- Valor Econômico
Fraquejada pode gerar oposição à direita
Na brecha que se abre entre o bolsonarismo e o lavajatismo, situações há pouco tempo inimagináveis começam a ganhar concretude. Estudiosa há seis anos do perfil dos manifestantes de rua no Brasil, a antropóloga Isabela Kalil, da Fundação Escola de Sociologia e Política de São Paulo (Fesp) identificou no domingo traços de que ganha corpo um núcleo que está à direita de Jair Bolsonaro.
Sim, no universo ultraconservador brasileiro, há os que pensam que o presidente não é radical o suficiente. Isabela já havia apontado a existência deste núcleo nos últimos meses, em entrevista à repórter Carolina Freitas publicada no Valor no mês passado. Ele ganhou um desenho mais nítido com a sequência de acontecimentos nas últimas semanas que levaram o presidente a reduzir notavelmente seu nível de atrito com o presidente do Supremo Tribunal Federal e com os presidentes das casas legislativas, em um contexto em que Sergio Moro foi enfraquecido com a perda do Coaf e a intervenção branca na Polícia Federal.
As manifestações do domingo foram mais discretas do que as anteriores. Não foram registradas em todos os Estados, como as demais, por exemplo, mas em 21 deles. A vertente anti-institucional, a favor do fechamento do Supremo e da tal intervenção militar constitucional, lá estava. O grupo de faixa etária mais baixa, menos ideologizado e centrado na veneração do "mito" teve representação menor.
Uma parcela importante de quem ficou na rua até agora defende mais ideias e não uma pessoa. A sanção presidencial do projeto de lei de abuso de autoridade, que deverá vir acompanhada de alguns vetos, ganha assim importância direta na engrenagem bolsonarista.