domingo, 30 de setembro de 2018

*Bolívar Lamounier: Elogio do comedimento

- O Estado de S.Paulo

Os fundamentos éticos do regime democrático impõem restrições quanto a fins e meios

A eleição presidencial deste ano só não provocará um retrocesso econômico e político se até o início do ano os cães morderem menos do que têm ladrado. O termo cães é aqui uma metáfora inofensiva que compreende os principais candidatos e seus seguidores, principalmente os que entulharam as redes sociais com insultos e xingamentos durante esta lamentável campanha.

Os decibéis de setembro foram um reflexo fiel da crise que temos vivido, da raiva indiscriminada contra os políticos e partidos e, naturalmente, do matiz autoritário das duas principais candidaturas em confronto. Mas tento ser otimista, adotar a atitude oposta equivale a dar como inevitável o prolongamento do desastre iniciado no governo da sra. Dilma Rousseff.

Penso que o comedimento pode ser reencontrado por diversos caminhos, desde logo pela introspecção pessoal e por uma reflexão mais densa sobre a política. O governo, seja qual for, precisará de apoio no Congresso e os congressistas precisarão de acesso ao governo.

Parlamentos, como bem sabemos, firmaram-se ao longo do tempo como uma força civilizatória.

Uma tendência evolutiva no sentido da moderação pode também ser observada em outros campos de atividade – até no esporte. No futebol, por exemplo, de 20 ou 30 anos para cá, certas “entradas” que antes não eram consideradas faltosas no sentido estrito do termo passaram a ser punidas por envolverem “força desproporcional”. Passou-se a entender que o atleta infrator tentou realizar algo que poderia ter sido realizado por outros meios, ou que ele nem deveria ter tentado, pois não o poderia realizar sem pôr em risco a integridade física do adversário. Por singelo que pareça, esse exemplo indica o interesse comum num convívio mais respeitoso e fraterno, sem embargo do caráter competitivo da atividade.

De fato, os principais pensadores políticos do século 20 ressaltaram a moderação como um traço constitutivo da política, com a condição, é claro, de que por política entendamos uma atividade balizada por instituições, e não a mera brutalidade pretoriana. Max Weber ressaltou o “sentimento de proporção”, Michael Oakeshott caracterizou-a como uma atividade com fins limitados, Hannah Arendt destrinchou a malignidade inerente a todo totalitarismo.

Eliane Cantanhêde: PT versus PSDB

- O Estado de S.Paulo

PT ressurge das cinzas e o que está em jogo é a sobrevivência do PSDB

Há apenas dois anos, o PT estava liquidado e só venceu em uma das 27 capitais, a pequena Rio Branco, no Acre, enquanto o PSDB invadia o “cinturão vermelho” e vencia espetacularmente na capital de São Paulo, alçando o então governador Geraldo Alckmin à condição de principal vitorioso individual do País. O mundo dá voltas e tudo se inverteu.

O ex-presidente Lula cresceu nas pesquisas no mesmo ritmo em que a Justiça o condenava em primeira e em segunda instâncias, até levá-lo à cela em Curitiba. Com Lula batendo em 30% para a Presidência, apesar de ficha suja, o PT ressurgiu das cinzas do mensalão, do petrolão e das prisões de seus presidentes, ministros e tesoureiros.

Beneficiado pelo impeachment de Dilma (livrou-se de um fardo), na eleição o partido garantiu a hegemonia na esquerda, pondo o PCdoB no seu devido lugar e aniquilando as chances de Ciro Gomes. Da cadeia, Lula escolheu o nome, a estratégia, o timing, os alvos e até o adversário. A fé cega dos lulistas fez o resto.

No caminho oposto, o PSDB foi atropelado pela divisão do centro, a decantada deslealdade tucana, a revelação do real Aécio Neves e as operações contra seus governadores – inclusive, a dias das eleições. Daí surgiu um atalho: Jair Bolsonaro, militar e político medíocre. Quanto mais ele crescia a olhos vistos, mais seus adversários se recusavam a ver. Pois é...

Vera Magalhães: Um País como refém

- O Estado de S.Paulo

Em cativeiro na disputa, parte do eleitorado sofre de Síndrome de Estocolmo

Na mesma entrevista em que disse que o PT mais cedo ou mais tarde vai “tomar o poder”, pelo voto ou não, José Dirceu disse, também, que Jair Bolsonaro não é problema do PT, e sim do PSDB e do que chama de “direita”. O que aquele que se pretende, mesmo na decadência, ser o formulador do petismo, quer dizer com isso? O óbvio: que no roteiro que traçou para a volta ao poder tendo Fernando Haddad como hospedeiro, Lula escolheu Bolsonaro como adversário.

E vai tendo sucesso em uma e em outra estratégia, com a ajuda incrível de uma parcela da elite que nem percebe o papel que está cumprindo para aquele a quem odeia.

A polarização do primeiro turno, mostrada nas pesquisas até aqui, entre dois extremos não só do espectro ideológico, mas também da relativização das regras do jogo, é, ela também, resultado do plano que Lula traçou bem antes de ser preso e executou com maestria direto do cárcere em Curitiba.

Desde sempre ele soube que a fórmula para tentar voltar ao poder depois do impeachment passava por apagar Dilma Rousseff da foto dos governos petistas. Para isso, contou com a ajuda inestimável de Michel Temer, que, afundado em denúncias de corrupção, conseguiu não só fazer uma parcela significativa da população esquecer o desastre que foi sua companheira de chapa quanto ter saudade daquele que a inventou.

O plano de Lula incluía, também, ter um dublê de si mesmo que em nada lembrasse a malfadada experiência de Dilma. O figurino de Haddad é diferente do da ex-presidente: fala manso nos ambientes em que precisa se mostrar moderado e fala rouco e grosso quando emula o chefe em cima do caminhão de som.

*José Roberto Mendonça de Barros: Perigo nos extremos

- O Estado de S.Paulo

Se, ao fim de 2019, não houver uma expectativa de retomada sustentável, haverá turbulência

As pesquisas eleitorais mostram uma polarização nos extremos. Se isso realmente se materializar, será muito ruim para o País, qualquer que seja o resultado das urnas. Em primeiro lugar porque ambas as candidaturas já acenaram que só aceitarão uma vitória. Derrota será fraude ou golpe, e boa parte de seus eleitores mais religiosos aceitará isso, reforçando as dúvidas quanto ao apreço de seus líderes pela democracia.

Muita confusão à vista.

Em segundo lugar porque são populistas que buscam falar diretamente às massas, prometendo a solução de seus problemas sem explicar como vão fazê-lo. “Confie em mim, eu resolvo, e todos serão felizes” é o lema.

Em terceiro lugar porque seus programas econômicos levantam sérias dúvidas e têm, a meu juízo, pouca chance de trazer de volta o crescimento. Se, ao fim de 2019, não houver uma expectativa fundada de retomada, depois da maior recessão de muitas décadas, veremos turbulências no País.

O caso mais óbvio é o da esquerda. O PT parte do princípio de que jamais cometeu um único erro de política econômica, que não tem culpa alguma pela queda na atividade e pelo crescimento do desemprego e que não existe uma crise fiscal. Mais uma vez, aplica-se aqui a famosa frase de Talleyrand: “Eles não aprenderam nada e não esqueceram nada”.

Não surpreende, portanto, que seu programa seja uma repetição de tudo que deu errado, girando em torno de uma proposta para o uso da política fiscal e creditícia para relançar a economia e fazer o “ajuste” via crescimento. A única novidade é uma pitoresca proposta de usar incentivos fiscais (!!!) para reduzir o “spread” bancário.

Merval Pereira: O perigo da minoria

- O Globo

Haddad é o candidato com maiores custos de governabilidade, mesmo num cenário de baixa distância ideológica

O cientista político Carlos Pereira, da Fundação Getúlio Vargas do Rio fez um estudo sobre as condições de governabilidade dos principais candidatos a presidente, publicado no site jurídico Jota. “Presidentes minoritários não apenas enfrentam mais dificuldade para aprovar a sua agenda no Legislativo, mas também gastam mais recursos políticos e financeiros para governar”.

Também são objeto de maior escrutínio político do Legislativo, adverte, tornando seus governos mais vulneráveis a crises políticas, que podem inclusive abreviar seus mandatos presidenciais. “Coligações eleitorais maiores tendem a gerar maior conforto para o presidenciável construir coalizões de governo, pois necessitará atrair um número menor de partidos para alcançar maiorias legislativas”.

Percebe-se, portanto, diz ele, que o esforço de montar coalizões majoritárias de governos como o de Haddad e de Bolsonaro será muito maior do que no de Geraldo Alckmin, por exemplo. “É importante destacar, entretanto, que o Legislativo no Brasil delegou para o Executivo muitos poderes constitucionais (medidas provisórias, vetos total e parcial etc.), procedimentais (urgência) e orçamentários”.

Além de capacitarem o presidente a determinar a agenda, analisa Carlos Pereira, esses poderes incentivam a maioria dos outros partidos a gravitarem em torno do governo, como parceiros de coalizão, para terem acesso a recursos políticos e financeiros sob controle do presidente.

Bernardo Mello Franco: Ameaça à democracia

- O Globo

As democracias não morrem mais sob a mira de tanques. Hoje os líderes autoritários tentam chegar ao poder pelas urnas. Pode acontecer no Brasil

Foi-se o tempo em que as democracias só tombavam sob a mira de tanques e baionetas. No século passado, golpes clássicos derrubaram governos eleitos em quase toda a América Latina. Agora a ameaça não depende mais do uso da força. “O retrocesso democrático hoje começa nas urnas”, afirmam os cientistas políticos Steven Levitsky e Daniel Ziblatt em “Como as democracias morrem”.

Os professores de Harvard mostram como líderes eleitos podem conduzir seus países ao autoritarismo. O livro foi escrito sob o impacto da vitória de Donald Trump nos EUA. No entanto, é impossível atravessá-lo sem pensar na encruzilhada do Brasil em 2018.

“Demagogos extremistas surgem de tempos em tempos em todas as sociedades, mesmo em democracias saudáveis”, escrevem os autores. O desafio, dizem, é evitar que eles explorem os sentimentos de ódio e ressentimento para chegar ao poder.

A decisão não é só do eleitor. Para ascender, os outsiders buscam se aliar ao establishment. Foi assim que Alberto Fujimori e Hugo Chávez abriram caminho para subverter as instituições no Peru e na Venezuela. “Em cada caso, as elites acreditaram que o convite para exercer o poder conteria o outsider, levando a uma restauração do controle pelos políticos estabelecidos. Contudo, seus planos saíram pela culatra”, afirma o livro, traduzido pela Zahar.

Num recuo na história, os autores lembram que Hitler e Mussolini também chegaram ao poder sem apelar à força. Na Alemanha dos anos 30, líderes experientes pensaram que poderiam domar o chefe do Partido Nazista, um populista de discurso radical. Num ambiente de revolta contra a política tradicional, ele encantava multidões com um penteado exótico e a promessa de restaurar a ordem e combater o comunismo. Qualquer semelhança...

Míriam Leitão: A verdade inescapável

- O Globo

Programa do PT fala em fortalecer a Petrobras, mas a verdade inescapável é que a petrolífera foi assaltada nos governos Lula e Dilma

O programa do PT fala em fortalecer a Petrobras mas o partido a enfraqueceu. O acordo da Petrobras com o Departamento de Justiça americano, fechado na semana passada, foi mais um dos episódios da lenta e difícil recuperação da estatal depois do ataque feito contra ela no período em que o Partido dos Trabalhadores governou o Brasil. As narrativas do PT são mentiras bem construídas, usando pedaços de verdade para desviar o olhar do ponto principal. E o ponto sobre a Petrobras é que a empresa foi assaltada.

O partido é o segundo colocado nas intenções de voto e tem chances de passar a primeiro no segundo turno, por isso é preciso que fique claro o seu erro. Se voltar ao poder, a fiscalização tem que ser redobrada para evitar-se a repetição da mesma tragédia. Internamente há mais anticorpos hoje que podem impedir uma nova tragédia como a que foi revelada pela Lava-Jato.

Na negociação com o Departamento de Justiça, a estatal brasileira teve que lutar para não ser considerada empresa corrupta pela legislação americana. Se o fosse, seria banida do mercado americano. Conseguiu fechar o acordo, pagará um preço alto, mas se livrou do pior. Ficou escrito no documento assinado que durante os anos de 2004 a 2012 “os executivos e seus gerentes” junto com “fornecedores e prestadores de serviço montaram um enorme esquema de fraude e propina”. Este período é o dos governos de Lula e Dilma. Os maiores beneficiários desse esquema foram os partidos que estavam no poder, principalmente o PT, o PP, o PMDB.

Luiz Carlos Azedo: A marcha do golpismo

- Correio Braziliense

“Até agora, a radicalização política no Brasil foi contida por um movimento pendular da sociedade e da elite política, mas nunca houve uma situação de tanta fragilidade do Congresso e da Suprema Corte”

O cenário eleitoral protagonizado pelos dois líderes nas pesquisas de opinião, Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), um pouco pela soberba de ambos, muito pela ideologia, às vésperas do pleito, ganha características cada vez mais disruptivas, que questionam a ordem democrática do país. Na sexta-feira, em entrevista ao apresentador José Luiz Datena, Bolsonaro disse que não aceita um resultado no qual não seja o vencedor, afirmou que o Plano B do PT é fraudar o resultado das eleições; em Goiânia, com sinal trocado, Haddad disse que, tão logo seja eleito, convocará uma Constituinte exclusiva para redigir uma nova Constituição. São duas propostas golpistas.

A Constituição de 1988, com todos os seus defeitos, é um pacto político construído para que houvesse uma transição pacífica do regime militar à democracia. Foi obra de muitas mãos, entre as quais as de Ulysses Guimarães. Resultou do esforço de políticos que sobreviveram ao autoritarismo e lideraram o MDB na luta contra o fascismo e a tentativa de “mexicanização” do país por meio da antiga Arena. Essa história é bem conhecida, dispensa maiores comentários. O que importa é registrar que as forças que teceram essa transição se exauriram pela morte da maioria de seus líderes, pelo desgaste e fricção da luta política e em razão do desmantelo revelado pela Operação Lava-Jato.

Hoje, o protagonismo está com quem se opôs ao pacto celebrado na Constituição de 1988. De um lado, o PT, cujos fundadores gostariam que a queda da ditadura se confundisse com a tomada do poder, quiçá uma revolução socialista; de outro, as forças que pretendiam institucionalizar o regime autoritário, com a eleição de um presidente civil no colégio eleitoral, no caso, o então deputado Paulo Maluf. Graças à Constituição de 1988, em nenhum momento essas forças conseguiram impor seus desejos às instituições democráticas. As tentativas nessa direção foram frustradas pelo Congresso. A primeira foi com Collor de Mello, que renunciou ao mandato para evitar o impeachment; a segunda, com Dilma Rousseff, que também foi apeada do poder.

Até agora, a radicalização política no Brasil foi contida por um movimento pendular da sociedade e da elite política, mas nunca houve uma situação de tanta fragilidade do Congresso e da Suprema Corte do país desde a redemocratização. As causas são as mais diversas, da crise da democracia representativa e seus partidos à desmoralização de suas principais lideranças em razão dos escândalos nos quais estão envolvidos. Acrescente-se a isso as mudanças em curso no mundo e a sociedade líquida que emerge com as novas tecnologias, as redes sociais e a substituição da verdade pelas falsas narrativas fake news. É nesse contexto que devemos examinar e nos precaver em relação ao que dizem os candidatos que possam afrontar a democracia.

Elio Gaspari: Haddad e sua teoria do parto

- Folha de S. Paulo

Numa manobra imprudente e desnecessária, o comissariado quer chegar ao segundo turno nos seus termos

Num encontro com artistas em São Paulo, Fernando Haddad, disse o seguinte:

"Não tem como se desenvolver do ponto de vista institucional sem passar por alguns partos. (...) As nações que chegaram ao desenvolvimento passaram por momentos tão dramáticos quanto o que nós estamos passando agora".

E acrescentou:

"Se a gente vencer essa etapa, nós vamos olhar para trás e, ao invés de acusar aqueles que querem votar no Bolsonaro e tudo o mais, vamos compreender que é uma parte de um sentimento que se expressou dessa maneira, como uma febre alta, mas que foi importante em determinado momento para a gente pensar que tem uma coisa errada com esse organismo aqui e vamos cuidar dele porque é muito importante para nós".

Trata-se de uma construção na qual a candidatura de Jair Bolsonaro seria uma febre alta, depois da qual nasceria um novo tempo, mas tudo gira em torno de seis palavras: "Se a gente vencer essa etapa". E se não vencer? Teria faltado combinar com Bolsonaro.

O comissariado deve refletir sobre o preço de ir para o segundo turno sem qualquer autocrítica. Afinal, no mesmo encontro, Haddad disse que "não quero repassar os erros de todos os envolvidos, porque são muitos".

Ele não quer, mas o eleitor que tem medo do que chama de "a volta do PT" gostaria que quisesse. Os comissários devem pesar os riscos da teoria do parto. Ela embute a ideia de que o PT irá para o segundo turno nos seus termos, e quem quiser que o siga. Milhões de pessoas votariam em Átila, mas não votam em Bolsonaro.

O que não se sabe é o tamanho do eleitorado que é capaz de votar até em Bolsonaro para evitar o retorno do PT ao Planalto nos termos do comissariado.

Em Minas Gerais e em São Paulo, boa parte do eleitorado tucano migrou para Bolsonaro. Querer levar o centro para o programa do PT e para a retórica de Haddad ameaça sua candidatura e contamina o governo que pode advir de sua vitória.

Em 1984, Tancredo Neves construiu a primeira conciliação da história saída da oposição. Se ele tivesse adotado a estratégia dos comissários de 2018, Paulo Maluf poderia ter sido eleito presidente.

A MARCHA DA INSENSATEZ
Em sua carta aos eleitores, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso pediu que se busque um equilíbrio capaz de deter o que chamou de "marcha da insensatez".

Um segundo turno disputado por Jair Bolsonaro e Fernando Haddad parece inevitável, e os dois candidatos, avaliados a partir de suas posições públicas confirmam o receio de FHC.

Bruno Boghossian: De Collor a Bolsonaro

- Folha de S. Paulo

Jefferson enxerga 'colisão' na coalizão e Renan diz que consenso é 'dificílimo'

Não é fácil a vida de um presidente eleito por um partido nanico, que faz fama com ataques à elite política e tem pouca habilidade para costurar alianças. Dois escudeiros de Fernando Collor, que vivenciaram os apertos do poder, anteveem obstáculos que um candidato como Jair Bolsonaro (PSL) pode enfrentar para governar caso seja eleito.

“O Bolsonaro não conhece coalizão. Conhece colisão”, diz Roberto Jefferson (PTB), integrante da tropa de choque de Collor no processo de impeachment de 1992. “Ele vai ter que aprender a construir relacionamentos. Democracia é diferente.”

Jefferson é aliado de Geraldo Alckmin, mas seu partido tende a estar com Bolsonaro num segundo turno contra o PT —com quem rompeu após o mensalão. Ele diz não ver semelhança entre o ex-presidente e o deputado do PSL, e compara: “Collor acabou jogando o jogo. Cedeu ao Congresso até certo ponto. Não sei se será assim com o Bolsonaro”.

Renan Calheiros, que apoia Fernando Haddad (PT), desconfia. “É difícil que o Bolsonaro construa uma convergência, a não ser que ele faça uma autocrítica sobre o que já defendeu. Considero isso dificílimo.”

Vinicius Torres Freire: 1989 e 2018, mórbida semelhança

- Folha de S. Paulo

De votação fragmentada e polar, 1989 acabou por resultar em governo funesto

Leitores e eleitores talvez estejam cansados de ouvir comparações entre as eleições de 1989 e esta de 2018. Mas ainda convém prestar atenção nas semelhanças, que são lamentáveis, e em diferenças marginais, ainda mais preocupantes, entre as duas disputas.

Além disso, as consequências políticas de 1989 são mau agouro para o que tende a sair das urnas de 2018, a julgar pelo mais recente Datafolha.

Um aspecto importante de 1989 é que a democracia era ainda obra no começo, que contava com dois partidos relativamente novos, com um conjunto de lideranças relevantes e articuladas com a sociedade mais organizada, PSDB e PT.

Como agora, as lideranças mais associadas ao establishment derretiam em descrédito, em especial aquelas identificadas à Nova República, ao governo fracassado de José Sarney (1985-1990).

No momento, mais que ojeriza aos políticos do sistema, o sistema político quase inteiro é objeto de repulsa. Em vez de obra em progresso, a democracia é uma construção degradada. A crise econômica é quase tão grave.

A fragmentação do voto em 1989 levou à vitória um candidato sem maioria “firme” (com poucos votos no primeiro turno). A polarização entre os dois finalistas era considerável —Fernando Collor (PRN) versus Lula da Silva (PT).

Clóvis Rossi: Um olhar para janeiro de 2019

- Folha de S. Paulo

Reflexões de um velho sábio sobre o Brasil e além

Transfiro hoje minha coluna a um velho sábio, que conhece muitíssimo das coisas do mundo e, em especial, da América Latina. Chama-se Enrique Iglesias, está com 88 anos e a lucidez de sempre.

Consultei-o a propósito da crise argentina, mas as considerações que enviou em resposta a meu email me pareceram tão relevantes que achei por bem transformá-las nesta coluna. Iglesias começou sua resposta olhando para o estado do mundo, mas eu vou me limitar a reproduzir a visão dele sobre América Latina, por uma forte razão: Iglesias conhece tudo da região, conhecimento adquirido em seu longo período de 18 anos como presidente do BID (Banco Interamericano de Desenvolvimento), até 2005, e em seguida, como secretário-geral ibero-americano, até 2014.

Foi interlocutor de todos os governantes da região e teria episódios saborosos a relatar se e quando decidisse escrever suas memórias.

Iglesias vê desafios que frequentam outras análises (as crises na Nicarágua e na Venezuela; os impactos do dólar forte; o recuo dos investidores estrangeiros e por aí). Mas se preocupa, sobretudo, com "a grande divisão política da região" e "com o suicídio dos partidos políticos na maioria de nossos países".

Mary Zaidan: A vitória do não

- Blog do Noblat | Veja

Vencerá a disputa presidencial aquele que for menos rejeitado

Seja qual for o resultado das urnas no próximo domingo, 2018 se consolida cada vez mais como a eleição do não.

Ao contrário da lógica do voto na melhor alternativa, vencerá a disputa presidencial aquele que for menos rejeitado, que conseguir angariar um número menor de nãos. E mesmo que os fanáticos de um lado e de outro discordem disso, exorcizar o não será a principal tarefa de um lado e de outro caso se confirmem as pesquisas que colocam Jair Bolsonaro e Fernando Haddad no segundo turno.

O não impera absoluto. Nos proselitismos e nas baixarias reincidentes nas redes sociais, nas hashtags #elenão para Bolsonaro – que ganhou adeptos em todos os cantos, ultrapassando as fronteiras do país -, e #elesnão para ambos. Nos anúncios eleitorais no rádio e na TV, no discurso dos candidatos.

O sucesso do não veio se desenhando há pelo menos dois anos, quando a Justiça eleitoral não deu importância às campanhas antecipadas de Lula e Bolsonaro. Os dois não deram a mínima para a legislação e os responsáveis por puni-los também não quiseram fazê-lo. Resultado: foram beneficiados pelo não cumprimento da lei.

Eleição na Terra do Nunca: Editorial | O Estado de S. Paulo

A campanha presidencial tem servido para mostrar que infelizmente o Brasil ainda tem de percorrer um longo caminho até amadurecer de fato. O País e sua sociedade parecem viver o auge de sua adolescência, como comprova a renitente recusa a ingressar na vida adulta – que pressupõe assumir responsabilidades e encarar a vida como ela é, sem nutrir a ilusão de que existe prosperidade sem sacrifício.

Prova disso é o discurso de vários candidatos, todos bem colocados nas pesquisas de intenção de voto, que promete abolir o teto dos gastos públicos e a reforma trabalhista – ambas, não por acaso, medidas que demandam um comportamento adulto tanto por parte do governo como por parte das empresas e dos cidadãos.

No caso da emenda que instituiu o teto dos gastos, a sociedade se viu finalmente obrigada a rediscutir as prioridades do País, ante o fato indisputável de que os fundos públicos são escassos e, na atual conjuntura, cada vez menos disponíveis. A sistemática oposição à adoção desse limite e a popularidade de candidatos que prometem revogar o teto se eleitos indicam a má disposição mais ou menos generalizada de enfrentar a dura realidade dos números e de estimular a participação política dos cidadãos nas decisões sobre a distribuição dos recursos.

A hora do compromisso: Editorial | Folha de S. Paulo

Quem participa da eleição presidencial adere tacitamente a um contrato com a nação. Obriga-se a aceitar o resultado soberano das urnas em caso de derrota e, na outra hipótese, a respeitar a Constituição e os direitos fundamentais ao conduzir o governo.

Em meio à crispação do ambiente de campanha e ao estrago desencadeado pela recessão na economia, o aceno a ideias autoritárias requer das duas candidaturas ora mais competitivas algo além da aceitação presumida das regras do jogo, no entanto.

Chegou a hora de expressarem compromissos definitivos com a democracia.

Jair Bolsonaro, do PSL, tem lançado suspeição infundada sobre o sistema eletrônico de votação. Estimula paranoias de manipulação, mas apenas para o caso de não ser ele o vencedor do certame.

O deputado federal pelo Rio de Janeiro precisa esclarecer ao país se vai continuar a se comportar como um nanico inconsequente ou se assumirá a maturidade necessária para colocar-se à altura da pretensão de governar o Brasil.

Não se toleram de um presidente brasileiro esse flerte grotesco com torturadores, essa iconografia basbaque da pistolagem, esse deboche rudimentar das mulheres nem esse desprezo epidérmico pelas minorias os quais Bolsonaro tem patrocinado. É o momento de corrigir, em linguagem clara, esse conjunto de afrontas ao patrimônio civilizatório.

O cenário da explosão fiscal está pronto: Editorial | O Globo

À medida que o tempo passa, ingredientes dos desequilíbrios provocam mais estragos

O eleito para subir a rampa do Planalto no dia 1º de janeiro terá de começar a trabalhar logo, para aplainar o acidentado terreno fiscal que o país tem à frente, sem permitir que a crise nas contas públicas, que já vem desde no mínimo 2014, volte a se agravar. Será ruim para seu governo e péssimo para a população. Isto se o novo presidente já não houver atuado desde sua eleição, junto com Michel Temer, seu futuro antecessor, na necessária tentativa de o atual Congresso, a ser substituído apenas em fevereiro, aprovar pautas estratégicas, como a reforma da Previdência.

O cenário das finanças públicas é de ruínas, mas já foi pior (gráficos abaixo). O Brasil vai entrar no quinto ano consecutivo no vermelho. Em 2014, ano eleitoral, o país passou a acumular déficits primários (excluindo os juros): de 0,4% do PIB, atingiu 2,5% em 2016, e o resultado negativo começou a cair. Os desequilíbrios fizeram com que a dívida pública em relação ao PIB disparasse com Dilma Rousseff (Lula apoiando, claro): de administráveis 51,3%, chega neste ano a quase 80%, 30 pontos percentuais acima da média das chamadas economias emergentes. E continuará subindo, sem as reformas. Acontece que, sem superávit primário, a União precisa se endividar para saldar a integralidade da conta de juros. Portanto, é certo que, se nada for feito, as despesas ficarão fora de controle, e a insolvência do Tesouro será visível a olho nu.

MULHERES NAS RUAS CONTRA BOLSONARO

TAMBÉM HOUVE ATOS A FAVOR DO CANDIDATO, QUE TEVE ALTA VOZES FEMININAS

Mulheres lideram protestos contra Bolsonaro em todos os estados do país

- O Globo

O candidato Jair Bolsonaro (PSL) foi alvo de protestos em 26 estados e no Distrito Federal, sendo os maiores no Rio e em São Paulo, no dia em que teve alta hospitalar. Os passageiros do voo que o trouxe ao Rio se dividiram entre aplausos e vaias. Em 16 estados, foram realizados atos a favor do candidato, embora menos concorridos que os contrários a ele.

Protestos contra o candidato do PSL à Presidência da República, Jair Bolsonaro, foram realizados ontem em dezenas de cidades nos 26 estados e no Distrito Federal. A mobilização das últimas semanas para os protestos foi liderada por movimentos de mulheres, que se organizaram nas redes sociais usando a hashtag #elenão, contra o que consideram posições autoritárias e de misoginia por parte do candidato.

Os maiores atos no Brasil aconteceram na Cinelândia, no Rio, e no Largo da Batata, em São Paulo, que ficaram lotados. As polícias militares dos dois estados não divulgaram uma contagem oficial do número de presentes.

Os protestos, marcados há quinze dias, aconteceram no mesmo dia em que Bolsonaro deixou o hospital Albert Einstein, onde esteve internado por 23 dias após um atentado a faca, em Juiz de Fora. Atos contra Bolsonaro ganharam também adesão de homens e de militantes de outras causas, além do combate ao machismo.

No Rio e em São Paulo, a cor predominante em bandeiras e camisas foi o roxo, identificada com o movimento feminista — a proposta era que os atos fossem suprapartidários. Havia, no entanto, bandeiras de partidos como PT, Rede, PDT, PSOL e PSTU, entre outros.

É no eleitorado feminino que Bolsonaro enfrenta maior resistência. Pesquisa Datafolha divulgada na sexta-feira mostrou que sua rejeição entre as mulheres chegou a 52%, e os concorrentes tentam explorar essa fragilidade.

Capitais brasileiras e Distrito Federal recebem atos contra Jair Bolsonaro

Dezenas de municípios e todas as capitais tiveram manifestações contra o candidato do PSL; apoiadores do capitão reformado reagiram

- O Estado de S.Paulo

Dezenas de cidades no Brasil e no exterior foram palco de atos contrários à candidatura de Jair Bolsonaro (PSL) neste sábado, 29. Todas as capitais tiveram manifestações contra o capitão da reserva e deputado federal por sete mandatos, que lidera as recentes pesquisas de intenção de voto para o primeiro turno, com 28%, seguido por Fernando Haddad, do PT, que tem 22%. Os atos foram coordenados pela campanha #EleNão, criada dentro de um grupo no Facebook que reúne 3,8 milhões de mulheres. Algumas cidades também registram mobilizações favoráveis ao candidato.

Em São Paulo, a concentração de manifestantes começou em torno do Largo da Batata no início da tarde. O ato reuniu eleitores do PSOL ao PSDB e todas as candidatas que estão na disputa presidencial, exceto a senadora Ana Amélia (PP-RS), candidata a vice na chapa de Geraldo Alckmin(PSDB). No início da noite, um grupo contra o candidato se manifestava na Avenida Paulista e passsaram Avenida Rebouças. Por volta de 21h, o ato começou a se esvaziar.

Passaram pela manifestação a ex-ministra Marina Silva, candidata da Rede, a senadora Kátia Abreu (PDT-TO), vice de Ciro Gomes (PDT), a deputada estadual Manuela d'Avila(PcdoB-RS), vice de Haddad, a líder indígena Sonia Guajajara (PSOL), vice de Guilherme Boulos (PSOL). Apoiadores de Bolsonaro, por sua vez, se reuniram em frente ao estádio do Pacaembu. A Polícia Militar não fez estimativas sobre o número de manifestantes presentes. Além das presidenciáveis, a candidata a deputada federal por São Paulo, Luiza Erundina e o também candidato Ivan Valente, ambos do PSOL, também estiveram presentes.

Para uma participante, o ato serviu para unir as pessoas em torno de um propósito comum. “Tem o PT, tem a Rede, o pessoal do Ciro, do Boulos, é importante que estejam todos aqui. O cara nos uniu. Obrigada, Bolsonaro!”, brincou Angela Martins, professora universitária de 65 anos.

No Rio, milhares de pessoas se concentraram na Cinelândia, região central da cidade e seguiram em caminhada para a Praça XV. Por volta das 15h25, manifestantes reagiram com aplausos à passagem de uma bandeira com a imagem da vereadora Marielle Franco(PSOL), assassinada em março com seu motorista Anderson Pedro Gomes. Os crimes até agora não foram esclarecidos. Muitos manifestantes, especialmente as mulheres, responderam à convocação dos organizadores do protesto e estão usando lilás.

Ao redor do mundo, protestos ocorreram em cidades da Argentina, Chile, Espanha, França, Portugal, Alemanha, Itália, França e Suíça. As lideranças do movimento afirmam que a campanha é para alertar a população sobre as ideias de Bolsonaro, consideradas pelos participantes como "fascistas e machistas".

Atos de mulheres contra Bolsonaro reúnem milhares em mais de 30 cidades

Manifestações contra candidato relacionaram deputado a atitudes machistas e misóginas

- Folha de S. Paulo

SÃO PAULO , RIO DE JANEIRO E BRASÍLIA - Protestos de rua contra o candidato Jair Bolsonaro (PSL) reuniram milhares de pessoas pelo país neste sábado (29), após a difusão do mote "#EleNão" nos últimos dias em redes sociais. Foram registrados atos em capitais como São Paulo, Rio de Janeiro, Brasília, Belo Horizonte, Recife, Salvador e Porto Alegre, além de pelo menos outras 30 cidades no Brasil.

As manifestações foram convocadas por mulheres e também reuniram homens. Participantes empunharam cartazes e entoaram paródias com letras críticas ao político, relacionando-o a atitudes consideradas machistas, misóginas, homofóbicas e racistas. Movimentos sociais, grupos feministas e partidos também se engajaram nas mobilizações.

Pelo mundo, houve protestos anti-Bolsonaro em Berlim (Alemanha), Buenos Aires (Argentina), Paris (França), Londres (Inglaterra), Lisboa (Portugal), Nova York (EUA), Washington (EUA) e Barcelona (Espanha).

Os presidenciáveis Marina Silva (Rede), Vera Lúcia (PSTU) e Guilherme Boulos (PSOL) estiveram na concentração do largo da Batata (zona oeste da capital paulista). Candidatas a vice, Manuela D’Ávila (PC do B), da chapa de Fernando Haddad (PT); Kátia Abreu (PDT), da candidatura de Ciro Gomes (PDT); e Sonia Guajajara (PSOL), vice de Boulos, também compareceram. Os candidatos falaram com jornalistas no local e tiraram fotos com eleitores.

A Polícia Militar não divulgou estimativa do número total de pessoas no evento da capital paulista. Em Brasília, foram 7.000 manifestantes, segundo a PM; organizadores falaram em até 40 mil.

Até a conclusão deste texto, não havia sido registrado nenhum incidente grave nas cidades com atos. No Rio, ao fim do protesto, a reportagem presenciou a discussão de um homem que se desentendeu com um grupo de manifestantes. Ele precisou ser contido.

Márcia Cavallari – Ibope:’Ainda não há nada decidido’

Diretora do Ibope acredita em 2º turno entre Haddad e Bolsonaro, mas ainda admite surpresa

Octávio Costa; Rebeca Letieri; Bernardo de la Peña | Jornal do Brasil

Diretora-executiva do Ibope, onde trabalha há 30 anos, Márcia Cavallari acredita, com base nas últimas pesquisas, que o petista Fernando Haddad e o deputado Jair Bolsonaro, candidato ao Planalto do PSL, tem percentuais de intenções de votos consolidados que podem garantir sua presença no segundo turno. Entretanto, Márcia lembra que é preciso considerar que há uma grande volatilidade de votos e também um contingente alto de 38% de indecisos. “Esse contingente pode mudar muita coisa”, afirmou. Em entrevista ao JORNAL DO BRASIL, ela afirma que é prematuro fazer projeções sobre o segundo turno. E explica que é um novo pleito, no qual prevalece a rejeição: “quem eu não quero que ganhe”. “Essa simulação é hipotética, onde a gente consegue ver a força de um contra o outro. O segundo turno é uma nova eleição, começa do zero”, completou.

• Esse quadro, a partir dessa última pesquisa do Ibope, está definido?

A pesquisa mostra hoje que tanto Bolsonaro quanto Haddad estão com o voto mais consolidado com relação aos seus concorrentes. Na pergunta estimulada e na espontânea, a diferença de voto dos dois é a menor. O Bolsonaro tem 28% quando se pergunta ‘se a eleição fosse hoje e os candidatos fossem esses, em quem você votaria’. E quando pergunto de cara ‘em que você votaria se as eleições fossem hoje’, 24% citam o Bolsonaro. É um voto firme, independente de quem são os candidatos. O mesmo ocorre para o Haddad, que na estimulada tem 22%, e na espontânea, 15%.

• É grande a possibilidade de um 2º turno entre Haddad e Bolsonaro?

Com essa solidez do voto, é grande.

• Se fala ainda sobre o Ciro. Ele poderia ainda ter uma esperança, e haver uma reviravolta, com já houve?

Existe, porque a gente vê ainda muita volatilidade no voto dos demais candidatos. São 38% das pessoas que não citam nenhum candidato na pergunta espontânea. Esse contingente pode mudar muita coisa. Não dá para afirmar nada agora, tem muita gente que ainda não decidiu.

• Esse contingente, em outras eleições, segue o quadro que já existe ou vota de forma surpreendente?

O que eu vejo sistematicamente em várias eleições é que esses indecisos até o final não se distribuem igualmente entre os já decididos. Vemos crescimento de segundos e terceiros colocados em proporção maior. Uma pergunta que a gente faz é se essa decisão de votos é definitiva ou não. E quem tem os maiores percentuais são também os dois: Haddad e Bolsonaro. Dos eleitores do Bolsonaro, 49%, já o Haddad, 51%. Quando você olha o Ciro, 32% dizem que não mudam mais. Alckmin, 30%. Marina, 21%.

• A senhora acha que Marina e Alckmin ainda teriam alguma chance?

Marina está numa curva descendente. Ela estava com um voto temporário do PT, que com a ausência de Lula no cenário, tinha migrado para ela. Agora, com a oficialização da candidatura do Haddad, esse voto voltou para o PT. O que não aconteceu com o Ciro. Ele também cresceu no vazio do PT, mas o que foi para ele, ficou. Vemos agora o crescimento do Haddad em cima de uma diminuição dos votos brancos e nulos. E em cima dos votos que tinham migrado para a Marina. Alckmin está numa situação estável. Agora, movimentos ainda podem acontecer. Com a campanha de ataque ao Bolsonaro, ele ficou estável, ou seja, não perdeu voto. Mas aumentou a rejeição. E aumentou a distância dele para os demais nas simulações de segundo turno.

• Se consideramos um universo de 38% flutuando, essas simulações de 2º turno não são prematuras?

As simulações não refletem o que vai ser de fato o segundo turno. O próprio resultado oficial do primeiro turno e a composição de forças que se redistribuem e se reagrupam exercem um efeito no eleitor para votar no segundo. Essa simulação é hipotética, onde a gente consegue ver a força de um contra o outro. O segundo turno é uma nova eleição, começa do zero. Em 2010, as duas pesquisas que nós divulgamos já na ocorrência do segundo turno, o Aécio veio na frente, e só depois é que virou para a Dilma. Normalmente, o que a gente vê de comportamento é que o eleitor, no primeiro turno, vota no candidato que ele gosta. E no segundo, o que pesa é, não só a preferência, mas quem eu não quero que ganhe.

Fraco na disputa para presidente, centro é favorito em 16 Estados

Partidos do centro lideram disputas em 16 Estados

Fragmentado em 4 candidaturas presidenciais com poucas chances, campo deve eleger governadores e ter papel fundamental na negociação de reformas no Congresso

Adriana Ferraz, Marcelo Godoy, Matheus Lara e Ricardo Galhardo | O Estado de S.Paulo

Os partidos do centro – PSDB, MDB, DEM, PP, PSD, PROS e PHS – lideram as pesquisas do Ibope de intenção de voto nas eleições 2018 para os governos de 16 Estados. Apesar da fragmentação dessa força política, que se dividiu em quatro candidaturas à Presidência e hoje potencialmente fora da disputa do segundo turno, segundo as pesquisas, ela deve ganhar o mesmo número de unidades da federação que em 2014.

Esses partidos compunham a base original do governo de Michel Temer – o PSB, que também participou da base, deve vencer em outros seis Estados. Os resultados das pesquisas mostram que, apesar da polarização entre esquerda e extrema-direita na corrida presidencial, 21 dos 27 governadores devem sair de legendas que não apoiam nem o petista Fernando Haddad nem o deputado Jair Bolsonaro, do PSL.

A coligação que dá sustentação à candidatura de Haddad tem chance de eleger seis governadores, contando um do PROS, que deixou de ser centro. Os demais devem vir do PT (4) e do PCdoB (1). Já PSL e PRTB, que estão com Bolsonaro, não lideram em nenhum Estado. O cenário é bem diferente do ocorreu em 2014, quando as alianças que foram para o segundo turno elegeram 23 dos 27 governadores.

MDB caminha para manter predomínio no Senado

MDB deve manter poder no Senado com Norte e Nordeste

Legenda disputa com o PSDB qual deve fazer a maior bancada na Casa; Jader, Renan, Lobão, Braga e Requião lideram pesquisas

Adriana Ferraz, Marcelo Godoy e Matheus Lara | O Estado de S.Paulo

O resultado das urnas nas eleições 2018 não deve mudar a principal configuração do Senado em 2019. Se as pesquisas de intenção de voto se confirmarem no dia 7, a maior bancada, outra vez, ficará com o MDB, partido que comanda a Casa há 17 anos.

Levantamento feito pelo Estado mostra que a sigla tem chances de manter os atuais 18 senadores ou até somar um parlamentar ao grupo.

A possibilidade de ampliar uma bancada atingida em cheio pela Lava Jato – sete senadores são investigados pela operação ou desdobramentos dela –, será um feito para um partido que tem o presidente mais impopular da história. A vitória, caso obtida, virá das Regiões Norte e Nordeste, onde a legenda pode fazer 12 dos 14 candidatos com chance de serem eleitos. Em 2014, a sigla elegeu cinco, que permanecem por mais quatro anos.

Entre os parlamentares que puxam essa perspectiva positiva para o MDB estão alguns de seus principais caciques, como Eunício Oliveira (CE), atual presidente da Casa; Renan Calheiros (AL), Jader Barbalho (PA); Edison Lobão e Eduardo Braga (AM), além de Romero Jucá (RO). Algumas trocas, no entanto, podem ocorrer, mas sem prejuízo ao partido. Em São Paulo, por exemplo, Marta Suplicy abriu mão de concorrer à reeleição e não deixou ninguém com chances em seu lugar. Em compensação, Pernambuco deve eleger Jarbas Vasconcelos, que já governou o Estado e hoje tem 31% na pesquisa de voto.

Na reta final, campanhas miram estados do Sudeste

Bolsonaro e Haddad querem aumentar teto de votação no maior colégio eleitoral do país

A uma semana do primeiro turno das eleições presidenciais, os quatro candidatos mais bem colocados nas pesquisas — Bolsonaro (PSL), Haddad (PT), Ciro (PDT) e Alckmin (PSDB) — vão priorizar o Sudeste, maior colégio eleitoral do país. Os dois primeiros querem elevar seus tetos na votação e deter o avanço de rivais. Para isso, Haddad se dividirá entre Rio, São Paulo e Minas, estados onde Bolsonaro pontua acima da média nacional. Aliados do capitão investem no interior de São Paulo, reduto de Alckmin. O tucano vai a Minas, e Ciro, convalescente, passará mais tempo na capital paulista e fará o encerramento no Ceará.

Na última semana, candidatos miram Sudeste

Bolsonaro e Alckmin disputam votos no interior de SP; Haddad e Ciro tentam crescer no Rio de Janeiro e em Minas

Bernardo Mello e Marco Grillo | O Globo

A uma semana do primeiro turno, as campanhas dos quatro presidenciáveis mais bem colocados nas pesquisas —Jair Bolsonaro (PSL), Fernando Haddad (PT), Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) — vão mirar o Sudeste. O Nordeste, visitado com mais frequência por Marina Silva (Rede) após seu declínio, também aparece no radar. As duas regiões reúnem 70% do eleitorado brasileiro. Haddad se debruça a partir de amanhã sobre Rio, São Paulo e Minas Gerais, estados onde o capitão da reserva pontua acima de sua média nacional. Ele deve apostar em atrair eleitores de Ciro, segundo especialistas, para crescer ainda mais no Nordeste.

PSDB e MDB têm chances de emplacar mais governadores nesta eleição

Candidatos dos dois partidos estão bem na disputa em 8 estados; 10 podem ser eleitos no 1º turno

Isabel Fleck | Folha de S. Paulo

SÃO PAULO - Em um momento em que a desilusão do eleitor com a políticaparece colocar em xeque os principais partidos políticos do país, pesquisas de intenção de voto mostram que duas dessas siglas —PSDB e MDB— são as que têm chance de emplacar mais governadores em 2018.

Candidatos dos dois partidos estão bem na disputa em oito estados cada. Em São Paulo e no Rio Grande do Sul, dois dos cinco maiores colégios eleitorais, PSDB e MDB se enfrentariam no segundo turno. Hoje, os tucanos governam quatro estados, e o MDB, cinco.

O cenário é animador especialmente se comparado com o desempenho das duas siglas na corrida ao Planalto, em que Geraldo Alckmin (PSDB) segue estagnado em empate técnico com Ciro Gomes (PDT) no terceiro lugar. Henrique Meirelles (MDB) também continuou com 2% na pesquisa Datafolha divulgada nesta sexta (28).

O PT, cujo candidato, Fernando Haddad, está em segundo lugar nas pesquisas, e o PSB trazem nomes fortes nas disputas de sete estados cada. Três governadores petistas devem se reeleger ainda no primeiro turno: Rui Costa, na Bahia, Camilo Santana, no Ceará, e Wellington Dias, no Piauí.

No entanto, Minas Gerais, o estado governado pelos petistas com maior colégio eleitoral —15,7 milhões—, pode sair das mãos do partido. Fernando Pimentel, candidato à reeleição, tem, segundo o último Datafolha, 24% das intenções de voto, contra 33% de Antonio Anastasia (PSDB). Se o segundo turno fosse hoje, o tucano venceria por 46% contra 31% de Pimentel.

O deputado federal Marcus Pestana (PSDB-MG), secretário-geral do partido, contudo, diz que a sigla não deve comemorar antes.

“A eleição em Minas Gerais ainda não está ganha. E a eleição do Doria[em São Paulo] está sendo muito dura”, disse Pestana.

Elizeth Cardoso: Barracão de Zinco 1975

João Cabral de Melo Neto: A mulher sentada

Mulher. Mulher e pombos.
Mulher entre sonhos.
Nuvens nos seus olhos?
Nuvens sob seus cabelos.

(A visita espera na sala;
a notícia, no telefone;
a morte cresce na hora;
a primavera, além da janela).

Mulher sentada. Tranquila
na sala, como se voasse.

sábado, 29 de setembro de 2018

Maria Alice Rezende de Carvalho*: ‘Reformismo de Esquerda e Democracia Política'

- O Estado de S.Paulo

Em livro politicamente consistente e relevante, coletânea de artigos de Luiz Sérgio Henriques

Acaba de ser publicado um livro politicamente consistente, em dias de volatilidade e inconsistência nesse âmbito. Trata-se do Reformismo de Esquerda e Democracia Política, de Luiz Sérgio Henriques, colaborador frequente de O Estado de S. Paulo, que desde 2010, quando ainda não sopravam ventos tão sinistros, denuncia a fragilidade do conhecimento que a esquerda acumulou sobre nós mesmos e sobre o Brasil. E o faz sem dramaticidade, sem mobilizar o pathos que sempre espreita momentos liminares. A forma que Luiz Sérgio imprimiu à sua reflexão é a da crônica política - uma forma praticada por mestres do jornalismo, que consiste em se debruçar sobre o presente imediato para logo extrapolar essa limitação temporal e trazer à tona questões maiores e mais profundas, de que a conjuntura é apenas um sintoma. Texto maravilhoso, superfície sem crispações, sobre um fundo de temas árduos, que revolve antagonismos e disputas.

O livro contém 60 artigos selecionados entre outros tantos que Luiz Sérgio escreveu no período de 2010 a 2018. Eles foram organizadas cronológica e tematicamente, pois o autor conferiu a cada um desses anos o título de um dos artigos do período, revelando o andamento das suas preocupações ao longo do tempo.

Em 2010, por exemplo, ano em que Lula concluiu seu segundo mandato presidencial e se disse capaz de eleger um poste, destaca-se reflexivamente, para Luiz Sérgio, a narrativa fundacional com que o PT irrompeu na cena política e proclamou a nova história do movimento operário e do País - uma história desde baixo, movida por um partido que se concebe como expressão pura do social “contra a mediação representada pelas formas elitistas da política” (pág. 45). O título Que esquerda é esta? dialoga, então, com a ambivalência do PT em relação às instituições da democracia política e às mudanças processuais, incrementais, que podem advir do alargamento da base de massas do Estado Democrático de Direito. Para o autor, essa ambivalência e suas consequências práticas trazem riscos de retrocesso político, mesmo quando encarnada - ou até por isso - num novo cavaleiro da esperança.

João Domingos: Parto de antagonistas

- O Estado de S.Paulo

Haddad e Lula omitem os dois últimos anos, quatro meses e 12 dias do governo Dilma

Em um encontro com artistas na quarta-feira, o candidato Fernando Haddad (PT) sugeriu que Jair Bolsonaro (PSL) seja encarado como “um parto necessário para o desenvolvimento”. Haddad disse que outras nações, hoje tão respeitadas, “tiveram seus momentos dramáticos”, o que para ele é algo semelhante ao que o Brasil está passando agora.

O voto conservador não é uma novidade nem no Brasil nem em lugar nenhum do mundo. Por aqui faltava-lhe, no entanto, um guia. Guia que se construiu à sombra do governo de 14 anos, quatro meses e 12 dias de um movimento político que ficou conhecido como lulopetismo, o petismo com o culto à personalidade de Lula.

Assim como militantes de vários partidos clandestinos de esquerda, parte da intelectualidade e da academia, do clero progressista e do movimento sindical apostou no final da década de 1970 e início da década de 1980 no surgimento de um líder forte, capaz de unir forças dispersas pela ditadura militar, e esse líder foi Lula, os conservadores fizeram movimento semelhante assim que o PT chegou ao poder, em 2003. A diferença é que Lula e os que o apoiaram fundaram um partido para se tornar força hegemônica na esquerda. Os conservadores preferiram se aglutinar em torno de um deputado que, por suas posições polêmicas, machistas, homofóbicas, xenófobas, contrárias à esquerda e em defesa da ditadura militar, passou a encarnar o anti-PT e o anti-Lula. Se Lula serviu de instrumento para a ascensão de uma força política à esquerda, Bolsonaro fez o mesmo papel, à direita.

Ao longo do tempo, Lula engoliu todos os que o instrumentalizaram, afastou José Dirceu e Antonio Palocci de seu caminho, e impôs as candidaturas de Dilma Rousseff à Presidência da República e de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo e, agora, à Presidência. Bolsonaro ainda terá de provar se tem força para fazer o mesmo.

Merval Pereira: Baixa condição de governabilidade

- O Globo

Quem teria melhores condições de governar na atual crise política e econômica seria um candidato de centro

Dois cientistas políticos da Escola Brasileira Administração Pública e de Empresas (EBAPE), da Fundação Getúlio Vargas do Rio (FGV), Octavio Amorim Neto e Carlos Pereira, fizeram estudos separadamente sobre temas semelhantes que poderiam ser resumidos na pergunta: qual a capacidade de os candidatos à presidência da República construir coalizões políticas estáveis?

Os dois chegaram à mesma conclusão: o petista Fernando Haddad é o que terá maiores dificuldades, enquanto Bolsonaro tem condições médias. Quem teria melhores condições de governar o país na situação atual, de crise política e econômica, seria um candidato de centro, que refletiria melhor a tendência majoritária do Congresso a ser eleito, de centro-direita.

Mas, como essa hipótese parece remota, me fixei nas análises que fizeram dos principais concorrentes, Bolsonaro e Haddad. Octavio Amorim Neto, cujo trabalho foi publicado no Observatório Político do Boletim Macroeconômico da EBAPE, analisou seis dimensões entre muitas possíveis: (1) a probabilidade de ter maioria legislativa estável; (2) o tamanho da coalizão social; (3) política econômica; (4) capacidade de atrair bons quadros técnicos; (5) relações com as Forças Armadas; e (6) capacidade de distensionar o ambiente político.

Com relação a Haddad, Octavio Amolrim Neto tem uma série de interrogações. Diz que se ele seguir a cartilha de Lula, avalia Octavio Amorim Neto, tentará fazer acordos com o centro e a direita varejistas. As feridas deixadas pelo embate eleitoral deverão dificultar uma composição parlamentar com a centro-direita, o que significa que a probabilidade de ter uma maioria estável é de nível médio para baixo.

Paulo Celso Pereira: Efeito teflon preserva votos bolsonaristas

- O Globo

Em 2014, após ser alvo de intensa campanha de TV que associava sua proposta de independência do Banco Central à possibilidade de famílias ficarem sem ter o que comer, Marina Silva derreteu velozmente. Nas últimas semanas, Bolsonaro foi alvo de um intenso bombardeio dos adversários —e manteve-se inabalável do alto dos mesmos 28%, na liderança da corrida eleitoral.

A ampla campanha de artistas, brasileiras e internacionais, nas redes em torno do bordão #Elenão não impactou o eleitor que já havia escolhido o capitão reformado. Tampouco teve efeito sobre os eleitores do deputado a profusão de propagandas de Geraldo Alckmin alardeando a possibilidade de volta da CPMF e o risco de Fernando Haddad vencer Bolsonaro no segundo turno.

Desqualificando moralmente os adversários e dizendo-se alvo de perseguição da imprensa, Bolsonaro parece ter conseguido desenvolver em seus eleitores o que no meio político se chama de “efeito teflon”: nenhuma informação negativa a seu respeito “cola” para quem já aderiu. Isso garante a Bolsonaro sua presença no segundo turno. O problema do capitão reformado hoje está nos cerca de dois terços dos eleitores que não aderiram à sua campanha.

Os números divulgados pelo Datafolha ontem praticamente repetem os que já haviam aparecido na pesquisa Ibope do início da semana. A notícia mais relevante de ambas é que, embora mantenha seu apoio inabalável, Bolsonaro viu sua rejeição crescer fortemente, atingindo 46%.

Míriam Leitão: No ninho goiano dos tucanos

- O Globo

Marconi Perillo tomou algumas boas decisões que foram desfeitas por seus próprios erros e agora precisa explicar dinheiro vivo na campanha

O ex-governador Marconi Perillo, do PSDB, não dormiu ontem numa prisão apenas porque está sob proteção da lei eleitoral. A Operação Cash Delivery mostra que, mais de quatro anos após o início da Operação Lava-Jato, os sinais explícitos de corrupção, inclusive quantia exorbitante de dinheiro vivo na mão de assessores, rondam as campanhas políticas.

A sensação de corrupção generalizada tem alimentado o desânimo e a raiva dos eleitores neste momento perigoso que o país atravessa. Marconi Perillo administrou Goiás por quatro vezes e poderia ter sido a renovação dos tucanos. Houve áreas em que ele tomou decisões corretas que levaram a bons resultados. Na educação, Goiás estava no 16º lugar em 2009.

Os especialistas em educação apontam a melhora na gestão como explicação para o sucesso. Não houve aumento de gastos. Goiás ficou nos mesmos 25% da receita corrente líquida, mas o dinheiro passou a ser mais bem administrado e por isso o estado chegou ao primeiro lugar no Ideb do ensino médio de 2017, divulgado recentemente. Esse sucesso na educação poderia ser usado como plataforma para projetos políticos mais altos. Se ele não tivesse cometido os erros que cometeu.

Na área fiscal, Goiás começou a melhorar depois de ter sido companhia para os estados que estão em pior situação, como Rio de Janeiro, Minas Gerais e Rio Grande do Sul. No ranking do Tesouro, esses estados são letra D, Goiás conseguiu subir para C após uma série de medidas corretas na área da administração fiscal. Uma delas foi corrigir um erro que ele mesmo havia cometido.

Adriana Fernandes: Eleições e ilusões

- O Estado de S.Paulo

Reforma previdenciária, nos moldes propostos, não terá o poder de reduzir os gastos

A polarização política e ideológica em torno das eleições que se aproximam está relegando para um segundo plano doe debate a maior parte dos problemas econômicos que terão de ser enfrentados a partir de 1.º de janeiro.

O fato de que o programa dos candidatos e suas propostas de reforma não estejam sendo discutidos com profundidade na campanha aumenta os riscos de um novo “estelionato eleitoral”, ou seja, uma situação em que o eleito promoverá medidas amargas que não tenham sido previamente anunciadas.

Na questão tributária, por exemplo, vários candidatos estão falando em redução de impostos para atrair o voto, mas o espaço fiscal é praticamente nulo. A maior parte do eleitorado, induzido pelo oportunismo político de muitos, acredita que seja possível ajustar as contas do governo apenas combatendo a corrupção e cortando gastos, já que a máquina pública seria um grande elefante branco.

Pelo peso dos gastos e pelas tendências demográficas, a reforma previdenciária será um ponto imperioso. Por isso, preocupa que o tema não tenha sido debatido na campanha.

O que pouca gente se deu conta é que a reforma previdenciária, nos moldes propostos até agora, não terá o poder mágico de reduzir os gastos, mas, no máximo, estabilizá-los como proporção do PIB. Logo, a redução dos déficits ou retomada dos superávits não pode depender apenas dela.

Demétrio Magnoli: O Trump deles e o nosso

- Folha de S. Paulo

Bolsonaro provoca amores fulgurantes e ódios incontidos em núcleos minoritários

Jair Bolsonaro imita Donald Trump. Bolsonaro sonha ser Trump. Não poucos creem que Bolsonaro é, realmente, o “nosso” Trump —e profetizam ou temem uma surpresa eleitoral semelhante à dos EUA. Contudo, ao menos do ponto de vista eleitoral, o nosso Trump ocupa lugar bem diferente do que ocupou o Trump deles.

Num nível bem simples, a distinção crucial é que o Trump original candidatou-se pelo Partido Republicano, cuja influência estende-se a quase metade do eleitorado, enquanto o Trump tropical representa uma sigla marginal. Num nível mais profundo, a diferença é que eles apelam a eleitorados opostos. O magnata emergiu como representante do “homem sem rosto”, dos órfãos da globalização —os “deploráveis”, no desastroso, preconceituoso termo cunhado por Hillary Clinton. No Brasil, os “deploráveis” rejeitam Bolsonaro e votam em Lula (ôoops, em Haddad).

Uma lenda urbana diz que o Trump original venceu graças às suas declarações machistas, homofóbicas e xenófobas. De fato, elas serviram para aquecer o núcleo minoritário de seus seguidores incondicionais. Mas o triunfo eleitoral deu-se apesar delas. O segredo da vitória trumpiana encontra-se na plataforma do nacionalismo econômico, desdobrada nas vertentes do protecionismo comercial (China) e da proteção do emprego americano (imigrantes hispânicos). O discurso antiglobalização (America First) ofereceu uma falsa resposta a dilemas verdadeiros, seduzindo os eleitores de classe média-baixa concentrados em estados decisivos do Meio-Oeste. Os brancos pobres votaram no Trump deles.

O Trump deles prometeu parar o declínio econômico por meio de uma restauração nacionalista. O nosso Trump promete parar o declínio moral por meio de um governo autoritário, ancorado no conservadorismo de costumes, ignorando as angústias materiais dos “deploráveis”, que ficam com o lulismo. Segundo as pesquisas, Lula (ôoops, Haddad) bate Bolsonaro por 57% a 22% entre eleitores na faixa de até um salário mínimo.

Hélio Schwartsman: Suave fracasso

- Folha de S. Paulo

Não chego a afirmar que o Brasil seja um caso perdido, mas corremos esse risco

A democracia é o pior regime que existe, salvo todos os demais. E um de seus problemas é que ela frequentemente dá ao povo aquilo que ele quer. Assim, se o conjunto dos eleitores de um país decide caminhar voluntariamente para o precipício, não há como impedir que a nação vá para o abismo.

Não chego a afirmar que o Brasil seja um caso perdido, mas corremos esse risco. A situação por que passa o país é gravíssima. Já a partir do ano que vem, quem quer que venha a ser o governante não terá espaço orçamentário para fazer muito mais do que pagar as despesas obrigatórias (aposentadorias, salários, verbas carimbadas).

Pior, com as pressões da demografia, se nada for feito, a Previdência irá morder um naco cada vez maior do Orçamento, comprimindo ainda mais os gastos constitucionalmente não obrigatórios, como investimentos, manutenção, segurança e parte do custeio da saúde e da educação.

Mesmo que, por um milagre, o próximo presidente consiga dar um jeito nas ameaças fiscais mais prementes, nossa situação estrutural é bem pouco animadora. O bônus demográfico já praticamente se fechou. Com isso, nossa melhor esperança de criar um país mais próspero seria o aumento da produtividade. O problema é que ela não cresce de forma significativa há décadas, entre outras razões porque a qualidade da educação básica oferecida à população é muito ruim. E, se a educação deixa a desejar, ficam muito reduzidas as esperanças de o país dar certo.