sábado, 24 de julho de 2010

Reflexão do dia – Raimundo Santos


Quem viveu no Chile de Allende, lembra da insistência do Partido Comunista na questão do crescimento produtivo a ponto de sair às ruas de Santiago empunhando a bandeira de luta “A ganhar a batalha da produção”. Aqueles comunistas liderados por Luiz Corvalán percebiam que o encaminhamento do processo reformista-democrático da Unidade Popular dependia da questão econômica. Para eles, vencer a batalha da produção tornava-se decisivo conquanto traria mais empregos, distribuição de renda e melhoria de vida dos chilenos. Notavam ainda que a resolução favorável da questão econômica impedia que o desabastecimento se convertesse em arma da conspiração golpista. Recordo que, nas ruas de Santiago, a palavra de ordem “A ganhar a batalha da produção” soava estranha ao clima de polarização ideológica que então se vivia no Chile. Veio-me essa lembrança ao ler na imprensa a recente declaração de Serra chamando-se de “Presidente da produção”. Aqui, nesta nossa outra circunstância, o grande empenho pelo crescimento econômico, custoso e que leva tempo, também é central. Se lá no Chile dividido ao meio pela radicalização, a consigna dos comunistas parecia estranha, aqui a “batalha da produção” brasileira é reconhecida como questão estratégica para termos um futuro próximo economicamente estável com mais oportunidades para todos. O difícil é convertê-la, na disputa eleitoral, em motivo convincente e mobilizador.



Raimundo Santos, a propósito da declaração de José Serra á imprensa no dia 20/07/2010.

Apoios e problemas :: Marco Aurélio Nogueira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

É compreensível o empenho do presidente Lula para fazer de Dilma Rousseff a próxima governante do País. Deveria haver menos calor moralizante nas acusações que a ele se fazem.

Afinal, não há ocupante de cargo de comando que não queira ver em seu lugar, na impossibilidade de nele continuar, alguém que lhe suceda de modo positivo, isto é, como continuidade, sem ajustes de contas e com os devidos encômios. Quem está prestes a sair de um cargo se move pela pretensão de projetar nele uma sombra, sente-se responsável pelo que virá. Faz isso mesmo sabendo que depois, passados os primeiros meses do novo governo, o sucessor dele se distanciará, ou para alçar voo próprio, ou para corresponder às mudanças de conjuntura ou de correlação de forças.

Todo governante enfrenta esse dilema quando se aproxima o desfecho de seu mandato. Para ajudá-lo a não cair em tentação os Estados republicanos se valem de mecanismos de controle e moderação - no caso brasileiro, os tribunais eleitorais, por exemplo -, bem como da disseminação, na população e especialmente na classe política, de uma cultura específica e de uma ética pública, imune a invasões espúrias ou particularistas.

Certos aspectos da conduta de Lula estão associados a essa relação do governante com o Estado. Não são de ordem moral. São éticos e políticos.

Um deles é o da transgressão da legislação eleitoral, que veta o uso da máquina pública (e, portanto, da palavra, dos atos e do gestual do presidente) para promover e favorecer candidaturas ou coalizões eleitorais. Indiferente aos rigores e às penas da lei, Lula tem sido recorrente na violação das regras e dos limites legais. Foi advertido e multado, pediu desculpas, mas não se abalou. Sua campanha em favor de Dilma ultrapassou a dimensão republicana que se espera seja considerada por qualquer executivo público.

Esse é um item já bastante destacado pela crônica política. Não é o caso de explorá-lo ainda mais ou de submeter o presidente a um tribunal. Mas dele derivam duas consequências principais, que precisam, no mínimo, ser consideradas.

A primeira é a banalização da lei, a disseminação de uma imagem de que a lei só vale para os outros, de que sempre se pode dar um jeito de escapar de suas restrições. Lula dá um péssimo exemplo ao País, que fica ainda pior por vir do alto, de uma liderança que goza de extraordinário prestígio e popularidade. Ele, a rigor, não precisaria se dar a tais exageros. Poderia preservar-se e com isso transferir mais valor para nossa República. Seria aplaudido por todos. Como se costuma dizer, é de cima que devem vir os melhores exemplos. Ou, nas palavras de Marina Silva, candidata do PV, "quanto mais amigo do rei, mais alta é a forca".

Lula tem-se incomodado com o que julga ser um cerco à sua liberdade de opinião e ação, uma tentativa de inibi-lo para que "finja não conhecer" sua candidata. "Há uma premeditação para me tirarem da campanha para impedir que eu ajude a Dilma", disse ele dias atrás. Parece não levar na devida conta certas obrigações do cargo que ocupa.

A segunda consequência é a fragilização da candidatura Dilma. Ela vem ganhando impulso sem se desvencilhar da acusação de que não consegue andar com as próprias pernas - de que é uma marionete do presidente ou mera criação de marketing, alguém cercado de dúvidas e indefinições. A recente frase da candidata a esse respeito só faz pôr mais lenha na fogueira: "Sou produto feito pelo governo do presidente Lula, um dos maiores governos que este país já teve."

Pode-se ponderar o quanto for, mas a fragilidade da candidata de Lula é real e subsistirá enquanto ela não revelar seus próprios recursos, em suma, mostrar-se de corpo inteiro, sem suportes externos ou maquiagem.

Não é difícil imaginar quantos governantes foram eleitos, aqui e no mundo, com apoios ostensivos de líderes prestigiosos. Apesar disso, nem sempre conseguiram fazer bons governos. Muitos foram fracos, confusos, anódinos, como se se ressentissem da saída de cena daqueles que lhes deram vida. Talvez não tenham causado maiores estragos em suas sociedades. Mas certamente contribuíram negativamente tanto para a instituição governo quanto para a própria governança. Fizeram com que seus países ficassem girando em círculos, sem resolver seus problemas e sem definir um rumo para o futuro.

Não se pode dizer que Dilma Rousseff, se eleita, venha a ser uma presidente fraca. Não há elementos cabais que atestem ou sugiram isso. Mas também não há nada, até agora, que diga o contrário, ou seja, que comprove sua independência, sua capacidade e sua liderança. O fato de ter por trás dela o apoio dedicado de Lula e do PT não lhe concede nenhuma virtude adicional. Esta ela terá de mostrar na prática, quer dizer, indo à luta com os próprios recursos. O discurso continuísta é confortável, mas insuficiente. E a pressão presidencial a seu favor distorce a democracia eleitoral.

A boa prática de um governante não começa somente quando se inicia seu governo. Começa antes: na sua biografia política, nos apoios que é capaz de agregar, em seu preparo técnico e também no modo como conduz a campanha que o levará ao cargo. Não se trata de exibir "experiência administrativa", mas de fixar uma imagem de autonomia, coerência e consistência.

A democracia, aliás, espera que todos os candidatos a postos executivos demonstrem ter ideias próprias, capacidade pessoal de liderar o sistema político e de interpelar a sociedade, força magnética para articular apoios e imprimir novos rumos ao país, determinação para fazer frente aos interesses poderosos que tentam retirar soberania do Estado. É essa exigência democrática que continua a dar aos governantes condições de governar com os olhos no conjunto da população e especialmente naqueles que são mantidos em níveis indignos de subsistência e exploração.



Professor titular de Teoria Política da UNESP.

Omitir-se perante as Farc é crime:: Clóvis Rossi

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

O que é necessário é discutir a relação do grupo com o narcoterrorismo em escala mundial

Se verdadeira, é risível a intenção do governo brasileiro de deslocar da OEA (Organização dos Estados Americanos) para a Unasul (União Sul-Americana de Nações) o debate sobre o conflito entre a Colômbia e a Venezuela.

Risível porque a Unasul está até mais paralisada do que a OEA, justamente pela absoluta incapacidade de interferir no conflito, todas as vezes que alguma de suas facetas foi levada à instituição sul-americana.

A única coisa realmente séria a fazer nesse caso é exigir do presidente Hugo Chávez que se defina claramente a respeito de suas relações com as Farc (que involuiu de guerrilha de camponeses para o narcoterrorismo).

Comecemos por mostrar a relação Farc/drogas, conforme relatado no livro "As Farc - Uma Guerrilha sem Fins?", de Daniel Pécaut, diretor de estudos na Escola de Altos Estudos em Ciências Sociais (Paris). Trata-se de uma obra tão objetiva quanto é possível ser ao lidar com assunto tão explosivo.

Escreve Pécaut que as Farc admitem apenas cobrar dos plantadores da folha de coca o "gramaje", pedágio em troca da proteção que lhes davam.

"ECONOMIA DA DROGA"

Mas na realidade vão além: fazem a intermediação entre os plantadores e os traficantes, claro que em troca de comissão; vigiam as pistas de pouso e os laboratórios clandestinos, com participação nos lucros, como é óbvio.

A partir dos anos 1990, a inserção do grupo "na economia da droga foi além em certas localidades". Em Guaviare, gerem diretamente a produção de grandes áreas de plantio, que podem chegar a quase cem hectares, bem como a venda aos traficantes.

Mais: entraram diretamente no coração do negócio, que é o processamento da folha para transformá-la em cocaína. "Desse modo, inserem-se plenamente no tráfico", conclui Pécaut.

Muito bem. Agora, vejamos o que diz Chávez desse grupo: em discurso na Assembleia Nacional de janeiro de 2008, o presidente venezuelano definiu as Farc como "forças insurgentes que têm um projeto político", às quais "é preciso dar reconhecimento".

Se merecem reconhecimento, nada mais natural que dar-lhes ajuda financeira e abrigo. É bom lembrar que a Interpol reconheceu a autenticidade de mensagens encontradas nos computadores de Raúl Reyes, líder das Farc morto em ataque colombiano a acampamento no Equador, junto à fronteira. Nelas, Reyes mencionava ajuda financeira da Venezuela, bem como sua intermediação para obtenção de armas.

O PROBLEMA É OUTRO

Tudo somado, fica claro que o problema não é a Colômbia, mas as Farc. Por extensão, é também o tratamento que os governos da região querem dar a elas. Como o narcotráfico é uma empresa global, combatê-lo exige respostas globais ou, ao menos, regionais.

É impossível dar uma resposta regional se um governo as trata como "forças insurgentes que têm um projeto político", quando, na realidade, se trata de narcoterroristas.

Não adianta o Brasil se esconder na omissão. Narcotráfico é um problema de segurança nacional. Omitir-se é ser cúmplice.

O fator Lula :: Fernando Rodrigues

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

BRASÍLIA - A nova pesquisa Datafolha, finalizada ontem, indica novo empate técnico entre os dois principais concorrentes ao Palácio do Planalto. No final de junho, José Serra (PSDB) tinha 39% contra 37% de Dilma Rousseff (PT). Agora, o tucano aparece com 37% e a petista tem 36%. Como a margem de erro é de dois pontos percentuais, os dois não saíram do lugar do ponto de vista estatístico.

O que aconteceu de relevante na política nacional desde o final de junho? Nada, exceto fatos com repercussão na micropolítica. Por exemplo, houve o caso do candidato a vice-presidente na chapa tucana, o deputado Indio da Costa, acusando o PT de ligações com o narcotráfico. Também ficou cada vez mais evidente a ocorrência de um crime na quebra do sigilo fiscal do dirigente do PSDB Eduardo Jorge. Ficou próxima de zero a influência desses episódios na massa de 135 milhões de eleitores.

O mais notável nos últimos cerca de 20 dias foi não ter havido propaganda de TV para nenhum candidato. Dilma e Serra passaram a seco. Nas últimas semanas, foram eles mesmos, órfãos das luzes e da assepsia dos comerciais.

A propaganda eleitoral em rádio e TV só começa na segunda quinzena de agosto. A lógica até agora foi simples: 1) Serra ficou, apesar de variações sazonais, com uma pontuação média próxima de 35%; 2) Dilma cresceu nas pesquisas todas as vezes em que apareceu de maneira intensa ao lado de Lula.

A pesquisa Datafolha de hoje reforça a lulo-dependência de Dilma e a incapacidade de Serra de ampliar seus percentuais -afinal, o tucano nunca caiu muito, mas jamais subiu de forma robusta depois de se expor na TV.

A disputa segue aberta. A ausência de Lula nas TVs ao lado de Dilma será suprida em agosto. No início de setembro, será possível saber se a petista mantém sua curva ascendente ou se a transferência lulista chegou perto do teto.

Debates na TV :: Cesar Maia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Criou-se uma certa mitologia sobre os debates na TV entre candidatos a presidente.Os fatos e os estudos realizados não comprovam a importância eleitoral deles.

O primeiro debate na TV, que passou a ser uma referencia como ponto de partida, foi o debate entre Kennedy e Nixon em 1960. Nele, a equipe de Kennedy inaugurou os cuidados visuais com o debate, desde o melhor contraste entre o cenário e a roupa do candidato, a cor do terno e da gravata, até o sorriso leve de quem está seguro no que diz. No final até as pesquisas escorregaram e Kennedy venceu por uma diferença mínima de 120 mil votos.

Explicou-se pela "maioria silenciosa", o que seria o mesmo que dizer que não houve influência do debate no resultado final.

Várias análises mostram que, a menos que ocorra um total desastre num debate, no máximo três dias depois o efeito do debate já está dissolvido.

Por isso, nos EUA, o último debate nunca ocorre em intervalo menor que 10 dias das eleições. Esta também é a praxe na Europa. Na América Latina -e o Brasil não é exceção- esse prazo de mais de 3 dias não é observado.

O debate é apresentado como um grande espetáculo pelas emissoras de TV. Os candidatos são estressados com técnicas e táticas, caras e bocas, planejamento de perguntas e respostas, imersão para testar como reagem sob pressão.

Equipes vão aos estúdios conhecer o cenário, de forma a definir o figurino dos candidatos.

Discute-se com as emissoras de TV o posicionamento das câmeras, que não podem flutuar pela reação de um candidato enquanto o outro fala.

A audiência cresce, o que em si já é uma excelente consequência para a emissora de TV que o promove.

Quando termina o debate, são feitas pesquisas sobre vitorioso e derrotado. A menos que a eleição esteja muito apertada, o resultado é sempre o mesmo: venceu o debate o que vinha como favorito nas pesquisas eleitorais.

Mas nem por isso tudo o debate na TV é inócuo. Curiosamente é mais importante pela repercussão que lhe dá a imprensa nos dias seguintes que pelo debate em si. Imagens do debate são editadas na TV. Fotos nos jornais, áudio nas rádios. Analistas comentam.

Publicitários são entrevistados.

Os eleitores, em função disso, discutem performances. Os militantes se entusiasmam e destacam os melhores momentos de seus candidatos e os piores de seus adversários.

Gafes são exaltadas. Todo um processo desencadeado pelo debate na TV e que ganha vida independente do debate.

Se fosse possível fazer o debate e nada mais, os debates seriam rigorosamente inócuos. Mas seus desdobramentos não são. Nesse sentido cabe preparar os "exércitos" para os dias seguintes ao debate. Esses podem ser relevantes.

Diogo Nogueira - Do Jeito Que Sou - Ao Vivo

Brasil é terceiro pior do mundo em desigualdade

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

ONU afirma que País tem baixa mobilidade socioeconômica e só perde para Bolívia e Haiti em diferença entre ricos e pobres

Leandro Colon / BRASÍLIA

O Brasil tem o terceiro pior índice de desigualdade no mundo e, apesar do aumento dos gastos sociais nos últimos dez anos, apresenta uma baixa mobilidade social e educacional entre gerações. Os dados estão no primeiro relatório do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) sobre América Latina e Caribe.

Segundo o estudo, a região é a mais desigual do mundo. "A desigualdade de rendimentos, educação, saúde e outros indicadores persiste de uma geração à outra, e se apresenta num contexto de baixa mobilidade socioeconômica", diz o estudo do órgão da ONU concluído neste mês.

Entre os 15 países com maior diferença de renda entre ricos e pobres, 10 estão na América Latina e Caribe. Na região, o Brasil empata com Equador e só perde para Bolívia e Haiti em relação à pior distribuição de renda. Quando outros continentes são incluídos, a Bolívia ganha a companhia de Madagáscar e Camarões no primeiro lugar, e o Haiti tem ao seu lado, na segunda posição, Tailândia e África do Sul. Para o PNUD, esses países apresentam índices "muito altos".

O relatório do órgão da ONU destaca que a maior dificuldade na América Latina é impedir que desigualdade social persista no decorrer de novas gerações.

Pobreza. "A desigualdade reproduz desigualdade, tanto por razões econômicas como de economia política", afirma trecho do documento. E os números não são nada bons para o Brasil. Cerca de 58% da população brasileira mantém o mesmo status social de pobreza entre duas gerações, enquanto no Canadá e nos países nórdicos, por exemplo, esse índice é de 19%.

"Estudos realizados em países com altos níveis de renda mostram que a mobilidade educacional e o acesso a educação superior foram os elementos mais importantes para determinar a mobilidade socioeconômica entre gerações", diz a ONU.

Pai e filho. Segundo o estudo da ONU, é baixo também o crescimento do nível de escolaridade entre pai e filho. E esse resultado é influenciado pelo patamar educacional da geração anterior.

No Brasil, essa influência chega a ser de 55%, enquanto nos EUA esse porcentual é de 21%. O Brasil, nesse quesito, perde para países como Paraguai, Panamá, Uruguai e Jamaica. O estudo do PNUD destaca que acesso a bens e serviços públicos podem ajudar a aumentar essa mobilidade educacional.

A evolução do gasto público social é destacada pelo órgão da ONU.

Gasto social. Segundo o estudo, esse tipo de despesa gira em torno de 5% do Produto Interno Bruto (PIB) na região. Entre 2001 e 2007, o gasto por habitante aumentou 30%, de acordo com o relatório, sendo que a maior parte disso concentrou-se em segurança e assistência social.

"É possível afirmar que os países da América Latina e Caribe realizaram um importante esforço para melhorar a incidência do gasto social", diz a conclusão do estudo.

O PNUD ressalta o crescimento econômico de alguns países nos dez últimos anos, entre eles o Brasil, mas faz um alerta: "Ainda que sejam evidentes os avanços no desenvolvimento humano e na diminuição da pobreza em diversos países da região, os valores agregados escondem importantes desigualdade".

Os dados apontam ainda que as mulheres e as populações indígenas e afrodescendente são os mais prejudicados pela desigualdade social na América Latina e Caribe.

No Brasil, por exemplo, apenas 5,1% dos descendentes de europeus vivem com menos de 1 dólar por dia. O porcentual sobe para 10,6% em relação a índios e afros. Mais uma vez, o PNUD lembra que os acessos a infraestrutura, saúde e educação poderiam alterar esse cenário.

Propostas. O estudo da ONU defende que é possível romper o círculo vicioso da desigualdade. Para isso, são necessárias políticas que combatam a pobreza de forma estratégica "A desigualdade é um obstáculo para o avanço no desenvolvimento humano, e sua redução deve incorporar-se explicitamente na agenda pública", diz o documento.

Com desigualdade, IDH do Brasil cai em 19%

DEU EM O GLOBO

País está na média das nações da América Latina. Queda é maior na Nicarágua (47%)

Carolina Brígido

BRASÍLIA. Se a desigualdade for considerada no cálculo do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), o coeficiente do Brasil cai em 19%, deixando o país mais distante do grupo das nações com alto nível de desenvolvimento.

A proposta de cálculo, chamada de IDH-D, foi apresentada no primeiro relatório de desenvolvimento humano sobre a América Latina e o Caribe, do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (Pnud).

Quando considerados detalhes do cotidiano do brasileiro, o IDHD é de 0,629. Sem levar em consideração o fator desigualdade, o índice é de 0,777. O IDH é considerado alto a partir de 0,8.

Em média, os países da América Latina e do Caribe diminuem em 19% o IDH quando a desigualdade entra no cálculo. A queda é maior na Nicarágua (47%), na Bolívia (42%) e em Honduras (38%). As menores perdas ocorrem em Chile, Argentina e Uruguai, que registram entre 3 e 6 pontos percentuais.

Renda das pessoas depende em 58% da renda dos pais O maior fator da desigualdade brasileira é a má distribuição de recursos. Nota-se que a renda per capita das mulheres é de US$ 7 mil e a dos homens, de US$ 12 mil. O país é menos desigual quando se trata de acesso a educação e saúde. Para o Pnud, o desenvolvimento do país não está diretamente vinculado ao crescimento, e sim à distribuição mais justa de recursos.

No Brasil, o crescimento econômico é relativamente ineficiente para acabar com a pobreza, devido à desigualdade.

É preciso melhorar a qualidade dos empregos e da educação analisa o economista do Pnud, Flávio Comim.

O estudo mostra que é baixo o nível de mobilidade social e econômica no Brasil entre gerações.

O Pnud chegou à conclusão de que a renda das pessoas depende em 58% da renda dos pais.

Em países nórdicos, essa média é de 19%. E a escolaridade de uma pessoa depende em 55% do nível da educação dos pais. Nos EUA, o índice é de 21%. Outro fator que pesa é o fato de pessoas de um mesmo nível educacional se casarem entre si.

Uma das soluções apontadas para vencer a desigualdade são as transferência de renda. O texto cita o Bolsa Família como exemplo de sucesso. Mas o estudo apresenta o Brasil como o terceiro país mais desigual do mundo, de acordo com o índice de Gini de 0,55.

PT se vale de avanços que combateu, diz Serra

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Tucano lembra que petistas foram contra Plano Real, contra a Lei Fiscal, contra o Proer, mas governaram com esses instrumentos

Evandro Fadel e Júlio Castro

O candidato à Presidência pelo PSDB, José Serra, disse ontem, em Blumenau, que o PT foi contrário a muitos dos avanços ocorridos nos últimos 25 anos no País, mas aproveitou-se eleitoralmente deles e governou com os benefícios que se seguiram.

De acordo com o tucano, a alternância no poder, embora não seja necessária dentro da democracia, neste momento se torna importante no governo federal. "Para revitalizar a ação do poder público, para criar "bala" que sustente o crescimento e o desenvolvimento, para eliminar este loteamento na máquina pública e para avançar na saúde, na segurança e na educação", acentuou.

Serra destacou que os avanços no Brasil começaram com a eleição de Tancredo Neves e seguiu-se na nova Constituição, que "ajudou a desenvolver a democracia de massa".

O presidenciável ressaltou também a mudança tributária e falou da criação do Sistema Único de Saúde (SUS), "que é importante e só depende de bom governo para funcionar bem". De acordo com ele, também foi importantes no processo a estabilização da inflação e a Lei de Responsabilidade Fiscal.

Ao Programa de Recuperação do Sistema Financeiro (Proer) ele dedicou palavras à parte. "Na época foi impopular, depois foi promovido como exemplo para o mundo pelo Lula", afirmou.

Segundo Serra, o Proer impediu a quebradeira bancária e salvou o Brasil de uma crise feia, "Eles (governo federal) não votaram no Tancredo, não homologaram, por assim dizer, a Constituição, foram contra o Plano Real, contra a Lei de Responsabilidade Fiscal, contra o Fundef, contra o Proer, mas chegaram ao governo e governaram com esses instrumentos."

Falando para uma plateia exclusivamente de militantes tucanos, Serra conclamou-os ao trabalho comparando a campanha ao vento. "Tem que soprar na campanha para criar a ventania da vitória", pediu..

Antes do encontro com os militantes, o candidato fez uma caminhada no centro de Blumenau e, depois, visitou a 17.ª Festa Italiana de Santa Catarina, na Vila Germânica.

Produção. Durante encontro com cerca de 500 empresários na sede da Federação das Indústrias de Santa Catarina (Fiesc), na capital catarinense, o candidato tucano criticou o "apagão na infraestrutura" e reafirmou que, se eleito, vai focar seu governo na produção para fortalecer a economia.

Para ele, os "indicativos da desindustrialização precisarão ser combatidos com política de valorização dos produtos e mercado e na definição de uma nova ordem tributária.

"O Brasil precisa ser nivelado por cima. É o país que tem a menor taxa de investimento governamental e vem pecando pela falta de prioridade de investimentos, mostrando-se incapaz de trazer o setor público privado para o desenvolvimento de sua estrutura", afirmou.

Sobre uma reforma tributária, disse que se trata de uma necessidade e que ela não necessariamente precisará ser feita como um "carroção". O candidato disse ainda que o atual governo nunca teve um projeto e que as mudanças na legislação tributária precisarão ser feitas. "Vamos adotar a tática da guerra. Atacar o inimigo aos poucos. Atuar com a razão, pois nada se resolve como um rolo compressor."

Serra atacou as deficiências em infraestrutura citando como exemplo a situação dos portos. Acrescentou que as condições dos aeroportos, cada vez mais congestionados, pioram com falta de estrutura.

Depois da Fiesc, o tucano seguiu para o centro da cidade, onde caminhou nas imediações do Mercado Público, um dos pontos mais populares de Florianópolis. De lá foi participar de um painel de debates promovido pelo Grupo RBS.

PSDB pede apuração sobre reunião entre Dilma e Lina Vieira

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

Mariângela Gallucci

O PSDB anunciou ontem ter pedido à Procuradoria-Geral da República que apure informação de um ex-funcionário do Palácio do Planalto segundo quem, em 2008, a então ministra da Casa Civil Dilma Rousseff teria se reunido com a secretária da Receita Federal Lina Vieira.

Segundo o PSDB, no encontro teria sido discutida uma investigação da Receita sobre a família do presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP). Lina disse no passado que foi pressionada para acabar com as apurações. Mas Dilma afirmou que o encontro não ocorreu.

Em entrevista recente à revista Veja, o técnico de informática Demétrius Felinto disse que há imagens que comprovariam o encontro, com data, hora e local. De acordo com ele, o Gabinete de Segurança Institucional teria escondido as imagens.

Na representação, o partido pede que sejam apurados "eventuais atos de improbidade administrativa a envolver a Presidência". "Sem falar no envolvimento da ex-ministra Dilma Rousseff no episódio de interferência de natureza fiscal", ressaltou o partido na representação.

Para esclarecer os fatos, segundo a representação, o Ministério Público deve requisitar os procedimentos adotados pelo GSI, bem como documentos comprovando a "suposta destruição das imagens".

Serra critica abertura comercial 'sem critérios'

DEU EM O GLOBO

Presidenciável tucano é multado em R$ 5 mil pelo TSE por propaganda eleitoral antecipada

Flávio Freire Enviado especial

FLORIANÓPOLIS e BRASÍLIA. Em encontro com empresários na Federação das Indústrias do Estado de Santa Catarina (Fiesc), o presidenciável tucano, José Serra, em tom de ironia, disse que política comercial agressiva não significa ter um presidente viajando em aviões emprestados por empresários. Foi uma crítica velada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva. No evento, o tucano ainda atacou a alta carga tributária em vigor, a elevada taxa de juros e o baixo investimento governamental.

Ele criticou a forma como o governo negocia acordos comerciais: A abertura comercial foi feita sem muitos critérios.

Não há uma política agressiva de comércio exterior. Deixamos de lado uma política comercial agressiva. Ter uma política de comércio não é o presidente ficar viajando com aviões emprestados, mas uma política de reciprocidade.

Não somos pré-mercantilistas de achar que um tem que ganhar e outro tem que perder, mas tem de haver acordos bem feitos para que todos ganhem disse Num discurso em que procurou associar a candidatura da petista Dilma Rousseff a problemas no governo federal, o presidenciável tucano disse que o PT é responsável pela corrupção e ineficiênc i a d e n t ro d e e s t a t a i s e agências reguladoras. Segundo ele, o loteamento de cargos feito pelo governo federal nessas unidades tem provocado esse tipo de situação e prejudica o trabalho que deveria ser feito por essas unidades. Serra chegou a dizer que a Anvisa é hoje o maior centro de corrupção unitária do país.

Usar o governo para fins privados atingiu o ponto mais elevado da História com o PT, que sempre foi o arauto da moral e da ética.

Isso traz ineficiência descomunal de um lado e corrupção, do outro disse ele, diante de uma plateia de empresários convidados para ouvir as propostas do candidato para o setor.

Serra também voltou a atacar a corrupção nas agências estatais por conta do loteamento de cargos nessas entidades.

Diante dos empresários, Serra disse que o país vive hoje um apagão na área de infra-estrutura.

E o pior é que não sei como vamos sair desse apagão disse ele, que criticou a falta de incentivo do governo aos produtores nacionais.

Para tucanos, reforma tributária pelos estados O tucano usou como exemplo o fato de o transporte de soja entre Mato Grosso e os portos de Paranaguá ou de Santos ser mais caro que o envio do produto para a China, um dos principais concorrentes do país. Ele ainda disse que, de cada R$ 100 de investimento público, 30% são do governo federal e o restante, de responsabilidade dos governos estadual e municipal.

Serra também criticou a reforma tributária defendida por Dilma Rousseff. O tucano disse que o projeto não precisa de mudanças na Constituição, como defende o governo, e que a discussão desse tema tem que ser feita por estados, e não em sua totalidade. O candidato ainda disse que, da forma como o projeto está, abre espaço para diferentes interesses que prejudicam o andamento do processo, mantendo elevada a carga tributária do país.

O ministro Joelson Dias, do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), multou Serra ontem, em R$ 5 mil, por propaganda eleitoral antecipada. É a segunda multa aplicada ao tucano, contra sete aplicadas à sua principal adversária, Dilma Rousseff.

Cabe recurso.

Serra foi multado por uso irregular de inserções do programa partidário do PSDB exibido na Bahia nos dias 21 e 28 de maio. O diretório estadual do partido no estado foi multado em R$ 7,5 mil.

"Presidência ninguém terceiriza", diz Serra, reforçando que o candidato do PT não é o Lula

DEU NO DIÁRIO CATARINENSE

Tucano participou da primeira edição catarinense do Painel RBS, ontem

O candidato à Presidência da República José Serra (PSDB) participou nesta sexta-feira da primeira edição catarinense do Painel RBS especial de eleições, na sede da RBS TV, em Florianópolis. Durante a entrevista exclusiva aos jornalistas da RBS, o candidato apresentou suas propostas de governo para o Estado.

O programa será reprisado ainda hoje na TVCOM, às 23h30min. Confira os principais momentos da entrevista:

BR-101

José Serra diz que terminar as obras de duplicação na BR-101 é um compromisso, não uma promessa. Em geral, ele avalia que há poucas contrapartidas de investimentos federais em Santa Catarina, principalmente, quando se leva em conta a importância do Estado e sua economia. Ele acredita que boa parte das BRs deve ser estadualizada

Aeroporto de Florianópolis x Copa

Serra diz que o problema para o atraso de obras em aeroportos de cidades que não irão sediar jogos não é a Copa. Ele salienta que aeroportos de todo o país sofrem com apagões e reclama da Empresa Brasileira de Infra-Estrutura Aeroportuaria (Infraero):

— A Infraero é a pior empresa federal. Ela anda devagar e o que faz é caro e encrencado. A minha experiência com órgãos fiscalizadores sempre foi muito boa.

O candidato diz que uma saída é fazer concessões para poder investir em aeroportos menores.

Estaleiro em Biguaçu x meio ambiente

Para o presidenciável, tanto o meio ambiente quanto o estaleiro são temas relevantes. Ele se diz a favor de uma política de compensação. Citou como exemplo o Rodoanel, umas das maiores obras viárias da América Latina, na região metropolitana de São Paulo. Segundo Serra, foram gastos R$ 500 milhões só para preservar o meio ambiente no local.

Carvão

O candidato diz que a política energética deve ser a mais limpa possível. Também garantiu estar confiante que estudos com combustível fóssil estejam avançados para torná-lo menos poluente. Dessa forma, seria possível investir no carvão catarinense.

Desastres naturais

— Precisa existir uma força nacional (de atendimento) que, se estiver em Brasília, vá para outros lugares em até três horas — avalia Serra.

O tucano defende a criação de um grupo bem equipado, com técnicos especializados em socorro e áreas de risco, para agir em situações de emergência. Lamentou que em Alagoas não havia sequer transporte para mandar Bombeiros.

— O que temos hoje no país é visita de solidariedade — diz Serra, referindo-se ao apoio dado às famílias atingidas.

Saúde

O tema é questão prioritária para o candidato. Ele defende as Organizações Sociais (OSs) e a instalação de policlínicas.

Privatização

Questionado por um internauta do clicRBS se irá seguir a mesma linha de privatizações do ex-presidente Fenando Henrique Cardoso, Serra revida afirmando que o governo Lula não mudou em nada neste estilo. Também garantiu que "privatização não é plano de governo" e que só se coloca em prática conforme a necessidade.

Educação

Serra afirmou que uma das prioridade do seu governo, se for eleito, será o investimento em ensino médio profissionalizante.

— O ensino técnico é a chave do desenvolvimento do Brasil e futuro da juventude do país-afirma o candidato.

Porque votar em José Serra?

O tucano acredita que o país não elege por delegação e reforça que a concorrente pelo PT à Presidência é Dilma Rousseff e não quem está ao lado dela:

— Lula não é candidato. E Presidência ninguém terceiriza.

Serra e Dilma mantêm empate a 25 dias da TV

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

A 25 dias do início do horário eleitoral na TV, pesquisa Datafolha concluída ontem revela que José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) continuam tecnicamente empatados na disputa pelo Planalto. Serra está com 37% e Dilma, com 36%. No levantamento anterior (30/6 e 1º/7), Serra estava com 39% e Dilma, com 37%. Marina Silva, do PV, oscilou de 9% para 10%. A margem de erro é de dois pontos.

Serra e Dilma continuam empatados, diz Datafolha

Tucano tem 37%, e petista, 36%; candidatos oscilam na margem de erro

Marina Silva vai a 10%; na pesquisa espontânea Dilma lidera, com 21%, contra 16% de Serra; 2º turno tem estabilidade

Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - Na terceira semana oficial da campanha, José Serra (PSDB) e Dilma Rousseff (PT) seguem empatados na corrida presidencial. O tucano está com 37% contra 36% de Dilma, mostra o Datafolha. A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 23, com 10.905 entrevistas em todo o país. A margem de erro é de dois pontos, para mais ou para menos.

Na última pesquisa, de 30 de junho e 1º de julho, Serra havia registrado 39%, contra 37% de Dilma. Ambos oscilaram negativamente, mas dentro da margem de erro. Marina Silva (PV) tinha 9% e agora foi a 10%.

Plínio de Arruda Sampaio (PSOL) pontuou pela primeira vez nesta eleição, marcando 1%. Zé Maria (PSTU) também tem 1%. Outros quatro candidatos de partidos pequenos que concorrem a presidente foram incluídos na pesquisa, mas não atingiram 1%.

O Datafolha continua a captar uma estabilidade no número de eleitores indecisos ou que votam em branco ou nulo: 4%, o mesmo percentual do último levantamento. Os indecisos são 10%, contra 9% no levantamento anterior.

Numa simulação de segundo turno, o cenário repete o de maio, com Dilma numericamente à frente de Serra, mas dentro da margem de erro: a petista tem 46% contra 45% do tucano.

ESPONTÂNEA

Na pesquisa espontânea, quando o entrevistado responde em quem pretende votar sem ver a lista de candidatos, o resultado é favorável a Dilma Rousseff. Ela tem 21% e se manteve estável em relação aos 22% da outra pesquisa. Já Serra tinha 19% e recuou para 16%.

A petista também tem potencialmente a seu favor as respostas dos 4% que declaram querer votar no presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Outros 3% respondem ter intenção de escolher o "candidato do Lula" e 1% quer um "candidato do PT". Na sondagem sobre intenção de voto espontânea, os indecisos são 46%, contra 42% no início do mês. Marina Silva (PV) tem melhorado sua marca lentamente: 2% em abril, 3% em maio e junho, e, agora, foi a 4%.

Há também um quadro de poucas mudanças na rejeição dos candidatos. Os que não votariam no ex-governador "de jeito nenhum" são 26% (eram 24% da última pesquisa).

Dilma tem 19% (antes o percentual era 20%). Entre os candidatos mais competitivos, Marina é a menos rejeitada apenas 13%). Na divisão do voto por regiões do país, não houve também inversão de posições. O tucano lidera no Sul e no Sudeste. Dilma ganha no Nordeste e no Norte/Centro-Oeste.

Serra lidera no Sul, e Dilma, no Nordeste


DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Estados da região Sudeste estão divididos entre os dois candidatos

Em MG, 2º maior colégio eleitoral, tucano tem 38%, e petista, 35%; em SP, Serra lidera -no Rio, Dilma está à frente


Uirá Machado

SÃO PAULO - Enquanto José Serra (PSDB) é o preferido dos eleitores do Sul e Dilma Rousseff (PT) tem mais apoio nos dois maiores colégios eleitorais do Nordeste, a disputa entre ambos está acirrada no Sudeste, segundo o Datafolha.

Nos principais Estados dessa região, o apoio se divide: Serra está à frente em São Paulo, Dilma leva vantagem no Rio de Janeiro, e ambos estão tecnicamente empatados em Minas Gerais.

A pesquisa foi realizada entre os dias 20 e 23 nos sete principais colégios eleitorais e no Distrito Federal (margem de erro de dois pontos em SP e de três nas demais unidades da Federação).

A pesquisa mostra que, em Minas Gerais, terra do tucano Aécio Neves e segundo colégio eleitoral do país, Serra tem 38% das intenções de voto, contra 35% de Dilma.

Em São Paulo, que concentra 22% do eleitorado, Serra tem 14 pontos a mais que sua adversária: 44% das intenções de voto, contra 30% da petista.

Dilma leva vantagem no Rio de Janeiro, terceiro maior colégio eleitoral. A petista tem 37% das intenções de voto entre os fluminenses, contra 31% do tucano.

A maior vantagem de Serra é no Paraná, onde o tucano tem 45% das intenções de voto, e a petista, 30%.

No Rio Grande do Sul, 46% dos eleitores declaram voto em Serra, e 34%, em Dilma.

A vantagem se inverte no Nordeste. Na Bahia, quarto maior colégio eleitoral, Dilma tem 43%, e Serra, 32%.

Em Pernambuco, a petista aparece com 46%, e o tucano, com 36%.

No Distrito Federal, a vantagem também é de Dilma: 36% contra 27% de Serra.

Minas Gerais e Rio de Janeiro são fiéis da balança presidencial

DEU N A FOLHA DE S. PAULO

ANÁLISE - Fernando Rodrigues

BRASÍLIA - Dois Estados despontam como fiéis da balança na disputa presidencial deste ano: Minas Gerais e Rio de Janeiro, segundo os números apurados pelo Datafolha na pesquisa concluída ontem.

O eleitorado de Minas Gerais é de 14,5 milhões (10,7% do país). O do Rio é de 11,6 milhões (8,5%). O Datafolha mostra Dilma Rousseff (PT) e José Serra (PSDB) muito próximos na preferência de eleitores mineiros e fluminenses. Um quadro bem diferente de eleições presidenciais anteriores, quando Luiz Inácio Lula da Silva venceu por largas margens.

Em Minas Gerais, Lula ganhou a disputa em 2002 com 47% contra 20% de José Serra. Em 2006, o petista pontuou 46% contra 37% do tucano Geraldo Alckmin.

Agora, Dilma aparece com 35% contra 38% de Serra entre os eleitores mineiros (a margem de erro nesse caso é de três pontos percentuais).

Em tese, portanto, a candidata de Lula ainda tem espaço para repetir a votação de seu padrinho político -mas não há elementos que possam provar o quanto ela conseguirá avançar, ou não.

O Rio tem um cenário parecido. Lula teve 38% em 2002. Serra ficou com apenas 8%. É que naquele ano também foi candidato a presidente Anthony Garotinho, pelo PSB, obtendo uma votação parecida com a de Lula entre os fluminenses.

Em 2006, o petista subiu para 44% no primeiro turno, contra 26% de Alckmin.

Agora, a vantagem de Dilma para Serra no Rio é de seis pontos: 37% contra 31%.Juntos, Minas e Rio respondem por 19% dos eleitores do país. Quase um quinto dos votos. Por enquanto, o comportamento final dos mineiros e dos fluminenses ainda é uma incógnita.

Há outros Estados no país nos quais essa indefinição também existe -mas não têm o peso de Minas e Rio, donos do segundo e do terceiro eleitorados estaduais.

Esse é um fenômeno também visto em eleições presidenciais nos EUA. Estados relevantes eleitoralmente são chamados de pêndulos, por ainda não estar certo para qual lado poderão balançar na disputa.

No Brasil, o lado que Minas Gerais e Rio de Janeiro escolherem até outubro será vital para se saber se o vencedor será Dilma ou Serra.

Datafolha ouviu 10.905 eleitores em todo o país

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO -Realizada entre os dias 20 e 23, a mais recente pesquisa Datafolha ouviu 10.905 eleitores de 379 municípios em todo o país (exceto em Roraima).

O número de entrevistas, bastante maior que o de levantamentos anteriores, é resultado da intenção de obter maior detalhamento dos resultados em algumas unidades da Federação.

Assim, o instituto ouviu proporcionalmente mais pessoas em sete Estados (RS, PR, SP, RJ, MG, BA e PE) e no Distrito Federal.

Na pesquisa nacional, o Datafolha aplicou ponderação estatística para calcular o peso proporcional do eleitorado de cada Estado.

Por exemplo, no Rio Grande do Sul foram realizadas 1.215 entrevistas, o que equivale a 11% do total da amostra. Porém, para o cálculo do resultado nacional, o percentual foi corrigido para 6%, que corresponde ao peso real do Rio Grande do Sul sobre o total do eleitorado do país.

A margem de erro máxima para o total da amostra e para São Paulo é de dois pontos percentuais. Para Rio de Janeiro, Minas Gerais, Rio Grande do Sul, Paraná, Bahia e Pernambuco, é de três pontos, e para o DF, de quatro pontos.

O nível de confiança é de 95%, o que significa que, se fossem realizados cem levantamentos com a mesma metodologia, em 95 os resultados estariam dentro da margem de erro prevista.

Vox Populi: Dilma tem 8 pontos de vantagem

DEU EM O GLOBO

Petista tem 41% das intenções de voto, e Serra está com 33%; PSDB minimiza resultado
André de Souza BRASÍLIA. Pesquisa do instituto Vox Populi, para a TV Bandeirantes e o site IG, divulgada ontem à noite, aponta a candidata petista, Dilma Rousseff, liderando a disputa presidencial, com a preferência de 41% dos eleitores brasileiros. Em segundo lugar está José Serra (PSDB), com 33% das intenções de votos. Em terceiro, Marina Silva (PV), com 8%.

Os outros candidatos juntos somam 1%. Nulos e em branco são 4%, e 13% dos eleitores não souberam ou não quiseram responder.

Na simulação entre um eventual segundo turno entre Dilma e Serra, a petista mantém a vantagem de 8 pontos percentuais sobre o tucano: 46% contra 38%.

De acordo com a pesquisa, Serra tem a maior rejeição: 24% afirmaram que não votariam nele.

Marina vem em seguida, com 20%, e, por último, Dilma, com 17%. Na pesquisa espontânea, quando os nomes dos candidatos não são apresentados ao entrevistado, Dilma alcança 28%; Serra, 21%; e Marina, 4%. O presidente Lula, que não é candidato, tem 4%, e o candidato apoiado por ele, 1%.

O líder do governo na Câmara, deputado Cândido Vaccarezza (PT-SP), comemorou o resultado da pesquisa em seu Twitter, destacando que Dilma ainda é menos conhecida pelo eleitorado do que o tucano. Enquanto 73% dizem conhecer bem ou ter algumas informações sobre Serra, esse índice cai para 63% no caso da petista.

Dilma continua menos conhecida que o tucano. Volto a dizer que, à medida que as pessoas conhecem Dilma, fazem a opção por ela disse.

O presidente do PSDB, senador Sérgio Guerra, minimizou o resultado: A pesquisa Vox Populi infelizmente não faz sentido. Não deve ser levada em consideração.

Nos bastidores, os tucanos subiram o tom, afirmando que a pesquisa é uma fraude e que estaria adubada. A expectativa dos tucanos é que a pesquisa Datafolha, que será divulgada hoje, tenha resultado diferente.

Foram entrevistadas 3 mil pessoas entre 17 e 20 de julho.

A variação em relação à última pesquisa do Vox Populi está dentro da margem de erro de 1,8 ponto percentual para mais ou para menos.

A reg ião em que Dilma apresenta melhor desempenho é o Nordeste, onde tem 54% das intenções de votos.

Serra tem 24%, e Marina 5%.

Serra vai melhor no Sul, com 39%, contra 35% da petista e 7% de Marina. No Sudeste, a vantagem de Serra está dentro da margem erro: 36% contra 34% de Dilma, enquanto Marina tem 10%.

Em junho, pela pesquisa anterior, Dilma tinha 40% das intenções de voto; José Serra, 35%; Marina Silva, 8%; e os outros candidatos, 1%.

Sem competição, melhor parar as máquinas::Alberto Dines

DEU NO OBSERVATÓRIO DA IMPRENSA

A questão não é bairrista ou regional, é institucional, estratégica: este país-continente, diversificado, vital, ainda incógnito, necessita de uma imprensa nacional. Já tem uma mídia que cobre seus quatro cantos – as redes de TV, abertas e privadas –, mas TV é um espetáculo capaz de condicionar padrões, incapaz de irradiar conceitos.

Falta uma imprensa – mídia impressa – diária ou semanal, atenta e responsável, voltada para a missão de desomogeneizar e requalificar a mensagem televisiva oferecendo outros teores, sabores, sentidos. A rede regional de jornais, herdeira de um admirável passado, salvo raras e honrosas exceções não consegue cumprir esse papel porque está associada a emissoras afiliadas às redes televisivas.

Este problema não existe nos EUA e não adianta chorar: a simples clonagem da regulação ianque é uma maravilhosa utopia tão irrealizável quanto a nossa propalada reforma eleitoral.

A costura do país só poderá ser feita por um jornalismo impresso efetivamente nacional. Nossos semanários já cumpriram este papel num passado recente. Perderam o apetite. Iludiram-se com as maquinetas do gênio Steve Jobs, que no outro dia botou a mão na cabeça (não tem cabelos para arrancar) e declarou patético: "Não somos perfeitos!".

Referência nacional

Temos três jornais ditos nacionais (pela ordem alfabética para não ferir suscetibilidades –Estadão, Folha, Globo), mas é imperioso reconhecer que são, no máximo, veículos de referência nacional, influenciam de raspão as elites locais. Durante algumas décadas, dos anos 50 aos 90 do século passado, o Jornal do Brasil fez parte e em certo momento capitaneou o pelotão de diários nacionais. O nome ajudava. Além disso, o Departamento de Circulação tinha como objetivo converter o JB na segunda opção do leitor das capitais estaduais.

O Globo, apesar da versatilidade, sempre teve uma imagem metropolitana, carioca; Folha e Estadão são marcadamente paulistanos e não apenas pelos respectivos títulos.

Seus cadernos locais são mistificações, muda-se o nome do caderno e ele continua absolutamente paulistano, jardineiro ou jardinense (relativo aos bairros chiques, os Jardins).

O anúncio da liquidação do JB aumenta de forma dramática a concentração no segmento dos "quality papers" justo no momento em que a expansão econômica promove uma salutar ascensão social. A base da pirâmide está sendo atendida por uma imprensa popular extremamente competente, ágil, geograficamente diversificada, mas no topo o processo revela-se perigosamente estagnado, não obstante as periódicas piruetas no visual.

Revoluções jornalísticas

A imprensa diária paulista não tem tradição federal, seus méritos e atributos são outros e muitos. A mudança da capital em 1960 demorou para completar-se e no âmbito do jornalismo diário começou a se materializar quinze anos depois, em 1975, quando a Folha fez a segunda mais duradoura revolução jornalística: a valorização do material opinativo. A primeira foi a reforma do JB em 1956.

O lançamento do Jornal da Tarde quase uma década depois (1965, projeto tocado pelo mineiro-carioca Murilo Felisberto, comparável ao brilho da Semana de Arte Moderna) não influiu nacionalmente porque a empresa O Estado de S. Paulo jamais demonstrou vocação para cruzar as fronteiras do estado. Acreditava na imanência do vigor paulista e a considerava suficiente para impor-se ao país.

A Editora Abril foi a única empresa jornalística paulista montada para explorar estrategicamente a dimensão do país. Não poderia ser diferente, já que especializou-se em revistas, gênero obrigatoriamente nacional. Quatro Rodas, Cláudia, Realidade, Veja e, depois, Playboy estabeleceram novos contextos e novos paradigmas jornalísticos e culturais. A revolução feminista no Brasil foi em grande parte inspirada pela psicanalista Carmen da Silva em Cláudia; o mensário Realidade desvendou o gênero "grande reportagem" que os grandes diários do país não tiveram estofo para imitar e continuar. Veja driblou a fatalidade de ter sido lançada pouco antes do funesto AI-5 e nas duas primeiras décadas de sua existência ofereceu à elite nacional a oportunidade de nivelar por cima.

Imprensa cosmopolita

O esvaziamento do Rio de Janeiro relaciona-se em grande parte com a perda da sua capacidade de "falar" com o Brasil. A imprensa carioca, mesmo depois da mudança da capital e durante a ditadura, continuou centralizando o país e alimentando a indústria cultural com seu cosmopolitismo. Esta matriz esgota-se rapidamente.

O arrendamento pelo empresário Nelson Tanure fez do Jornal do Brasil um jornal de bairro. E livrou o concorrente, O Globo, da obrigação de substituí-lo. Não foi o formato berliner (tablóide mais alongado) que apequenou aquele gigante arruinado (o esplêndido jornal espanhol El País usa o mesmo desenho). A causa mortis do JB foi o modelo de negócio imposto pelos arrendadores e inspirado no vampirismo, na rapinagem de moribundos.

A imprensa brasileira precisa de empresários qualificados e apaixonados por seu negócio. Só eles apostam na competição, só eles terão coragem de abandonar os pools corporativos. Sem competição, melhor parar as máquinas.

***
Em tempo: especialistas em Nelson Tanure não descartam a possibilidade de uma derradeira astúcia deste especialista em astúcias. O largo intervalo de 50 dias entre o anúncio do fim da versão impressa e a completa parada das rotativas – 14/7 a 1/9 – teria sido concebido justamente para permitir que a onda de protestos venha a criar as condições psicológicas para uma operação emergencial de salvamento. Qualquer solução para salvar o Jornal do Brasil será bem-vinda. Desde que sem a participação de Nelson Tanure – o mestre é capaz de matar o cadáver duas vezes.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
Clique o link abaixo

Mozart,Piano ConcertoN°23-Allegro Assai /Orquestra de Londres

Navegar é Preciso:: Fernando Pessoa


Navegadores antigos tinham uma frase gloriosa:

"Navegar é preciso; viver não é preciso".

Quero para mim o espírito [d]esta frase,
transformada a forma para a casar como eu sou:

Viver não é necessário; o que é necessário é criar.
Não conto gozar a minha vida; nem em gozá-la penso.
Só quero torná-la grande,
ainda que para isso tenha de ser o meu corpo e a (minha alma) a lenha desse fogo.

Só quero torná-la de toda a humanidade;
ainda que para isso tenha de a perder como minha.
Cada vez mais assim penso.

Cada vez mais ponho da essência anímica do meu sangue
o propósito impessoal de engrandecer a pátria e contribuir
para a evolução da humanidade.

É a forma que em mim tomou o misticismo da nossa Raça.




[Nota}

"Navigare necesse; vivere non est necesse" - latim, frase de Pompeu, general romano, 106-48 aC., dita aos marinheiros, amedrontados, que recusavam viajar durante a guerra, cf. Plutarco, in Vida de Pompeu]