sexta-feira, 3 de agosto de 2018

Marco Aurélio Nogueira: A nau dos insensatos

- O Estado de S. Paulo

Apoiadores de Bolsonaro querem ver o circo pegar fogo e dar um tranco num sistema que não os beneficia

Jair Bolsonaro consegue a proeza de unir os democratas (esquerda, liberais e conservadores) contra ele. Apesar disso, mantém posição de destaque na corrida eleitoral, catalisando descontentamentos, frustrações, ódios, preconceitos e ressentimentos de todo tipo.

Sua retórica assusta, pela falta de responsabilidade cívica, pelo que vocifera contra a democracia, pelo irracionalismo.

O capitão da reserva ameaça passar para o segundo turno, impulsionado por um conjunto de fatores: a fragmentação das esquerdas e do centro democrático, a imagem negativa que sobrou dos governos Dilma, o horror à corrupção e à insegurança, a degradação da política e a exuberante fragilidade do governo Temer. Somados ao desalento que se abateu sobre a população e à confusão ideológica, tais fatores fizeram com que Bolsonaro se estabilizasse.

Na política brasileira atual, sua função é dupla: fazer o elogio da ignorância e do despreparo, que são por ele “ressignificados” para se converterem em trunfo, e dar corpo a uma direita reacionária e retrógrada que há tempo não conseguia encontrar expressão.

Ele, porém, é um fenômeno mais amplo, de caráter simbólico e cultural. Mostra à perfeição o estado a que chegamos, de deterioração política, despreparo ético e miséria educacional. Dá voz à angústia coletiva de diversos segmentos sociais, que não são necessariamente de direita e estão integrados por pessoas que perderam a confiança na democracia e na política.

Seus apoiadores são pessoas que querem ver o circo pegar fogo, dar um tranco num sistema que fere suas convicções ou não os beneficia. Optam por uma “radicalização” que desorganize a vida para então reorganizá-la. O caráter misógino, racista e autoritário do candidato não lhes diz respeito, nem incomoda. Também não há qualquer preocupação com eventuais prejuízos derivados de uma vitória de Bolsonaro. Gostam de seu estilo bateu-levou, debochado e arrogante.

A antipolítica é a estrela-guia deles.

Merval Pereira: O ‘salve’ de Lula

- O Globo

Da cadeia, Lula costurou o isolamento de Ciro e a estratégia para forçar o PSB a ficar neutro na campanha presidencial

Desde que a senadora Gleisi Hoffmann, presidente do PT e um dos nomes cogitados para substituir Lula na disputa presidencial, teve a brilhante ideia de comparar o ex-presidente ao traficante Fernandinho Beira-Mar, pedindo isonomia para que Lula o imitasse dando entrevistas de dentro da cadeia, essa relação entrou no debate político.

Na quarta-feira, na “Central das Eleições” da GloboNews, o pré-candidato do PDT à Presidência da República, Ciro Gomes, deixou implícito um paralelo quando acusou Lula de ter operado “freneticamente” de dentro da prisão para isolá-lo politicamente, impedindo que o PSB o apoiasse.

Disse também que Lula trabalhou junto a Valdemar Costa Neto, condenado pela participação no mensalão e investigado na Operação Lava-Jato, levando a que o líder do PR evitasse que o centrão o apoiasse.

O ex-presidente Lula está teoricamente incomunicável na sede da Polícia Federal em Curitiba, mas têm sido liberadas as visitas de políticos e advogados, alguns dublês de políticos e advogados, que levam para fora da cadeia recados de Lula.

Ele está proibido pela juíza Carolina Moura Lebbos, titular da 12ª Vara Federal de Curitiba, de gravar vídeos, conceder entrevistas e fazer, por meio de videoconferência, atos de pré-campanha, além de participar “presencialmente” da convenção do PT.

Filmagens na sede da Polícia Federal (PF) em Curitiba também estão vedadas. Para a juíza, “a situação fica bastante clara ao se notar, por exemplo, a evidente inviabilidade, por questões de segurança pública e de administração penitenciária, de universalização aos demais detentos da possibilidade de comunicação com o mundo exterior mediante acesso de veículos de comunicação para reiteradas sabatinas ou entrevistas”.

O PT insiste em levar para a propaganda eleitoral a imagem e as palavras de Lula, e a Justiça Eleitoral já avisou que isso não será possível, pois Lula, como diz o ministro do STF e atual presidente do TSE, Luiz Fux, tem uma “inelegibilidade chapada”.

Cristian Klein: Campanha curta, porém mais intensa

- Valor Econômico

Ataque a Bolsonaro poderá ser oito vezes maior que a Marina

E de repente Ciro, o Grande, que receberia as hostes do Blocão, do PSB e do PCdoB virou o Ciro pequeno, diminuto. Cioso de sua hegemonia na esquerda, o PT tratou de dar os contornos do cordão de isolamento do candidato do PDT, ao garantir a neutralidade que pôs fim à recalcitrância do PSB. Com 33 segundos (4,5%) num programa eleitoral de 12 minutos e meio, Ciro será praticamente um leão sem dentes na campanha em rádio e TV. Pouca vazão para muita voracidade. Os petistas terão o triplo do tempo de propaganda; e os tucanos, nove vezes mais que Ciro para baterem bumbo por Alckmin, pelo ungido de Lula - ou para destroçarem adversários preferenciais de acordo com a estratégia do momento.

Ciro perdeu os exércitos que esperava ter em razão da racionalidade do sistema político e, como sempre, de seus próprios erros: desequilíbrio, destempero, insolência, a verborragia que não lhe trai o pensamento. Mas também há algo de estrutural. Fosse a eleição presidencial solteira, o PT teria pouca ou nenhuma moeda de troca a oferecer ao PSB. É tudo muito entrelaçado, disputa nacional com as estaduais. A legislação brasileira é uma máquina de reproduzir o passado - e nesse passado recente petistas ainda acumulam poderosos recursos. Para ficar em apenas um deles, o mais valorizado na negociação das alianças eleitorais: o maior tempo de propaganda entre os 35 partidos. É, para usar um conceito caro à ciência política, muita dependência de trajetória.

Sem contar o trivial. Forças centrípetas puxam a corrida presidencial para desfechos dentro da lógica majoritária: a turma do Blocão - PP, DEM, PRB, PR e Solidariedade - abriu mão de pretensos pré-candidatos e juntou-se a Alckmin; o PSC casou Paulo Rabello de Castro como vice de Alvaro Dias (Podemos); o PV acaba de aderir à Marina Silva (Rede).

A direita mostrou uma razoável capacidade de coordenação eleitoral. Os dirigentes da esquerda falharam na articulação de uma candidatura comum. Vai ter Ciro, Manuela D'Ávila (PCdoB), Guilherme Boulos (Psol), e o PT, seja com Jaques Wagner ou Fernando Haddad. O apelo à unidade não vingou, e dificilmente vingaria sem Lula no páreo. Deixaram o trabalho para o eleitorado. Se a coordenação feita pelos profissionais da política não funcionou a contento, é de se perguntar se funcionará pelo voto útil dos amadores no primeiro turno, caso a disputa fique entre dois concorrentes à direita.

Bruno Boghossian: Nichos conservadores

- Folha de S. Paulo

Ana Amélia busca acentuar tom antipetista do tucano e recuperar espaço no campo

Geraldo Alckmin deu um passo largo à direita ao escolher Ana Amélia(PP) como vice em sua chapa presidencial. A senadora gaúcha se incorpora ao esforço dos tucanos para retomar um eleitorado conservador que votava no PSDB, mas migrou para Jair Bolsonaro(PSL).

Ana Amélia tentará devolver fôlego a Alckmin em cinco nichos:

1) no antipetismo; 2) no setor rural; 3) nos movimentos conservadores; 4) no debate anticorrupção; 5) no Sul.

A nova vice tende a acentuar as notas de polarização com o PT na campanha de Alckmin. Ana Amélia se notabilizou por um discurso agressivo contra Lula nos últimos meses.

Quando a caravana do ex-presidente foi recebida com ovos e chicotes em municípios do Rio Grande do Sul, em março, ela parabenizou quem “botou a correr aquele povo que foi lá levando um condenado”.

Bolsonaro ameaça dominar o ambiente antipetista. Alckmin desvia de confrontos violentos com o PT, mas pode escalar a vice como porta-voz para evitar que o rival reine sozinho.

Eliane Cantanhêde: O diabo está solto!

- O Estado de S.Paulo

O PT rifa seus nomes por hegemonia e alianças, mas nem todos vão engolir calados

Em 2004, com Lula a todo vapor na Presidência da República, a cúpula nacional do PT ignorou, desprezou e, de certa forma, humilhou a jovem petista Luizianne Lins para favorecer Inácio Arruda, do PCdoB, na eleição para a prefeitura de Fortaleza. Galega arretada e atrevida, ela empinou o nariz, enfrentou tudo e todos e venceu a eleição. No segundo turno, até ganhou uns adesivos do PT – mas teve de pagar o frete.

Quatorze anos depois, com Lula imobilizado numa cela em Curitiba, a cúpula do PT repete a primeira parte da história, atingindo em cheio Marília Arraes, neta do mito Miguel Arraes e candidata favorita ao governo de Pernambuco contra a reeleição do governador Paulo Câmara, do PSB.

Não por uma causa, mas por um projeto de poder, Lula e o PT decidiram rifar Marília em troca da neutralidade do PSB na disputa presidencial. Em outras palavras, cortaram a cabeça da petista para matar a candidatura de Ciro Gomes, do PDT. Sem PT, sem DEM, sem PSB e muito provavelmente sem a Rede, Ciro perde fôlego, míngua.

A tal Marília, porém, não parece muito diferente daquela Luizianne atrevida. Primeiro, ela desmentiu tudo num vídeo, atribuindo a versão a um “ataque especulativo”. Confirmado que tal ataque era real e partira da própria Comissão Executiva do PT, também empinou o nariz e avisou que não vai engolir em seco, nem chorar num canto. Como Luizianne, vai à luta, vai bater chapa na convenção do PT.

Fernando Abrucio: Liderança política terá papel decisivo

- Eu & Fim de Semana | Valor Econômico

A análise política não é um exercício de adivinhação. Para isso já existem os tarólogos, cartomantes e afins. Cravar quem será o vencedor da eleição de 2018 não é o objetivo desta coluna. Em vez disso, propõe-se um modelo de análise do processo eleitoral vindouro, baseado em três fatores: o estrutural, o conjuntural e o da ação política. Os dois primeiros têm dominado o debate, por vezes até organizando o embate de visões. Mas o papel das lideranças tem sido negligenciado. E numa disputa presidencial tão difícil - a mais competitiva desde 1989 -, a capacidade dos partidos e, sobretudo, dos candidatos de manejar as circunstâncias será um fator decisivo.

As origens do modelo proposto aqui estão em Maquiavel, em seu célebre "O Príncipe". Foi ele que inaugurou a tradição de se analisar a política combinando dois elementos: a fortuna, que são as circunstâncias que envolvem os atores, e a virtù, que representa a capacidade dos líderes de se adaptarem e até alterarem, na medida do possível, as condições objetivas que os rodeiam. O pai fundador da ciência política mostrava que a ação política tem limites e é preciso conhecer os elementos que influenciam as decisões dos atores.

Mas também realçava que existe um espaço de liberdade para que as lideranças moldem o futuro, de modo que é necessário entender como os políticos agiram ao longo da história, especialmente em momentos adversos ou de forte pressão.

Seguindo as pegadas de Maquiavel, pode-se dizer que há três fatores essenciais no processo político. O primeiro diz respeito aos elementos mais estruturais, que se conformam num prazo temporal maior. Nesse campo, entram, em primeiro lugar, as características sociais mais amplas, como a estratificação socioeconômica ou valores culturais, inclusive os relativos à forma como a sociedade identifica o papel do Estado. Obviamente que essas feições não são adotadas homogeneamente pelos cidadãos. Num país complexo e desigual como o Brasil, existem fortes divisões entre os indivíduos, que se manifestam no plano territorial mais amplo - as regiões - ou mais restrito - a oposição entre bairros ricos e periféricos (ou entre asfalto e morro).

José de Souza Martins: A identidade perdida

- Eu &Fim de Semana | Valor Econômico

Vamos nos aproximando das eleições que nos dirão se há luz no fim do túnel ou se somos prisioneiros do túnel sem saída. Temos a responsabilidade de decidir e nem mesmo sabemos quem somos. Desde o regime militar, que nos dividiu como povo, já não temos uma referência identitária que nos una. Os fatores de desagregação da sociedade brasileira se agravaram. Novas identidades surgiram da fragmentação.

Progredimos, na medida em que são identidades de algum modo libertadoras, que permitem aos novos sujeitos ser mais pessoas e menos máscaras, ainda que muita gente se sinta infeliz e mesmo raivosa com essas mudanças.

Da política ao gênero e à religião, de fato o país já é outro. Esse outro vai votar e poderá gerar a descontinuidade, intensificar a polarização e a intolerância autodefensiva e transformar o Brasil num país explicitamente conservador no lugar do país hipocritamente progressista que conhecemos. Seremos outro sendo o mesmo.

No plano político, há mais novidades do que se pensa. A mudança está tendo um efeito redutivo nas identidades políticas. O caso mais significativo é o do PT. O partido esmerou-se em radicalizar a política sem ir à raiz do processo político. Vive na fantasia de que o petismo é um país, e não um partido bloqueado por sua fragmentação.

Esse é apenas um dos aspectos do desaparecimento lento e progressivo da identidade de brasileiro. Outros grupos partidários e personagens caminham na mesma direção. Como Lula, Bolsonaro é um partido. Não se apoia na tese de um reencontro dos brasileiros com o seu destino. Pensa o Brasil como um país de opostos.

No plano estritamente social, a desagregação também está posta nos diferentes movimentos e ações de busca de identidade por diferentes grupos e categorias sociais. Como se já não tivéssemos uma. Nessa busca, há um desconforto com a condição histórica de brasileiro. O que exige reflexão e a análise. Na dilaceração da condição de brasileiro, de vários modos não queremos ser o que historicamente temos sido e somos.

Hélio Schwartsman: Democracia confusa

- Folha de S. Paulo

Legendas deveriam propor visões, em tese exequíveis, de como uma sociedade deve funcionar

Em dias de convenções, é oportuno falar sobre partidos políticos. Eles são o elo mais fraco de nossa democracia, que, apesar de vários e graves déficits, vem resistindo bem ao teste de estresse a que foi submetida nos últimos quatro anos.

A ideia central da democracia representativa é equilibrar os desejos do eleitor com as responsabilidades inerentes à governança. Se coubesse à população definir, sem filtros, todas as políticas públicas por meio de plebiscitos e referendos, chegaríamos facilmente a situações inadministráveis, como salários mínimos crescendo sempre acima da produtividade e sistemas de seguridade social mais generosos do que a capacidade do país de pagar por eles.

O problema de fundo são os efeitos da agregação. Nos contextos em que o erro é distribuído aleatoriamente, como encontrar a resposta certa a uma pergunta factual, as multidões são sábias; mas, quando o erro é sistemático, isto é, baseado em vieses cognitivos, como ocorre num bom número de decisões políticas e econômicas, seguir as massas só potencializa os equívocos.

Caberia aos partidos fazer a ponte entre as aspirações do povo e os constrangimentos ditados pela realidade. São múltiplas as vias de atuação. Para início de conversa, legendas deveriam propor visões, em tese exequíveis, de como uma sociedade deve funcionar. Isso não só permitiria ao eleitor escolher a tribo com a qual se identifica como ainda lhe daria pautas concretas pelas quais pelejar, tanto fora quanto dentro da sigla, enquadrando os caciques que colocassem seus interesses pessoais acima de tudo.

Ricardo Noblat: Lula e Fernandinho Beira-Mar

- Blog do Noblat

O que os aproxima e distingue

Do cárcere, em Mossoró, Luiz Fernando da Costa, 51 anos, vulgo Fernandinho Beira-Mar, preso e condenado por tráfico de drogas e assassinatos, lidera a facção criminosa Comando Vermelho que se espalha por todo o país, sendo mais forte no Rio de Janeiro e vizinhanças

Do cárcere, em Curitiba, Luiz Inácio da Silva, 72 anos, vulgo Lula, preso e condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, lidera o Partido dos Trabalhadores que também se espalha por todo o país, sendo mais forte no Norte e Nordeste, e em bolsões de pobreza de outras regiões.

O que mandam Fernandinho e Lula é rigorosamente obedecido por seus seguidores. Arrisca-se a morrer de verdade quem desobedece as ordens de Beira-Mar. A morte política é o destino certo de quem desobedece as ordens de Lula. Os dois não admitem rivais. Onde pisam não costuma crescer grama.

O grau de periculosidade dos dois é igual, cada um no seu pedaço e cada um ao seu modo. Mas há, entre outras, uma grande diferença entre eles: Beira-Mar preocupa-se com o fortalecimento de sua organização. Lula, com sua própria sorte, às favas a organização. Os dois se declaram inocentes e vítimas de injustiça.

Dora Kramer: Pela hora da morte

- Revista Veja

Operário-patrão do PT, Lula afunda a sigla para sobreviver como mito

Tudo na abordagem eleitoral do PT de insistir numa candidatura presidencial legalmente impossível mostra que a sigla voltou a apostar no quanto pior, melhor — partindo do princípio de que, perdido por um, perdido logo de uma vez por mil.

E nada pior para o país que a eleição de um brucutu enlouquecido, cuja ascensão ao poder equivaleria à assinatura de um contrato com o aprofundamento de todas as crises, a quebra da ordem social, a desorganização da economia e a desestabilização institucional.

O traço desse cenário caótico não é fruto de exagero, de delírio, muito menos de posicionamento ideológico. Resulta apenas da soma dos atributos mentais, orais e gestuais do deputado Jair Bolsonaro, cuja exibição não deixa a menor dúvida. Faz sucesso? Ora, a figura do rinoceronte Cacareco (Google, juventude!) em tempos idos também fez, e de lá para cá houve vários campeões de audiência no quesito voto inútil nas eleições. Uns eleitos, outros apenas fermento no índice de nulos.

Isso dito, não é Bolsonaro o foco aqui. Ou melhor, é e não é, mas vamos adiante. O tema mesmo é a rota escolhida pelo PT nesta eleição, um caminho rumo ao abismo. O partido, ou a parte que segue Lula (a outra existe, mas só sussurra ou simplesmente cala), optou pelo suicídio.

Não elegerá o presidente, embora faça de conta que isso não acontecerá por obra das “forças do atraso”. Não pode, por causa da candidatura fantasma, organizar-se nos estados. Não articula alianças política e eleitoralmente eficazes e, portanto, tende a eleger poucos parlamentares no âmbito nacional e estadual.

Luiz Carlos Azedo: Meirelles, ma non troppo

– Correio Braziliense

O MDB confirmou ontem a candidatura do ex-ministro da Fazenda Henrique Meirelles a presidente da República. É a mais poderosa agremiação política do país, pois reúne o presidente da República, quatro ministros, cinco governadores, três vice-governadores, 51 deputados federais, 18 senadores, 118 deputados estaduais, 1.049 prefeitos (quatro de capitais), 778 vice-prefeitos e 7.564 vereadores, além de 2,3 milhões de filiados. Herdeiro da resistência democrática ao regime militar, transformou-se de uma frente política pluralista de oposição numa confederação de caciques regionais, que nunca vacilaram em “cristianizar” os candidatos da legenda.

O termo é uma alusão ao candidato do PSD nas eleições de 1950, o ex-prefeito de Belo Horizonte Cristiano Machado, que foi rifado por seus correligionários, leais ao ex-presidente Getúlio Vargas, que se candidatou pelo PTB. A primeira vítima dos caciques do PMDB foi ninguém menos do que o grande líder da campanha das Diretas Já!, deputado Ulysses Guimarães, nas eleições de 1989. Foi traído pelo então governador de São Paulo, Orestes Quércia (PMDB), e outros líderes da legenda, tendo apenas 4,4% dos votos. O mesmo fenômeno se repetiu nas eleições de 1994, quando Quércia foi candidato e acabou “cristianizado” pelos correligionários, que derivaram para a candidatura de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Desde então, a legenda consolidou uma vocação parlamentar capaz de contingenciar qualquer governo, ao eleger a maior bancada do Senado e grande número de deputados. O MDB é uma força decisiva em qualquer votação importante no Congresso. A indicação de Meirelles foi uma demonstração de força do presidente Michel Temer, dos ministros Eliseu Padilha (Casa Civil) e Moreira Franco (Minas e Energia) e do presidente da legenda, senador Romero Jucá (RR), contra dissidentes poderosos, como os senadores Renan Calheiros (AL) e Roberto Requião (PR). Foram 357 votos a favor da candidatura, 85% do total. Houve 56 votos contrários e seis em branco. Como o PMDB não se coligou com ninguém nacionalmente, seus caciques estão à vontade para fazerem o que quiserem nas disputas regionais, como normalmente ocorre. Ou seja, vão de Meirelles, ma non troppo, como se diz em italiano.

Desde o fracasso de Quércia, é a primeira vez que a legenda lança um candidato. Meirelles se colocou como o nome mais confiável para conduzir o país: “A minha candidatura tem um objetivo principal: resgatar o espírito de confiança no Brasil”. Fez um contraponto aos demais candidatos: “O Brasil precisa de um messias, que se veste com uniforme de salvador da pátria? Não. Nem de um líder destemperado, tratando o país como se fosse seu latifúndio. E nem eternos candidatos a presidente”. O ex-ministro não definiu o vice na sua chapa; o nome mais citado é o da senadora Marta Suplicy (SP). E começa a campanha quase do zero, pois na pesquisa do Ibope/CNI divulgada ontem não chega a 1% de intenções de voto, mesmo patamar de Aldo Rebelo (SDD), Guilherme Afif (PSD), Guilherme Boulos (PSOL), Paulo Rabello de Castro (PSC), Rodrigo Maia (DEM) e Valéria Monteiro (PMN).

Bernardo Mello Franco: PT repete o passado e sacrifica o futuro

- O Globo

Para isolar Ciro, partido rifa sua maior promessa de renovação no Nordeste. O conchavo reprisa a eleição de 1998 no Rio

Aos 34 anos, Marília Arraes cresceu e apareceu como vereadora do Recife. Neta de Miguel Arraes, prima de Eduardo Campos, ela mostrou ousadia ao romper com os herdeiros oficiais do clã. Deixou o PSB, que comanda o estado como uma capitania hereditária, e se filiou ao PT. Na oposição, despontava como forte candidata ao governo de Pernambuco.

Não será mais. Numa decisão, o petismo sacrificou sua maior promessa de renovação no Nordeste. O partido rifou Marília para facilitar a reeleição de Paulo Câmara. Em troca, o PSB deixou Ciro Gomes sozinho na corrida presidencial. A vereadora acusou seu partido de vender sua cabeça “a preço de banana”. É o velho pragmatismo petista de volta à cena.

Em 1998, o Rio foi palco de uma barganha parecida. Líder das passeatas de 68, Vladimir Palmeira enfeitiçou a militância e ameaçou o reinado do brizolismo. Sob as ordens de Lula e José Dirceu, o partido implodiu sua candidatura para se aliar ao PDT. A intervenção resultou na vitória de Anthony Garotinho. Em pouco tempo, ele se livrou dos petistas e os amaldiçoou com o apelido de “partido da boquinha”.

“Cansamos de dizer que aquilo seria uma grande burrice”, lembra Vladimir, duas décadas depois. “A partir dali, o PT do Rio acabou. Milhares de filiados saíram do partido, que deixou de ter qualquer possibilidade de governar o estado”, acrescenta.

Afastado da política, o velho militante vê a história se repetir em Pernambuco. “Tudo isso para isolar o Ciro, porque o Lula não quer ninguém no lugar dele”, avalia. “O risco é a esquerda ficar fora do segundo turno, vendo um duelo do Alckmin com o Bolsonaro”.

A convenção do MDB produziu momentos de humor involuntário. Romero Jucá, o senador do “grande acordo nacional”, disse que os partidos “vão ter que deixar o conchavo” para sobreviver.

Henrique Meirelles informou que “confiança não se compra, se conquista”. Para ser candidato, ele prometeu gastar até R$ 70 milhões do próprio bolso.

Alckmin anuncia Ana Amélia como vice de sua chapa

O pré-candidato à presidência da República pelo PSDB, Geraldo Alckmin, anunciou na noite desta quinta-feira (2) que a senadora Ana Amélia (PP-RS) vai compor sua chapa como vice. A confirmação foi feita em entrevista ao programa “Central das Eleições”, do canal GloboNews. Alckmin fez questão de destacar as qualidades de Ana Améilia como parlamentar.

“Eleita por vários anos uma das melhores parlamentares do Senado, uma pessoa extremamente séria, competente, dedicada. A vice dos sonhos! Quanto mais a mulher participar da República brasileira, ganha a sociedade como um todo.”, disse Alckmin saudando o papel das mulheres na política brasileira.

A entrevista de Geraldo Alckmin foi definida, por meio de sorteio, e seria nesta sexta-feira (3). No entanto, foi antecipada depois que o pré-candidato Jair Bolsonaro comunicou que não poderia comparecer por problemas de agenda. A produção do programa procurou, então, Alckmin para saber se ele aceitaria adiantar em um dia a data de sua sabatina. Em benefício do debate, o ex-governador reagendou diversos compromissos para conseguir atender ao pedido da emissora.

Alckmin terá senadora do PP como vice

A senadora Ana Amélia (PP-RS) será a vice na chapa do presidenciável Geraldo Alckmin (PSDB-SP). Costurado ontem, o acordo envolve a sucessão no Rio Grande do Sul, onde os dois partidos têm candidatos próprios ao governo.

Coligações. Ana Amélia, do PP-RS, aceita convite para compor chapa de pré-candidato tucano; com Eduardo Jorge, presidenciável da Rede rompe isolamento e amplia tempo de TV

Alckmin define senadora na vice; Marina fecha com PV

Camila Turtelli, Renan Truffi Marianna Holanda, Pedro Venceslau e DanieL Bramatti | O Estado de S. Paulo.

Às vésperas de suas convenções partidárias, Geraldo Alckmin, do PSDB, e Marina Silva, da Rede, definiram seus candidatos a vice na disputa presidencial. Alckmin escolheu a senadora gaúcha Ana Amélia (PP), que aceitou o convite e deve ser oficializada pela coalizão em torno do tucano até domingo. Já o exdeputado federal Eduardo Jorge (PV) foi anunciado ontem como o candidato a vice na chapa de Marina.

A aliança com sua ex-legenda – pela qual disputou o Palácio do Planalto em 2010 – tirou a presidenciável da Rede do isolamento e vai agregar 10 segundos no horário eleitoral de TV e rádio. Com isso, Marina passará a ter 26 segundos em cada bloco de 12 minutos e 30 segundos no palanque eletrônico presidencial, conforme levantamento do Estadão Dados.

Ana Amélia aceitou o convite para ser vice na chapa do précandidato do PSDB – informação antecipada pelo blog da Coluna do Estadão. O convite foi feito diretamente pelo ex-governador de São Paulo à senadora, que condicionou a resposta definitiva a arranjos entre PSDB e PP em âmbito nacional e, principalmente, no Rio Grande do Sul, seu Estado natal e onde as duas legendas têm candidatos próprios ao Executivo.

O deputado Luiz Carlos Heinze (PP), que havia fechado uma composição com DEM, PSC, PROS e PSL, deve desistir da disputa, apoiar o tucano Eduardo Leite (PSDB), ex-prefeito de Pelotas, e ocupar a vaga de Ana Amélia na disputa pelo Senado.

À noite, em entrevista à GloboNews, Alckmin definiu sua vice como “séria, competente e dedicada”. “Ela abriu mão de concorrer à reeleição ao Senado para estar conosco nesta caminhada”, afirmou o tucano, acrescentando que recebeu dos partidos que o apoiam “a delegação” para fazer a escolha.

Após o empresário Josué Gomes, filiado ao PR, declinar do convite para ser vice de Alckmin, o tucano consultou aliados do Centrão e chegou a uma lista de sete nomes. A prioridade era compor chapa com uma mulher de um Estado que não fosse São Paulo. “A vice dos sonhos é Ana Amélia, e eu consegui”, disse Alckmin.

O nome de Ana Amélia ganhou força porque Alckmin precisa reconquistar eleitores do Sul que, historicamente, votaram no PSDB, mas se afastaram da sigla nos últimos anos.

A senadora gaúcha, contudo, evitou ser assertiva quando questionada sobre a composição da chapa. “A decisão caberá a Alckmin e ao presidente do partido (PP)”, disse mais cedo, citando o senador Ciro Nogueira (PI). “Se os acertos (entre PP e PSDB gaúchos) não forem concluídos satisfatoriamente, eu tenho que ver como vai ficar”, completou. Ela afirmou que o anúncio oficial deve ser feito até hoje, véspera da convenção nacional do PSDB. Tucanos confirmaram ao Estadão/Broadcast que a senadora ligou para Alckmin e informou sobre sua decisão no fim da tarde de ontem.

Ela lembrou que nas últimas décadas ao menos três vice-presidentes assumiram o cargo. “Vice não é mais uma figura decorativa no Brasil”, afirmou.

Dirigentes do PP alertaram o tucano e os demais partidos do Centrão – bloco formado por PP, PRB, PR, DEM e Solidariedade – que a decisão pelo nome da senadora deve ser encarada como uma opção “pessoal” da campanha do PSDB e não pode entrar na “cota” do Partido Progressista. O motivo é que Ana Amélia não possui a confiança de Ciro Nogueira e outros caciques do PP. Ela tem um histórico de divergências internas e é avaliada como alguém com um estilo “independente”, o que faz com que não seja unanimidade na direção da sigla.

Ana Amélia será vice de Alckmin, e MDB lança Meirelles ao Planalto

A senadora Ana Amélia (PP-RS) aceitou o convite de Geraldo Alckmin (PSDB) para ser vice na campanha à Presidência, em acordo com desdobramentos no Rio Grande do Sul. O candidato do PP ao governo do estado, Luís Carlos Heinze, sai dessa disputa e concorre ao Senado, na vaga de Ana Amélia. Heinze apoiava o presidenciável Jair Bolsonaro (PSL). A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, fechou a única aliança de sua candidatura, com o PV, que lhe dará mais 32 segundos por dia na TV e um vice, Eduardo Jorge. Desde 1994 sem nome ao Planalto, o MDB formalizou a candidatura do ex-ministro Henrique Meirelles.

Alckmin terá como vice senadora gaúcha Ana Amélia, do PP, e faz Bolsonaro perder apoio

Cristiane Jungblut | O Globo

BRASÍLIA / Depois de uma semana procurando acomodar os anseios dos partidos que o apoiam, especialmente os do centrão, o pré-candidato do PSDB à Presidência, Geraldo Alckmin, terá a senadora Ana Amélia (PP-RS) como vice. O “sim” foi dado ontem, 72 horas depois de a senadora ter dito que não havia sequer sido sondada, e, se fosse convidada, não aceitaria.

No fim da noite, Alckmin elogiou a nova companheira de chapa, dizendo que foi uma escolha sua avalizada pelos partidos do centrão:

— A vice dos sonhos era a Ana Amélia. Ela abriu mão da reeleição (ao Senado). É extremamente séria, competente. E tem a presença da mulher. Quanto mais a mulher participar, ganha a sociedade. Os partidos do centro (DEM, PP, SD, PR e PRB) delegaram a nós a escolha. Estamos muito otimistas — declarou o presidenciável, ao ser entrevistado no “Central das Eleições”, da GloboNews.

Durante o programa, Alckmin foi questionado sobre a aliança com partidos do centrão, cujos vários líderes estão sob investigação de corrupção. O tucano justificou as alianças pela necessidade de sua campanha de ganhar tempo de TV e, se eleito, aprovar reformas no Congresso.

— Não existe partido, vamos ser sinceros. O eleitor vai votar nas pessoas. Não tem partido no Brasil. Estamos colhendo as consequências da falta da reforma política, que eu pretendo fazer logo no início — respondeu. — Queremos fazer um governo reformista. Precisa de aprovar PECs, 308 (votos necessários na Câmara), precisa de maioria.

REARRANJO NO RS
Em meio aos arranjos regionais que se constroem a reboque das alianças nacionais, Ana Amélia aceitou o convite, mas impôs uma condição. Com o acerto, o PP passa a apoiar Alckmin no Rio Grande do Sul, onde antes o candidato do partido ao governo local, Luís Carlos Heinze, apoiava o presidenciável do PSL, Jair Bolsonaro.

O acerto é um revés para Bolsonaro no Sul do país. Com o embarque da senadora na campanha de Alckmin, ficou acertado que Heinze desiste de concorrer ao governo para disputar uma vaga ao Senado, justamente no lugar de Ana Amélia. Nesse cenário, ele passa a integrar a chapa de Eduardo Leite, précandidato ao governo pelo PSDB — que fica sem a concorrência do PP.

Marina fecha acordo com PV e terá Eduardo Jorge a seu lado na chapa

Aliança garante à pré-candidata da Rede 32 segundos diários de TV; para os verdes, luta pela sobrevivência foi determinante para parceria. Partidos também formarão frente parlamentar

Dimitrius Dantas, Jeferson Ribeiro e Maria Lima | O Globo

BRASÍLIA E RIO / A pré-candidata da Rede à Presidência, Marina Silva, fechou ontem sua única aliança. Após meses de conversas com PPS, PSB, Pros e PHS, foi com um convite de última hora, feito no dia da convenção do PV, há uma semana, que o partido da ambientalista conseguiu um acordo. A aliança com o PV lhe garantirá mais tempo de televisão (32 segundos por dia), estrutura e um companheiro de chapa, o médico sanitarista Eduardo Jorge.

A decisão, antecipada pelo site do GLOBO, foi tomada ontem após uma reunião entre dirigentes das duas siglas em São Paulo. O encontro foi decisivo para convencer o presidente do PV, José Luiz Penna, considerado o fiel da balança dos rumos do partido. Os obstáculos ao acordo eram, principalmente, diretórios que já tinham feito articulações com outros candidatos no páreo, como Geraldo Alckmin e Alvaro Dias.

Nos últimos dias, alguns integrantes do partido, contrários ao acordo, chegaram a classificar a oferta de “chacota”, por ter sido feita no dia da convenção do PV. Penna disse que esse convite de “afogadilho” foi a maior dificuldade vencida nos últimos dias.

—Penso que foi uma coisa meio no afogadilho. Essa foi a dificuldade maior, porque tivemos que mostrar o mapa de alianças que temos no país e compreender que, em alguns lugares, a Rede está contra nós. Temos que fazer uma conta de chegada, mas houve compreensão e afabilidade. A proposta de ter o Eduardo na vice também encantou muito nossos pares —argumentou.

Após o fim da reunião, as propostas da Rede, como o apoio à candidatura do PV ao governo da Paraíba e a seus principais candidatos a deputado federal, foram encaminhadas a um grupo de mensagens da Executiva Nacional, e alcançaram maioria. A negociação com a Rede inclui também a formação de um bloco parlamentar.

ARESTAS APARADAS
A ex-senadora foi candidata a presidente pelo PV em 2010, mas saiu fazendo críticas à direção, liderada por Penna. Os dois ficaram sem conversar até o último dia 26, quando voltaram a se falar e fizeram uma análise do quadro nacional. Na avaliação do presidente do PV, a aliança apara as arestas do passado entre Marina e o partido. Segundo ele, a luta pela sobrevivência e a proximidade programática foram fundamentais para o acordo. No Twitter, Marina comemorou: “Feliz por esta tão importante decisão. Obrigada, Eduardo Jorge e Partido Verde. 2018 chegou”, escreveu.

‘Alianças levaram País ao fundo do poço’, diz Marina

No dia em que se alia ao PV, Marina diz que acordo Alckmin-Centrão não vai ‘resolver os problemas do Brasil’

Marianna Holanda | O Estado de S. Paulo.


BRASÍLIA - A pré-candidata à Presidência pela Rede, Marina Silva, conseguiu levar ontem um partido para seu palanque, o PV, mas ainda está distante de outros candidatos no tempo de TV e recursos para campanha. Em entrevista ao Estado, ela afirmou que foram justamente essas alianças com outros partidos, sem um olhar “programático”, que levaram o País ao “fundo do poço”.

Questionada se não seria utópico governar sem uma base no Congresso, Marina disse que utópico é achar que alianças como a de Geraldo Alckmin (PSDB) com o Centrão vão salvar o País. A presidenciável defendeu ainda as reformas administrativa e da Previdência, com “reduções necessárias” nos ministérios, e fim de privilégios na aposentadoria, mas não especificou propostas.

• Por que foi tão difícil conseguir alianças?
Estamos buscando composições que sejam coerentes com um princípio de uma composição democrática e programática. Mas a composição do governo não será apenas com lideranças partidárias. Existem muitas pessoas boas na iniciativa privada, nos movimentos sociais, dentro da academia, em muitos setores. No entanto, o foco fica nos partidos. Vamos trabalhar a partir do programa com uma composição diversificada, além dos partidos.

Rifados resistem a acordo PT-PSB

Rifados pelos próprios partidos, a vereadora do Recife Marília Arraes (PT) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) anunciaram que resistirão à retirada de suas candidaturas aos governos de Pernambuco e Minas Gerais.

Marília e Lacerda desafiam PT e PSB

Após terem candidaturas sacrificadas por acordo entre as siglas, neta de Arraes e ex-prefeito de BH dizem que se mantêm nas disputas estaduais

Jonathas Cotrim / Kleber Nunes / Katna Baran |O Estado de S. Paulo.

BELO HORIZONTE, RECIFE, CURITIBA - Rifados pelos próprios partidos, a vereadora do Recife Marília Arraes (PT) e o ex-prefeito de Belo Horizonte Marcio Lacerda (PSB) anunciaram ontem que não vão retirar suas candidaturas ao governo de Pernambuco e de Minas Gerais, respectivamente. Ambos afirmaram que vão se manter na disputa e passaram o dia em articulações para que os termos do acordo fechado entre PT e PSB fossem submetidos à votação na convenção dos diretórios estaduais das duas siglas.

Anteontem, os dois partidos fecharam acordo que estabeleceu a neutralidade do PSB na eleição presidencial – o que na prática isolou o candidato do PDT, Ciro Gomes – e apoio “cruzado” nos Estados. Pelo trato, o PT retiraria a candidatura de Marília e apoiaria a reeleição do governador Paulo Câmara (PSB). Em troca, Lacerda desistiria de tentar o governo de Minas e o PSB declararia apoio à reeleição do governador Fernando Pimentel (PT).

Ao reagir, Lacerda adotou um tom mais incisivo. Disse que recebeu a notícia com “indignação, perplexidade, revolta e desprezo”, e aventou a possibilidade de recorrer à Justiça. “É possível uma judicialização. Tudo o que estiver ao nosso alcance para defender a candidatura, nós iremos atuar dentro dessas possibilidades”, disse. O ex-prefeito de Belo Horizonte declarou que não comunicou sua decisão ao presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira.

Partidos dão últimos lances na pré-campanha eleitoral: Editorial | Valor Econômico

Os principais lances dos partidos políticos na preparação da campanha eleitoral oficial foram todos dados. Da prisão, jogando seu peso político para isolar Ciro Gomes (PDT) do eleitorado de esquerda e impedir que o PSB se aliasse a ele, o ex-presidente Lula aplainou a área para levar até o fim a arriscada estratégia de tentar até o fim ser candidato e, caso isso não seja possível, pelo menos colocar sua foto na urna. Henrique Meirelles, ex-ministro da Fazenda, foi escolhido pela convenção do MDB e terá a difícil tarefa de disputar o mesmo campo de ideias econômicas que o ex-governador Geraldo Alckmin (PSDB), com a diferença que o tucano tem um arco de apoio partidário mais extenso e poderoso. Jair Bolsonaro (PSL), como era esperado, vai em frente sem alianças.

Houve alguma decantação, com redução do número de postulantes. Álvaro Dias (Podemos) acolheu Paulo Rabelo de Castro (PSC) como vice em sua chapa, enquanto que, ao que tudo indica pelos sinais enviados por mensageiros de Curitiba, Manoela D'Ávila, candidata pelo PCdoB, pode ser a vice do PT, trazendo de volta um aliado que sempre concorreu ao lado do PT nas eleições para a Presidência. Marina Silva (Rede) permitiu coligações estaduais, heterodoxas para a ortodoxia de seus princípios, de olho, como outras legendas menores, na cláusula de barreira, que começa a contar agora.

O espaço para surpresas e reviravoltas não se esgotou, mas ficou bem mais limitado. Os cargos de vice estão todos em aberto para ampliar leques de alianças e cobertura regional de pontos fracos. O destino eleitoral de Lula, inelegível pela Lei Ficha Limpa, é a maior incerteza. O Supremo Tribunal Federal pode voltar a examinar sua soltura na próxima semana e dar um sinal definitivo se ele poderá ou não concorrer mesmo após ter sido condenado em segunda instância e preso - para 5 ministros do tribunal, ele não deveria estar recolhido em Curitiba, nem se esgotaram todos os recursos à sua disposição.

Lula impõe limitações ao PT em benefício próprio: Editorial | O Globo

Ex-presidente manobra para impedir crescimento de Ciro, o que reduziria seu poder de pressão sobre o Judiciário

A mágoa do pré-candidato do PDT Ciro Gomes com PT e Lula ficou translúcida na sabatina a que se submeteu na GloboNews, no fim da noite de quarta e madrugada de ontem. Um objetivo de Ciro, e talvez a única chance de se viabilizar como aspirante ao segundo turno, era conseguir apoio do PSB.

Lula não deixou. Preso, por ter sido condenado em segunda instância por corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no processo do tríplex do Guarujá, o ex-presidente insiste em manter a candidatura à Presidência, contra todas as evidências de que está inelegível, segundo a Lei da Ficha Limpa, sancionada por ele.

Como sempre em sua trajetória política, Lula não permite o surgimento de líderes concorrentes, no PT ou na própria esquerda. Exclusivismo que se tornou mais radical porque o projeto de sua candidatura —que atrai 30% de apoio nas pesquisas, o índice histórico do PT antes da vitória em 2002 —é usado como forma de pressão sobre a Justiça e instituições em geral, para soltá-lo, a fim de que dispute as eleições. E consiga foro privilegiado, para se proteger de outras denúncias.

Provocação barata: Editorial | Folha de S. Paulo

Judiciário deve decidir com presteza sobre a situação eleitoral de Lula

Num regime democrático maduro, lideranças que já cumpriram dois mandatos como chefe de Estado se retiram do circuito eleitoral; políticos condenados por corrupção são impedidos por seu próprio partido de disputar cargos; juízes respeitam os precedentes e a liturgia da toga qualquer que seja o réu sob seu escrutínio.

A democracia infante do Brasil está distante desse ideal, como demonstra o caso do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Diante dos desmazelos ocorridos sob o mando do Partido dos Trabalhadores, e de suas figuras ilustres que caíram nas garras da lei enredadas por farto conjunto probatório, deveríamos há muito estar assistindo a um processo intenso de autocrítica e renovação naquela que ainda é a mais bem organizada agremiação política do país.

Ocorreu, entretanto, o oposto. Provavelmente nunca antes na história do PT o comando exercido pela sua maior liderança, que cumpre penapor corrupção após condenação em duas instâncias, foi tão incontrastável e indisputado.

Do cárcere, Lula abençoou o massacre às pretensões aliancistas de Ciro Gomes (PDT) com o método de sempre. Esmaguem-se nomes regionais, como a jovem pernambucana Marília Arraes, que estejam no caminho. O vetor desse jogo é mais oligarquização na já enclausurante vida partidária brasileira.

Lula difunde a farsa de que será presidenciável em outubro contra a letra fria da Lei da Ficha Limpa, sancionada por ele quando mandatário, que impede candidaturas de condenados em segunda instância por crimes como corrupção.

Um poder desmedido: Editorial | O Estado de S. Paulo

Um levantamento do Estadão/Broadcast revela que estão à espera de julgamento pelo plenário do Supremo Tribunal Federal (STF) nada menos que 75 liminares concedidas por ministros suspendendo leis, decretos, resoluções e medidas provisórias. Algumas datam de 2010 – ou seja, são decisões que, malgrado seu caráter provisório e monocrático, ganham ares de resoluções definitivas, em razão do longo tempo em que estão em vigor.

Há vários problemas relacionados a essa situação. O primeiro deles é o excessivo recurso à liminar monocrática em temas que demandam decisão colegiada, como o controle da constitucionalidade. Por mais bem preparado e bem-intencionado que seja, um ministro do Supremo não pode suspender leis senão em situações excepcionais, nas quais o interesse público e a defesa da Constituição demandem uma resolução urgente. O volume de liminares monocráticas indicado pelo levantamento do Estado demonstra que esse cenário está longe de ser raro, o que encontra críticos inclusive dentro do próprio Supremo. “Tenho sustentado que a competência para implemento de medida acauteladora é do colegiado, não individual. Tanto que a lei exige seis votos para suspender a eficácia de uma norma. Como é que uma única visão pode substituir esse requisito?”, questionou o ministro Marco Aurélio Mello. “O STF é o plenário, o colegiado, não é o ministro individualmente”, corroborou Carlos Velloso, ex-ministro do Supremo.

Na prática, ministros do Supremo acabam tendo o imenso poder de interferir, sozinhos, em decisões do Congresso, razão pela qual a prerrogativa de conceder liminares para sustar leis deveria ser usada com grande parcimônia e o plenário deveria se manifestar rapidamente sobre essas decisões provisórias. Mas não é o que tem acontecido.

Entrevista de Geraldo Alckmin para GloboNew

Gal Costa - A Felicidade

Carlos Drummond de Andrade: Mundo grande

Não, meu coração não é maior que o mundo.
É muito menor.
Nele não cabem nem as minhas dores.
Por isso gosto tanto de me contar.
Por isso me dispo,
por isso me grito,
por isso frequento os jornais, me exponho
cruamente nas livrarias:preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno.
Só agora vejo que nele não cabem os homens.
Os homens estão cá fora, estão na rua.
A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava.
Mas também a rua não cabe todos os homens.
A rua é menor que o mundo.
O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo.
Conheces os navios que levam petróleo e livros,
carne e algodão.
Viste as diferentes cores dos homens,
as diferentes dores dos homens,
sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso
num só peito de homem...sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece.
Escuta a água nos vidros,
tão calma. Não anuncia nada.
Entretanto escorre nas mãos,
tão calma! Vai inundando tudo...

Renascerão as cidades submersas?
Os homens submersos-voltarão?
Meu coração não sabe.
Estúpido, ridículo e frágil é meu coração.
Só agora descubro
como é triste ignorar certas coisas.
(Na solidão de indivíduo
desaprendi a linguagem
com que homens se comunicam).

Outrora escutei os anjos,
as sonatas, os poemas, as confissões patéticas.
Nunca escutei voz de gente.
Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei
países imaginários, fáceis de habitar,
ilhas sem problemas, não obstante
exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas.
Ilhas perdem o homem.
Entretanto alguns se salvaram e
trouxeram a notícia
que o mundo, o grande mundo está
crescendo todos os dias,
entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer.
Entre o amor e o fogo,
entre a vida e o fogo,
meu coração cresce dez metros e explode.
-ó, vida futura! Nós te criaremos.