quarta-feira, 9 de agosto de 2023

Elio Gaspari - Tarcísio na pedagogia da enrolação

O Globo

O governador tem preparo e sabe do que está falando

Depois do anúncio de uma iniciativa desastrada para levar a pedagogia da rede pública de ensino de São Paulo para plataformas digitais, o governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, pareceu ter corrigido o curso, anunciando:

— Nós vamos encadernar [o material] e entregar impresso, encadernado. Ou seja, se o aluno quiser estudar digitalmente, ele vai poder, se ele quiser estudar no conteúdo impresso, ele também vai ter essa opção.

Se Tarcísio tivesse chegado ao governo de São Paulo depois de ter feito fama plantando couve, essa declaração seria aceitável. Ele foi um aluno estelar do Instituto Militar de Engenharia. Depois foi um administrador severo na faxina do Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes e um correto ministro da Infraestrutura durante o governo Bolsonaro. Com essas credenciais, sabe do que está falando e, por saber, passou da pedagogia da truculência para a da enrolação.

Bernardo Mello Franco - A República dos patetas

O Globo

Lorotas de Anderson Torres e artimanhas de Mauro Cid combinam com espírito do governo Bolsonaro

Anderson Torres disse à CPI que a minuta do golpe era “imprestável” e seria jogada no lixo. Então por que o documento estava guardado no armário de seu quarto? “Por mero descuido”, respondeu o ex-ministro de Jair Bolsonaro.

Em depoimento nesta terça, o delegado abusou das histórias da carochinha. Sem corar, repetiu a conversa de que não entregou o celular à polícia porque teria perdido o aparelho na Flórida. O bolsonarista deveria cuidar da segurança de Brasília, mas voou para a Disney às vésperas dos atos golpistas.

Luiz Carlos Azedo - Deficit aumenta 30% enquanto Lira não vota o arcabouço fiscal

Correio Braziliense

Com a corda no pescoço, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, negocia o texto do novo arcabouço com o relator na Câmara dos Deputados, Claudio Cajado (PP-BA)

O governo Lula fechará 2023 com deficit primário de R$ 136,2 bilhões, equivalente a 1,3% do Produto Interno Bruto (PIB), 30% pior que o rombo previsto em março, de R$ 107,6 bilhões (1,0% do PIB), segundo estimativas da sua própria equipe econômica. A consequência imediata é a necessidade de bloqueio de verbas discricionárias nesse valor, uma vez que as regras do teto de gastos continuam em vigor. Ou seja, o governo terá de contingenciar gastos que não são obrigatórios, o que terá impacto nas políticas sociais e obras públicas.

O Orçamento deste ano estima um deficit fiscal de R$ 228,1 bilhões, rombo que o atual ministro da Fazenda, Fernando Haddad, prometeu diminuir com medidas de recomposição de receitas e corte de gastos. A meta era reduzir o deficit do ano em torno de R$ 100 bilhões. Essa situação compromete o lançamento de projetos do governo, como o novo Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), e aumenta o poder de barganha da Câmara dos Deputados, que empurra com a barriga a aprovação do novo arcabouço fiscal.

Fernando de la Cuadra - La policía brasileña opera como una máquina de exterminio

¿Cuantos más necesitan morir para que esta guerra acabe?

Marielle Franco, un día antes de ser asesinada

En la última semana, tres masacres cometidas por miembros de la Policía Militar y la Policía Civil de los Estados de Sao Paulo, Rio de Janeiro y Bahía, pusieron nuevamente en discusión la fuerza desmedida de que hacen uso las fuerzas policiales del país. Hasta el momento, por lo menos 45 personas fueron ultimadas en operaciones realizadas en esos Estados, aunque el número puede subir de acuerdo a defensores de los Derechos Humanos que siguen recabando informaciones sobre las víctimas. [1]

En los tres casos, por relatos de habitantes de esas comunidades se sabe de situaciones en que pobladores y trabajadores desarmados fueron fusilados sumariamente por la policía, sin derecho a legítima y amplia defensa. Solo en la ciudad de Rio de Janeiro, en lo que va de este año se han producido 33 masacres en favelas y áreas periféricas con 125 personas fallecidas. El perfil de la mayoría de los muertos o presos en estos “enfrentamientos” es el mismo: son jóvenes, pobres y negros.

Fernando Exman - Mês crucial para as discussões econômicas

Valor Econômico

Atual momento da economia brasileira demanda atenção

Viabilizado em grande parte pela credibilidade que o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, construiu nos últimos meses no setor privado e no Congresso, o atual momento da economia brasileira demanda atenção. Agosto será crucial.

O mês avança carregando incertezas em relação ao texto final do novo regime fiscal, embora seu desenho geral já seja bem conhecido, à Lei de Diretrizes Orçamentárias de 2024 e ao Orçamento do ano que vem. O Senado começa agora a debater a reforma tributária e o projeto que retoma o voto de qualidade do Conselho Administrativo de Recursos Fiscais (Carf), medidas fundamentais para se avaliar a sustentabilidade das contas públicas a longo e curto prazos, respectivamente.

Lu Aiko Otta - Para Mello, chegou a hora de fazer gol

Valor Econômico

Equilíbrio orçamentário depende em grande parte da aprovação da lei que devolve ao governo o voto de desempate no Carf

Palmeirense roxo, o secretário de Política Econômica, Guilherme Mello, avalia que o campo de defesa do governo foi organizado no primeiro semestre e que chegou a hora de fazer gols. Para o ataque, conta, foram escaladas duas novidades: o plano de transição ecológica, a ser anunciado nas próximas semanas, e a neoindustrialização. São, na sua visão, iniciativas capazes de mobilizar investimentos e impulsionar o desenvolvimento do país.

As duas iniciativas dialogam com o campo defensivo construído ao longo do primeiro semestre: de um lado, a reconstituição de políticas sociais, a valorização do salário mínimo, o Brasil Sorridente, o Luz para Todos, o Minha Casa, Minha Vida. São iniciativas que contribuem para a geração de emprego e renda, comentou. De outro, medidas para ajustar as contas públicas, como o pacote para elevar receitas lançado em janeiro e a proposta do arcabouço fiscal.

Zeina Latif - Precisamos fortalecer o foco do Estado no cidadão

O Globo

É necessário um funcionalismo preparado, e um conjunto de regras que provejam flexibilidade à administração pública

A qualidade da burocracia estatal é um ingrediente essencial para o sucesso da ação do Estado, podendo se traduzir em maior crescimento econômico dos países, havendo evidência empírica nessa direção*.

Os alicerces são a meritocracia no recrutamento e no progresso na carreira, com utilização de incentivos corretos, e o devido accountability (monitoramento, prestação de contas e responsabilização). É necessário englobar desde os formuladores de diretrizes de políticas públicas até os servidores que atendem diretamente o cidadão.

Esse desafio não é exclusividade do Brasil, mas aqui o quadro é bastante complexo em função da combinação de fatores como: estabilidade plena dos servidores (e não apenas para carreiras de Estado), aspecto em que o Brasil destoa da experiência mundial; regras que fortalecem o corporativismo; e marco jurídico falho, que constrange o processo decisório (“apagão da caneta”).

Nilson Teixeira* - Céu azul com nuvens pesadas adiante

Valor Econômico

Falta de perspectiva de uma transformação estrutural mais profunda na economia justifica as nuvens carregadas no horizonte

A percepção dos participantes de mercado sobre os fundamentos domésticos melhorou bastante no decorrer deste ano em função das trajetórias mais benignas da atividade e da inflação, bem como da diminuição dos riscos fiscais e políticos mais adversos.

O PIB do 1º trimestre foi maior do que o projetado, elevando a mediana das projeções de crescimento em 2023 de 0,8% no fim do ano passado para os atuais 2,3%. Apesar de a inflação IPCA seguir a dinâmica antecipada, com os 2,9% acumulados no 1º semestre similares à previsão formulada no fim de 2022, a projeção para 2023 recuou para 4,8%, após ter alcançado 6,1% em abril. As expectativas de inflação para 2024, 2025 e 2026 também retrocederam para, respectivamente, 3,9%, 3,5% e 3,5%.

Vera Magalhães - O negacionismo ‘apenas complementar’

O Globo

Autorização a ozonioterapia não é amparada por explicação técnica ou política e serve apenas para atiçar opositores de Lula

A decisão do presidente Lula de sancionar uma lei que autoriza o emprego de ozonioterapia no Brasil, a despeito de não haver nenhuma comprovação científica de sua eficácia e, pelo contrário, de existirem muitas evidências de que ela pode ser maléfica, parece se amparar no adendo de que seu uso será “apenas complementar”.

É como se essa expressão marota redimisse Lula e o governo de chancelar o mais acabado negacionismo — que, se já não fosse indefensável do ponto de vista científico, se mostra um desastre sob o aspecto político, uma vez que foi justamente a ozonioterapia uma das mandracarias vendidas pelo bolsonarismo no auge da pandemia de Covid-19, num discurso que negava a eficácia de vacinas, máscaras e distanciamento social na outra ponta.

Paulo Delgado* - O semelhante cura o semelhante

O Estado de S. Paulo

A gloriosa inventividade da medicina popular não é cativa do jugo bruto do poder médico, embora sofra ataque de quem se dispõe a desmoralizar a medicina milenar

Adeptos da homeopatia, a Rainha Elizabeth, Paul McCartney e Bill Clinton são sua melhor propaganda. Tente supor quais as principais manchetes médicas da última edição da imprensa mundial com o necrológio da vida na Terra derretida pelo calor. Certamente, se resumiriam a cinco boas notícias sobre saúde dos últimos 3 mil anos: Nasceu a acupuntura; Descobriram a homeopatia; Inventaram a psicanálise; Criaram a penicilina ; Transplantaram um coração.

Originado em sistemas humanistas cuja vocação é se dedicar a escutar o sofrimento e ajudar as pessoas a restabelecer a saúde, sem as distrações que a medicina biotecnológica produziu no corpo e na mente, só deveria ser permitido o exercício da medicina a quem confia na energia vital do corpo posta em liberdade para agir sobre as moléstias. A pretensão obsessiva de curar você de si mesmo que a medicina industrial pratica é uma boa oportunidade para se decepcionar com quem a defende. Médico é quem se recusa a ver um só sintoma e não anula a missão do corpo e do desejo de viver e vencer os fenômenos mórbidos que cercam nossa vida.

Fábio Alves - O teste do IPCA

O Estado de S. Paulo

A nova postura do Banco Central será testada com a divulgação da inflação de julho

Não são poucos os analistas que acreditam que o Banco Central correu um risco em termos de credibilidade da política monetária ao cortar a taxa Selic em 0,50 ponto porcentual, apesar de a sua projeção de inflação para 2024 ter se mantido inalterada em 3,4%, acima da meta de 3%, e ainda considerando como premissa uma redução menor dos juros, de 0,25 ponto, na reunião do Copom da semana passada.

Em outras palavras, o BC minimizou o peso que sempre deu para sua expectativa de inflação para definir os próximos passos da política monetária, preferindo agora, talvez, dar maior importância aos dados correntes de inflação, além de indicadores de atividade.

J. B. Pontes* - Aposentadoria compulsória de juízes: punição ou prêmio?

Existem no Brasil três categorias de servidores públicos que constituem verdadeiras castas aristocráticas: juízes, a elite política e os generais. O Brasil, um país de pobres, caracterizado como um dos mais desiguais do mundo, tem o judiciário e o parlamento entre os mais caros do mundo.

Nas Forças Armadas, os privilégios e benefícios são reservados aos oficiais, especialmente aos generais ou patentes similares, criando um enorme fosso relativamente aos praças (sargentos, cabos e soldados). A democracia instituída pela Constituição de 1988 passou longe da caserna.

O Congresso brasileiro é o segundo mais caro do mundo, ficando atrás apenas dos Estados Unidos. E este elevado custo se deve, principalmente, aos privilégios extraordinários concedidos pelo Estado a estas estruturas aristocráticas de poder, o que representa uma evidente corrupção aos princípios basilares de um Estado democrático.

Wilson Gomes* - As vaquinhas improdutivas de Zema

Folha de S. Paulo

Governador ilustrou o sentimento do Norte e Nordeste de que só Lula os defende

Se Romeu Zema queria puxar a brasa para a sardinha de Lula e colocar mais obstáculos eleitorais no caminho da direita, além de projetar uma luz ruim sobre o consórcio de estados do Sul e do Sudeste, foi muito exitoso na entrevista que deu a Monica Gugliano e Andreza Matais, de O Estado de S. Paulo.

O curioso da história é que ele se vende como um sujeito que reconhece que ser eficaz na gestão e na articulação política pode não bastar sem uma estratégia de comunicação bem planejada e muito bem executada. Chega a exagerar na ponderação entre entregas políticas e comunicação no cálculo do sucesso eleitoral, como quando diz que Bolsonaro teve a eleição passada "totalmente na mão", tendo-a perdido apenas no discurso, na retórica, na polêmica. O governo Bolsonaro teria sido bom, nota 8, mas uma comunicação presidencial ruim pôs tudo a perder.

Do mesmo modo, o seu juízo acerca da esquerda é sobre um fracasso no desenvolvimento, compensado por retumbante sucesso na propaganda. Na prática, a esquerda nada tem, segundo ele, mas na comunicação ela rouba a admiração do governador, que não poupa expressões como "canto da sereia", "discurso sedutor" e "lavagem mental".

Bruno Boghossian - Os beneficiários do golpismo

Folha de S. Paulo

Virada de mesa manteria no poder Bolsonaro e seus aliados, mas isso deve ser só coincidência

Anderson Torres respirava golpismo. Como ministro da Justiça, participou da live de 2021 em que Jair Bolsonaro lançou suspeitas falsas sobre as urnas. Como conselheiro, frequentou o bunker instalado no Alvorada após a derrota na eleição e guardou um documento elaborado para virar a mesa. Como secretário de Segurança, acobertou a ameaça de invasão da praça dos Três Poderes.

A atuação diligente de Torres no bolsonarismo transformou seu depoimento na CPI do 8 de janeiro numa exibição de cinismo. O ex-ministro descreveu os ataques como um episódio imprevisto, tratou como maluquice algumas ideias que circulavam em seu próprio grupo político e tentou transferir responsabilidades para o campo adversário.

Bolsonaro fabricou por anos o combustível para uma revolta contra o resultado da eleição. Críticos e opositores levaram o risco a sério, assim como a turma em frente aos quartéis (além de grupos lá dentro). Mas Torres reproduz uma linha de defesa fantástica, em que os únicos céticos e inocentes seriam justamente os beneficiários de um golpe.

Mariliz Pereira Jorge – Lula tem sorte

Folha de S. Paulo

Parte do eleitorado de Lula jamais contestará suas decisões

A notícia da aprovação da ozonioterapia como tratamento complementar de saúde teve gosto de déjà-vu. Uma volta a 2020, quando Jair Bolsonaro montou um gabinete anticiência paralelo, demonizava as vacinas, e oferecia cloroquina até às emas do Palácio da Alvorada.

Mas, ao contrário do que houve na pandemia, quando a população estava ligada em todas as ações do abestado que comandava o país, a comoção pelo negacionismo de Lula tem sido pífia. Sim, negacionismo. O presidente ignorou a recomendação de entidades médicas, da Anvisa e da ministra da Saúde, Nísia Trindade.

Hélio Schwartsman - Gambiarras literárias

Folha de S. Paulo

Quem lê em papel retém melhor as informações aprendidas

Trocar inteiramente livros didáticos físicos por produtos digitais nunca foi uma boa ideia. Ainda que a tecnologia possa tornar as aulas mais atraentes, incorporando rico material de apoio, há uma montanha de evidências empíricas mostrando que a leitura em papel é mais eficaz do que a em tela. No suporte tradicional, o leitor dedica mais atenção à atividade e retém melhor as informações aprendidas.

Não é um efeito muito forte, mas ele aparece de forma consistente na maior parte dos estudos. Os livros da neurocientista Maryanne Wolf sobre o assunto são uma excelente fonte de dados e interpretações.

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

BC delimita ritmo e alcance do ciclo de redução de juros

Valor Econômico

Não haverá intensificação do ritmo de queda da Selic sem que ocorram “surpresas positivas substanciais”

A ata da reunião do Comitê de Política Monetária que decidiu um impulso inicial mais potente para o ciclo de flexibilização monetária também delimitou seu ritmo e alcance. No plano de voo do Banco Central, não há hoje motivos para se esperar que os ajustes determinados de 0,5 ponto percentual para as próximas reuniões sejam mais intensos. Por outro lado, a política monetária seguirá contracionista até que a inflação atinja a meta, isto é, os juros reais permanecerão algo acima da taxa neutra, de 4,5%, indicando que a taxa Selic pode encontrar seu limite de baixa ao redor de 8%-8,5%, caso não haja mudanças positivas relevantes no cenário prospectivo.

Poesia | Pablo Neruda - Saudade

 

Música | | Aracy de Almeida - São coisas nossas (Noel Rosa)