“Pelo que se vê nas verbalizações do PT, não há reconhecimento da derrota de grandes proposições que representa a eleição de Bolsonaro, justamente facilitada pelas duas radicalizações que dominaram a cena eleitoral – a rigor mobilizadas, cada uma no seu registro, por visões de sociedades fechadas. As eleições terminaram num tsunami em que a imensa maioria do eleitorado se posicionou antissistema, particularmente impondo derrota desorganizadora às correntes moderadas da vida política brasileira.
Não obstante a vitória de Bolsonaro, aquele problema da separação entre política e sociedade mostrado em 2013 fica agora novamente colocado ao campo alinhado com a democracia política – vale dizer, o sistema representativo pluripartidário e o Estado democrático de Direito – que ora se movimenta para sobreviver após enorme derrota. Tem como perspectiva de grande alento, mas que exige passos imediatos, o desafio de conquistar confiança no seio das duas grandes correntes que, há pouco, se pronunciaram nas urnas do segundo turno, pondo seu voto em um dos lados da polarização extrema, Bolsonaro e PT, discordando das suas ideias.
Este campo moderado discerne esses eleitorados, qualificando que eles se utilizaram do voto para evitar as consequências da eleição de um dos candidatos da nova polarização, pois, de um lado, os que votaram em Bolsonaro já conheciam o passado recente da Era Lula, enquanto na outra ponta os que votaram em Haddad recusavam o autoritarismo do pós-64. As correntes do campo moderado – especialmente o que restar do PSDB, a REDE, o PPS, pequenos redutos do MDB de tradição da resistência política ao regime de 1964, incluídos pequenos setores novos na política e outras áreas, principalmente os três primeiros por certo farão autocritica em relação ao passado até os dias atuais, e anunciarão reflexões em outros registros para a formulação de nova plataforma e modo de agir, a se conhecer suas manifestações iniciais nesta passagem de ano e em 2019, quando começa o governo da direita.”
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Raimundo Santos, professor universitário, autor de vários livros e um dos organizadores, junto com José Antônio Segatto e Milton Lahuerta, da coletânea 'As esquerdas e a democracia', editora Verbena e Fundação Astrojildo Pereira. ‘A polarização das eleições de 2018’, revista Política Democrática n. 52, dezembro de 2018.