segunda-feira, 24 de abril de 2017

Opinião do dia – Sérgio Abranches

Já superamos grandes perigos com sucesso. Afastamos a ditadura e construímos a Terceira República, a mais democrática de nossas experiências republicanas, com todas as falhas que temos visto. Vencemos a hiperinflação. Reduzimos a pobreza e a desigualdade.

Agora temos duas novas tarefas coletivas pela frente. Revigorar nossa democracia, tornando-a menos vulnerável à corrupção e ao controle oligárquico, e definir os modos pelos quais atravessaremos a grande transição do século 21.

Não é uma coisa que se possa fazer com a simples mudança de regras eleitorais.

*Sérgio Abranches, 67, sociólogo, é autor do livro "A Era do Imprevisto: A Grande Transição do Século XXI" (Companhia das Letras, 2017). “A democracia sitiada”, Folha de S. Paulo, 23/4/2017.

Centro e extrema direita disputam 2º turno na França

Macron é o mais votado e disputa com Le Pen segundo turno na França

Fim do bipartidarismo. Social-liberal torna-se o favorito para assumir o Palácio do Eliseu, candidata da Frente Nacional fica abatida com resultado inferior às projeções das pesquisas, apesar de a extrema direita ter obtido seu melhor desempenho na história

Andrei Netto | O Estado de S. Paulo

PARIS - O ex-ministro da Economia Emmanuel Macron, do recém-criado movimento En Marche! (social-liberal), venceu ontem o primeiro turno das eleições presidenciais na França. Considerada favorita durante grande parte da campanha, a eurodeputada Marine Le Pen, do partido nacionalista Frente Nacional (extrema direita), acabou em segundo lugar.

Ambos disputarão o segundo turno em 7 de maio, encerrando o bipartidarismo de socialistas e republicanos, que durante 36 anos se alternaram no Palácio do Eliseu.

Eleição põe fim ao bipartidarismo histórico na França

Partido Socialista teve pior resultado de sua existência, enquanto que o Republicano ficou fora do segundo turno pela primeira vez

Andrei Netto | O Estado de S. Paulo

PARIS - A disputa entre Emmanuel Macron e Marine Le Pen no segundo turno das eleições presidenciais, no dia 7, representa um choque histórico na vida partidária da França. Pela primeira vez desde 1981, socialistas e republicanos, que se alternaram no Palácio do Eliseu construindo um bipartidarismo de facto no país, foram eliminados e terão de reconstruir suas bases eleitorais a partir de seus resultados mais baixos.

Já os vencedores pediram apoio para continuar a virar a página do “sistema”.

A depuração da vida política francesa de líderes e de siglas históricas teve início ainda nas eleições primárias do partido Republicanos, processo que resultou em novembro de 2016 na eliminação do ex-presidente Nicolas Sarkozy e do ex-premiê Alain Juppé frente ao conservador católico François Fillon. Em dezembro, o atual presidente, o socialista François Hollande, reconheceu sua incapacidade de se candidatar à reeleição diante da resistência interna no Partido Socialista (PS) e seu grau de impopularidade. Um mês e meio depois, nas prévias do PS, foi a vez do ex-premiê Manuel Valls ser derrotado por Benoit Hamon.

Macron já tem apoio de ex-rivais

Centrista e Le Pen disputarão 2º turno na França; em situação inédita, socialista e conservador ficam de fora

Num resultado histórico, que pela primeira vez deixou de fora os dois tradicionais partidos de direita e esquerda que há décadas se alternavam no comando do país, o centrista Emmanuel Macron e a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, venceram ontem uma acirrada disputa nas urnas e vão se enfrentar no segundo turno das eleições presidenciais francesas, em 7 de maio. Logo após a confirmação da derrota, o socialista Benoît Hamon e o conservador François Fillon declararam apoio a Macron. “O extremismo só pode trazer desgraça e divisão”, justificou Fillon. Macron disse querer ser o presidente contra a “ameaça dos nacionalistas”, enquanto Le Pen quer “libertar o país das elites arrogantes”. Líderes da UE celebraram o êxito do ex-ministro, que em pesquisas feitas ontem tinha 64% das intenções de voto no segundo turno.

Aliança antiextremista

Macron passa ao 2º turno com Le Pen e já obtém apoio de ex-rivais socialista e conservador

Fernando Eichenberg | O Globo

-PARIS- Num pleito histórico, os franceses elegeram o centrista Emmanuel Macron, do movimento Em Marcha!, e a líder da extrema-direita, Marine Le Pen, da Frente Nacional (FN), para a disputa do segundo turno presidencial, em 7 de maio. Os líderes dos dois tradicionais partidos excluídos do duelo final apelaram pela união em torno da candidatura de Macron para barrar a possibilidade de vitória da direita radical. O conservador François Fillon, de Os Republicanos (LR, na sigla em francês), e Benoît Hamon, do Partido Socialista (PS), manifestaram seu apoio ao candidato centrista. Quarto colocado, Jean-Luc Mélenchon, do movimento de esquerda radical Frente Insubmissa, disse que esperaria os resultados oficiais da eleição para depois consultar suas bases eleitorais e, eventualmente, indicar uma preferência de voto.

Rivais históricos na França se unem contra Marine Le Pen no 2º turno

Diogo Bercito | Folha de S. Paulo

PARIS - Partidos à esquerda e à direita se uniram em torno da candidatura do centrista Emmanuel Macron para impedir a direitista Marine Le Pen chegar à Presidência.

O conservador François Fillon, do Republicanos (centro-direita), discursou logo após a divulgação dos primeiros resultados e declarou seu apoio ao rival. "Não há outra escolha a não ser votar contra a extrema direita."

Fillon chegou em terceiro lugar. Ele disse, em seu quartel de campanha, que a Frente Nacional de Le Pen é "conhecida por sua violência e por sua intolerância".

A vitória da radical, afirmou o conservador, dividiria o país.

Macron lidera na França e traz alívio à Europa

Por Daniela Fernandes e Assis Moreira | Valor Econômico

PARIS E GENEBRA - O centrista Emmanuel Macron e a candidata Marine Le Pen, de extrema direita, vão disputar o 2º turno da eleição presidencial na França. Resultados preliminares mostravam o social-liberal com quase 24% dos votos, contra pouco mais de 22% da rival. Apesar do resultado inédito obtido pela Frente Nacional com o desempenho de Le Pen, as primeiras pesquisas divulgadas após o encerramento do 1º turno indicam que Macron vencerá a disputa por larga margem no dia 7 de maio, com 62% a 64% dos votos.

Os mercados financeiros e as autoridades da Europa respiraram aliviados. Oito dos 11 candidatos tinham propostas que, na prática, empurrariam a França para fora da União Europeia.

Macron vence 1º turno e é favorito para a Presidência da França
No primeiro turno da eleição presidencial mais disputada na França nos últimos 50 anos, os eleitores escolheram ontem dois candidatos com visões e programas opostos: o centrista Emmanuel Macron, pró-europeu, e Marine Le Pen, líder da Frente Nacional (FN), da extrema direita, que quer o "Frexit", a saída da França da União Europeia (UE) e da zona do euro. Os dois disputarão o segundo turno em 7 de maio.

Temer reúne líderes e proíbe novas mudanças na reforma

Texto será votado tal como foi apresentado na comissão

Missão agora é enfrentar as resistências no voto e aprovar o texto negociado com o relator Arthur Maia

Geralda Doca / Eduardo Barretto | O Globo

BRASÍLIA - O governo endureceu as negociações com os parlamentares e deu um basta a novas concessões na reforma da Previdência, rejeitando, assim, o lobby pesado de algumas categorias do serviço público, sobretudo aquelas com altos salários, que querem continuar se aposentando mais cedo com integralidade (último salário da carreira) e paridade (reajustes salarias iguais ao do pessoal da ativa). Diante do risco de que a proposta fosse desidratada com o aumento das pressões no Congresso, o presidente Michel Temer convocou os líderes da base aliada e ministros para uma reunião na sua residência, no fim da tarde de ontem — quando o martelo foi batido. O ministro da Fazenda, Henrique Meirelles antecipou o retorno de Washington, onde estava para a reunião anual do Fundo Monetário Internacional (FMI), e participou do encontro.

A missão agora é enfrentar as resistências no voto e aprovar o texto negociado com o relator, deputado Arthur Maia (PPS-BA) — que também participou da reunião com Temer. Na última quarta-feira, Maia surpreendeu o governo ao anunciar que iria flexibilizar a regra para os servidores públicos. Ele estava sendo pressionado diretamente por entidades representativas de juízes e procuradores, que querem uma regra de transição para continuar fazendo jus à paridade e à integralidade.

Fogo amigo nas delações premiadas agrava situação de Lula

Defesa do ex-presidente eleva tom contra procuradores da Operação Lava-Jato e pede à PGR apuração sobre conduta

Eduardo Bresciani / Renata Mariz / Tiago Dantas | O Globo

BRASÍLIA E SÃO PAULO - A colaboração de pessoas que privavam da intimidade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou a Operação Lava-Jato a fechar o cerco contra ele. Nas últimas duas semanas, os depoimentos em vídeo de Emílio Odebrecht e Léo Pinheiro (OAS), dois empresários muito próximos a Lula, agravaram as denúncias contra o petista, e o marqueteiro João Santana, responsável por sua imagem pública desde o escândalo do mensalão, também fechou acordo de delação premiada. A situação pode piorar se o ex-ministro Antonio Palocci confirmar o aceno que fez ao juiz Sérgio Moro, colocando-se à disposição para colaborar e dar “mais um ano de trabalho” para os investigadores.

Após mais de três anos de Lava-Jato, Lula já é réu em cinco ações penais, e a nova leva de delações que o envolve agrava sua situação porque esses delatores fecham algumas pontas soltas de histórias sob apuração. Depois desses depoimentos, a defesa do ex-presidente subiu o tom, estendendo o enfrentamento aos demais procuradores e reforçando as baterias junto a outras instâncias.

Entidades defendem juízes auxiliares para força-tarefa no STF

Frederico Vasconcelos | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - A força-tarefa para acelerar os trabalhos da Lava Jato no STF (Supremo Tribunal Federal) terá um desafio bem maior do que o enfrentado pela corte na tramitação da ação penal do mensalão.

Magistrados especializados em crimes financeiros e de lavagem de dinheiro dizem que haverá um volume maior de documentos a serem garimpados e analisados. Os inquéritos terão que ser bem fundamentados para virar processo, pois a delação, por si só, não é prova.

Eles entendem que a força-tarefa é essencial, mas não seria suficiente.

"Muitas investigações têm sido alcançadas pela prescrição na fase de inquérito na Polícia Federal, por isso precisamos urgentemente de uma força-tarefa de delegados, escrivães, agentes e peritos criminais", diz Roberto Veloso, presidente da Associação dos Juízes Federais do Brasil (Ajufe).

PSB decide hoje se fecha questão contra reforma

Por Andrea Jubé | Valor Econômico

BRASÍLIA - A uma semana da votação da reforma da Previdência na comissão, a Executiva Nacional do PSB reúne-se hoje para decidir se "fecha questão" contra a proposta. Se a maioria dos integrantes da cúpula votar neste sentido, os 37 deputados serão obrigados a votar contra a reforma previdenciária. O Palácio do Planalto monitora com lupa esse debate, até porque o PSB comanda o Ministério de Minas e Energia. Além de ser a sétima maior bancada, os votos do partido foram decisivos para confirmar o impeachment da presidente Dilma Rousseff.

O presidente da sigla, Carlos Siqueira, afirmou ao Valor que há uma tendência de que se consume o fechamento de questão contra a proposta. A eventual decisão pode se estender, ainda, à reforma trabalhista e ao voto em lista partidária.

Apoio a Temer na Câmara cai às vésperas de reformas

Enquanto Planalto discute mudanças na Previdência e nas leis trabalhistas, adesão da base passa de 91% para 79%; 20 últimas votações tiveram fidelidade de 68%

Rodrigo Burgarelli e Daiene Cardoso | O Estado de S.Paulo

A fidelidade dos deputados federais às orientações do governo Michel Temer no Legislativo vem caindo de maneira constante desde o fim do ano passado. Se em julho de 2016 a média de apoio ao governo na Câmara dos Deputados foi de 91% – o maior índice de governismo já registrado desde 2003 –, em abril deste ano essa taxa caiu para 79%, uma queda de 12 pontos porcentuais.

Os dados são do Basômetro, ferramenta interativa do Estadão Dados que coleta todas as votações nominais ocorridas no Congresso e compara os votos dos deputados com as orientações do governo. Segundo o levantamento, o fim da lua de mel entre Temer e os parlamentares ocorre no exato momento em que algumas das medidas mais importantes para o governo estão prestes a entrar na pauta, como as reformas da Previdência e trabalhista.

Os números revelam que, quanto mais recente o intervalo analisado, maior é a queda do governismo da Câmara. Nas primeiras 20 votações nominais do governo Temer, por exemplo, 92% dos deputados seguiram a orientação do Planalto. Já nas 20 mais recentes, apenas 68% fizeram o mesmo.

Crise no Rio leva partidos a buscar ‘surpresa’ para 2018

Cenário de caos político e social causa incerteza na disputa; além do PMDB, outras siglas estão implicadas na Lava Jato no plano nacional

Gilberto Amendola | O Estado de S.Paulo

RIO - O caos político, econômico e social do Rio já causa incertezas no cenário eleitoral de 2018. Com um ex-governador preso, parte dos principais nomes da política local citados na Lava Jato e atuais mandatários que não despertam grandes paixões no eleitorado, partidos estão à procura de um novo nome, uma surpresa”, para a disputa do próximo ano.

O Estado mostrou neste domingo, 23, que, de acordo com projeções da Federação das Indústrias do Estado do Rio (Firjan), mesmo com o plano de recuperação fiscal, o Rio só voltará a arrecadar mais do que gasta em 2029. Além disso, falta dinheiro para pagar salários dos servidores, para a distribuição de remédios e até para o abastecimento de viaturas da polícia.

Diante desse cenário, é quase consenso que o PMDB, legenda do atual governador, Luiz Fernando Pezão, do ex-governador Sérgio Cabral, preso pela Operação Lava Jato, e do ex-prefeito Eduardo Paes, estaria “derretendo” no Estado – e que isso abriria o campo para outros partidos crescerem. Já outras siglas representativas, como PT, DEM e PSDB, estão, em nível nacional, implicadas na Lava Jato.

Incentivo fiscal acirra debate sobre soluções

Polêmica em torno da Ambev ilustra uma das discussões mais acalorados que marcam a maior crise financeira da história do Rio

Vinicius Neder e Mariana Durão | O Estado de S.Paulo

RIO - Quando, no início de abril, o governo do Rio mandou à Assembleia Legislativa (Alerj) um projeto de lei pedindo autorização para conceder incentivo fiscal de até R$ 650 milhões à Ambev para instalar uma nova fábrica no Estado, a oposição protestou. Parecia não fazer sentido uma gestão falida liberar um crédito tributário milionário à maior cervejaria do mundo, que faturara globalmente US$ 45,5 bilhões no ano passado.

Os protestos funcionaram: no dia 13, a empresa anunciou oficialmente ter desistido do projeto no Estado. Mas a controvérsia segue.

A polêmica em torno da Ambev ilustra um dos debates mais acalorados que marcam a maior crise financeira da história do Rio. Para muitos, a concessão de incentivos fiscais é a causa principal da situação atual. Reduziria a arrecadação, tirando receita necessária aos serviços públicos. O governo contesta essa avaliação. Diz que os incentivos são necessários para atrair investimentos.

Niterói segue ritmo acelerado graças ao dinheiro do petróleo

Nicola Pamplona | Folha de S. Paulo

RIO - Localizado em frente ao maior campo brasileiro de petróleo, o município de Niterói, na região metropolitana do Rio de Janeiro, tem sobrevivido à crise que assola o Estado. Com a receita em alta, a prefeitura mantém um ritmo acelerado de inaugurações e vem assumindo atribuições do governo estadual.

Para adversários, o prefeito reeleito Rodrigo Neves (PV) mira projetos de grande visibilidade, de olho na disputa para governador em 2018.

A cidade é beneficiada com 43% dos royalties da exploração do petróleo e participações especiais pagas pelo campo de Lula, o maior do país, que começou a operar em 2010 e hoje produz 690 mil barris por dia -ou 25% da produção nacional.

Ao contrário da maior parte dos municípios petroleiros, que sofrem com a queda nos preços internacionais, Niterói viu sua arrecadação com a rubrica crescer 230% desde 2011. Em 2016, foram R$ 294,8 milhões, o equivalente a 13% da receita daquele ano.

A democracia sitiada | Sérgio Abranches

- Folha de S. Paulo / Ilustríssima

Quando começou a escrever "Ruling the Void" (governando o vácuo), em 2007, o politólogo Peter Mair tocou no ponto nevrálgico da crise que atinge a democracia em todo o mundo. Especialista em política comparada, chegou a uma visão sombria sobre a trajetória dos sistemas partidários nas sociedades contemporâneas.

"A era da democracia de partidos passou. Embora os partidos permaneçam, eles se tornaram tão desconectados da sociedade mais ampla e buscam uma forma de competição tão sem sentido que não parecem mais capazes de sustentar a democracia na sua forma presente", afirmou.

Mair chamava a atenção para um dos problemas cruciais da grande transição que vivemos no século 21, o do esvaziamento da democracia representativa.

Este é o subtítulo que deu a seu ensaio: "Ruling the Void: The Hollowing of Western Democracy" (Verso Books, 2013; governando o vácuo: o esvaziamento da democracia ocidental). Ele trabalhou nesse livro até 2011, quando morreu sem poder completá-lo.

O resultado desse projeto foi publicado postumamente. Nele, o autor examina a mudança na natureza dos partidos políticos e o impacto negativo que isso provoca na permanência, na legitimidade e na efetividade da democracia representativa contemporânea.

Ele vê com preocupação a emergência de uma noção de democracia destituída de seu componente popular e o aumento da desconfiança na política, nos políticos e nos partidos. Esse processo trouxe a própria democracia para a agenda de debates na imprensa e na academia, a ponto de hoje falar-se de seus problemas e dos caminhos para sua revitalização mais do que em qualquer outro momento no passado.

Para Mair, o renovado interesse pelos problemas da democracia revela menos a intenção de revigorá-la, aproximando-a dos cidadãos, e mais o desejo de desencorajar a participação popular.

A crise da representação se agrava com a oligarquização dos partidos, dominados por grupos políticos que se perpetuam no poder e usam a estrutura da sigla não para canalizar demandas e valores das pessoas que pretendem representar, mas como trampolim para outros cargos e posições.
O caso da Lava Jato mostra que, no Brasil, esse controle de cargos também teve por objetivo negociar transações milionárias e ilegais.

Social-democracia
Ao não se sentirem representados, os cidadãos viram as costas para a política e para as agremiações. Dissemina-se o sentimento antipolítica; os eleitores passam a buscar forasteiros –o "não político", o "gestor" e o "magistrado", entre outros– e se afastam cada vez mais da trilha democrática, pela esquerda ou pela direita.

Mair e vários outros críticos dos rumos adotados pela democracia partidária nas últimas décadas atribuem à social-democracia a responsabilidade principal pela crise de representação.

A culpa maior, por assim dizer, seria dos partidos de esquerda e centro-esquerda, que fracassaram em apresentar um paradigma de democracia popular e políticas públicas compatíveis com as transformações da sociedade.

A democracia morreu, viva a democracia! | Marcus Pestana

O Tempo (MG)

Tempos nebulosos. Perplexidade, indignação, pessimismo, angústia e incerteza se misturam, contaminando o ambiente do país. O desemprego bate na porta de milhões de famílias. As revelações da Lava Jato corroem as bases de legitimidade do sistema político como um todo. O esgotamento do modelo de representação política parece evidente. Seria o fim de um ciclo? Não existe luz visível no final do túnel.

A lista do Fachin frequenta diariamente a imprensa. As redes sociais explodem em radicalismo e intolerância. Jornais de TV veiculam as delações premiadas como se fossem novela. Mas o roteiro não se assemelha a um romance, mais parece uma combinação de thriller policial com filme de terror. 

A esquerda, refém de Lula | Ricardo Noblat

- O Globo

“Presidente, seu pessoal quer receber o máximo possível, e meu pessoal quer pagar o mínimo necessário” - Emílio Odebrecht, empresário _

Foram dias infernais para Lula. Em 6 de junho de 2005, Roberto Jefferson (PTB-RJ) denunciara o pagamento de propina a deputados. No dia 16, José Dirceu, chefe da Casa Civil, pedira demissão. No dia 7 de julho, o Congresso instalara duas CPIs para apurar o caso. E no dia 12 de agosto, Duda Mendonça, marqueteiro da campanha de Lula, revelara que fora pago no exterior com dinheiro de caixa 2.

DUAS SEMANAS DEPOIS DA REVELAÇÃO feita por Duda que quase levou o governo a pique, Lula reuniuse secretamente, à noite, com uma dezena de políticos em uma casa no Lago Sul de Brasília. Estava acompanhado pelo ex-ministro José Dirceu. A maioria dos políticos era da oposição — entre eles o senador Antonio Carlos Magalhães (DEM-BA) e Arthur Virgílio (AM), líder do PSDB no Senado.

Apenas o começo | Aécio Neves

Os primeiros sinais de retomada da economia, que vinham despontando de maneira tímida, estão agora se confirmando. Felizmente, o Brasil parece ter começado a deixar para trás a grave crise econômica que paralisou o país e sacrificou milhões de famílias. Mas não nos iludamos: o caminho da recuperação será árduo, demorado e cheio de obstáculos.

A economia se move por atitudes e, sobretudo, por expectativas. Com o PT no governo, elas eram as piores possíveis. A mudança de gestão, o firme apoio do PSDB e a construção de uma sólida base de apoio no Congresso cuidaram de dar o primeiro sopro de alento. Mas as dificuldades no mundo real eram tamanhas que a recuperação demorou mais do que se imaginava.

O caixa comum | Fernando Limongi

- Valor Econômico

Não foi revelada toda a relação entre empresas e o Estado

As delações dos executivos da Odebrecht ditaram o noticiário da semana passada, que se fechou com expectativas de novas bombas. Léo Pinheiro, da OAS, iniciou seus depoimentos e Palocci mandou sinais de que estaria disposto a abrir o jogo. Por enquanto, a Lava-Jato tem girado em torno das relações entre políticos e empreiteiras, mas há razões para supor que as grandes empresas também compravam decisões e facilidades em outros endereços da Praça dos Três Poderes. O Tribunal de Contas da União (TCU) já entrou na dança e, como no mundo político, os enrolados estão no topo e não na base.

Quanto aos políticos, basta consultar as prestações de contas entregues ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE) para saber que suas fontes de recursos não se resumiam às empreiteiras. Há outros grandes doadores que, como a Odebrecht, seguiam uma estratégia pluripartidária, financiando a todos indiscriminadamente. Tomadas em conjunto, as campanhas de Dilma e Aécio declaram ter movimentado R$ 561 milhões. Deste total, nada mais nada menos que R$ 351 milhões vieram de doadores que apostaram em ambas as candidaturas. Dos R$ 350 milhões declarados por Dilma, R$ 210 milhões vieram de doadores que também regaram os cofres tucanos. Os números para Aécio são R$ 141 milhões provenientes de doadores comuns, mais da metade dos R$ 211 milhões reportados. Empreiteiras não são as únicas pessoas jurídicas a financiar o PT e o PSDB. A JBS, para citar o exemplo mais gritante, foi responsável por pouco menos de 20% do custo total das duas candidaturas.

Dúvidas e uma certeza | Cida Damasco

- O Estado de S. Paulo

Previdência ainda enfrenta obstáculos e mercado conta com nova reforma

A hora é de fazer contas na reforma da Previdência. O governo mapeia quantos parlamentares ainda tem de seduzir, para garantir a aprovação da proposta. O mercado projeta qual será o encolhimento final do “ganho” a ser proporcionado pelas mudanças – e já põe alguns bilhões a mais, imaginando os novos recuos que terão de ser feitos, agora no plenário. E os trabalhadores, esses devem calcular, real por real, quais serão os efeito da reforma nos seus planos de aposentadoria.

Interesses cruzados | Leandro Colon

- Folha de S. Paulo

A linha de corte criada por Michel Temer para definir a vida de ministros implicados pela Odebrecht deu certo fôlego ao Planalto, mas entregou à Procuradoria-Geral da República responsabilidade sobre o futuro do governo.

A regra tem preservado os ministros investigados, mesmo que, para abertura dos inquéritos, o Supremo tenha considerado a existência de indícios de que cometeram crimes.

Pelos critérios do presidente, o ministro que for denunciado pela PGR será afastado temporariamente. A demissão deve ocorrer no caso de o Supremo transformá-lo em réu.

Ajustes na Previdência antecipam dificuldades | Angela Bittencourt

- Valor Econômico

Reforma frustrada eleva prêmio de risco, câmbio e taxa de juro

A reforma da Previdência precisa subir mais dois degraus - ser aprovada na comissão especial e no plenário da Câmara dos Deputados - para dar a chance de o governo brasileiro respeitar o limite estabelecido para os gastos públicos e, para os grandes investidores, a esperança de que o país está a caminho - um longo caminho - do reequilíbrio de suas contas.

Contudo, é arriscado tanto para um lado quanto para o outro acreditar que, daqui para frente, o horizonte descortina um céu de brigadeiro. As concessões feitas pelo governo a parlamentares para assegurar mais votos e a aprovação da reforma reduziram a economia que poderia ser feita, caso a proposta original fosse chancelada integralmente no parlamento. Não será.

Bom para a economia | Editorial | O Globo

A redução do subsídio ao banco vai ajudar o BC nos juros, e as taxas devem ser mais baixas

Nenhum país com alguma intenção de relevância pode prescindir de financiamento de longo prazo a um custo compatível com a rentabilidade empresarial. Assim, no segundo governo de Getulio Vargas, foi fundado o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico (BNDE), ainda sem o “S” de social. Entre os que ajudaram a criar a instituição, estava o liberal Roberto Campos, então trabalhando no governo. Não há nisso qualquer contradição. O Brasil precisava mesmo de crédito para financiar investimentos de prazo largo. Sequer havia um sistema financeiro internacional como o de hoje — capilarizado, em condições de movimentar enormes somas de recursos de um lugar para o outro e aplicá-los de forma a atender a necessidades da clientela global.

Reformas, contas e vida real – Editorial | O Estado de S. Paulo

Campeão do endividamento público entre os emergentes, o Brasil deverá manter essa posição nos próximos cinco anos, segundo as projeções do Fundo Monetário Internacional (FMI). A dívida bruta do governo geral deve chegar neste ano a 81,2% do Produto Interno Bruto (PIB) e atingir 87,8% em 2022, mesmo com o teto real para o gasto público e a reforma da Previdência. No mesmo período, a dívida média dos países emergentes e de renda média deverá aumentar de 47,4% para 52,4%. Os autores dos cálculos admitiram como hipótese o sucesso nas duas iniciativas – a limitação das despesas da administração pública e a revisão das normas previdenciárias. Se houve alguma estimativa sem esse pressuposto benigno, foi abandonada na publicação do Monitor Fiscal, um exame semestral das finanças públicas da maior parte do mundo.

Santíssima Trindade – Editorial | Folha de S. Paulo

Reportagem publicada recentemente neste jornal dava conta de gestões envolvendo o presidente Michel Temer (PMDB) e seus antecessores Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e Fernando Henrique Cardoso (PSDB). A apuração era bem fundamentada; o que parece etéreo é o entendimento apto a reunir os três personagens.

O primeiro deseja ficar no cargo até o final do ano que vem e colher o reconhecimento, que viria com o tempo, de ter recolocado a economia em ordem.

Enquanto o segundo pretende sobreviver na política e evitar condenação judicial cada vez mais plausível, o terceiro trata de resguardar a imagem, há pouco chamuscada, para os livros de história.

Não é fácil harmonizar interesses tão díspares. O propósito alegado por emissários dessa espécie de Santíssima Trindade da política brasileira é assegurar transição institucionalmente tranquila até o próximo mandato presidencial.

Risco na aprovação de reforma pode atrapalhar baixa de juro – Editorial | Valor Econômico

A cada nova estatística divulgada, o cenário inflacionário vem se revelando mais favorável do que o esperado, o que teoricamente permitiria ao Banco Central cortar com ainda mais força a taxa básica de juros. Mas o aumento das incertezas, nas últimas semanas, sobre a aprovação da reforma da Previdência poderá impedir estímulos mais expressivos para animar a débil atividade econômica.

A ata da reunião de abril do Comitê de Política Monetária (Copom) do BC, divulgada na semana passada, registra progressos significativos na estratégia de combate à inflação. As projeções macroeconômicas apresentadas no documento mostram que, hoje, há espaço para os juros básicos da economia caírem dos atuais 11,25% ao ano para 8,5% ao ano nos próximos meses sem colocar em perigo o objetivo de entregar a inflação na meta, de 4,5%, em 2017 e 2018.

Os ombros suportam o mundo | Carlos Drummond de Andrade

Chega um tempo em que não se diz mais: meu Deus.
Tempo de absoluta depuração.
Tempo em que não se diz mais: meu amor.
Porque o amor resultou inútil.
E os olhos não choram.
E as mãos tecem apenas o rude trabalho.
E o coração está seco.
Em vão mulheres batem à porta, não abrirás.
Ficaste sozinho, a luz apagou-se,
mas na sombra teus olhos resplandecem enormes.
És todo certeza, já não sabes sofrer.
E nada esperas de teus amigos.
Pouco importa venha a velhice, que é a velhice?
Teus ombros suportam o mundo
e ele não pesa mais que a mão de uma criança.
As guerras, as fomes, as discussões dentro dos edifícios
provam apenas que a vida prossegue
e nem todos se libertaram ainda.
Alguns, achando bárbaro o espetáculo
prefeririam (os delicados) morrer.
Chegou um tempo em que não adianta morrer.
Chegou um tempo em que a vida é uma ordem.
A vida apenas, sem mistificação.

Roberta Sá - O nego e eu