quinta-feira, 19 de novembro de 2015

Opinião do dia – Aécio Neves

É legítimo que o PMDB apresente propostas ao país. Mas eu as levaria mais a sério se o PMDB deixasse o governo, os sete ministérios e os cargos
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Aécio Neves, presidente do PSDB, senador, sobre o documento Uma Ponte para Futuro, na coluna de Ilimar Franco, O Globo, 19 de novembro de 2015

Cunha afirma que impeachment ficará para 2016

Sem apoio da oposição, Cunha deixa análise sobre impeachment para 2016

• Em jantar com deputados peemedebista na semana passada, presidente da Câmara disse ainda acreditar que Congresso não rejeitará contas do governo e que fez acordo com o Planalto para aprovação da DRU

Daniel Carvalho - O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - Em jantar com deputados aliados na semana passada, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse não ver chances de abrir o processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff neste ano. Segundo relatos de participantes do encontro, ele confidenciou entender que o impedimento perdeu apoio popular e criticou o PSDB, que deixou de apoiá-lo na semana do encontro. Cunha ainda afirmou acreditar que as contas do governo não serão rejeitadas pelo Congresso e disse ter negociado com o Planalto a aprovação da Desvinculação de Receitas da União (DRU) em troca da aprovação das emendas impositivas de bancada.

O encontro aconteceu na quarta-feira da semana passada, 11, na residência oficial da presidência da Câmara. "Comentando sobre a questão do impeachment, ele falou claramente que não vê nenhuma possibilidade de este impeachment sair este ano. Ele entende que o impeachment tem que ter um apoio popular grande, que enfraqueceu demais", disse o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), um dos aliados que compareceu ao jantar. "Mas não falou de prazo, de quando vai tomar a decisão dele. Se houver, é para 2016".

Segundo Rocha, Cunha disse que os fundamentos de alguns pedidos de impeachment que estão em sua gaveta "não têm sentido nenhum" e exemplificou. "Ele citou um que eu até achei graça. Um cara pegou notícia de jornal, uma coisa assim", relatou. O parlamentar disse que, para Cunha, o impeachment "vem com força total" se as contas de Dilma forem rejeitadas. "Ele acredita que as contas não serão rejeitadas no Congresso", afirmou.

Quastionado pelo Estado nesta quarta-feira, 18, sobre as declarações, o presidente da Câmara desconversou e disse que são "opiniões esparsas de vários".

Críticas. Na conversa, Cunha também demonstrou sua insatisfação com o PSDB, que passou a defender de forma mais contundente o afastamento do peemedebista da presidência da Câmara. "Ele falou da forma como o PSDB tratou ele dois dias atrás, dizendo que estava junto com ele e, dois dias depois, muda de ideia, não dá satisfação para ele. Ele ficou chateado. Não ficou colérico, mas ficou chateado", afirmou Rocha.

O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) também participou do encontro e confirmou em parte as informações de Hildo Rocha. "Este ano não tem mais nada(de impeachment). Ele disse que o PSDB abandonou o barco, que só no ano que vem para ele pensar", afirmou.

Acordo. Parlamentares que jantaram com Cunha também disseram que o peemedebista negociou com o governo a aprovação da DRU em troca da aprovação das emendas impositivas de bancada, uma de suas promessas de campanha a presidente da Câmara. "Este acordo é que se aprova a DRU desde que sejam aprovadas as emendas impositivas dos Estados", disse Rocha.
Na conversa, discutiu-se até os percentuais das emendas. Cunha quer 1,2%. O governo quer 0,6%. Mas o acordo deve ficar em 0,8%. Segundo Perondi, Cunha afirmou estar negociando com o governo há cerca de um mês.

Passaportes. Assim como no almoço com líderes partidários, Cunha também mostrou aos deputados que jantaram com ele seus passaportes com carimbos mostrando entradas e saídas em países africanos. O peemedebista tem exibido os documentos para comprovar sua versão de que acumulou dinheiro comercializando carne e outros alimentos na década de 1980. "Ele estava muito alegre por ter encontrado os passaportes", disse Hildo Rocha.

Ao Estado, Cunha confirmou acordo para aprovar a DRU "junto com o impositivo de bancada". Quanto à aprovação das contas de Dilma, o presidente da Câmara deu uma versão diferente. "Falei que acho que o Senado não rejeita", afirmou.

Cunha diz que clima para impeachment de Dilma esfriou

Por Raphael Di Cunto e Thiago Resende - Valor Econômico

BRASÍLIA - Em jantar com deputados do PMDB que defendem o impeachment da presidente Dilma Rousseff, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse que não há mais clima este ano para o andamento do processo e talvez nem no ano que vem, segundo relato de cinco pemedebistas. "Ele acha que o clima esfriou. A população não está mais mobilizada e sem isso não tem impeachment", afirmou o deputado Hildo Rocha (MA).

Cunha negou as declarações e disse que vai definir a resposta ao pedido de impeachment dos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Júnior, apoiado pela oposição, ainda este mês. "Não mudei nada a minha posição. Não procede", disse. "Não tratei desse assunto. Foram comentários difusos deles mesmos durante o jantar que eu não participo", afirmou.

Segundo os parlamentares, o jantar ocorreu na noite de quarta-feira, logo após o PSDB anunciar em plenário o rompimento da aliança com o presidente da Câmara, movimento que irritou o pemedebista. Os pemedebistas pediam há algum tempo uma reunião com o correligionário e Cunha os chamou para explicar as acusações sobre seu dinheiro no exterior.

Após Cunha mostrar passaportes de viagens à África e tentar se explicar, a conversa passou por vários temas, entre eles o impeachment. "O presidente defende o rompimento com o governo, mas nossa impressão é que ele não tem mais disposição para o impeachment", disse o deputado Carlos Marun (MS). "A rua perdeu o calor e essa Casa reflete as ruas", completou.

Na avaliação do grupo, além da falta de organização popular, o governo conseguiu uma base mínima para barrar o processo com a reforma ministerial e distribuição de cargos. "Não tem mais clima realmente. O governo fez uma recomposiçãozinha que garantiu alguns votos e, para afastar ela [Dilma], precisa de 342 votos pelo impeachment", disse Lúcio Vieira Lima (BA).

O sentimento dos pemedebistas, que não fazem parte do núcleo mais próximo do presidente da Câmara, é de que ele, com o PSDB rompido, vai segurar o processo para pressionar os três deputados do PT a votarem com ele no Conselho de Ética da Câmara, que começa a analisar hoje o parecer preliminar da representação que pretende cassar seu mandato.

De acordo com aliados, Cunha deve apresentar hoje sua defesa no Conselho e pode até pedir a suspeição do relator, deputado Fausto Pinato (PRB-SP), por suposto cerceamento de defesa e por informar, antes do fim do prazo, que o parecer é favorável ao andamento do processo. A estratégia é "tumultuar" a sessão do conselho e evitar a votação do parecer.

O presidente do Conselho de Ética da Câmara dos Deputados, José Carlos Araújo (PSD-BA), disse ao Valor que não há possibilidade de Pinato sair da relatoria. "Zero chance". E completou ainda com um aviso ao pemedebista: "Ele [Cunha] é presidente da Câmara, e eu sou presidente daqui [do Conselho de Ética]".

A contestação do parecer de Pinato pode levar o caso para a Comissão de Constituição e Justiça.

Impeachment perdeu força e fica para 2016, disse Cunha a peemedebistas

Débora Álvares, Ranier Bragon – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - O presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), disse a deputados da bancada do PMDB que a possibilidade de deflagração de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff perdeu força e ficará para 2016, no mínimo.

A posição foi repassada aos peemedebistas em jantar na casa do presidente da Câmara na quarta-feira da semana passada (11), mesmo dia em que o oposicionista PSDB formalizou publicamente o rompimento com Cunha.

Segundo declarações de deputados que participaram do jantar, todos favoráveis ao impeachment de Dilma, Cunha disse que não irá se posicionar sobre os principais pedidos de afastamento da petista neste ano, diferentemente do que vinha afirmando até então –ele dizia que tomaria uma decisão ainda em novembro.

"Ele disse ter a impressão de que a possibilidade de impeachment perdeu força, que não há nesse momento apoiamento popular, embora o ocorrido nas contas da Dilma [o Tribunal de Contas da União rejeitou a contabilidade de 2014] sejam fato para levar o impeachment adiante", afirmou o deputado Hildo Rocha (PMDB-MA), aliado de Cunha e que participou do jantar.

Segundo o deputado do PMDB do Maranhão, Cunha condicionou a possibilidade de deferir um pedido de impeachment somente se o Congresso ratificar a decisão do TCU pela rejeição das contas de Dilma. "Se isso acontecer, ele disse que a deflagração do impeachment volta à tona com toda a força, mas que neste ano não há a menor possibilidade de isso acontecer", completou Rocha.

O deputado Darcísio Perondi (PMDB-RS) fez outra avaliação da fala de Cunha durante o jantar. "Para mim, ele não pensa mais nisso de forma alguma. Se decepcionou com o PSDB, que não sabe de que lado fica e agora precisa estar com o governo".

Acusado de integrar o esquema de corrupção da Petrobras e respondendo a um processo de cassação, Cunha vinha se equilibrando entre oposição e governo na tentativa de angaria apoio para salvar seu mandato. Usa, para isso, a prerrogativa que tem de decidir, monocraticamente, sobre a sequencia ou não de pedidos de impeachment contra Dilma.

Na última semana, ficou clara uma inclinação em direção ao governo após o rompimento anunciado pelo PSDB, para quem é inconsistente a defesa que ele apresentou para explicar o patrimônio milionário que ocultou em contas na Suíça.

Há hoje na Câmara 10 pedidos de impeachment contra Dilma. O principal é o assinado pelos advogados Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal, documento que é chancelado pela oposição e por movimentos de rua anti-Dilma. Cunha vinha dizendo que iria decidir sobre esse pedido ainda em novembro.

Procurado pela reportagem, Cunha não quis se manifestar.

Autora de pedido diz que peemedebista está ‘prevaricando’

• Para a advogada Janaína Paschoal, Cunha utiliza a peça do impeachment para negociar futuro com o governo e a oposição

Pedro Venceslau, Valmar Hupsel Filho – O Estado de S. Paulo

Uma das signatárias do principal pedido de impeachment da presidente Dilma Rousseff protocolado na Câmara, a advogada Janaína Paschoal, professora de direito penal da Universidade de São Paulo, acusa o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), ter estar “prevaricando”ao procrastinar a decisão de acolher ou rejeitar o documento. “Ele está usando isso para negociar com o governo e a oposição. O artigo 319 do Código Penal diz que é crime de prevaricação quando alguém não cumpre seu dever de ofício por força de interesses pessoais.Cunha está segurando o processo para se segurar no cargo”, disse

A petição assinada por ela, em parceria com os juristas Miguel Reale Júnior e Hélio Bicudo, foi “adotada” pela oposição e grupos anti-Dilma. Em reunião com a bancada do PMDB na semana passada, o presidente da Câmara dos Deputados teria dito a deputados da bancada do partido que a possibilidade de deflagração de um processo de impeachment contra Dilma Rousseff perdeu força e ficará para 2016, no mínimo.

O PSDB, que tirou o impedimento do topo de sua lista de prioridades, também reagiu. “Primeiro ele falou que seria no começo do mês, depois no dia 25 e agora jogou para março de 2016. Com esse trunfo, Cunha quer continuar articulando a sua sobrevivência”, afirmou o deputado Silvio Torres (SP),secretário-geral do PSDB.

Ainda segundo Torres, o partido vai pressionar o presidente da Câmara para que ele tome uma posição.“A partir dessa nova posição dele, o partido vai se reunir para ver qual posição será adotada”, declarou

A assessoria de Cunha classificou como “inconsistente” a acusação de prevaricação e disse que a informação sobre a reunião do PMDB é improcedente. Cunha diz que se manifestará no “tempo já anunciado”. Apesar de o PSDB ter retirado o impeachment de sua lista de prioridades na Câmara, o partido alega que ainda está engajado na tese.

‘Meu filho tem que provar que fez a coisa certa’

• Em entrevista, Lula diz que Luis Claudio precisa explicar a relação que teve com lobista investigado na Zelotes

Sérgio Roxo - O Globo

-SÃO PAULO- O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em entrevista ao jornalista Roberto D’Ávila, exibida ontem na Globo News, que caberá ao seu filho caçula, Luis Claudio Lula da Silva, explicar a sua relação com o lobista Mauro Marcondes, investigado pela Operação Zelotes da Polícia Federal.

— Meu filho sabe o seguinte: ele tem que provar que fez a coisa certa. Tem que provar. E é importante que seja para provar mesmo. Se ele não provar, está subordinado à mesma Constituição que eu estou, às mesmas leis que eu estou. É chato? É. Mas é bom — disse Lula.

A empresa de Luis Claudio, a LFT Marketing, recebeu R$ 2,5 milhões da Marcondes & Mautoni, que teria feito lobby no Planalto para aprovação de uma medida provisória que beneficiou a indústria automobilística, em 2009.

Na entrevista, o ex-presidente também disse que os funcionários da Petrobras envolvidos com corrupção trabalhavam na estatal antes da sua chegada ao poder, e que tirar a presidente Dilma Rousseff do cargo seria “pisotear a Constituição”.

Apesar de defender a necessidade de seu filho se explicar, Lula se queixou de receber tratamento diferenciado de outros políticos e garantiu que nunca teve relações irregulares com qualquer empresário:

— Fui presidente do sindicato (dos metalúrgicos de São Bernardo do Campo e Diadema), fui presidente do PT, fui presidente da República e nunca um desgraçado neste país falou assim para mim: “Ô Lula, quero te dar uma pera.” Se tem uma coisa que eu tenho orgulho, é isso. SUSTO COM CORRUPÇÃO Questionado por Roberto D’Ávila se ficou surpreso com o fato de as investigações da Operação Lava-Jato mostrarem que uma quadrilha atuava dentro da Petrobras, Lula disse:

— Acho o seguinte, acho que foi um susto para mim. E foi um susto para o mundo. As pessoas que estão participando dessa quadrilha são pessoas que têm mais de 30 anos de Petrobras. São pessoas que entraram na Petrobras, nem no governo do Fernando Henrique Cardoso, entraram nos anos 70, nos anos 80.

O ex-presidente se esquivou da responsabilidade sobre a nomeação de diretores da estatal que depois foram envolvidos na Lava-Jato:

— Eu espero que um dia Deus, vendo tudo que está acontecendo no Brasil, carimbe na testa das pessoas o que ele vai ser quando ele tiver um emprego. Você sabe que muitas vezes aquele cara que parece que é santo, na verdade é bandido. O que parece bandido é um santo.

Indagado pelo jornalista sobre a prisão do ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto, acusado de arrecadar para o partido dinheiro desviado da Petrobras, Lula alegou que outros partidos também receberam contribuições das mesmas empresas:

— Você acha que o tesoureiro do PSDB que foi buscar dinheiro para campanha do Aécio, ia lá (e ouvia): “Bom, esse aqui é o cofre limpo, esse aqui é pro PSDB”. Vai o cara do PMDB: “Esse aqui é outro cofre limpo”. Aí quando era o PT, tem que ir para o cofre sujo. Você acha que é assim que funciona? Pega a quantidade de dinheiro que as empresas da Lava-Jato contribuíram para o PT e para o PSDB.

Lula negou que esteja trabalhando para que Dilma troque Joaquim Levy por Henrique Meirelles no comando da Fazenda.

— Eu não quero tirar o Levy, nem quero colocá-lo. O Levy e o ministro da Fazenda são um problema da presidenta Dilma.

O líder petista argumentou que evitou dar entrevistas, nos últimos anos, para não interferir no governo da sua sucessora:

— Um ex-presidente precisa tomar muito cuidado para não dar palpite. É como se o ex-marido fosse aconselhar o novo marido como é que tem que cuidar da mulher. Ou a ex-mulher fosse aconselhar a mulher nova como vai cuidar do marido.

Erro na política de subsídios
Voltou ainda a repetir que “um dos erros de Dilma” que agravaram a crise econômica foi manter a política de subsídios.” Por outro lado, disse que a presidente está certa de fazer o ajuste fiscal:

— O que está errado é que ele (o ajuste) está demorando demais, e não é culpa dela, porque nós temos uma crise política muito séria. Há uma confrontação de um ano entre Legislativo e Executivo, e isso não é bom.

Em outro trecho, Lula afirmou que há uma “crise política difícil de resolver” por causa da falta de controle sobre as bancadas:

— Mas me parece que o Eduardo Cunha tem um poder muito grande dentro da Câmara. Antigamente, você resolvia isso conversando com ministro. E o ministro de cada partido entregava os votos. Hoje, os presidentes não mandam nos partidos. Os ministros não coordenam as suas bases e os líderes também não.

Mas, apesar das dificuldades, Lula garantiu ter convicção de que Dilma vai “terminar o mandato muito bem”.

— Até porque qualquer coisa que não permita ela chegar será você pisotear a Constituição brasileira. Porque não existe nenhum motivo para se imaginar que a Dilma tem que sair.

Na avaliação do petista, o caminho para superar a crise passa por convencer os empresários a voltar a investir e pela utilização de bancos públicos para melhor a oferta de crédito.

Schahin diz que Bumlai era acesso indireto a Lula

Por André Guilherme Vieira - Valor Econômico

SÃO PAULO - Em seu primeiro depoimento em delação premiada prestado à força-tarefa da Operação Lava-Jato, em Curitiba, o empresário Salim Schahin relatou que o pecuarista José Carlos Bumlai afirmou que poderia facilitar a negociação para que a Schahin conquistasse o contrato de operação do navio-sonda Vitoria 10000 da Petrobras. Ele também confirmou o empréstimo de R$ 12 milhões concedido a Bumlai, em 2004.

Segundo Schahin, o pecuarista teria dito que parte dos R$ 12 milhões poderia ser destinada ao PT. A delação do acionista do Grupo Schahin foi homologada na terça-feira pelo juiz federal Sergio Moro e está sob segredo de Justiça. Schahin terá de pagar multa de R$ 1,5 milhão a título de ressarcimento por prejuízo causado à Petrobras.

Ao procurador da República Diogo Castor de Mattos, Salim Schahin disse que, em 2007, Bumlai fez chegar a alguém da Schahin que ele mantinha uma interlocução muito próxima com o Palácio do Planalto e que isso poderia facilitar o negócio buscado pela empresa.

Um dos principais acionistas do grupo, responsável pelo banco da empresa, Salim Schahin contradisse a versão apresentada pelo também delator e ex-gerente da Petrobras, Eduardo Musa. O ex-gerente afirmara que a operação da sonda Vitoria 10000 teria sido entregue à Schahin em troca da quitação de uma suposta dívida de R$ 60 milhões da campanha de reeleição de Luiz Inácio Lula da Silva com o banco Schahin.

Mas, segundo relatou o empresário, a suposta dívida eleitoral milionária do PT nunca existiu, e Musa pode ter se confundido ou mentido para tentar obter benefícios em troca de informações. O PT tem dito que nunca fez empréstimo no valor de R$ 60 milhões com o banco Schahin.

Sobre a suspeita de o empréstimo de R$ 12 milhões ter sido contrapartida ao apoio de Lula para a obtenção do contrato da sonda (no valor de US$ 1,6 bilhão) sem licitação, Schahin disse que havia na empresa um entendimento de que o apoio de Bumlai representaria o apoio indireto do então presidente Lula. No entanto, o empresário ressaltou que nunca tratou diretamente com Lula sobre o negócio.

Salim Schahin explicou que não houve nenhuma amortização da dívida feita por Bumlai e que depois de algum tempo o empréstimo "acabou esquecido", porque não foi pago. Ele contou que somente em 2009 o banco Schahin viabilizou um acordo com Bumlai para liberá-lo da dívida.

Na versão apresentada pelo acionista da Schahin, a intermediação com Lula proposta por Bumlai foi um processo que se estendeu por dois anos. O empresário disse que as negociações que levaram a Schahin a conquistar a operação da sonda Vitoria 10000 envolveram tratativas financeiras, jurídicas e de engenharia "complexas".

Salim Schahin alegou que não houve fraude à licitação referente a sonda. Segundo ele, tratou-se de um negócio internacional e a Petrobras tinha o hábito de usar o modelo de carta-convite.

Por meio de sua assessoria de imprensa, Bumlai disse que "beira as raias da irresponsabilidade" a percepção de que ele poderia ser um intermediário entre grupos empresariais e o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva. "O próprio delator ressalva que nunca conversou com Lula sobre o negócio, nem ouviu do próprio Bumlai qualquer afirmação sobre suposto incentivo do petista".

O comunicado diz ainda que "José Carlos Bumlai efetivamente tomou empréstimo de R$ 12 milhões do Banco Schahin, mas pagou-o integralmente em 2009, em bens aceitos pela Securitizadora Schahin, cessionária do crédito do banco que, consequentemente, deu quitação do débito. Houve uma dação em pagamento, devidamente documentada. A pretensa informação de que a dívida teria sido 'perdoada' é, portanto, uma inverdade absoluta".

Procurado pela reportagem, o Instituto Lula disse que o ex-presidente nunca autorizou qualquer pessoa a negociar em seu nome.

"O Levy é problema da presidente Dilma", diz Lula

Por Cristiane Agostine e Carmen Munari – Valor Econômico

SÃO PAULO - Em meio a especulações sobre a troca no comando do Ministério da Fazenda, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva negou ontem ter feito pressão para nomear o ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles no lugar de Joaquim Levy. Em entrevista ao jornalista Roberto D'Avila, veiculada na Globonews, Lula disse que o ministro da Fazenda é um problema da presidente Dilma Rousseff e que não quer nem tirar Levy nem defendê-lo.

"Eu às vezes vejo coisa escrita que fico pasmo. 'Lula quer tirar Levy...' Eu não quero tirá-lo nem quero colocá-lo. O Levy, o ministro da Fazenda é um problema da presidente Dilma", afirmou. "Somente Dilma sabe. Eu estou vendo muito boato, muita bobagem", disse, ao ser questionado sobre o que muda com uma eventual nomeação de Meirelles no lugar de Levy.

Lula disse que ficou cinco anos sem dar entrevistas porque um "ex-presidente precisa ter muito cuidado para não dar palpite". "É como se ex-marido fosse aconselhar o novo marido como tem que cuidar da mulher", comparou. Na entrevista, o ex-presidente procurou reforçar que Dilma tem suas próprias opiniões e que faz o que ela quer. "Dilma sabe o que eu penso. A presidente tem as convicções dela", afirmou. "Se ela pedir opinião, eu darei". O ex-presidente comentou que se um dia houver divergência com sua sucessora, "ela estará certa". "Não quero ficar dizendo o que ela tem que fazer".

Na entrevista, Lula foi questionado se pretende falar com lideranças políticas como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-senadora Marina Silva (Rede) para tentar construir um acordo para superar a crise política e sinalizou, em sua resposta, que não teve nenhum pedido da presidente para que fizesse essa mediação. "Quando duas pessoas que são políticas e querem falar em nome de alguém primeiro precisa saber se tem procuração dos partidos e se o governo tem interesse de receber sugestão", disse.

Lula criticou decisões do governo na área econômica e disse que a crise política continua "muito séria" e "difícil de resolver", mesmo depois de Dilma ter feito mudanças em seu ministério e repactuado a base de apoio no Congresso.

Ao falar sobre a economia, disse que o país enfrenta uma crise não só por conta dos problemas no cenário internacional, mas também por erros do governo. "Nós cometemos erros. Um dos erros foi manter política de subsídio porque precisou manter o nível de emprego", afirmou. "Dilma começou a perceber que estava saindo mais água da caixa do que entrando e era preciso propor ajuste. Ela sabe o prejuízo que teve e teve coragem de manter. É importante que se diga em alto e bom som: responsabilidade fiscal não é mérito, é obrigação", disse. "Dilma está correta de fazer o ajuste fiscal. O que está errado é que está demorando demais".

O ex-presidente afirmou, no entanto, que a turbulência que marca o governo "não é culpa" de Dilma, mas sim da crise política. Lula disse que a Câmara mantém-se sob forte influência do presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e que os líderes partidários, inclusive o do PMDB, com quem o governo tem buscado uma aproximação, não têm a representatividade nem o poder que tinham no passado sobre as bancadas.

Apesar de apontar problemas do governo, Lula disse que sua sucessora terminará o mandato em 2018 e que não há justificativas para um eventual impeachment. "Tenho certeza de que [Dilma] vai terminar o mandato. Qualquer coisa que não permita será pisotear a Constituição. Não há possibilidade e não existe nenhum amparo legal", disse na entrevista de cerca de 40 minutos.

O ex-presidente disse que é "normal" que as pessoas queiram tirar o PT do governo, porque o partido está em seu quarto mandato na Presidência, mas ponderou que também é "normal que o PT queira ficar" no cargo. Lula voltou a dizer que poderá tentar a Presidência novamente, em 2018, mas afirmou que só será candidato se "tiver alguém que tenha um projeto de governo que destrua tudo" o que o PT fez na área social.

Lula nega pressão por Meirelles na Fazenda

• Ex-presidente afirmou, em entrevista na TV, que não trabalha pela queda de Joaquim Levy

- O Estado de S. Paulo

O ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta quarta-feira, 18, que nunca trabalhou para que a presidente Dilma Rousseff substitua o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles. “Eu, às vezes, vejo coisas escritas e fico pasmo. ‘Lula quer tirar o Levy’. Eu não quero tirar o Levy, nem quero colocá-lo”, disse o ex-presidente

Em entrevista ao programa Conexão Roberto D’Avila, da GloboNews, exibida no início da noite de ontem, Lula defendeu a responsabilidade fiscal e a necessidade de um ajuste orçamentário no governo, mas disse que Dilma está demorando demais para executar o plano por causa da crise política.

“Dilma está correta de fazer o ajuste fiscal. O que está errado é que ele está demorando demais, e não é culpa dela, porque nós temos uma crise política muito séria.”

O ex-presidente Lula também defendeu um pacto para tirar o Brasil da crise. “Há uma confrontação de um ano entre o Legislativo e o Executivo, e isso não é bom. O que seria importante é que nós pactuássemos uma saída para este País”, avaliou o petista na entrevista.

Diálogo. No entanto, ao ser diversas vezes indagado sobre a possibilidade de abrir um diálogo com outras lideranças, como o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB) e a ex-ministra Marina Silva (Rede), Lula refugou. Segundo ele, o diálogo só seria efetivo se houvesse respaldo dos respectivos partidos.

Questionado se a iniciativa deveria partir do governo, Lula respondeu: “Obviamente”.

Ao fim do programa, indagado sobre a possibilidade de participar de um debate público com FHC, o petista encerrou a conversa. “Não. Dilma e Aécio (Neves, candidato do PSDB derrotado à Presidência em 2014) é quem tem que fazer debate”, disse ele.

Filhos. Pela primeira vez, Lula falou sobre o fato de seu filho caçula, Luís Claudio Lula da Silva, estar sob investigação da Polícia Federal.

“Meu filho sabe o seguinte. Ele tem que provar que fez a coisa certa. Ele tem que provar. E é importante que seja para ele provar mesmo, porque se não provar ele está subordinado à mesma Constituição que eu estou, às mesmas leis que eu estou. É chato? É. Mas é bom.”

A LFT Marketing Esportivo, pertencente a Luís Cláudio, foi alvo de uma busca da PF em outubro. A empresa recebeu R$ 2,5 milhões da consultoria Marcondes & Mautoni, suspeita de fazer lobby pela suposta venda de uma medida provisória.

O ex-presidente aproveitou para fazer uma defesa do filho mais velho, Fábio Luiz, o Lulinha, que, segundo o petista, é alvo “da maior quantidade de mentira da história do País”.

Lula criticou o que chama de “vazamentos seletivos” na Operação Lava Jato, mas disse que o resultado final da investigação “vai ser benéfico para o Brasil”. Ao falar sobre os boatos de que ele próprio seria alvo da Lava Jato, Lula quase foi às lágrimas. “O que eu acho grave é que o mesmo critério adotado comigo não é adotado com os outros. Eu tenho que provar que não tenho culpa. Só tenho um valor na vida. É vergonha na cara.”

Para Lula, diálogo entre governo e oposição depende de Dilma

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, um diálogo entre governo e oposição para enfrentar a atual crise depende da presidente Dilma Rousseff (PT).

Ele manifestou essa posição nesta quarta (18) em entrevista ao jornalista Roberto D'Avila, na GloboNews. O jornalista perguntou se cabe ao governo puxar a iniciativa. "Obviamente", foi a resposta.

O petista defendeu, porém, a necessidade levar uma "proposta concreta" e de "certo respaldo" para a negociação. "Se você conversar uma vez e não tiver uma proposta concreta, você desmoraliza a proposta política."

Para que ex-presidentes, como o tucano Fernando Henrique Cardoso, sejam chamados para conversar, disse Lula, é preciso saber se eles têm procuração de seus partidos para falar.

Trata-se de uma referência indireta às divisões do PSDB. Uma parte do partido faz oposição intransigente a Dilma, defendendo até o impeachment. Outro grupo, do qual FHC faz parte, tem se comportado de forma menos radical.

Lula defendeu que "nós pactuássemos uma saída para esse país", mas apontou como problema "uma confrontação de um ano" entre Legislativo e Executivo.

O petista afirmou que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), tem muito poder na Casa. E que o líder do partido (Leonardo Picciani-RJ), com quem Dilma negociou reforma ministerial, "não tem a força que parecia que tinha".

Na entrevista, Lula salientou que já teve boa relação com o PSDB, citando o apoio que deu às candidaturas vitoriosas do tucano Mário Covas (1930-2001) ao governo paulista em 1994 e 1998. Outro caso foi o apoio do PSDB à então petista Marta Suplicy à Prefeitura de São Paulo em 2000, também vitoriosa.

Em julho, Lula autorizou amigos em comum a procurar FHC e propor uma conversa. O Planalto expressou apoio, mas a proposta acabou sendorechaçada por setores do PSDB e, depois, por FHC.

No mês passado, a ex-senadora Marina Silva (Rede) defendeu a ideia de buscar diálogo com Lula e FHC para ter governabilidade.

Ajuste
Na entrevista, Lula negou intenção de tirar Joaquim Levy do Ministério da Fazenda. "Não quero tirar o Levy nem quero colocá-lo".

E defendeu a necessidade de fazer ajuste fiscal. "Responsabilidade fiscal não é mérito, é obrigação", disse.

Para o petista, a necessidade do ajuste só surgiu após a reeleição. "Dilma começou a perceber que estava saindo mais água da caixa do que entrando água. Daí, a contradição do discurso da campanha e o que aconteceu", afirmou.

Lula admitiu que Dilma cometeu erros e citou a política de subsídios como exemplo.

Filho investigado
Sobre seu filho caçula, Luis Cláudio Lula da Silva, alvo de investigação da Polícia Federal, Lula disse que "ele tem que provar que ele fez a coisa certa". "É chato? É, mas é bom", afirmou, sobre o caminho da Justiça.

MP pede quebra de sigilos de Carvalho

• Pedido da Operação Zelotes é extensivo às empresas de Luis Claudio Lula da Silva

Jailton Carvalho - O Globo

-BRASÍLIA- Procuradores que estão à frente da Operação Zelotes endossaram sugestão da Receita Federal e pediram a quebra dos sigilos bancário e fiscal do ex-secretário-geral da Presidência Gilberto Carvalho e também da LFT Marketing Esportivo e mais duas empresas de Luis Claudio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O pedido foi apresentado no mês passado. Caberá ao juiz da 10ª Vara Federal, Vallisney Oliveira, decidir se os argumentos são suficientes para autorizar uma devassa nas contas do ex-ministro e das empresas do filho do expresidente. A Receita Federal sugeriu a quebra do sigilo bancário e fiscal a partir de investigação sobre a atuação de um grupo de lobistas supostamente chefiado pelo ex-vice-presidente da Anfavea (Associação Nacional dos Fabricantes de Veículos Automotores) Mauro Marcondes.

O grupo é acusado de receber mais de R$ 32 milhões da Caoa e da MMC, representantes da Hyundai e Mitsubishi, para comprar trechos de uma medida provisória favoráveis às duas montadoras. A medida foi editada em 2009 pelo então presidente Lula e aprovada pelo Congresso. O texto foi reeditado em 2011 e 2013.

A PF identificou diversos políticos e servidores públicos que tiveram contato com Mauro Marcondes
durante as negociações da medida provisória de isenção fiscal para as montadoras. Entre essas pessoas está Carvalho. Em depoimento à PF em 26 de outubro, Carvalho disse que agendou reunião de Marcondes com Lula.

Carvalho argumenta que Marcondes era vice-presidente da Anfavea e, portanto, era natural que fosse recebido pelo presidente. Segundo ele, vários outros empresários do setor se reuniram com Lula para tratar da MP.

Os investigadores da Zelotes querem aprofundar a apuração sobre pagamentos de R$ 2,4 milhões de uma empresa de Marcondes para a LFT Marketing Esportivo, em 2014.

Em depoimento à PF, Marcondes disse que contratou a LFT para fazer pesquisas e consultorias relacionadas ao marketing esportivo. A PF acha as explicações insuficientes. A empresa de Luis Claudio não tem funcionários.

Carvalho disse que não vê problema na quebra do sigilo bancário e fiscal dele. Afirmou que, quando compareceu a PF para depor, colocou a disposição dos investigadores as contas bancárias, fiscais e telefônicas. Ele só não concorda com a proposta inicial da Receita de estender a quebra dos sigilo aos contas de um restaurante que a filha tinha em Brasília. O restaurante faliu:

— Da minha parte estou tranquilo. Sou homem público, não tenho problema em ser investigado. Só espero que excluam a minha família. O restaurante faliu. Vai ser uma exposição pública desnecessária.

Dilma teme passar imagem de que ‘entregou’ governo

Vera Rosa - O Estado de S Paulo

BRASÍLIA - A resistência da presidente Dilma Rousseff a substituir o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, vai além do inconveniente de fazer mudanças em plena votação das medidas do ajuste fiscal. Dilma avalia que trocar Levy pelo ex-presidente do Banco Central Henrique Meirelles é o mesmo que entregar o governo para Luiz Inácio Lula da Silva, seu padrinho político.

Após muita insistência, na linha “água mole em pedra dura tanto bate até que fura”, Lula conseguiu tirar os superpoderes de Aloizio Mercadante e encaixar no núcleo duro do Palácio do Planalto os ministros Jaques Wagner (Casa Civil) e Ricardo Berzoini (Secretaria de Governo), dois petistas de sua inteira confiança.

Dilma sabe que, se ceder agora o comando da economia, passará a imagem de que virou uma rainha da Inglaterra, justamente no momento em que busca recuperar popularidade.

Diante da rebeldia da afilhada, que disse não concordar com tudo o que seu padrinho diz, Lula começou a negar com mais ênfase que tenha indicado Meirelles para o lugar de Levy. O desmentido em público, porém, não condiz com suas ações nos bastidores para emplacar o ex-presidente do Banco Central na cadeira hoje ocupada pelo ex-executivo do Bradesco.

Meirelles ficou envaidecido com a lembrança de seu nome por Lula, com quem trabalhou oito anos, mas não foi convidado por Dilma. Ela até admite que, se a economia degringolar, terá de dispensar Levy em 2016, mas não tem afinidade com o preferido do ex-presidente.

Há nove dias, porém, no auge dos rumores sobre a troca na Fazenda, Meirelles não escondeu a satisfação com o impacto da boataria no mercado. Ao ser flagrado conferindo uma notícia no seu celular, minutos após aparecer ao lado de Levy na Confederação Nacional da Indústria (CNI), em Brasília, ele exclamou: “Oh, o dólar está caindo!”.

PSDB lança documento com propostas anticrise e rivaliza com PMDB

Por Painel – Folha de S. Paulo

Para chamar de seu O PSDB também prepara um documento para se posicionar como alternativa de poder e apresentar saídas para a crise. O texto, que será lançado na segunda semana de dezembro, terá foco na área social e servirá de trampolim para tentar recolocar o partido como protagonista da cena nacional, palco até aqui ocupado pelo PMDB. Presidente da legenda, o senador Aécio Neves dirá que “o PT fracassou na última bandeira que lhe restava como discurso”.

Notáveis Aécio pediu a economistas ideias para contornar a crise. O grupo é organizado por Armínio Fraga. O PSDB também prepara a revisão de pontos de seu programa partidário. Para tucanos, o PMDB não pode conquistar o papel de salvador da pátria.

PSDB reage e chama documento do PMDB de peça de ficção

Daniela Lima – Folha de S. Paulo

BRASÍLIA - A cúpula do PSDB no Senado reagiu nesta quarta-feira (18) à tentativa de setores do PMDB ligados ao vice-presidente Michel Temer de se credenciar como porta-voz de uma agenda austera na economia para tirar o país da crise.

Presidente nacional dos tucanos, o senador Aécio Neves (MG) disse que "levaria mais a sério" a proposta do PMDB se o partido "deixasse os sete ministérios que ocupa no governo para defender" ao lado da oposição asideias que apresenta no documento intitulado "Ponte para o futuro".

Ele insinuou ainda que o PMDB se apropriou de propostas feitas pelos tucanos durante a última eleição presidencial, quando foi o candidato da sigla ao Planalto. "Levaria mais a sério se o PMDB deixasse os sete ministérios que ocupa para defender ao nosso lado essas propostas, muitas convergentes com as nossas, que defendemos na campanha eleitoral", afirmou o tucano.

Aécio afirmou ainda que "enquanto o PMDB integrar o governo, esse programa passa a ser algo secundário", como uma peça de marketing.

Questionado se havia risco de os tucanos verem seu discurso roubado pelos peemedebistas, respondeu: "Não vou nem considerar séria essa pergunta. O PSDB dá as boas-vindas ao PMDB no debate das questões do Brasil, mas o partido majoritariamente ainda prefere os cargos que têm no governo", concluiu.

Do nada para lugar nenhum
Líder da bancada tucana no Senado, Cassio Cunha Lima (PB) foi mais longe e disse que o documento apresentado pelo PMDB é "uma ponte que liga o nada para lugar nenhum".

"O PMDB é muito inovador e agora quer fazer oposição estando dentro do governo. A peça é uma ficção política", concluiu.

Para Cunha Lima, a repercussão do documento é um reflexo do "vazio" que domina o cenário atual e representa uma "humilhação" para a presidente Dilma Rousseff. "O maior partido da aliança apresenta propostas na direção contrária que eles pregam. Só um governo muito fragilizado... é a humilhação suprema."

Documento do PMDB dá oportunidade para Dilma – Editorial / O Globo

• À parte análises e especulações em torno dos propósitos do vice Michel Temer com o documento econômico do partido, ele serve de base a uma ampla negociação com o governo

Fritura de ministro da área econômica pelo núcleo do poder é parte da crônica política do país toda vez que a economia entra em pane. Compreensível. Mas a situação se agrava quando esse tipo de conspirata degrada ainda mais o próprio cenário econômico, num certeiro tiro no pé. Louve-se, portanto, a coragem da presidente Dilma de, antes de embarcar de volta na Turquia, depois da reunião do G-20, respaldar o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, o qual figuras estreladas do PT desejam debilitar. “Fica onde está", enfatizou a presidente.

Assim, Dilma concede ao ministro a força de que ele necessita para avançar na direção correta num imprescindível ajuste fiscal. Sem ele, insista-se, os horizontes da economia não se desanuviarão, as pressões inflacionárias se manterão e investidores e consumidores continuarão recolhidos, enquanto o PIB encolhe e persiste a onda de desemprego. Uma queda livre no princípio profundo de uma recessão poucas vezes vista no país.

Terça-feira, no dia seguinte ao da declaração de Dilma de respaldo a Levy, o PMDB, formalmente o segundo maior partido da base do governo, lançou, em um congresso da legenda, de forma oficial, o documento “Uma ponte para o futuro”. Trata-se de um texto bem articulado, com propostas consistentes para o Brasil sair do atoleiro para onde foi levado desde que a partir do segundo mandato de Lula e no primeiro de Dilma o programa do velho PT foi aplicado sob o nome fantasia de “novo marco macroeconômico”.

O PMDB não pode ser comprado pelo valor de face, sabe-se. Nunca é de fato o que parece, porque se trata de uma federação de tendências, mantidas no mesmo barco pela proximidade dos cofres públicos e pela perspectiva de se manter neste mesmo lugar, independentemente de quem esteja no Planalto. Foi assim nos governos do PSDB, é assim nos do PT, será assim sempre.

Mas é certo que o partido, por meio do vice-presidente da República, Michel Temer, e presidente da legenda, conseguiu, com este documento, firmar um referencial na crise política que permite negociações sobre um projeto de efetiva solução da séria crise econômica.

Há diversas especulações e análises sobre o objetivo peemedebista com o lançamento das propostas. Seria a plataforma para Temer negociar o apoio a seu governo, na eventualidade de Dilma sucumbir a um impechment.

Importa é que Dilma precisa do apoio do PMDB para fazer o necessário ajuste fiscal, incluindo reformas como a da Previdência, além de outras mudanças em leis e na própria Constituição, para impedir que as despesas públicas continuem a crescer mais que as receitas, fórmula infalível de uma debacle fiscal já em curso.

Este é o ajuste imprescindível. O documento do PMDB, baseado na visão correta de um ajuste estrutural, não deixa de ser um convite ao entendimento com Dilma. Ela deveria aceitá-lo.

O PMDB como ele é – Editorial / O Estado de S. Paulo

Nada é mais tristemente representativo da realidade política brasileira do que esse poderoso partido-ônibus – porque nele cabem todos – chamado PMDB. Sua liderança mais expressiva – Michel Temer, não por acaso vice-presidente da República – é a figura emblemática desse fenômeno político-partidário que sintetiza a lógica segundo a qual o que justifica a existência de um partido político é a luta pelo poder. No caso peculiar do PMDB, contudo, é preciso esclarecer: qualquer poder. Não há outra explicação, por exemplo, para a legenda comandada por Michel Temer ser há anos a principal aliada de um governo fortemente estatizante – no qual ocupa hoje nada menos do que sete ministérios – e simultaneamente defender um programa de governo, a “ponte para o futuro” proposta pela Fundação Ulysses Guimarães, que, entre outras coisas, contém propostas para reduzir o papel do Estado.

Essa é uma contradição admissível no caso de coalizões de emergência destinadas a superar crises graves que colocam em risco a estabilidade institucional. Poderia até ser o caso no Brasil. Mas não é – pelo menos por enquanto – seja porque as instituições fundamentais de nosso sistema democrático se têm demonstrado suficientemente sólidas, seja porque as principais lideranças políticas, especialmente as que estão no poder, revelam-se incapazes de compartilhar de fato esse poder para tirar o País do impasse político e do atoleiro econômico. Ninguém demonstra desprendimento ou disposição de colocar em risco seus ativos políticos em favor do bem comum.

E foi exatamente isso que fez o PMDB no curioso encontro que promoveu na terça-feira em Brasília, no qual foi tudo montado para mostrar que o partido é exatamente aquilo que cada uma de suas muitas facções quer que ele seja. Na fala principal, Michel Temer exercitou a retórica da conciliação do inconciliável, colocando-se suficientemente distante de Dilma Rousseff para manter animados os defensores do rompimento com o governo petista, mas também minimamente fiel à aliança com o Planalto para tranquilizar os muitos correligionários que desfrutam das benesses do poder.

Temer recorreu a uma sucessão de clichês: “Nós estamos juntos procurando soluções para o País. Não é de hoje que temos falado em reunificar o pensamento nacional e pacificar a Nação. Não é da índole do brasileiro a disseminação do ódio”. E ainda se permitiu um rasgo de modéstia – “por enquanto não, obrigado” – quando grupos entoaram o coro “Brasil/Pra frente/Temer presidente”. E estendeu-se na explicação: “Vamos esperar 2018. Vamos lançar um grande nome do PMDB. Estou encerrando minha vida pública”. Acredite quem quiser, até porque ele já contratou um advogado especialista em legislação eleitoral para tentar desvincular sua candidatura a vice em 2014 da candidatura de Dilma Rousseff, de modo a impedir que eventual cassação do mandato da presidente pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE) atinja também seu mandato de vice-presidente, impedindo-o de assumir a chefia do governo.

Em resumo, o “congresso” peemedebista, que chegou a ser visto como primeiro passo para a formalização do rompimento com Dilma, resumiu-se a uma encenação da qual o PMDB saiu exatamente como entrou: confortavelmente instalado no governo e à espera da melhor oportunidade para assumir o papel político a que se considera destinado diante da falência do projeto de poder do PT. Essa oportunidade parece estar reservada para o meio do próximo semestre, quando os previsíveis agravamentos da crise econômica e do enfraquecimento político de Dilma e do PT coincidirão com a Convenção Nacional do PMDB, agendada para o mês de março.

Até lá – certamente Temer torce também para isso – o partido pode ter-se livrado do constrangimento de ostentar como uma de suas principais lideranças o mendaz presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha, alvo de hostilidades na reunião de Brasília. E, acima de tudo, o País estará a apenas sete meses das eleições municipais, estratégicas para o fortalecimento da hegemonia política de um partido que fará o possível para poupar seus candidatos de qualquer tipo de associação com tudo o que o PT representa.

Por um triz – Editorial / Folha de S. Paulo

Após meses de agonia, o governo federal debelou uma das principais ameaças ao ajuste das contas públicas. Em votação realizada na terça-feira (17), o Congresso manteve o veto da presidente Dilma Rousseff (PT) ao reajuste dos servidores do Poder Judiciário. Estimava-se em R$ 36 bilhões até 2019 o impacto dessa medida.

"Foi por um triz", disse o líder do governo na Câmara, José Guimarães (PT-CE). Referia-se ao fato de só 132 deputados terem se mostrado fiéis à presidente, ao passo que outros 251 votaram contra o governo, incluindo nove petistas e 26 peemedebistas. A demagogia precisava de apenas seis votos a mais.

Na sessão desta quarta-feira (18), o Planalto obteve nova vitória. Com 160 votos favoráveis à canetada presidencial e 211 contrários, a Câmara dos Deputados preservou o veto ao dispositivo que estendia a aposentados e pensionistas do INSS os aumentos do salário mínimo acima da inflação –com custo anual calculado em R$ 9,2 bilhões.

Mesmo dispondo de uma base frágil e descoordenada, o Planalto tem conseguido sobreviver ao campo minado em que se transformou o Congresso. Desarmou a "pauta-bomba" do Legislativo e, ao menos por ora, viu reduzirem-se as chances de ser aberto processo de impeachment contra Dilma.

Foi igualmente por um triz. O deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), investigado na Operação Lava Jato, terminou alvejado no exato momento em que parecia disposto a dar encaminhamento favorável aos pedidos da oposição.

Enfraquecido pelas denúncias de corrupção e por ter mentido a respeito das contas bancárias na Suíça, o presidente da Câmara perdeu o apoio do PSDB. Na semana passada, Cunha confidenciou a aliados sua decepção com os tucanos e disse que a deflagração do impeachment, já não tendo o mesmo apelo, ficou para 2016, no mínimo.

O próprio PSDB, desgastado pela falta de coerência doutrinária exibida nos últimos meses, sinaliza a intenção de dialogar com o governo quando estiverem em questão projetos de interesse do país.

O cenário de arrefecimento das tensões políticas se refletiu no encontro do PMDB, na terça-feira (17). O evento, que chegou a ser anunciado como marco da ruptura com o Planalto, transcorreu sem críticas mais incisivas à gestão da presidente Dilma Rousseff –e coube ao vice, Michel Temer, desautorizar gritos pró-impeachment.

Claudicante como tem sido ao longo de todo este ano, o governo pelo menos ampliou sua vexatória lista de vitórias no campo político. Conhece agora um arremedo de calmaria –mas decerto receia que seja apenas o prenúncio de novas tempestades.

Levy defende proposta que fixa teto para dívida da União

• Projeto de José Serra, porém, é criticado pela equipe econômica no Senado

Martha Beck – O Globo

-BRASÍLIA- A audiência pública da Comissão de Assuntos Econômicos (CAE) do Senado, realizada ontem, para debater o projeto que fixa tetos para as dívidas líquida e bruta da União, acabou se tornando o retrato da falta de sintonia na equipe econômica. Em cima da hora, o ministro da Fazenda, Joaquim Levy, decidiu ir à CAE para defender a proposta, alegando que ela é um instrumento importante para disciplinar os gastos públicos. No entanto, logo em seguida, técnicos da própria Fazenda e do Planejamento fizeram uma série de ressalvas ao texto, que é relatado pelo senador José Serra (PSDB-SP).

Os sinais trocados chegaram a confundir aliados. O senador Lindbergh Farias (PT-RJ) ouviu a fala de Levy e logo em seguida perguntou ao ministro qual era exatamente sua posição em relação ao projeto. Ele lembrou que foram feitas consultas ao Tesouro Nacional e ao Banco Central sobre o assunto e que as duas áreas se manifestaram contra a ideia:

— Eu sou da base e estou confuso. Conversei com o Banco Central e com o Tesouro e todos foram contra o projeto. Não estou entendendo a posição do ministro.

Levy respondeu que quis se posicionar sobre o espírito do projeto e não necessariamente sobre os limites nele fixados. O ministro definiu o texto como “disciplinador” e afirmou que o Tesouro iria apresentar uma série de cenários alternativos aos do texto de Serra, com soluções para a trajetória de crescimento da dívida nos próximos anos:

— Esse é um projeto disciplinador. Ele pode nos servir bem se for acompanhado de outras medidas que vão enfrentar a questão do gasto corrente. Se essa questão for devidamente tratada, vai fazer os juros caírem. Temos que dar passos audaciosos. 

Para planejamento limite não funciona 
Pela proposta de Serra, durante os primeiros cinco anos da nova regra, as duas dívidas poderiam subir. Assim, o endividamento bruto, que hoje equivale a 5,6 vezes a receita corrente líquida (RCL), teria autorização para chegar a 7,1 vezes. Já a dívida líquida poderia passar de 2,2 vezes a RCL, como é hoje, para 3,8 vezes. No entanto, a partir do sexto ano, teria de haver uma queda linear das dívidas, e os limites de 4,4 (dívida bruta) e 2,2 (dívida líquida) deveriam ser atingidos até o 15 º ano.

O subsecretário de Planejamento e Estatísticas Fiscais do Tesouro, Otávio Ladeira, fez uma apresentação na qual afirmou que a proposta do senador cria riscos para a gestão da dívida, podendo se tornar inviável a médio e longo prazos. De acordo com o técnico, “deixar de fazer a boa gestão, para alcançar limites definidos sem debate mais aprofundado, não é uma boa prática e não se justifica. Significaria apenas deteriorar as condições de financiamento público, isto é, elevar o custo e o risco da dívida pública, confrontando-se com o propósito defendido pelo senador na justificativa do projeto”. No modelo da Fazenda, mesmo que o governo fizesse um superávit primário (economia para o pagamento de juros da dívida pública) de 2,5% do Produto Interno Bruto (PIB, conjunto de bens e serviços produzidos no país) de 2019 a 2030, não seria possível fazer a dívida convergir para os 2,2 propostos por Serra.

O chefe da assessoria econômica do Ministério do Planejamento, Manoel Pires, foi ainda mais crítico. Em linha com o que defende seu chefe, o ministro Nelson Barbosa, Pires afirmou que limites para a dívida pública não têm se provado eficazes. Para ele, o foco devem ser as metas de superávit primário e o controle dos gastos:

— Limites para a dívida pública não têm se mostrado mecanismos eficazes de controle fiscal. E sanções, tais como as que limitam o financiamento da dívida, tendem a aumentar a percepção de risco.

Interlocutores de Levy procuraram minimizar a falta de sintonia nas posições da Fazenda durante a audiência pública. Segundo eles, o ministro foi à CAE para substituir o secretário do Tesouro, Marcelo Saintive, que teve de despachar no Rio de Janeiro, e sua missão seria diferente da dos demais integrantes da equipe. Levy foi falar sobre a importância dos instrumentos de controle de gastos num momento em que o Congresso discute limites para a dívida pública. Já o papel do Tesouro seria mostrar o quadro atual da dívida e alertar para os parâmetros propostos. Quem participou do debate, porém, não entendeu dessa forma.

Levy: ‘pedaladas’ são metade do déficit
No início da audiência, o presidente da CAE, Delcídio Amaral (PT-MS), disse que Levy havia se convidado para o debate.

— O ministro Levy se convidou. Ele quis participar do debate. Não sou eu quem vai dizer não. Está mais fácil trazer o ministro da Fazenda aqui na CAE do que o presidente da Petrobras (Aldemir Bendine). Parece até que a Petrobras é maior que o Estado — alfinetou.

Na saída da comissão, Levy voltou a ser perguntado sobre sua permanência no cargo.

— Estou sempre tranquilo, calmo. Eu não estou tranquilo é com vocês aqui com medo (risco) de tropeçar. Esse negócio de esses caras andarem de costas é que me deixa extremamente intranquilo — brincou o ministro, referindo-se aos cinegrafistas que o filmavam na saída da CAE.

Na audiência, Levy destacou que metade do déficit de mais de R$ 100 bilhões nas contas públicas estimado pelo governo para este ano se deve à necessidade da União de pagar passivos de anos anteriores. O Ministério da Fazenda estimou rombo de até R$ 60 bilhões para o setor público consolidado este ano, caso haja frustração de receitas de concessões. Outros R$ 57 bilhões, referentes às “pedaladas” fiscais, ainda poderiam complementar o resultado negativo.

— Metade disso (do deficit) se deve a uma tentativa que estamos construindo de dar solução a passivos anteriores, com intuito de criar medidas de estímulo e crescimento — afirmou Levy.

Desemprego alcança 7,9% em outubro, o maior para o mês desde 2007

Por Robson Sales | Valor Econômico

RIO - (Atualizada às 9h48) A taxa de desemprego de seis grandes regiões metropolitanas do país aumentou para 7,9% em outubro, de acordo com dados da pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). É o pior resultado para o mês desde 2007, quando o índice havia ficado em 8,7%.

Em setembro, o desemprego alcançou 7,6%. Em outubro do ano passado, o nível de desocupação estava em 4,7%.

O indicador de desocupação ficou acima da média de 7,6% apurada pelo Valor Data junto a 18 consultorias e instituições financeiras.

O IBGE mostrou que a população desempregada aumentou 3,2% em setembro, ou 60 mil pessoas a mais, e saltou 67,5% perante outubro de 2014, alta recorde para a série, iniciada em 2002, ou 771 mil pessoas a mais em busca de trabalho. O contingente de desempregados ficou em 1,9 milhão.

Ainda na comparação com outubro de 2014, o crescimento da população desocupada também foi o maior da série nas regiões metropolitanas de São Paulo (avanço de 86,2%, mais 383 mil pessoas) e em Belo Horizonte (alta de 82,4%, incremento de 76 mil pessoas).

Com relação à população empregada, de 22,5 milhões, houve queda de 1% (230 mil pessoas) ante setembro e redução de 3,5% (825 mil pessoas) ante outubro do ano passado.

Renda
O rendimento médio real habitual ficou em R$ 2.182,10 em outubro, o que representou recuo de 0,6% perante setembro e de 7% na comparação com outubro de 2014.

A massa de rendimento médio real habitual alcançou R$ 49,6 bilhões, valor 1,7% menor que o total observado em setembro e 10,4% mais enxuto que o verificado em outubro do ano passado.

A pesquisa abrange as regiões metropolitanas de São Paulo, Rio de Janeiro, Porto Alegre, Recife, Salvador e Belo Horizonte.

Roberto Freire: Uma ponte para o futuro

- Blog do Noblat / O Globo

Enquanto as forças políticas do país e a sociedade brasileira procuram saídas para uma das mais graves crises de nossa história republicana, em meio à total incapacidade da presidente Dilma Rousseff de conduzir o atual governo em busca de soluções, é sintomático que tenha sido o PMDB, um dos maiores partidos da base aliada, a apresentar propostas para que o Brasil retome o caminho do desenvolvimento. No documento intitulado “Uma ponte para o futuro”, lançado durante o congresso da Fundação Ulysses Guimarães, está traçado um conjunto de ideias que merecem ser debatidas e podem servir como ponto de partida para um possível e necessário governo de união nacional.

Diante do agravamento das crises econômica, política e moral, além da absoluta incompetência de Dilma e do PT para comandar o país, é fundamental que os atores políticos comprometidos com o futuro do Brasil se unam em torno de um programa centrado, sobretudo, no ajuste da máquina pública e nas reformas estruturantes do Estado como introdução de uma política de desenvolvimento. Por outro lado, a mobilização popular em defesa das propostas desse governo de transição reforçará sua legitimidade para avançar sem maiores percalços.

No documento do PMDB, as reformas que o PT não levou adiante em 13 anos de governo são citadas como preponderantes para a superação da crise. O texto lembra que “o Estado brasileiro vive uma severa crise fiscal, com déficits nominais de 6% do PIB em 2014 e de inéditos 9% em 2015, e uma despesa pública que cresce acima da renda nacional, resultando em uma trajetória de crescimento insustentável da dívida pública que se aproxima de 70% do PIB, e deve continuar a se elevar, a menos que reformas estruturais sejam feitas para conter o crescimento da despesa”.

Além do apoio majoritário da população ao impeachment de Dilma, constatado por levantamentos recentes dos principais institutos de pesquisa, é nítido que até mesmo setores do mercado financeiro, antes refratários a esta legítima e democrática intervenção constitucional, já reconhecem publicamente que o impedimento se apresenta como o passo inicial e talvez mais importante para destravar o país. É exatamente o que defendemos: o afastamento da presidente da República, votado pelo Congresso Nacional com base na lei, na democracia e no respeito à Constituição, e uma ampla discussão que gere um consenso sobre os principais pontos de um verdadeiro projeto nacional de desenvolvimento.

Com Dilma, Lula e o PT, estaremos fadados a mais três longos anos de inflação, queda da renda, endividamento das famílias, desemprego, falta de investimento e de credibilidade, além da interminável série de escândalos de corrupção que enxovalharam a esquerda e enlamearam o país como nunca antes em nossa história. A ponte para o futuro proposta pelo PMDB, que deve ser discutida especialmente pelas oposições, pode ser um norte para que o país comece a superar a crise e alcance um novo patamar econômico, político e moral. A travessia não será fácil, mas o Brasil é muito maior que o lulopetismo e está pronto para escrever um novo capítulo de sua história. O futuro pede passagem.

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Roberto Freire é deputado federal por São Paulo e presidente nacional do PPS

Bolívar Lamounier: Que raio de país é este, afinal?

- O Estado de S. Paulo

Deixo provisoriamente de lado o assunto corrupção para recapitular um pouco dos últimos anos e suscitar algumas questões que suponho sejam do interesse de todos os leitores.
Em 2009-2010, em dobradinha com Luiz Inácio Lula da Silva, o dr. Henrique Meirelles manteve a economia brasileira superaquecida; o objetivo, mais que evidente, era garantir a eleição da sra. Dilma Rousseff e proporcionar-lhe uma boa bancada de apoio no Congresso Nacional.

Iniciado o governo da sra. Dilma em janeiro de 2011, a retração econômica viriapar la force des choses, como se costuma dizer. Mas a sra. Dilma Rousseff e seu bravo escudeiro no Ministério da Fazenda, o dr. Guido Mantega, não receberam com alegria a ideia de serem atropelados pela força das coisas. No entender deles, a saída estava ao alcance da mão: bastava turbinar o consumo, dando rédea solta ao crédito, achatando os juros e despejando uns tantos bilhões em alguns setores-chave, a começar pelo automobilístico. Essa fórmula tão simples – que Dilma Rousseff até tentou explicar à primeira-ministra alemã, Angela Merkel... – reporia o Brasil na trajetória do crescimento e impediria o aumento do desemprego, preocupação socialmente bondosa e eleitoralmente mais que louvável.

Cortar gastos de custeio ou investimentos que ela mesma, a presidente da República, considera urgentes e de alta qualidade equivaleria a passar recibo de herege, logo ela, que, em tais assuntos, parece sentir-se diretamente inspirada por uma luz divina. De sua boca não sairiam as seis heréticas letras da palavra “ajuste”; que as pronunciasse o cavalheiro que ousou enfrentá-la na disputa presidencial de 2014. A “força das coisas” deu finalmente o ar de sua graça: milhões de brasileiros antes estimulados a ascender ao paraíso da “classe média” de lá retornaram com muitos carnês para pagar e o rabo entre as pernas.

E eis senão quando, nesse cenário concebido para não ter defeitos, de repente irrompeu um pequeno problema: certos “malfeitos”, como o Lula costuma dizer, escapuliram do local onde haviam sido ocultados, nos porões da Petrobrás. A força das coisas não é de aparecer a qualquer momento, mas consegue ser bem cruel quando aparece. Não foi preciso fuçar muito para se determinar que os “malfeitos” na Petrobrás foram meticulosamente urdidos durante o governo Lula e executados, em sua maior parte, quando a sra. Dilma Rousseff, uma competência administrativa cantada em prosa e verso, presidia o Conselho de Administração da grande estatal brasileira.

Do restante da história todos se lembram, não cometerei o despropósito de o relembrar. Passo, pois, às indagações a que me referi no início – e de antemão peço desculpas pelo aborrecimento que elas possam causar a meus eventuais leitores.

A primeira eu tomo emprestada de Francelino Pereira, um piauiense que governou Minas Gerais: “Que país é este?”. Ou, para ser mais preciso, que raio de país é este onde a sociedade inteira assiste passivamente ao sr. Lula e à sra. Dilma, movidos por sua gana de poder e pela busca da vitória eleitoral a qualquer preço, fazendo e desfazendo o que bem entendem?

Escrevi “a sociedade inteira”, mas apresso-me a fazer uma correção. A obrigação de dar um basta a disparates, ao desprezo pelos alertas que os economistas não se cansaram de fazer e a não poucas ilegalidades – essa obrigação cabe, em primeiro lugar, ao Congresso Nacional, aos partidos políticos e às elites. Sobre a inépcia do Congresso Nacional e dos partidos no período a que me estou referindo, creio que nada mais há a dizer. Digamos só que foi (tem sido) patética.

E as elites do País?

Os petistas que me perdoem: não posso desperdiçar o espaço de que disponho discutindo o sexo dos anjos, como eles gostam de fazer a propósito desse conceito. Qualquer pessoa alfabetizada e disposta a argumentar honestamente sabe que não há no Brasil uma elite aristocrática, inacessível, muito menos uma elite fechada, oculta, permanentemente ocupada em conspirar contra sabe-se lá o quê.

Elite, no Brasil, é o ápice para o qual convergem os indivíduos que mais se destacam na sociedade, uns poucos em razão de sua renda ou seu patrimônio, a vasta maioria por exercer funções hierárquicas elevadas em diferentes instituições ou organizações: empresários e líderes sindicais, desde logo, mas também a alta administração civil e militar, os principais jornalistas e editores, os professores universitários, os intelectuais mais produtivos, os clérigos mais altos das diferentes denominações e outros mais.

O que pergunto é, pois: que raio de país é este em que os integrantes de tais grupos não percebem ou aceitam passivamente o aviltamento da democracia, a dilapidação de recursos públicos numa escala astronômica e uma operação cuidadosamente planejada para subtrair recursos de uma empresa respeitada, por pouco não a levando à bancarrota?

A passividade dos grupos mencionados, o fato de levarem a vida como se habitassem um arquipélago, cada um em seu pequeno paraíso tropical; o desinteresse pela destinação dos impostos que pagam – tudo isso causa espanto.

Salta aos olhos que a imensa maioria fala de menos. E uns poucos, convenhamos, falam demais.

Onde é que já se viu, numa democracia, um integrante da Suprema Corte – falo do ministro Ricardo Lewandowski – se dirigir aos cidadãos como conselheiro político: “Devagar com o andor, minha gente, esse negócio de impeachment pode levar a um golpe!”.
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Bolívar Lamounier é sócio-diretor da Augurium Consultoria, é autor de ‘Tribunos, profetas e sacerdotes’ (Companhia das Letras, 2014)

Merval Pereira: Falsa disputa

- O Globo

O senador e ex-presidente eleito Tancredo Neves tinha uma premissa que fazia questão de destacar nas negociações políticas: existe um programa para ganhar a eleição, e outro para governar. Premissa semelhante à prática de partidos de esquerda, que “tocam violino”: pegam o governo com a esquerda, mas governam com a direita.

Nada a ver, diga-se, com estelionatos eleitorais como os de Dilma, que simplesmente colocaram de cabeça para baixo tudo o que defendeu na campanha. A frase de Tancredo propõe apenas certa cautela nos arroubos eleitorais. É uma falsa controvérsia, portanto, essa entre PMDB e PSDB, que estariam disputando entre si o nicho de eleitores liberais para as próximas eleições.

A diferença entre os dois é que o PSDB se prepara para uma disputa eleitoral nas urnas nos próximos meses, caso a chapa Dilma-Temer seja impugnada no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) por abuso de poder econômico, ou em 2018. E o programa do PMDB visa exclusivamente ter o apoio de setores econômicos na eventualidade de o impeachment tirar Dilma do governo.

O PMDB não está em busca, neste momento, de votos, mas de apoios políticos. O documento lançado pela Fundação Ulysses Guimarães como um projeto para o país é, de fato, mais liberal do que se poderia esperar de um partido que é a principal sustentação quantitativa do governo Dilma, pelo número de prefeitos e vereadores, e por dominar o Congresso.

E até surpreende ao defender, por exemplo, a fixação de uma idade mínima para a aposentadoria, medida urgente para equilibrar a Previdência Social, mas polêmica, que tira mais votos do que dá. Outras medidas diametralmente opostas ao pensamento predominante no PT constam do programa do PSDB, inclusive o apresentado durante a campanha presidencial do ano passado.

O texto da Fundação Ulysses Guimarães defende uma política que já foi definida por Dilma como “rudimentar”, isto é, o estabelecimento de um limite para as despesas de custeio que seja inferior ao crescimento do PIB. Mas o PSDB não chega a defender, embora possa adotar uma vez no governo, o fim das vinculações orçamentárias para Saúde e Educação, por exemplo.

O apoio às privatizações e concessões não é diferente do PSDB, e nem a volta do modelo de concessão para a exploração de petróleo. São temas que têm apoio de um eleitorado liberal, mas não retiram votos dos partidos que os defendem. Os eleitores que discordam já estão decididos a votar em partidos de esquerda.

O PMDB, apesar de sua postura pragmática e de valorizar os cargos governamentais como instrumentos de fazer política, tem pontos em comum com o PSDB que podem fazer com que atuem juntos em eleições vindouras, já que as diferenças com o PT estão ficando cada vez mais explícitas.

Essas diferenças não se referem a questões éticas, mas à valorização da democracia representativa e a defesa das instituições, que estão no DNA do partido. Além dessa tradição, vinda dos tempos gloriosos do MDB de Ulysses Guimarães e Tancredo Neves, há ainda aqui um aspecto pragmático: o PMDB sabe que num governo autoritário do PT não terá força política.

A ideia de que ninguém consegue governar sem o apoio do PMDB está se provando verdadeira nos dias de hoje, e pressupõe um governo democrático. Por isso, qualquer tentativa do PT de ultrapassar os limites de um governo democrático esbarra sempre no PMDB.

O primeiro caso de predominância do espírito autoritário no partido deu-se agora com a aprovação de uma legislação de direito de resposta que na prática é um cerceamento da liberdade de expressão. Foi proposta por um senador peemedebista, e não chamou a atenção até que estivesse aprovada, e agora caberá ao Supremo Tribunal Federal dar um tom de equilíbrio a essa legislação.

Esse cochilo dos democratas do PMDB pode significar que o partido, enfraquecido pelas acusações a suas principais lideranças, está precisando fazer concessões, o que é um mau sinal.

José Roberto de Toledo: A barragem de Dilma

- O Estado de S. Paulo

Não fossem epidemias, desastres ambientais e crise econômica, o governo comemoraria. No Congresso, neutralizou bombas fiscais armadas pelos deputados e vetadas por Dilma Rousseff.

Avançou para relaxar a meta fiscal, diminuindo o risco imediato de impeachment. Na Câmara, aprovou taxação de dinheiro brasileiro no exterior, cuja receita pode ajudar a equilibrar seu caixa. No fim, juntou mais de 200 deputados - talvez 250 - que, se não votam todos sempre a favor de Dilma, ao menos não votam contra.

É menos da metade da Câmara, mas, ainda assim, trata-se de um avanço para quem, até poucos meses atrás, mal tinha 171 votos para barrar o processo de impeachment. As últimas votações sugerem que, além de bloquear as tentativas da oposição para derrubá-la, a presidente também pode vir a conseguir governar. Ainda que governar signifique arrochar salários, diminuir gastos sociais, cortar investimentos e deixar o desemprego crescer.

Desde a reforma ministerial, a articulação política do governo melhorou. Em parte, porque rachou o PMDB e reconquistou partidos menores. Mas também porque Eduardo Cunha concentrou-se em não cair ao invés de empurrar Dilma. Ela escorou-se em Renan Calheiros no Senado e Leonardo Picciani na Câmara. Peemedebistas que querem fazer “uma ponte para o futuro” sem Dilma nem o PT viram suas obras embargadas. Pelo menos até o Carnaval, talvez até a Semana Santa. Vão esperar a crise desempregar mais gente.

A esperteza que aliados de Michel Temer fizeram chegar a banqueiros e empresários de que as contas de campanha do vice-presidente são diferentes das contas de campanha da titular não colou. O ministro Gilmar Mendes - que não pode ser acusado de dilmista - declarou que o Tribunal Superior Eleitoral nunca separou o presidente de seu vice em cassações de mandatos.

Para a tese prosperar na corte, necessitaria mais do que de um novo entendimento dos magistrados. Precisaria de clamor popular, de pressão externa: manifestações volumosas, com objetivo específico e persistentes. Não é algo que esteja sobrando em qualquer esquina - só nos canais de sempre das redes sociais.

Nas últimas semanas, Dilma também se safou do lado de fora dos palácios. O locaute de caminhões fracassou. Quase ninguém viu os protestos contra a presidente marcados para 15 de novembro. Quem viu não ligou o nome à pessoa. Bonecos gigantes murcharam: manifestantes da ala militar-policial foram presos praticando tiro ao alvo na Esplanada e podem ser obrigados a levantar acampamento. A cada trapalhada, retrocedem ao seu nicho.

Ao mesmo tempo, protestos contra outros políticos e políticas começaram a ganhar ruas e escolas. Não é refresco para Dilma, que continua mais impopular do que mineradora entre moradores do Vale do rio Doce, mas dilui a pressão. Se ela não chamar a atenção para si, 2016 pode ser mais parecido com 2013 do que com 2015. A insatisfação da opinião pública está se dividindo entre outros alvos em vez de se concentrar contra o governo federal.

Esse cenário, porém, é mais instável do que uma barragem de rejeitos de minério. A qualquer momento pode sangrar e levar de enxurrada a presidente e outros governantes. Especialmente porque, tudo indica, a perda de poder de compra das famílias tende a aumentar antes de, eventualmente, vir a arrefecer. A recessão acumula novas pressões atrás do dique de contenção.

De alguma forma essa pressão vai acabar liberada. Eleições têm esse poder, mas só quando entregam esperança. Não é algo que esteja no horizonte. Planos econômicos são válvulas de escape. Nada indica, porém, que Joaquim Levy vá dar um Real para Dilma. Por isso, articulações pró-Henrique Meirelles só tendem a crescer. Quando não se troca a presidente, troca-se o ministro. Fusível serve para isso.

Jarbas de Holanda: Economia e a governabilidade de um novo presidente podem juntar PMDB e PSDB, acima de projetos eleitorais

A erosão da perspectiva de impeachment via desencadeamento pelo presidente da Câmara, Eduardo Cunha, que perdeu as condições políticas, além das éticas, de fazê-lo, ao invés de ultrapassagem das demandas de impedimento da presidente Dilma dá lugar, neste final de ano, a uma reafirmação delas por meio de cobranças distintas das anteriores, e com horizonte de março ou abril próximos. Decorrentes, basicamente, da percepção pela maioria dos agentes econômicos da incapacidade do governo Dilma de dar respostas, conjunturais e estruturais, ao agravamento da recessão e ao cenário de longa persistência dela e de seus agudos efeitos sociais. E refletidas na disposição da executiva do PMDB de colocar-se como alternativa para viabilização de tais respostas, através da pauta liberal e antiestatizante da “ponte para o futuro”.

Iniciativa da direção do partido – do qual depende a sustentação do Executivo no Congresso – que adensa a possibilidade de troca de governo. E que, até pela ampla repercussão favorável que teve nos círculos empresariais e na mídia, apressou uma reorientação tática do comando do PSDB. De um lado, substituindo o respaldo à bancada da Câmara na tentativa do impeachmentreclamado pelas manifestações de rua, e liderado pela oposição, por um entendimento com a cúpula peemedebista em torno de um governo chefiado por Michel Temer. De outro lado, na perspectiva desse governo, apoiando algumas medidas do ajuste fiscal, como a ampliação negociada, de 20% para 25%, da Desvinculação das Receitas da União, a DRU. Sem que isso implique necessariamente participação no mesmo, nem abandono das prioridades eleitorais no pleito municipal à vista e no presidencial de 2018, que estarão presentes na atualização do programa partidário a ser tornada pública no início de dezembro. Prioridades que devem incluir a afirmação dos tucanos como a força política que se contrapôs aos três governos petistas e se considera capaz de liderar um novo ciclo de crescimento econômico e desenvolvimento social sustentado. Contraposição e promessa que passarão a ser disputadas por um PMDB que consiga substituir o fisiologismo que o tornou principal aliado e cúmplice desses governos pela respeitável pauta da “ponte para o futuro”.

O entendimento entre os dirigentes dos dois partidos poderá encaminhar a troca de governo através de um ou mais dos vários processos que apuram possíveis crimes eleitorais e de irregularidades e abusivos gastos do Tesouro (pedaladas) e das estatais – no TSE e nas duas casas do Congresso. Uns e outros (processos) apoiados nas investigações das operações Lava-Jato, Zelotes e Acrônimo. E estimulados pela paradeira do conjunto das atividades produtivas, por juros extorsivos, por aumento da carga tributária, por inflação e desemprego no patamar dos dois dígitos. De par com o impacto na sociedade da sequência das investigações da Lava-Jato e das demais operações anticorrupção.

É em meio à emergência desses novos riscos de interrupção do mandato de Dilma, que o ex-presidente Lula enfrenta dois desafios: preservá-lo (assumindo plena tutela sobre a sucessora, ao que ela está resistindo) e, ao mesmo tempo, reverter ou ao menos conter o enorme desgaste político e eleitoral do PT. Para preservar o governo, comandou uma “reforma ministerial” cujo propósito básico foi – e se tornou ainda maior agora – impedir o descolamento do PMDB. Ao que se segue a busca do controle de indicação de novo ministro da Fazenda, na tentativa de uma impossível quadratura do círculo: que o Executivo federal recupere um mínimo de credibilidade junto a investidores internos e externos e que retome rapidamente estímulos fiscais e creditícios (dos bancos públicos) ao consumismo. Isto constituindo peça-chave para que os candidatos petistas não sejam destroçados nas eleições municipais de 2016. O que pode, ao contrário, piorar muito com os resultados das investigações do Ministério Público e da Polícia Federal, que se aproximam cada vez mais do próprio Lula. Num contexto resumido assim por Merval Pereira, em sua coluna de anteontem no Globo: “O roteiro está escrito detalhadamente à medida em que as delações se sucedem, e caberá à Justiça juntar as peças desse quebra-cabeças no final, em que a efígie de Lula já surge como o protagonista”.

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Jarbas de Holanda, jornalista