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Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
sexta-feira, 18 de julho de 2008
DEU NO VALOR ECONÔMICO
VOTO EMOÇÃO, VOTO CABEÇA
Por Cláudia Izique, para o Valor, de São Paulo
Na mesa de cabeceira de qualquer marqueteiro engajado nas eleições municipais há um livro intitulado "O Cérebro Político: O Papel da Emoção na Decisão dos Destinos do País". Nele, o psicólogo americano Drew Westen, da Universidade de Emory, defende a tese de que a razão e a racionalidade desempenham papel pouco importante na decisão do voto e que é a emoção que prevalece na escolha. Enquanto os republicanos são pródigos no uso de palavras e imagens que desencadeiam cascatas de emoções durante uma campanha, os democratas, segundo Westen, acreditam que a mente humana age sem paixão - e por isso acabam perdendo eleições.
A tese de Westen, que ele garante estar fundamentada na neurociência, não soa como novidade aos ouvidos dos marqueteiros brasileiros. Desde que a lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, instituiu o horário eleitoral gratuito e levou a campanha para a TV, eles passaram a perscrutar a cabeça dos eleitores, sem o auxílio de "scanners" ou de aparelhos de ressonância magnética, mas com pesquisas de opinião pública. "Está superada a idéia de que o voto é uma experiência associada à identidade social com o candidato ou à afinidade psicológica do eleitor com o partido, ou fruto de uma escolha racional", constata o cientista político e analista de pesquisas Antonio Lavareda, responsável pelo marketing da campanha do prefeito paulistano Gilberto Kassab, candidato à reeleição. Com mais de 20 anos de experiência no ramo, ele afirma: a decisão de voto é resultado de um "mix" de fatores afetivos e racionais que se associam em diferentes proporções e variam de acordo com tendências individuais.
Westen chegou a conclusão semelhante - ainda que enfatizando o lado da emoção - por um método considerado mais científico: monitorou a atividade cerebral de 30 pessoas filiadas aos partidos Republicano e Democrata enquanto eram confrontadas com afirmações, positivas ou negativas, sobre seu candidato e o do partido oponente - no caso, George W. Bush e John Kerry, em 2004. Diante de afirmações desabonadoras sobre o adversário, a área do cérebro responsável pelo julgamento racional rapidamente entrava em funcionamento. Mas quando o alvo era o candidato do coração, os circuitos neurais envolvidos com a emoção acendiam, ativados pelo desconforto, e o cérebro do eleitor passava a buscar "recompensas" para afastar o conflito, recorrendo, finalmente, à racionalização, para restabelecer a escolha afetiva. Conclusão: o eleitor decide com a emoção e justifica com a razão.
O fato de os Estados Unidos contarem com um sistema bipartidário com 150 anos de história, terem um terço do eleitorado democrata e outro terço, republicano votando com os respectivos partidos - mas todos compartilhando os mesmos valores do "sonho americano" -, muito provavelmente fez com que a tese de Westen pendesse para um lado mais afetivo, pondera o cientista político Eduardo Graeff, que ocupou a Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso. Se ele tivesse ouvido os eleitores independentes, talvez não fosse tão radical.
O Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, tem um sistema político multipartidário e eleições que funcionam como uma espécie de plebiscito do governo. Se a economia vai bem e os empregos aumentam, o eleitor tende a aprovar o governante. Se as coisas vão mal, é hora de mudar e ele sai à procura de outro candidato, a despeito de compromissos partidários. É nesse trajeto, acreditam os especialistas, que a intuição dialoga com a razão.
"As emoções são anteriores à cognição dentro do processo de tomada de decisão e os dois sistemas afetivos engendram comportamentos racionais", explica o cientista político Jairo Pimentel, autor da tese "Razão e Emoção no Voto em 2006", em que contesta a posição radical de Westen. O marketing político, ele diz, pode até gerar sentimentos positivos ou negativos, mas não consegue manipular o eleitor que já tem predisposição ou já interpretou a realidade.
"O voto tem cálculo e o eleitor faz conta de acordo com o jogo que se arma em cada eleição", diz Jairo Nicolau, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), da Universidade Cândido Mendes. Na contabilidade eleitoral, a identificação com a legenda pode ter algum peso para menos da metade do eleitorado e, ainda assim, sem garantia de fidelidade.
"Se o candidato ficar do tamanho do partido, perde a eleição", comenta Graeff. De fato, foi-se o tempo em que os partidos políticos mobilizavam a militância para fazer caixa e lotar comícios. "Isso acabou", sublinha Nicolau. Hoje, os partidos dependem do dinheiro do Estado e, com a campanha na TV, prescindem da militância. "São as organizações não governamentais e do terceiro setor que disputam a atenção da juventude. Os partidos envelheceram e precisam mesmo é de marqueteiro", analisa Nicolau.
Mais que isso: para efeito de voto, é cada vez menos nítido o distanciamento "ideológico" entre legendas. E não só no Brasil. "Não existem mais partidos comunistas ou de direita e há um novo centro. Na Europa, por exemplo, todos são a favor da democracia e contra o desmonte do Estado. Há consenso em relação à democracia e não existem partidos querendo derrubar o regime", afirma Nicolau. Transposto para as eleições municipais brasileiras, o raciocínio identifica consenso em relação às principais demandas das cidades que estão prestes a eleger - ou reeleger - seu prefeito. "As rivalidades, nesse caso, mais se assemelham à disputa de um campeonato de futebol."
Em São Paulo, por exemplo, todos os candidatos têm proposta para melhorar a qualidade dos transportes, do trânsito ou da educação. No caso da educação, a diferença certamente estará fincada em programas de governo que proponham abrir diálogo com o sindicato dos professores ou ampliar o número de horas de permanência dos alunos na escola. Sem grandes diferenças programáticas, as campanhas tendem a ficar centradas na figura dos candidatos, no seu carisma, na competência e na confiança que despertam.
Engana-se, porém, o candidato que pensa levar vantagem se buscar identificação com o eleitor. Esse esforço não produz mais qualquer efeito político. Na primeira campanha com eleições diretas para a Presidência da República, em 1989, os dois bordões do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva - "Trabalhador vota em trabalhador" e "Um brasileiro igualzinho a você" - não funcionaram e Lula perdeu para Fernando Collor de Mello, um caçador de marajás desconhecido, eleito por um PRN ainda menos conhecido. "Em 2002, quando Lula mais se distanciou da identidade popular, ganhou a eleição", lembra Nicolau. Aos que ainda atribuem a vitória de Lula à genialidade do marqueteiro Duda Mendonça - que colocou a imagem de ratos roendo a bandeira nacional sob a frase "Xô Corrupção" - Nicolau adverte: "Lula se elegeu por conta do desgaste de Fernando Henrique Cardoso e da crise econômica e não por causa de imagens, como a das mulheres de branco, correndo no gramado."
"A identificação com a legenda pode ter algum peso para menos da metade do eleitorado e, ainda assim, sem garantia de fidelidade"
Apesar de os recursos simbólicos de Duda Mendonça terem sido avalizados em grupos de pesquisas - "Pôxa, está acontecendo alguma coisa com o meu país", sinalizou um eleitor, descreve Mendonça no livro "Casos e Coisas" -, na lógica do eleitor médio, seis fatores têm peso efetivo, garante o diretor do Instituto Análise, Alberto Carlos Almeida: a avaliação dos governos, a identidade dos candidatos, o nível de lembrança, o currículo e o seu potencial de crescimento, somados à sua insensibilidade aos apoios políticos. "Popularidade e simpatia são intransferíveis", sublinha Almeida. Assim, um candidato de governo com bons índices de avaliação de "ótimo" e "bom", baixo nível de rejeição, com identidade clara e imagem conhecida, que entra numa disputa com um cardápio de realizações e promessas alinhadas às principais expectativas da população, dificilmente perderá uma eleição.
Em maio de 1988, por exemplo, cinco meses antes das eleições presidenciais, Fernando Henrique Cardoso, então candidato à reeleição, fez uma declaração infeliz: "Todo aposentado é vagabundo", lembra Almeida em seu livro "A Cabeça do Eleitor". O deslize do presidente não teve qualquer repercussão nas pesquisas e ele se elegeu no primeiro turno. Sua candidatura estava blindada pelo desempenho do governo. Quatro anos depois, com a avaliação em queda, Fernando Henrique não conseguiu eleger José Serra.
Quando o eleitor opta pela mudança, sai à procura de um candidato identificado com a oposição. "A pior coisa que pode acontecer é a falta de clareza na imagem", adverte Almeida. Em 2002, depois de ter ocupado o segundo lugar nas pesquisas, Ciro Gomes, candidato do PPS, acabou em quarto lugar por que não fincou pé em nenhum terreno do eleitorado, "nem governista, nem oposicionista", lembra Almeida. Outra regra básica na lógica do eleitor e que vale para qualquer campanha eleitoral majoritária: ele tem que conhecer o candidato. "Tornar-se conhecido é, em geral, um esforço de longo prazo", observa o diretor do Instituto Análise.
Por esse critério, na atual campanha para a prefeitura de São Paulo, os candidatos do PT, Marta Suplicy, e do PSDB, Geraldo Alckmin, que já disputaram três eleições, entrariam em situação de vantagem. Em junho, eles tinham, respectivamente, 31% e 25% das intenções de voto. Gilberto Kassab, do DEM - que participou de uma única eleição majoritária, e na condição de vice de José Serra - contava 13%. Sua gestão à frente da prefeitura da capital, no mesmo período, no entanto, tinha 53% de aprovação e o prefeito, um percentual de 37% de "ótimo" e "bom", de acordo com pesquisa Setcesp/Ibope, o que o coloca na condição de candidato com potencial de crescimento. "Até setembro, o que vai valer é a sua exposição na mídia", afirma Figueiredo.
Nessa altura do campeonato, literalmente, o que menos importa é a intenção de voto, afirma Lavareda. As pesquisas eleitorais só começam a ter peso, segundo ele, dez dias depois do início do horário eleitoral gratuito, que começa em 16 de agosto. Hoje, 25 de julho, os marqueteiros podem ser encontrados em campo, definindo planos estratégicos e táticos, e preparando as mensagens que devem conter elementos afetivos e racionais. Pesquisa sobre a eleição paulistana, divulgada pelo Datafolha há uma semana, revelou que, para o eleitor, Marta Suplicy é a "defensora dos pobres", Geraldo Alckmin é considerado "inteligente" e Gilberto Kassab é visto como "emocionalmente desequilibrado." Paulo Maluf é "o mais corrupto."
Ainda há tempo para mudar essa avaliação. "Campanha é ciência e arte", afirma Lavareda, recorrendo a uma imagem bélica para descrever o esforço de marketing: um míssil dirigido ao alvo, armado com uma ogiva onde está inscrita uma "mensagem", cuja forma - definida a critério dos criadores da campanha - deve ser "emocional" o suficiente para mobilizar e enraizar a mensagem.
Os marqueteiros justificam seu esforço com o fato de as campanhas terem de se confrontar com a qualidade da publicidade veiculada na TV. A concorrência, aliás, é uma explicação para o fato de tantos marqueteiros serem dublês de publicitários: o horário eleitoral gratuito convive com grades de programação na TV e as mensagens precisam enquadrar-se no formato de comercial, para ter efeito e "despertar emoções", diz Lavareda.
Nessa altura da campanha eleitoral, a principal ferramenta dos marqueteiros são as pesquisas de opinião, que lhes permitem identificar o "clima", a avaliação que eleitores têm dos candidatos e sua expectativa em relação à mudança. "O momento "A" é diferente do momento "B". A mudança é imponderável e cabe a quem faz campanha ter discernimento para identificar os rumos a serem tomados", ensina Lavareda. São essas pesquisas que municiam os responsáveis pela campanha com informações sobre o que e como comunicar e indicam os meios mais eficientes.
De volta ao polêmico livro de Westen: o sucesso está nas informações, fundamentadas na neurociência, supostamente preciosas para os marqueteiros da campanha presidencial americana. O psicólogo lembra, por exemplo, que as pessoas, "de modo inato", não gostam de assimetrias faciais e que rostos sorridentes ativam partes do cérebro que reforçam felicidade.
Nos Estados Unidos, no entanto, essa sugestões podem não ter repercussão. "Lá, a relação do partido com o marketing político é diferente", compara Graeff. Os consultores e estrategistas dos partidos, ele diz, são engajados e muitos integram o staff do candidato. "Aqui, quem faz campanha são os publicitários e marqueteiros, prestadores de serviço, que nada têm a ver com o partido. Pior: nossos partidos não "brifam" os marqueteiros", critica Graeff. "Não adianta ter propostas dos melhores especialistas para tudo que é problema social e econômico se falta ao partido e a seus candidatos um núcleo básico de valores pelos quais estejam dispostos a brigar."
Por Cláudia Izique, para o Valor, de São Paulo
Na mesa de cabeceira de qualquer marqueteiro engajado nas eleições municipais há um livro intitulado "O Cérebro Político: O Papel da Emoção na Decisão dos Destinos do País". Nele, o psicólogo americano Drew Westen, da Universidade de Emory, defende a tese de que a razão e a racionalidade desempenham papel pouco importante na decisão do voto e que é a emoção que prevalece na escolha. Enquanto os republicanos são pródigos no uso de palavras e imagens que desencadeiam cascatas de emoções durante uma campanha, os democratas, segundo Westen, acreditam que a mente humana age sem paixão - e por isso acabam perdendo eleições.
A tese de Westen, que ele garante estar fundamentada na neurociência, não soa como novidade aos ouvidos dos marqueteiros brasileiros. Desde que a lei nº 4.737, de 15 de julho de 1965, instituiu o horário eleitoral gratuito e levou a campanha para a TV, eles passaram a perscrutar a cabeça dos eleitores, sem o auxílio de "scanners" ou de aparelhos de ressonância magnética, mas com pesquisas de opinião pública. "Está superada a idéia de que o voto é uma experiência associada à identidade social com o candidato ou à afinidade psicológica do eleitor com o partido, ou fruto de uma escolha racional", constata o cientista político e analista de pesquisas Antonio Lavareda, responsável pelo marketing da campanha do prefeito paulistano Gilberto Kassab, candidato à reeleição. Com mais de 20 anos de experiência no ramo, ele afirma: a decisão de voto é resultado de um "mix" de fatores afetivos e racionais que se associam em diferentes proporções e variam de acordo com tendências individuais.
Westen chegou a conclusão semelhante - ainda que enfatizando o lado da emoção - por um método considerado mais científico: monitorou a atividade cerebral de 30 pessoas filiadas aos partidos Republicano e Democrata enquanto eram confrontadas com afirmações, positivas ou negativas, sobre seu candidato e o do partido oponente - no caso, George W. Bush e John Kerry, em 2004. Diante de afirmações desabonadoras sobre o adversário, a área do cérebro responsável pelo julgamento racional rapidamente entrava em funcionamento. Mas quando o alvo era o candidato do coração, os circuitos neurais envolvidos com a emoção acendiam, ativados pelo desconforto, e o cérebro do eleitor passava a buscar "recompensas" para afastar o conflito, recorrendo, finalmente, à racionalização, para restabelecer a escolha afetiva. Conclusão: o eleitor decide com a emoção e justifica com a razão.
O fato de os Estados Unidos contarem com um sistema bipartidário com 150 anos de história, terem um terço do eleitorado democrata e outro terço, republicano votando com os respectivos partidos - mas todos compartilhando os mesmos valores do "sonho americano" -, muito provavelmente fez com que a tese de Westen pendesse para um lado mais afetivo, pondera o cientista político Eduardo Graeff, que ocupou a Secretaria-Geral da Presidência da República no governo Fernando Henrique Cardoso. Se ele tivesse ouvido os eleitores independentes, talvez não fosse tão radical.
O Brasil, diferentemente dos Estados Unidos, tem um sistema político multipartidário e eleições que funcionam como uma espécie de plebiscito do governo. Se a economia vai bem e os empregos aumentam, o eleitor tende a aprovar o governante. Se as coisas vão mal, é hora de mudar e ele sai à procura de outro candidato, a despeito de compromissos partidários. É nesse trajeto, acreditam os especialistas, que a intuição dialoga com a razão.
"As emoções são anteriores à cognição dentro do processo de tomada de decisão e os dois sistemas afetivos engendram comportamentos racionais", explica o cientista político Jairo Pimentel, autor da tese "Razão e Emoção no Voto em 2006", em que contesta a posição radical de Westen. O marketing político, ele diz, pode até gerar sentimentos positivos ou negativos, mas não consegue manipular o eleitor que já tem predisposição ou já interpretou a realidade.
"O voto tem cálculo e o eleitor faz conta de acordo com o jogo que se arma em cada eleição", diz Jairo Nicolau, cientista político do Instituto Universitário de Pesquisa do Rio de Janeiro (Iuperj), da Universidade Cândido Mendes. Na contabilidade eleitoral, a identificação com a legenda pode ter algum peso para menos da metade do eleitorado e, ainda assim, sem garantia de fidelidade.
"Se o candidato ficar do tamanho do partido, perde a eleição", comenta Graeff. De fato, foi-se o tempo em que os partidos políticos mobilizavam a militância para fazer caixa e lotar comícios. "Isso acabou", sublinha Nicolau. Hoje, os partidos dependem do dinheiro do Estado e, com a campanha na TV, prescindem da militância. "São as organizações não governamentais e do terceiro setor que disputam a atenção da juventude. Os partidos envelheceram e precisam mesmo é de marqueteiro", analisa Nicolau.
Mais que isso: para efeito de voto, é cada vez menos nítido o distanciamento "ideológico" entre legendas. E não só no Brasil. "Não existem mais partidos comunistas ou de direita e há um novo centro. Na Europa, por exemplo, todos são a favor da democracia e contra o desmonte do Estado. Há consenso em relação à democracia e não existem partidos querendo derrubar o regime", afirma Nicolau. Transposto para as eleições municipais brasileiras, o raciocínio identifica consenso em relação às principais demandas das cidades que estão prestes a eleger - ou reeleger - seu prefeito. "As rivalidades, nesse caso, mais se assemelham à disputa de um campeonato de futebol."
Em São Paulo, por exemplo, todos os candidatos têm proposta para melhorar a qualidade dos transportes, do trânsito ou da educação. No caso da educação, a diferença certamente estará fincada em programas de governo que proponham abrir diálogo com o sindicato dos professores ou ampliar o número de horas de permanência dos alunos na escola. Sem grandes diferenças programáticas, as campanhas tendem a ficar centradas na figura dos candidatos, no seu carisma, na competência e na confiança que despertam.
Engana-se, porém, o candidato que pensa levar vantagem se buscar identificação com o eleitor. Esse esforço não produz mais qualquer efeito político. Na primeira campanha com eleições diretas para a Presidência da República, em 1989, os dois bordões do candidato do PT, Luiz Inácio Lula da Silva - "Trabalhador vota em trabalhador" e "Um brasileiro igualzinho a você" - não funcionaram e Lula perdeu para Fernando Collor de Mello, um caçador de marajás desconhecido, eleito por um PRN ainda menos conhecido. "Em 2002, quando Lula mais se distanciou da identidade popular, ganhou a eleição", lembra Nicolau. Aos que ainda atribuem a vitória de Lula à genialidade do marqueteiro Duda Mendonça - que colocou a imagem de ratos roendo a bandeira nacional sob a frase "Xô Corrupção" - Nicolau adverte: "Lula se elegeu por conta do desgaste de Fernando Henrique Cardoso e da crise econômica e não por causa de imagens, como a das mulheres de branco, correndo no gramado."
"A identificação com a legenda pode ter algum peso para menos da metade do eleitorado e, ainda assim, sem garantia de fidelidade"
Apesar de os recursos simbólicos de Duda Mendonça terem sido avalizados em grupos de pesquisas - "Pôxa, está acontecendo alguma coisa com o meu país", sinalizou um eleitor, descreve Mendonça no livro "Casos e Coisas" -, na lógica do eleitor médio, seis fatores têm peso efetivo, garante o diretor do Instituto Análise, Alberto Carlos Almeida: a avaliação dos governos, a identidade dos candidatos, o nível de lembrança, o currículo e o seu potencial de crescimento, somados à sua insensibilidade aos apoios políticos. "Popularidade e simpatia são intransferíveis", sublinha Almeida. Assim, um candidato de governo com bons índices de avaliação de "ótimo" e "bom", baixo nível de rejeição, com identidade clara e imagem conhecida, que entra numa disputa com um cardápio de realizações e promessas alinhadas às principais expectativas da população, dificilmente perderá uma eleição.
Em maio de 1988, por exemplo, cinco meses antes das eleições presidenciais, Fernando Henrique Cardoso, então candidato à reeleição, fez uma declaração infeliz: "Todo aposentado é vagabundo", lembra Almeida em seu livro "A Cabeça do Eleitor". O deslize do presidente não teve qualquer repercussão nas pesquisas e ele se elegeu no primeiro turno. Sua candidatura estava blindada pelo desempenho do governo. Quatro anos depois, com a avaliação em queda, Fernando Henrique não conseguiu eleger José Serra.
Quando o eleitor opta pela mudança, sai à procura de um candidato identificado com a oposição. "A pior coisa que pode acontecer é a falta de clareza na imagem", adverte Almeida. Em 2002, depois de ter ocupado o segundo lugar nas pesquisas, Ciro Gomes, candidato do PPS, acabou em quarto lugar por que não fincou pé em nenhum terreno do eleitorado, "nem governista, nem oposicionista", lembra Almeida. Outra regra básica na lógica do eleitor e que vale para qualquer campanha eleitoral majoritária: ele tem que conhecer o candidato. "Tornar-se conhecido é, em geral, um esforço de longo prazo", observa o diretor do Instituto Análise.
Por esse critério, na atual campanha para a prefeitura de São Paulo, os candidatos do PT, Marta Suplicy, e do PSDB, Geraldo Alckmin, que já disputaram três eleições, entrariam em situação de vantagem. Em junho, eles tinham, respectivamente, 31% e 25% das intenções de voto. Gilberto Kassab, do DEM - que participou de uma única eleição majoritária, e na condição de vice de José Serra - contava 13%. Sua gestão à frente da prefeitura da capital, no mesmo período, no entanto, tinha 53% de aprovação e o prefeito, um percentual de 37% de "ótimo" e "bom", de acordo com pesquisa Setcesp/Ibope, o que o coloca na condição de candidato com potencial de crescimento. "Até setembro, o que vai valer é a sua exposição na mídia", afirma Figueiredo.
Nessa altura do campeonato, literalmente, o que menos importa é a intenção de voto, afirma Lavareda. As pesquisas eleitorais só começam a ter peso, segundo ele, dez dias depois do início do horário eleitoral gratuito, que começa em 16 de agosto. Hoje, 25 de julho, os marqueteiros podem ser encontrados em campo, definindo planos estratégicos e táticos, e preparando as mensagens que devem conter elementos afetivos e racionais. Pesquisa sobre a eleição paulistana, divulgada pelo Datafolha há uma semana, revelou que, para o eleitor, Marta Suplicy é a "defensora dos pobres", Geraldo Alckmin é considerado "inteligente" e Gilberto Kassab é visto como "emocionalmente desequilibrado." Paulo Maluf é "o mais corrupto."
Ainda há tempo para mudar essa avaliação. "Campanha é ciência e arte", afirma Lavareda, recorrendo a uma imagem bélica para descrever o esforço de marketing: um míssil dirigido ao alvo, armado com uma ogiva onde está inscrita uma "mensagem", cuja forma - definida a critério dos criadores da campanha - deve ser "emocional" o suficiente para mobilizar e enraizar a mensagem.
Os marqueteiros justificam seu esforço com o fato de as campanhas terem de se confrontar com a qualidade da publicidade veiculada na TV. A concorrência, aliás, é uma explicação para o fato de tantos marqueteiros serem dublês de publicitários: o horário eleitoral gratuito convive com grades de programação na TV e as mensagens precisam enquadrar-se no formato de comercial, para ter efeito e "despertar emoções", diz Lavareda.
Nessa altura da campanha eleitoral, a principal ferramenta dos marqueteiros são as pesquisas de opinião, que lhes permitem identificar o "clima", a avaliação que eleitores têm dos candidatos e sua expectativa em relação à mudança. "O momento "A" é diferente do momento "B". A mudança é imponderável e cabe a quem faz campanha ter discernimento para identificar os rumos a serem tomados", ensina Lavareda. São essas pesquisas que municiam os responsáveis pela campanha com informações sobre o que e como comunicar e indicam os meios mais eficientes.
De volta ao polêmico livro de Westen: o sucesso está nas informações, fundamentadas na neurociência, supostamente preciosas para os marqueteiros da campanha presidencial americana. O psicólogo lembra, por exemplo, que as pessoas, "de modo inato", não gostam de assimetrias faciais e que rostos sorridentes ativam partes do cérebro que reforçam felicidade.
Nos Estados Unidos, no entanto, essa sugestões podem não ter repercussão. "Lá, a relação do partido com o marketing político é diferente", compara Graeff. Os consultores e estrategistas dos partidos, ele diz, são engajados e muitos integram o staff do candidato. "Aqui, quem faz campanha são os publicitários e marqueteiros, prestadores de serviço, que nada têm a ver com o partido. Pior: nossos partidos não "brifam" os marqueteiros", critica Graeff. "Não adianta ter propostas dos melhores especialistas para tudo que é problema social e econômico se falta ao partido e a seus candidatos um núcleo básico de valores pelos quais estejam dispostos a brigar."
DEU NO VALOR ECONÔMICO
AÇÃO DA PF EMBARALHA DISPUTA INTERNA NO PT
Thiago Vitale Jayme, Cristiane Agostine e César Felício
A atuação do ministro da Justiça, Tarso Genro, na operação Satiagraha embaralhou a disputa interna dentro do PT com vistas à presidência e já influencia o debate sobre a renovação do comando partidário em 2009.
Formada depois do episódio do mensalão, a corrente de Tarso - Mensagem ao Partido - que ficou em terceiro lugar na eleição interna da sigla, mas conseguiu ganhar espaço na composição da direção do partido - prepara um novo embate com os grupos do PT paulista, ainda majoritários, na eleição interna do próximo ano. A ação policial, entretanto, afetou integrantes de um e outro lado, unidos na insatisfação com o ministro.
A menção no noticiário do secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho, do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), e , sobretudo, do secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), integrante da corrente de Tarso e candidato do ministro à presidência petista na eleição interna de 2007, fez com que o ministro começasse a ser criticado, ainda sob reserva, pelos seus próprios aliados internos de São Paulo, que classificam a atuação do ministro no caso como "errática". A avaliação de um dirigente aliado de Cardozo é que o ministro perdeu o controle das ações da PF e cometeu equívocos que desgastaram o PT e envolveram pessoas próximas a Lula.
Cardozo foi envolvido no noticiário depois de reportagem da "Folha de S.Paulo" levantar suspeitas de que o parlamentar teria usado o mandato para atuar em benefício do banqueiro Daniel Dantas. Dentro do PT, Cardozo recebeu solidariedade de outros dirigentes do grupo "Mensagem" e mesmo de outras tendências petistas. Ontem o deputado conversou com diversos dirigentes e encaminhou aos integrantes da direção do partido uma correspondência em que afirma que procurou apenas dar seguimento a uma denúncia que recebeu sobre a venda da Companhia Telefônica do Rio Grande do Sul .
"Cardozo chegou à secretaria-geral do partido pelas mãos de Lula. O que Genro faz tem abalo no Planalto", disse um petista com bom trânsito com o ministro da Justiça. "O que ficou para nós é que ele não tem controle sobre as ações da PF e assim, prejudica até quem não tem a ver com a história, como foi o caso do Cardozo", comentou. "Ele dá argumentos para os adversários."
Fora de São Paulo, os aliados do ministro da Justiça minimizam o episódio. "Em relação a todo caso da Operação Satiagraha vejo apenas um episódio policial e não encontro consequências para a disputa interna do PT" , comentou o governador de Sergipe, Marcelo Déda, que apoiou Cardozo no ano passado. "O ministro não tem que ter controle sobre a Polícia Federal, que precisa de sua autonomia. Não pode existir subordinação política", afirmou o deputado estadual Raul Pont, da corrente Democracia Socialista, que compõem o grupo "Mensagem".
O episódio fez com que se reavivasse a confrontação -já antiga- do ministro com a ala petista influenciada pelo ex-ministro José Dirceu e pela a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy, em São Paulo. "Ele foi defensor da tese de que o PT tinha que se despaulitizar. Isso fez com que atraisse ódio para si, não apenas fora , mas também dentro da própria tendência", apontou um integrante da Executiva do PT de São Paulo, ligado a Marta. Em 2005, quando ocupou a presidência do PT por alguns meses , Genro lançou a proposta de "refundação" do partido, com a exclusão dos quadros petistas do grupo integrado por Dirceu.
Uma parcela considerável do partido também vê com ressalva a forma como Greenhalgh foi investigado pela PF. "É difícil acreditar na tese de que a polícia é independente e ele não sabia de nada. Sobretudo quando há um grampo que capta uma conversa do chefe de gabinete do presidente", diz um influente integrante da Executiva Nacional.
A avaliação geral de caciques petistas de diferentes correntes internas é que Greenhalgh agiu com imprudência. O ex-deputado advoga para o banqueiro Daniel Dantas, acusado pela PF de uma série de crimes que passam por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Os agentes federais desconfiam de que o ex-parlamentar teria praticado tráfico de influência ao conversar com integrantes do governo - sobretudo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho - sobre possíveis investigações relacionadas ao seu cliente. Ex-deputado, Greenhalgh teve apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer à presidência da Câmara Federal, em 2005, mas foi derrotado por Severino Cavalcanti.
Um parlamentar paulista também criticou o ministro. "Tarso colocou uma crise do DEM e do PSDB- que são os pais do Daniel Dantas- dentro do Palácio do Planalto e no colo do PT", afirma. Esse entendimento, no entanto, não é majoritário, já que alguns caciques petistas avaliam que quem trouxe a crise para o partido foi Greenhalgh.
Alguns petistas apontam também motivação eleitoral por trás das ações do ministro da Justiça. "O que o move é a vontade de não perder espaço na disputa pela Presidência, em 2010", comentou um dirigente da mesma tendência política de Genro. "Lula estava lançando Dilma (Roussef) e outros nomes estavam aparecendo, como o de Marta (Suplicy). Ele quis mostrar serviço e se precipitou. Suas ações geram confusão", afirmou o dirigente. "Genro está se atrapalhando. Não é como Dilma, que "apanhava da oposição". Tarso está se queimando antes mesmo de Lula tomar a iniciativa de lançá-lo", pontuou o petista.
O ministro da Justiça foi procurado ontem, por meio de sua assessoria, para se pronunciar sobre as críticas, mas não quis fazer nenhum comentário.
Com isso, a crise da Operação Satiagraha deverá ter repercussões na disputa interna na legenda. Embora Greenhalgh e o presidente nacional do PT, o deputado Ricardo Berzoini -que está em visita política a Cuba- não sejam aliados de longa data, o ex-deputado o apoiou na disputa interna, se colocando em oposição ao ministro da Justiça. O grupo paulista do PT - que tem representantes de diversas correntes, como os deputados João Paulo Cunha, José Mentor e Devanir Ribeiro, além do ex-ministro José Dirceu - já vinha de uma seqüência de infortúnios e ficou ainda mais debilitado.
O núcleo da crise do mensalão atingiu em cheio o PT paulista, que depois ficou ainda mais enfraquecido com o episódio da elaboração de um dossiê às vésperas da campanha de 2006 contra o tucano José Serra. O termo "aloprados" foi cunhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para classificar os assessores de Berzoini que participaram do episódio.
Com os grupos fragilizados mais uma vez, abre-se a possibilidade de outros galgarem espaço dentro do partido. E há diversos candidatos para 2009. Há a tendência liderada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Podem ter mais espaço os aliados da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, como o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), e Maria do Rosário (RS).
A esquerda do partido, fortalecida nas eleições internas de 2006, poderá vir com Raul Pont e o deputado Walter Pinheiro (BA). Por fim, o grupo da candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, com seus aliados os deputados Jilmar Tatto (SP) e Cândido Vacarezza (SP) - que de vez em quando se aproximam estrategicamente de Berzoini - também poderá se beneficiar. O consenso no PT, entretanto, é que os possíveis candidatos à sucessão de Berzoini só aparecerão após as eleições municipais.
Thiago Vitale Jayme, Cristiane Agostine e César Felício
A atuação do ministro da Justiça, Tarso Genro, na operação Satiagraha embaralhou a disputa interna dentro do PT com vistas à presidência e já influencia o debate sobre a renovação do comando partidário em 2009.
Formada depois do episódio do mensalão, a corrente de Tarso - Mensagem ao Partido - que ficou em terceiro lugar na eleição interna da sigla, mas conseguiu ganhar espaço na composição da direção do partido - prepara um novo embate com os grupos do PT paulista, ainda majoritários, na eleição interna do próximo ano. A ação policial, entretanto, afetou integrantes de um e outro lado, unidos na insatisfação com o ministro.
A menção no noticiário do secretário particular do presidente, Gilberto Carvalho, do ex-deputado Luiz Eduardo Greenhalgh (SP), e , sobretudo, do secretário-geral do PT, deputado José Eduardo Cardozo (SP), integrante da corrente de Tarso e candidato do ministro à presidência petista na eleição interna de 2007, fez com que o ministro começasse a ser criticado, ainda sob reserva, pelos seus próprios aliados internos de São Paulo, que classificam a atuação do ministro no caso como "errática". A avaliação de um dirigente aliado de Cardozo é que o ministro perdeu o controle das ações da PF e cometeu equívocos que desgastaram o PT e envolveram pessoas próximas a Lula.
Cardozo foi envolvido no noticiário depois de reportagem da "Folha de S.Paulo" levantar suspeitas de que o parlamentar teria usado o mandato para atuar em benefício do banqueiro Daniel Dantas. Dentro do PT, Cardozo recebeu solidariedade de outros dirigentes do grupo "Mensagem" e mesmo de outras tendências petistas. Ontem o deputado conversou com diversos dirigentes e encaminhou aos integrantes da direção do partido uma correspondência em que afirma que procurou apenas dar seguimento a uma denúncia que recebeu sobre a venda da Companhia Telefônica do Rio Grande do Sul .
"Cardozo chegou à secretaria-geral do partido pelas mãos de Lula. O que Genro faz tem abalo no Planalto", disse um petista com bom trânsito com o ministro da Justiça. "O que ficou para nós é que ele não tem controle sobre as ações da PF e assim, prejudica até quem não tem a ver com a história, como foi o caso do Cardozo", comentou. "Ele dá argumentos para os adversários."
Fora de São Paulo, os aliados do ministro da Justiça minimizam o episódio. "Em relação a todo caso da Operação Satiagraha vejo apenas um episódio policial e não encontro consequências para a disputa interna do PT" , comentou o governador de Sergipe, Marcelo Déda, que apoiou Cardozo no ano passado. "O ministro não tem que ter controle sobre a Polícia Federal, que precisa de sua autonomia. Não pode existir subordinação política", afirmou o deputado estadual Raul Pont, da corrente Democracia Socialista, que compõem o grupo "Mensagem".
O episódio fez com que se reavivasse a confrontação -já antiga- do ministro com a ala petista influenciada pelo ex-ministro José Dirceu e pela a ex-ministra do Turismo Marta Suplicy, em São Paulo. "Ele foi defensor da tese de que o PT tinha que se despaulitizar. Isso fez com que atraisse ódio para si, não apenas fora , mas também dentro da própria tendência", apontou um integrante da Executiva do PT de São Paulo, ligado a Marta. Em 2005, quando ocupou a presidência do PT por alguns meses , Genro lançou a proposta de "refundação" do partido, com a exclusão dos quadros petistas do grupo integrado por Dirceu.
Uma parcela considerável do partido também vê com ressalva a forma como Greenhalgh foi investigado pela PF. "É difícil acreditar na tese de que a polícia é independente e ele não sabia de nada. Sobretudo quando há um grampo que capta uma conversa do chefe de gabinete do presidente", diz um influente integrante da Executiva Nacional.
A avaliação geral de caciques petistas de diferentes correntes internas é que Greenhalgh agiu com imprudência. O ex-deputado advoga para o banqueiro Daniel Dantas, acusado pela PF de uma série de crimes que passam por lavagem de dinheiro e formação de quadrilha. Os agentes federais desconfiam de que o ex-parlamentar teria praticado tráfico de influência ao conversar com integrantes do governo - sobretudo com o chefe de gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho - sobre possíveis investigações relacionadas ao seu cliente. Ex-deputado, Greenhalgh teve apoio do presidente Luiz Inácio Lula da Silva para concorrer à presidência da Câmara Federal, em 2005, mas foi derrotado por Severino Cavalcanti.
Um parlamentar paulista também criticou o ministro. "Tarso colocou uma crise do DEM e do PSDB- que são os pais do Daniel Dantas- dentro do Palácio do Planalto e no colo do PT", afirma. Esse entendimento, no entanto, não é majoritário, já que alguns caciques petistas avaliam que quem trouxe a crise para o partido foi Greenhalgh.
Alguns petistas apontam também motivação eleitoral por trás das ações do ministro da Justiça. "O que o move é a vontade de não perder espaço na disputa pela Presidência, em 2010", comentou um dirigente da mesma tendência política de Genro. "Lula estava lançando Dilma (Roussef) e outros nomes estavam aparecendo, como o de Marta (Suplicy). Ele quis mostrar serviço e se precipitou. Suas ações geram confusão", afirmou o dirigente. "Genro está se atrapalhando. Não é como Dilma, que "apanhava da oposição". Tarso está se queimando antes mesmo de Lula tomar a iniciativa de lançá-lo", pontuou o petista.
O ministro da Justiça foi procurado ontem, por meio de sua assessoria, para se pronunciar sobre as críticas, mas não quis fazer nenhum comentário.
Com isso, a crise da Operação Satiagraha deverá ter repercussões na disputa interna na legenda. Embora Greenhalgh e o presidente nacional do PT, o deputado Ricardo Berzoini -que está em visita política a Cuba- não sejam aliados de longa data, o ex-deputado o apoiou na disputa interna, se colocando em oposição ao ministro da Justiça. O grupo paulista do PT - que tem representantes de diversas correntes, como os deputados João Paulo Cunha, José Mentor e Devanir Ribeiro, além do ex-ministro José Dirceu - já vinha de uma seqüência de infortúnios e ficou ainda mais debilitado.
O núcleo da crise do mensalão atingiu em cheio o PT paulista, que depois ficou ainda mais enfraquecido com o episódio da elaboração de um dossiê às vésperas da campanha de 2006 contra o tucano José Serra. O termo "aloprados" foi cunhado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva para classificar os assessores de Berzoini que participaram do episódio.
Com os grupos fragilizados mais uma vez, abre-se a possibilidade de outros galgarem espaço dentro do partido. E há diversos candidatos para 2009. Há a tendência liderada pelo prefeito de Belo Horizonte, Fernando Pimentel. Podem ter mais espaço os aliados da ministra da Casa Civil, Dilma Roussef, como o líder do governo na Câmara, Henrique Fontana (RS), e Maria do Rosário (RS).
A esquerda do partido, fortalecida nas eleições internas de 2006, poderá vir com Raul Pont e o deputado Walter Pinheiro (BA). Por fim, o grupo da candidata à prefeitura de São Paulo, Marta Suplicy, com seus aliados os deputados Jilmar Tatto (SP) e Cândido Vacarezza (SP) - que de vez em quando se aproximam estrategicamente de Berzoini - também poderá se beneficiar. O consenso no PT, entretanto, é que os possíveis candidatos à sucessão de Berzoini só aparecerão após as eleições municipais.
DEU NO JORNAL DO BRASIL
OS ESBARRÕES DO CONGRESSO COM A ÉTICA
Villas-Bôas Corrêa
À margem do caudaloso rio de lama que atravessa o território dos três poderes com as revelações da Operação Santiagraha, investigada pela Polícia Federal e que denunciou a rede operada pelo banqueiro Daniel Dantas – garantindo a liderança absoluta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na metade do segundo mandato, como o recordista de escândalos em toda a história deste país, o Congresso andou esbarrando com a ética e, de maneira surpreendente, escapou de despencar no bueiro, com risco de quebrar o pescoço.
A rapinagem no cofre da viúva foi articulada nos esconsos do plenário e nos cochichos nos corredores e envolveu a Mesa Diretoria do Senado, com a adesão entusiástica à proposta indecorosa da criação de 97 cargos de assessores, a serem preenchidos pelos 81 senadores no rateio de parceiros do golpe, ao custo anual de cerca de R$ 12 milhões.
Cada um dos 97 assessores técnicos, de competência presumida, com a dispensa da exigência constitucional do concurso público, embolsaria R$ 9.970,24 mensais. Nem todos, pois o senador nomeante poderia dividir o mimo entre vários favoritos.
Ora, para a estafante carga de trabalho nos três dias úteis da semana, cada senador dispõe, no seu confortável gabinete privativo, de seis assessores de livre nomeação e seis secretários parlamentares.
Gente é o que não falta. Como toda regra tem exceções, nunca se fez a estatística ou a reportagem sobre a rotina dos 81 gabinetes senatoriais e dos 513 deputados federais.
Mas, é de uma evidência de sol de meio-dia que a ociosidade compulsória, pela falta do que fazer ganha de goleada dos exemplos de dedicação em tempo integral de parlamentares que levam a sério o seu mandato.
Em período mais ameno, com alguns protestos abafados pelo entusiasmo da maioria, a proposta de criação de assessores seria aprovada em tempo recorde. Mas, com a campanha municipal para a eleição de prefeitos e vereadores na rua e na rede nacionais de TV e emissoras de rádio – a base que deverá garantir a reeleição de senadores e deputados, no mutirão da escolha do presidente da República e governadores caiu em si e sorveu de um gole o cálice do juízo.
Os ilustres componentes da Mesa Diretora do Senado que aprovou a proposta brejeira, deram meia volta e tomaram a iniciativa de comunicar ao presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) a decisão do recuo.
O presidente, o único derrotado no oba-oba da suspeita proposta, cuidou do enterro do natimorto antes do recesso parlamentar.
Um corretivo retardado, mas que pegou o último bonde. Até então, solitário no pódio, o deputado Clodovil Hernandez, dos mais votados da bancada paulista, desfrutava o justo reconhecimento da sociedade decepcionada com a crise ética que devasta o conceito do Congresso, com a apresentação da surpreendente emenda constitucional, com o número regimental de assinaturas, que propõe a redução de três para dois senadores por Estado e de 513 deputados federais para duas centenas e quebrados.
A possibilidade de sua aprovação a frio, é zero. O que em nada desmerece a atrevida iniciativa de um deputado estreante e que está abrindo o seu caminho, saltando pelos muitos erros cometidos com os exageros do seu temperamento.
A crônica dos deputados que se elegem na onda de popularidade construída em atividades profissionais com largo contato com o público é sabidamente frustrante. São meteoros que riscam o céu e desaparecem na mediocridade da atuação parlamentar omissa, equivocada e, às vezes, ridícula.
O famoso Clodovil Hernandez pagou todos os micos da fama e das tentativas de furar a barreira apelando para o repertório das excentricidades.
Afinal, acertou um tiro na mosca. E que deve estar incomodando a muita gente.
Villas-Bôas Corrêa
À margem do caudaloso rio de lama que atravessa o território dos três poderes com as revelações da Operação Santiagraha, investigada pela Polícia Federal e que denunciou a rede operada pelo banqueiro Daniel Dantas – garantindo a liderança absoluta do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ainda na metade do segundo mandato, como o recordista de escândalos em toda a história deste país, o Congresso andou esbarrando com a ética e, de maneira surpreendente, escapou de despencar no bueiro, com risco de quebrar o pescoço.
A rapinagem no cofre da viúva foi articulada nos esconsos do plenário e nos cochichos nos corredores e envolveu a Mesa Diretoria do Senado, com a adesão entusiástica à proposta indecorosa da criação de 97 cargos de assessores, a serem preenchidos pelos 81 senadores no rateio de parceiros do golpe, ao custo anual de cerca de R$ 12 milhões.
Cada um dos 97 assessores técnicos, de competência presumida, com a dispensa da exigência constitucional do concurso público, embolsaria R$ 9.970,24 mensais. Nem todos, pois o senador nomeante poderia dividir o mimo entre vários favoritos.
Ora, para a estafante carga de trabalho nos três dias úteis da semana, cada senador dispõe, no seu confortável gabinete privativo, de seis assessores de livre nomeação e seis secretários parlamentares.
Gente é o que não falta. Como toda regra tem exceções, nunca se fez a estatística ou a reportagem sobre a rotina dos 81 gabinetes senatoriais e dos 513 deputados federais.
Mas, é de uma evidência de sol de meio-dia que a ociosidade compulsória, pela falta do que fazer ganha de goleada dos exemplos de dedicação em tempo integral de parlamentares que levam a sério o seu mandato.
Em período mais ameno, com alguns protestos abafados pelo entusiasmo da maioria, a proposta de criação de assessores seria aprovada em tempo recorde. Mas, com a campanha municipal para a eleição de prefeitos e vereadores na rua e na rede nacionais de TV e emissoras de rádio – a base que deverá garantir a reeleição de senadores e deputados, no mutirão da escolha do presidente da República e governadores caiu em si e sorveu de um gole o cálice do juízo.
Os ilustres componentes da Mesa Diretora do Senado que aprovou a proposta brejeira, deram meia volta e tomaram a iniciativa de comunicar ao presidente do Senado, Garibaldi Alves (PMDB-RN) a decisão do recuo.
O presidente, o único derrotado no oba-oba da suspeita proposta, cuidou do enterro do natimorto antes do recesso parlamentar.
Um corretivo retardado, mas que pegou o último bonde. Até então, solitário no pódio, o deputado Clodovil Hernandez, dos mais votados da bancada paulista, desfrutava o justo reconhecimento da sociedade decepcionada com a crise ética que devasta o conceito do Congresso, com a apresentação da surpreendente emenda constitucional, com o número regimental de assinaturas, que propõe a redução de três para dois senadores por Estado e de 513 deputados federais para duas centenas e quebrados.
A possibilidade de sua aprovação a frio, é zero. O que em nada desmerece a atrevida iniciativa de um deputado estreante e que está abrindo o seu caminho, saltando pelos muitos erros cometidos com os exageros do seu temperamento.
A crônica dos deputados que se elegem na onda de popularidade construída em atividades profissionais com largo contato com o público é sabidamente frustrante. São meteoros que riscam o céu e desaparecem na mediocridade da atuação parlamentar omissa, equivocada e, às vezes, ridícula.
O famoso Clodovil Hernandez pagou todos os micos da fama e das tentativas de furar a barreira apelando para o repertório das excentricidades.
Afinal, acertou um tiro na mosca. E que deve estar incomodando a muita gente.
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
DECLARAÇÃO DE LULA É 'BLEFE', DIZ OPOSIÇÃO
Ana Paula Scinocca, BRASÍLIA
Ana Paula Scinocca, BRASÍLIA
Reação do presidente em defesa de delegado irrita líderes oposicionistas
A oposição classificou como “blefe” e “jogo de cena” a declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, que defendeu anteontem a volta do delegado Protógenes Queiroz ao comando da Operação Satiagraha - a Polícia Federal manteve o afastamento. Para o líder do DEM no Senado, José Agripino Maia (RN), Lula “minimiza a inteligência do povo brasileiro”.
O presidente do PPS, Roberto Freire, chamou de “pantomima” o apelo de Lula. Na véspera, o presidente reagiu à alegação de que a saída de Protógenes tenha ocorrido por intervenção do governo. “Isso parece jogo combinado. Está claro que existem duas facções dentro da PF e que o delegado não é da facção afinada com o governo. Diante da repercussão negativa do afastamento, ele recorreu ao blefe e defendeu a continuidade do Protógenes”, afirmou Freire.
Ele disse que as declarações do presidente parecem ter sido feitas “por um ator de quinta categoria, que fugiu do script”. “Essa encenação do presidente da República, se não causa vergonha a ele, causa vergonha aos brasileiros.”
PESQUISASLíder do PSDB na Câmara, o deputado José Aníbal (SP) afirmou que o comportamento de Lula faz dele uma “metamorfose ambulante”. “É óbvio que essa última declaração defendendo a permanência do delegado é jogo de cena. Ele vê o que as pesquisas dizem, o que é mais simpático aos olhos do povo.”
O presidente do DEM, deputado Rodrigo Maia (RJ), avalia que Lula deve ter detectado, via pesquisa, que a repercussão da saída de Protógenes arranhou a imagem do Planalto. “Devem ter visto que o afastamento ficou muito ruim e aí, de forma oportunista, eles (governistas) fazem a inversão”, disse. “O que o presidente Lula quer é tirar qualquer problema do colo dele. Só quer ficar com a parte boa.”
DEU EM O ESTADO DE S. PAULO
A ENCENAÇÃO DO PRESIDENTE
Editorial
Editorial
Ao chamar de mentiroso o delegado Protógenes Queiroz, da Polícia Federal (PF), por ter difundido a história - verdadeira - de que foi removido do comando da Operação Satiagraha por uma decisão política, o presidente Lula representava seu papel numa farsa muito mal ensaiada por seus protagonistas. Obter o afastamento do delegado foi o único motivo da tensa reunião ocorrida na sede da superintendência da PF em São Paulo, segunda-feira à noite. Dela participaram, além do próprio Protógenes e de seus colaboradores mais próximos no caso, o superintendente regional e emissários da cúpula do órgão. Num esforço inútil para evitar que a sua saída fosse interpretada como um acerto para beneficiar o banqueiro Daniel Dantas - ou como precaução contra novas evidências do envolvimento de gente próxima do governo com o principal alvo da Satiagraha - fabricou-se a esfarrapada versão do desligamento “a pedido”: o delegado precisaria concluir um curso de 30 dias, iniciado em março.
Deu tudo errado.
De pronto, ele resistiu ao arranjo, pedindo para continuar instruindo o inquérito, embora longe dos holofotes, pelo menos nos sábados e domingos, quando não teria aulas a freqüentar em Brasília. No relato da Polícia Federal, foi como se ele tivesse querido abandonar a investigação, ou dela se ocupar apenas nos fins de semana. “A sugestão não foi acatada, já que traria prejuízo às pessoas convidadas a prestar esclarecimentos”, foi o máximo que uma nota da PF conseguiu tecer. Vencido, Protógenes não só contou a amigos o que se passara, mas ainda lhes disse que a gravação mostra como os fatos se passaram. Fingindo ignorá-los - e fazendo de conta que nada tinha a ver com o defenestramento -, Lula simulou uma repreensão a “esse cidadão”, que “não pode, depois de fazer todas as coisas que tinham de ser feitas no processo, na hora de finalizar o relatório dizer ‘eu vou embora fazer meu curso’ e ainda dar vazão a insinuações de que foi tirado”.
Na realidade, resolveu atirar no cidadão depois de ser alertado sobre os efeitos adversos, para o governo, de sua retirada abrupta. A advertência chegou tarde, depois que circulou pela mídia a versão de que o presidente, o ministro da Justiça, Tarso Genro, e o diretor-geral da PF, Luiz Fernando Corrêa - nem sempre pelos mesmos motivos -, queriam ver Protógenes pelas costas. Por isso, sob a suspeita de que ordenara uma operação-abafa para poupar Daniel Dantas, Lula tratou de se desvincular do problema, culpando o policial pelo que, afinal, lhe fizeram. Implicitamente, porém o bastante para os insiders entenderem, também alvejou Genro e Corrêa, porque não teriam sabido conduzir a fritura, sem respingos na imagem presidencial. É pouco provável que a descompostura tenha outro resultado além de evidenciar, pela enésima vez, que Lula jamais se afogará por ter cedido a alguém o último colete salva-vidas.
A esta altura, de fato, ele não tem como “desvazar” as gravações que lançam luz sobre o acesso ao Planalto dos interesses do banqueiro de quem Lula guarda profilático distanciamento. Companheiros históricos do presidente, como o advogado Luiz Eduardo Greenhalgh e, mais ainda, o seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, foram flagrados cuidando, de uma forma ou de outra, das conveniências de Dantas. Também o nome da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, entrou no circuito, embora ela possa invocar ter dito certa vez a Greenhalgh que o seu cliente era “encrenca”. Sintomaticamente, nenhum deles joga no time de Tarso Genro. Ao ministro se atribui, por exemplo, a intenção de se substituir à “mãe do PAC” como eventual candidato petista à sucessão de 2010. E o antagonismo entre ele e o ex-ministro José Dirceu - que quis aproximar Dantas de Lula - é escancarado.
O que leva a pensar que, se a equipe de Lula e a Polícia Federal têm algo em comum, é a onipresença de suas facções. Os críticos mais estrepitosos do desempenho de Protógenes são do grupo do diretor-geral Corrêa (que não o perdoa por tê-lo mantido no escuro sobre as gravações de petistas). Já os seus defensores se alinham com o antecessor de Corrêa e atual diretor da Agência Brasileira de Inteligência (Abin), Paulo Lacerda. A decisão de Protógenes de envolver a Abin na investigação, aliás, polarizou a corporação e foi decisiva para a sua degola. Na hora da crise, as divisões se acentuam - e escapam ao controle da hierarquia.
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
A CORRUPÇÃO DOS OUTROS
Fernando de Barros e Silva
Fernando de Barros e Silva
SÃO PAULO - Com o olhar agitado, evitando as câmeras e a multidão de repórteres, e a fala alterada, denotando desconforto e irritação, o presidente Lula dizia anteontem que, "moralmente, este cidadão tem de continuar no caso", "a não ser que diga publicamente e espontaneamente que não quer". O que não pode, seguia a bronca, "é vender insinuações à sociedade".
Protógenes Queiroz desde então nada disse -nem pública nem espontaneamente. O governo decidiu falar pelo delegado. Fez liberar fragmentos de uma reunião gravada na PF, na qual Protógenes estaria jogando a toalha por sua escolha. Mentira. A fala editada do outro que não quis falar é coisa de regime de exceção -teatrinho stalinista.
Protógenes foi afastado à revelia de suas funções, como sabe qualquer adulto. E não caiu em função de seus erros -muitos e graves-, mas porque parte deles, junto com os acertos da investigação, chegou perto demais do coração do poder sem que os palacianos percebessem a dimensão da encrenca em curso.
Não foram, é claro, imagens como a de Celso Pitta de pijama e algemado o que derrubou Protógenes. Caiu porque usou arapongas da Abin para espionar o presidente do STF -supremo delírio. Mas sobretudo porque entrou com o grampo no Palácio do Planalto e instalou uma bomba perto demais de Lula.
Seu chefe-de-gabinete, Gilberto Carvalho, foi flagrado num diálogo pouco republicano com Luiz Eduardo Greenhalgh, petista histórico a serviço de Humberto Braz, capanga dileto de Daniel Dantas.
O papel vexatório de Greenhalgh -lobista com anel de doutor- o coloca na rabeira de uma longa fila de petistas e/ou amigos de Lula que já caíram na folha de pagamento de Dantas, do advogado Kakay ao compadre Roberto Teixeira. O deputado Zé Eduardo Cardozo diz que nada tem com isso -hummm...
O PT e o governo têm mesmo razões de sobra para se preocupar.
E a oposição tucano-democrata, tão loquaz na condenação da tapioca, emudeceu agora, diante deste suculento banquete de tubarões.
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