quinta-feira, 1 de fevereiro de 2024

O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões

Lewandowski deve integrar o combate ao crime

O Globo

Novo ministro tem oportunidade de fazer o governo federal enfim assumir sua responsabilidade em área crítica

O jurista Ricardo Lewandowski, de 75 anos, assume o Ministério da Justiça e Segurança Pública com talvez a missão mais espinhosa do governo Luiz Inácio Lula da Silva: domar a violência que fustiga o país, aterroriza os brasileiros e ameaça a imagem do presidente.

Embora os números registrem queda de 4% nos assassinatos no ano passado, nas ruas predomina a sensação de insegurança, atestada por pesquisas de opinião e pelo senso comum. Oito em cada dez brasileiros acreditam que a violência se agravou, segundo pesquisa Quaest de novembro. As ações do governo para debelar a crise não têm sido bem recebidas pela população. A gestão de Lula na segurança é considerada ruim ou péssima por 50% e regular por 29%, mostrou o Datafolha em dezembro.

Assis Moreira* - Carro blindado, snipers e licitações para o G20

Valor Econômico

Na presidência do grupo o Brasil tem a responsabilidade de fixar a ordem do dia e dar os resultados dos debates entre as maiores economias do mundo em meio a crises

A reunião de ministros de Relações Exteriores do G20 nos dias 21 e 22 de fevereiro no Rio de Janeiro ocorrerá sob segurança máxima, como era de se esperar. Os EUA e a Rússia vão trazer seus próprios carros blindados para transportar na cidade seus representantes, o secretário de Estado Antony Blinken e o ministro Sergey Lavrov, como fazem normalmente. As forças de segurança brasileira terão um esquema de “proteção cabível”, o que significa admitir que alguns trazem mais riscos que outros. Snipers, os chamados atiradores de elite, acompanharão certos ministros por todo lado.

Outro peso pesado da diplomacia internacional, o ministro chinês Wang Yi, não irá ao Rio. Ele passou recentemente pelo Brasil, conversou com o presidente Lula e será substituído por uma autoridade provavelmente de peso no Partido Comunista e que, pela praxe chinesa, será designada em cima da hora.

Luiz Carlos Azedo - Copom mostra alinhamento entre Campos e Haddad

Correio Braziliense

A unanimidade no Copom não é inédita, porém, com cinco diretores indicados por Bolsonaro e quatro por Lula, sinaliza a blindagem da equipe econômica do governo

A redução da taxa Selic em 0,5 ponto percentual, de 11,75% ao ano para 11,25% ao ano, nesta quinta-feira, pelo Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central, decidida por unanimidade, mostra um alinhamento tácito entre o presidente do Banco Central, Roberto Campos Neto, e o ministro da Fazenda, Fernando Haddad. Foi o quinto corte seguido na taxa básica de juros, desde agosto do ano passado, a taxa de 11,25% permanece no menor nível de 2022, quando chegou a 10,75% ao ano.

A unanimidade no Copom não é inédita, porém, com a composição atual, com cinco diretores indicados durante o governo Bolsonaro e quatro pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, sinaliza a blindagem da equipe econômica do governo, apesar dos ataques especulativos que Haddad vem sofrendo por parte de lideranças do PT e, também, das contradições e dos resultados fiscais negativos da própria política econômica do governo.

Felipe Salto* - As bombas fiscais e o futuro em aberto

O Estado de S. Paulo

O problema fiscal tem duas cabeças. Uma, de curto prazo. Outra, relacionada a melhorar a qualidade do gasto e restabelecer instrumentos de planejamento e gestão

O governo apresentou um déficit de R$ 230,5 bilhões ou 2,1% do PIB em 2023. O resultado inclui o pagamento dos precatórios extras, de R$ 92,4 bilhões, após o Supremo Tribunal Federal (STF) declarar inconstitucional o teto anual inventado há alguns anos. Por outro lado, o governo conseguiu aprovar uma nova regra fiscal e uma série de medidas para elevar a arrecadação. Os números de 2023 ensejam uma discussão de maior fôlego sobre os desafios para melhorar as contas do País.

As despesas primárias federais (sem contar os juros da dívida) passaram de 18% para 19,6% do PIB entre 2022 e 2023. O Bolsa Família subiu 0,7 ponto porcentual (p.p.); os precatórios de custeio e capital, 0,5 p.p.; os benefícios previdenciários, 0,4 p.p.; as despesas discricionárias, 0,2 p.p.; o apoio financeiro aos Estados e municípios, 0,1 p.p.; e o benefício de prestação continuada, 0,1 p.p.. Outros efeitos redundaram em queda de 0,4 p.p., explicando, assim, a alta de 1,6 p.p. do PIB no gasto total.

Vinicius Torres Freire - Para a Selic cair mais rápido

Folha de S. Paulo

Inflação para 2025 está na meta, na conta do Banco Central, que mantém ritmo de cortes

A inflação de 2025 deve chegar à meta, segundo as contas do Banco Central. O IPCA do ano que vem seria de 3,2%, um preciosismo acima do objetivo de 3%, segundo o "cenário de referência" do BC, mesma projeção de dezembro.

Qual é a base desse "cenário"? Espera-se que a Selic, a taxa básica de juros, baixe aos poucos até 9% ao ano em setembro e por aí permaneça até dezembro (é a atual mediana das projeções de economistas de "o mercado"). Que os preços de dólar e petróleo se comportem como projeta o BC, embora apenas os céus saibam o que será dessas cotações. Que o preço da eletricidade siga sob "bandeira verde".

Isso quer dizer que a Selic real, descontada a inflação, estaria perto dos 6% no final deste 2024, se ficar estacionada por aí. É horrível e um desestímulo econômico. Para o cotidiano do cidadão comum que pega empréstimos quaisquer, quer dizer que vai ser possível notar diferença maior no arrocho apenas a partir de lá pela metade do ano.

Maria Hermínia Tavares* - Lamentável surpresa

Folha de S. Paulo

A suspensão das aulas na pandemia fez pouca ou nenhuma diferença; a maioria das escolas quase nada ensina

A julgar pelo domínio de matemática, a pandemia não afetou o aprendizado médio dos brasileiros na faixa dos 15 anos. E mais, a queda, onde houve, foi pior entre estudantes de renda mais alta, ao contrário do que ocorreu em países ricos como Alemanha, França, Islândia e Suécia.

A informação é do professor da USP e do Insper, Naercio Menezes Filho, reconhecido especialista em economia da educação. Na sua coluna de 26/1 no jornal Valor, ele comparou os resultados de 2019 e 2022 do exame internacional Pisa. Realizada em 81 países, a prova afere conhecimentos de estudantes do mesmo grupo de idade em matemática, leitura e ciências.

Conrado Hübner Mendes* - O STF senta à mesa com empresários

Folha de S. Paulo

E por coincidência esvazia a proteção constitucional da dignidade do trabalhador

O Brasil, sozinho, tem 98% de todas as ações trabalhistas do mundo. Ministros do STF folgam 98% do tempo. Bancos financiam 98% das viagens de ministros do STF ao exterior. Ministros do STF são 98% técnica, 2% família. 98% dos brasileiros apoiam Alexandre de Moraes para a Presidência. 98% dos militares respeitam a lei e não acreditam ter última palavra na interpretação constitucional.

Essas frases falsas dariam boas manchetes na política do pânico e circo. Na democracia com déficit de atenção, a desinformação verossímil se espalha com mais força e facilidade do que a mentira voando abaixo do radar da verossimilhança. Ou talvez o contrário, a depender das inclinações de espírito da rede por onde navega.

Pois uma dessas frases foi dita por Luís Roberto Barroso, presidente do STF, anos atrás. Afirmou que o país tinha 98% das ações trabalhistas do mundo (do mundo) e prejulgou qualquer discordância: "Na vida devemos trabalhar com fatos, não escolhas ideológicas prévias." Sua frase, ironicamente, dizia mais sobre si mesmo do que sobre o mundo. Faltavam fatos, sobraram escolhas prévias. Falhava empiricamente e teoricamente.

Bruno Boghossian - Dino foi a China

Folha de S. Paulo

Ministro trabalhou para flexibilizar visões internas; Lewandowski pode ter mais dificuldade

Quando pisou em Pequim, em 1972, Richard Nixon estabeleceu um paradigma na política. Naquele momento de tensão global, um gesto de conciliação com os chineses seria encarado com desconfiança pelo eleitor americano. Mas a reputação do presidente como um anticomunista incontestável foi visto como garantia de rigor com os rivais.

A expressão "Nixon vai à China" passou a ser usada para descrever episódios em que um representante de uma corrente ideológica faz uma jogada tipicamente associada a uma linha política contrária. Seu objetivo é explorar a credibilidade interna para reduzir resistências e persuadir seu próprio campo da importância de determinada medida.

Maria Cristina Fernandes - A disputa é pela asfixia da extrema-direita

Valor Econômico

Sobrevivência do bolsonarismo está em jogo

O ex-presidente Jair Bolsonaro não perdeu a malandragem com a qual bem encarna o injustiçado. Tem aparecido em mangas de camisa, com sobrepeso e a proficiência de sempre ao embaralhar assuntos, desviar o foco e se mostrar como alguém que, assim como o telespectador, nada entende desta derradeira operação da Polícia Federal sobre o aparelhamento da Abin.

A habilidade não escamoteia o cerco, evidente, mas mostra um personagem nos cascos para nova fase de vitimização. Já se sabe que está fora da palheta de 2026. O que está em jogo agora é a sobrevivência do bolsonarismo.

A decisão do PL de manter o deputado federal Alexandre Ramagem como candidato no Rio, apesar das suspeitas que pesam contra si nesta operação, seus colegas, Nikolas Ferreira, em BH, e Abílio Brunini, em Cuiabá, o ex-ministro sanfoneiro Gilson Machado, no Recife, além da pressão pela chapa do prefeito de São Paulo, Ricardo Nunes, com o ex-comandante da Rota, Mello Araújo, mostram a aposta no bolsonarismo raiz.

Nem todos têm chance, mas puxam a eleição de vereadores, cabos eleitorais da futura Câmara, e mantêm acesa, na política, a chama com a qual as investigações em curso ameaçam tosquear o ex-presidente. A operação não deixa dúvidas de que prossegue, no STF e na PF, a expectativa de que é deles a missão de banir o bolsonarismo.

Ruy Castro -Na mira do araponga

 

Folha de S. Paulo

Se a Abin fez o meu dossiê, ignoro. Mas o que sairá da investigação sobre Bolsonaro será letal

Em algum momento de 2020 ou 21, alguém me soprou: "Fique esperto. Ouvi dizer que estão de olho em você. Tem gente do governo levantando os podres de cada desafeto do Bolsonaro e reunindo num dossiê para ser usado um dia." Não me surpreendi. Eu desconfiava que o então presidente não era grande fã das minhas colunas na Folha, porque, desde o começo de seu mandato, eu apontava para a inevitabilidade do golpe com que ele esperava se perpetuar no poder.

Hoje, com a investigação em curso sobre o uso por Bolsonaro da Abin (Agência Brasileira de Informação) para bisbilhotar os passos de ex-aliados, juízes, advogados, políticos e jornalistas, vejo que a dica fazia sentido. E começo a me dar conta das vezes em que tive a sensação de estar sendo observado e de algo que parecia diferente do que deveria ser.

William Waack - Lula e o medo da Abin

O Estado de S. Paulo

O presidente quer resolver a crise do jeito habitual, pelo lado pessoal

A desconfiança que Lula nutre por órgãos de inteligência como a Abin vem de uma dificuldade mais profunda de governantes brasileiros, que é o desprezo pelo princípio da impessoalidade (recentemente apontado aqui pelo sociólogo Bolívar Lamounier). De fato, quem assume o governo assume também que o aparato de Estado pertence ao vencedor da eleição.

Nesse sentido, o que Jair Bolsonaro fez com a Abin foi devastador. Da mesma maneira como se comportou no setor de saúde, desprezando estruturas do Estado, Bolsonaro dizia confiar mais no seu “serviço de inteligência informal”, ao qual tentou subordinar a Abin.

Investigações da PF indicam que a finalidade principal era a proteção de si e da família de investigações criminais. Bolsonaro também não distinguia entre sua pessoa e a figura institucional do presidente da República nas batalhas com tribunais superiores ou a Câmara dos Deputados, nas quais usou a Abin.

Malu Gaspar – A gente nunca está seguro

O Globo

Abin paralela de Bolsonaro impõe a Lula desafio de separar inteligência de espionagem

‘A gente nunca está seguro’, disse Lula na segunda-feira à Rádio CBN de Recife, quando questionado a respeito da operação da Polícia Federal (PF) sobre a “Abin paralela” — o esquema de espionagem ilegal que funcionou durante o governo de Jair Bolsonaro, mas que a PF sustenta ter sido encoberto pela Abin de Lula.

No dia seguinte, a Presidência da República trocou cinco diretores da agência, incluindo o número 2, Alessandro Moretti, acusado pela PF de atuar para barrar as investigações. Moretti nega. Afirma até que foi ele o primeiro a abrir uma sindicância para averiguar as denúncias de arapongagem. Quem conhece bem o inquérito, porém, diz que há diversos documentos mostrando como e quando ele tentou impedir que a apuração avançasse.

Poesia | Amigo, de Pablo Neruda

 

Música | Roberta Sá e Zeca Pagodinho - Pago pra ver