sábado, 9 de agosto de 2014

Opinião do dia: Karl Marx

Hegel parte do Estado e faz do homem o Estado subjetivado; a democracia parte do homem e faz do Estado o homem subjetivado. Do mesmo modo que a religião não cria o homem, mas o homem cria a religião, assim também não é a constituição que cria o povo, mas o povo a constituição. A democracia, em um certo sentido, está para as outras formas de Estado como o cristianismo para outra religiões. O cristianismo é a religião ’preferencialmente’, a essência da religião, o homem deificado como uma religião particular. A democracia é, assim, a essência de toda constituição política, o socializado como uma constituição particular; ela se relaciona com as demais constituições como gênero como suas espécies, mas o próprio gênero aparece, aqui, como existência e, com isso, como uma espécie particular em face das existências que não contradizem a essência. A democracia relaciona-se com todas as outras formas de Estado como com seu velho testamento. O homem não existe em razão da lei, mas a lei existe em razão do homem, é a essência humana, enquanto nas outra formas de Estado o homem é a existência legal. Tal a é a diferença fundamental da democracia. "

Karl Marx (1818-1883), Critica da filosofia do direito de Hegel, p. 50. Boitempo Editorial, 2005

Lucro da Petrobrás cai 20% no 2º tri e fica abaixo das expectativas

• Estatal registrou um lucro líquido de R$ 4,959 bilhões no período e contrariou a projeção dos analistas, que esperavam alta nos ganhos; no semestre, lucro foi de R$ 10,3 bilhões, uma retração de 25%

André Magnabosco - Agência Estado

O maior volume produzido de petróleo e gás no território nacional contribuiu para que a Petrobrás registrasse lucro líquido de R$ 4,959 bilhões no segundo trimestre deste ano, mas não foi suficiente para que o resultado trimestral apresentasse elevação quando comparado ao segundo trimestre do ano passado. Nessa base comparativa, o lucro teve retração de 20%. O resultado veio bem abaixo das estimativas dos analistas ouvidos pelo Broadcast, serviço de notícias em tempo real da Agência Estado, que projetavam uma alta média de 11% nos ganhos da estatal.

O Ebitda (lucro antes de juros, impostos, depreciação e amortizações) ajustado da Petrobrás, indicador que melhor dimensiona a capacidade de geração de caixa de uma empresa, totalizou R$ 16,246 bilhões no trimestre, queda de 10,2% sobre o mesmo período do ano passado (R$ 18,09 bilhões).

Já a receita líquida trimestral atingiu R$ 82,298 bilhões, marca inédita para a companhia. O resultado superou o antigo recorde, de R$ 81,545 bilhões no primeiro trimestre deste ano, e a marca de R$ 73,62 bilhões do segundo trimestre do ano passado.

No acumulado do primeiro semestre, o lucro da estatal somou R$ 10,352 bilhões, retração de 25% em relação ao mesmo período do ano passado (R$ 13,894 bilhões). O balanço foi afetado negativamente pela diferença de preços entre os combustíveis vendidos no Brasil e o valor pago pela Petrobrás no exterior e pela contabilização do Plano de Incentivo ao Desligamento Voluntário (PIDV) anunciado no início deste ano. Pesou a favor da estatal, por outro lado, o efeito positivo do dólar mais alto nas receitas, o maior volume de produção e o reajuste de combustíveis aplicado em novembro passado.

Investimento. Os investimentos da Petrobrás somaram R$ 41,499 bilhões no primeiro semestre, montante 6% inferior ao registrado no mesmo período de 2013. A maior parte dos investimentos foi direcionada à área de Exploração e Produção (E&P), com o equivalente a R$ 26,926 bilhões (65% do total). Na sequência aparecem as áreas de Abastecimento, com aporte de R$ 9,486 bilhões (23% do total) no período, e de Gás e Energia, com R$ 2,590 bilhões (6% do total).

Quando considerado apenas o segundo trimestre, os investimentos somaram R$ 20,915 bilhões, retração de 14,1% em relação ao mesmo intervalo do ano passado.

A Petrobrás planeja investir R$ 94,6 bilhões em 2014, montante 9% inferior ao desembolsado no ano passado (R$ 104,4 bilhões). Em 2013, contudo, a Petrobras investiu R$ 6 bilhões apenas no pagamento em bônus de assinatura referente à participação da estatal no consórcio que venceu o leilão do campo de Libra. A Petrobras assumiu 40% do bônus total pago pelo consórcio, no valor de 15 bilhões.

Produção. A produção de petróleo e gás natural da Petrobrás subiu 2,7% no segundo trimestre deste ano, comparado ao igual período do ano passado, alcançando 2,38 milhões de barris por dia. Frente ao trimestre anterior, a alta foi de 3%.

A produção de petróleo estatal vem crescendo de forma sustentada, saindo de 1,926 milhão de barris por dia (bpd) em março para 2,008 milhões de bpd em junho, ou seja, acréscimo de 82 mil bpd de produção ao longo do segundo trimestre do ano, conforme ressaltou a presidente da empresa Maria das Graças Foster, em carta que acompanha o balanço do segundo trimestre da empresa.

No trimestre terminado em junho foram conectados 17 poços marítimos, número 31% superior ao do primeiro trimestre do ano, quando foram conectados 13 poços. Ao longo do segundo semestre deverão ser conectados mais 33 poços. "Meta plenamente factível uma vez que estes poços, em sua maioria, já se encontram perfurados e completados. Além do que, nossa frota de PLSVs (Pipe-laying Support Vessels), embarcações necessárias para realizar estas conexões, era de 11 unidades em 2013, atualmente já são 14. Serão 19 unidades até dezembro", diz a presidente da empresa na carta.

Segundo a presidente, estes avanços que farão com que a empresa entregue neste ano de 2014 uma produção de petróleo de 7,5% superior ao realizado no ano de 2013.

Após declaração de Adams, Dilma sai em defesa de Graça Foster

• Para a presidente, diretora da Petrobras não cometeu irregularidades

Germano Oliveira e Geralda Doca – O Globo

ITURAMA (MG) e BRASÍLIA - Um dia depois de o advogado-geral da União, Luis Inácio Adams, declarar ao GLOBO que a presidente da Petrobras, Graça Foster, não terá condições de permanecer no cargo se tiver os bens bloqueados pelo Tribunal de Contas da União (TCU), a presidente Dilma Rousseff voltou a defender a dirigente da estatal ontem. Dilma afirmou que, para o governo, Graça Foster não cometeu nenhuma irregularidade, e que não há contra ela qualquer processo.

O ministro José Jorge, do TCU, apresentou esta semana voto defendendo o bloqueio dos bens de Graça Foster no processo que investiga prejuízos causados à estatal na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. O TCU acabou adiando a votação do bloqueio depois da sustentação oral feita por Adams na sessão da última quarta-feira.

— Eu acho que, nesse momento, o Adams estava defendendo Graça Foster e provando o absurdo que é. Uma pessoa íntegra, correta, competente e capaz, reconhecida não só pelo governo, mas por todo o mercado, não pode ser submetida a esse tipo de julgamento. Eu acredito que tem, por trás, outros interesses — disse Dilma, em Iturama, Minas. — Acho que é absurdo colocar as diretorias da Petrobras submetidas a esse tipo de procedimento. Só 0,05% de todos os projetos que transitaram na CGU pediram a indisponibilidade de bens. A posição do governo é clara. Nós não achamos que pese contra Graça Foster qualquer processo de irregularidade, sequer um processo de irregularidade.

A presidente se irritou com a pergunta e encerrou a entrevista coletiva que concedia perto do canteiro de obras da Ferrovia Norte-Sul, em Iturama.

Outros setores do governo também criticaram a declaração de Adams de que o possível bloqueio dos bens de Graça Foster inviabilizaria a permanência dela no comando da empresa. De forma reservada, assessores do Planalto disseram que Dilma ficou irritada com o tom da entrevista do ministro. Ao GLOBO, Adams defendeu o trabalho e a conduta da presidente da estatal, mas afirmou que um eventual bloqueio dos seus bens por parte do TCU afetaria a legitimidade dela para se manter à frente da Petrobras.

Conselho faz defesa pública
Nas condições atuais, Adams disse não ver motivos para o afastamento de Graça. Para auxiliares do Planalto, no entanto, a declaração do chefe da AGU pôs o governo em situação desconfortável caso o TCU decida pelo bloqueio de bens. Auxiliares da presidente consideraram ainda que Adams acabou abrindo uma brecha para a oposição reforçar seu discurso contra a dirigente.

Em nota, a Petrobras informou no site oficial que o conselho de administração da empresa, reunido ontem, refutou especulações sobre o afastamento de Graça do cargo: “A Petrobras comunica que seu conselho de administração, reunido nesta data (8/8), refuta quaisquer especulações sobre a saída da presidente Maria das Graças Silva Foster”.

A inclusão de Graça na lista dos dirigentes da Petrobras que estão com bens bloqueados seria votada porque o TCU admitiu que houve um erro na sessão anterior em que a corte aprovou a indisponibilidade do patrimônio de ex-dirigentes da estatal. Conforme revelou O GLOBO, na primeira votação, o TCU deixou de incluir Graça por uma falha da relação dos diretores da Petrobras em 2008, quando parte da transação de compra de Pasadena foi aprovada.

No texto do TCU, o ex-diretor Ildo Sauer foi considerado responsável por uma transação sob investigação e, por isso, teve seu patrimônio bloqueado. Mas, na época, Sauer não estava mais na direção da estatal. O cargo dele era ocupado justamente Graça Foster.

Para Dilma, punição do TCU a Graça Foster seria 'absurda'

• Petista sugere que há 'outros interesses' por trás de pressões contra a estatal

• TCU deverá decidir se inclui presidente da estatal na lista de diretores com bens bloqueados

João Alberto Pedrini, Valdo Cruz, Natuza nery e Samantha Lima – Folha de S. Paulo

ITURAMA (MG), BRASÍLIA e RIO - A presidente Dilma Rousseff disse nesta sexta (8) que a possibilidade de o TCU (Tribunal de Contas da União) decretar o bloqueio de bens da presidente da Petrobras, Graça Foster, é um "absurdo" e sugeriu que há "outros interesses" por trás das pressões contra a cúpula da estatal.

"Ela não pode ser submetida a esse tipo de julgamento, que eu acredito que tenha por trás outros interesses. Eu acho um absurdo colocar a diretoria da Petrobras submetida a esse tipo de procedimento", afirmou, durante ato de campanha em Iturama (MG).

A presidente não disse a que "outros interesses" se referia. "A posição do governo é clara. Nós não achamos que a Graça tenha cometido qualquer irregularidade", afirmou.

No final de julho, depois de meses de investigação sobre o caso, o TCU condenou 11 diretores e ex-diretores da Petrobras a devolver US$ 792 milhões (R$ 1,6 bilhão) por prejuízos na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA. Eles tiveram seus bens bloqueados.

Graça Foster não estava nesta lista, mas, logo depois, o relator do caso no TCU, José Jorge, disse que foi um erro excluí-la. O tribunal voltou a analisar a questão na quarta (6), mas o relator adiou a tomada de uma decisão.

Graça é amiga da presidente e uma das poucas pessoas que costuma se hospedar no Palácio da Alvorada, residência oficial, quando pernoita em Brasília. Para o Planalto, o episódio é uma tentativa de desgastar Dilma por meio da presidente da estatal.

Por isso, nos últimos dias, a pedido de Dilma, segundo interlocutores, o advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, foi ao TCU defender, durante reunião do tribunal, que os bens de Graça e de outros atuais diretores não deveriam ser bloqueados.

Na quinta (7), Adams chegou a dizer que o bloqueio tornaria "inviável" a permanência de Graça na presidência da estatal, alegando que a medida tiraria sua legitimidade para comandar uma empresa movimenta bilhões.

Na sexta (8), o ministro disse que foi mal-entendido. Sua intenção era, segundo ele, fazer uma advertência sobre os impactos negativos sobre a estatal caso essa decisão seja tomada. Segundo ele, não há nenhuma norma ou lei que determine a saída da presidente caso o bloqueio seja aprovado.

O TCU nega que esteja analisando a questão com objetivos políticos e que vai discutir se houve erro ao não incluir a presidente da estatal na lista dos dirigentes que ficaram com os bens indisponíveis.

Segundo a Folha apurou, uma ala do TCU concorda com os argumentos do Planalto e tende a votar contra o bloqueio dos bens. Mas, caso o TCU o decrete, o governo acredita que o Supremo Tribunal Federal deverá derrubar a decisão.

Segundo assessores, a presidente da estatal não teve participação direta na definição da operação, o que deve ser levado em conta caso o assunto chegue ao Supremo.

Nesta sexta, preocupado com os efeitos negativos da informação de que Graça poderia deixar a empresa, a estatal divulgou comunicado aos acionistas informando que o Conselho de Administração da empresa "refuta, por inverídicas, quaisquer especulações sobre a saída da presidente Maria das Graças Silva Foster".

Planalto agora admite que dois servidores atuaram na CPI

• Mas mantém versão de que eles não elaboraram perguntas aos depoentes

Carolina Brígido e Simone Iglesias – O Globo

BRASÍLIA O Palácio do Planalto admitiu ontem que escalou dois funcionários da Secretaria de Relações Institucionais para atuar na CPI da Petrobras, mas negou que eles tenham elaborado ou participado da elaboração de perguntas ou respostas usadas pelos senadores e deputados governistas e pelo depoentes na CPI.

Os dois servidores são o secretário-executivo da Secretaria, Luiz Azevedo, e o assessor Paulo Argenta. Ambos foram designados pelo governo para atuar diretamente no trabalho da comissão de inquérito, participando de reuniões no Senado. O governo diz considerar a participação dos servidores algo “absolutamente normal” e “dentro da legalidade”.

— Azevedo e Argenta tiveram total liberdade da Secretaria de Relações Institucionais para ir ao Senado falar com senadores e assessores. Tudo foi feito dentro da legalidade e faz parte do jogo político — disse ontem um auxiliar direto da presidente Dilma Rousseff. — Eles não fizeram as perguntas. Com relação às respostas, tem razão a presidente Dilma quando diz que ninguém no Planalto teria condições de fazê-las porque elas são muito técnicas.

Reuniões com Berzoini
No Palácio do Planalto, a avaliação é que faz parte das atribuições da Secretaria de Relações Institucionais defender o governo no Congresso Nacional e que esta postura tem que ser fortalecida em situações de embates, como as CPIs. Um integrante do governo lembra que, antes de a comissão de inquérito ser criada, em 28 de maio, várias reuniões ocorreram na Secretaria de Relações Institucionais, que fica no quarto andar do Palácio do Planalto, com o ministro Ricardo Berzoini, chefe da Secretaria de Relações Institucionais, Azevedo, deputados e senadores da base aliada, para tentar impedir que fosse instalada.

As funções de Azevedo e Argenta na CPI, segundo o Planalto, eram de ajudar na elaboração do cronograma de trabalho, tentar impedir ou retardar a votação de requerimentos que não interessassem ao governo, e assistir às reuniões (tarefa de Argenta), para levar informações ao governo sobre a desenvoltura dos depoentes e dos deputados e senadores aliados, e também sobre a atuação da oposição. Segundo o Planalto, a grande maioria dos depoimentos foi transmitida pela “TV Senado” e por sites de notícias, o que legitima a atuação dos funcionários.

Ex-diretor controlava 1.832 contas da Petrobras

• Segundo BC, Costa ainda é responsável por algumas delas

Eduardo Bresciani – O Globo

BRASÍLIA - O ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa — que foi preso na Operação Lava-Jato da Polícia Federal e é um dos principais alvos das CPIs da Petrobras — controlava nada menos que 1.832 contas bancárias da companhia, segundo documento do Banco Central obtido pelo GLOBO. O dado revela o poder de Costa, que ficou no cargo de maio de 2004 a abril de 2012.

De acordo com o documento, contas da companhia continuaram vinculadas a Costa mesmo após sua exoneração do cargo. Em algumas contas, ele aparece até hoje no BC como responsável. A Petrobras informou que o estatuto prevê a representação da empresa pelos diretores, e que os bancos informaram à estatal que Costa não constaria mais nos registros bancários.

Mais de 90% das contas correntes que eram geridas por Costa são do Banco do Brasil. São 1.726 registros no maior banco público do país. Centenas delas só tiveram o vínculo retirado no sistema do BC no dia da deflagração da Operação Lava-Jato da Polícia Federal, em 17 de março deste ano.

Costa foi preso três dias depois, pela suspeita de que tentava destruir provas. A PF identificou depósitos de empresas fornecedoras da Petrobras, principalmente com contratos para a construção da refinaria Abreu e Lima, em Pernambuco, para empresas controladas pelo ex-diretor ou pelo doleiro Alberto Yousseff. Costa foi também presidente do conselho de administração da refinaria.

As contas no Banco do Brasil que só deixaram de ser controladas por Costa no dia da operação da PF estão localizadas em dez agências diferentes nos seguintes estados: Rio de Janeiro, São Paulo, Espírito Santo, Sergipe, Bahia, Mato Grosso do Sul e Rio Grande do Norte, além do Distrito Federal. O mesmo ocorreu nos bancos BNP Paribas e Santander.

O levantamento indica que algumas contas da Petrobras continuam até hoje nos dados do Banco Central tendo Paulo Roberto como responsável, representante ou procurador. Isso ocorre nos bancos Bradesco, Itaú e Santander. Nos dois primeiros, os registros localizados são de agências do Rio, enquanto no terceiro a agência fica na capital paulista. Centenas de outras contas, a maioria do Banco do Brasil, só foram desvinculadas de Costa em 2013, mais de um ano depois da saída dele da Diretoria de Abastecimento. Além dos bancos citados, Costa aparece como administrador nos registros de Sudameris e Real, que foram incorporados posteriormente por Santander, BTG Pactual e Votorantim.

O documento do BC não informa o volume de recursos movimentado por Costa nem a data das movimentações. A listagem serviu como base para a quebra de sigilo bancário. No caso da CPI Mista da Petrobras, o pedido foi de quebra de sigilo de todas as contas operadas por ele desde 2005. Por isso, a comissão deve ter acesso à movimentação dessas contas.

A Petrobras afirmou, em nota, que o estatuto da empresa estabelece que dois diretores, em conjunto, têm poderes para representá-la. Disse ter recebido informações dos bancos mencionados de que Costa não figura mais como representante desde sua saída da empresa, em 2012. A estatal sustentou ainda não haver registro de movimentações feitas por ele.

“O estatuto da Petrobras estabelece que dois diretores em conjunto têm poderes para representar a empresa. Contudo, os bancos citados confirmaram que o ex-diretor Paulo Roberto Costa não consta como representante da Petrobras desde a sua saída da diretoria da empresa. As contas relacionadas pertencem à Petrobras. Entretanto, nos nossos controles e nos dos referidos bancos não há registro de qualquer movimentação realizada pelo ex-diretor Paulo Roberto Costa”, informou a companhia, por escrito.

Graça Foster é alvo de inquérito da PF

• Ministério Público e Polícia Federal apuram se presidente da Petrobrás cometeu crime de falso testemunho em depoimento no Senado

Andreza Matais, Fábio Fabrini - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - A Polícia Federal instaurou inquérito para investigar se a presidente da Petrobrás, Graça Foster, omitiu do Senado informações relacionadas à compra da refinaria de Pasadena (EUA) e sobre a existência de contratos celebrados pela empresa de seu marido, Colin Foster, com a estatal.

O inquérito foi aberto após pedido do Ministério Público Federal encaminhado em junho, conforme informou ao Estado a assessoria de imprensa dessa instituição. Antes disso, Graça Foster havia prestado depoimento à Comissão de Infraestrutura do Senado.

A presidente da Petrobrás ainda pode responder a outro inquérito, que deve ser aberto na próxima semana, para investigar a denúncia de que teria combinado com senadores da base aliada na CPI da Petrobrás as perguntas que lhe seriam feitas na comissão investigativa.

O MPF no Distrito Federal já abriu inquérito nas áreas cível e criminal para apurar essa suspeita - esse caso tem outros ex-diretores da estatal como alvo.

A assessoria da PF informou que este caso está em análise. A corporação não quis comentar o inquérito já aberto sobre o depoimento de Graça no Senado.

Ontem, ao defender a permanência de Graça Foster no comando da Petrobrás, a presidente Dilma Rousseff afirmou que "não há qualquer processo que pese contra" a presidente da estatal (mais informações abaixo).

Audiência. O Ministério Público e a Superintendência da PF no Distrito Federal vão investigar se Graça Foster prestou informações falsas aos senadores, o que poderia configurar crime de falso testemunho. O alvo dessa apuração é o depoimento dela prestado em maio à Comissão de Infraestrutura do Senado.

Na audiência, Graça afirmou que o Conselho de Administração da Petrobrás não teve responsabilidade na compra de Pasadena. Em 2006, o colegiado aprovou a compra de 50% da refinaria por US$ 360 milhões. Após litígio, a Petrobrás adquiriu a segunda metade por US$ 889 milhões. O custo total do negócio foi de US$ 1,2 bilhão.

No mesmo depoimento, os senadores questionaram a presidente da Petrobrás sobre contratos da estatal com a empresa C.Foster Serviços e Equipamentos, pertencente ao marido de Graça Foster. Ela afirmou que a C.Foster não celebrou contratos com a Petrobrás.

Segundo a denúncia que motivou a abertura de procedimento no MPF e depois a do inquérito policial, a Petrobrás tem negócios com a C. Foster Serviços e Equipamentos. "A senhora Graça Foster foi muito além dos atos de improbidade alhures elencados. Ela, nitidamente, operou tráfico de influência para favorecer a empresa de seu marido no firmamento de 43 contratos com a Petrobrás, sendo 20 deles sem licitação", escreveu o senador Mário Couto (PSDB-PA), autor de representação ao MPF que desencadeou a investigação oficial.

Ontem a estatal informou que, até o momento, "a presidente da Petrobrás não teve conhecimento da abertura do mencionado inquérito".

Petista diz que depende da 'graça de Deus' para governar

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em busca do voto evangélico para sua reeleição, a presidente Dilma Rousseff fez nesta sexta-feira (8) um aceno aos religiosos ao dizer que "todos os dirigentes desse país dependem do voto do povo e da graça de Deus".

A petista participou de congresso da Assembleia de Deus Ministério de Madureira, com mais de 5.000 pastoras e missionárias da ala comandada pelo bispo Manoel Ferreira, que apoia seu adversário Pastor Everaldo (PSC). Apesar de sustentar que o Estado brasileiro é laico, ela citou duas vezes um salmo que diz que "feliz é a Nação cujo Deus é o senhor".

Na campanha de 2010, a petista enfrentou resistência dos religiosos pela polêmica em relação ao aborto. No governo, chegou a travar embates com evangélicos no Congresso e acabou recuando, como na distribuição de material com conteúdo sobre orientação sexual em escolas, chamado de "kit-gay".

A petista diz que teve educação católica, não é praticante, mas no aperto "apela para Nossa Senhora".

No ato desta sexta, Dilma rezou o Pai Nosso, disse acreditar no poder da oração e contar com preces a seu favor. A petista elogiou o trabalho social da Assembleia de Deus e exaltou vários programas sociais do governo.

Dilma não tratou do aborto no evento. Líder do PMDB na Câmara, o deputado Eduardo Cunha (RJ), presente ao ato, agradeceu a derrubada de uma portaria do Ministério da Saúde que, na interpretação de religiosos, flexibilizava a interrupção da gravidez.

A presidente foi aplaudida por mais de dez vezes peloas presentes. "Saímos de alma lavada", disse o bispo Manoel Ferreira. Pastoras contaram à reportagem que receberam orientação da igreja para não se manifestar contra Dilma.

Paulo Skaf insiste que Dilma não terá palanque do PMDB em SP

• Candidato diz que aceitar presidente ao seu lado confundiria o eleitor

- O Globo

SÃO PAULO - O candidato do PMDB ao governo de São Paulo, Paulo Skaf, reiterou que não vai dar palanque à presidente Dilma Rousseff (PT). Em sabatina realizada pelo jornal "O Estado de São Paulo", Skaf voltou a afirmar que o PT é um adversário. Para ele, aceitar Dilma ao seu lado "confundiria o eleitor". Até os materiais de campanha do PMDB ao governo paulista não terão nenhuma referência à Dilma ou ao PT.

- Sempre reterei que PT e PSDB são meus adversários. Então, eles não estarão no meu palanque. Mas o meu voto é o voto do meu partido.

A crise entre o PMDB e o PT começou no final de julho, quando Skaf, em sua conta no Facebook, ironizou a possibilidade de apoiar a campanha de reeleição da presidente. A vinculação do material desagradou o vice-presidente da República, Michel Temer, e deflagrou uma crise no partido.

O material mostra o candidato dentro de um vagão do metrô quando é indagado: "Skaf, e esse papo de apoiar o PT?". Na sequência, ele sorri e responde com um bordão provocativo: "Sabe de nada, inocente!".

Ao GLOBO, na terça-feira, interlocutores do vice-presidente informaram que ele esperava um passo atrás de Skaf para tentar manter um canal de comunicação com o PT, visto por Temer fundamental em um eventual segundo turno. Incomodado, Skaf se limitou a dizer:

- Meu voto pessoal é com o presidente do Temer - disse, sem se referir ou citar Dilma.

Ele negou ter sido enquadrado pelo vice-presidente:

- Eu falo com ele diariamente. Eu o considero um amigo. Não é perfil do vice-presidente enquadrar pessoas. E também não meu perfil receber enquadramento de ninguém. Mas deixo claro que o PT e PSDB são meus adversários. Até porque confundiria o eleitor.

Eduardo Campos faz críticas à política econômica do governo

• Candidato diz que inflação está corroendo o salário do trabalhador

- O Globo

GARANHUNS (PE)- O candidato do PSB à presidência, Eduar do Campos, fez críticas on tem à política econômica e afirmou que a inflação regis trada no governo da presi dente Dilma Rousseff está corroendo o salário do tra balhador, que, segundo ele, "não dá mais para o mês to do", Campos fez o comentá rio no município de Gara nhuns, localizado a 230 qui lômetros da capital de Per nambuco, onde ele partici pou de carreata.

Inaugurada nova casa
Na cidade, ele inaugurou uma casa de Eduardo e Mari na e, antes de partir em car reata, conversou rapida mente com a imprensa, disse aos jornalistas que a peque na desaceleração da inflação no mês de junho não foi sufi ciente para reanimar a eco nomia.

— A inflação no teto, no momento em que o Brasil tem uma paralisia da econo mia, que começa a derreter empregos, e a gente sabendo que, no gabinete, na gaveta da presidente Dilma, estão retidos aumentos do com bustível e da energia. É claro que não tem o que comemo rar — disse o presidenciável, acrescentando que a reto mada do crescimento exige a combinação de inflação na meta e "câmbio ajudando o país a exportar mais".

Campos diz que segurança 'não é só na Copa'

• Em município com alto índice de violência, candidato critica política federal para o setor

Patrícia Bastos- O Estado de S. Paulo

ARAPIRACA (AL) - O candidato à Presidência pelo PSB, Eduardo Campos, criticou ontem a política de segurança do governo federal durante as atividades de campanha no município de Arapiraca, no interior de Alagoas, uma das cidades com maior índice de violência do País, segundo dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública.

Em encontro com jovens ontem de manhã, Campos disse que "tem que ter segurança pública todo dia, não só na Copa", e condenou a redução de policiais na região de fronteiras.

"No Brasil, existem hoje muitas Faixas de Gaza. Os jovens, os negros, os pobres estão morrendo, e o que já foi feito em relação a isso? A presidenta Dilma tirou três mil homens da Polícia Federal que vigiavam as fronteiras do País, impedindo a entrada de drogas e armas", afirmou, antes de anunciar que seu programa de governo prevê a criação de um Fundo Nacional de Segurança Pública, ao qual Estados poderão recorrer para reduzir os índices de violência.

"Não adianta mandar um avião com homens da Força Nacional que vão embora 60 dias depois. Isso não é fazer segurança pública", reforçou, dizendo ainda que, no período em que foi governador de Pernambuco, a capital Recife saiu de uma das cidades mais violentas do País para um dos municípios que tiveram a maior queda na quantidade de mortes violentas.

Acompanhado pelo candidato ao governo de Alagoas Benedito de Lira (PP), Campos ganhou bolo e uma camiseta da Agremiação Sportiva Arapiraquense (ASA) de presente - ele faz aniversário amanhã.

O candidato mais uma vez assegurou a continuidade do programa Bolsa Família, responsabilizando funcionários do governo petista por "disseminar" que o programa de transferência de renda seria extinto.

Nordeste. "Nossa intenção é ampliar o Bolsa Família e fazer pelo Nordeste o que a presidenta poderia ter feito nos últimos quatro anos e não fez, porque ela olha para o Nordeste como um curral eleitoral.

Mas somos gente e merecemos respeito. Queremos Bolsa Família, mas também queremos trabalho, indústria, segurança e acesso à água."

No encontro com trabalhadores rurais, as lideranças locais falaram das dificuldades enfrentadas por causa da seca nos últimos anos e pediram que Campos se comprometa com o perdão das dívidas dos agricultores familiares. "Fico assombrado com as cobranças sociais feitas aos trabalhadores do campo. O governo parece que não percebeu que passamos por três anos de seca em que o que foi investido se perdeu. É preciso reverter esse quadro para que o governo não viva apenas da propaganda do Bolsa Família, que, aliás, é a única proposta da presidenta Dilma."

Em seguida, reclamou da atual política econômica e disse que, depois de encerrado o governo de Luiz Inácio Lula da Silva, do qual Campos participou como ministro, o País retrocedeu. "O que a gente vê é que a inflação está de volta e, enquanto isso, a presidenta Dilma deu mais de R$ 6 bilhões para o setor elétrico, que tem um péssimo serviço prestado. E esse dinheiro vai sair do bolso da população.

Não podemos permitir que o Brasil perca as conquistas obtidas no passado. Já são 20 anos de governo do PT e PSDB, é preciso mudar. Precisamos ter um governo que olhe para os mais necessitados", ressaltou.

Após os dois encontros, o candidato à Presidência pelo PSB inaugurou um comitê de campanha na cidade.

Aécio critica Dilma e diz que maioria é pessimista

• Tucano visitou centro de dependentes químicos

Cristina Camargo – Folha de S. Paulo

BOTUCATU (SP) - Em resposta ao discurso da presidente Dilma Rousseff de que "a verdade vai vencer o pessimismo", o presidenciável Aécio Neves (PSDB) disse nesta sexta (8) que a maioria da população é pessimista.

"Assisti ontem a declarações da presidente que mais uma vez disse que a responsabilidade sobre o ambiente no Brasil é dos pessimistas. Então, somos mais de 75% de pessimistas", disse o tucano durante ato em Botucatu (SP).

"É bom que fique claro que o pessimismo não é em relação ao Brasil. O pessimismo é em relação ao governo. A este governo que fracassou."

Aécio fez campanha nesta sexta ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), candidato à reeleição, e do ex-governador José Serra (PSDB), que disputa vaga no Senado. Ele visitou uma clínica para dependentes químicos e protagonizou uma cena curiosa. Após dizer frases de apoio aos pacientes, Aécio desafiou um deles a jogar sinuca: "Se eu matar essa bola, você tem que prometer ficar firme no tratamento", propôs. Errou três vezes.

Um de seus assessores então ajeitou as bolas, e Aécio conseguiu "matar" a bola 13, número do PT. Foi aplaudido pelos aliados, assessores e cabos eleitorais que o seguiam.

Os pacientes Bruno Alberto, 25 anos, e Ediel Henrique, 29, contaram ao presidenciável detalhes sobre seus respectivos tratamentos. Logo após a conversa, Ediel perguntou: "Mas quem é ele?".

Em seguida, Aécio, Alckmin e Serra caminharam pelo centro de Botucatu, tomaram café numa padaria e abraçaram as pessoas que os abordaram.

'Precisamos arrecadar mais', afirma Aécio

• Tucano, que recebeu R$ 11 milhões em doações, o maior valor entre os candidatos, diz que obteve 'pouco ainda' para 'fazer frente' aos adversários

René Moreira - O Estado de S. Paulo

BOTUCATU (SP) - O candidato do PSDB à Presidência, Aécio Neves, reagiu ontem com ironia à pergunta sobre o fato de ter sido o presidenciável que mais obteve doações para a campanha até agora. "Arrecadamos muito pouco ainda, precisamos arrecadar mais para fazer frente a esses que estão aí...", disse Aécio, durante visita a Botucatu, no interior de São Paulo.

Na largada da campanha eleitoral, Aécio arrecadou ao menos R$ 11 milhões em doações de empresas e pessoas físicas, mais que a presidente Dilma Rousseff, cuja prestação parcial registrou entradas de R$ 10,1 milhões. Eduardo Campos (PB) obteve R$ 8,2 milhões.

Ontem, o tucano voltou a fazer críticas a Dilma, sua principal adversária na disputa presidencial. "É hora de a presidente sair do casulo, dos eventos programados e armados". E ao sair às ruas, prosseguiu o tucano, rebatendo declarações da candidata petista à reeleição contra a oposição, ela verá "que o pessimismo ao qual se refere não é da oposição, é dos brasileiros em relação ao seu governo, não em relação ao País".

Aécio caminhou pelas ruas centrais da cidade, ao lado do governador Geraldo Alckmin (PSDB), e fez uma visita ao Centro de Referência de Dependentes Químicos. Em outra crítica ao atual governo, ele disse que a petista "fracassou na conduta da economia e na gestão do Estado brasileiro".

Empatado. O candidato tucano disse ainda que muitas pesquisas já o colocam em empate técnico com Dilma em um eventual segundo turno. "Meu nome vem crescendo de forma consistente em todas as pesquisas. E o dado mais interessante é que no segundo turno houve uma aproximação maior, apesar de muitas pesquisas já mostrarem empate técnico", acrescentou.

Ele afirmou também que não tem pressa quanto ao crescimento de seus índices nas pesquisas de opinião: "Não tenho pressa, quero ganhar a eleição em 5 de outubro e, se não der, vai ser no segundo turno. Agora o que estamos fazendo é isso, andar nas ruas, olhar e conversar com as pessoas."

Para ele, com o horário eleitoral sua candidatura e as de outros oposicionistas vão crescer nas pesquisas. "Não tivemos ainda a exposição que todos terão ao longo da campanha.

‘Sou candidato a vice, não a subpresidente’, diz Aloysio Nunes

• Vice na chapa do candidato à Presidência Aécio Neves, o líder do PSDB no Senado disse que será um assessor de Aécio

Maria Lima, Paulo Celso Pereira e Sergio Fadul – O Globo

BRASÍLIA — Com fama de mal humorado, o candidato a vice-presidente na chapa de Aécio Neves, o líder do PSDB no Senado, Aloysio Nunes, encerrou a entrevista ao GLOBO, nesta terça-feira, cantarolando um samba eternizado na voz de Moreira da Silva para criticar a obsessão do ex-presidente Lula em eleger “postes” e manter o PT no poder. “O Lula é o Piston de gafieira”, brincou o tucano, cantando a música que diz: “Quem está fora não entra, quem está dentro não sai”.

Apesar de reconhecer que Lula esgotou a capacidade de tirar da cartola mágica um candidato ungido como sendo portador da felicidade do povo, como a presidente Dilma Rousseff e o prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, Aloysio diz que ele é um grande líder e um adversário a ser temido. E que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso não transfere votos, mas é um selo de qualidade na campanha tucana.

Em outro momento, ao afirmar que o trio Geraldo Alckmim, José Serra e Aécio Neves está afinado e feliz, cada um tocando sua campanha de vento em popa, citou uma expressão francesa: tout bien dans votre peau (todos bem em sua pele). Aloysio tem diferenças de perfil com Aécio — não tem problema em assumir posições polêmicas na contramão da opinião pública —, mas disse que não será eleito sub-presidente, e sim vice. Não pretende ocupar um cargo executivo, como José Alencar no Ministério da Defesa.

O tucano diz que será um assessor de Aécio, com quem se dá muito bem e por quem tem laços profundos de afeto. Os dois primeiros dois anos de governo , diz, serão muito difíceis, mas só a eleição de Aécio já criará um clima de retomada de confiança. “O problema é se a presidente Dilma for sucedida por ela mesma”.

Como equilibrar o discurso das "medidas duras" e não assustar servidores e beneficiados de programas sociais?

A simples vitória da Oposição já vai dar um novo clima de confiança no País. Hoje não só os analistas do Santander, mas a dona de casa que vai no supermercado, tem horror a permanência da Dilma no Planalto. Aécio vai tomar as medidas corretas. Ninguém toma medidas duras porque gosta. Vai ter que equilibrar as contas públicas porque simplesmente não dá mais para continuar como está.

Ele vai ter coragem de dizer que os dois primeiros anos vão ser muito duros e que só no terceiro será possível respirar?

Quem assumir o governo depois de Dilma vai encontrar dificuldades imensas: inflação alta, contas públicas desarrumadas, a indústria no buraco, balança comercial deficitária. O problema é se a presidente Dilma for sucedida por ela mesma, porque já mostrou incapacidade de fazer um diagnóstico da situação e atribui sempre a causas externas os maus resultados do seu governo. Quem não tem um diagnóstico correto da situação não tem condições de remediar os males. Ela não tem agenda, não tem medidas de longo prazo. É um governo que vive as apalpadelas.

É um risco qualquer candidato que a suceda seja visto como salvador da pátria e não consiga atender as expectativas?

Felizmente chegamos a um nível de amadurecimento, ou talvez de descrença na classe política, que ninguém mais acredita em salvador da pátria. O que queremos é um bom governo. Não seria pedir demais um bom governo.

Esse novo escândalo da CPI da Petrobras, ele encobre ou neutraliza o efeito negativo do problema do aeroporto de Cláudio para Aécio?

O problema de Aécio com o aeroporto de Cláudio foi ter feito um voo com o aeroporto ainda não homologado.

Dilma foi trazida novamente para o olho do furacão com essa confusão da CPI denunciada pela revista Veja?

Eles são uns trapalhões, essa é a verdade. E cada trapalhada, o tiro sai pela culatra. É um ultraje à instituição (do Senado). Um ultraje a um dos poderes mais importantes do Senado, que é o poder de investigação . Fico imaginando se uma farsa grosseira como essa acontece numa comissão de inquérito do Senado americano, qual seria a reação do presidente do Congresso? Hoje tivemos senadores do Governo dizendo aqui que isso é normal, que é assim que se faz. Eu acho isso uma indecência!

Qual vai ser a presença desses elementos na Campanha? Quanto o PSDB vai abordar as falhas do governo e o quanto tem que projetar para o futuro?

A tônica da nossa campanha será sempre projetar para o futuro. Mas para projetar o futuro tem que corrigir o que está errado e dizer sua opinião sobre as causas que levaram ao estado de degradação política e econômica que estamos vivendo. As duas coisas são indissociáveis. O caso da Petrobras mostra bem isso: o loteamento dos cargos para pessoas incompetentes e os maus resultados da empresa.

Mas a presidente Dilma adotou o slogan: a verdade vai vencer o pessimismo.

Dilma não entregou o que prometeu, não foi a grande gestora que foi apresentada na campanha, os resultados do governo dela em todas as áreas são muito ruins ou insuficientes. A frustração e a sucessão de escândalos pode levar ao voto da oposição, mas também pode levar ao desencanto, a apatia e ao abandono da cena política. Podem dizer: isso aqui é uma farsa! Uma CPI que se esperou tanto terminar nessa pizza miserável, estragada, podre? Isso alimenta o desalento.

Houve o episódio do blogueiro que veio interpelá-lo e o senhor acabou perdendo as estribeiras. O senhor teme uma degradação ainda maior do nível da campanha?

Pra baixo da cintura não fomos nós que levamos. Agora, eu temo por baixarias homéricas do outro lado. Já começou na internet, um exército de robôs replicando mentiras e notícias falsas para destruir a reputação dos adversários. Publicaram ao meu respeito coisas diametralmente opostas do que eu fiz na realidade: "Aloysio votou contra a PEC do trabalho escravo", mas eu fui relator da PEC do trabalho escravo; "Aloysio votou contra a comissão da verdade", e eu fui o relator da comissão no Senado; "Aloysio é homofóbico", eu sou o sujeito mais avesso a qualquer tipo de preconceito que existe no mundo! Disseram que votamos contra o Mais Médicos e é mentira. Votamos a favor e apresentamos uma emenda obrigando os cubanos a fazerem o Revalida.

Falta proposta?
Sim! O discurso se esgotou , o que ela tem a propor para o futuro? A reeleição tem essa função: não deu certo, troca. Não tem segunda época, não tem recuperação como se tem na escola onde é proibido colar.

Eles usaram a tática do medo. Acha que isso pode ter bom resultado?

Ah! Isso não cola mais . Essa não é a realidade do País. As pessoas sentem que as coisas melhoraram e vem melhorando ao longo dos anos. Só que não é mais suficiente. Começa a patinar.

O senhor é a favor da manutenção da reeleição?

Sou a favor.

O senhor evita adotar posições apenas por serem populares, já Aécio tem um jeito mineiro, de diálogo com todas as forças. Essa diferença de perfil, num eventual governo, pode dar problema?

Entre o Aécio e mim? Sou candidato a vice-presidente, não a sub-presidente. Minha função é colaborar e eu tenho com ele a mais absoluta identidade nas questões fundamentais.

O vice José Alencar chegou a ocupar outros cargos, foi ministro da Defesa...

Eu já fui secretário quando fui vice-governador . No governo Fernando Henrique o Marco Maciel não foi ministro, mas colaborou muito com o presidente. Eu não tenho nenhuma pretensão de ocupar cargo executivo.

As pesquisas mostram que Dilma está em dificuldades até no ABC, reduto do petismo. O ex-presidente Lula está perdendo força?

Lula garganteou sua capacidade de eleger um poste. Só que os postes que ele elegeu não aprenderam a governar: Haddad, e na minha opinião, Dilma Rousseff. Essa capacidade do Lula demiúrgica de tirar da cartola mágica um candidato ungido como sendo portador da felicidade do povo, essa capacidade se esgotou. Padilha seguramente é mais um poste que não vai se acender. Agora, o Lula é uma pessoa importante, um líder político com enorme capacidade, é um adversário temido.

O senhor acha que as pessoas perderam o encantamento que tinham em relação a ele?

Acho que sim. Aqueles que estudam e se informam com mais cuidado sabem que o desastre da Dilma teve precedentes, ela não improvisou . O Lula que armou todo o cenário e a bomba acabou estourando nas mãos dela. Mas ele continua sendo uma pessoa de carisma inegável.

O senhor foi o primeiro majoritário a se eleger colocando o Fernando Henrique como figura central da campanha. O que de fato ele agrega a uma campanha eleitoral?

Eu era desconhecido e precisava mostrar qual era a minha família política, qual era minha turma, em que corrente da política eleitoral paulista se inseria minha candidatura. E o Fernando Henrique era a grande diferença. Ele está para o PSDB como o Lula está para o PT. São duas figuras que exercem uma identificação política nessas duas correntes. O Lula está justamente entronizado no panteão dos petistas, e nós temos muito orgulho de ter o Fernando Henrique como uma referência para nós em termos de valores políticos, de compreensão de Brasil. Agora, eles não são candidatos, nem Lula nem Fernando Henrique. Nosso candidato é o Aécio Neves, e o candidato do PT é a Dilma Rousseff. Fernando Henrique não transfere votos porque não é candidato, mas ele é um selo de qualidade.

O PT tem tentado cunhar que o PSDB é o partido da elite. O senhor concorda?

A Dilma é da elite, o Lula é da elite. Lula não trabalha na fábrica há mais de 40 anos , é da elite sindical e econômica. Nós ganhamos do PT em várias paradas duras. Nas eleições municipais ganhamos em Manaus, em Belém, Teresina, Maceió, em Salvador com um aliado nosso, em Aracaju. Em 2010 o Serra teve mais de 40 milhões de votos. Em duas eleições levamos para o segundo turno e Fernando Henrique ganhou no primeiro. Eles não tem o monopólio do acesso ao povo. Isso é conversa do Lula, demagogia! Ele é da elite, foi entronizado, é o queridinho do mercado financeiro, tem um banqueiro para chamar de seu, manda no Santander, mandou demitir funcionário, o que é pior. O seu grande amigo, o Botin, sabujamente se ajoelhou e mandou embora a moça. Imagina essa condução do governo! Eu tenho mil críticas a condução da economia, a mediocridade na educação, ao desastre na saúde, a omissão na segurança pública. Mas pior que a incompetência é essa cultura política que leva a presidente da República a apontar o dedo para um presidente de banco e dizer: preciso ter uma conversa com o senhor porque teve uma análise que apontou aquilo que todos sabiam! È como você quebrar o termômetro que apontou a febre ! Isso para mim é terrível! Se os boletins fossem favoráveis? Então é assim: dá dinheiro para nossa campanha , mas fica de bico calado! Esse é o tipo de cultura política antidemocrática.

O senhor foi escolhido vice para evitar que Aécio fosse cristianizado. O quanto isso tem de verdade? E acredita que paulista vai votar em mineiro?

Olha, eu fui escolhido candidato porque tenho uma ou outra qualidade. Entre essas qualidades não está o fato de eu ser avalista da lealdade de Geraldo Alckmin ou José Serra, porque ele não precisa disso. O fato é que o Aécio, antes de ser escolhido candidato, ele ganhou o PSDB . Realizou 18 reuniões regionais , com uma disciplina beneditina, onde transmitiu a confiança de que ele era um bom candidato a presidente. Ele trabalhou! Nunca houve por parte do Serra ou Geraldo uma tentativa de retaliar por causa do resultado eleitoral de Minas, que se deveu a uma série de circunstâncias que não necessariamente devidas ao empenho do governador na época . O que queremos é ganhar as eleições.

Hoje Aécio é quase um paulista... Ele sai vitorioso de São Paulo?

Eu não tenho dúvida nenhuma! Nós vamos votar nele sim. Os paulistas vão votar no Aécio . O Serra teve em São Paulo 1.8 milhão de votos a mais. Foi uma candidatura contra a corrente. Lula no auge da popularidade, economia crescendo a 7% , o desejo de continuidade e o governo nas mãos de alguém apresentada como uma grande gestora. Hoje as condições são inteiramente contrárias e o partido está unido. O Alckmin está muito bem, o Serra empenhadíssimo na campanha , há a volta do orgulho de ter um senador do porte do Serra, e o Aécio é um excelente candidato , é um sujeito que chega e encanta! Tem bom discurso, toca nos pontos certos, carismático.

Estão todos bem na sua própria campanha, não é?

Todos muito bem, cada um como dizia o francês , tout bien dans votre peau ( todos bem em sua pele)

Como o senhor explica o tamanho da rejeição da presidente no estado de São Paulo e a popularidade de Alckmin um ano depois das manifestações de junho , depois de 20 anos do PSDB no governo, da fadiga de material , crise hídrica e denúncias no metrô?

Hoje a política, em grande parte , se desdramatizou. Todas as grandes correntes políticas já tiveram experiências de governo. Não existem mais grandes ideologias como motor de movimentos de eleitorados. O PT desmoralizou a própria ideia da utopia , ainda bem. Então o que o povo quer hoje é um bom governo, que administre bem, que seja honesto, que escolha um boa equipe, que planeje, que cobre resultados, que dialogue, que ouça a sociedade , que agregue. É isso que o povo quer! Qualidade de vida, serviços decentes. O Alckmin é a encarnação disso. 

O grande desejo do Lula de ganhar em São Paulo vai ter que esperar...

A obsessão do Lula de ganhar a eleição estadual? Ah! Essa? Esquece!

O senhor acha que o caminho natural de Eduardo Campos é que ele se aproxime de Aécio num segundo turno?

As pesquisas mostram hoje que no segundo turno há uma grande convergência do eleitorado que não quer Dilma e deseja uma mudança, seja para um lado ou outro. Ninguém comanda voto de ninguém no segundo turno. Você evita quem você rejeita.

Mas até por uma questão de convergência política, porque depois o País precisa ser governado...

Claro! Aí a disposição do Aécio é somar, e ele tem temperamento e tradição política para isso .

O vice José Alencar era polêmico, com posições as vezes contrárias ao governo. Michel Temer é mais introvertido. Qual será seu estilo como vice -presidente?

O vice -presidente Michel Temer é o chefe de um partido político, uma compensação que simbólica que o PT tem, em relação ao fato de que o PMDB, sendo um gigante no Congresso, é um anão no governo. Ele exerce um papel grande na agregação do partido, embora com dificuldades crescentes como se viu agora na convenção. Marina Silva, eleita vice-presidente, será ao mesmo tempo a vice e uma rival, porque o sonho dela é ser presidente da República desde que tenha um partido para chamar de seu, está hoje hospedada no PSB. Eu não. Não tenho ambição política de ser presidente da República, sou alguém que adquiriu uma experiência considerável na minha vida pública, intelectual , na trajetória da minha existência. E tenho com o Aécio não só uma afinidade política, mas uma sintonia afetiva muito grande. Eu não quero cargo. Quero fazer o que for mais útil , ser um colaborador, o que não impede que possa dar um palpite errado ( risos). Zé de Alencar foi um símbolo que o Lula deu ao empresariado para dizer: toda aquela estória que eu pregava antes era besteira e agora sou um homem bem comportado, agora sou da elite, está aqui meu empresário. Foi o símbolo de uma aliança social.

Como será, na formação do governo, tirar hábitos tão arraigados de receber ministério de porta fechada, de emparedar o presidente, governar sem essa troca permanente?

Sou a favor do voto distrital na reforma política. Há um sentimento de que esse tipo de eleição proporcional já não dá mais , que o que se gasta hoje ninguém mais está disposto a pagar. Em São Paulo se fala numa campanha de deputado estadual de R$5 milhões, federal, R$8 milhões. Isso é impossível, completamente fora de propósito. A ânsia de nomeações pode ser combatida também com a redução dos cargos a nomear. Você mata dois coelhos numa só cajadada. Faz economia e restringe o mercado político. O que importa mais na relação com o Congresso é a atitude do presidente. Tem que ter uma agenda clara para melhorar o País, propor ao Congresso essa agenda com clareza, como fez o Fernando Henrique quando assumiu , o Lula no seu primeiro mandato. Mobilizar apoios políticos em função desta proposta, recorrendo inclusive a opinião pública. O presidente tem um poder enorme de se comunicar com o povo, tem um papel pedagógico que não pode ser subestimado, tem que ser bem utilizado. Fernando Henrique reuniu os partidos para discutir as propostas de emendas constitucionais e reformas e pediu apoio a elas. Agora , a participação dos partidos no governo é algo necessário e desejável , mas dentro de determinados limites. Você não pode nomear qualquer um, tirar um ministro bem avaliado para, sabe-se lá o que significa atender um partido, como é o caso do ministro César Borges, que ia bem , honrado e bom ministro. O presidente é quem tem que dar o tom.

Merval Pereira: Na reta final

- O Globo

Faltando dez dias para o início da propaganda eleitoral no rádio e na televisão, há uma expectativa no mercado político que se reflete no financeiro e justifica resultados como a queda da Bolsa em consequência do resultado da mais recente pesquisa divulgada pelo Ibope. O fato de o candidato do PSDB Aécio Neves não ter tido um crescimento fora da margem de erro decepcionou os especuladores, que já temem a resiliência da candidatura da presidente Dilma à reeleição.

As análises internas das campanhas oposicionistas também levam em consideração essa resistência da candidatura oficial para reavaliar posturas e organizar seus “exércitos” para a parte final da campanha, que terá apenas cerca de dois meses. Não há ainda uma certeza sobre a frieza da campanha eleitoral, se ela representa um amadurecimento do eleitorado ou uma rejeição ao mundo político tal nós o conhecemos. No primeiro caso, tudo entrará nos eixos nos próximos dias quando a propaganda oficial estiver em ação.

Ao contrário, se a falta de empolgação do eleitorado com a campanha representar um repúdio à maneira como a política é feita no Brasil, o número de votos em branco e nulos será maior do que o normal, e será difícil definir se os votos válidos poderão definir o final da disputa no primeiro turno com a vitória de Dilma, apesar da rejeição verificada à sua candidatura e à baixa aprovação ao seu governo. Seria uma vitória da máquina partidária sobre o sentimento geral do eleitorado que, mal informado ou desanimado, não votará e acabará elegendo quem rejeita. Os principais candidatos da oposição, senador Aécio Neves do PSDB e ex-governador Eduardo Campos do PSB, terão que falar mais do futuro do que do presente para chamar a atenção dos eleitores desanimados se não quiserem perder a eleição mais possível de ganhar nos últimos 12 anos de petismo.

A aparição no “Jornal Nacional” da campanha nas ruas tem levado a milhares de lares brasileiros as imagens de Aécio e Campos e suas ideias, ampliando o conhecimento dos adversários de Dilma Rousseff, que até o momento reinava soberana no noticiário, como quer o marqueteiro João Santana. O papel de “rainha” tem sido exercido sem grandes charmes e com um linguajar tão confuso que já ganhou a alcunha de “dilmês”.

Mas na propaganda oficial surgirá outra Dilma, iluminada com técnica pela equipe de marketing, que poderá ser desconstruída nos debates eleitorais a que ela não recusará a presença pelo simples fato de que não tem tanta gordura assim para queimar. Lula que era Lula, mais do que é hoje, pagou caro por não ter ido ao último debate na Globo em 2006, que dirá Dilma, uma candidata tão frágil quanto o governo que comanda, que só se sustenta pela máquina partidária infiltrada em todos os setores do governo, trabalhando incessantemente para manter as prerrogativas que conseguiu nesses 12 anos de petismo.

O candidato do PSB, que tem atingido um público mais amplo com suas mensagens que voltaram a estar mais próximas do liberalismo econômico do que dos dogmas de sua vice Marina Silva, poderá aproveitar a propaganda oficial para melhorar seus índices de aprovação.

Já o candidato do PSDB, senador Aécio Neves, pretende focar mais os projetos futuros do que se voltar para o passado, para evitar a armadilha do PT que pretende comparar os 12 anos do petismo no poder com os 8 anos do PSDB, sem contextualizar os momentos históricos para incutir o receio no eleitorado de que a vitória dos tucanos será uma volta ao passado, e não um salto para o futuro.

Aécio vai colocar em pauta os quatro anos de Dilma, e o que representaria uma repetição do mesmo, tentando isolar o tempo de Dilma do passado de Lula, que a todo momento será revisitado pelo próprio, em carne e osso nos programas do PT.

Eduardo Campos terá a vantagem de se colocar entre os dois contendores, afirmando que ambos têm razão, para se mostrar como a alternativa viável.

Correção
O ministro José Jorge, relator no Tribunal de Contas da União (TCU) do processo sobre a compra da refinaria de Pasadena nos Estados Unidos pela Petrobras, não foi nomeado pelo ex-presidente Fernando Henrique, como informei na coluna.

Ele entrou por indicação do Congresso, já no governo Lula, derrotando um candidato apoiado pelo governo

Cláudio Couto: Escandalizados pelo óbvio

- O Estado de S. Paulo

Uma grande celeuma se produziu por conta do acerto feito entre parlamentares petistas na CPI da Petrobrás, membros do Poder Executivo e diretores da empresa estatal, acerca das perguntas que lhes seriam dirigidas na Comissão Parlamentar de Inquérito. Os depoentes teriam sido não só informados sobre as perguntas da CPI, como também submetidos a um coaching, visando prepará-los para responder aos questionamentos dos senadores. O motivo do escândalo é simples: os investigadores deixaram de cumprir seu papel como tais, pois deixaram vazar para os investigados perguntas que supostamente deveriam lhes causar embaraços, de modo a desvelar eventuais malfeitos cometidos na petroleira.

Diante do alvoroço, rapidamente se puseram a oposição a bradar acusações, a presidente a dizer que isso é assunto do Legislativo e o presidente do Senado a asseverar que haveria diligências. Por detrás de tudo, uma suposição singela: Executivo e Legislativo são poderes independentes e, portanto, instrumentos parlamentares de investigação - como CPIs - não podem contar com a intromissão de membros do Poder Executivo. Será que é assim mesmo?

A moderna teoria clássica da separação dos poderes de Estado remonta ao século 17, tendo sido originalmente esboçada por John Locke (filósofo inglês, pai do liberalismo político) e depois aperfeiçoada, já na primeira metade do século 18, pelo barão de Montesquieu (filósofo francês, também liberal). Um aprimoramento fundamental dessa teoria foi promovido pelos federalistas norte-americanos, ao final do século 18, que lhe acrescentaram a noção de freios e contrapesos do poder (checks and balances). De acordo com ela, os ramos de governo não são completamente separados, mas sobrepõem-se parcialmente, de modo que um possa controlar o outro. A fiscalização parlamentar de atos do Executivo é uma das situações em que os freios e contrapesos são postos em funcionamento.

Ocorre, contudo, que, à época da formulação dessas teorias clássicas, inexistiam os partidos políticos, ao menos da forma como hoje os conhecemos. Os partidos eram vistos como facções perniciosas ao bem comum, sendo que o filósofo conservador britânico Edmund Burke foi o primeiro a defendê-los doutrinariamente, já na segunda metade do século 18.

Antes que os partidos fossem amplamente aceitos, muito tempo passou, e a política partidária propriamente dita só começou a ganhar corpo no mundo ocidental cem anos depois, a partir da segunda metade do século 19. Fortaleceu-se na primeira metade do século 20 e tornou-se indissociável da democracia de massas em sua segunda metade.

A política partidária subverteu a separação clássica dos poderes, unindo o que estava separado. Um mesmo partido, ao ocupar posições no Executivo e no Legislativo, funciona de forma coesa através das fronteiras formais dos ramos do Estado. Não é à toa que, para evitar a partidarização do Judiciário, seus membros são normalmente escolhidos por critérios outros que não a disputa partidária, mantendo assim sua independência. O mesmo vale para órgãos públicos que, num Estado democrático de direito, devem preservar sua autonomia - como a polícia, o Ministério Público, a auditoria fiscal etc.

Onde prevalece a política partidária, a lógica da separação formal dos poderes foi substituída por outra: a da contraposição entre oposição e governo. Assim, a fiscalização parlamentar do Executivo ocorre quando a oposição a faz. Por isso mesmo, CPIs são por excelência instrumentos das minorias - ou seja, das oposições. Se uma oposição abdica da participação numa CPI, deixa aos partidos da base governamental a incumbência de fiscalizarem a si mesmos. Ora, mas quem poderia, de verdade, fiscalizar a si próprio? Não se poderia esperar nada diferente do que aconteceu. Estamos a nos escandalizar com o óbvio.

Fernando Rodrigues: Estado aparelhado

- Folha de S. Paulo

Alguém usou a rede de internet do Palácio do Planalto para alterar verbetes de políticos e de jornalistas na Wikipédia, a enciclopédia colaborativa on-line cujos textos podem ser editados livremente.

Ontem (8), o repórter Paulo Celso Pereira revelou que os jornalistas Miriam Leitão e Carlos Alberto Sardenberg foram alvo dessas alterações. Seus perfis foram enxertados com críticas, ataques e mentiras sobre o trabalho que exercem.

O vandalismo cibernético praticado dentro da Presidência é incompatível com os valores republicanos. Há algo de muito errado num ambiente estatal no qual alguém se sente à vontade para fazer ataques a jornalistas. A pessoa que teve a "ideia" de entrar na Wikipédia (se é que foi uma iniciativa isolada) sentia-se, com certeza, tranquila ao agir dessa forma.

Mas há outro ângulo menos político, porém não menos relevante: a incapacidade gerencial do governo. O Planalto soltou uma nota informando ser "tecnicamente impossível identificar os responsáveis". Os conteúdos da rede de internet da Presidência, "até julho deste ano, eram arquivados por no máximo seis meses". Como o vandalismo ocorreu em maio de 2013, nada poderia ser feito para achar o vândalo. Ponto final.

Essa explicação é raquítica perto da magnitude do fato. Como é possível a Presidência da República da 7ª (ou 6ª ou 8ª) economia do mundo não guardar registros de seus computadores por mais de seis meses? Se o perfil de Dilma Rousseff na Wikipédia fosse adulterado, a presidente aceitaria a desculpa do Planalto?

Arquivar tais dados custa quase nada. A incompetência dos responsáveis por apagar as informações será averiguada? No final do dia, o governo recuou e disse que iria investigar. Como, ninguém sabe.

Na sua nota, o Planalto diz que "a liberdade de imprensa é um dos pilares da nossa democracia". Falar é fácil. Difícil é promover esse tipo de valor dentro da administração.

Miriam Leitão: À margem da lei

- O Globo

No princípio, eu me assustei como cidadã. Era difícil acreditar que da Presidência da República foram postados ataques caluniosos a pessoas, porque na democracia o aparato do Estado não pode ser usado pelo governo para atingir seus supostos adversários. A propósito: não sou adversária do governo; sou jornalista e exerço meu ofício de forma independente.

Só no segundo momento é que pensei no fato de que os ataques eram contra mim e meu colega Carlos Alberto Sardenberg. Ninguém, evidentemente, tem de concordar com o que eu escrevo ou falo no rádio e na televisão. Há, em qualquer democracia, um debate público, e eu gosto de estar nele. Mas postaram mentiras, e isso pertence ao capítulo da calúnia e difamação.

Tenho 40 anos de vida profissional e um currículo do qual me orgulho por ter lutado por ele, minuto a minuto. Acordo de madrugada, vou dormir tarde, estudo diariamente, falo com pessoas diversas, apuro, confiro dados, para que cada opinião seja baseada em fatos. Alguns temas são áridos, mas gosto de mergulhar neles para traduzi-los para o público.

Na primeira vez que um amigo me mostrou o perfil cheio de ataques na Wikipedia fiquei convencida de que era coisa de desocupados. Saber que funcionários públicos, computadores do governo, foram usados na Presidência da República para um trabalho sórdido assim foi um espanto. Uma das regras mais caras do Estado de Direito é que o grupo político que está no governo não pode usar os recursos do Estado contra pessoas das quais não gosta.

O início da minha vida profissional foi tumultuado pela perseguição da ditadura. No Espírito Santo, fui demitida de um jornal por ordem do governador Élcio Álvares. Em Brasília, fui expulsa do gabinete do então ministro Shigeaki Ueki, durante uma coletiva, porque ele não gostava das minhas perguntas e reportagens. O Palácio do Planalto não me dava credencial porque eu havia sido presa e processada pela Lei de Segurança Nacional. Aquele governo usava o Estado contra seus inimigos. E eu era, sim, inimiga do regime.

Na democracia, em todos os governos, ouvi reclamações de ministros e autoridades que eventualmente não gostaram de comentários ou colunas que fiz. Mas eram reclamações apenas, algumas me ajudaram a entender melhor um tema; outras eram desprovidas de razão. Desta vez, foi bem diferente; a atitude só é comparável com a que acontece em governos autoritários.

O Planalto afirma que não tem como saber quem foi. É ingenuidade acreditar que uma pessoa isolada, enlouquecida, resolveu, do IP da sede do governo, achincalhar jornalistas. A tese do regime militar de que os excessos eram cometidos pelos "bolsões sinceros, porém radicais" nunca fez sentido. Alguém deu ordem para que isso fosse executado. É uma política. Não é um caso fortuito. E o alvo não sou eu ou o Sardenberg. Este governo desde o princípio não soube lidar com as críticas, não entende e não gosta da imprensa independente. Tentou-se no início do primeiro mandato Lula reprimir os jornalistas através de conselhos e controles. A ideia jamais foi abandonada. Agora querem o "controle social da mídia", um eufemismo para suprimir a liberdade de imprensa.

Sim, eu faço críticas à política econômica do governo porque ela tem posto em risco avanços duramente conquistados, tem tirado transparência dos dados fiscais, tem um desempenho lamentável, tem criado passivos a serem pagos nos futuros governos e por toda a sociedade. Isso não me transforma em inimiga. E, ainda que eu fosse, constitucionalmente o governo não tem o direito de fazer o que fez. É ilegal e imoral.

Rolf Kuntz: Inflação firme, indústria fraca, país sem rumo

- O Estado de S. Paulo

Sem tarifaço, mas também sem crescimento econômico, o Brasil da presidente Dilma Rousseff acumulou de janeiro a julho inflação de 3,76%. Essa taxa é maior que a prevista para o ano inteiro em vários vizinhos mais dinâmicos - Chile, Colômbia, Equador e Peru. Até o fim do ano a inflação brasileira baterá também, se nenhuma grande surpresa ocorrer, a do Paraguai e a do México, segunda maior economia latino-americana. Por enquanto, o governo pode alardear mais um bom resultado parcial. No mês passado, a taxa caiu para 0,01%. A queda foi causada principalmente pelo recuo dos preços dos alimentos e pelo ajuste pós-Copa, observado, por exemplo, nas tarifas de transporte aéreo. A variação acumulada em 12 meses ficou em 6,5%, no limite da margem de tolerância.

O acumulado poderá diminuir até dezembro, mas continuará bem acima da meta, 4,5%. Para evitar um impulso maior o governo continuará contendo as tarifas de eletricidade. Poderá permitir ajustes limitados. Enquanto isso, as distribuidoras de energia, socorridas com novo empréstimo de R$ 6,6 bilhões, acumularão novas dívidas.

Haverá um repique da inflação, depois de alguns meses de recuo. Isso ocorreu em todos os anos a partir de 2010. No ano passado foi em agosto, quando a taxa passou de 0,03% para 0,24%. Neste ano, os economistas do mercado previram também para agosto o começo da nova aceleração. Poderão errar por um mês, dificilmente por dois. Os fatores inflacionários mais importantes continuam presentes. A gastança federal permanece, o crédito aumenta e o governo manteve os estímulos fiscais ao consumo. Ainda haverá muito alimento para o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), a referência oficial para a política anti-inflacionária. Falta saber se os juros básicos de 11% ao ano ainda produzirão efeitos e se a piora das condições de emprego assustará os consumidores e ajudará a frear os preços.

A queda de qualidade do emprego é indiscutível. A melhor empregadora, a indústria, continua demitindo. Além disso, as condições de ocupação nas fábricas estão mais precárias. No setor automobilístico, a adoção do lay-off - suspensão temporária de contratos - aumentou a insegurança.

A criação de vagas tem ocorrido principalmente no comércio e nos serviços - mas a maior parte dos serviços, no Brasil, oferece condições de ocupação muito diferentes das observadas nos países desenvolvidos. O chamado emprego decente ainda é encontrado principalmente na indústria, na administração pública e no setor financeiro.

O emprego industrial aumentou 1% em 2011, diminuiu 1,4% em 2012 e encolheu mais 1,1% no ano seguinte. A redução continuou este ano. No primeiro semestre, o número de ocupados na indústria foi 2,3% menor que entre janeiro e junho do ano passado. Em junho, foi 0,5% menor que em maio e 3,1% inferior ao de um ano antes. Estes números foram divulgados na sexta-feira, pouco antes dos novos dados da inflação oficial, no site do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).

Apesar disso, a folha de pagamento real da indústria, embora tenha diminuído em junho, ainda foi, no primeiro semestre, 1,3% maior que entre janeiro e junho do ano passado. O aumento do salário médio, portanto, superou a inflação, embora o pessoal empregado tenha diminuído. Isso se explica principalmente pela baixa oferta de mão de obra qualificada ou mesmo qualificável.

Mas o aumento real de salários e de outros custos continua afetando o poder de competição da maior parte da indústria. Apesar do forte estímulo ao consumo, a produção industrial ficou estagnada durante o atual governo. Aumentou 0,4% em 2011, diminuiu 2,3% em 2012 e cresceu apenas 2% em 2013, sem voltar ao nível de dois anos antes. No primeiro semestre deste ano ficou 2,6% abaixo do registrado até junho do ano passado.

Para a indústria a inflação alta dos últimos anos traduziu-se principalmente em custos cada vez maiores. O salário real cresceu mais que a produtividade. Os custos logísticos aumentaram, assim como o peso da burocracia estatal e dos encargos administrativos. O câmbio oscilou, mas a maior parte das fábricas foi incapaz de competir no mercado internacional mesmo nas fases de depreciação do real, quando os produtos brasileiros deveriam ficar mais baratos em dólares.

A inflação elevada atrapalhou duplamente. O efeito indireto foi a elevação de custos. O indireto ocorreu quando o Banco Central interveio no mercado para frear a valorização do dólar e atenuar os efeitos inflacionários do câmbio. Num país com inflação mais civilizada o desajuste cambial, para começar, seria menor ou nulo. Além disso, uma eventual valorização do dólar seria muito menos perigosa para a estabilidade de preços. No Brasil, o Banco Central foi criticado por intervir no câmbio para prevenir uma inflação maior. Os críticos podem ter alguma razão. Mas teriam sido mais eficientes se tivessem, há mais tempo, condenado a tolerância à inflação e cobrado medidas mais fortes e mais sérias contra o desajuste de preços.

O combate à inflação tem dependido só do Banco Central, enquanto o governo mantém o gasto excessivo e o uso ineficiente de recursos públicos. Além disso, a política industrial tem consistido, há muitos anos, de uma combinação ineficiente de protecionismo, favores a grupos e segmentos selecionados e estímulos ao consumo. Tudo isso se combinou com uma diplomacia econômica de centro acadêmico. Em 2002, as vendas de manufaturados corresponderam a 54,71% das exportações brasileiras. No ano passado essa fatia estava reduzida a 38,44%. Em parte por indução, em parte por simples comodismo, a indústria se ajustou ao papel de fornecedora do Mercosul e de mais uns poucos mercados. Consequência: hoje é incapaz de competir nessas áreas e até no mercado interno. Nada mais natural.

Rolf Kuntz é jornalista

Cristovam Buarque: Desalojados da utopia

• Bolsa Família passou a ser vista como solução, e não abrigo provisório

- O Globo

É antigo o apoio aos desalojados por causa de desastres naturais, raro o apoio aos desalojados pelos modelos econômicos e sociais. Ninguém com sentimento humanista deixa de reconhecer o papel positivo da transferência de renda para abrigar famílias pobres, que ficaram desalojadas ou excluídas dos benefícios do progresso. Sem essa ajuda, elas estariam na mesma situação das vítimas das tragédias naturais. Mas falta humanismo naqueles que veem os abrigos como a solução para as dificuldades que as vítimas de tragédias atravessam ou naqueles que comemoram o aumento no número dos que vivem em abrigos, fugindo dos horrores da pobreza.

Essa visão predomina entre os que defendem as transferências de renda como solução para o problema da pobreza, sem a percepção de que os necessitados da Bolsa Família são desalojados e desabrigados pelo modelo econômico, que a transferência de renda busca mitigar sem eliminar a exclusão. Por isso, chamam de beneficiados, e não de necessitados, os desabrigados.

Na sua forma atual, sem escola de qualidade, o programa Bolsa Família está sendo um abrigo para proteger necessitados. Comemorar o aumento no número de pessoas que dela necessitam é igual a ver como solução definitiva o abrigo provisório para desabrigados por catástrofes.

A necessidade da Bolsa Família decorre da interdição histórica de um pedaço de terra para as famílias rurais, que foram desalojadas pelo modelo voltado para o mercado externo; ou devido à constante migração de pobres para as cidades em busca de emprego que não existe ou de baixos salários que não atendem às necessidades básicas. Deve-se também ao desvio de recursos para criar infraestrutura econômica e pagar juros da dívida que ela exigiu, no lugar de investimentos em serviços públicos, sobretudo, educação de qualidade para todos.

Até recentemente, essas falhas do modelo econômico eram percebidas por aqueles que lutavam por um mundo sem desalojados sociais. O fracasso dos regimes socialistas desfez as propostas e as bandeiras de luta por uma economia comprometida com o social. No Brasil, a convergência desse fracasso com a ascensão da esquerda ao poder acomodou de tal forma os políticos que todos passaram a justificar as medidas mitigadoras como se fossem o limite possível da utopia. A Bolsa Família passou a ser vista como solução, e não abrigo provisório. E seus beneficiados vistos como integrados ao modelo e não mais como desabrigados por ele.

A aceitação do modelo, que desaloja os excluídos, desalojou as esquerdas, tirou-lhes o vigor transformador, acomodou-as na aceitação dos abrigos como se fossem o céu social.

Até aqui nenhum candidato a presidente disse: "Enquanto uma família precisar, receberá a Bolsa Família, mas não descansarei enquanto o modelo social continuar provocando desalojado que precisa de abrigo provisório".

Cristovam Buarque é senador (PDT-DF)