domingo, 19 de fevereiro de 2023

Luiz Sérgio Henriques* - Notícias do Ocidente e do Extremo Ocidente

O Estado de S. Paulo.

Brasil terá cada vez mais a possibilidade de sugerir ao ‘hegemon’ a inevitável abertura para um mundo complexo e ‘policêntrico’, refratário à unipolaridade

Seremos Ocidente Extremo, na observação de Alain Rouquié, mas o fato é que nos momentos críticos os laços fundamentais se afirmam à vista de todos e nos reasseguram sobre este traço ineliminável. Na saída da ditadura, para voltar à crônica inicial da Nova República, quando eram imprevisíveis os movimentos da direita militar, o presidente Tancredo Neves pôs à prova a saúde frágil, como vinha fazendo havia tempo, numa viagem que reatava parcerias e diálogos, além de reinserir simbolicamente o País entre as grandes democracias. Tancredo, então, ombreou com gente da estatura de Felipe González, Mário Soares, François Mitterrand e Sandro Pertini, este último ex-prisioneiro de Mussolini e antifascista no sentido mais estrito. E assim, 20 anos depois de um golpe de Estado, por intermédio de Tancredo revimos amigos e nos reencontramos com nós mesmos.

Merval Pereira - O Nobel possível

O Globo

Lula repete erros na parte econômica e na política externa, com afago de ditaduras latino-americanas como da Venezuela, Nicarágua e Cuba.

Lula nunca foi mais petista do que está sendo nesse seu terceiro mandato presidencial. Eleito em 2002, permaneceu durante meses, já presidente, com um broche com a estrela do PT no peito. Alertado de que não era mais apenas o líder petista, mas o presidente de todos os brasileiros, colocou no peito um broche com o brasão da República. Será que a estrela do PT voltará agora, no peito de um Lula vingativo e raivoso?

Quem esperava que Lula fizesse de seu provável último mandato presidencial um instrumento de união do país está se deparando com um presidente mais preocupado em ressignificar a história do partido, e a sua própria, do que em governar com os que o levaram ao poder novamente. Não foram os petistas, muito menos os esquerdistas, mas os eleitores não petistas que preferiram votar nele, muitos pela primeira vez na vida, para evitar a sequência de Bolsonaro, um governante desastroso e perigoso para a democracia.

Bernardo Mello Franco – É dando que se recebe

O Globo

Ao barganhar com Centrão, Lula arrisca virar sócio de novos escândalos

A frase ganhou as manchetes e causou revolta entre padres e bispos. Líder do Centrão na Constituinte, o deputado Roberto Cardoso Alves exigia mais cargos no governo para aprovar a extensão do mandato de José Sarney. Ao defender a barganha, citou um trecho da Oração de São Francisco de Assis. “É dando que se recebe”, disse, em janeiro de 1988.

Trinta e cinco anos depois, o deputado Luciano Bivar reciclou a máxima de Robertão. Na terça-feira, o presidente do União Brasil fez uma série de cobranças para apoiar projetos enviados pelo Planalto. Sem corar, subordinou os votos na Câmara à entrega de cargos na máquina federal. “Quanto mais espaços tivermos no governo, mais apoios poderemos garantir”, declarou.

Eliane Cantanhêde - Ordem, disciplina e hierarquia

O Estado de S. Paulo.

Forças Armadas estão voltando à normalidade, assim como o próprio Brasil

Os militares saíram dos holofotes, mas as discussões sobre o papel das Forças Armadas, a Garantia da Lei e da Ordem (GLO), o sigilo de cem anos do caso Pazuello e os limites e a própria existência da Justiça Militar continuam borbulhando, após a identificação de militares e a suspeita de omissão no atentado de 8 de janeiro e a troca do comandante do Exército.

Dentro do cronograma, mas num ambiente de despolitização do Exército, estão mudando também sete dos oito Comandos de área, como o Comando Militar do Planalto (CMP), da capital da República. O general Gustavo Henrique Dutra, que sai, se opôs à prisão de golpistas em torno do QG do Exército na noite do dia 8. E o Batalhão da Guarda Presidencial (BGP), que não se preparou nem impediu a invasão do Planalto, é vinculado ao CMP.

Dorrit Harazim – Revezamentos

O Globo

Não é de todo errado olhar para o desfile das escolas de samba como um passar de bastão de uma geração a outra para a melhor compreensão da História nacional nunca contada por inteiro

O que podem ter em comum uma Olimpíada, o jornalismo colaborativo transnacional e o carnaval? Veremos.

Em Olimpíadas modernas, o número de esportes que compõem a espinha dorsal do megaevento tende a ser fixo — não mais de 28. Já é tentacular o bastante, considerando que muitos esportes olímpicos se desdobram em várias “disciplinas” . O atletismo traz embutido um leque de extensões — as “disciplinas” —, designação dada às competições de arremesso, corridas na pista, provas de salto. Os XXXIII Jogos Olímpicos de Paris, marcados para o próximo ano, serão exceção, com direito a um festão de 32 esportes (48 disciplinas) divididos em 329 provas. Uma coisa, porém, não muda: toda Olimpíada é construída em torno dos dois esportes-âncoras de maior audiência e lucro: natação e atletismo. Transcorrem em semanas separadas. As provas de um só começam quando o outro terminou de entregar a última medalha.

Juro alto agrava erros de gestão e leva empresas a crise em série

Por Glauce Cavalcanti / O Globo

Para economistas, país vive 'tempestade perfeita', com juro alto e consumo fraco, que agravam problemas de gestão e ampliam dificuldades nas companhias

Primeiro foi a Americanas. Depois, Oi, Marisa, Nexpe (antiga Brasil Brokers), Tok&Stok. A lista de empresas com dificuldades para pagar dívidas, buscando reestruturação financeira ou até proteção da Justiça, não para de crescer neste ano. Por trás da série de crises, uma conjunção de fatores agrava problemas operacionais e de gestão.

O principal elemento é a alta dos juros, que encarece o crédito. A Selic, taxa básica definida pelo Banco Central (BC), disparou de 2% no início de 2021 para 13,75% em agosto de 2022 e se mantém neste patamar. Soma-se a isso a lenta retomada do consumo, afetado pela inflação e pela perda de renda da população, já muito endividada, derrubando os ganhos das corporações. Por fim, a incerteza sobre a política fiscal do novo governo compromete a confiança dos investidores, apontam especialistas.

Elio Gaspari - A rede Americanas quer sobreviver

O Globo

Depois de examinar as contas da rede varejista Americanas, os três grandes acionistas da empresa dispuseram-se a colocar R$ 7 bilhões no negócio. Os credores acharam pouco.

(Dias antes a oferta estava em R$ 6 bilhões.)

Bilhão para cá, bilhão para lá, é provável que a Americanas sobreviva, encolhendo. Ela sairia do mercado de vendas eletrônicas e voltaria a ser uma simples rede de lojas, onde o freguês entra, pega a mercadoria, paga e vai embora.

A Americanas foi depenada numa fraude duradoura. As investigações dirão quem sabia o quê e quem levou quanto. O mercado sempre soube que a Americanas espremia os fornecedores espichando por meses os pagamentos.

Até agora, os números mostram o seguinte:

Míriam Leitão - Preço impagável do erro econômico

O Globo

A dinâmica criada pelas falas de Lula na economia ameaça seu próprio projeto, foi o que ouvi de pessoas de fora do Executivo

A relação de ministros e funcionários graduados da área econômica, e até de outras áreas, com o Banco Central não é problemática. É cooperativa e franca. Circulei na semana que passou em Brasília e constatei isso na prática. Mesmo assim, o país parece estar vivendo um conflito na economia pela maneira como o presidente da República fala do Banco Central ou sobre temas econômicos. Lula tem se comunicado de forma errática e sem estratégia e provocado muitos ruídos. Como a palavra de um presidente é sempre muito forte, quando ele fala, autoriza outras pessoas do governo, ou do seu partido, a dispararem suas opiniões sobre economia. Nessa torre de babel quem se enfraquece é o ministro da Fazenda.

Celso Ming - Lula e o banho de realidade

O Estado de S. Paulo

Até agora, boa parte do governo Lula foi tomada por uma temporada de descarrego revanchista contra a herança maldita do governo anterior, contra as forças que o mantiveram preso por 580 dias em Curitiba e contra a tentativa golpista da qual se saiu amplamente vencedor.

É o que ajuda a explicar o tiroteio verbal e a escolha de bodes expiatórios, cujo principal alvo até agora foi o presidente do Banco Central e a política monetária por ele colocada em prática.

Mas essa etapa agora tende a ficar para trás. Na falta de uma estratégia de política econômica, que se negou a formular na campanha eleitoral e até agora sobre ela não apresentou nada efetivo, o presidente Lula começou a governar quase por reflexo condicionado, a partir do velho DNA desenvolvimentista e estatizante do Partido dos Trabalhadores (PT) e da necessidade de obter certa unidade entre os partidos que constituem sua base política.

Celso Rocha de Barros - Quaquaísmo

Folha de S. Paulo

Foto de deputado mostra risco de dissolução ideológica no partido

Na semana passada, o deputado Washington Quaquá (PT-RJ) se deixou fotografar ao lado de Eduardo Pazuello (PL-RJ), um dos principais cúmplices de Jair Bolsonaro no assassinato de, no mínimo, 100 mil brasileiros durante a pandemia de Covid-19.

Após a repercussão negativa, a presidente do PT, deputada Gleisi Hoffmann, foi às redes sociais condenar a atitude. "Na vida, como na política, há limites para tudo", disse Hoffmann.

Quaquá tem um nome engraçado, mas não deve ser subestimado enquanto liderança. Ao que tudo indica, foi um bom prefeito em Maricá, no Rio de Janeiro, onde há um programa de renda básica de repercussão internacional.

Entretanto Quaquá também é famoso por uma disposição para fazer alianças que excedem em muito a do petista médio e mesmo a do petista moderado.

Em 2020, Quaquá articulou o apoio do PT a Waguinho, candidato a prefeito de Belford Roxo, no estado do Rio, que apoiava Bolsonaro. Dois anos depois, Waguinho foi o único prefeito da Baixada Fluminense a apoiar Lula no segundo turno.

Bruno Boghossian - O plano de Bolsonaro na direita

Folha de S. Paulo

Ex-presidente reivindica pauta e tenta manter bolsonarismo como corrente principal mesmo inelegível

Em menos de uma década, um deputado inexpressivo com uma plataforma corporativista estabeleceu domínio sobre a direita brasileira. Jair Bolsonaro expandiu sua defesa de militares e policiais, explorou uma agenda religiosa ultraconservadora e encenou uma conversão ao liberalismo para aproveitar a boa vontade de agentes econômicos.

Com sua passagem pelo poder interrompida, o ex-presidente tem o plano de renovar esses instrumentos para exercer influência como oposicionista e isolar potenciais adversários dentro de seu campo político.

Vinicius Torres Freire – Rússia aguentou tranco da guerra

Folha de S. Paulo

Economia vai sofrer menos do que Brasil da Grande Recessão, mas tem futuro sombrio

Faz quase um ano, a Rússia invadiu a Ucrânia. Em abril do ano passado, bancões, FMI e economistas ouvidos pelo Banco da Rússia (o banco central deles) estimavam que a economia encolheria uns 9% em 2022 por causa da guerra. Não foi assim.

O PIB de 2022 deve ter diminuído 2,1%, estimativa de fevereiro da Economic Expert Group, consultoria que presta serviços ao Ministério das Finanças. Na previsão compilada pelo banco central russo, o PIB cairia 1,5% neste 2023. Seria um biênio de tombo feio: 3,6%. Na Grande Recessão do Brasil (2015-2016), a baixa foi de 6,7%.

Pânico, incerteza, sanções comerciais e o isolamento financeiro imposto pelo "Ocidente" não bastaram para produzir desastre no tamanho previsto. As exportações de petróleo e gás explicam o grosso da resistência econômica russa, mas não tudo.

Ruy Castro - Quero morrer no Carnaval

Folha de S. Paulo

Se os blocos voltaram às ruas, por que isso não poderá acontecer com os sambas?

Há 30 anos, se alguém lamentasse o fim dos blocos de Carnaval, seria tachado de saudosista. As escolas de samba tinham vindo para ficar, e o Carnaval se reduzira a um lugar na arquibancada para vê-las passar. Era o Carnaval sentado. É verdade que, no Rio, os blocos nunca tinham sumido de todo. Havia o Bola Preta, nas ruas desde 1919, o Cacique de Ramos, desde 1961, e alguns novos, como o Simpatia É Quase Amor, em 1985. Mas, a partir de 2000, a coisa estourou até chegarmos às atuais centenas de blocos, alguns mega.

Hoje, será um saudosista quem se perguntar sobre os sambas de Carnaval. Não os das escolas, chatos e repetitivos, mas os feitos para serem cantados pelo povo no asfalto. Sambas mesmo, não marchinhas —lindos, melódicos, de frases longas, críticos ou românticos. Acredite ou não, eles já foram a grande força do Carnaval. Eis alguns.

Muniz Sodré* - Outro lado do desespero

Folha de S. Paulo

O cercadinho do Alvorada foi laboratório dessa autoimunidade ao verossímil, irradiadora da indistinção entre o rico, o pobre, o troglodita, o civilizado e o mané

A palavra "cercadinho" evoca tanto o chiqueiro dos quintais interioranos quanto o pequeno biombo que protege crianças enquanto as mães cumprem tarefas domésticas. Já o espaço onde o ex-presidente interagia com apoiadores popularizou-se como "cercadinho do Alvorada". Reedita-se agora em Orlando como show, estilo beija-mão populista, a preços vips e populares. Na estreia o ex-mandatário do "Brasil acima de tudo" causou: "Pela lei, sou italiano".

Cristovam Buarque* - Foice, martelo, suástica e chips

Blog do Noblat / Metrópoles

Bolsonaro fomentou o nazismo, mas o ressurgimento da suástica nas escolas tem mais a ver com o fracasso de utopias e sonhos da esquerda

Os discursos de ódio do ex-presidente ajudaram a fomentar o nazismo, mas o ressurgimento da suástica nas escolas tem mais a ver com o fracasso de utopias e sonhos da esquerda, do que com a força e inspiração da direita. A suástica ressurge nas escolas, por falta de bandeiras que atendam as aspirações dos jovens, de maneira compatível com a realidade onde vivem e o futuro em que viverão.

A nostalgia serve à direita, não à esquerda. A direita pode defender até mesmo o retorno da escravidão, à esquerda não basta defender a Abolição, tem de propor o fim de toda escravidão a que ainda resta: pobreza, preconceitos, desastre ecológico, desigualdade escolar. A direita pode voltar ao nacionalismo nazista, a esquerda se desfaz quando não oferece sonhos futuristas para a sociedade, capazes de usar plenamente as invenções tecnológicas para construir um mundo melhor e mais belo. 

Murillo de Aragão - Crise, ideologia e pragmatismo

Revista Veja

Boas soluções devem ser implementadas sem preconceitos

Pergunta-se, com frequência, se Joe Biden é de direita ou de esquerda. A indagação está contida em uma matéria publicada pelo UOL na semana passada. A resposta, como esperado, é a de que o presidente dos Estados Unidos é centrista, o que, de forma imprecisa, significa que ele pode adotar no país soluções propostas por ambos os polos ideológicos.

Aliás, as maiores potências adotam uma mescla de atitudes baseadas em seus interesses estratégicos. Por exemplo, a China financia pesadamente a expansão de suas indústrias e pratica uma espécie de capitalismo de Estado. Os Estados Unidos distribuíram dinheiro e estímulos em todas as graves crises deste século.

As melhores soluções para a economia e para o governo não devem ser discutidas ideologicamente, o que, considerando as circunstâncias do mundo, trata-se de um retrocesso. O dogma ideológico é uma forma arcaica de medir a efetividade de políticas públicas. É como querer usar bússola magnética navegando no espaço.

Entrevista | Luiz Gonzaga Belluzzo*: Problema do Banco Central é mais complexo do que torcida de futebol

Para economista, debate sobre juros e inflação precisa ser aprofundado

Joana Cunha / Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - O economista Luiz Gonzaga Belluzzo, que tem defendido a queda dos juros, inclusive em abaixo-assinado, ecoando as falas de Lula nas últimas semanas, afirma que o debate precisa ser aprofundado para não se restringir ao clima de torcida pró ou contra o Banco Central. "Isso só é verdadeiro na arquibancada de futebol", diz.

Ele vê insumos para o debate na história dos banco centrais e analogias globais.

Amigo de Lula desde os anos 1970, Belluzo não comenta se tem conversado com o presidente sobre o tema.

O sr. tem apoiado a defesa da queda na taxa de juros, inclusive em abaixo-assinado. Como avalia o debate hoje?

Vamos aprofundar as discussões para que o debate não fique restrito ao nós contra eles ou ao Banco Central contra Lula. A Austrália está submetendo a questão da independência do BC a um debate mais profundo. Há um questionamento global em relação à política de metas de inflação.

Desde o surgimento do [BoE] Banco da Inglaterra, em 1694, foram várias formas de atuação dos bancos centrais. Estou falando em uma economia monetária financeira capitalista. Ao longo da história, ela assumiu várias formas de coordenação, mas algumas são bem consolidadas.

Temos o aparecimento da dívida pública como instrumento de riqueza privada, que propagou as relações monetárias, quando a Inglaterra transitava do feudalismo para o capitalismo, transformou as relações econômicas, de relações do domínio da riqueza fundiária para a monetária. Essa gestão assumiu várias formas.

O exemplo clássico é o funcionamento dos bancos centrais e dos sistemas bancários no pós-Segunda Guerra, em que a França e a Itália adotaram sistemas de coordenação e de regulação muito diferentes do que observamos agora. Eles usavam o controle de crédito e muito menos a taxa de juros para não causar dano aos tomadores de crédito, por exemplo, ao mesmo tempo em que regulavam para não haver exagero.

Funcionou bem, depois saiu da moda no choque do petróleo e do choque de juros de 1979. Agora, está havendo uma espécie de inconformidade com a política de metas. Não é só no Brasil.

Entrevista | Paulo Pimenta: “É preciso punir”

Por Daniel Pereira / Revista Veja

Ministro diz que as plataformas digitais devem ser responsabilizadas pela difusão de conteúdos criminosos

O petista Paulo Pimenta costuma participar da primeira audiência diária do presidente Lula, quando analisam o noticiário, mapeiam os assuntos que dominam as redes sociais e traçam estratégias para a disputa política. Até agora, de acordo com ele, o governo tem sido bem-sucedido e só teve ganho de imagem, dentro e fora do Brasil, em cada um dos 45 dias iniciais de trabalho. Licenciado do mandato de deputado federal, o ministro tem formação em jornalismo, mas foi escolhido para o cargo em razão de outras credenciais. Filiado ao PT desde meados da década de 80, ele é reconhecidamente combativo e leal ao presidente. No auge da Lava-Jato, por exemplo, tomou a dianteira da pressão feita por parlamentares sobre o Supremo Tribunal Federal a fim de impedir que Lula, na época preso na carceragem da Polícia Federal em Curitiba, fosse transferido para o presídio de Tremembé (SP). A seguir, os principais trechos da entrevista, em que o chefe da Secretaria de Comunicação do governo defende regulamentação para as plataformas digitais, diz que o Estado não deve se intrometer em questões que envolvam conteúdo e acusa Bolsonaro de estar envolvido até o pescoço com a tentativa de golpe em 8 de janeiro.

Entrevista | Wellington Dias: “Vamos tirar o Brasil do mapa da fome até 2026”

Dyepeson Martins / Revista ISTOÉ

17/02/2023

Escolhido por Lula para chefiar o órgão mais estratégico no enfrentamento da fome no Brasil, Wellington Dias é enfático ao abordar o cenário de descaso e corrupção encontrado no Ministério de Desenvolvimento Social. Segundo ele, há indícios de participação da última gestão na desconstrução de uma rede integrada de assistência às famílias brasileiras, o que levou a crises humanitárias como a vivenciada nas terras Yanomami. “A missão de Bolsonaro era destruir tudo: a democracia, a rede de proteção social, a política ambiental e as relações internacionais”, frisou. Para o ministro, o maior desafio agora é a reconstrução de políticas sociais que garantam qualidade de vida às mais de 60 milhões de pessoas que convivem com a insegurança alimentar – 33 milhões em situação de fome. Entre as medidas, Dias reforçou a importância de investir na agricultura familiar num contexto de repactuação do Governo Federal com estados, municípios, setor privado e organismos internacionais. Em entrevista à ISTOÉ, o ministro ressaltou que 2026 é a meta para retirar o país do mapa da fome. A maior preocupação atualmente é a reestruturação do Cadastro Único para Programas Sociais, que tem mais de 2,5 milhões de beneficiários irregulares, conforme levantamento realizado pelo ministério. Os dados foram repassados a órgãos de fiscalização e serão investigados.

O que a mídia pensa - Editoriais / Opiniões

O Brasil é mais conservador do que muitos gostariam

O Globo

Tentar ‘consertar’ a sociedade sem levar em conta seus sentimentos pode ter consequências dramáticas

Que o Brasil é plural se tornou consenso. Poucos parecem, porém, atentar para as consequências práticas — e políticas — dele. Uma pesquisa da Quaest, que ouviu 2.016 brasileiros e cujos resultados foram antecipados pelo GLOBO, dá uma ideia do fosso que separa a população em temas que aqueles com maior renda ou melhor formação tendem a considerar “resolvidos” ou “pontos pacíficos numa democracia moderna”.

Para espanto deles, nada menos que 56% dos pais brasileiros consideram normal que crianças que passam dos limites apanhem (42% discordam). Na opinião de 41%, a escola não é local apropriado para debater sexualidade com adolescentes (56% acham que é). Gays e lésbicas se beijando em público incomodam 46% (48% não veem problema). Para 73%, o aborto não deveria ser legal. E 67% são contra a legalização de cassinos e jogos de apostas.

Música | BEIJA FLOR Carnaval 2023 - Samba Enredo