segunda-feira, 25 de outubro de 2010

Reflexão do dia – José Serra

(...) Precisamos de um governo que tenha caráter. Não podemos viver situação de mentira permanente.

(...) A justiça dos companheiros é sempre mais suave, lenta, que não anda, que é obstruída. Veja o que aconteceu com o dossiê dos aloprados, com todos esses escândalos. Ninguém na cadeia até hoje.

(...) Temos que olhar o governo como entidade de todos e não de um partido, de um grupo de interesses. Itamar e Fernando Henrique presidiram a transição de governo com dignidade. Não houve transgressão. O presidente Fernando Henrique não foi além de declarar o seu voto (nas eleições de 2002). Hoje temos o contrário: o governo deixado de lado, para se encarnar em um partido, em uma candidatura. Precisamos ter no Brasil o modelo da honestidade e da verdade. Chega de escândalos. Fica até difícil recapitular, são três ou quatro por semana".


(José Serra, em discurso. Copacabana/Rio, ontem)

Os céus por testemunha:: Luiz Werneck Vianna

DEU NO VALOR ECONÔMICO

A campanha presidencial se aproxima do fim, já permitindo um primeiro balanço do seu inventário, que mais à frente, será explorado nas análises acadêmicas e do jornalismo especializado no fato político. Mas, desde logo é evidente que, no registro desse inventário, a presença da religião ocupou um papel surpreendente, embora os candidatos que chegaram ao segundo turno eleitoral tenham perfis e históricos na vida pública bem definidos segundo os padrões laicos republicanos.

É verdade que essa presença não é inédita na nossa história eleitoral, notória nas eleições à assembléia constituinte de 1934, a partir das atividades da Liga Eleitoral Católica (LEC), fundada dois anos antes, que, sob a chancela de círculos da hierarquia católica, indicava uma lista de candidatos da sua preferência e vetava aqueles vistos como contrários aos seus princípios de doutrina. A LEC, nas primeiras eleições subsequentes ao Estado Novo ainda se fez presente, mas, aos poucos, perdido o apoio na alta hierarquia da Igreja, deixou de exercer qualquer influência.

A novidade, agora, está na ressurgência da importância da religião no voto, e sobretudo no fato decisivo de que a agenda dita comportamental e dos valores religiosos é também expressa com vigor nos setores subalternos, especialmente daqueles que, em razão das transformações sociais e dos sucessos econômicos do país nas últimas duas décadas, emergiram para se acrescentarem na composição das classes médias, em boa parte de adesão evangélica. Vale dizer, está insinuado que, para sensibilizá-los, é preciso ir além de um discurso orientado para conquistas materiais.

A votação em Marina nas periferias metropolitanas, embora tenha extrapolado em muito o fator religioso, impôs o reconhecimento de que a antropologia do voto tinha acabado de conhecer uma significativa mutação. Logo que se abre o segundo turno, foi isso que, por atos e palavras, as candidaturas de Serra e Dilma, vieram a admitir.

A partir daí, a inflexão religiosa dessas candidaturas revela o entendimento de que a secularização, há décadas impactando fortemente o comportamento das classes médias tradicionais brasileiras, brancas e cultivadas, vem tocando bem menos nos recém-chegados a essa fronteira social, escudados em valores religiosos que provém de cultos que se enraizaram no seu próprio meio. Para o bem e para o mal, a religião passa a ser reconhecida como portadora de um poder efetivo de veto nas escolhas majoritárias das competições políticas.

No rol desse inventário não pode faltar a questão social, que, durante esses longos meses de campanha, permitiu aos candidatos exibirem seus presumidos dons de verter dos céus leite e mel, ao lado de saneamento básico aqui na terra, mesmo que tenham optado por não nomear as fontes de que vão extrair os recursos para os prodígios prometidos, entre os quais um trem bala, projeto de faraós, a ligar a cidade de São Paulo ao Rio de Janeiro em meio a desfiladeiros de Alpes suíços. Com o compositor popular, pode-se perguntar, com que roupa que eu vou, ao samba que você me convidou?

E, assim, nesse balanço preliminar de uma competição ainda em andamento, os silêncios podem ser tão ou mais eloquentes do que o que é dito, porque as ladainhas rotineiras do horário político produzidas pelos marqueteiros não têm como suprir a ausência de programas políticos. Sob esse registro, essa campanha declinou da política, apresentando um cenário ocupado por um único ator, o governo e suas ações, recitando-se um monólogo para um público idealizado, como se ele não conhecesse, em sua vida real, os conflitos de interesses entre as classes e entre as concepções do mundo.

Foi, então, possível transitar lisamente sobre a questão agrária brasileira sem que fossem declaradas e debatidas pelos candidatos as suas posições sobre a atual estrutura fundiária, fora as invectivas sarcásticas de Plínio. Hoje, às vésperas das eleições, nada se sabe sobre como cada qual se situa nesse mundo que abriga uma fronteira agrária viva no norte e no centro-oeste do país - excepcionalidade brasileira em pleno século XXI -, e um dos vetores por onde se amplia e aprofunda o moderno capitalismo no país em forte conexão com políticas do Estado.

A ausência desse tema se tornou ainda mais excruciante pelo fato de que boa parte das controvérsias de natureza ambiental, como é de conhecimento generalizado, gravita em torno do mundo agrário e das atividades econômicas nele existentes. Finda a campanha, os candidatos finalistas, Serra e Dilma, saem limpos dessa pesada e incontornável questão, sem que se saiba sequer - um exemplo escandaloso - qual a posição deles sobre a reforma do Código Florestal, ora em andamento no Legislativo federal.

Passou-se batido, igualmente, sobre o tema sindical, embora tanto o PT como o PSDB contem em sua história e práticas de governo - no caso do PT, lembre-se do projeto de reforma do ministério Berzoini, em 2005 - com iniciativas contrárias à vinculação dos sindicatos ao Estado. Mesmo destino teve a questão estratégica dos rumos da industrialização do país, mesmo em plena "guerra cambial", cujos desdobramentos podem vir a ameaçá-la, para não falar das abrasivas matérias previdenciárias e tributárias. E, a propósito, por que nenhuma palavra, nem contra ou a favor, sobre o capitalismo politicamente orientado que se insinua por aí?

Resultou da campanha um retrato chapado do país, bem nos moldes do governo Lula, que trouxe para o seu interior todas as classes e todos os interesses relevantes, por mais contraditórios que fossem entre si. Pode-se cogitar, diante das circunstâncias, de que outros caminhos não levariam a melhores resultados, porque, sabemos todos, não é fácil o acesso ao voto em uma sociedade desigual como a nossa.

Mas, Lula, agora, será apenas um retrato na parede, e o candidato vencedor, com o que vem por aí, inclusive porque, qualquer que seja ele, contará com uma oposição forte e aguerrida, vai precisar muito da ajuda dos céus, tão invocado nessas eleições.


Luiz Werneck Vianna é professor-pesquisador do Iesp-Uerj. Ex-presidente da Anpocs, integra seu comitê institucional. Escreve às segundas-feiras

O espectro do Lulismo :: Alberto Aggio

DEU NO COMÉRCIO DA FRANCA (SP)

Fenômeno ou conceito eminentemente midiático, o lulismo não forma um conjunto de idéias claras e muito menos fundamentadas. Não se sabe precisamente os valores que o norteiam e sendo assim ele pode vocalizar aquilo que bem lhe aprouver conforme seus interesses momentâneos. Na “Carta aos brasileiros” de 2002 defendeu a estabilidade econômica que chamava de neoliberal; hoje mobiliza instrumentalmente uma retórica estatista para ganhar votos.

O lulismo não é um movimento social embora sua principal figura tenha emergido de um sindicalismo ascendente que depois ultrapassou todos os limites do chamado “sindicalismo de resultados” para ancorar no puro pragmatismo, inteiramente soldado e dependente do Estado. Somado a isso, na sua figuração plebéica, o lulismo se fia nos votos dos beneficiários do Bolsa Família, atualizando o mais puro paternalismo que alicerçou historicamente as elites brasileiras, que demagogicamente critica dia sim e outro também.

Alçado ao governo em 2002, o lulismo chega a 2010 com uma identificação visível: pós-ideológico, ele é personificação em estado líquido, estado da natureza política no qual as formas não se definem em momento algum. Em sua ainda breve trajetória, o lulismo se configurou como um ator político a partir de uma narrativa cumulativa e permanente de êxitos atribuídos a Lula, independentemente da sua aferição. Uma narrativa exitosa que não pode ser compartilhada com outros atores, sob pena de solapar a crença mitológica no líder. Impedido de pleitear um terceiro mandato, Lula se candidatou por interposta pessoa, uma candidata apresentada como a representação viva e figurativa dessa narrativa.

O lulismo só pode operar com êxito num clima de criação ou invenção da unanimidade ou em situações tendente a ela, na qual a oposição tem que ser residual ou deve ser “exterminada”. Tal como outros personalismos conhecidos, o lulismo não foi feito para enfrentar situações constrangedoras nas quais vêm à tona críticas e questionamentos. Opera bem a partir da blindagem do seu principal protagonista, não importando o custo que tenha isso.

Em síntese, o lulismo não é uma construção democrática precisamente porque se estrutura à base do personalismo mais estreito, recusa o pluralismo e o fortalecimento de instituições republicanas. Ele não se entende como parte e sim como única representação dos setores sociais que a seu juízo são os segmentos mais necessitados do país. Não cogita que a unanimidade é impossível como norma ou devir da política democrática nas sociedades complexas.

Cego a essa lição fundamental, o lulismo paira como um espectro negativo sobre os destinos da nossa jovem democracia. Nesta campanha eleitoral fica claro que nem a ética e nem o apreço à verdade podem ser consideradas como patrimônio seu, mesmo que em pequeno grau, numa situação inversamente proporcional ao aparelhamento da maquina pública, ao cinismo como padrão discursivo e ao inquietante uso da violência contra seus adversários, sempre vistos como inimigos a serem calados ou eliminados.

Nascido do petismo, o lulismo é a única narrativa sobre o país que os brasileiros conhecem como o pensamento único. Não faz parte do seu ser a idéia de que um projeto coletivo deve ser construído com o concurso de sujeitos autônomos e ativos advindos da sociedade civil e que encontrem na sociedade política, ou seja, no Estado, um espaço de consensos republicanos representados por instituições cada vez mais sólidas.

Alberto Aggio (professor de História da UNESP-Franca)

Do ponto de vista democrático ::Raimundo Santos

As águas turvas da eleição presidencial, particularmente as do segundo turno, não vão impor o resultado do pleito sem resistência das áreas de esquerda e de centro-esquerda defensoras da política fundada no conhecimento intelectual da circunstância hoje reunidas em torno de Serra. É provável que o pleito se decida a favor do governo por força da hegemonia popular de Lula e da movimentação de inúmeras máquinas organizadas, sobretudo as dos três níveis de governo sob seu controle, o futuro, assim, pertencendo, pelo ativismo do Presidente da República, a Dilma Roussef. Neste campo eleitoral, o presente é apresentado pela ótica do alargamento da política social originária dos anos 1990 considerado como a grande transformação realizada pelo governo Lula. É tão forte este ponto de vista que outro dia a candidata se admirava ao ver quanto o seu governo fazia no plano social e ainda se mantinha a democracia. Tal estranheza desconsidera os clássicos que repensaram radicalmente o modelo revolucionário do passado e em particular as reflexões dos inúmeros autores que nos falam de um novo reformismo para o século XXI, tempo de grandes possibilidades democráticas e de desenvolvimento, embora ainda arraste guerras, crises, sequelas patológicas (drogas, criminalidade) e elevada fragmentação social de incidência perigosa no mundo político.

Esse tipo de resistência também esteve presente nos votos adicionais decisivos à passagem de Serra para o segundo turno, contendo, como já foi observado, a ambição do campo liderado pelo Presidente da República. No entanto, à medida que apareça a hipótese de uma vitória oposicionista, o desassossego de Lula certamente o levará a tudo fazer para ganhar a eleição, ficando mais nítido, na sua militância exasperada, o descompromisso com o Estado democrático de direito, já visível desde o seu primeiro governo quando se passou a usar, de forma consciente na esquerda, a política para fins transformistas (mensalão e outros), havendo agora indícios da dificuldade em aceitar a alternância no poder. O Presidente da República – falando mais de si e dos seus feitos do que dos problemas reais e futuros – é quem fala, aliás, com muita repercussão inclusive em áreas intelectuais, da necessidade de um segundo ciclo de governos – assim parece ter sido pensada a candidatura oficial – por meio de um “terceiro mandato” até o seu retorno mais adiante.

Por mais que se pinte a candidatura oposicionista como retrocesso para a vida dos pobres e Serra como condenável defensor das privatizações dos anos 1990 -- sem a avaliação desses dois temas à luz daquele período das reestruturações requeridas pela mundialização da economia (e também tempo em que quase não houve oposição política de esquerda ao governo Fernando Henrique Cardoso) – é difícil apagar destes dias correntes o fato de que Serra significa uma interrupção do modelo Lula de conduzir o país. Tem vigorado na era Lula um estilo caracterizado pela instrumentalização dos partidos, pela imobilização dos movimentos sociais, pela desvalorização da política (substituída na eleição em grande medida pelo carisma presidencial) e ainda marcado (esse é o efeito mais demorado de constantes atitudes presidenciais) por uma corrosão da cultura política democrática que vem se generalizando (papel importante tem a nova Constituição de 1988 ao dar-lhe lastro de direitos) de modo lento desde a redemocratização que ganhou curso amplo com a anistia de 1979. Neste contexto, a candidatura oposicionista não se resume à corrida de promessas e marketing – a que Serra se deixou levar –, agora sob pressão e velocidade ainda maiores de um governo que entra em pânico diante da possibilidade de uma derrota eleitoral quando a plena vigência da democracia política pressupõe normal alternância no poder.

Muitas são as tensões que movimentam esta eleição. No entanto, no campo que apoia a candidatura Serra não há aquele medo conquanto sua derrota, como ocorreu em 2002, não ensejará ofensivas de rua nem táticas para desestabilizar governo, diferente de um cenário em que Serra ganhe o pleito. Há, contudo, uma delas que terá grande importância para o futuro que é a tensão a pesar como uma ameaça sobre o reconhecimento pleno da política, particularmente partidária, como meio para ganhar a eleição e depois conduzir a república, orientar a economia e encaminhar medidas reformistas dirigidas aos problemas urbanos e rurais. Em relação ao primeiro ponto, é bom recordar a trajetória político-partidária da candidatura oposicionista, o próprio Serra tendo que ganhar a indicação para concorrer à presidência em meio a disputa, inclusive com reticências no interior do seu próprio partido, nisso sua escolha diferindo da de Dilma. Composta a sustentação heterogênea da candidatura oposicionista, nas suas áreas de esquerda e de centro-esquerda há crença (expressa em textos e falas públicas) na tradição brasileira que entende a política como processo para obter fins e resultados (fins, no dizer Habermas ao qualificar o reformismo deste nosso tempo, pensados distante do abismo entre o “ideal” e o “possível”, “sem adiar nada para o final dos tempos”), ou seja, como caminho eficaz escolhido para ser trilhado na vigência plena da democracia. Leia-se, no discurso proferido no lançamento de sua candidatura, esta afirmação de Serra: “E esse é um bom momento para reafirmarmos nossos valores. Começando pelo apreço à Democracia Representativa, que foi fundamental para chegarmos aonde chegamos. Devemos respeitá-la, defendê-la, fortalecê-la. Jamais afrontá-la.” E ainda: "Democracia e Estado de Direito são valores universais, permanentes, insubstituíveis e inegociáveis.”

Viram-se também quantas foram as demoras e quanto custou ao candidato oposicionista e às lideranças de esquerda e de centro-esquerda que lhe são mais próximas reunir apoios partidários para a sua campanha devido ao fato de que considerável parte do campo político no qual Serra tem sua maior força (partidos, nomes de prestígio político e líderes à frente de administrações municipais e estaduais) teria sido neutralizada pela poderosa influência de Lula, como agora dizem os analistas. Daí também que o seu crescimento nas pesquisas do início do segundo turno possa estar ligado não só à retomada mais animada da campanha como também à dinamização de áreas políticas já libertas daquele constrangimento, havendo ainda registro de tendências de opinião que reagem criticamente ao modo petista de governo sem que necessariamente se identifiquem com o candidato Serra.

Mesmo que o candidato já esteja no duro jogo eleitoral em curso, o valor da política – assumida por Serra sem reservas -- é uma dimensão que escapa das águas turvas e dos palanques exaltados que consomem estas eleições exibindo os dois candidatos indiferenciados. Aos olhos de setores de esquerda e de centro-esquerda alinhados com Serra, a valorização da política é o que distingue as duas candidaturas, é o que evidencia um discurso que aparece articulado ao modo antigo em contraste com o outro novo discurso radicado na mobilização variada sem mediação da política fundada em conhecimento da circunstância, como se vê na evocação diuturna na propaganda de Dilma da figura do Presidente da República.

Agora, nos últimos dias, optou-se na campanha de Dilma pela tática da comparação entre os modelos neoliberal e o do social. Apoiar esta opção, tal como se vê na propaganda, significa compartilhar a responsabilidade intelectual da mais completa abstração dos tempos dos governos de Fernando Henrique Cardoso, como se neles não tivessem sido estruturadas muitas soluções aos problemas hoje aí ainda postos (Plano Real, certas privatizações, fomento da agricultura familiar como estratégia permanente etc.). Aliás, já passa o momento para que aflore essa discussão sobre o “neoliberalismo brasileiro” do qual, aliás, se valeu o governo Lula para obter seus êxitos (a propósito daqueles anos 1990 e de reconhecimentos ao governo Lula, ver o lema de Serra “O Brasil pode mais”) e sobre o papel de Fernando Henrique Cardoso, o presidente democraticamente eleito com rejeição em consideráveis áreas da intelectualidade brasileira como jamais se viu neste país.

Sem aquela avaliação intelectual e pública em todos os seus termos, comparar um eventual governo de Serra à época de Fernando Henrique Cardoso não é o que diferencia as duas candidaturas. O fato mais significativo para caracterizar Serra na campanha em andamento, a meu ver, é o fato de que o candidato se reivindica, em pronunciamentos conhecidos (ver o artigo sobre os 25 anos da Nova República publicado pela Folha de São Paulo e o discurso acima citado), não só descendente da Nova República como proclama sua adesão sem reservas ao Estado democrático de direito. Essa identificação – à qual às vezes o candidato consegue aludir nos palanques como sua referência – é a questão hoje ameaçada de se perder e é o que baliza ambientes expressivos do campo que apoia Serra. Está por demais difícil discernir uma questão derivada, importante para se ver o “modelo” de Serra, qual seja, a de que o ponto de vista democrático, na circunstância que vivemos, põe o candidato e um eventual governo seu diante da economia com uma orientação deliberada de administrá-la como um todo. Isso significa atenção tanto aos problemas e às possibilidades das empresas como aos problemas e às possibilidades das famílias, conquanto ambas são patrimônio nacional, como diz o Partito Democrático da Itália se referindo aos efeitos predadores da recente crise financeira e aos desafios de se buscar inovações econômico-financeiras, tecnológicas, no campo da economia verde, inclusive inovações na esfera política. Adotar de forma pública a adesão sem reservas ao Estado democrático de direito adquire significado de diretriz de postura e programática (para valer no agir político e nos planos econômico e social) e indica que já não se trabalha com a noção de projeto doutrinário de sociedade futura mas com programas reformistas conscientemente expostos em discurso público único.

Como também se diz naquele partido europeu, aliás, às voltas com o grande problema da hegemonia efetiva de Berlusconi entre os eleitores italianos, trata-se de buscar uma aliança com a sociedade, “uma aliança com o país”, e já não mais de se mover na política eleitoral com a idéia de mobilizar forças contra inimigos, sendo esta a condição para se tornar competitivo e depois ter melhores condições para exercer função de governo. Isso requer, voltando ao tema da política social, ver a melhora da situação dos menos favorecidos não apenas por meio dos sempre indispensáveis programas emergenciais, mas como parte do renovamento da economia como um todo (por exemplo, o caso da agricultura familiar). E ainda: para que seja tentada, com resultado sustentável, a realização desse tipo de reformas pressupõe contexto político favorável, para o qual são fundamentais os partidos, o Congresso, a opinião pública, uma cultura política democrática e assim por diante e, por certo, a habilidade no fazer política (reunir energias, convergências e negociar soluções) do dirigente colocado no maior posto da república. Este parece ser -- pois também existe o cenário pós-eleitoral, caso Serra ganhe o pleito, de os perdedores se proporem lastrear o país com a mais radical oposição --, o motivo de o candidato estar falando, agora no segundo turno, do seu propósito de liderar um governo de concentração democrático-reformista, com isso querendo dizer que os atributos do carisma e da sagacidade sem política tanto são precários como enfraquecem as já debilitadas instituições democráticas (os partidos, que são os primeiros interlocutores dos gestores públicos). Esse é um caminho difícil, de avanço progressivo e bem diverso da marcha carismática à medida que esta – como se viu nos últimos tempos – está em busca permanente do poder em crescente detrimento do Estado democrático de direito.

Esse ponto de vista da política, mais precisamente democrático, é o que está em jogo nesta eleição na qual muitos veem os candidatos pouco diferenciados. Do ponto de vista democrático – aliás, prevalecente em outro momento de crise aguda, o mensalão, quando se preferiu dar sequência ao curso institucional-democrático --, muito depende o andamento das coisas nos cenários próximos, ganhe Dilma ou Serra. Mais que uma candidatura tucana, a candidatura Serra está colocada na encruzilhada das duas crenças -- crença na política ou na luta pelo poder a qualquer custo --, postando-se Serra como descendente de uma cultura política custosamente acumulada neste país.


Raimundo Santos é professor da Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro (UFRRJ/CPDA)

A voz rouca de Chaui :: Fernando de Barros e Silva

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

SÃO PAULO - Ao lado de José Arthur Giannotti, Marilena Chaui foi, talvez, a figura que mais decisivamente contribuiu para fazer a ponte entre o pensamento filosófico e o debate público no país. Esse encontro se deu na imprensa, animado pela resistência à ditadura.

No início dos anos 80, Chaui se tornou a grande ideóloga do PT. Dizia que democracia significava criação permanente de direitos e reinvenção incessante da política -ideias que havia emprestado do francês Claude Lefort, crítico precoce do totalitarismo de esquerda.

Mas isso é história. Chaui há muito virou as costas à discussão pública. Passou a falar para dentro, reiterando para a militância o que ela quer ouvir. Expiando a culpa dos companheiros, tornou-se a ideóloga do petismo realmente existente.

Na última semana, num ato de apoio a Dilma com artistas, Chaui explicou ao "Terra Magazine" por que eventos como aquele tinham escasseado: "Fazia tempo que a gente não tinha que gritar contra nada". Eis a ideóloga no seu pior papel, saindo da toca para chancelar não os êxitos do governo, mas os abusos, a máquina de corrupção, o patrimonialismo. Gritar por quê?

Chaui está entre os que dizem que o mensalão foi invenção da imprensa. Usa a crítica à mídia para se dispensar de examinar criticamente o PT. É um exemplo de embotamento sob o verniz da radicalidade.

É claro que a mídia deve ser criticada. A demissão da psicanalista Maria Rita Kehl do jornal "O Estado de S. Paulo" é deplorável sob qualquer aspecto. Há, sim, um antipetismo baixo e sensacionalista na praça. Mas há também uma "mídia do B", triunfalista e chapa branca, em parte alimentada com dinheiro público. E Erenice Guerra (fiquemos nesse exemplo doméstico) não é uma armação de golpistas.

Essa é uma discussão que requer honestidade intelectual e disposição para o confronto. Chaui optou pela tutela do partido. Está mais perto da pregação dogmática do que da experiência do pensamento.

Popular, sim. Grande, não! :: Ricardo Noblat

DEU EM O GLOBO

“Política, a gente não pode fazer com ódio, com agressão, mas ninguém aguenta mentira!” (Lula, sobre a agressão a Serra)

Bolinha de papel, rolo de fita crepe, pano de bandeira, chumaço de algodão — nada pode ser usado de forma hostil para atingir alguém sob pena de tal ato configurar uma agressão. O que militantes do PT foram fazer em Campo Grande, no Rio, quando o candidato José Serra (PSDB) esteve por lá na tarde da última quarta-feira em busca de votos?

Não foram saudá-lo democraticamente. A tal ponto de civilidade não chegaremos tão cedo. Aos berros, munidos de bandeiras e dispostos a tudo, tentaram impedir que o candidato e seus correligionários exercessem o direito de ir e de vir, e também o de se manifestar, ambos assegurados pela Constituição. O PT tem uma longa e suja folha corrida marcada por esse tipo de comportamento violento, autoritário e reprovável, que deita sólidas raízes em suas origens sindicais.

A força bruta foi empregada muitas vezes para garantir a ocupação ou o esvaziamento de fábricas. E também para se contrapor à força bruta aplicada pelo regime militar na época em que o PT era apenas uma generosa ideia. Para chegar ao poder, o PT sentiu-se obrigado a ficar parecido com os demais partidos — para o bem ou para o mal. Mas parte de sua militância e dos seus líderes não abdicou até hoje de métodos e de práticas que forjaram sua personalidade. É uma pena. E um sinal de atraso.

Uma vez no poder, vale tudo para permanecer ali. Vale o presidente da República escolher sozinho a candidata do seu partido. Vale ignorar a Constituição e deflagrar a campanha antes da data prevista. Vale debochar da Justiça. Vale socorrer-se sem pudor da máquina pública para fins que contrariam as leis. Vale intimidar a Polícia Federal para que retarde investigações que possam lhe causar embaraços. E vale orientá-la para que vaze informações manipuladas capazes de provocar danos pesados a adversários.

No ocaso do primeiro turno, pouco antes de Dilma se enrolar na bandeira nacional e posar para a capa de uma revista como presidente eleita, a soberba de Lula extrapolou todos os limites. Ele foi a Juiz de Fora e advertiu os mineiros: seria melhor para eles elegerem um governador do mesmo grupo político de Dilma. Foi a Santa Catarina e pregou irado a pura e simples extirpação do DEM. Foi a São Paulo, investiu contra a imprensa e proclamou com os olhos injetados: “A opinião pública somos nós.” O mais sabujo dos auxiliares de Lula reconhece sob o anonimato que o ataque de fúria do seu chefe contribuiu para forçar a realização do segundo turno. Não haverá terceiro turno. Se desta vez as pesquisas estiverem menos erradas, Dilma deverá se eleger no próximo domingo — e até com uma certa folga. Mas a eleição ainda não acabou, meus senhores. A História está repleta de casos onde um passo em falso, um gesto impensado ou uma surpresa põe tudo a perder.

O que disse Lula a respeito do episódio do Rio protagonizado por Serra e por militantes do PT só confirma uma vez mais o quanto ele é menor — muito menor — do que a cadeira que ocupa há quase oito anos. Lula foi sarcástico quando deveria ter sido solidário com Serra, de resto seu amigo de longa data. Foi tolerante e cúmplice da desordem quando deveria tê-la condenado com veemência. Foi cabo eleitoral de Dilma quando deveria ter sido presidente da República no exercício pleno da função. Sua popularidade poderá seguir batendo novos recordes — e daí? Não é disso que se trata. Popularidade é uma coisa passageira. Grandeza, não. É algo perene. Que sobrevive à morte de quem a ostentou. Tiririca é popular. Nem por isso deve passar à História como um político de grandeza. No seu tempo, Fernando Collor e José Sarney, aliados de Lula, desfrutaram curtos períodos de intensa popularidade. Tancredo Neves foi grande; popular, não.

Grandeza tem a ver com caráter, nobreza de ânimo, sentimento, generosidade. Tudo o que falta a Lula desde que decidiu eleger Dilma a qualquer preço.

A democracia agredida :: Paulo Brossard

DEU NO ZERO HORA (RS)

Eu era estudante em 1945 e participei da campanha pela redemocratização do país e votei na eleição de 2 de dezembro daquele ano para presidente da República e para a constituinte que elaboraria a Constituição de 18 de setembro de 1946.

Encerrava-se o longo e triste ciclo do Estado Novo, durante o qual houve de tudo, a começar pela destruição dos valores democráticos e pelo endeusamento do ditador, à semelhança do que se fizera nos países totalitários da Europa. E continuei a participar de campanhas e eleições até ser nomeado para o Ministério da Justiça e, posteriormente, para o Supremo Tribunal Federal. Sempre entendi que o ministro da Justiça não deveria ser parte da campanha, mais do que qualquer outro não podendo ser, ao mesmo tempo, autoridade e ator, pois a ele competiria a adoção de medidas que se fizessem necessárias no período eleitoral.

Digo isto para salientar que em mais de 40 anos fui testemunha de muito “excesso” e “abuso”, mas nunca tinha visto o que passei a ver e continuo a assistir dia a dia se agravando. E isto é tanto mais significativo quando em quase todos os sentidos o país tem progredido e em muitos deles o progresso chega a ser notável; no que tange à instrumentalidade eleitoral, por exemplo, é quase inacreditável o aperfeiçoamento, mas no momento em que o chefe do Estado se despe da faixa presidencial e assume a chefia real e formal da campanha de um candidato e em cerimônia oficial insulta o candidato, por sinal, da oposição, chamando-o de mentiroso, ele se despe da magistratura presidencial, inerente à Presidência, e ingressa no mundo da ilicitude, que, para um presidente, é a mais grave das infrações às suas indisponíveis responsabilidades.

De resto, isto é a porta aberta para a consumação de todas as truculências verbais e físicas. É preciso não esquecer que a violência é doença contagiosa, e com a publicidade que o governo dispõe ele pode incendiar o país. O presidente quer ganhar a eleição a qualquer custo e pode ganhar, mas a sua eleita pode não governar. Já vi coisa parecida e não terminou bem. O presidente alinhou o Brasil na maçaroca do coronel Chávez. A partir de agora alguém pode sair às ruas portando um cartaz, seja do que e de quem for, sem correr o risco de ser agredido pela guarda de choque do presidente. Foi assim na Itália fascista e na Alemanha nazista.

O que aconteceu ontem instantaneamente ganhou uma versão cor-de-rosa na publicidade do governo. O agredido de ontem não foi o cidadão apontado de “mentiroso” pelo presidente da República, foi cada um de nós, foram as instituições democráticas. Para começar um incêndio basta um fósforo, para extingui-lo pode custar o incalculável.

Não preciso dizer que estou profundamente impressionado com o rumo que o presidente está dando à sua incursão empreendida na orla da horda, ele fez um pacto com a fortuna, do qual o imprevisto é sempre possível.


Em Pelotas, sua cidade natal, morreu Mozart Victor Russomano. Foi lá que o conheci, em 1944, quando ultimava minha obrigação militar, fazendo o estágio regulamentar. Nunca esqueci a primeira de suas atenções para comigo. Escolhido orador de sua turma, quis revelar seu discurso a um reduzido número de amigos, Delfim Silveira, Anselmo Amaral e eu, reunindo-nos numa sala do Clube Comercial e nos antecipando sua admirável oração, cujas palavras iniciais ainda me lembro, “contam os escandinavos, na penumbra de uma saga...” e passava a narrar o martírio do herói Danko... que rasgando o peito e arrancando o coração liderou seu povo na conquista da independência. Cedo ingressou na magistratura trabalhista então incipiente e no magistério universitário, e não tardou a elaborar obras doutrinárias, que logo se tornariam clássicos. Ilustrou a presidência do TST e não demorou a laurear-se em todos os foros acadêmicos que passou a frequentar, aqui e no estrangeiro. Orador primoroso, possuía a nota própria para cada ambiente.

Lembrando um pássaro que canta para encantar, Mozart falava para embevecer os ouvintes com a fluência de sua palavra de cristal, o gesto medido, o porte harmonioso. A superioridade de seus talentos não humilhava a ninguém; era a cordialidade em pessoa, o trato amável, a polidez sem afetação. É com tristeza que risco estes traços para lembrar desordenadamente 66 anos de amizade e uma personalidade que enriqueceu seu tempo e sua terra.


Paulo Brossard* *Jurista, ministro aposentado do STF

Luciana Mello canta "Na Veia da Nêga"

Serra sobe o tom; Dilma e Lula adotam o silêncio

DEU EM O GLOBO

Tucano fala em "mentira permanente"; petistas evitam discursos e polêmicas

No último domingo de campanha, os presidenciáveis adotaram estratégias diferentes em eventos no Rio. José Serra, em Copacabana, subiu o tom dos ataques ao governo Lula e ao PT: "Precisamos de um governo que tenha caráter. Não podemos viver situação de mentira permanente". Para ele, o PT tem critérios diferentes contra a corrupção: "A justiça dos companheiros é mais lenta, não anda."

Em carreata na Zona Oeste, Dilma Rousseff e Lula não discursaram nem deram entrevista, fugindo de polêmicas. Dilma fez uma declaração breve: "Foi maravilhoso. Um final de campanha para cima."


Serra eleva tom de ataques

Com críticas a Lula e ao PT, tucano diz que "justiça companheira" é lenta contra corrupção

Fabio Brisolla e Rafael Galdo

No último domingo de campanha, o candidato do PSDB, José Serra, atacou o presidente Lula e a campanha de Dilma Rousseff, do PT, ao discursar na manifestação organizada pelos tucanos ontem na Praia de Copacabana.Ele citou a impunidade de petistas envolvidos em escândalos e disse que o partido tem critérios diferentes no combate à corrupção. E atacou a postura do governo Lula: — Precisamos no Brasil de um governo que tenha caráter, que se traduza na verdade e na honestidade.

Não podemos viver uma situação de mentira permanente — disse Serra, ao lado do vice Indio da Costa (DEM), dos senadores eleitos Aécio Neves e Itamar Franco, de Minas, dos governadores eleitos Beto Richa (Paraná) e Geraldo Alckmin (São Paulo) e do deputado federal Fernando Gabeira.

Serra citou o caso dos “aloprados”, que envolvia petistas na compra de falso dossiê contra ele, na campanha pelo governo de São Paulo, em 2006.

— Todos são iguais perante a lei.

Não há Justiça separada. Mas a justiça dos companheiros é sempre mais suave, lenta, não anda. É obstruída.

Veja o que aconteceu com o dossiê dos aloprados, com todos esses escândalos. Ninguém na cadeia até hoje — disse Serra, que voltou a acusar Lula de tratar adversários como “inimigos a serem destruídos” e reclamou da participação do presidente na campanha.

— Temos que olhar o governo como entidade de todos, não de um partido, de um grupo de interesses.

Foi assim com Itamar, Fernando Henrique.

Ambos presidiram a transição de governo com dignidade. Não há um gesto com o qual ele tenha cometido qualquer espécie de transgressão.

Hoje vemos o contrário. É o governo deixado de lado para se encarnar num partido, numa candidatura.

Serra se disse alvo da “indústria de profissionais da mentira”. Destacou que não privatizará a Petrobras e que quer “estatizar estatais, que não vão mais servir aos interesses privados de partidos e grupos aliados”.

Após o conflito com petistas semana passada, o ato na orla também começou tumultuado. Ao sair do Hotel Sofitel, no Posto Seis, Serra teve dificuldade para passar por militantes tucanos, fotógrafos e cinegrafistas, até subir no carro de som. Na orla, cabos eleitorais desfilavam com capacetes azuis com a inscrição “paz”, em alusão à bobina de fita lançada contra Serra. Aécio fez um curto discurso: — Valeu, Rio. Quando o Rio fala, o Brasil escuta. Chega de bandalheira.

Serra presidente, para o Brasil ser mais decente.

Rio é citado como ponto estratégico

No primeiro turno, Serra foi o candidato à Presidência mais votado na Zona Sul do Rio, com 31,6%. Ele destacou o papel do eleitor fluminense: — Nenhum outro lugar neste momento tem a importância estratégica do Rio de Janeiro.

Um carro de som transmitiu mensagem do jurista Hélio Bicudo, um dos fundadores do PT, com críticas: “É preciso brecar essa marcha para o autoritarismo. Não precisamos de soberanos com pretensões paternas.” Na concentração, a caminhada reuniu cinco mil pessoas, segundo a Polícia Militar. A deputada federal Andreia Zito trouxe 400 cabos eleitorais de Nova Iguaçu. Em frente à Rua Miguel Lemos, dois quilômetros depois, Serra discursou para encerrar a manifestação, que iria ao Leme. Não houve incidentes. Um petista solitário cruzou a passeata com a camiseta “Dilma Sim”.

Discurso do Aécio em Copacabana.

Após Ceará, três Estados planejam vigiar mídia

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Bahia, Alagoas e Piauí se preparam para implantar órgãos de controle

Pelo menos mais três Estados se preparam para criar conselhos de comuncação com o objetivo de monitorar a mídia, a exemplo do já ocorrido no Ceará, informa Elvira Lobato.

O governo de Alagoas, do PSDB, estuda transformar um conselho consultivo em deliberativo, com poder semelhante ao cearense.

No Piauí, um grupo de trabalho nomeado pelo ex-governador Wellington Dias (PT) propôs a criação de órgão para, entre outras funções, vigiar o cumprimento das regras de radiodifusão. Na Bahia, governada pelo PT, o conselho seria vinculado à Secretaria de Comunicação Social do Estado.

Nos três casos, há envolvimento do Executivo. Em São Paulo, tramita projeto similar ao do Ceará.

Mais 3 Estados têm projetos para monitorar a mídia

Depois de CE, BA, AL e PI se preparam para implantar órgãos de controle

Entidade de empresas de rádio e TV teme que objetivo seja simular "clamor para justificar" criação de órgão federal

Elvira Lobato

RIO - Ao menos mais três Estados -Bahia, Alagoas e Piauí- preparam-se para implantar conselhos de comunicação com o propósito de monitorar a mídia.A criação dos conselhos foi recomendação da Conferência Nacional de Comunicação, realizada no ano passado, por convocação do governo do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O Ceará foi o primeiro a tomar a iniciativa. Na terça-feira, a Assembleia Legislativa do Estado aprovou a criação de um conselho, vinculado à Casa Civil, com a função de "orientar", "fiscalizar", "monitorar" e "produzir relatórios" sobre a atividade dos meios de comunicação, em suas diversas modalidades.

O governo de Alagoas estuda transformar um conselho consultivo - existente desde 2001 e pouco operante- em deliberativo, com poder de decisão semelhante ao aprovado pelo Ceará.

A modificação foi proposta pelo conselho atual e será examinada pela Casa Civil e pela Procuradoria-Geral do Estado. O governador é Teotonio Vilela Filho (PSDB).

Segundo o presidente do conselho, Marcos Guimarães, entre as novas funções estaria o monitoramento da programação da mídia.

"Não podemos cruzar os braços. Nem tudo que vai ao ar é agradável à sociedade alagoana", afirmou.

Ele diz que o conselho atual já exerce, de certa forma, esse papel.

"Se um programa agride o cidadão, o conselho recomenda à empresa que o modifique, mas ela não tem obrigação de acatar a sugestão, porque ele é só consultivo. Quando for deliberativo, poderá tomar medidas efetivas, respeitando a legislação das concessões", afirmou.

No Piauí, foi proposta a criação de conselho com atribuição de denunciar às autoridades "atitudes preconceituosas de gênero, sexo, raça, credo e classe social" das empresas de comunicação.

Caberia ainda a esse conselho vigiar o cumprimento das normas de radiodifusão pelas emissoras locais e de denunciá-las à Anatel (Agência Nacional de Telecomunicações) e ao Ministério das Comunicações em caso de desrespeito à legislação.

O projeto foi feito por um grupo de trabalho nomeado pelo ex-governador Wellington Dias (PT) e encaminhado à Assembleia Legislativa.Na Bahia, o conselho seria vinculado à Secretaria de Comunicação Social do Estado. A minuta do regulamento do conselho foi feita por um grupo de trabalho constituído em novembro do ano passado pelo governador Jaques Wagner (PT), que foi reeleito.

O secretário de Comunicação, Robinson Almeida, negou que haja intenção do governo do Estado de cercear a imprensa. Disse que o projeto está em análise na Casa Civil e não será divulgado antes de passar pelo crivo jurídico.

Além desses três Estados, em que há envolvimento direto do Executivo, tramita em São Paulo projeto semelhante ao aprovado no Ceará, como revelou o Painel ontem.

O texto do líder do PT, Antonio Mentor, prevê a criação de conselho parlamentar que teria, entre outras funções, a de fiscalizar as outorgas e concessões de rádio e TV.

FALTA DE COMPETÊNCIA

O diretor-geral da Abert (Associação Brasileira das Emissoras de Rádio e Televisão), Luís Roberto Antonik, chama a atenção para o fato de que Estados não têm competência para regular a atuação da mídia.

A Abert teme que o movimento em vários Estados vise simular um "clamor para justificar o governo federal propor o controle social sobre a mídia". De acordo com ele, a entidade ainda está analisando as medidas a tomar para evitar que o movimento prospere. "Tutelar a mídia é um retrocesso que o Brasil não merece", afirmou.

O presidente da Alert (Associação Alagoana de Emissoras de Rádio e Televisão) e diretor da Rádio Gazeta, Gilberto Lima, que integra o conselho consultivo existente no Estado, disse que, para o órgão ganhar poder, o estatuto tem de ser mudado.Ele disse que votará contra cláusulas que permitam o cerceamento da mídia.

Alckmin reforça missão tucana no RS

DEU NO ZERO HORA (RS)

Governador eleito de São Paulo tenta recuperar reduto do PSDB no Estado

Eleito no primeiro turno governador de São Paulo, o tucano Geraldo Alckmin desembarca hoje no Rio Grande Sul para reforçar a campanha de José Serra à Presidência. Este é o quinto Estado visitado por Alckmin neste segundo turno. Ele já passou pelo Acre, por Mato Grosso, Mato Grosso do Sul e Goiás.

– O segundo turno é muito curto, tenho procurado ajudar, porque é impossível o candidato estar fisicamente em mais de um lugar – disse ontem o governador eleito.

Alckmin tem um carinho especial pelo Estado. Principalmente pelo pequeno município de Arroio do Padre, na Zona Sul. Lá, no segundo turno da eleição presidencial de 2006, ele obteve 85% dos votos.

– Ganhei aí e em todos os Estados do Sul, nos dois turnos – lembrou ontem o governador, falando por telefone de São Paulo.

Alckmin tem chegada prevista para as 9h30min, e depois de conceder entrevistas para emissoras de rádio e TV se reúne com a governador Yeda Crusius no Palácio Piratini. À tarde, segue para Santa Maria, onde terá um encontro com o prefeito Cezar Schirmer e líderes da Região Central.

Segundo Alckmin, a estratégia para os últimos dias de campanha é intensificar o trabalho que já está sendo feito e apostar em projetos para o país.

– Vamos destacar as propostas de justiça social, o piso de R$ 600, o aumento de 10% para aposentados e pensionistas, os grandes investimentos que serão feitos para melhorar a saúde, hoje a grande prioridade da população, o avanço na educação básica e ensino técnico, o Ministério da Segurança que Serra vai criar e que será muito importante principalmente em Estados de fronteira como o Rio Grande do Sul – afirmou o governador eleito.

Peso eleitoral

Recém-eleito em primeiro turno, com 50,6% dos votos válidos, para uma segunda passagem pelo governo de São Paulo (Estado que já governou entre 2001 e 2006), Geraldo Alckmin é um dos políticos mais influentes do país e um dos trunfos do PSDB para o segundo turno da eleição presidencial. Além do interior paulista, Alckmin tem percorrido Estados do Sul, do Norte e do Centro-Oeste para preencher vazios da agenda do presidenciável tucano José Serra. Hoje, ele estará no Rio Grande do Sul.

Secretário teria sofrido pressão do Planalto

DEU NO ZERO HORA (RS)

Revista divulga gravações em que secretário da Justiça reclama de pedidos para fazer dossiês

Conversas gravadas dentro do gabinete da Secretaria Nacional de Justiça, no início do ano, sugerem que partiram do Planalto determinações para que o órgão produzisse dossiês “contra quem atravessava o caminho do governo”. As gravações foram reveladas pela revista Veja desta semana.

Em um dos diálogos, Pedro Abramovay, o então secretário de Assuntos Legislativos, diz ao então secretário Nacional de Justiça, Romeu Tuma Júnior:

– Não aguento mais receber pedidos da Dilma e do Gilberto Carvalho (chefe de Gabinete da Presidência da República) pra fazer dossiês. (...) Eu quase fui preso como um dos aloprados.

Para o Ministério da Justiça, as revelações teriam partido de Tuma e seriam fruto de vingança do ex-secretário, demitido do cargo em junho passado sob a suspeita de envolvimento com o chinês Li Kwok Kwen, preso como chefe de um esquema de fraudes em importação de produtos eletrônicos.

Ressentido, Tuma Jr. saiu atirando:

– A verdade virá à tona. Vão surgir fatos que vocês vão se arrepiar, aguardem – avisou, em entrevista, após ser exonerado.

Abramovay, que sucedeu Tuma, negou “peremptoriamente”, por meio de nota divulgada no fim de semana, ter recebido pedidos para confeccionar ou ajudar na montagem de dossiês contra quem atravessasse os interesses do Planalto. Abramovay levantou dúvida sobre a origem e a legalidade das conversas gravadas. Dilma Rousseff e Carvalho também negaram a encomenda de dossiês.

PF ouve hoje principais envolvidos nos casos da Casa Civil e de dossiê

DEU EM O GLOBO

Erenice vai depor sobre tráfico de influência; Amaury Ribeiro Jr. deve ser indiciado

BRASÍLIA. A Polícia Federal vai ouvir hoje, em Brasília, dois dos principais personagens dos escândalos envolvendo a campanha da presidenciável Dilma Roussef f (PT). A ex-ministra Erenice Guerra está intimada a depor, às 9h, no inquérito que apura suposto esquema de tráfico de influência na Casa Civil. Às 10h, o jornalista Amaury Ribeiro Jr., arrolado na quebra de sigilos de tucanos, falará pela quarta vez aos investigadores.

A PF deve indiciá-lo como um dos responsáveis pela compra de dados sigilosos na Receita Federal.

A expectativa é do próprio advogado do jornalista, Adriano Bretas, que se refere ao indiciamento como positivo.

— O último depoimento de Amaury foi há cerca de dez dias. Se o estão chamando outra vez, é um sintoma de que será indiciado. Isso é muito bom, pois assim ele passa a ser investigado e pode provar que não pediu quebra de sigilo — afirmou o advogado.

Depoimento pode esclarecer se Amaury agiu sozinho A Polícia Federal vinha adiando o indiciamento do jornalista como estratégia para que ele colaborasse com as investigações. Na oitiva de hoje, poderá ficar mais claro se Amaury atuou sozinho ou a mando de alguém ao comprar os dados.

Nos seus depoimentos, o despachante Dirceu Rodrigues Garcia afirmou ter recebido, no ano passado, R$ 8,4 mil pelas informações de pessoas ligadas ao candidato do PSDB à Presidência, José Serra. Em setembro, depois de ser iniciada a investigação do caso, o jornalista teria pago um “auxílio” de R$ 5 mil ao despachante.

Os depósitos foram feitos em uma agência do Bradesco em Brasília que fica próxima à Lanza Comunicação, empresa que prestou serviços à précampanha de Dilma Rousseff.

Amaury Ribeiro Jr. viajou a São Paulo, onde se deu a negociação, com passagens compradas pelo funcionário do jornal “Estado de Minas” Marcelo Augusto de Oliveira, que não foi ouvido pela PF. Ele trabalha para a diretoria e, entre outras tarefas, cuida das despesas de viagem de repórteres.

O GLOBO apurou que, chamado a depor, o funcionário do jornal mineiro confirmará que adquiriu as passagens para prestar um favor pessoal a Amaury, e não a pedido da empresa.

A informação é confirmada por fontes do jornal e por pessoas próximas a Amaury.

Na época, o jornalista estava em férias e, nos depoimentos anteriores, afirmou que trabalhava por conta própria. Amaury Ribeiro Jr. nega que tenha encomendado dados sigilosos, mas, sim, apenas informações da Junta Comercial.

O depoimento da ex-ministra Erenice Guerra é aguardado com apreensão pelos petistas na reta final da campanha.

No entanto, procurados ontem, os advogados de Erenice não atenderam para confirmar se a ex-ministra comparecerá e, comparecendo, se falará.

Acusado de cobrar propina para facilitar negócios de empresas privadas com o governo, tendo o aval da mãe, o filho dela, Israel Guerra, e outros envolvidos optaram por se manter em silêncio diante dos investigadores.

Dilma e Lula se calam sobre polêmicas

DEU EM O GLOBO

Em carreata pela Zona Oeste, presidente e candidata não falam sobre novas denúncias

Alessandra Duarte e Cassio Bruno

Após uma semana de campanha abalada pelo depoimento do jornalista Amaury Ribeiro Jr. sobre a quebra de sigilo de tucanos, e de uma reportagem de “Veja” no fim de semana mostrando que o secretário nacional de Justiça, Pedro Abramovay, teria se queixado de cobranças sobre dossiês supostamente feitas por Dilma Rousseff (PT) e pelo chefe de Gabinete da Presidência, Gilberto Carvalho, a candidata petista e o presidente Lula preferiram o silêncio ontem no Rio. Lula e sua ex-ministra fizeram pela manhã carreata de quase duas horas pela Zona Oeste da cidade.

Não discursaram. Ao fim, não deram entrevistas. Seguiram de helicóptero até a Base Aérea do Galeão e voltaram para São Paulo.

Com o governador Sérgio Cabral (PMDB), o prefeito Eduardo Paes (PMDB), o presidente do PT, José Eduardo Dutra, e o ministro da Comunicação Social, Franklin Martins, além do senador eleito Lindberg Farias (PT), dos senadores Marcelo Crivella (PRB) e Francisco Dornelles (PP) e do deputado Carlos Minc (PT), a carreata saiu de Realengo, foi a Padre Miguel, seguindo por 19 ruas da Zona Oeste — região da cidade em que Dilma foi a mais votada para presidente no 1oturno (46,6% dos votos) —, e terminou num shopping em Bangu

No fim, militante foi atropelado na confusão O PT estima que cerca de três mil militantes acompanharam os 12 quilômetros da carreata, além de cabos eleitorais de siglas aliadas como PMDB e PP. A estrutura foi organizada pelo coordenador da campanha de Cabral, Wilson Carlos.

Apesar de não ter sido visto policiamento ao longo da carreata, policiais do 14º BPM (Bangu) informaram que dez carros da PM foram usados no evento. O batalhão estimou o público ao longo do ato em cinco mil a dez mil pessoas.

Moradores acompanharam a passagem dos carros ao longo do trajeto, e a carreata chegou a parar algumas vezes para Lula cumprimentar eleitores.

Mas só no trecho final, quando a comitiva entrou na Rua da Feira, uma das vias principais de Bangu, é que o evento ganhou mais público. No estacionamento do shopping, na confusão da saída de Dilma e Lula, um militante do PT foi atropelado por um jipe da carreata e socorrido no local.

No Rio, mata-mosquitos usam sindicato para promover Dilma

DEU EM O ESTADO DE S. PAULO

"Prática é ilegal", adverte Paulo Carvalho Filho, que vai levar o caso à Procuradoria da Justiça Eleitoral, em Brasília

Clarissa Thomé / RIO

O Sindicato de Trabalhadores de Combate às Endemias e Saúde Preventiva (Sintsaúde-RJ) tem usado o blog oficial da entidade para fazer campanha para a petista, Dilma Rousseff. O sindicato é o mesmo que promoveu a manifestação em Campo Grande, na zona oeste, quando o candidato do PSDB à Presidência, José Serra, foi agredido.

O coordenador da Fiscalização da Propaganda Eleitoral na capital, juiz Paulo César Vieira de Carvalho Filho, afirmou que a prática é ilegal e vai reportar o caso à Procuradoria Regional Eleitoral, em Brasília.

"Essa prática fere a Lei Eleitoral. A rede social é livre, mas sindicato não pode fazer campanha política", afirmou o juiz, ao tomar conhecimento das publicações feitas no blog. Carvalho Filho explicou que, por se tratar da campanha presidencial, a competência cabe à procuradoria em Brasília. "As informações a respeito da campanha devem ser retiradas do site e a candidata pode ser multada se ficar comprovado que ela tinha conhecimento e que era beneficiada pela prática. O sindicato também pode ser multado", afirmou.

Convocação. As notas publicadas no blog sintsauderj.blogspot.com alternam informações de interesse dos trabalhadores com mensagens a respeito da campanha presidencial, como uma chamada para o lançamento do programa de governo petista.

Em 18 de outubro, por exemplo, há a convocação para uma manifestação pró-Dilma na Central do Brasil, sob o título Atividade Dilma Presidente, convidam os trabalhadores para darem sua contribuição "à nossa causa, Dilma 13 Presidenta do Brasil".

Carta. Em 17 de outubro, o blog publicou uma carta aberta aos servidores públicos, lembrando a proximidade do segundo turno. "Esta decisão (sobre o voto) será tomada após uma avaliação criteriosa de cada um de nós, teremos que escolher entre dois projetos diferentes, um representado por FHC e Serra que arrochou os nossos salários por oito anos, aonde (sic) ficamos 8 anos sem reajustes salariais, e um outro projeto representado por Lula e Dilma que institui o processo de negociação permanente com os servidores públicos", diz trecho da nota, que lembra ainda que Serra, como ministro da Saúde, "demitiu quase 6 mil mata-mosquitos".

Agressões. O Sintsaúde é dirigido por José Ribamar e Sandro Alex de Oliveira Cezar, que estavam na linha de frente da manifestação que acabou com troca de agressões entre militantes petistas e do PSDB, na quarta-feira.

Eles foram citados na representação entregue pelos advogados da coligação O Brasil Pode Mais, de Serra, à Procuradoria-Geral da República, em que pedem investigação e punição do tumulto. Cezar é conhecido como Sandro Mata-mosquito e foi candidato a deputado estadual pelo PT. Na ocasião da agressão a Serra, explicou que soube da atividade de campanha do tucano e decidiu reunir um grupo de ex-mata-mosquitos para protestar. Ontem, Sandro foi procurado pela reportagem, mas não deu retorno às ligações.

Ribamar e Sandro aparecem abraçados com Lula em foto postada no blog do Sintsaúde. A foto foi feita no Palácio do Alvorada, em 26 de outubro de 2009, durante a comemoração do aniversário do presidente.

Fiscais relatam pressão política do PT no Ibama

DEU NA FOLHA DE S. PAULO

Fiscais do Ibama relataram à Procuradoria uma suposta pressão da superintendente no Estado, Analice de Novais Pereira, filiada ao PT, para livrar empresas de multas e embargos. O Ibama nega haver "uso político" do órgão.

Fiscais relatam pressão política no Ibama

Segundo funcionários, superintendente do órgão em SP, irmã de Silvio Pereira e filiada ao PT, beneficiou empresas

Ex-chefe de fiscalização no Estado afirma que há indício de "uso político" do Ibama durante a pré-campanha eleitoral

Rubens Valente

BRASÍLIA - Fiscais do Ibama relataram à Procuradoria da República em São Paulo e a uma sindicância interna uma suposta pressão política exercida pela superintendente do órgão no Estado, Analice de Novais Pereira, para livrar empresas de multas e embargos aplicados pela fiscalização do instituto.

Filiada ao PT de Osasco (Grande SP) desde 1981, Analice, 47, é irmã de Silvio Pereira, ex-secretário-geral nacional do partido, implicado em 2005 no escândalo do mensalão. Ela comanda o Ibama paulista desde 2003.

Em entrevista à Folha, Antonio Paulo de Paiva Ganme, ex-chefe da fiscalização em São Paulo, apontou indícios de "uso político" do órgão na pré-campanha presidencial.

Segundo ele, em abril, às vésperas da inauguração do trecho sul do Rodoanel, um carro-chefe da campanha do ex-governador José Serra (PSDB) à Presidência, seus superiores pediram uma fiscalização de emergência no local.

Entre os casos levantados, há uma ação do deputado federal Vicentinho (PT-SP).

Por e-mail, em dezembro de 2008, ele pediu que Analice atendesse a empresa sucroalcooleira Dedini para tratar de multa e embargo, aplicados no mês anterior, em obras de um porto da empresa.

No dia seguinte ao e-mail, Analice assinou termo de desembargo parcial da obra.

O deputado confirmou o e-mail à Folha. "O advogado [da Dedini] é amigo meu de longa data e na época me pediu para que eles fossem recebidos para resolver pendências. Mas não sei o que aconteceu [depois]."

Na sindicância, os fiscais disseram que o desembargo ocorreu "a toque de caixa, sem parecer jurídico prévio, para atender a solicitação do deputado".

A Dedini confirmou o encontro com Analice: "A Dedini realizou uma reunião técnica e oficial, apresentando relatório completo da situação referente à obra no porto de São Sebastião".

ESTOPIM

Os atritos entre os fiscais e o comando local do Ibama começaram em 2008, mas se agravaram em julho último, quando o órgão destituiu dois fiscais que, um dia antes, haviam embargado as atividades do porto de Santos, gerido pela Codesp, estatal do Ministério dos Transportes. Um dos atingidos foi Ganme.

Na autuação, conforme relataram os fiscais, representantes da Codesp disseram ter amizade com Analice, para quem telefonaram.

Em agosto, os dois fiscais, acompanhados de procuradoras federais do Ibama, prestaram depoimento ao procurador da República José Roberto Pimenta.

"A superintendente tem ilegalmente interferido na fiscalização para favorecer determinadas empresas", declararam. Lançaram dúvidas sobre decisões em prol da construtora Queiroz Galvão e das usinas Tanabi e Companhia Brasileira de Açúcar e Álcool.

Em agosto, a procuradora da República que assumiu o caso, Inês Prado Soares, enviou recomendação ao Ibama para que fosse aberto procedimento interno e sugeriu que Analice fosse afastada do cargo até o final das investigações. A sindicância foi aberta, mas Analice foi mantida no posto.

""Há grande possibilidade de que a sra. Analice interfira no andamento de procedimento administrativo que investiga sua própria conduta", alertou Inês.

À correição aberta e conduzida por procuradores do Ibama de Brasília, os fiscais anexaram denúncias e prestaram depoimentos.

O analista ambiental Carlos Daniel Gomes Toni falou em "pressão política" e "assédio moral".

"Rogo que esta comissão inclua em seu relatório que encontrou em São Paulo servidores que não se curvam às pressões políticas daqueles que fazem da administração pública seu balcão de interesses", escreveu Toni.

O que pensa a mídia

Editoriais dos principais jornais do Brasil
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Eu escrevi um poema triste :: Mario Quintana

Eu escrevi um poema triste
E belo, apenas da sua tristeza.
Não vem de ti essa tristeza
Mas das mudanças do Tempo,
Que ora nos traz esperanças
Ora nos dá incerteza...
Nem importa, ao velho Tempo,
Que sejas fiel ou infiel...
Eu fico, junto à correnteza,
Olhando as horas tão breves...
E das cartas que me escreves
Faço barcos de papel!