*Theodor W. Adorno (1903-1969), foi um filósofo, sociólogo, musicólogo e compositor
alemão. É um dos expoentes da chamada Escola de Frankfurt, juntamente com Max
Horkheimer, Walter Benjamin, Herbert Marcuse, Jürgen Habermas, entre outros.
“Aspectos do novo radicalismo de direita”, conferência, 6 de abril de 1967. p.76-7.
Editora Unesp, 2020.
Política e cultura, segundo uma opção democrática, constitucionalista, reformista, plural.
quarta-feira, 25 de janeiro de 2023
Opinião do dia – Theodor W. Adorno*
Vera Magalhães - Chance para blindar a democracia é agora
O Globo
Se Lula deixar tempo passar e enveredar por
polêmica econômica, perderá oportunidade de fazer avançar o Pacote da
Democracia
A janela de oportunidade para que haja uma
convergência dos Três Poderes em torno de um pacto pela democracia está aberta
desde 8 de janeiro, mas não permanecerá assim indefinidamente. Se o governo
Lula deixar passar muito tempo depois da eleição das Mesas da Câmara e do
Senado sem colocar as propostas para andar, as divergências políticas voltarão
a emergir, pautadas também pela controversa agenda econômica do Executivo, e
adeus oportunidade de proteger mais fortemente as instituições e o processo
democrático.
O ministro da Justiça, Flávio Dino, o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, e os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) parecem ter entendido a urgência do momento histórico. Outros, inclusive o presidente, parecem perder tempo com pautas divisionistas, quando têm nessa questão da reação ao terrorismo golpista do bolsonarismo uma oportunidade clara de reconquistar uma fatia da sociedade.
Elio Gaspari - O sangue-frio de Dino e Costa
O Globo
Os dois ministros contiveram a crise do dia
8
O repórter Guilherme Amado revelou detalhes
dos acontecimentos do 8 de janeiro que justificam, com sobra, a troca do
comandante do Exército, general Júlio César de Arruda. Mais que isso, revelam
que o sangue-frio dos ministros da Justiça, Flávio Dino,
e Rui Costa,
chefe da Casa Civil, livrou o país de uma crise inédita, pela qualidade de suas
atitudes.
Aos fatos, pela narrativa de Amado:
Na noite do dia 8, depois da invasão do
Palácio do Planalto, do Supremo Tribunal Federal e do Congresso, uma tropa da
PM de Brasília dirigiu-se à área onde estavam acampadas pessoas que havia
semanas pediam um golpe de Estado. Muitas delas haviam participado das invasões
à tarde, e o objetivo era prendê-las, por ordem do ministro Alexandre de
Moraes. O comandante militar do Planalto ordenou que os policiais
fossem barrados, e a cena da barreira foi mostrada pelas televisões.
Pouco depois, o comandante do Exército
reuniu-se com o interventor federal na segurança de Brasília, Ricardo Cappelli,
e com o coronel comandante da PM. Conversa dura, e nela o general Arruda teria
dito:
— O senhor sabe que a minha tropa é um pouco maior que a sua, né?
Fernando Exman - A quem interessa uma caserna agitada
Valor Econômico
Deve-se diferenciar erros individuais da
atuação do Exército
A incerteza era tamanha no funesto dia 8
que um integrante da cúpula do Congresso foi assertivo ao ser alcançado, pelo
telefone, por um interlocutor do presidente Luiz Inácio Lula da Silva. “Diga ao
presidente que aceite tudo, menos uma GLO”, recomendou, com veemência, o
parlamentar.
Àquela altura, um gabinete de crise improvisado a cerca de 800 quilômetros de Brasília já discutia como seria dado o contragolpe que retomaria o controle da sede dos três Poderes. Lula visitava Araraquara, município do interior de São Paulo atingido por fortes chuvas, quando a crise eclodiu: logo começou a ser torpedeado com sugestões de como deveria reagir e, entre essas propostas, estava exatamente a decretação de uma missão de garantia da lei e da ordem - ou, como se diz no jargão, uma GLO.
Bruno Boghossian - Muito além da omissão
Folha de S. Paulo
Sequência consistente de decisões e
estímulo ao garimpo ampliaram risco histórico à saúde indígena
Um governante omisso pode alcançar a proeza
de transformar um problema histórico numa crise grave, praticamente sem fazer
esforço. Mas a negligência se torna quase uma virtude quando comparada a ações
capazes de produzir uma tragédia.
A política do ex-presidente Jair Bolsonaro para os povos indígenas causaria inveja a países liderados por políticos puramente incompetentes. A situação dramática registrada na terra yanomami é o reflexo de uma sequência consistente de decisões tomadas para favorecer atividades ilegais e ampliar a vulnerabilidade dos povos que vivem na região.
Mariliz Pereira Jorge - Pode chamar de genocida?
Folha de S. Paulo
Promover criminalidade, negar proteção e
acesso à água e comida não parecem crueldade?
Já pode chamar de genocida ou o que Jair Bolsonaro fez aos yanomamis não se encaixa nas definições da ONU, dos juristas e dos puristas da língua? As imagens da devastação daquele povo são chocantes demais para caber na descrição de crime de responsabilidade. Crime de responsabilidade é o governo pagar o lazer de Michelle Bolsonaro com os parças no resort, financiar motociata, conserto de jet ski. A omissão que levou ao abandono, à desnutrição e à morte revelados não cabe outro nome que não genocídio.
Hélio Schwartsman – Assombrações artificiais
Folha de S. Paulo
Previsões catastrofistas relativas às
tecnologias jamais se materializaram
Com medo de que os avanços na inteligência artificial (IA) possam custar-lhe
o emprego e outras coisas mais? Bem, você não é o primeiro. Nossos cérebros
temem tudo aquilo que possa representar concorrência a nossas mentes. Foi assim
com a primeira geração de computadores, que chamávamos de "cérebros
eletrônicos", e com as máquinas de calcular, que nos transformariam em
analfabetos numéricos.
Foi assim também com a escrita. Sim, leitor, a escrita, a mais importante de todas as invenções humanas, sem a qual nossas ciência, tecnologia e filosofia seriam só uma sombra do que são, foi recebida com desconfiança em alguns círculos.
Vera Rosa - Lula infla o PSB e amplia base com rivais
O Estado de S. Paulo.
Até senador flagrado com dinheiro na cueca é atraído pelo Planalto
A uma semana das eleições que vão escolher
os presidentes da Câmara e do Senado, o Palácio do Planalto age para ampliar a
base no Congresso, com promessas de cargos após o resultado das disputas,
marcadas para 1.º de fevereiro. Embora a principal preocupação do governo
esteja no Senado, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva tenta se aproximar
cada vez mais de Arthur Lira (PP), favorito para ocupar novo mandato à frente
da Câmara.
Dois dias antes de embarcar para Buenos Aires, Lula jantou com Lira. O presidente quer evitar que a ofensiva do PT para ocupar espaços provoque mais um atrito com o deputado que controla o Centrão.
Sebastião Ventura Pereira da Paixão Jr.* - Para onde vai a democracia brasileira?
O Estado de S. Paulo.
Toda hipertrofia de poder traduz anomalia institucional, alertando que algo não está bem na República. Sintomas ecoam aos ventos
Há um clima de intranquilidade e preocupação no País. Além de riscos geopolíticos extraordinários, é fato público e notório que a política institucionalizada não mais consegue bem responder aos anseios de uma cidadania frenética e impaciente aos velhos arranjos de ocasião. A desconexão de perspectivas salta aos olhos. De um lado, uma dinâmica realidade social em transformação, verticalmente impactada pelas lógicas da inovação e tecnologia, criando um ambiente cívico hiperconectado em fluxo informacional imediato. Do outro, cruzando o vale do abismo bizantino, resta uma classe política feudal, geneticamente atrasada, herdeira do colonialismo extrativista, do patrimonialismo estatal parasitário, do poder pelo poder, do desapego à lei e da imoralidade estonteante.
Bernardo Mello Franco – A vingança de Bolsonaro
O Globo
Na Câmara, ele não conseguiu acabar com a
terra indígena; na Presidência, deixou seus habitantes morrerem de fome
Jair Bolsonaro vivia seu primeiro ano em
Brasília quando o governo Fernando Collor demarcou a terra ianomâmi. Três dias
depois, o jovem deputado subiu à tribuna para protestar. “Essa área é a mais
rica do país. Por que instituir uma reserva indígena lá?”, reclamou.
Em tom conspiratório, ele sustentou que os ianomâmis seriam uma ameaça à segurança nacional. Da noite para o dia, poderiam iniciar um movimento separatista. “A curto prazo, essa área poderá tornar-se independente, e a perderemos definitivamente”, fantasiou. Começava ali, em novembro de 1991, sua cruzada contra a maior terra indígena da Amazônia.
Aylê-Salassié Filgueiras Quintão* - Chove dinheiro vivo no plenário da Câmara
Era um exército de homens montados já em tratores, escavadeiras, equipamentos para serem usados naquelas atividades primárias, acobertados pelos próprios governos, a título de modernizar o sistema produtivo e explorar as riquezas naturais. Iam devastando territórios e populações nativas à sua frente, desqualificando práticas agrícolas de subsistência, culturas indígenas e introduzindo doenças desconhecidas. A gripe, doença de branco, sempre foi um desastre por ali.
O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões
Sem mártires
Folha de S. Paulo
Abuso de prisão preventiva não é o melhor
caminho para punir os golpistas de 8/1
As distorções do sistema de Justiça
brasileiro, que acabam por confundir os cidadãos acerca do papel das penas e de
outros recursos da persecução penal, não poderiam deixar de aflorar no caso dos
ataques às sedes dos Três Poderes.
As centenas de prisões em flagrante de
investigados por tentar subverter a democracia e depredar patrimônio público
foram importantes para estancar a baderna, desestimular a sua propagação e
assegurar os primeiros passos de apurações e processos criminais.
A reação inicial enérgica embasou
iniciativas como as da Advocacia-Geral da União, de requerer o bloqueio
judicial do patrimônio de pessoas e empresas suspeitas de participarem da
destruição. O objetivo, afinal, é que os culpados, ao fim do devido
processo legal, cumpram suas sentenças e paguem do bolso pela agressão selvagem
ao bem comum dos brasileiros.
Não se pode confundir, entretanto, esse
nobre desiderato com a manutenção de quase um milhar de pessoas detidas —agora
em regime preventivo, sem prazo para terminar. Esse tipo de prisão não tem a
função de punir ninguém.
Trata-se de recurso extremo e excepcional, previsto no Código de Processo Penal para impedir que um indivíduo ainda não julgado cometa atos como atrapalhar investigações, fugir ou voltar a delinquir. A regra é responder em liberdade.