarmassem.
Com o fim da Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia abriram negociação para a redução do arsenal nuclear e, há dez anos, na Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), houve acordo sobre medidas de desarmamento nuclear pelas potências atômicas.
Os ataques terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 fizeram com que o assunto sofresse um retrocesso. O presidente Barack Obama retomou o tema no início de seu governo, defendendo um mundo sem armas nucleares.
Na reunião em Paris da Global Zero, ONG que defende a eliminação progressiva e controlada dos arsenais nucleares, Amorim disse que a decisão de Brasil e Argentina criarem agências nucleares bilaterais que trabalhavam com a AIEA pode “servir de inspiração para outros países”.
O Brasil sempre foi a favor do desarmamento nuclear, e incluímos na Constituição de 1988 que o país não terá armas nucleares. Mas, como um dos poucos países do mundo a controlar o ciclo completo do combustível nuclear, o país não está disposto a assinar cláusulas adicionais ao TNP, como querem os Estados Unidos.
Poucos países dominam a técnica de enriquecer urânio: EUA, Rússia, China, França, Alemanha, Holanda e Inglaterra, além do Brasil.
A proposta de um banco internacional de urânio enriquecido, que seria utilizado por países com problemas tão distintos quanto o Irã e Brasil, não é aceita pelo governo brasileiro, que considera que todos os compromissos internacionais já foram assumidos.
Já tivemos problemas com a Agência Internacional de Energia Atômica, que, anos atrás, já no governo Lula, quis impor novas regras para a inspeção em Resende, uma fábrica semi-industrial que em alguns anos, deve produzir o urânio necessário para o funcionamento das usinas de Angra.
O plano, já anunciado, de construir mais oito usinas nucleares vai aumentar a necessidade de produção de urânio enriquecido.
As instalações de Aramar hoje estão sob salvaguarda da AIEA, e as de Resende estão sendo negociadas.
Lá se utiliza uma centrífuga especial para enriquecimento de urânio, que o governo brasileiro protege por ser uma técnica pioneira.
A inspeção internacional é feita através de amostragem do urânio que entra na fábrica e sai, sem que os inspetores possam ver a centrífuga.
O Brasil tema sexta maior reserva de urânio do mundo, e quer participar do mercado internacional de urânio enriquecido, que é muito rentável.
E incluiu recentemente no Plano Nacional de Defesa a decisão de dominar o conhecimento e a tecnologia nucleares, como parte de seu programa de desenvolvimento estratégico
O fato de o chanceler Celso Amorim ter oferecido a uma plateia internacional reunida em Paris o exemplo da colaboração entre Argentina e Brasil nos anos 80 e 90 como maneira de estimular o desarmamento nuclear tem importância política dupla.
Primeiro, porque há setores dentro do governo que avaliam como um erro a política que nasceu dessa parceria, que desaguou na assinatura pelo Brasil do Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares (TNP), em 1997, no primeiro governo de Fernando Henrique
O embaixador Samuel Pinheiro Guimarães, há até pouco tempo o segundo homem do Itamaraty, e hoje ministro da Secretaria de Assuntos Estratégicos, considera que o Brasil usou o pretexto de uma aliança estratégica com a Argentina para aderir a todas as iniciativas americanas, especialmente na área militar.
Já na campanha presidencial de 2002, Lula provocou grande polêmica quando criticou a adesão do Brasil ao Tratado de Não Proliferação de Armas Nucleares, e teve que voltar atrás.
O tratado vigora desde 1970, veta pesquisas para a produção de bombas atômicas, e foi assinado por 187 dos 190 países da ONU, mas ratificado por menos da metade.
Mais relevante ainda, a posição do chanceler brasileiro mostra que o Brasil, às vésperas da revisão do TNP, em maio, reforça sua posição a favor da utilização pacífica da energia nuclear.
Essa postura também o compromete, na intermediação com o Irã, a encaminhar as conversações no sentido de incluir seu programa sob observação e supervisão da Agência Internacional de Energia Atômica (AIEA).
O Irã foi um dos primeiros a assinar o tratado, ao tempo do governo do xá Reza Pahlevi, mas, a partir da Revolução Islâmica, em 1979, passou a descumprilo e a ser alvo de pressões internacionais.
O chanceler Celso Amorim teve um encontro na semana passada, durante o Fórum Econômico Mundial, com o ministro das Relações Exteriores do Irã, no mesmo dia em que o governo de Mahmoud Ahmadinejad fuzilava dois oposicionistas que participaram dos protestos contra sua eleição, protestos que o presidente Lula minimizou na ocasião, comparando a uma briga entre torcedores de times diferentes.
O governo brasileiro insiste em que está conversando com o Irã para tentar uma saída negociada, mas o apoio ao governo de Ahmadinejad retira do Irã o peso do isolamento.
A disposição do Irã, anunciada ontem, de aceitar enriquecer seu urânio fora do país, como propôs a AIEA, pode ser um primeiro passo para um acordo.
Ressaltar o desarmamento neste momento é importante, porque ele é um dos sustentáculos do TNP, e foi superado na prática por programas nucleares de Israel, Índia, Paquistão e Coreia do Norte.
Recentemente, o presidente Lula disse que os Estados Unidos e a Rússia só teriam moral para pedir que o Irã abdicasse de seu programa nuclear se também se desarmassem.
Com o fim da Guerra Fria, Estados Unidos e Rússia abriram negociação para a redução do arsenal nuclear e, há dez anos, na Conferência de Revisão do Tratado de Não Proliferação Nuclear (TNP), houve acordo sobre medidas de desarmamento nuclear pelas potências atômicas.
Os ataques terroristas aos Estados Unidos em 11 de setembro de 2001 fizeram com que o assunto sofresse um retrocesso. O presidente Barack Obama retomou o tema no início de seu governo, defendendo um mundo sem armas nucleares.
Na reunião em Paris da Global Zero, ONG que defende a eliminação progressiva e controlada dos arsenais nucleares, Amorim disse que a decisão de Brasil e Argentina criarem agências nucleares bilaterais que trabalhavam com a AIEA pode “servir de inspiração para outros países”.
O Brasil sempre foi a favor do desarmamento nuclear, e incluímos na Constituição de 1988 que o país não terá armas nucleares. Mas, como um dos poucos países do mundo a controlar o ciclo completo do combustível nuclear, o país não está disposto a assinar cláusulas adicionais ao TNP, como querem os Estados Unidos.
Poucos países dominam a técnica de enriquecer urânio: EUA, Rússia, China, França, Alemanha, Holanda e Inglaterra, além do Brasil.
A proposta de um banco internacional de urânio enriquecido, que seria utilizado por países com problemas tão distintos quanto o Irã e Brasil, não é aceita pelo governo brasileiro, que considera que todos os compromissos internacionais já foram assumidos.
Já tivemos problemas com a Agência Internacional de Energia Atômica, que, anos atrás, já no governo Lula, quis impor novas regras para a inspeção em Resende, uma fábrica semi-industrial que em alguns anos, deve produzir o urânio necessário para o funcionamento das usinas de Angra.
O plano, já anunciado, de construir mais oito usinas nucleares vai aumentar a necessidade de produção de urânio enriquecido.
As instalações de Aramar hoje estão sob salvaguarda da AIEA, e as de Resende estão sendo negociadas.
Lá se utiliza uma centrífuga especial para enriquecimento de urânio, que o governo brasileiro protege por ser uma técnica pioneira.
A inspeção internacional é feita através de amostragem do urânio que entra na fábrica e sai, sem que os inspetores possam ver a centrífuga.
O Brasil tema sexta maior reserva de urânio do mundo, e quer participar do mercado internacional de urânio enriquecido, que é muito rentável.
E incluiu recentemente no Plano Nacional de Defesa a decisão de dominar o conhecimento e a tecnologia nucleares, como parte de seu programa de desenvolvimento estratégico
Janio de Freitas:: A conveniência como problema
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
É um jogo difícil: não amarrar o PMDB pode ser problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante
A questão do vice de Dilma Rousseff está engasgada por um obstáculo no qual nenhum dos que o conhecem pode falar. Embora, no fundamental, não seja ignorado por ninguém.A interpretação mais difundida localiza a origem do problema na discordância entre a indicação mais natural do PMDB, que é o seu presidente Michel Temer, e a não declarada, mas insinuada preferência de Lula por algum outro peemedebista. De qualquer modo, então, seria um peemedebista, pela obviedade da contribuição esperada por Lula, para a pretendida eleição de Dilma, da engrenagem eleitoral peemedebista e do tempo de propaganda gratuita do PMDB.
A esses dois componentes da posição de Lula é atribuída sua ideia, não formalizada ao partido, mas reiterada de público algumas vezes, de que o PMDB deveria apresentar uma lista de três indicações para vice. Reiterações às quais se segue a conversa barata do "não sou eu que vou escolher, é a candidata", ou "é o PT", e outras lulices. O importante, nessas circunstâncias, é que o PMDB nem pode pensar em uma alternativa ao banho-maria em que Lula o mantém, supondo-se que possa ter alguma, nem pode impor-se com sua indicação.
Apenas vagueia, há tempos, entre o constrangimento e a desconfiança.
A imensa conveniência eleitoral de que o PMDB é portador projetaria, quaisquer que fossem as peculiaridades da disputa sucessória, contrapartida custosa para o candidato de Lula e para o PT, se vitoriosos. Seria o chamado preço da vitória. Na atual disputa há, porém, um componente que eleva a contrapartida a um risco talvez maior do que a conveniência da aliança para a vitória menos duvidosa.
Tanto se soube que Dilma Rousseff estava doente como se sabe que foi curada. Não é provável que sofra uma recidiva, mas é possível, o que a deixa ainda por três a quatro anos sob vigilância constante. Se eleita, no caso improvável, mas possível de uma recidiva, não é desprezível a hipótese de uma passagem da Presidência ao vice.
Tal ocorrência significaria, por efeito de uma chapa PT-PMDB, o governo nas mãos dos peemedebistas. Ou seja, o fim da continuidade imediata do atual governo, com tudo o que esse propósito tem exigido de Lula, e da continuidade subsequente do lulismo em 2014, muitos acreditam que como projeto do e com o próprio Lula.
É um jogo difícil. Não amarrar o PMDB pode representar problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante. Jogo a ser jogado com luvas de veludo, e só com aliados de confiança extrema, como, entre pouquíssimos, Ciro Gomes. Porque nem a menor pista sobre a natureza da situação pode transparecer. Ou lançaria sobre a candidatura de Dilma Rousseff inseguranças muito perigosas.
É um jogo difícil: não amarrar o PMDB pode ser problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante
A questão do vice de Dilma Rousseff está engasgada por um obstáculo no qual nenhum dos que o conhecem pode falar. Embora, no fundamental, não seja ignorado por ninguém.A interpretação mais difundida localiza a origem do problema na discordância entre a indicação mais natural do PMDB, que é o seu presidente Michel Temer, e a não declarada, mas insinuada preferência de Lula por algum outro peemedebista. De qualquer modo, então, seria um peemedebista, pela obviedade da contribuição esperada por Lula, para a pretendida eleição de Dilma, da engrenagem eleitoral peemedebista e do tempo de propaganda gratuita do PMDB.
A esses dois componentes da posição de Lula é atribuída sua ideia, não formalizada ao partido, mas reiterada de público algumas vezes, de que o PMDB deveria apresentar uma lista de três indicações para vice. Reiterações às quais se segue a conversa barata do "não sou eu que vou escolher, é a candidata", ou "é o PT", e outras lulices. O importante, nessas circunstâncias, é que o PMDB nem pode pensar em uma alternativa ao banho-maria em que Lula o mantém, supondo-se que possa ter alguma, nem pode impor-se com sua indicação.
Apenas vagueia, há tempos, entre o constrangimento e a desconfiança.
A imensa conveniência eleitoral de que o PMDB é portador projetaria, quaisquer que fossem as peculiaridades da disputa sucessória, contrapartida custosa para o candidato de Lula e para o PT, se vitoriosos. Seria o chamado preço da vitória. Na atual disputa há, porém, um componente que eleva a contrapartida a um risco talvez maior do que a conveniência da aliança para a vitória menos duvidosa.
Tanto se soube que Dilma Rousseff estava doente como se sabe que foi curada. Não é provável que sofra uma recidiva, mas é possível, o que a deixa ainda por três a quatro anos sob vigilância constante. Se eleita, no caso improvável, mas possível de uma recidiva, não é desprezível a hipótese de uma passagem da Presidência ao vice.
Tal ocorrência significaria, por efeito de uma chapa PT-PMDB, o governo nas mãos dos peemedebistas. Ou seja, o fim da continuidade imediata do atual governo, com tudo o que esse propósito tem exigido de Lula, e da continuidade subsequente do lulismo em 2014, muitos acreditam que como projeto do e com o próprio Lula.
É um jogo difícil. Não amarrar o PMDB pode representar problema eleitoral excessivo; amarrá-lo pode resultar arruinante. Jogo a ser jogado com luvas de veludo, e só com aliados de confiança extrema, como, entre pouquíssimos, Ciro Gomes. Porque nem a menor pista sobre a natureza da situação pode transparecer. Ou lançaria sobre a candidatura de Dilma Rousseff inseguranças muito perigosas.
Jarbas rejeita convenção do PMDB
DEU NO JORNAL DO COMMERCIO (PE)
Opositor da ala governista da sigla, senador não concorda com a antecipação da reunião, que seria em março, e põe em dúvida o futuro da aliança com Dilma
Como membro do grupo histórico do PMDB e eterno opositor da ala governista do partido que quer reeleger o presidente nacional, o deputado federal Michel Temer (SP), para se manter na base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Jarbas Vasconcelos anunciou ontem que não vai comparecer à convenção nacional da agremiação, marcada para sábado (06), em Brasília. O ex-governador de Pernambuco discorda do alinhamento da sigla com o Palácio do Planalto e rechaça a possibilidade de Temer ou de outro peemedebista ocupar a vaga de vice-presidente na provável chapa encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Jarbas prefere apoiar a pré-candidatura do PSDB, projeto que está sendo reservado ao governador de São Paulo, José Serra.
“É um açodamento da cúpula do partido que quer ficar bem com o Palácio do Planalto. Poderíamos fazer (a convenção), mas com cautela”, opinou o ex-governador, à Agência O Globo, referindo-se à antecipação da reunião de março para o próximo sábado. Jarbas foi mais além e afirmou que a posição do PMDB governista é equivocada. “Uma coisa é fazer aliança com o presidente Lula, outra é fazer com a candidata Dilma Rousseff. Não sei até que ponto essa aliança vai caminhar bem”, frisou. O senador conversou com a imprensa, na manhã de ontem, após participar de uma reunião da Comissão de Justiça, em Brasília. Depois, preferiu silenciar para não provocar mais polêmicas.
A cúpula do PMDB em Pernambuco anuncia hoje se boicota ou não a convenção nacional do partido, seguindo a mesma posição de Jarbas. Os pernambucanos também não concordam com a recondução de Temer, já que ele é o único candidato. E nem com os projetos defendidos pelo parlamentar.
Os delegados do Estado preferiram aguardar o desfecho de uma negociação que está sendo coordenada pelo diretório de São Paulo, mais precisamente pelo ex-governador paulista Orestes Quércia, que pode resultar em uma ação judicial para suspender a convenção. Isso porque foi só no final do mês passado que os filiados souberam da antecipação. Essa manobra teria a intenção de dificultar o entendimento entre os que fazem oposição a Temer. Esse grupo sabe, contudo, que é difícil derrotar o grupo rival, uma vez que a maioria integra a ala governista.
APOIO
Os delegados de Pernambuco e São Paulo não estão sozinhos. Também participam desse movimento de oposição os representantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Acre. Dentro dele, no entanto, não há uma posição unificada em relação à eleição presidencial. Uma parte argumenta que o melhor caminho para a legenda é lançar candidato próprio. Outra que a opção mais adequada é apoiar José Serra.
Se o Estado decidir mandar os seus delegados, 24 pessoas têm direito a voto. Jarbas, se comparecesse, votaria quatro vezes (como delegado, ex-presidente nacional, ex-governador e senador). O deputado federal Raul Henry pode votar três vezes (como delegado, deputado federal e membro do diretório nacional). O deputado federal Edgar Moury Fernandes e o presidente estadual da agremiação, Dorany Sampaio, votam duas vezes (como delegados e membros do diretório nacional). Apesar de discordar dos encaminhamentos dados por Temer, o diretório de Pernambuco quer manter o espaço que conquistou no diretório nacional: quatro cadeiras.
Opositor da ala governista da sigla, senador não concorda com a antecipação da reunião, que seria em março, e põe em dúvida o futuro da aliança com Dilma
Como membro do grupo histórico do PMDB e eterno opositor da ala governista do partido que quer reeleger o presidente nacional, o deputado federal Michel Temer (SP), para se manter na base de sustentação do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, o senador Jarbas Vasconcelos anunciou ontem que não vai comparecer à convenção nacional da agremiação, marcada para sábado (06), em Brasília. O ex-governador de Pernambuco discorda do alinhamento da sigla com o Palácio do Planalto e rechaça a possibilidade de Temer ou de outro peemedebista ocupar a vaga de vice-presidente na provável chapa encabeçada pela ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT). Jarbas prefere apoiar a pré-candidatura do PSDB, projeto que está sendo reservado ao governador de São Paulo, José Serra.
“É um açodamento da cúpula do partido que quer ficar bem com o Palácio do Planalto. Poderíamos fazer (a convenção), mas com cautela”, opinou o ex-governador, à Agência O Globo, referindo-se à antecipação da reunião de março para o próximo sábado. Jarbas foi mais além e afirmou que a posição do PMDB governista é equivocada. “Uma coisa é fazer aliança com o presidente Lula, outra é fazer com a candidata Dilma Rousseff. Não sei até que ponto essa aliança vai caminhar bem”, frisou. O senador conversou com a imprensa, na manhã de ontem, após participar de uma reunião da Comissão de Justiça, em Brasília. Depois, preferiu silenciar para não provocar mais polêmicas.
A cúpula do PMDB em Pernambuco anuncia hoje se boicota ou não a convenção nacional do partido, seguindo a mesma posição de Jarbas. Os pernambucanos também não concordam com a recondução de Temer, já que ele é o único candidato. E nem com os projetos defendidos pelo parlamentar.
Os delegados do Estado preferiram aguardar o desfecho de uma negociação que está sendo coordenada pelo diretório de São Paulo, mais precisamente pelo ex-governador paulista Orestes Quércia, que pode resultar em uma ação judicial para suspender a convenção. Isso porque foi só no final do mês passado que os filiados souberam da antecipação. Essa manobra teria a intenção de dificultar o entendimento entre os que fazem oposição a Temer. Esse grupo sabe, contudo, que é difícil derrotar o grupo rival, uma vez que a maioria integra a ala governista.
APOIO
Os delegados de Pernambuco e São Paulo não estão sozinhos. Também participam desse movimento de oposição os representantes do Rio Grande do Sul, Santa Catarina, Paraná, Mato Grosso do Sul, Goiás e Acre. Dentro dele, no entanto, não há uma posição unificada em relação à eleição presidencial. Uma parte argumenta que o melhor caminho para a legenda é lançar candidato próprio. Outra que a opção mais adequada é apoiar José Serra.
Se o Estado decidir mandar os seus delegados, 24 pessoas têm direito a voto. Jarbas, se comparecesse, votaria quatro vezes (como delegado, ex-presidente nacional, ex-governador e senador). O deputado federal Raul Henry pode votar três vezes (como delegado, deputado federal e membro do diretório nacional). O deputado federal Edgar Moury Fernandes e o presidente estadual da agremiação, Dorany Sampaio, votam duas vezes (como delegados e membros do diretório nacional). Apesar de discordar dos encaminhamentos dados por Temer, o diretório de Pernambuco quer manter o espaço que conquistou no diretório nacional: quatro cadeiras.
Jarbas de Holanda::As implicações da definição do candidato do PMDB a vice
As incisivas reações do núcleo dirigente do PMDB às tentativas que vêm sendo feitas para a troca de Michel Temer por outro representante da legenda como candidato a vice de Dilma Rousseff – tentativas da cúpula do PT, reforçadas ou legitimadas por sinais emitidos pelo Palácio do Planalto e pelo próprio presidente Lula – essas reações têm sido, basicamente, associadas pela mídia ao pragmatismo fisiológico dos peemedebistas, sem avaliação das
implicações que a aliança entre o lulismo e o principal partido do país possa ter na qualidade dos resultados das disputas para os governos estaduais, as duas casas do Congresso e, sobretudo, a presidência da República.
A falta dessa avaliação é compreensível, ou justificável, de um lado, pelo comportamento da maioria do PMDB no atual Congresso, essencialmente de subordinação aos interesses do Planalto, e pelo fisiologismo prevalecente na presença do partido na máquina governamental. De outro lado, ela é devida à predominância de critérios também questionáveis na preparação e no encaminhamento do apoio à candidatura de Dilma Rousseff. E os escândalos éticos que envolveram lideranças peemedebistas afetaram fortemente a imagem delas na opinião pública, sobretudo as do Senado, tornando-as e ao partido mais dependentes
do respaldo de Lula e apequenando a importância da legenda na sustentação parlamentar do Executivo (a que este teve de recorrer após o desastre do mensalão). Num contexto de subordinação política configurado já na adesão ao governo sem que tivesse participado da campanha para a reeleição de Lula.
A decisão das duas alas que comandam o PMDB de marchar para o apoio à candidata situacionista busca combinar uma realidade interna – a vinculação com o Palácio do Planalto da maioria das lideranças regionais, potencializada pela alta popularidade do presidente – com a perspectiva do desempenho de papéis bem menos subordinados ou com razoável grau de autonomia, numa eventual administração de Dilma Rousseff. A partir de uma campanha
eleitoral em que o partido tenha peso significativo. E na qual assegure a conquista de vários governos estaduais, inclusive em disputa com o PT (na Bahia, no Pará, no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul); a preservação da maioria e do comando das duas casas do Congresso; e uma presença no governo maior que aquela que tem hoje e qualificada ou garantida por um vice-presidente de expressivo peso político e institucional. De fato, para só mencionar
um desses itens – o relativo ao Congresso -, tais maioria e comando bloqueariam a onda de propostas radicais e antidemocráticas que setores do PT e aliados esquerdistas
estão lançando com vistas ao próximo governo.
Ora, tal perspectiva tem muito pouco a ver com a visão de Lula e de sua candidata sobre o papel do PMDB numa gestão presidida por Dilma, e menos ainda com o projeto do estado-maior do PT de ampliar a influência na máquina federal e, a partir dela, no Congresso, em governos estaduais e municipais, na sociedade. E o empenho, dos três atores, para inviabilizá-la centra-se nas resistências à indicação de Michel Temer como candidato a vice,
mais agressiva em áreas petistas e cuidadosa, mas insistente, por parte de Lula e Dilma. Ao invés de um vice como Temer o que eles desejam é uma figura com as características de um José Alencar, cuja imagem de empresário foi muito útil na disputa da reeleição em 2006, e que está sempre de acordo com todas as decisões e posturas do presidente. O que é possível, e mais próximo disso, é a de um peemedebista que deva a escolha a Lula.
Por outro lado, os objetivos do pragmatismo centrista da cúpula do PMDB podem frustrar-se em grande medida ou por inteiro seja pela prevalência do veto a Michel Temer; seja por uma divisão significativa da federação peemedebista na disputa presidencial; seja pelo insucesso de campanhas estaduais relevantes; seja por uma vitória, nessa disputa, do competitivo candidato oposicionista José Serra.
implicações que a aliança entre o lulismo e o principal partido do país possa ter na qualidade dos resultados das disputas para os governos estaduais, as duas casas do Congresso e, sobretudo, a presidência da República.
A falta dessa avaliação é compreensível, ou justificável, de um lado, pelo comportamento da maioria do PMDB no atual Congresso, essencialmente de subordinação aos interesses do Planalto, e pelo fisiologismo prevalecente na presença do partido na máquina governamental. De outro lado, ela é devida à predominância de critérios também questionáveis na preparação e no encaminhamento do apoio à candidatura de Dilma Rousseff. E os escândalos éticos que envolveram lideranças peemedebistas afetaram fortemente a imagem delas na opinião pública, sobretudo as do Senado, tornando-as e ao partido mais dependentes
do respaldo de Lula e apequenando a importância da legenda na sustentação parlamentar do Executivo (a que este teve de recorrer após o desastre do mensalão). Num contexto de subordinação política configurado já na adesão ao governo sem que tivesse participado da campanha para a reeleição de Lula.
A decisão das duas alas que comandam o PMDB de marchar para o apoio à candidata situacionista busca combinar uma realidade interna – a vinculação com o Palácio do Planalto da maioria das lideranças regionais, potencializada pela alta popularidade do presidente – com a perspectiva do desempenho de papéis bem menos subordinados ou com razoável grau de autonomia, numa eventual administração de Dilma Rousseff. A partir de uma campanha
eleitoral em que o partido tenha peso significativo. E na qual assegure a conquista de vários governos estaduais, inclusive em disputa com o PT (na Bahia, no Pará, no Rio Grande do Sul, em Mato Grosso do Sul); a preservação da maioria e do comando das duas casas do Congresso; e uma presença no governo maior que aquela que tem hoje e qualificada ou garantida por um vice-presidente de expressivo peso político e institucional. De fato, para só mencionar
um desses itens – o relativo ao Congresso -, tais maioria e comando bloqueariam a onda de propostas radicais e antidemocráticas que setores do PT e aliados esquerdistas
estão lançando com vistas ao próximo governo.
Ora, tal perspectiva tem muito pouco a ver com a visão de Lula e de sua candidata sobre o papel do PMDB numa gestão presidida por Dilma, e menos ainda com o projeto do estado-maior do PT de ampliar a influência na máquina federal e, a partir dela, no Congresso, em governos estaduais e municipais, na sociedade. E o empenho, dos três atores, para inviabilizá-la centra-se nas resistências à indicação de Michel Temer como candidato a vice,
mais agressiva em áreas petistas e cuidadosa, mas insistente, por parte de Lula e Dilma. Ao invés de um vice como Temer o que eles desejam é uma figura com as características de um José Alencar, cuja imagem de empresário foi muito útil na disputa da reeleição em 2006, e que está sempre de acordo com todas as decisões e posturas do presidente. O que é possível, e mais próximo disso, é a de um peemedebista que deva a escolha a Lula.
Por outro lado, os objetivos do pragmatismo centrista da cúpula do PMDB podem frustrar-se em grande medida ou por inteiro seja pela prevalência do veto a Michel Temer; seja por uma divisão significativa da federação peemedebista na disputa presidencial; seja pelo insucesso de campanhas estaduais relevantes; seja por uma vitória, nessa disputa, do competitivo candidato oposicionista José Serra.
Jarbas de Holanda é jornalista
Arma eleitoral - Editorial
DEU EM O GLOBO
É risível a explicação dada pela secretária nacional de Renda de Cidadania do Ministério de Desenvolvimento Social, Lúcia Modesto, de que a referência, em documento oficial, à possibilidade de o próximo governo alterar o Bolsa Família se deve a um descuido “com a linguagem”.
Diante das características das eleições presidenciais deste ano, a menção nada sutil a uma redução da validade do benefício, a depender de decisão do próximo presidente, não é falta de cuidado no estilo — tem mesmo é objetivo eleitoral explícito. Leia-se: vote em Dilma Rousseff e garanta seu dinheiro.
O presidente Lula, ao antecipar, por sobre a legislação, a campanha eleitoral de 2010 em mais de um ano já sinalizara que o atual grupo no poder tudo fará para se manter nele pelo menos mais quatro anos. E o esforço precisa ser redobrado, devido à escolha de uma candidata sem qualquer quilometragem de palanques.
A arma do terrorismo de campanha não é de uso exclusivo do PT. Em 2002, os tucanos a acionaram, sem êxito, contra Lula. Este, sensato, decidiu não cumprir a profecia da catástrofe, manteve os pilares da economia de mercado, e acertou. Em 2006, o mesmo arsenal foi empregado pelo PT, com sucesso, contra o tucano Geraldo Alckmin.
Apresentado pelo PT como alguém que iria, além de acabar com o Bolsa Família, privatizar a Petrobras e o BB, Alckmin não soube escapar da armadilha. Perdeu o segundo turno, com menos votos que obtivera no primeiro.
O truque se repete, mas agora as bruxarias deverão ser mais virulentas, pois há amplos esquemas encastelados na máquina pública, com livre acesso ao dinheiro do contribuinte, e que, por óbvio, não desejam voltar à planície e perder os generosos repasses liberados por companheiros na Esplanada dos Ministérios.
Corporações de sindicalistas, organizações ditas sociais, ONGs de vários matizes têm provado, nestes sete anos e poucos dias de Era Lula, de fartas benesses do poder expressas em cifrões. Entendese por que lideranças do MST, por exemplo, falam grosso contra Lula antes de eleição, mas trabalham pelo PT quando se trata de preservar vagas e verbas em Brasília.
Não se pode menosprezar, também, a capacidade de a caneta presidencial obter apoios. No final do governo FH, havia pouco mais de 18 mil cargos de confiança — já uma enormidade — a serem preenchidos pelo poderoso de turno. Mas Lula, cujo governo tem no empreguismo e no aparelhamento da máquina burocrática uma das marcas, pôde empregar 23 mil pessoas. Evidente que são todos abnegados militantes do continuísmo.
Devido a tudo isso, é grande o risco de o país enfrentar uma campanha em que haverá mais “alopragens” do que debates sérios sobre temas que importam para a sociedade brasileira. Inclusive o Bolsa Família.
É risível a explicação dada pela secretária nacional de Renda de Cidadania do Ministério de Desenvolvimento Social, Lúcia Modesto, de que a referência, em documento oficial, à possibilidade de o próximo governo alterar o Bolsa Família se deve a um descuido “com a linguagem”.
Diante das características das eleições presidenciais deste ano, a menção nada sutil a uma redução da validade do benefício, a depender de decisão do próximo presidente, não é falta de cuidado no estilo — tem mesmo é objetivo eleitoral explícito. Leia-se: vote em Dilma Rousseff e garanta seu dinheiro.
O presidente Lula, ao antecipar, por sobre a legislação, a campanha eleitoral de 2010 em mais de um ano já sinalizara que o atual grupo no poder tudo fará para se manter nele pelo menos mais quatro anos. E o esforço precisa ser redobrado, devido à escolha de uma candidata sem qualquer quilometragem de palanques.
A arma do terrorismo de campanha não é de uso exclusivo do PT. Em 2002, os tucanos a acionaram, sem êxito, contra Lula. Este, sensato, decidiu não cumprir a profecia da catástrofe, manteve os pilares da economia de mercado, e acertou. Em 2006, o mesmo arsenal foi empregado pelo PT, com sucesso, contra o tucano Geraldo Alckmin.
Apresentado pelo PT como alguém que iria, além de acabar com o Bolsa Família, privatizar a Petrobras e o BB, Alckmin não soube escapar da armadilha. Perdeu o segundo turno, com menos votos que obtivera no primeiro.
O truque se repete, mas agora as bruxarias deverão ser mais virulentas, pois há amplos esquemas encastelados na máquina pública, com livre acesso ao dinheiro do contribuinte, e que, por óbvio, não desejam voltar à planície e perder os generosos repasses liberados por companheiros na Esplanada dos Ministérios.
Corporações de sindicalistas, organizações ditas sociais, ONGs de vários matizes têm provado, nestes sete anos e poucos dias de Era Lula, de fartas benesses do poder expressas em cifrões. Entendese por que lideranças do MST, por exemplo, falam grosso contra Lula antes de eleição, mas trabalham pelo PT quando se trata de preservar vagas e verbas em Brasília.
Não se pode menosprezar, também, a capacidade de a caneta presidencial obter apoios. No final do governo FH, havia pouco mais de 18 mil cargos de confiança — já uma enormidade — a serem preenchidos pelo poderoso de turno. Mas Lula, cujo governo tem no empreguismo e no aparelhamento da máquina burocrática uma das marcas, pôde empregar 23 mil pessoas. Evidente que são todos abnegados militantes do continuísmo.
Devido a tudo isso, é grande o risco de o país enfrentar uma campanha em que haverá mais “alopragens” do que debates sérios sobre temas que importam para a sociedade brasileira. Inclusive o Bolsa Família.
Oposição vê uso eleitoral do Bolsa-Família
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Instrução para prefeitos permite interpretar que nova gestão pode excluir beneficiários ou reduzir programa
BRASÍLIA - Em meio a um despacho burocrático, o governo mandou uma mensagem para os prefeitos sobre o Bolsa-Família que foi considerada "terrorismo eleitoral" pela oposição. No fim do ano passado, uma instrução operacional divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento Social avisou às prefeituras que as regras para permanência no programa poderão ser alteradas a qualquer tempo pelo gestor que assumir a partir de janeiro de 2011. Apesar de estar sendo tratada pelo ministério como apenas uma instrução sobre a forma de funcionamento do recadastramento das famílias, o texto permite interpretar que um novo governo poderá alterar e encurtar o Bolsa-Família, excluindo famílias ou diminuindo o programa.
A Instrução Operacional nº 34, conforme mostrou ontem o jornal O Globo, diz que "para os anos de 2011 e 2012, no entanto, a fixação da data de validade do benefício estará sujeita a alterações segundo novas diretrizes que sejam estabelecidas pela nova administração que assumir o Bolsa-Família em janeiro de 2011". É a única menção ao período posterior ao governo Lula em todo o texto, de 14 páginas, que trata basicamente do recadastramento de beneficiários e sua possível exclusão por falta de atualização de dados.
GUERRA
O presidente do PSDB, Senador Sergio Guerra (PE), afirmou que o texto divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Social "é desonesto, claramente eleitoral e uma irresponsabilidade com o povo". "Fomos nós que inventamos o Bolsa-Família. Nós achamos que o presidente Lula foi até muito bem nesse assunto. Nós sempre dissemos isso. Mas o que eles falam é mentira, é terrorismo e é seguramente o tipo de ação a que essa gente se acostumou", disse o presidente do PSDB em entrevista ao site de seu partido.
Em nota distribuída ontem, o Ministério do Desenvolvimento Social nega que a advertência que consta no documento tenha qualquer relação com o calendário eleitoral. Afirma que a instrução operacional trata apenas dos procedimentos para atualização cadastral dos beneficiários que estão inscritos no programa há mais de dois anos sem que seus dados tenham sido verificados pelas prefeituras e argumenta que esse é um procedimento que está em "permanente processo de aperfeiçoamento".
REFERÊNCIA
"A instrução em nenhum momento relata, nem de "forma velada", que "em um novo governo as principais diretrizes do programa poderão ser alteradas"", sustenta o texto distribuído pela assessoria do ministério. "O programa Bolsa-Família é uma conquista dos brasileiros garantida em lei, tem trazido importantes resultados para o Brasil na redução da fome, da pobreza e da desigualdade e é hoje referência internacional."
Criado por lei em 2004, o Bolsa-Família não poderá ser encerrado por um decreto. No entanto, suas regras internas ficam a cargo do ministério, que determina, por exemplo, os prazos para que as famílias que não cumprirem contrapartidas ou não atualizaram seus dados possam ser excluídas.
Instrução para prefeitos permite interpretar que nova gestão pode excluir beneficiários ou reduzir programa
BRASÍLIA - Em meio a um despacho burocrático, o governo mandou uma mensagem para os prefeitos sobre o Bolsa-Família que foi considerada "terrorismo eleitoral" pela oposição. No fim do ano passado, uma instrução operacional divulgada pelo Ministério do Desenvolvimento Social avisou às prefeituras que as regras para permanência no programa poderão ser alteradas a qualquer tempo pelo gestor que assumir a partir de janeiro de 2011. Apesar de estar sendo tratada pelo ministério como apenas uma instrução sobre a forma de funcionamento do recadastramento das famílias, o texto permite interpretar que um novo governo poderá alterar e encurtar o Bolsa-Família, excluindo famílias ou diminuindo o programa.
A Instrução Operacional nº 34, conforme mostrou ontem o jornal O Globo, diz que "para os anos de 2011 e 2012, no entanto, a fixação da data de validade do benefício estará sujeita a alterações segundo novas diretrizes que sejam estabelecidas pela nova administração que assumir o Bolsa-Família em janeiro de 2011". É a única menção ao período posterior ao governo Lula em todo o texto, de 14 páginas, que trata basicamente do recadastramento de beneficiários e sua possível exclusão por falta de atualização de dados.
GUERRA
O presidente do PSDB, Senador Sergio Guerra (PE), afirmou que o texto divulgado pelo Ministério do Desenvolvimento Social "é desonesto, claramente eleitoral e uma irresponsabilidade com o povo". "Fomos nós que inventamos o Bolsa-Família. Nós achamos que o presidente Lula foi até muito bem nesse assunto. Nós sempre dissemos isso. Mas o que eles falam é mentira, é terrorismo e é seguramente o tipo de ação a que essa gente se acostumou", disse o presidente do PSDB em entrevista ao site de seu partido.
Em nota distribuída ontem, o Ministério do Desenvolvimento Social nega que a advertência que consta no documento tenha qualquer relação com o calendário eleitoral. Afirma que a instrução operacional trata apenas dos procedimentos para atualização cadastral dos beneficiários que estão inscritos no programa há mais de dois anos sem que seus dados tenham sido verificados pelas prefeituras e argumenta que esse é um procedimento que está em "permanente processo de aperfeiçoamento".
REFERÊNCIA
"A instrução em nenhum momento relata, nem de "forma velada", que "em um novo governo as principais diretrizes do programa poderão ser alteradas"", sustenta o texto distribuído pela assessoria do ministério. "O programa Bolsa-Família é uma conquista dos brasileiros garantida em lei, tem trazido importantes resultados para o Brasil na redução da fome, da pobreza e da desigualdade e é hoje referência internacional."
Criado por lei em 2004, o Bolsa-Família não poderá ser encerrado por um decreto. No entanto, suas regras internas ficam a cargo do ministério, que determina, por exemplo, os prazos para que as famílias que não cumprirem contrapartidas ou não atualizaram seus dados possam ser excluídas.
Oposição denuncia 'terrorismo' eleitoral
DEU EM O GLOBO
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, disse que o governo dissemina "terrorismo e mentira" ao alertar para o risco de mudanças no Bolsa Família em 2011, quando começa novo governo: "O PT quer eleger Dilma sem voto." Para o DEM, há "chantagem emocional". O Ministério do Desenvolvimento Social afirma não ver insegurança jurídica no texto.
Terrorista, eu?
Governo e oposição em guerra
BRASÍLIA. Governo e oposição trocaram acusações ontem sobre quem está fazendo terrorismo eleitoral. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que podem causar preocupação no mercado ameaças como as feitas pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), de promover “mudanças substanciais” nas políticas de inflação, câmbio e juros. Ao deixar o Ministério da Fazenda, ele negou desencontros no governo: — Não estou vendo divergência nenhuma. Tem um nervosismo evidente em um setor do mercado financeiro. A qualquer momento se ouve a frase de um ministro e se quer interpretar. Tem muita gente que faz o jogo financeiro mesmo, especulação — disse, salientando que 2010 será um ano de debates na economia: — O PSDB já anunciou que vai mudar a política da inflação, do câmbio, de juros. Acho que seria bom o PSDB, como maior partido de oposição, dizer logo que mudanças serão essas. Porque, isso sim, pode dar margem a interpretação — disse, referindo-se a entrevista de Guerra à revista “Veja”.
— Vamos manter com absoluta convicção as metas de inflação, o controle fiscal e o câmbio flexível. O ministro está dizendo isso porque o senador Sérgio Guerra disse que o ministério dele não existe. Nunca ouvi falar que ele fosse psicólogo destes mercados. Quem sempre falou em coisas drásticas e nunca fez foi o ministro — rebateu Guerra.
O presidente do PSDB, Sérgio Guerra, disse que o governo dissemina "terrorismo e mentira" ao alertar para o risco de mudanças no Bolsa Família em 2011, quando começa novo governo: "O PT quer eleger Dilma sem voto." Para o DEM, há "chantagem emocional". O Ministério do Desenvolvimento Social afirma não ver insegurança jurídica no texto.
Terrorista, eu?
Governo e oposição em guerra
BRASÍLIA. Governo e oposição trocaram acusações ontem sobre quem está fazendo terrorismo eleitoral. O ministro do Planejamento, Paulo Bernardo, disse que podem causar preocupação no mercado ameaças como as feitas pelo presidente do PSDB, Sérgio Guerra (PE), de promover “mudanças substanciais” nas políticas de inflação, câmbio e juros. Ao deixar o Ministério da Fazenda, ele negou desencontros no governo: — Não estou vendo divergência nenhuma. Tem um nervosismo evidente em um setor do mercado financeiro. A qualquer momento se ouve a frase de um ministro e se quer interpretar. Tem muita gente que faz o jogo financeiro mesmo, especulação — disse, salientando que 2010 será um ano de debates na economia: — O PSDB já anunciou que vai mudar a política da inflação, do câmbio, de juros. Acho que seria bom o PSDB, como maior partido de oposição, dizer logo que mudanças serão essas. Porque, isso sim, pode dar margem a interpretação — disse, referindo-se a entrevista de Guerra à revista “Veja”.
— Vamos manter com absoluta convicção as metas de inflação, o controle fiscal e o câmbio flexível. O ministro está dizendo isso porque o senador Sérgio Guerra disse que o ministério dele não existe. Nunca ouvi falar que ele fosse psicólogo destes mercados. Quem sempre falou em coisas drásticas e nunca fez foi o ministro — rebateu Guerra.
Ciro insiste na candidatura, critica Lula e petistas
DEU EM O GLOBO
Deputado diz que presidente está errado ao defender polarização entre Dilma e Serra, e chama Dirceu de golpista
Gerson Camarotti
BRASÍLIA. O deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) reforçou ontem sua estratégia de enfrentar o governo, o PT e o até o presidente Lula. Ciro deixou claro que a única forma de seu nome sair da disputa presidencial será por decisão do PSB. Em entrevista, no cafezinho do plenário da Câmara, o deputado enfatizou, várias vezes, sua divergência com a estratégia de Lula de ter uma única candidatura da base governista. Enquanto falava com os jornalistas foi abordado pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), que pediu para ele não brigar com Lula. O cearense foi direto com o colega: — Ele (Luiz Sergio) acha que discordar do Lula é brigar.
Concordar com tudo não é ser amigo. O Lula está errado.
Ao afirmar que o presidente erra nessa estratégia de polarização, Ciro argumenta que na política, se não houver diferença, se estabelece o conservadorismo.
Também considerou erros a saída do governador Aécio Neves (PSDB-MG) da disputa presidencial e a tentativa de isolamento da candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC).
— Não precisa ser uma diferença inamistosa, grosseira. Mas se você não estabelece a diferença, de que vai viver o nosso povo? Nesse caso, vamos refundar no Brasil a cultura do chavismo, do peronismo. O (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso quis isso. O Lula, não. Tanto que recusou o terceiro mandato. Será que o confronto pragmático entre Dilma e Serra, entre o PT e PSDB faz bem ao país? Sobre a declaração da ministra Dilma de dividir palanque com ele, dada ontem no Rio, Ciro disse que ela foi “extremamente lisonjeira” e que fez uma “gentileza”. Mas deixou claro que estarão em palanques diferentes.
Perguntado sobre a possibilidade de ser vice na chapa da petista, foi categórico: — Não insultaria Dilma chamando para ser candidata a vice.
Eu quero ser candidato. Se ela quer também, estaremos do mesmo lado político, mas não eleitoral. No segundo turno é uma possibilidade mais do que real, é certa, se depender da minha vontade. Eu preciso, na defesa do interesse do povo, apresentar minha candidatura.
Ciro disse que atenderá a decisão do PSB, mas demonstrou resistência em ser candidato ao governo de São Paulo: — A única circunstância para eu desistir é se o PSB pedir para retirar meu nome, aí eu aceito docilmente. Agora, se o PSB pedir para ser candidato a governador de São Paulo, aí eu vou espernear e depois resolver.
Ciro alfinetou as candidaturas de Dilma e de José Serra, e disse que a retirada de sua candidatura é a “única unanimidade da agenda de mesquinharia do PT e PSDB”.
— Eu posso falar coisas que o PT não pode. Até porque as bases da aliança PT-PMDB não permitem. Não aguenta falar porque a moral dessa aliança é um roçado de escândalo. Não tenho que fazer homenagem ao (ex-governador Orestes) Quércia (PMDB-SP), como o Serra, e não tenho que fazer homenagem ao (senador) Renan Calheiros (PMDB-AL), como a Dilma.
Ele afirmou que a candidatura Serra representa o passado, que Dilma teria dificuldade de falar das lacunas do atual governo e que a sua candidatura sinaliza para o futuro. Ainda avalia que Serra não será candidato.
— Minha opinião é que o Serra não será candidato. O tempo está passando e os fatos se consolidando.
Ciro também foi para o confronto direto com o ex-ministro José Dirceu, que tem defendido a retirada de sua candidatura: — Ele não me pediu para retirar minha candidatura. Se pedir, mando pastar. Ele deveria assumir um certo recato. A conduta atual dele é golpista.
Para Ciro, Dirceu agiu como golpista quando era presidente do PT e abriu na comissão de ética um processo contra Lula para apurar as relações dele (Lula) com o compadre Roberto Teixeira — Lula havia sido acusado de tráfico de influência.
— Ele quis acabar com o Lula.
O Zé Dirceu estava decidido a destruir Lula — explicou Ciro, em entrevista para o jornal “O Estado de S. Paulo
Deputado diz que presidente está errado ao defender polarização entre Dilma e Serra, e chama Dirceu de golpista
Gerson Camarotti
BRASÍLIA. O deputado e ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) reforçou ontem sua estratégia de enfrentar o governo, o PT e o até o presidente Lula. Ciro deixou claro que a única forma de seu nome sair da disputa presidencial será por decisão do PSB. Em entrevista, no cafezinho do plenário da Câmara, o deputado enfatizou, várias vezes, sua divergência com a estratégia de Lula de ter uma única candidatura da base governista. Enquanto falava com os jornalistas foi abordado pelo deputado Luiz Sérgio (PT-RJ), que pediu para ele não brigar com Lula. O cearense foi direto com o colega: — Ele (Luiz Sergio) acha que discordar do Lula é brigar.
Concordar com tudo não é ser amigo. O Lula está errado.
Ao afirmar que o presidente erra nessa estratégia de polarização, Ciro argumenta que na política, se não houver diferença, se estabelece o conservadorismo.
Também considerou erros a saída do governador Aécio Neves (PSDB-MG) da disputa presidencial e a tentativa de isolamento da candidatura da senadora Marina Silva (PV-AC).
— Não precisa ser uma diferença inamistosa, grosseira. Mas se você não estabelece a diferença, de que vai viver o nosso povo? Nesse caso, vamos refundar no Brasil a cultura do chavismo, do peronismo. O (ex-presidente) Fernando Henrique Cardoso quis isso. O Lula, não. Tanto que recusou o terceiro mandato. Será que o confronto pragmático entre Dilma e Serra, entre o PT e PSDB faz bem ao país? Sobre a declaração da ministra Dilma de dividir palanque com ele, dada ontem no Rio, Ciro disse que ela foi “extremamente lisonjeira” e que fez uma “gentileza”. Mas deixou claro que estarão em palanques diferentes.
Perguntado sobre a possibilidade de ser vice na chapa da petista, foi categórico: — Não insultaria Dilma chamando para ser candidata a vice.
Eu quero ser candidato. Se ela quer também, estaremos do mesmo lado político, mas não eleitoral. No segundo turno é uma possibilidade mais do que real, é certa, se depender da minha vontade. Eu preciso, na defesa do interesse do povo, apresentar minha candidatura.
Ciro disse que atenderá a decisão do PSB, mas demonstrou resistência em ser candidato ao governo de São Paulo: — A única circunstância para eu desistir é se o PSB pedir para retirar meu nome, aí eu aceito docilmente. Agora, se o PSB pedir para ser candidato a governador de São Paulo, aí eu vou espernear e depois resolver.
Ciro alfinetou as candidaturas de Dilma e de José Serra, e disse que a retirada de sua candidatura é a “única unanimidade da agenda de mesquinharia do PT e PSDB”.
— Eu posso falar coisas que o PT não pode. Até porque as bases da aliança PT-PMDB não permitem. Não aguenta falar porque a moral dessa aliança é um roçado de escândalo. Não tenho que fazer homenagem ao (ex-governador Orestes) Quércia (PMDB-SP), como o Serra, e não tenho que fazer homenagem ao (senador) Renan Calheiros (PMDB-AL), como a Dilma.
Ele afirmou que a candidatura Serra representa o passado, que Dilma teria dificuldade de falar das lacunas do atual governo e que a sua candidatura sinaliza para o futuro. Ainda avalia que Serra não será candidato.
— Minha opinião é que o Serra não será candidato. O tempo está passando e os fatos se consolidando.
Ciro também foi para o confronto direto com o ex-ministro José Dirceu, que tem defendido a retirada de sua candidatura: — Ele não me pediu para retirar minha candidatura. Se pedir, mando pastar. Ele deveria assumir um certo recato. A conduta atual dele é golpista.
Para Ciro, Dirceu agiu como golpista quando era presidente do PT e abriu na comissão de ética um processo contra Lula para apurar as relações dele (Lula) com o compadre Roberto Teixeira — Lula havia sido acusado de tráfico de influência.
— Ele quis acabar com o Lula.
O Zé Dirceu estava decidido a destruir Lula — explicou Ciro, em entrevista para o jornal “O Estado de S. Paulo
Brasília-DF :: Luiz Carlos Azedo
DEU NO CORREIO BRAZILIENSE
Cavaleiro andante
De lança em punho, Ciro Gomes (PSB) vestiu a armadura de Dom Quixote e retomou o velho discurso contra as coisas preestabelecidas da política, seus velhos moinhos e demônios. Isolado politicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o meio que encontrou para manter sua candidatura a presidente da República. “Sou o candidato do futuro. Não tenho compromisso com as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, nem sou obrigado a defender o que está errado no governo Lula”, resume. Tenta, assim, distinguir sua candidatura das do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), respectivamente.
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Cercado de jornalistas, ontem, na Câmara, Ciro reafirmou sua lealdade ao presidente Lula, mas deixou claro que sua candidatura não depende dele, mas somente do PSB, cujo presidente, o governador Eduardo Campos, elogia muito. Atacou velhos desafetos políticos, a começar por José Serra e o presidente do PPS, Roberto Freire. Mas alfinetou a candidata petista Dilma Rousseff (PT), ao criticar sua aliança com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e com o líder do PMDB naquela Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Os dois são líderes políticos que demoniza, ao atacar a aliança do PT com o PMDB. É por essas e outras que o presidente Lula teme a candidatura de Ciro no primeiro turno. --> --> --> -->
Nova estampa
As novas cédulas de real, que começam a circular a partir de abril, vão apartar definitivamente a moeda da imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em três anos, serão substituídas 4,2 bilhões de notas
Derrota
Caciques do PMDB, os governadores do Paraná, Roberto Requião, de Santa Catarina, Luiz Henrique, e o ex-governador Orestes Quércia (SP), que defendem a candidatura própria da legenda, chegarão derrotados à convenção do PMDB, no sábado. Ontem, perderam na Justiça a ação na qual pediam a suspensão da convenção. Requião pleiteia a vaga de candidato a presidente da República pelo PMDB.
Salomônico
Para facilitar a composição da nova Executiva do PMDB, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), que será reconduzido ao comando da legenda, redistribuiu as atribuições da primeira vice-presidência, que fará a articulação com o Norte e o Nordeste, com a segunda vice (Centro-Oeste) e a terceira (Sul e Sudeste). Os senadores Romero Jucá (RR), líder do governo, e Valdir Raupp (RO), indicado por Renan Calheiros, disputam a primeira vice. Iris Araujo (GO) e Rocha Loures (PR) ocuparão a segunda e a terceira.
Chapa
O PV resolveu lançar candidato em Brasília, onde pesquisas internas apontam que a senadora acreana Marina Silva , candidata a presidente da República, contaria com 20% das intenções de votos. O presidente do PV no Distrito Federal, Eduardo Brandão, é o nome escolhido pela cúpula, mesmo tendo participado do atual governo do GDF. A propósito, hoje à noite Marina Silva será a estrela do programa de tevê do PV.
Fechado
O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), que disputa a reeleição, fechou sua chapa de candidatos ao Senado. Serão o deputado Eunício de Oliveira (PMDB) e o senador Tasso Jereissati (PSDB). O ministro da Previdência, Fernando Pimentel (PT), sobrou na coalizão. A vaga de vice deve ficar com Valdemir Catanho (PT), atual secretário de governo. A prefeita de Fortaleza, Luiziane Lins (PT), estrila.
Diapasão
Em rota de colisão com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aguarda a ata do Copom que será divulgada hoje para afinar o discurso contra a taxa de juros. Em relação ao câmbio, os dois estão mais acertados.
Fiel/ O documentário Perdão, Mister Fiel, de Jorge Oliveira, venceu o festival de Cinema de Campo Grande no voto popular e ainda recebeu menção honrosa do Júri Oficial. Hotel Atlântico, de Suzana Amaral, recebeu o prêmio Glauce Rocha de melhor longa-metragem do júri oficial.
Recesso/ Indicado para presidir a Comissão Especial do Sistema Nacional de Cultura, o sorridente deputado Maurício Hands (PT-PE) ficou bravo ontem com a falta de quorum para a instalação da comissão. Após uma hora e meia de espera, deixou o plenário pisando duro. Só apareceram seis deputados.
Ruídos/ A cúpula do PSDB concluiu que o partido é ruim de bico. Com a mídia e sobretudo com a base, comunica-se muito mal. A ideia é unificar o discurso nos palanques estaduais e municipais e com os veículos de comunicação para melhorar a imagem.
Fogueira/ Capitão Assumpção (PSB-ES) levou um pito ontem do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), que reprovou o tom com que o deputado se pronunciou na reunião que tratava do apensamento da PEC 300, que estabelece piso salarial para policiais e bombeiros militares, à PEC 41. De autoria do senador Renan Calheiros, a PEC 41 está no Senado e prevê, além de piso salarial nacional, carreira única para praças e oficiais.
Cavaleiro andante
De lança em punho, Ciro Gomes (PSB) vestiu a armadura de Dom Quixote e retomou o velho discurso contra as coisas preestabelecidas da política, seus velhos moinhos e demônios. Isolado politicamente pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, é o meio que encontrou para manter sua candidatura a presidente da República. “Sou o candidato do futuro. Não tenho compromisso com as privatizações do governo de Fernando Henrique Cardoso, nem sou obrigado a defender o que está errado no governo Lula”, resume. Tenta, assim, distinguir sua candidatura das do governador de São Paulo, José Serra (PSDB), e da ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff (PT), respectivamente.
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Cercado de jornalistas, ontem, na Câmara, Ciro reafirmou sua lealdade ao presidente Lula, mas deixou claro que sua candidatura não depende dele, mas somente do PSB, cujo presidente, o governador Eduardo Campos, elogia muito. Atacou velhos desafetos políticos, a começar por José Serra e o presidente do PPS, Roberto Freire. Mas alfinetou a candidata petista Dilma Rousseff (PT), ao criticar sua aliança com o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), e com o líder do PMDB naquela Casa, senador Renan Calheiros (PMDB-AL). Os dois são líderes políticos que demoniza, ao atacar a aliança do PT com o PMDB. É por essas e outras que o presidente Lula teme a candidatura de Ciro no primeiro turno. --> --> --> -->
Nova estampa
As novas cédulas de real, que começam a circular a partir de abril, vão apartar definitivamente a moeda da imagem do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Em três anos, serão substituídas 4,2 bilhões de notas
Derrota
Caciques do PMDB, os governadores do Paraná, Roberto Requião, de Santa Catarina, Luiz Henrique, e o ex-governador Orestes Quércia (SP), que defendem a candidatura própria da legenda, chegarão derrotados à convenção do PMDB, no sábado. Ontem, perderam na Justiça a ação na qual pediam a suspensão da convenção. Requião pleiteia a vaga de candidato a presidente da República pelo PMDB.
Salomônico
Para facilitar a composição da nova Executiva do PMDB, o presidente da Câmara, Michel Temer (SP), que será reconduzido ao comando da legenda, redistribuiu as atribuições da primeira vice-presidência, que fará a articulação com o Norte e o Nordeste, com a segunda vice (Centro-Oeste) e a terceira (Sul e Sudeste). Os senadores Romero Jucá (RR), líder do governo, e Valdir Raupp (RO), indicado por Renan Calheiros, disputam a primeira vice. Iris Araujo (GO) e Rocha Loures (PR) ocuparão a segunda e a terceira.
Chapa
O PV resolveu lançar candidato em Brasília, onde pesquisas internas apontam que a senadora acreana Marina Silva , candidata a presidente da República, contaria com 20% das intenções de votos. O presidente do PV no Distrito Federal, Eduardo Brandão, é o nome escolhido pela cúpula, mesmo tendo participado do atual governo do GDF. A propósito, hoje à noite Marina Silva será a estrela do programa de tevê do PV.
Fechado
O governador do Ceará, Cid Gomes (PSB), que disputa a reeleição, fechou sua chapa de candidatos ao Senado. Serão o deputado Eunício de Oliveira (PMDB) e o senador Tasso Jereissati (PSDB). O ministro da Previdência, Fernando Pimentel (PT), sobrou na coalizão. A vaga de vice deve ficar com Valdemir Catanho (PT), atual secretário de governo. A prefeita de Fortaleza, Luiziane Lins (PT), estrila.
Diapasão
Em rota de colisão com o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, o ministro da Fazenda, Guido Mantega, aguarda a ata do Copom que será divulgada hoje para afinar o discurso contra a taxa de juros. Em relação ao câmbio, os dois estão mais acertados.
Fiel/ O documentário Perdão, Mister Fiel, de Jorge Oliveira, venceu o festival de Cinema de Campo Grande no voto popular e ainda recebeu menção honrosa do Júri Oficial. Hotel Atlântico, de Suzana Amaral, recebeu o prêmio Glauce Rocha de melhor longa-metragem do júri oficial.
Recesso/ Indicado para presidir a Comissão Especial do Sistema Nacional de Cultura, o sorridente deputado Maurício Hands (PT-PE) ficou bravo ontem com a falta de quorum para a instalação da comissão. Após uma hora e meia de espera, deixou o plenário pisando duro. Só apareceram seis deputados.
Ruídos/ A cúpula do PSDB concluiu que o partido é ruim de bico. Com a mídia e sobretudo com a base, comunica-se muito mal. A ideia é unificar o discurso nos palanques estaduais e municipais e com os veículos de comunicação para melhorar a imagem.
Fogueira/ Capitão Assumpção (PSB-ES) levou um pito ontem do presidente da Casa, Michel Temer (PMDB-SP), que reprovou o tom com que o deputado se pronunciou na reunião que tratava do apensamento da PEC 300, que estabelece piso salarial para policiais e bombeiros militares, à PEC 41. De autoria do senador Renan Calheiros, a PEC 41 está no Senado e prevê, além de piso salarial nacional, carreira única para praças e oficiais.
Duelo de manifestações
DEU EM O GLOBO
Nova face da oposição, estudantes venezuelanos vão às ruas hoje, no feriado dos chavistas
Mariana Timóteo da Costa Enviada especial • CARACAS
Dia da Dignidade Nacional. É assim que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seus simpatizantes se referem à data de hoje, feriado nacional desde que ele assumiu o poder, há 11 anos. O objetivo é comemorar o aniversário de seu nascimento no cenário político. Há 18 anos, Chávez deu início a sua revolução bolivariana, tentando dar um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. O atual líder do país convocou uma manifestação que vai partir da Praça Venezuela, no centro, às 9h (11h30m no horário de Brasília). Mas, com a popularidade cada vez mais em baixa, quem deve roubar a cena são os estudantes, que prometem também tomar as ruas de Caracas, na mesma hora. Eles marcharão até a Assembleia Nacional, hoje controlada por aliados de Chávez e que a oposição espera passar a liderar, ou ter maior expressão, a partir das eleições legislativas de setembro.
— Trabalhamos para renovar nossos líderes. Não queremos incitar um golpe de Estado, nem pregar a violência, ou derrubar o governo. Protestamos de forma pacífica, para conscientizar a população de que precisa votar bem — diz Ricardo Patiño, de 21 anos, estudante de Engenharia da Universidade Simón Bolívar, que é pública.
Sejam de universidades públicas ou particulares, os estudantes têm uma agenda muito definida: protestam contra a censura aos meios de comunicação, contra a alta criminalidade da Venezuela, onde morrem mais de 60 pessoas por semana. Manifestamse contra a crise energética, a inflação e a instabilidade política que “o autoritarismo de Chávez gera”, diz Patiño. Ele faz parte de um grupo de estudantes que não têm mais medo de mostrar a cara e, por isso, fazem parte da “vanguarda da nova oposição que surge no país”, comenta o cientista político Hernán Castillo.
— O governo está desesperado com o fracasso dos serviços públicos, e a convocação da manifestação bolivariana mostra isso. Nem é preciso apostar que o Dia da Dignidade será vencido pelos estudantes — diz.
Ao lado de Patiño, mostram a cara, mesmo quando há repressão, nomes como Ricardo Sanchéz e Roderick Navarro (da Universidade Central da Venezuela, pública); Nizar el Fakih (da Universidade Católica Andrés Bello, particular), Miranda Ponce (da Universidade Monteávila, particular).
Conversar com Miranda por telefone é difícil. A ligação cai muito.
— Acho que os telefones dos estudantes que aparecem mais estão grampeados. E depois Chávez vem dizer que deixa todo mundo se expressar — diz a estudante de jornalismo, que protesta por não querer um país em que não haja trabalho para ela. — Imagina, trabalhar na VTV (canal controlado por Chávez) e passar o dia inteiro falando mentiras.
Mais de 80 presos em protestos
Mesmo revoltados com o governo, o tom dos estudantes é sempre de conciliação e legalidade.
— Por mais que nos repreendam, continuaremos nas ruas — disse Navarro, que tem 22 anos e estuda Linguística, e cuja universidade, a Central da Venezuela, é uma das mais politicamente ativas: há marcas de balas nas paredes, de um ataque ano passado.
Navarro e outros líderes estudantis entraram, esta semana, com um pedido junto ao Ministério Público para que se investiguem hostilidades contra estudantes no interior da Venezuela.
Desde que a nova onda de protestos começou, pelo menos 85 pessoas foram presas e houve duas mortes.
— Todas as atenções da mídia internacional ficam voltadas para Caracas, e, portanto, a repressão aqui não é tão alta. Mas a coisa no interior está séria — observa Miranda.
Chávez tenta, sem sucesso, segundo Castillo, atrair estudantes. Alguns apareciam na VTV convocando simpatizantes bolivarianos para os protestos de hoje. No centro de Caracas, impressiona a quantidade de tabloides chavistas fazendo propaganda do governo.
Chávez deve gastar milhões com a quantidade de cartazes exaltando suas conquistas. Trata-se, segundo Castillo, de uma guerra midiática desigual, mas que os estudantes parecem estar vencendo. Ou, pelo menos, chamando muita atenção
Nova face da oposição, estudantes venezuelanos vão às ruas hoje, no feriado dos chavistas
Mariana Timóteo da Costa Enviada especial • CARACAS
Dia da Dignidade Nacional. É assim que o presidente da Venezuela, Hugo Chávez, e seus simpatizantes se referem à data de hoje, feriado nacional desde que ele assumiu o poder, há 11 anos. O objetivo é comemorar o aniversário de seu nascimento no cenário político. Há 18 anos, Chávez deu início a sua revolução bolivariana, tentando dar um golpe de Estado contra o presidente Carlos Andrés Pérez. O atual líder do país convocou uma manifestação que vai partir da Praça Venezuela, no centro, às 9h (11h30m no horário de Brasília). Mas, com a popularidade cada vez mais em baixa, quem deve roubar a cena são os estudantes, que prometem também tomar as ruas de Caracas, na mesma hora. Eles marcharão até a Assembleia Nacional, hoje controlada por aliados de Chávez e que a oposição espera passar a liderar, ou ter maior expressão, a partir das eleições legislativas de setembro.
— Trabalhamos para renovar nossos líderes. Não queremos incitar um golpe de Estado, nem pregar a violência, ou derrubar o governo. Protestamos de forma pacífica, para conscientizar a população de que precisa votar bem — diz Ricardo Patiño, de 21 anos, estudante de Engenharia da Universidade Simón Bolívar, que é pública.
Sejam de universidades públicas ou particulares, os estudantes têm uma agenda muito definida: protestam contra a censura aos meios de comunicação, contra a alta criminalidade da Venezuela, onde morrem mais de 60 pessoas por semana. Manifestamse contra a crise energética, a inflação e a instabilidade política que “o autoritarismo de Chávez gera”, diz Patiño. Ele faz parte de um grupo de estudantes que não têm mais medo de mostrar a cara e, por isso, fazem parte da “vanguarda da nova oposição que surge no país”, comenta o cientista político Hernán Castillo.
— O governo está desesperado com o fracasso dos serviços públicos, e a convocação da manifestação bolivariana mostra isso. Nem é preciso apostar que o Dia da Dignidade será vencido pelos estudantes — diz.
Ao lado de Patiño, mostram a cara, mesmo quando há repressão, nomes como Ricardo Sanchéz e Roderick Navarro (da Universidade Central da Venezuela, pública); Nizar el Fakih (da Universidade Católica Andrés Bello, particular), Miranda Ponce (da Universidade Monteávila, particular).
Conversar com Miranda por telefone é difícil. A ligação cai muito.
— Acho que os telefones dos estudantes que aparecem mais estão grampeados. E depois Chávez vem dizer que deixa todo mundo se expressar — diz a estudante de jornalismo, que protesta por não querer um país em que não haja trabalho para ela. — Imagina, trabalhar na VTV (canal controlado por Chávez) e passar o dia inteiro falando mentiras.
Mais de 80 presos em protestos
Mesmo revoltados com o governo, o tom dos estudantes é sempre de conciliação e legalidade.
— Por mais que nos repreendam, continuaremos nas ruas — disse Navarro, que tem 22 anos e estuda Linguística, e cuja universidade, a Central da Venezuela, é uma das mais politicamente ativas: há marcas de balas nas paredes, de um ataque ano passado.
Navarro e outros líderes estudantis entraram, esta semana, com um pedido junto ao Ministério Público para que se investiguem hostilidades contra estudantes no interior da Venezuela.
Desde que a nova onda de protestos começou, pelo menos 85 pessoas foram presas e houve duas mortes.
— Todas as atenções da mídia internacional ficam voltadas para Caracas, e, portanto, a repressão aqui não é tão alta. Mas a coisa no interior está séria — observa Miranda.
Chávez tenta, sem sucesso, segundo Castillo, atrair estudantes. Alguns apareciam na VTV convocando simpatizantes bolivarianos para os protestos de hoje. No centro de Caracas, impressiona a quantidade de tabloides chavistas fazendo propaganda do governo.
Chávez deve gastar milhões com a quantidade de cartazes exaltando suas conquistas. Trata-se, segundo Castillo, de uma guerra midiática desigual, mas que os estudantes parecem estar vencendo. Ou, pelo menos, chamando muita atenção
O terceiro Chávez :: Demétrio Magnoli
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
Karl Marx criou a 1ª Internacional, Friedrich Engels participou da fundação da 2ª, Lenin estabeleceu a 3ª, Leon Trotski fundou a 4ª e Hugo Chávez acaba de erguer o estandarte da 5ª. "Eu assumo a responsabilidade perante o mundo; penso que é tempo de reunir a 5ª Internacional e ouso fazer o chamado", declarou num discurso de cinco horas, na sessão inaugural do congresso extraordinário do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), sob aplausos de 772 delegados em camisetas vermelhas.
O congresso ocorreu em novembro. Depois, Chávez impôs o racionamento energético no país, desvalorizou a moeda e implantou um câmbio duplo, estatizou uma rede de supermercados, suspendeu emissoras de TV a cabo e desencadeou sangrenta repressão contra os protestos estudantis. A Internacional chavista nascerá numa conferência mundial em Caracas, em abril, e as eleições parlamentares venezuelanas estão marcadas para setembro. Mas o futuro do homem que pretende suceder a Marx, Lenin e Trotski será moldado por um evento totalmente estranho à sua influência: a eleição presidencial brasileira de outubro.
Chávez vive a sua terceira encarnação, que é também a última. O primeiro Chávez emergiu depois do golpe frustrado de 1992, nas roupagens do caudilho nacionalista e antiamericano hipnotizado pela imagem de um Simón Bolívar imaginário. Sob a influência do sociólogo argentino Norberto Ceresole, aquele chavismo original flertava com o antissemitismo e sonhava com a implantação de um Estado autoritário, de corte fascista, que reunificaria Venezuela, Colômbia e Equador numa Grã-Colômbia restaurada.
Um segundo Chávez delineou-se na primavera do primeiro mandato, em 1999, a partir da ruptura com Ceresole e da aproximação do caudilho com o alemão Heinz Dieterich, o professor de Sociologia no México que deixou a obscuridade ao formular o conceito do "socialismo do século 21". O chavismo reinventado adquiriu colorações esquerdistas, firmou uma aliança com Cuba e engajou-se no projeto de edificação de um capitalismo de Estado que figuraria como longa transição rumo a um socialismo não maculado pela herança soviética.
Brandindo um exemplar de O Estado e a Revolução, de Lenin, o Chávez do congresso extraordinário do PSUV anunciou sua conversão ao programa de destruição do "Estado burguês" e construção de um "Estado revolucionário". Este terceiro Chávez se insinuou em 2004, quando o caudilho conheceu o trotskista britânico Alan Woods, e se configurou plenamente no momento da derrota no referendo de dezembro de 2007, pouco depois da ruptura com Dieterich. O PSUV é fruto do chavismo de terceira água, assim como a proclamação da 5ª Internacional.
O termo palimpsesto origina-se das palavras gregas palin (de novo) e psao (raspar ou borrar). Palimpsesto é o manuscrito reescrito várias vezes, pela superposição de camadas sucessivas de texto, no qual as camadas antigas não desaparecem por completo e mantêm relações complexas com a escritura mais recente. Para horror do sofisticado Woods, o chavismo é uma doutrina de palimpsesto que mescla de maneiras bizarras a Pátria Grande bolivariana, a aliança estratégica com o Irã, os impulsos bárbaros do caudilhismo e o difícil aprendizado da linguagem do marxismo. O texto mais novo, contudo, tem precedência sobre os antigos e indica o rumo da "revolução bolivariana". Chávez reage à crise provocada por seu próprio regime apertando os parafusos da ditadura e lançando-se desenfreadamente às expropriações.
O chavismo é um regime revolucionário, não um governo populista tradicional nem um mero fenômeno caudilhesco. O PSUV tem, no papel, 7 milhões de filiados, dos quais 2,5 milhões se apresentaram para eleger os delegados ao congresso extraordinário. O declínio de Chávez, agravado pela crise econômica em curso, sustenta a profecia de sua derrota eleitoral em setembro, mas regimes revolucionários não são apeados do poder pelo voto. "Não admitirei que minha liderança seja contestada, porque eu sou o povo, caramba!", rugiu semanas atrás o caudilho de Caracas. Esse homem não permitirá que o povo o desminta nas urnas. O ocaso inexorável do chavismo será amargo, dramático, talvez cruento. Mas sua duração dependerá, essencialmente, do sentido da política externa do novo governo brasileiro.
Várias vezes o Brasil estendeu uma rede sob Chávez. Lula e Celso Amorim protegeram o venezuelano na hora do fechamento da RCTV, no referendo constitucional frustrado, na crise dos reféns colombianos, na polêmica sobre as bases americanas e na aventura fracassada do retorno de Zelaya a Honduras. Em nome dos interesses do chavismo, o presidente brasileiro desperdiçou a oferta de cooperação estratégica com Barack Obama.
No ciclo de estabilização da "revolução bolivariana", o Brasil isolou regionalmente a oposição venezuelana, ajudando a consolidar o regime de Chávez. Agora, iniciou-se o ciclo de desmontagem das bases políticas e sociais do chavismo. No novo cenário, o Brasil tornou-se imprescindível: só a potência sul-americana possui os meios e a influência para carregar por mais alguns quilômetros o esquife do iracundo caudilho.
A maioria governista no Senado aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul, sob o cínico argumento de que a democracia no país vizinho ficará mais preservada pela virtual supressão da cláusula democrática do Mercosul. Na OEA, a diplomacia brasileira manobra para evitar uma nítida condenação da ofensiva chavista contra os estudantes e a liberdade de imprensa. Em Caracas, uma missão técnica enviada pelo governo brasileiro articula um plano de resgate do sistema elétrico venezuelano em colapso. A declaração de apoio de Chávez à reeleição de Lula foi recebida com desprezo pelos chavistas revolucionários. Hoje, até Woods deve estar rezando em segredo pelo triunfo de Dilma Rousseff.
Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.
Karl Marx criou a 1ª Internacional, Friedrich Engels participou da fundação da 2ª, Lenin estabeleceu a 3ª, Leon Trotski fundou a 4ª e Hugo Chávez acaba de erguer o estandarte da 5ª. "Eu assumo a responsabilidade perante o mundo; penso que é tempo de reunir a 5ª Internacional e ouso fazer o chamado", declarou num discurso de cinco horas, na sessão inaugural do congresso extraordinário do Partido Socialista Unido da Venezuela (PSUV), sob aplausos de 772 delegados em camisetas vermelhas.
O congresso ocorreu em novembro. Depois, Chávez impôs o racionamento energético no país, desvalorizou a moeda e implantou um câmbio duplo, estatizou uma rede de supermercados, suspendeu emissoras de TV a cabo e desencadeou sangrenta repressão contra os protestos estudantis. A Internacional chavista nascerá numa conferência mundial em Caracas, em abril, e as eleições parlamentares venezuelanas estão marcadas para setembro. Mas o futuro do homem que pretende suceder a Marx, Lenin e Trotski será moldado por um evento totalmente estranho à sua influência: a eleição presidencial brasileira de outubro.
Chávez vive a sua terceira encarnação, que é também a última. O primeiro Chávez emergiu depois do golpe frustrado de 1992, nas roupagens do caudilho nacionalista e antiamericano hipnotizado pela imagem de um Simón Bolívar imaginário. Sob a influência do sociólogo argentino Norberto Ceresole, aquele chavismo original flertava com o antissemitismo e sonhava com a implantação de um Estado autoritário, de corte fascista, que reunificaria Venezuela, Colômbia e Equador numa Grã-Colômbia restaurada.
Um segundo Chávez delineou-se na primavera do primeiro mandato, em 1999, a partir da ruptura com Ceresole e da aproximação do caudilho com o alemão Heinz Dieterich, o professor de Sociologia no México que deixou a obscuridade ao formular o conceito do "socialismo do século 21". O chavismo reinventado adquiriu colorações esquerdistas, firmou uma aliança com Cuba e engajou-se no projeto de edificação de um capitalismo de Estado que figuraria como longa transição rumo a um socialismo não maculado pela herança soviética.
Brandindo um exemplar de O Estado e a Revolução, de Lenin, o Chávez do congresso extraordinário do PSUV anunciou sua conversão ao programa de destruição do "Estado burguês" e construção de um "Estado revolucionário". Este terceiro Chávez se insinuou em 2004, quando o caudilho conheceu o trotskista britânico Alan Woods, e se configurou plenamente no momento da derrota no referendo de dezembro de 2007, pouco depois da ruptura com Dieterich. O PSUV é fruto do chavismo de terceira água, assim como a proclamação da 5ª Internacional.
O termo palimpsesto origina-se das palavras gregas palin (de novo) e psao (raspar ou borrar). Palimpsesto é o manuscrito reescrito várias vezes, pela superposição de camadas sucessivas de texto, no qual as camadas antigas não desaparecem por completo e mantêm relações complexas com a escritura mais recente. Para horror do sofisticado Woods, o chavismo é uma doutrina de palimpsesto que mescla de maneiras bizarras a Pátria Grande bolivariana, a aliança estratégica com o Irã, os impulsos bárbaros do caudilhismo e o difícil aprendizado da linguagem do marxismo. O texto mais novo, contudo, tem precedência sobre os antigos e indica o rumo da "revolução bolivariana". Chávez reage à crise provocada por seu próprio regime apertando os parafusos da ditadura e lançando-se desenfreadamente às expropriações.
O chavismo é um regime revolucionário, não um governo populista tradicional nem um mero fenômeno caudilhesco. O PSUV tem, no papel, 7 milhões de filiados, dos quais 2,5 milhões se apresentaram para eleger os delegados ao congresso extraordinário. O declínio de Chávez, agravado pela crise econômica em curso, sustenta a profecia de sua derrota eleitoral em setembro, mas regimes revolucionários não são apeados do poder pelo voto. "Não admitirei que minha liderança seja contestada, porque eu sou o povo, caramba!", rugiu semanas atrás o caudilho de Caracas. Esse homem não permitirá que o povo o desminta nas urnas. O ocaso inexorável do chavismo será amargo, dramático, talvez cruento. Mas sua duração dependerá, essencialmente, do sentido da política externa do novo governo brasileiro.
Várias vezes o Brasil estendeu uma rede sob Chávez. Lula e Celso Amorim protegeram o venezuelano na hora do fechamento da RCTV, no referendo constitucional frustrado, na crise dos reféns colombianos, na polêmica sobre as bases americanas e na aventura fracassada do retorno de Zelaya a Honduras. Em nome dos interesses do chavismo, o presidente brasileiro desperdiçou a oferta de cooperação estratégica com Barack Obama.
No ciclo de estabilização da "revolução bolivariana", o Brasil isolou regionalmente a oposição venezuelana, ajudando a consolidar o regime de Chávez. Agora, iniciou-se o ciclo de desmontagem das bases políticas e sociais do chavismo. No novo cenário, o Brasil tornou-se imprescindível: só a potência sul-americana possui os meios e a influência para carregar por mais alguns quilômetros o esquife do iracundo caudilho.
A maioria governista no Senado aprovou o ingresso da Venezuela no Mercosul, sob o cínico argumento de que a democracia no país vizinho ficará mais preservada pela virtual supressão da cláusula democrática do Mercosul. Na OEA, a diplomacia brasileira manobra para evitar uma nítida condenação da ofensiva chavista contra os estudantes e a liberdade de imprensa. Em Caracas, uma missão técnica enviada pelo governo brasileiro articula um plano de resgate do sistema elétrico venezuelano em colapso. A declaração de apoio de Chávez à reeleição de Lula foi recebida com desprezo pelos chavistas revolucionários. Hoje, até Woods deve estar rezando em segredo pelo triunfo de Dilma Rousseff.
Demétrio Magnoli é sociólogo e doutor em Geografia Humana pela USP.
Vinicius Torres Freire:: América Latina na Europa
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
União Europeia baixa um "pacote FMI" na Grécia, que fica longe, mas faz marolas que azedam o mercado daqui
A Grécia terá de dançar miudinho, segundo o pacote que acertou com a União Europeia. Trata-se de um plano fiscal de bitola estreita, como aqueles que países latino-americanos acertavam periódica e frequentemente com o FMI até pouco antes do ano 2000.
O deficit público da Grécia foi a 12,7% do PIB em 2009; o deficit externo, 12%. Quando o Brasil foi à lona, em 1998, o deficit público estava na casa de 7% do PIB. Obviamente não é apenas o tamanho do rombo que faz um país pedir água. Histórico de calotes, tamanho da dívida, seu prazo de vencimento e, em suma, a confiança dos credores são os determinantes. O deficit francês, por exemplo, foi a 8,2% em 2009; os americanos tapam seus rombos na prática "imprimindo" dólares como papel de chiclete, mas o mundo usa a dívida americana como colchão para guardar poupança.
De resto, a Grécia está na eurolândia -caso contrário, penderia no cadafalso dos mercados. Os europeus não podem deixar que um país saia do bloco monetário, desvalorizando a moeda, o que desmoralizaria o euro e, de quebra, levaria pelo menos Portugal na enxurrada e provocaria enchentes na Espanha e na Itália. Por essas e poucas outras, a Grécia não é anedota financeira da periferia europeia como a Islândia, aquele parque de diversões liberalóide.
O governo grego prometeu cortar salários e empregos no governo, reformar a previdência e o sistema de saúde público (isto é, talhar gastos) e criar uma espécie de "fundo social de emergência" de 10%. Isto é, algo semelhante à "desvinculação de receitas da União" aqui no Brasil, coisa criada nos anos FHC e que dura até hoje, um dinheiro que sai do cofre para bancar superavit primários.
O governo ainda aumentou o imposto sobre combustíveis e, pelo andar da carruagem, ainda não muito evidente, vai reprimir aumentos de salários no setor privado também. O deficit do governo grego tem de cair para 3% do PIB até 2012. Em troca, virá ajuda da União Europeia. Mas o arrocho pode dar em algum tumulto.
A Grécia, embora bem mais rica que o Brasil, é o canto pobre da eurolândia à leste (no oeste, é Portugal). Isso significa que o colchão social é mais fininho. A economia deve ficar estagnada outra vez neste ano. A esquerda tem ainda alguma força, em especial nos sindicatos, os estudantes têm tradição de protesto pesado.
No final de 2008, houve greve geral e morte na rua. Foi quando o então líder da oposição, o socialista George Papandreou, dizia "chega desse governo que não entende os problemas do país". Os socialistas venceram a eleição de 2009 e Papandreou se tornou o premiê que vai baixar o arrocho. O mercado gostou da promessa e parou de vender papéis gregos. Portugal, 9,3% de deficit público, virou a bola europeia da vez. O ambiente no mercado mundial está mais azedo. Há o ruído europeu, rumor sobre contínua estagnação no mercado de trabalho americano, sustos e corrida a cada anúncio de aperto monetário na China.
As Bolsas americanas estão no pior nível desde outubro. Sentimos essas marolas por aqui, com estrangeiros dando uma breve escapada de papéis brasileiros -breve por ora. De mais importante, a marola bate no dólar. O que não pega bem quando se começa a discutir inflação e alta de juros.
União Europeia baixa um "pacote FMI" na Grécia, que fica longe, mas faz marolas que azedam o mercado daqui
A Grécia terá de dançar miudinho, segundo o pacote que acertou com a União Europeia. Trata-se de um plano fiscal de bitola estreita, como aqueles que países latino-americanos acertavam periódica e frequentemente com o FMI até pouco antes do ano 2000.
O deficit público da Grécia foi a 12,7% do PIB em 2009; o deficit externo, 12%. Quando o Brasil foi à lona, em 1998, o deficit público estava na casa de 7% do PIB. Obviamente não é apenas o tamanho do rombo que faz um país pedir água. Histórico de calotes, tamanho da dívida, seu prazo de vencimento e, em suma, a confiança dos credores são os determinantes. O deficit francês, por exemplo, foi a 8,2% em 2009; os americanos tapam seus rombos na prática "imprimindo" dólares como papel de chiclete, mas o mundo usa a dívida americana como colchão para guardar poupança.
De resto, a Grécia está na eurolândia -caso contrário, penderia no cadafalso dos mercados. Os europeus não podem deixar que um país saia do bloco monetário, desvalorizando a moeda, o que desmoralizaria o euro e, de quebra, levaria pelo menos Portugal na enxurrada e provocaria enchentes na Espanha e na Itália. Por essas e poucas outras, a Grécia não é anedota financeira da periferia europeia como a Islândia, aquele parque de diversões liberalóide.
O governo grego prometeu cortar salários e empregos no governo, reformar a previdência e o sistema de saúde público (isto é, talhar gastos) e criar uma espécie de "fundo social de emergência" de 10%. Isto é, algo semelhante à "desvinculação de receitas da União" aqui no Brasil, coisa criada nos anos FHC e que dura até hoje, um dinheiro que sai do cofre para bancar superavit primários.
O governo ainda aumentou o imposto sobre combustíveis e, pelo andar da carruagem, ainda não muito evidente, vai reprimir aumentos de salários no setor privado também. O deficit do governo grego tem de cair para 3% do PIB até 2012. Em troca, virá ajuda da União Europeia. Mas o arrocho pode dar em algum tumulto.
A Grécia, embora bem mais rica que o Brasil, é o canto pobre da eurolândia à leste (no oeste, é Portugal). Isso significa que o colchão social é mais fininho. A economia deve ficar estagnada outra vez neste ano. A esquerda tem ainda alguma força, em especial nos sindicatos, os estudantes têm tradição de protesto pesado.
No final de 2008, houve greve geral e morte na rua. Foi quando o então líder da oposição, o socialista George Papandreou, dizia "chega desse governo que não entende os problemas do país". Os socialistas venceram a eleição de 2009 e Papandreou se tornou o premiê que vai baixar o arrocho. O mercado gostou da promessa e parou de vender papéis gregos. Portugal, 9,3% de deficit público, virou a bola europeia da vez. O ambiente no mercado mundial está mais azedo. Há o ruído europeu, rumor sobre contínua estagnação no mercado de trabalho americano, sustos e corrida a cada anúncio de aperto monetário na China.
As Bolsas americanas estão no pior nível desde outubro. Sentimos essas marolas por aqui, com estrangeiros dando uma breve escapada de papéis brasileiros -breve por ora. De mais importante, a marola bate no dólar. O que não pega bem quando se começa a discutir inflação e alta de juros.
Luiz Paulo Vellozo Lucas:: Alunos do velho guerreiro
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
O governo transformou uma boa notícia em problema e vendeu a ideia de que todos os gargalos do país serão resolvidos com o pré-sal
Os números da rápida e acentuada deterioração das contas externas brasileiras são alarmantes e põem ainda mais luz sobre os efeitos danosos da mudança do marco regulatório do pré-sal patrocinada pelo governo do PT, sobretudo neste momento em que o Congresso Nacional retoma as suas atividades.
No ano passado, pela segunda vez consecutiva, o país voltou a ter deficit nas suas transações com o exterior.
Segundo dados do Banco Central, o rombo chegou a US$ 24,3 bilhões, o equivalente a 1,55% do PIB.
Agora em 2010, as contas externas brasileiras devem amargar um saldo negativo de US$ 47,5 bilhões, o pior da história, segundo a última projeção do relatório Focus. Para 2011, a expectativa é de novo recorde: US$ 59,5 bilhões.
O sucessivo rombo resulta da queda expressiva nos saldos da balança comercial e na elevação do deficit da conta de serviços e rendas, sobretudo pela maior remessa de lucros e dividendos pelas empresas multinacionais para suas matrizes no exterior.
Outro item é a redução nos investimentos estrangeiros diretos no Brasil. De modo geral, o deficit nas transações correntes é compensado pela entrada de investimento produtivo.
Sem o empuxo das exportações, ficamos na dependência do ingresso de capitais para investimento, empréstimos ou aplicações em Bolsa para que as contas fechem.
Ocorre que os investimentos estrangeiros diretos no Brasil caíram acentuadamente em 2009.
De acordo com os dados BC, foram US$ 25,9 bilhões, com queda de 42,4% na comparação com o ano anterior. Logo após o anúncio da descoberta das reservas da camada pré-sal, o governo retirou da nona rodada de licitação de blocos da ANP as áreas do pré-sal localizadas nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo.
A decisão, ainda em 2007, paralisou os investimentos no setor e impediu que expressivos recursos entrassem no país. Dinheiro que agora seria muito bem-vindo para fechar as contas do país com o exterior.
Em outras palavras, o governo conseguiu transformar uma boa notícia em um problema e ainda vendeu para a população a ideia de que todos os gargalos do país serão resolvidos com os recursos do pré-sal.
É a tática do governo Lula de seguir à risca o bordão do Chacrinha: "Vim para confundir, e não para explicar".
Como tudo o que diz respeito ao pré-sal é grandioso e impreciso, as estimativas dão conta de que a exploração das reservas necessita de investimentos da ordem de US$ 600 bilhões a US$ 1 trilhão, algo entre 40% e 60% do PIB do ano passado. Acontece que ninguém do governo sabe dizer de onde virá esse dinheiro.
Outro ponto fundamental é que, no futuro, quando o petróleo adormecido a mais de 6.000 metros de profundidade virar riqueza monetária, esses recursos devem ser bem geridos.
Essa riqueza toda pode, sim, fazer do país um importante gestor de ativos. Estou falando do dinheiro do povo e das futuras gerações. É fundamental que esse dinheiro seja bem gasto e não se esvaia em benesses para a "companheirada".
É razoável pensar que o Estado brasileiro (independente do governo de plantão) acumule de US$ 1 trilhão a US$ 2 trilhões nas próximas duas décadas caso consiga atrair os investimentos necessários para a exploração do pré-sal.
Diante desse volume de recursos, não seria saudável para a economia gastar esse dinheiro à medida que entrar nos cofres públicos, ao contrário do que parece estar tentado a fazer o governo. Isso inundaria a economia de dólares, causando a chamada doença holandesa.
O ideal seria a criação de um autêntico fundo soberano, em dólares e aplicado no exterior, para gastar no país apenas o rendimento desses recursos. Isso nada tem a ver com o fundo já criado pelo atual governo, em reais e formado a partir de títulos da dívida pública. Na prática, um fundo submergente para mais um truque fiscal.
O gasto de 3% ao ano desse montante equivaleria ao saldo em conta corrente. Mais uma vez, a lógica seria inversa à do modelo petista, que também criou um fundo soberano, só que com recursos fiscais.
De novo, seguiram a máxima do velho guerreiro.
Luiz Paulo Vellozo Lucas é deputado federal pelo PSDB-ES e presidente do Instituto Teotônio Vilela.
O governo transformou uma boa notícia em problema e vendeu a ideia de que todos os gargalos do país serão resolvidos com o pré-sal
Os números da rápida e acentuada deterioração das contas externas brasileiras são alarmantes e põem ainda mais luz sobre os efeitos danosos da mudança do marco regulatório do pré-sal patrocinada pelo governo do PT, sobretudo neste momento em que o Congresso Nacional retoma as suas atividades.
No ano passado, pela segunda vez consecutiva, o país voltou a ter deficit nas suas transações com o exterior.
Segundo dados do Banco Central, o rombo chegou a US$ 24,3 bilhões, o equivalente a 1,55% do PIB.
Agora em 2010, as contas externas brasileiras devem amargar um saldo negativo de US$ 47,5 bilhões, o pior da história, segundo a última projeção do relatório Focus. Para 2011, a expectativa é de novo recorde: US$ 59,5 bilhões.
O sucessivo rombo resulta da queda expressiva nos saldos da balança comercial e na elevação do deficit da conta de serviços e rendas, sobretudo pela maior remessa de lucros e dividendos pelas empresas multinacionais para suas matrizes no exterior.
Outro item é a redução nos investimentos estrangeiros diretos no Brasil. De modo geral, o deficit nas transações correntes é compensado pela entrada de investimento produtivo.
Sem o empuxo das exportações, ficamos na dependência do ingresso de capitais para investimento, empréstimos ou aplicações em Bolsa para que as contas fechem.
Ocorre que os investimentos estrangeiros diretos no Brasil caíram acentuadamente em 2009.
De acordo com os dados BC, foram US$ 25,9 bilhões, com queda de 42,4% na comparação com o ano anterior. Logo após o anúncio da descoberta das reservas da camada pré-sal, o governo retirou da nona rodada de licitação de blocos da ANP as áreas do pré-sal localizadas nas bacias de Santos, Campos e Espírito Santo.
A decisão, ainda em 2007, paralisou os investimentos no setor e impediu que expressivos recursos entrassem no país. Dinheiro que agora seria muito bem-vindo para fechar as contas do país com o exterior.
Em outras palavras, o governo conseguiu transformar uma boa notícia em um problema e ainda vendeu para a população a ideia de que todos os gargalos do país serão resolvidos com os recursos do pré-sal.
É a tática do governo Lula de seguir à risca o bordão do Chacrinha: "Vim para confundir, e não para explicar".
Como tudo o que diz respeito ao pré-sal é grandioso e impreciso, as estimativas dão conta de que a exploração das reservas necessita de investimentos da ordem de US$ 600 bilhões a US$ 1 trilhão, algo entre 40% e 60% do PIB do ano passado. Acontece que ninguém do governo sabe dizer de onde virá esse dinheiro.
Outro ponto fundamental é que, no futuro, quando o petróleo adormecido a mais de 6.000 metros de profundidade virar riqueza monetária, esses recursos devem ser bem geridos.
Essa riqueza toda pode, sim, fazer do país um importante gestor de ativos. Estou falando do dinheiro do povo e das futuras gerações. É fundamental que esse dinheiro seja bem gasto e não se esvaia em benesses para a "companheirada".
É razoável pensar que o Estado brasileiro (independente do governo de plantão) acumule de US$ 1 trilhão a US$ 2 trilhões nas próximas duas décadas caso consiga atrair os investimentos necessários para a exploração do pré-sal.
Diante desse volume de recursos, não seria saudável para a economia gastar esse dinheiro à medida que entrar nos cofres públicos, ao contrário do que parece estar tentado a fazer o governo. Isso inundaria a economia de dólares, causando a chamada doença holandesa.
O ideal seria a criação de um autêntico fundo soberano, em dólares e aplicado no exterior, para gastar no país apenas o rendimento desses recursos. Isso nada tem a ver com o fundo já criado pelo atual governo, em reais e formado a partir de títulos da dívida pública. Na prática, um fundo submergente para mais um truque fiscal.
O gasto de 3% ao ano desse montante equivaleria ao saldo em conta corrente. Mais uma vez, a lógica seria inversa à do modelo petista, que também criou um fundo soberano, só que com recursos fiscais.
De novo, seguiram a máxima do velho guerreiro.
Luiz Paulo Vellozo Lucas é deputado federal pelo PSDB-ES e presidente do Instituto Teotônio Vilela.
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