*Antonio Gramsci(1891-1937), Cadernos do
Cárcere, V. 3, p. 349, Civilização Brasileira, 2007
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 9 de março de 2022
Opinião do dia | Antonio Gramsci*: "partido político"
Vera Magalhães: Pérolas de presente no 8 de Março
O Globo
Uma
das formas mais comuns nos discursos feministas para marcar que 8 de Março não
é uma data para vender flores ou perfumes, e sim uma oportunidade de fomentar
discussões a respeito da condição feminina e da desigualdade de gêneros no
Brasil e no mundo, foi pedir aos homens que, nesse dia, não deem flores às
mulheres.
Pois,
em 2022, o debate público trocou rosas por pérolas, mas não aquelas que adornam
lindas joias, e sim as bobagens que, na gíria, ganharam essa denominação.
Antes das 7h, ao levantar, fui surpreendida por um post da jornalista Natuza Nery republicando o anúncio de um ciclo de palestras sobre a participação feminina na política “estrelado” apenas por… homens! Jair Bolsonaro, os ministros Paulo Guedes (Economia) e Tarcísio Gomes de Freitas (Infraestrutura), o presidente da Câmara, Arthur Lira, e o vice-governador de São Paulo, Rodrigo Garcia, palestrariam, ao longo de vários dias, a respeito desse tema sobre o qual têm tanto a dizer. As mulheres? Estariam na plateia, claro, aprendendo.
Elio Gaspari: Alckmin na Vice de Lula
O Globo
A ideia é fazer um governo de coalizão
Lula e Geraldo Alckmin estão fechando a
aliança, e o ex-governador e ex-candidato do PSDB à Presidência será o vice na
chapa do petista. Como aliança, é um golpe de mestre. Vacina Lula e recoloca
Alckmin no cenário de que foi afastado por sucessivas derrotas e erros de
julgamento.
Na sua origem, estaria o interesse de Lula
de, uma vez eleito, formar um governo de coalizão, à semelhança da base
política que sustentou Angela Merkel na Alemanha. Esse raciocínio teria partido
de Lula.
Durante seus oito anos de governo, o líder petista teve um vice empresário, limpo e bem-sucedido. José Alencar foi leal e discreto. Quando fazia contraponto ao presidente na política econômica, combinava antes e demarcava limites razoáveis. Alckmin é um político correto e de lealdades acima da média, mas sua biografia não é a de Alencar.
Bernardo Mello Franco: A solidão de Moro
O Globo
Sergio Moro é novato na política, mas já
aprendeu a se livrar de aliados incômodos. O ex-juiz foi rápido para rifar
Arthur do Val, o Mamãe Falei. “Jamais dividirei meu palanque e apoiarei pessoas
que têm esse tipo de opinião”, tuitou na noite de sexta, quando o falastrão
ainda voava de volta da Ucrânia.
O deputado youtuber virou uma companhia
tóxica após ofender refugiadas em plena guerra. A questão é que ele sempre usou
“esse tipo de opinião” para se promover. Mesmo assim, Moro o havia escolhido
para dividir o palanque em São Paulo.
Fundador do MBL, Do Val integra a turma da nova direita que aposta no insulto como arma política. Em 2020, chamou o padre Julio Lancellotti de “cafetão da miséria”. Antes disso, xingou ministros do Supremo, invadiu a Faculdade de Medicina da USP, ofendeu colegas na Assembleia Legislativa e conseguiu ser expulso do DEM por mau comportamento.
Luiz Carlos Azedo: Doria avalia opções diante do próprio fracasso pré-eleitoral
Correio Braziliense
Não se pode descartar a
possibilidade de o tucano paulista desistir da candidatura à Presidência, mas
dificilmente o fará como derrotado por uma conspiração interna
Avança uma conspiração surda na bancada
paulista do PSDB para que o governador de São Paulo, João Doria, jogue a toalha
e desista de ser candidato. As conversas entre paulistas e tucanos dissidentes,
que querem pôr o governador do Rio Grande do Sul, Eduardo Leite, no lugar de
Doria, têm conexões com os aliados do Cidadania, que aprovou uma federação com
os tucanos, e antigos líderes do União Brasil, que se afastaram de Doria por
causa da filiação do vice-governador Rodrigo Garcia (ex-DEM) ao PSDB.
A terra se move sob os pés de Doria porque as pesquisas mostram que sua rejeição é a mais alta entre todos os candidatos e sua candidatura não encorpa nem mesmo em São Paulo. Os tucanos paulistas estão chegando à conclusão de que a insistência de Doria com a candidatura pode resultar na derrota de Rodrigo Garcia — que assumirá o governo de São Paulo e concorrerá à eleição — para o ex-prefeito paulista Fernando Haddad. A consolidação do nome do ex-governador Geraldo Alckmin como vice na chapa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo PSB mostra que o conflito com o ex-governador Márcio França está sendo resolvido.
Vinicius Torres Freire: Petróleo sobe para nível de inflação séria, mas boicote americano não causa colapso
Folha de S. Paulo
Embargo dos EUA não será acompanhado pela
UE, que poderia levar preços além de US$ 200
O presidente
dos Estados Unidos, Joe Biden, confirmou na tarde desta terça-feira (8) que
barrou a compra de petróleo russo. O Reino Unido disse que vai reduzir suas
importações da Rússia a zero até o final do ano.
Por vários motivos, a decisão acaba por
colocar o preço do barril em novo patamar, perto de US$ 125 (R$ 636), por ora,
alta de 60% neste ano. É preço de inflação em alta no mundo inteiro, mas não de
colapso. O barril chegou a ficar menos caro depois do discurso de Biden. As
Bolsas subiram.
O embargo americano não será acompanhado
pela União
Europeia ("demos um passo que outros países não podem dar",
disse Biden), que importa da Rússia cerca de 25% do petróleo que consome. Um
embargo europeu poderia levar os preços além de US$ 200 (R$ 1.017). Não haveria
tão cedo produção alternativa na Opep, mesmo se sanções americanas contra Irã e
Venezuela fossem suspensas amanhã, um milagre político (mais sobre esse
problema mais adiante).
A decisão americana poderia tirar pouco petróleo do mercado, menos de 1% do total das exportações mundiais. Mas parte desses barris embargados por Biden pode ser vendida em outros mercados, para aliados da Rússia, como a China, que assim deixaria de comprar de outros produtores (embora essa decisão não seja simples, como mudar de padaria). A produção americana pode aumentar, por outros motivos que não o embargo. Europeus e americanos negociam aumentos de produção com outros países.
Bruno Boghossian: Petróleo e reeleição
Folha de S. Paulo
Ameaça de disparada de preços dos
combustíveis produziu um ajuste na máquina da reeleição
O risco de uma disparada
do preço dos combustíveis produziu um ajuste na máquina
eleitoral de Jair Bolsonaro. Embora defendam o uso de armas diferentes, a ala
política e a equipe econômica do governo sinalizam que alguma intervenção será
necessária para conter aumentos excessivos nas bombas nos próximos meses. A
campanha levou os dois lados a falarem línguas parecidas.
A reação do consórcio bolsonarista à nova alta do petróleo indica o perigo que esse grupo enxerga nas bombas de combustíveis. Símbolo do desconforto vivido pelos brasileiros nos últimos anos, a alta acentuada de preços é considerada dentro do governo uma das principais ameaças à recuperação da popularidade do presidente e à reeleição.
Mariliz Pereira Jorge: Bolsonaro e Arthur do Val são o retrato do homem médio brasileiro
Folha de S. Paulo
Deputado deu de cara com a parede de
tolerância zero erguida pelo movimento feminista
Para quem tem boa memória, o episódio
protagonizado pelo deputado estadual Arthur
do Val é só um revival ainda mais grotesco do que aconteceu na Copa da
Rússia, em 2018.
Torcedores brasileiros se aproveitaram da simpatia das mulheres do Leste Europeu, tão alardeada pelo membro do MBL, para abraçá-las e gritar "buceta rosa", enquanto elas sorriam sem entender o assédio que sofriam. Dias depois, mais de dez homens interromperam o trabalho de uma jornalista estrangeira aos gritos de "chupar xoxota é uma coisa linda".
Matheus Schuch: Bolsonaro pede a evangélicos apoio contra ‘ameaça socialista’
Valor Econômico
Presidente volta a sugerir ação política de
Forças Armadas
BRASÍLIA - Preocupado com o assédio de
outros candidatos à Presidência da República a líderes evangélicos, o
presidente Jair Bolsonaro recebeu dezenas de representantes do segmento, ontem,
em um café da tarde no Palácio da Alvorada. Em clima de campanha eleitoral,
pediu apoio contra o que chama de “ameaça socialista” no país e, se dirigindo
aos religiosos, prometeu dirigir o país “para o lado que os senhores
desejarem”.
Sob aplausos de pastores que antes anunciaram alinhamento a seu governo, Bolsonaro também exaltou seu compromisso em colocar um evangélico no Supremo Tribunal Federal (STF), já materializado com a indicação de André Mendonça, e voltou a dizer que vê autoridades no país atuando “fora das quatro linhas da Constituição” - discurso que já utilizou diversas vezes para atacar ministros da Corte.
Fernando Exman: A infértil lista de prioridades do Brasil
Valor Econômico
Governo lança plano de fertilizantes em
momento crítico
Da cadeira na qual estava recostado
observando o movimento, o vendedor de mudas, sementes e insumos agrícolas
conseguia avistar do outro lado da avenida o edifício que hoje abriga a Escola
Superior de Defesa.
A loja fica em frente ao amplo terreno que
já sediou a Escola Superior de Guerra (ESG) e a extinta Escola de Administração
Fazendária (Esaf), onde hoje grande parte das atenções devem estar na guerra
iniciada com a invasão da Ucrânia pela Rússia. E para lá chegar ele teria
apenas que atravessar a via expressa que liga o bairro do Jardim Botânico de ponta
a ponta. Caminhada curta, menos de 300 metros, mas precisaria enfrentar a
chuva.
Coisas de Brasília. Nesta época do ano, é possível safar-se de uma chuva torrencial apenas mudando de calçada.
Daniel Rittner: Sem boiada para mais fertilizantes
Valor Econômico
Aumentar produção de potássio requer debate
sem mentiras
Usar a guerra na Ucrânia como catapulta para o projeto de lei que libera mineração em terras indígenas coloca o debate sobre a dependência do potássio importado pelo Brasil no mesmo nível de maturidade da infame tentativa de “passar a boiada” sobre o meio ambiente enquanto as atenções do país se concentravam na pandemia. A opinião pública, o Parlamento, as organizações da sociedade civil, habitantes da Amazônia merecem uma discussão mais qualificada. Se não há interesse do governo em oferecê-la, eis alguns pontos de partida.
Paulo Delgado*: Os engajados
O Estado de S. Paulo.
Retrógrado, Putin quer ser tratado como poder não econômico, capaz de consolidar noções de honra e coexistência pela ferocidade militar
Quem só fala a verdade quando quer não se
importa de mentir quando precisa. A reputação nada vale onde o oportunismo
compõe o tipo sem compromisso, a mistura híbrida de esquerdista-direitista,
liberal-intervencionista, paz e amor-belicista, constitucionalista-compadraste
e cristão que não acredita no inferno. Vladimir Putin cavalga um cavalo morto
cujo galope medonho levará a Rússia ao abismo.
A cortesia deste ator dúbio e compulsivo
com a pátria é o engajamento brutal e “sincero” em empreendimentos
egocêntricos. Engajamento fanático que dá ao crédulo a impressão de ser um
forte. Cão de guarda da mentira, bobo da corte da verdade, tolera-se tudo em
democracia extraviada.
O engajado se encaixa rápido onde poucos pairam acima do seu tempo, têm mínima cultura clássica e não veem o orgulho como aristocracia da honra pessoal. É a síntese do mundo imperfeito do carreirista que se dá por esclarecido. Entusiasta dos atalhos, ele amontoa tudo e roda como moinho. Se o herói é ruim, ele se convence de que é um ruim melhor, pois o outro é o ruim deles.
Paul Krugman: Custos graves, não catastróficos
O Estado de S. Paulo.
Para países pobres, onde gastos com comida
pesam mais, choque no preço do trigo será severo
Quando Vladimir Putin invadiu a Ucrânia,
acho justo afirmar que a maioria dos observadores esperava que ele se sairia
bem. Em vez disso, aqui estamos, quase duas semanas depois, com Kiev e Kharkiv
ainda resistindo, e as forças invasoras retidas por uma feroz resistência
ucraniana – auxiliada pela rápida injeção de armas do Ocidente – e desastrosos
problemas logísticos. Ao mesmo tempo, as sanções do Ocidente contra a economia
russa claramente já surtem efeitos severos, que podem piorar.
Obviamente, tudo pode mudar. Por agora,
contudo, Putin está encarando consequências bem piores do que poderia ter
imaginado. Infelizmente, afrontar uma agressão não sai de graça. Os eventos na
Ucrânia e na Rússia devem impor, em particular, custos severos à economia
mundial. A questão é: quão severos?
Minha resposta preliminar é que serão
custos graves, mas não catastróficos. Especificamente, o choque de Putin não
parece tão grave quanto os choques do petróleo que abalaram o mundo nos anos
70.
Como naquela época, o golpe na economia mundial ocorre nos preços de commodities. A Rússia é uma grande exportadora de petróleo e gás natural; tanto a Rússia quanto a Ucrânia são – ou eram – grandes exportadores de trigo. Então, a guerra está surtindo grande impacto nos preços tanto da energia quanto dos alimentos.
Cristovam Buarque*: Lições da Ucrânia
Correio Braziliense
A primeira lição é o custo elevado de invadir um país. Até aqui, Rússia e Estados Unidos invadiram Afeganistão e Iraque, sem que os demais países impusessem sanções. Graças à Ucrânia, esses e outros países estão descobrindo o preço de invasões. A segunda lição é a constatação universal de que os mesmos países que rejeitam refugiados da Síria e da África são generosos e solidários com os ucranianos. Esta lição deve servir para o mundo cobrar da Europa os braços abertos aos refugiados obrigados a fugirem das guerras e da pobreza.
Outra lição: a guerra da Ucrânia permite
perceber o erro cometido, 30 anos atrás, quando as nações ocidentais não
aproveitaram a falência da União Soviética, para apoiar a Rússia, exigindo seu
desarmamento nuclear. Tudo indica que seria difícil provocar o desarmamento
unilateral absoluto da Rússia, mas não teria sido difícil aproveitar aquele
momento para obter-se o desarmamento nuclear pleno de todas as nações.
Mas, no lugar de estender a mão e ajudar na recuperação econômica da Rússia, em troca de incorporá-la em paz no capitalismo ocidental, o Ocidente preferiu fortalecer a OTAN, cercar a Rússia com armas. Tratou-a como se ainda fosse a União Soviética e a guerra fria continuasse; como inimiga sem justificativa, porque Ocidente e Oriente são capitalistas, não disputam ideias nem colônias. O Ocidente poderia ter evitado essa guerra na Ucrânia, se tivesse agido com mais visão para o futuro e menos prisão ao passado. Em 1945, o EUA teve esta sabedoria, quando deu apoio para reconstruir a Alemanha. Em 1922, poderia ter feito uma versão do Plano Marshall para a Rússia e incorporado este país no mundo ocidental, desarmado. A arrogância dos EUA e a da Europa Ocidental preferiram aproveitar a fraqueza russa e levar a OTAN até as fronteiras para cercar a ex-URSS. A Rússia encontrou um autocrata que manipulou regras democráticas para chegar ao poder e ficar por tempo indeterminado.
O que a mídia pensa: Editoriais / Opiniões
EDITORIAIS
Não existe saída fácil para a alta dos
combustíveis
O Globo
A história do controle de preços no Brasil
é uma tragédia — das cenas patéticas dos fiscais do Sarney correndo atrás de
gado no pasto ao descalabro que quase levou a Petrobras à bancarrota nos tempos
de Dilma Rousseff. Só o passado já recomendaria uma reflexão profunda antes de
qualquer decisão sobre controlar o preço dos combustíveis para compensar a alta
do petróleo resultante da invasão russa à Ucrânia.
É compreensível que qualquer governante sinta essa tentação. O diesel mais caro aumenta o custo dos fretes; esse aumento é repassado aos produtos transportados; e produtos mais caros alimentam uma inflação já alta. O francês Olivier Blanchard, ex-economista-chefe do FMI hoje no Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), defendeu em fevereiro a adoção de subsídios e isenção de impostos para tentar frear o preço dos combustíveis. Segundo ele, o impacto do aumento na inflação ascendente poderia erodir a confiança nos bancos centrais e provocar uma recessão mais séria.